pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : novembro 2015
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domingo, 29 de novembro de 2015

Editorial: Para não dizer que não falei das flores.






Se o folclorista da Fundação Joaquim Nabuco, Mário Souto Maior, ainda estivesse vivo, iríamos fazer a ele uma sugestão: que ele ficasse atento às licitações em torno das compras realizadas para os palácios dos governadores. Há, ali, além das irregularidades e irresponsabilidades com o gasto do dinheiro público, algo que beira o folclore, daí o fato dessas licitações talvez interessar ao nosso folclorista. Mas esse não é o maior problema. Seria apenas uma sugestão, quiçá, para as suas pesquisas. 

O grande problema mesmo são os efeitos nocivos desses atos no que concerne ao interesse público, numa demonstração cabal da ausência de austeridade dos nossos governantes no uso do dinheiro público, conforme informou o cientista político Michel Zaidan, em artigo publicado no dia de ontem, aqui no blog. Já houve um tempo em que nos interessava mais este assunto. O descaramento é tão grande que nós desistimos de comentá-los. Neste quesito, não há racionalidade republicana no emprego de recursos públicos. A caneta corre solta. Afinal, como recomenda os bons costumes patrimonialistas, convém receber bem os convidados. 

Depois, essas políticas de austeridades só se aplicam mesmo aos súditos. A elite tem um estômago muito sensível. As listas são surpreendentes. Há alguns anos atrás, morava na Granja Santana, em João Pessoa - segunda residência dos governadores do Estado da Paraíba - uma jornalista um tanto quanto excêntrica. Madame elaborou uma lista com as despesas da Granja. Entre os itens licitados - além dos tradicionais camarões vila franca, calda de lagosta, carne de siri de primeira - a compra de 460 latas de farinha Lá
ctea, com previsão de consumo para 30 dias. Haja mingau.

Numa lista do Estado do Ceará, aparecia até o filé do Serigado, um peixe ameaçado de extinção.Nem o cuidado com o meio ambiente eles tiveram. Aqui em Pernambuco, não é a primeira vez que isso ocorre. O blog do Jamildo anunciou uma licitação que previa o gasto de R$ 90.000,00 em compra de flores para o Palácio do Campo das Princesas. Um escárnio. Da primeira vez, segundo fomos informados, a licitação teria sido cancelada. Esperamos que o bom senso prevaleça desta vez e eles voltem atrás nessa insensatez, com uma boa admoestação aos responsáveis por esses atos que depõem contra o interesse público. 

sábado, 28 de novembro de 2015

Michel Zaidan Filho: Flores para o senhor Paulo Câmara




Um verdadeiro escárnio a notícia que circulou, ontem, no Blog do Jamildo, sobre um processo licitatório para comprar 90.000, 00 de coroas e arranjos florais para o Gabinete do senhor Paulo Henrique Saraiva Câmara. A princípio, pensei que podia haver alguma relação entre as coroas e os arranjos florais e os “anjinhos” que morreriam em razão da Chikungunya, da Microcefalia ou das outras moléstias transmitidas pelo mosquito da Dengue. Ou para as novas vítimas de homicídio que morram na cidade do Recife, ou ainda, para serem oferecidas como pedido de desculpas às inúmeras pessoas que são vítimas de arrastões nos pontos de Ônibus ou estações de Metrô, na capital pernambucana.

Num momento de tanta dificuldade financeira, com vários prestadores de serviço da Saúde sem receberem seus salários atrasados, com hospitais fechando por falta de dinheiro, escolas sem merenda ou sem poderem pagar o aluguel de seus prédios, aumento de impostos sobre os mais pobres, perda de emprego e redução da massa salarial dos trabalhadores, o senhor governador do Estado se preocupa em ornamentar seu Gabinete com um verdadeiro jardim de coroas e arranjos florais que custará aos cofres públicos a bagatela de 90.000,00.  Será que o senhor Câmara não tem mais com que gastar o dinheiro público, confiscado de seus concidadãos que andam de cinquentinha e usam telefone celular?

Depois, vem a proposta genial: fazer um mutirão com a população do Recife para caçar o mosquito da Dengue, transmissor das moléstias (ainda sem causa determinada) que colocam em risco a vida de mais de 400 crianças em Pernambuco. E onde se encaixa a Vigilância Sanitária, a Secretaria de Saúde, a Compesa(r), a Emlurb, o serviço da coleta de lixo, os médicos da família? – Só na propaganda cara e enganosa da televisão? – A Saúde Pública é dever e competência do senhor governador do Estado. Se ele não oferece adequadamente os serviços de limpeza pública, coleta de lixo, tratamento de esgoto, água tratada, vias públicas em perfeito estado de conservação, para que pagar impostos ou a conta da água (que não chega)? – Transferir a responsabilidade da limpeza e Saúde Pública para a população é um descaramento sem limites! (Nenhum população será educada o suficiente, se seus governantes não dão exemplo de austeridade e eficiência no trato do dinheiro público).

Pior é ver a cara(lisa) dos seus secretários e ajudantes: o distinto secretário de saúde, que administra o seu próprio negócio (o IMIP) no exercício do cargo. O que este cidadão tem a dizer sobre a Saúde Pública de Pernambuco? – Já a do IMIP vai bem muito obrigado!Será que não resta um pingo de interesse público nessa administração, para além das falácias da propaganda institucional da educação boa, da saúde boa, do voluntariado bom e do governo maravilhoso que nós temos?


