José Luiz Silva
Esta crônica
foi produzida num momento em que escrevíamos um longo editorial sobre os
problemas relativos à violência no estado do Ceará, em razão do motim da
Polícia Militar. Depois de concluído o editorial, optamos por não publicá-lo,
em razão do atual ambiente político vivido pelo país - com uma sociedade civil
profundamente dividida - onde o debate de ideias deu lugar à selvageria e aos
ataques infames à honra e à dignidade das pessoas, orquestrados por disparos de fake news,
reproduzidos por instrumentos tecnológicos conhecidos, concebidos por segmentos de uma engrenagem política
pouco afeita à democracia, que flerta com o fascismo. O momento é bastante
delicado, sobretudo se levarmos em consideração as fragilidades históricas de
consolidação do nosso projeto de democracia, conforme tratamos num editorial
recente.
Em todo caso,
um parágrafo sobre as coisas que viciam não caberia, em nenhuma hipótese, num
editorial abordando um assunto tão delicado. Aqui na província, durante o
carnaval, surgiram rumores de que integrantes da Polícia Militar de Pernambuco
teriam recomendado às bandas que não
executassem as músicas do Chico Science. Não entro no mérito do suposto absurdo
da proibição em si, mas invoco uma profunda preocupação: A hipótese de que as
Polícias Militares de todo o país estariam agindo consoante recomendação
emanadas de um poder central, com propósitos muito bem definidos, o que se
traduz numa instrumentalização da corporação, assim como ela foi utilizada em
décadas do século passado, dando suporte às ações repressoras durante o regime
militar. Mas, vamos ao teor da crônica propriamente dita. Afinal apenas os doentes e infames podem ser viciados numa sopa de letrinhas nefastas, que incluem o "F", o "N" e o "D". Nenhuma com "C", felizmente.
Há algum
tempo visitamos com regularidade o estado do Ceará, atraídos por sua gastronomia,
seus encantos naturais, sem jamais deixar
de registrar aqui a hospitalidade de sua gente. Na última viagem àquele
estado, lembramos bastante de uma crônica do Luiz Fernando Veríssimo intitulada: Tudo
que vicia começa com “C”. Só agora caiu nossa ficha que Ceará também começa
com “C” e, portanto, assim como sugere o cronista, também deve viciar. Até
então, nossa lista incluía o suco de caju, a cajuína dele derivada, a castanha,
o camarão, o carneiro, a galinha caipira, a cocada, iguarias encontradas com
muita facilidade naquela região que te leva ao Litoral Leste, passando por
Lagoinha, Flecheiras, até ao paraíso da Vila de Jericoacoara.
Se, por um
acaso, o leitor(a) já leu a crônica do filho do escritor gaúcho Érico
Veríssimo, sabe que a lista é bem robusta: Cigarro, cachaça, cerveja, café, cocaína, crack,
cannabis. Não raro, nos surpreendemos com
algum outro “C” viciante, encontrado ao acaso: compras, chocolate, Coca-Cola -
duplamente viciante - celular. Resolvemos registrá-los no nosso caderninho inseparável, para evitar os
transtornos de lembrarmo-nos de algum outro “C” e, depois, esquecê-lo.
Aconselhamos ao leitor(a) entrar nessa brincadeira do “C” e, de preferência, nunca
mais sair. Esse hábito também vicia.
Já estava nos
despedindo da escrivaninha quando recebo uma notícia alvissareira sobre a
torcida organizada do time chileno Colo-Colo, -assim como a Coca-Cola- duplamente viciante. O nome do técnico Luiz Felipe Scolari chegou a ser cogitado
para dirigir o time, mas foi veementemente contestado por aquela torcida organizada,
em razão de seus elogios à ditadura chilena, em particular ao famigerado
general Augusto Pinochet. Vão aqui os nossos sinceros cumprimentos à torcida do
time chileno, Chile que também começa com “C”.
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