Já faz algum tempo que não escuto uma notícia boa sobre o nosso Estado. Seja consoante à economia, à política, à violência urbana, à cultura, à administração pública. Ao contrário, somos informados, cotidianamente, sobre a queda de indicadores dos índices de desenvolvimento, investimentos, e, talvez como reflexo disso, o aumento dos índices de pobreza, desemprego, violência urbana e precarização das condições de vida da população. No dia ontem, surgiu mais um desses indicadores: Pernambuco junta-se aos Estados de Alagoas, Amazonas, e Maranhão, onde mais da metade da população encontra-se na faixa de pobreza.
Aliás, o país vem empobrecendo de maneira célere, de acordo com os últimas levantamentos realizados por entidades sérias, como a Fundação Getúlio Vargas Social, sob o comando do economista Marcelo Nery. Quando concluiu seu doutorado a sua tese causou uma enorme polêmica à época - em relação à abordagem de estudo do tema, que já era os pobres do país - mas logo as dúvidas se dissiparam e ela foi considerada a melhor tese de doutorado defendida naquele ano. Em síntese, o dado mais preocupante das conclusões da pesquisa da FGV é que nunca antes empobrecemos num ritmo tão acelerado, atirando milhões de pessoas na pobreza e na extrema pobreza.
Nunca empobrecemos de maneira tão rápida e isso não se deve unicamente aos problemas relativos à pandemia da Covid-19, embora ela possa ter contribuído. Mas tem a ver também com a ausência de políticas públicas estruturadoras que se propusessem a enfrentar o problema, complementadas, num segundo momento, pela ampliação das oportunidades educacionais. Claro que esses dados não podem ser avaliados fora do contexto nacional e até internacional, mas, concretamente, no que concerne a Pernambuco -um dos Estados que mais contribuíram para chegarmos a essa tragédia - alguns deveres de casa deixaram de ser feitos ao longo desses anos.
Nenhum grande projeto estruturador - depois de SUAPE - capaz de atrair novos investimentos, gerar emprego e renda. Pernambuco, há anos, é governado por oligarquias políticas cevadas na Casa Grande - desprovidas de sensibilidade social e espírito público - que conduzem os negócios de Estado consoante seus interesses particulares e dos seus apadrinhados. Seus críticos e desafetos ainda são tratados com o chicote na mão - como naqueles tempos - ou açoitados em suas reputações, quando não encaracolados com processos jurídicos. A malversação de recursos do erário é outra rotina execrável, que repercute negativamente no objetivo de proporcionar à população a aplicação correta dos impostos arrecadados.
Trata-se de uma vergonha para o nosso Estado, hoje em pé de igualdade com Estados como Alagoas e Maranhão, que, curiosamente, do ponto de vista da condução política, tiveram a mesma "sina" de estar nas mãos de ultrajantes oligarquias políticas familiares. Permitam, por favor, um pouco de paz para o grande sociólogo pernambucano Josué de Castro, que dedicou sua vida a estudar o fenômeno da fome no país, em particular na nossa região Nordeste. Josué sempre afirmava que, a despeito das condições adversas, os moradores das palafitas do Recife - os homens e mulheres caranguejos - ainda viviam em condições melhores do que a população da Zona da Mata do Estado. Nos últimos anos, conseguimos subverter essa equação e, hoje, a capital Recife vive atolada na miséria, completamente vulnerável às intempéries, como as enchentes dos últimos dias.