P.S.: Pelo menos, lembre-se de enviar algumas dessas coroas para as famílias enlutadas com as doenças transmitidas pelo mosquito impatriótico da Dengue e das vítimas de homicídios e assaltos no estado de Pernambuco.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPED-UFPE

Leia também:

Editorial: Para não dizer que não falei das flores

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O xadrez político das eleições municipais do Recife, em 2016: Há até um pedido de orações para que as eleições tenham um segundo turno.


José Luiz Gomes

Há algumas semanas onde nada acontece de muito importante no que se refere às próximas eleições municipais do Recife. Esta última semana, no entanto, foi uma semana um tanto quanto folclórica, se considerarmos alguns fatos. O ex-prefeito do Recife, João Paulo, que hoje ocupa a presidência da SUDENE, gravou um vídeo onde aparece dançando e cantando um frevo pernambucano em homenagem à semana dedicada ao combate à violência contra as mulheres. Até aqui tudo bem. A causa é nobre e merece todo o nosso respeito. O cantor e o dançarino é que não se saíram muito bem. Algumas pessoas o consideraram ridículo e apelativo. 

Ainda é muito cedo para se fazer qualquer previsão sobre o comportamento do PT nas próximas eleições municipais do Recife. Por várias razões, algumas óbvias, integrantes da legenda asseguram que o partido terá candidato próprio em 2016. Entre os postulantes, igualmente por razões óbvias, o nome de João Paulo sempre aparece na bolsa de apostas. Há alguns dias, o Deputado Federal Daniel Coelho, ao comentar sobre a possibilidade de uma eventual candidatura de João Paulo, teria formulado a seguinte hipótese: seria uma jogada de muito risco.Caso fosse mais uma vez derrotado, ele entraria no ponto de corte, ou seja, acumulando derrotas sucessivas, sua carreira política chegaria ao fim. 

Isso o levaria a ponderar bastante sobre mais uma postulação ao Palácio Antonio Farias. Faz algum sentido as considerações do tucano. Aliás, por falar em tucano, o próprio Daniel Coelho alimenta a possibilidade do lançamento do seu nome como representante do ninho para as próximas eleições municipais. Há uma briga de foice ali dentro. Nem eles mesmo se entendem. Integram o Governo de Geraldo Júlio(PSB), mas exercem uma ferrenha oposição ao prefeito na Casa de José Mariano. Um dos principais artífices dessa linha oposicionista é o vereador André Régis(PSDB). 

Vire e mexe, a também vereadora Aline Mariano é instigada a entregar a Secretaria de Combate ao Crack e Outra Drogas. O raciocínio dos socialistas é o de que, num contexto mais amplo, há uma possibilidade concreta dos dois partidos unirem forças nas próximas eleições municipais o que, em tese, provocaria um freio de arrumação nos projetos da legenda em relação ao Recife. Salvo algum acordo de bastidores, os tucanos, pelo menos aparentemente, estão dispostos a lançarem uma candidatura a prefeito no Recife. Até mesmo em documentos oficiais eles já explicitaram esse "desejo". Melhor seria "resolução". 

Ancorados no projeto eleitoral do partido para 2018, a ideia é lançar candidatos em todas as cidades com população acima de 200 mil eleitores. A questão é que, em política, tudo se resolve. Os socialistas tupiniquins apostam nessa hipótese.Esta semana o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, rejeitou uma proposta que previa a eleição direta de diretores de escolas de tempo integral. Atualmente a rede comporta poucas escolas com este perfil, mas o presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Paulo Rubem Santiago, observou, em sua página na rede Facebook, que logo esse número seria sensivelmente ampliado, permitindo ao prefeito as barganhas políticas inerentes à nomeação desses cargos de confiança. 

De bobo, ele não tem nada. Outro dia, responsabilizou o Governo Federal por todas as mazelas da gestão municipal. Logo após o "cozidão" de Jarbas, onde comentávamos sobre a desenvoltura do Deputado Federal Sílvio Costa, um blog local trouxe uma postagem sobre as costuras de bastidores envolvendo o nome do seu filho, o Deputado Estadual pelo PTB, Sílvio Costa Filho. Segundo a matéria, elas vão de vento em popa. Nós já suspeitávamos disso. Vamos aguardar um pouco mais, uma vez que o rapaz já andou retirando a candidatura em outras ocasiões. 

Correndo numa outra raia, hoje nos deparamos com um pedido de oração - e olha que estamos precisando de orações. Mas, este pedido de oração é, no mínimo, inusitado. O Deputado Estadual, pastor Cleiton Collins(PP) afirmou que iria pedir em orações que as eleições do Recife vá para um segundo turno. Penso que nessas orações ele deve incluir o nome da esposa, a vereadora Michele Collins(PP).  

