pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Crônica: Tudo que vicia começa com "C" II
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quarta-feira, 4 de março de 2020

Crônica: Tudo que vicia começa com "C" II



 

José Luiz Silva

 
Esta crônica foi produzida num momento em que escrevíamos um longo editorial sobre os problemas relativos à violência no estado do Ceará, em razão do motim da Polícia Militar. Depois de concluído o editorial, optamos por não publicá-lo, em razão do atual ambiente político vivido pelo país - com uma sociedade civil profundamente dividida - onde o debate de ideias deu lugar à selvageria e aos ataques infames à honra e à dignidade das pessoas, orquestrados por disparos de fake news, reproduzidos por instrumentos tecnológicos conhecidos, concebidos por segmentos de uma engrenagem política pouco afeita à democracia, que flerta com o fascismo. O momento é bastante delicado, sobretudo se levarmos em consideração as fragilidades históricas de consolidação do nosso projeto de democracia, conforme tratamos num editorial recente.

Em todo caso, um parágrafo sobre as coisas que viciam não caberia, em nenhuma hipótese, num editorial abordando um assunto tão delicado. Aqui na província, durante o carnaval, surgiram rumores de que integrantes da Polícia Militar de Pernambuco teriam recomendado às bandas que   não executassem as músicas do Chico Science. Não entro no mérito do suposto absurdo da proibição em si, mas invoco uma profunda preocupação: A hipótese de que as Polícias Militares de todo o país estariam agindo consoante recomendação emanadas de um poder central, com propósitos muito bem definidos, o que se traduz numa instrumentalização da corporação, assim como ela foi utilizada em décadas do século passado, dando suporte às ações repressoras durante o regime militar. Mas, vamos ao teor da crônica propriamente dita. Afinal apenas os doentes e infames podem ser viciados numa sopa de letrinhas nefastas, que incluem o "F", o "N" e o "D". Nenhuma com "C", felizmente. 

Há algum tempo visitamos com regularidade o estado do Ceará, atraídos por sua gastronomia, seus encantos naturais, sem jamais deixar  de registrar aqui a hospitalidade de sua gente. Na última viagem àquele estado, lembramos bastante de uma crônica do Luiz Fernando Veríssimo intitulada: Tudo que vicia começa com “C”. Só agora caiu nossa ficha que Ceará também começa com “C” e, portanto, assim como sugere o cronista, também deve viciar. Até então, nossa lista incluía o suco de caju, a cajuína dele derivada, a castanha, o camarão, o carneiro, a galinha caipira, a cocada, iguarias encontradas com muita facilidade naquela região que te leva ao Litoral Leste, passando por Lagoinha, Flecheiras, até ao paraíso da Vila de Jericoacoara.  

Se, por um acaso, o leitor(a) já leu a crônica do filho do escritor gaúcho Érico Veríssimo, sabe que a lista é bem robusta: Cigarro, cachaça, cerveja, café, cocaína, crack, cannabis.  Não raro, nos surpreendemos com algum outro “C” viciante, encontrado ao acaso: compras, chocolate, Coca-Cola - duplamente viciante - celular. Resolvemos registrá-los no nosso caderninho inseparável, para evitar os transtornos de  lembrarmo-nos de algum outro “C” e, depois, esquecê-lo. Aconselhamos ao leitor(a) entrar nessa brincadeira do “C” e, de preferência, nunca mais sair. Esse hábito também vicia.

Já estava nos despedindo da escrivaninha quando recebo uma notícia alvissareira sobre a torcida organizada do time chileno Colo-Colo, -assim como a Coca-Cola- duplamente viciante. O nome do técnico Luiz Felipe Scolari chegou a ser cogitado para dirigir o time, mas foi veementemente contestado por aquela torcida organizada, em razão de seus elogios à ditadura chilena, em particular ao famigerado general Augusto Pinochet. Vão aqui os nossos sinceros cumprimentos à torcida do time chileno, Chile que também começa com “C”.


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