Estive, durante a semana, nas dependências dessa agencia de serviços públicos que se chama Delegacia de Polícia, no Bairro de Boa Viagem. Fui lá à cata da prestação de serviço judiciário pelos prestimosos agentes da polícia investigativa de Pernambuco. Qual não foi a minha surpresa quando me deparei com a imagem sorridente, postada nas paredes do recinto, do falecido governador do Estado! Fiquei me perguntando como foi que aquela imagem permaneceu ali na parede e ninguém viu? - Onde estava a imagem oficial do novo governador (em exercício) João Lyra? Ou do futuro governador, Paulo Câmara? - Nada. Quem estava ali sobranceiro, dominando o ambiente era a imagem do mandatário desaparecido. Essa constatação me fez pensar que, mesmo morto, o governador continuar a interferir ativamente na vida dos cidadãos e cidadãs pernambucanos. A quem interessa manter essa influência além-mundo? - Quem se beneficia com ela? Quem autorizou a continuidade dessa presença virtual num recinto da administração pública: o delegado, o chefe da SDS, a família do falecido? - Quem ganha ao se perpetuar essa memória de dominação no Estado de Pernambuco?
Se a administração pública deve ser impessoal, racional-burocrática, operada por um corpo de funcionários de carreira, que não devem lealdade a não ser à Constituição do país, como se explica que uma agencia pública de segurança e investigação criminal possa estar a serviço de interesses políticos de uma família ou grupo político estadual? - Sabe o Ministério Público Estadual dessa inovação administrativa, de conservar ícones e representação de ex-governadores do Estado (sem o retrato do gestor atual) nos prédios públicos de Pernambuco? Isso é produto de mero esquecimento ou uma estratégia deliberada de cultivar a lembrança do morto como meio de manutenção do poder?
Essas considerações tornam-se mais oportunas quando se cogita da distribuição dos cargos pelo futuro governador de Pernambuco. Quantos cargos e nomeações oficiais serão disponibilizados para os membros da família Campos/Aciolly? - A que título ou competência burocrática ou gerencial, se fará essa generosa distribuição? - Cargos ou prebendas? - Ao infante, que sequer concluiu o curso superior, mas que já foi anunciado como o herdeiro e sucessor do glorioso pai falecido? - E a viúva, qual será a competência administrativa que lhe será atribuída? - E a filha? E o cunhado, o zeloso protetor da família, em horas difíceis?
É aí onde reside o "ponto dollens" da questão: a diferença entre Estado e Oligarquia, oligarquia familiar, oligarquia que pensa a administração como "res privada", sua, e não "res pública", dos cidadãos e contribuintes. E que portanto não deve satisfação a ninguém. Daí para mudar o nome das avenidas, pontes, viadutos, praças, rodoviárias, hospitais, escolas e equipamentos públicos, pelos os de seus familiares é um salto!
Nunca a bandeira de Pernambuco, os símbolos oficiais do Estado e a necessária impessoalidade da gestão pública, entre nós, esteve tão amarrotados. Quando vamos outra vez erguer a bandeira da República em nosso Estado?
Michel Zaidan Filho cientista político, filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
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