O roteiro do suicídio político do PT, que vai custar caro à esquerda.

publicado em 26 de novembro de 2015 às 11:26
haddad joao pedro1
Um vai em 2016, o outro em seguida…
por Luiz Carlos Azenha
Como escrevemos anteriormente, aqui e no Facebook, o mar de lama da Samarco teve também uma dimensão simbólica.
Explicitou que a captura das instituições públicas brasileiras pelo poder econômico é absoluta.
A Samarco disse que a lama não era tóxica, que estava “monitorando” a enxurrada, etc. etc.
A empresa e uma de suas controladoras, a Vale, assumiram papeis que cabiam ao Estado, dentre os quais distribuir água.
Das autoridades não saiu um pio, a não ser pelo anúncio de multas milionárias que afinal não serão pagas.
O governo de Minas cassou a licença para a Samarco operar em Mariana, como se ela ainda fosse capaz de fazê-lo.
Duas decisões judiciais tomadas no caso favoreceram a empresa: uma rapidíssima liminar para desbloquear a ferrovia por onde passa minério e o habeas corpus preventivo que impede a prisão do presidente da Samarco.
Toda uma bacia hidrográfica destruída, praias e oceano poluídos…uma verdadeira catástrofe.
Enquanto isso, quatro jovens foram presos por “crime ambiental”: sujaram de lama um corredor do Congresso.
É óbvio que esta múltipla falência de órgãos engloba o PT e o governo Dilma.
Um breve roteiro do suicídio político, incluindo apenas fatos recentes:
1. Ganhar uma eleição e governar com o programa econômico alheio;
2. Colocar toda a conta da austeridade nas costas dos trabalhadores;
3. Propor uma lei antiterrorista que, lá adiante, em 2018, servirá para a direita demolir os movimentos sociais, permitindo a ela aprofundar ainda mais, se necessário, a depressão econômica do Levy.
Para completar, Delcídio Amaral, denunciado aqui e aqui como homem que articulava barbaridades contra o Brasil e os movimentos sociais, é flagrado em conluio com um banqueiro para evitar uma delação premiada.
Por mais que seja um petista de DNA tucano, é o líder do governo Dilma no Senado!
A partir dos depoimentos, a mídia fará, obviamente, o que sempre fez: criminalizar alguns e poupar os seus.
Mas o suicídio político é do PT. Por exemplo, ao sugerir que sua bancada votasse pela soltura de Delcídio.
Para todos os efeitos, 25 de novembro é o dia em que o PT se afogou em público, sob os olhares dos 300 picaretas do Congresso.
O que virá? A delação do Cerveró, possivelmente do próprio Delcídio, do banqueiro Esteves… um efeito em cascata que vai arrastar gente graúda, com o efeito prático de paralisar o governo Dilma.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, um quadro de primeira qualidade, acusou o baque numa entrevista ao Estadão:
“Quando você tem um sonho de transformar a sociedade em favor da igualdade e você se desvia para se apropriar de recursos ou para beneficiar quem quer que seja, você está cometendo dois crimes: o primeiro é colocar a mão em recurso público, o segundo, você está matando um projeto político”.
Uma delicada nota de falecimento.
Quanto à esquerda que sobreviver ao PT, tem encontro marcado com a lei antiterrorismo logo ali adiante. A não ser que, como o PT, priorize os gabinetes.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

Tijolinho do Jolugue: A prisão do senador Delcídio Amaral.

 

A capital federal, nesta quarta-feira, dia 25, amanheceu em polvorosa, com a prisão do senador Delcídio Amaral, do PT do Mato Grosso do Sul, numa operação realizada pela Polícia Federal, que também prendeu o banqueiro André Esteves, do Banco Pactual, assim como o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira. Não se sabe o que virá em seguida, mas os ventos sopram em favor das instituições, dos mais legítimos interesses republicanos

A prisão foi pedida pela Procuradoria Geral da República e acatada, por unanimidade, pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Nossas instituições republicanas estão bastante fragilizadas, mas, aqui e ali, há alguns lampejos de lucidez, como na decretação dessa prisão. Há provas materiais de um senador da República, líder do Governo, numa manobra para obstruir as investigações da Operação Lava Jato. 

Delcídio Amaral é um petista de linhagem tucana. Um petista do bico fino, talvez. E, a julgar pelo andar da carruagem política, ele já estaria envolvido nessas falcatruas desde os tempos em que se aninhava no ninho tucano, protegido pelo senhor Fernando Henrique Cardoso. Durante o Governo FHC, ocupou uma das diretorias da Petrobras. Seus diálogos - devidamente gravados - com Nestor Cerve, outro ex-diretor da Petrobras que aderiu à delação premiada, previa que Cerveró não citasse seu nome no rumoroso caso da Refinaria de Pasadena, onde era acusado de receber propina.

O fato mostra que, mesmo diante desse pandemônio em que se transformaram os poderes Executivo e Legislativo, a Procuradoria da República mostrou autonomia e independência suficientes para pedir a prisão do líder do Governo no Senado Federal. Um fato, em si, alvissareiro, que abre um precedente para o pedido de prisão do presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, mais sujo do que pau de galinheiro. Quando o assunto é falcatruas com o dinheiro público, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é campeoníssimo. Razões não faltam para ele ser afastado do cargo que ocupa, perder o mandato e ser encaminhado direto para a Papuda. Mas, por uma dessas circunstâncias da política, ele tripudia sobre os poderes da nossa combalida república, desafia a justiça, achincalha a Casa, ameaça opositores e conta, ainda, com o beneplácito de setores do PT, que temem pelo mandato da presidente Dilma Rousseff. 

Vejo aqui pelas redes sociais que os petistas estão "enfezados" com a "seletividade" de nossa justiça que, digamos assim, manda diretamente para a prisão preventiva um senador do Partido dos Trabalhadores e é incapaz de punir com o mesmo rigor o presidente da Câmara dos Deputados ou os corruptos de alta plumagem do ninho tucano. Mais uma vez vem à tona a figura do juiz Moro, uma personalidade emblemática e contraditória. Aprendi um pouco tarde que esta polarização não ajuda muito a entender alguns fatos. Ficam muitas coisas importantes nos intervalos. O raciocínio do brasileiro vai muito nesta linha. É bastante dicotômico, o que explica, em tese, nossa mania de apenas ver os defeitos do outro lado. 


Também não vejo muito como salutar tentar defender Delcídio, apontando o dedo contra Cunha. A rigor, o senador Delcídio Amaral é indefensável. Há provas materiais de suas conversas com Nestor Cerveró, oferecendo uma mesada para que ele não entrasse na delação premiada, assim como oferendo uma rota de fuga para que ele fugisse do país. Por unanimidade, os ministros da STF decidiram decretar sua prisão. Há provas de seu envolvimento no que diz respeito à obstrução da justiça, na operação Lava Jato. A mesada oferecida a Cerveró seria de R$ 50.000,00 mensais. Quem fez a gravação foi o próprio filho de Cerveró.

De imediato, sua prisão amplia o processo de erosão de imagem a que o Governo estava submetido. Num segundo momento, o partido terá que tomar uma decisão radical sobre a sua permanência nos quadros da agremiação. Um outro grave problema é que, diante de sua prisão - que poderá prolongar-se - vai que ele resolve entrar nessa tal de delação premiada, comprometendo ainda mais os já frágeis alicerces do governo de coalizão petista. É encrenca para todos os lados. Quando Dilma Rousseff parecia tomar fôlego, eis que é decretada a prisão do senador Delcídio Amaral, um arquivo vivo das ambientes pantanosos dos negócios públicos. 


 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A prisão do senador Delcídio Amaral. A República suspira.

A prisão do senador Delcídio Amaral. A República suspira. Culpa dos tucanos e de FHC

Publicado em 25/11/2015 às 15:30 por em Notícias
Por José Luiz Gomes da Silva
Cientista Político
A capital federal, nesta quarta-feira, dia 25, amanheceu em polvorosa, com a prisão do senador Delcídio Amaral, do PT do Mato Grosso do Sul, numa operação realizada pela Polícia Federal, que também prendeu o banqueiro André Esteves, do Banco Pactual, assim como o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira. Não se sabe o que virá em seguida, mas os ventos sopram em favor das instituições, dos mais legítimos interesses republicanos.
A prisão foi pedida pela Procuradoria Geral da República e acatada, por unanimidade, pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Nossas instituições republicanas estão bastante fragilizadas, mas, aqui e ali, há alguns lampejos de lucidez, como na decretação dessa prisão. Há provas materiais de um senador da República, líder do Governo, numa manobra para obstruir as investigações da Operação Lava Jato.
Delcídio Amaral é um petista de linhagem tucana. Um petista do bico fino, talvez. E, a julgar pelo andar da carruagem política, ele já estaria envolvido nessas falcatruas desde os tempos em que se aninhava no ninho tucano, protegido pelo senhor Fernando Henrique Cardoso. Durante o Governo FHC, ocupou uma das diretorias da Petrobras. Seus diálogos – devidamente gravados – com Nestor Cerveró, outro ex-diretor da Petrobras que aderiu à delação premiada, previa que Cerveró não citasse seu nome no rumoroso caso da Refinaria de Pasadena, onde era acusado de receber propina.
O fato mostra que, mesmo diante desse pandemônio em que se transformaram os poderes Executivo e Legislativo, a Procuradoria da República mostrou autonomia e independência suficientes para pedir a prisão do líder do Governo no Senado Federal. Um fato, em si, alvissareiro, que abre um precedente para o pedido de prisão do presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, mais sujo do que pau de galinheiro. Quando o assunto é falcatruas com o dinheiro público, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é campeoníssimo. Razões não faltam para ele ser afastado do cargo que ocupa, perder o mandato e ser encaminhado direto para a Papuda. Mas, por uma dessas circunstâncias da política, ele tripudia sobre os poderes da nossa combalida república, desafia a justiça, achincalha a Casa, ameaça opositores e conta, ainda, com o beneplácito de setores do PT, que temem pelo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Vejo aqui pelas redes sociais que os petistas estão “enfezados” com a “seletividade” de nossa justiça que, digamos assim, manda diretamente para a prisão preventiva um senador do Partido dos Trabalhadores e é incapaz de punir com o mesmo rigor o presidente da Câmara dos Deputados ou os corruptos de alta plumagem do ninho tucano. Mais uma vez vem à tona a figura do juiz Moro, uma personalidade emblemática e contraditória. Aprendi um pouco tarde que esta polarização não ajuda muito a entender alguns fatos. Ficam muitas coisas importantes nos intervalos. O raciocínio do brasileiro vai muito nesta linha. É bastante dicotômico, o que explica, em tese, nossa mania de apenas ver os defeitos do outro lado.
Também não vejo muito como salutar tentar defender Delcídio, apontando o dedo contra Cunha. A rigor, o senador Delcídio Amaral é indefensável. Há provas materiais de suas conversas com Nestor Cerveró, oferecendo uma mesada para que ele não entrasse na delação premiada, assim como oferendo uma rota de fuga para que ele fugisse do país. Por unanimidade, os ministros da STF decidiram decretar sua prisão. Há provas de seu envolvimento no que diz respeito à obstrução da justiça, na operação Lava Jato. A mesada oferecida a Cerveró seria de R$ 50.000,00 mensais. Quem fez a gravação foi o próprio filho de Cerveró.
De imediato, sua prisão amplia o processo de erosão de imagem a que o Governo estava submetido. Num segundo momento, o partido terá que tomar uma decisão radical sobre a sua permanência nos quadros da agremiação. Um outro grave problema é que, diante de sua prisão – que poderá prolongar-se – vai que ele resolve entrar nessa tal de delação premiada, comprometendo ainda mais os já frágeis alicerces do governo de coalizão petista. É encrenca para todos os lados. Quando Dilma Rousseff parecia tomar fôlego, eis que é decretada a prisão do senador Delcídio Amaral, um arquivo vivo dos ambientes pantanosos dos negócios públicos.

Crônicas do cotidiano: Ainda o Panopticum da cidade universitária.






José Luiz Gomes



Num dos seus livros, uma espécie de oficina para novos autores, o escritor Raimundo Carrero​ fala sobre uma voz que acompanha os escritores, sempre que eles estão envolvidos na produção de um novo livro. Quando atingimos um certo padrão de envolvimento com a escrita, de fato, essa voz passa a nos acompanhar a todo momento, ao ponto de acordarmos, à noite, sobressaltado pelos pensamentos. Por vezes, também ficamos absortos durante o dia. Se a literatura é uma espécie de loucura,certamente, esse é um dos fatores que nos enlouquecem.Ficamos ansiosos para reproduzir essa voz no papel, porque parece alguém ditando para a gente, algo que já tenha sido revisto, lá por cima, por Flaubert, Joyce, Kafka e Graciliano Ramos. Já vem pronto.

O poeta Marcus Accioly nos falava, em suas aulas, sobre os hábitos esquisitos de alguns escritores, como aquele - não sei se o autor de Madame Bovary - que costumava se inspirar no cheiro de maçãs podres na gaveta de sua escrivaninha. Ao falar ou escrever sobre determinados assuntos, costumamos nos emocionar bastante. Uma desta vez, ao encerrar uma fala, alguém observou que havíamos falando com o coração. As maçãs podres estão por todas as partes, não necessariamente inspirando grandes obras da literatura. 


Esse preâmbulo, vem a propósito de um dos últimos artigos escritos pelo professor Michel Zaidan Filho, intitulado " O Panopticum da cidade universitária", sobretudo quando ele manifesta suas preocupações sobre o que vem ocorrendo na Universidade Federal de Pernambuco, algo, que, de certa forma, se aplica a uma boa parte de nossas instituições federais de ensino superior. Pior: uma metástase que já atingiu outras instituições de pesquisa. 


Ao falar neste assunto, parecia que dava para ouvir a voz do mestre, numa das suas aulas, palestras ou bate-papo informal. Reparem que aquilo não está escrito. É, muito mais, uma fala, um desabafo com o propósito de atingir os ouvidos mais sensíveis. Desabafo de alguém que dedicou uma vida ao ensino superior, construiu uma sólida carreira acadêmica, orientado por posturas e princípios que lhes custaram muito caro. Praticamente, nunca se afastou do circuito acadêmico.


Há muito tempo que se fala de uma suposta crise no "campo acadêmico", para usarmos um conceito do sociólogo francês Pierre Bourdieu. Seja nos seus ritos - direcionados a "pulsão de morte' da produção taylorista de artigos -, seja nos seus processos "seletivos" de novos atores - procedimentos profundamente marcados por "critérios" que amarram interesses escusos; seja nas suas finalidades, orientadas por motivações individualistas, de vaidades pessoais, bem distante do interesse público. O artigo de Michel Zaidan é um artigo para ser lido com muito carinho, pois trás reflexões importantes sobre os rumos - ou desacertos - da academia. 


Existem problemas de financiamentos, mas aqui invocamos uma crise eminentemente moral. Ética. Uma crise de princípios, onde seus membros estão sendo submetidos a uma centrífuga de interesses mesquinhos, personalistas, tacanhos, corporativos. Uma engrenagem perversa, que incorpora os piores expedientes do campo político, como a cooptação, a corrupção, as negociatas, os acordos espúrios, a subserviência, a observância rígida às "regras do jogo". Daquele jogo. Num campo contaminado como este, como observa o professor Zaidan, era de esperar que, quando a instituição fosse instigada a pronunciar-se sobre a perseguição a um dos seus membros, por delito de opinião; na defesa das liberdades públicas; abrir-se às legítimas reivindicações de sua comunidade; respondesse com a "omissão", com as práticas persecutórias, ou com a "convocação" de tropas policiais para invadirem o campus.


P.S.: Cumpre esclarecer que nem todos se deixaram comprometer por este processo. Aqui e alhures existem honrosas exceções.



Não deixe de ler também:


O Panopticum da cidade universitária

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Michel Zaidan Filho: As mentiras piedosas




 


Um dos maiores críticos da Cultura Ocidental, Frederico Nietzsche, disse uma vez que “as verdades” são como velhas moedas que perderam o seu valor e que se colocaram no lugar daquilo que representavam: ou sejam elas não representam mais nada, a não ser elas mesmas. Coerente em sua visão retórica do conhecimento humano, dizia o filósofo as verdades são mentiras convencionalmente aceitas pela comunidade. Um dia, alguém grita: “o rei está nu”, e as mentiras estabelecidas como verdades vêm abaixo.   Os pensadores modernos foram pródigos em levantar a suspeita sobre o conhecimento. 

Descartes saiu-se com “o cogito”. Hume pôs o fundamento da ciência e da filosofia na crença e no hábito. Kant disse que só podíamos conhecer a realidade através das nossas próprias categorias mentais. E Nietzsche deu o golpe de misericórdia na espinha dorsal da metafísica, ao dizer que tudo não passa de uma racionalização discursiva a  serviço de imperativos de poder. Depois dele, veio Foucault e os pós, pós, pós-tudo.


Por que é importante a crítica de Nietzsche? – Porque, segundo ele, não se vive sem mentiras, autoenganos e ilusões. Não suportaríamos o absurdo da vida. É preciso construir fantasias e quimeras filosóficas para acalentar a nossa “vontade de verdade”.  Freud denominaria isso de regressão, infantilismo, incapacidade de enfrentar, com coragem e destemor, os problemas da existência humana. Daí a necessidade das religiões, das drogas e das filosofias.



Pois bem, e os discursos da Política, dos políticos, dos partidos políticos? – Contariam, por ventura, com alguns grãos de verdade a mais do que a filosofia, a ciência e a religião? – Seria muito improvável que isso acontecesse. A propaganda política de gestores, partidos ou políticos são aquilo que se chama de “discurso estratégico”, falas desprovidas de “pretensões de validade”, à disposição de imperativos políticos, tão-somente.  Atos de fala sem finalidade comunicativa ou descritiva, mas acima de tudo perlucionária. Isto é, manipulatória, destinada a induzir o incauto ouvinte a aderir ao que ele não sabe, pelo efeito daquilo que é dito ou mostrado. Efeito performático da linguagem vã e enganosa, cujo fim é vender, persuadir o outro a aceitar o comprar “o peixe” do vendedor. Seu efeito de verdade se esgota na venda, na aceitação do produto pelo ingênuo consumidor.


Essas considerações vêm à baila em razão dos “spots” publicitários do Partido que ora nos infelicita em Pernambuco, e a propaganda enganosa em relação à saúde, à educação, à violência, à mobilidade, ao meio ambiente etc. Estamos num ano pré-eleitoral: os gestores municipais precisam mostrar (ou convencer) a população o que fizeram ou porque não fizeram, se quiserem ser reeleitos. E aí o céu é o limite para a circulação daquelas velhas moedas sem valor, que Nietzsche menciona como se fossem verdades. Provavelmente os discursos mais falaciosos em circulação numa dada sociedade são esses de véspera de campanha eleitoral. Pior ainda, pago com o dinheiro do contribuinte (se não for de caixa dois). Somos obrigados a engolir pelos olhos e ouvidos a mentira mais deslavada com cara de verdade, pelos efeitos especiais do marketing político e de atores televisivos contratados a peso de ouro.

Nunca foi tão oportuna  a crítica Nietzsche aos “flatus vocis”, a essa melodia  enfeitiçada da propaganda eleitoral.  

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE. 

                                     

    

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Editorial: O Pacto Pela Vida agoniza



Já houve um tempo em que escrevemos muitas coisas positivas sobre o Pacto Pela Vida. Vários fatores contribuíam para isso. Havíamos estudado com José Luiz Ratton, um nome pinçado da academia, diretamente envolvido na concepção do PPV. Para alguns, na condição de assessor especial do ex-governador Eduardo Campos, o cérebro por trás do Pacto Pela Vida. Um outro fator é que, no momento em que não haviam políticas públicas sistemáticas de enfrentamento do problema da violência, eis que Pernambuco apresentava uma política pública para o setor, centrada no planejamento, envolvendo diversos atores sociais, com metas definidas e resultados cobrados. Ancorado no seu projeto de tornar-se presidente da República, o próprio governador acompanhava de perto o PPV, reunindo-se semanalmente com os seus auxiliares, e, segundo dizem, esmurrando a mesa diante dos vacilos. 

Em meio aos caos em que se encontrava esta questão em todo o Brasil, Pernambuco mantinha uma política de combate a violência. Política de exportação, registre-se, uma vez que chegou a ser replicada em alguns Estados da Região. Havia, naturalmente, alguns problemas conceituais, divergências sobre os indicadores utilizados como prioritários, assim como no açodamento dos atores diretamente envolvidos em apresentarem "números" que, de concreto, poderiam não corresponder ao real alcance das metas. Um bom exemplo disso eram os chamados inquéritos mal-feitos, que correspondiam ao efeito bumerangue, ou seja, voltavam da Justiça para serem refeitos. 

Mas, a nossa maior torcida pelo PPV dizia respeito à nossa condição de cidadão. Aqui, independentemente das colorações ideológicas, quando as coisas não vão bem, atingem a todos nós. Um outro aspecto, é que a diminuição dos altos índices de violência é um problema de toda a sociedade, embora não se negue a crucial responsabilidade das autoridades públicas.Num artigo como este, que se propõe a debater os possíveis problemas do Pacto Pela Vida, é comum que o leitor queira comparar alguns números. Lamento decepcioná-los, mas preferi não apresentá-los. Para não dizer que não falei em dados, apenas neste último final de semana, ocorreram 12 assaltos a ônibus na região Metropolitana do Recife. O mês de Outubro de 2015, superou todas as expectativas quanto às taxas de homicídios. Expectativas negativas, naturalmente.

Creio que essa informação já seria suficiente para compreendermos a dimensão da encrenca em que o Pacto Pela Vida está metido. Em solenidade recente, quando da troca de comendo da Polícia Militar, o governador do Estado de Pernambuco, Paulo Saraiva Câmara, reconheceu que a situação da segurança pública no Estado é preocupante. As metas do PPV estão sendo solenemente solapadas pelos indicadores de violência. Os problemas do PPV são estruturais, mesmo sabendo que não se pode desprezar o papel exercido pelos atores políticos no tocante ao alcance de determinadas metas. A presença direta do ex-governador Eduardo Campos como uma espécie de CEO do PPV, segundo observadores, foi um dos fatores importantes para que o PPV alcançasse determinados objetivos. 

Por outro lado, trocar o comando de A, B ou C, simplesmente, não significará que tenhamos um resultado concreto na diminuição da violência. Não queremos ser pessimistas, mas, a julgar pelo andar da carruagem política, nesta área tudo leva a crer que enfrentaremos um longo e tenebroso inverno pela frente. Para onde se olha, não se vê como as soluções possam ser encontradas. Em alguns casos, essas possíveis soluções não dependem unicamente de vontade política. A máquina pública, em todos os níveis, enfrenta graves dificuldades de financiamento. Em Pernambuco, para que se tenha uma ideia, 80% dos municípios estão com a Lei de Responsabilidade Fiscal estourada. Uma encrenca do tamanho dos diabos para o TCE resolver. Terá que usar de muita habilidade política para conduzir essas avaliações de conta. Do contrário, o quadro de coronéis da PM será sensivelmente atingido. 

Faça alusão à escolha infeliz do governador no que tange à nomeação de um coronel da PM para atuar como interventor da cidade de Gravatá. Por falar em PM, dizem que as coisas ficaram feias durante o debate sobre o Ciclo Completo da Polícia. Na realidade, a PM nunca se entendeu com a Polícia Civil. Essa história de conceder à Polícia Militar a prerrogativa de elaborar os BCO, certamente, não seria muito bem aceita pela Polícia Civil, que exerce o papel, efetivamente, de polícia judiciária. Não posso comentar isso porque não estivemos presentes a esses encontros, mas pessoas que estiveram por lá nos informaram que integrantes da PM teriam viradas as costas quando da fala do presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Áureo Cisneiros.

Há muito tempo que se fala numa possível extinção da Polícia Militar, uma resíduo nebuloso dos tempos negros da Ditadura Militar. Eles, no entanto, possuem um lobby muito forte no parlamento. Há quem veja nessa mexida de comando da PM algo igualmente relacionado ao Ciclo Completo da Polícia. Vamos aguardar o formato das espumas. A Polícia Civil anda se arrastando numa greve branca, também conhecida como "Operação Padrão". Os salários estão absurdamente defasados, o quadro de pessoal e as condições de trabalho estão no fundo do poço. 

Em campanhas nas ruas, os próprios policiais denunciam uma espécie de sucateamento do órgão, com plantões extintos, delegacias fechadas. Mesmo nessas circunstâncias, os assessores palacianos ainda veem brechas para a abertura de processo contra o presidente do sindicato. Não quero aqui nem entrar nos problemas do sistema penitenciário. Sobretudo depois do relatório devastador da Human Rights Watch. Vamos abrir um link no rodapé da página para quem se interessar sobre o assunto.Não quero ser alarmante, mas quem tiver curiosidade sobre os problemas das finanças estaduais, dê uma olhadinha no site da Deputada Estadual Priscila Krause, dos Democratas. Apesar das divergências políticas, reconheço que a sua atuação como parlamentar é muito boa. 

Na realidade, se nos permitem a franqueza - e isso sem querer atingir este ou aquele ator - o que ocorreu com o PPV foi uma espécie de relaxamento, de frouxidão, de ausência de liderança, do distanciamento de alguns atores importantes da sociedade civil na participação das reuniões de monitoramento, quando elas existiam, pois, segundo soube, também deixaram de ser realizadas durante um certo período. O poder judiciário, o sistema penitenciário são elos importantes nessa corrente. Outro dia alguém estava lembrando um fato curioso - mas não menos importante - qual a real contribuição do caos que se instaurou nos presídios pernambucanos para o aumento dessas estatísticas? Uma boa pergunta para o senhor Pedro Eurico responder. 

Precisa ler também:

O relatório devastador da Human Right Watch

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Michel Zaidan Filho: O "Panopticum" da cidade universitária



                                             


 


O grupo de amigos, apoiadores, colegas e alunos responsável pelas iniciativas de apoio e solidariedade a minha pessoa, em razão do processo do governador Paulo Henrique Saraiva Câmara, fez uma uma pequena reunião de balanço sobre a mobilização, dentro e fora da UFPE, que resultou na audiência pública, ampliada, do dia 11 de novembro, no Fórum Joana Bezerra. Como era de se esperar, a avaliação do movimento foi muito positiva, transformando um simples pedido de interpelação judicial num fato político amplamente divulgado nas redes sociais e na imprensa. Foi quase um consenso o reconhecimento de que o “flashmob”, convocado pelo # “SOMOSTODOSZAIDAN”, teve uma influência decisiva sobre o comportamento dos atores, na realização da audiência e seus resultados, a ponto de levar o Juiz, Francisco Galindo, a se dirigir à audiência pública explicando passo-a-passo o que se passava no recinto. As imagens dessa bonita mobilização foram postadas nas redes sociais e estão disponíveis para serem vistas, bem como vídeos sobre a fala do magistrado e outros participantes.

O principal ponto de discussão foi o silêncio e a omissão dos dirigentes da UFPE, apesar dos pedidos da comissão que foi à Reitoria da UFPE (existe imagens dessa comissão e de depoimentos de seus integrantes) solicitar um posicionamento da Instituição em relação à defesa da liberdade de expressão. A despeito das promessas e da encenação, nenhum pronunciamento foi feito ou publicizado pelos responsáveis pela administração universitária. Idêntico silêncio foi o adotado pelo sindicato dos docentes (ADUFEPE), pela diretoria do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e pelo meu departamento.

Essa triste constatação me levou a crer que os métodos empregados pelo reitor e seus colaboradores (e serventuários) na última eleição – o clientelismo, o fisiologismo, o troca-troca de cargos, núcleos de pesquisas, nomeações por voto, terminaria por minar moralmente a comunidade acadêmica, quando fosse necessário obter dela uma manifestação pública contra o arbítrio e a violência cometida contra os cidadãos e cidadãs. Mas o que esperar de professores, coordenadores, diretores e pró-reitores sempre dispostos a apoiar a entrada da polícia (federal e militar) no Campus Universitário, para perseguir os alunos ou a privatização da gestão universitária? – Para usar a expressão do filósofo alemão Frederico Nietzsche: os filisteus só cuidam de sua carreira, dos êxitos e sucessos profissionais, do “curriculum Lattes” (o que não morde) e de mais nada. 

São corporativistas.Preocupam-se, acima de tudo, em galgar a hierarquia acadêmica, através de pequenos e grandes acordos. O resto pode vir abaixo. Estudantes se jogam do alto dos institutos, o lixo se acumula na porta dos centros, alunos são perseguidos por professores, outros são assaltados e estuprados, e o reitor só se preocupa com a instalação de câmaras, com a presença da polícia, com a criminalização do movimento estudantil, de passar a perna na Comissão de Direitos Humanos, da UFPE, em nomear os amigos e aliados para cargos de direção e de órgãos suplementares da UFPE e em exigir fidelidade absoluta ao Chefe de seus auxiliares imediatos.

O que esperar desses dirigentes? – Naturalmente essa comunidade está minada do ponto de vista moral e político.  Aos amigos, tudo. Aos adversários, “as adversidades federais de Pernambuco” (título de livro recente sobre a carreira acadêmica na UFPE). Os amigos e apoiadores do nosso movimento, entre eles a querida amiga e ex-aluna Liana Lins, me perguntaram se gostaria de estar presente na reunião da reitoria, que trataria do caso. – Eu respondi com sinceridade, que não. Não tenho disposição para ver uma ex-pró-reitora (hoje convertida em oficial de gabinete do reitor) e o próprio gestor, depois de tudo quanto sofri na mão dessas pessoas. 

Seria uma humilhação. A mesma questão se colocou em relação à ADUFEPE: por que não pedir ao atual diretor da Associação dos Docentes que fizesse sua obrigação de proteger a liberdade de opinião de um de seus associados? – Não. Eu não iria lembrar ao reitor ou ao diretor da ADUFEPE quais eram suas obrigações, no exercício de seus mandatos. Se iriam usá-los patrimonialisticamente para se vingar das críticas dirigidas a um e a outro, problema deles. Estavam comprometendo o cargo e a instituição.

Se fosse um estudioso e entusiasta das reflexões de Michel Foucault, diria que se montou no Engenho do Meio uma espécie de “panopticum”, com os olhos do poder espalhados no campus universitário. E que os professores tornaram “cidadãos disciplinarizados”, introjetaram a autoridade do “big brother”. São como os operários de “Tempos Modernos” ou de “Metropolis”, seres destituídos de autonomia, senso crítico e interesse público. Pessoas capazes de assinarem pedidos de criminalização de seus alunos e invasão policial ao Campus, mas incapazes de levantar o dedo para a defesa das liberdades públicas.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE