José Luiz Gomes Escreve:
segunda-feira, 28 de março de 2022
O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: As chances eleitorais de uma chapa "Luluzinha".
Pinga Fogo: "Nenhum governo no mundo deixa de ser afetado pela alta dos preços" - Antonio Lavareda.
Num diálogo recente com a redação da revista Veja, o cientista político pernambucano, Antonio Lavareda, a partir dos resultados apresentados por uma pesquisa de intenção de voto realizada pelo IPESPE, observou que a alta dos preços poderia trazer alguns embaraços para o candidato Jair Bolsonaro(PL), que vinha reagindo bem nas pesquisas como candidato à reeleição até então. Agora, no dia 28, é o próprio Datafolha que confirma o fato: 75% dos eleitores atribuem o problema da inflação à condução da política econômica do Governo, o que pode significar uma dor de cabeça para o Planalto. O guru acertou de novo.
Pinga Fogo: Mulheres na dianteira das intenções de voto em Pernambuco?
Editorial: O Dia do Fico de Eduardo Leite.
Depois de esboçar uma eventual saída do ninho tucano, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS), anuncia,em breve, o seu "Dia do Fico", ou seja, deve mesmo continuar no partido, a despeito das insistentes investidas do PSD para tirá-lo do ninho. Gilberto Kassab(PSD), como se sabe, insiste numa candidatura do seu partido à Presidência da República nas próximas eleições de outubro. Assegurou que o partido ofereceria a Leite todas as condições para disputar o cargo.
Para se contrapor às investidas de Kassab, os tucanos caíram em campo para reverter a situação, no que parece que foram exitosos. A mexida dessa peça no xadrez político das eleições de 2022 produz algumas consequências evidentes. Para alguns tucanos de alta plumagem ele seria o candidato ideal do partido para concorrer à Presidência da República e não o atual governador do Estado de São Paulo, João Dória(PSDB-SP), que venceu as prévias do partido. Esses tucanos de alta plumagem trabalham com duas possibilidades: a) Reverter o resultado das prévias na convenção do partido, o que parece um ato eivado de implicações jurídicos; b) Trabalhar o nome de Leite junto aos parceiros de uma possível aliança com o União Brasil e o MDB.
Em ambos os casos, para esse grupo, o governador João Dória seria uma carta fora do baralho. Essa manobra envolve amplas negociações e muitas incertezas. Dória, por exemplo, está exigindo que a direção do partido se pronuncie em torno deste assunto. Sinceramente? Não acreditamos que a decisão de Leite tenha sido no sentido de pensar que seu nome seria viabilizado nas negociações dos tucanos com os caciques do União Brasil e do MDB. Impossível não é, mas não é tão simples assim.
É mais provável que a sua decisão esteja centrada nos problemas enfrentados pelo seu partido no próprio Estado. Em todo caso, vamos aguardar os rumos dos acontecimentos. O fato concreto é que ele já decidiu que fica no ninho, deixando Kassab, no momento, sem opções políticas, depois que Rodrigo Pacheco(PSD-MG) já antecipou que não pretende disputar o cargo de Presidente da República. Mesmo em tais circunstâncias, dificilmente ele correrá para os braços de Lula ainda no primeiro turno das eleições de outubro.
P.S.: Contexto Político: A manobra dos tucanos de alta plumagem está sendo tratada pelos partidários do governador João Dória como um "golpe". Vamos aguardar os desdobramentos, mas tudo leva a crer que a sigla foi oferecida a Eduardo Leite, com o propósito de que ele viabilize seu projeto de candidatar-se à Presidência da República. Faltou combinar com Dória,naturalmente.
Pinga Fogo: Pernambuco libera o uso de máscaras em locais abertos.
No tocante às medidas adotadas para o enfrentamento da pandemia da Covid-19, sempre afirmamos por aqui, o Estado de Pernambuco fez bem seu dever de casa. Adotou as medidas corretas no momento certo. Agora, que estamos enfrentando um arrefecimento da pandemia - com a uma queda acentuada do números de novos casos e de morte - talvez tenha mesmo chegada a hora de flexibilizar as ações preventivas. Neste sentido, está sendo comunicado à população que o uso de máscaras em locais abertos não será mais exigido. Vamos avançando, depois de mais de 80% da população encontrar-se vacinada. Viva a vacina!
domingo, 27 de março de 2022
Depois da posse: o que esperar
Quando estava prestes a suicidar-se em meio à resistência contra uma tentativa de golpe de Estado, Salvador Allende fez um conhecido discurso à Radio Magallanes. Ele terminava com as seguintes palavras: “Sigam vocês sabendo que muito mais cedo que tarde se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor”.
As gravações desse discurso chegaram até nós. Em meio ao tom metálico das transmissões de outrora, ouve-se também o ruído branco das antigas emissões em mono, o que aumenta involuntariamente o caráter solitário da voz. Emitida diretamente do Palácio La Moneda sob bombardeio, essa poderia bem ser a voz de um trauma histórico, com sua força própria de produção de melancolia capaz de atravessar décadas. A via chilena para o socialismo terminara com bombas, suicídio e vozes solitárias.
Quando tomava posse como presidente do Chile, Gabriel Boric terminou seu discurso na sacada do mesmo Palácio La Moneda com a frase: “Estamos novamente abrindo as grandes alamedas por onde passará o homem e a mulher livre para construir uma sociedade melhor”. A repetição levou a multidão diante do Palácio às lágrimas. O gesto expressava uma aposta alta, que nenhum governo até então, desde o fim da ditadura de Pinochet, tivera a coragem de fazer. Tratava-se da aposta em uma suspensão do trauma e de uma retomada da história interrompida. Aposta ainda mais alta porque consistia também em dizer que os 48 anos que ligam as duas frases pronunciadas no mesmo lugar, pela mesma pessoa simbólica (o presidente do Chile), foram apenas a tentativa em apagar um processo histórico que agora retornava.
Que a primeira enunciação tenha sido como tragédia, isso é seguro. Mas a segunda seria como farsa ou como redenção? Se o desejo por trás do gesto de repetição era claro, o mínimo que se pode dizer é que não está claro o que concretamente esperar a partir dele, não está claro sua força performativa. Não foram poucos os que, na série de entrevistas feitas nos dias anteriores à posse, insistiram na diferença profunda entre os dois momentos históricos e no que representam os dois governos: o de Allende e o de Boric. Mas há de se lembrar que a política é atravessada pela ressurreição de espectros, ou ainda, que ninguém faz apelo a espectros impunemente. O que nos coloca necessariamente diante de um processo aberto que, ainda por cima, lidará com a pressão das dinâmicas de repetição histórica.
De toda forma, as diferenças históricas também existem e elas já podem ser sentidas, por exemplo, no programa de governo. Allende acreditava em uma espécie de “transformação gradual” do Chile em direção ao socialismo. “Transformação gradual” não significa exatamente o que se convencionou chamar de “reformismo”. Em seu caso, a distinção reformismos e revolução perde muito de sua função de distinção analítica. Não há notícia de reformista que tenha estatizado o sistema bancário, só para ficar em um caso mais evidente e um dos mais estruturais, juntamente com a nacionalização do indústria do cobre, base de toda economia chilena.
Já o programa de Boric sequer compromete-se claramente com a criação de um sistema educacional público totalmente gratuito em um país no qual famílias precisam muitas vezes escolher qual dos filhos ou filhas estudar, já que os custos e a dívidas resultantes dele são altos. Algo que, diga-se de passagem, coloca seu programa, ao menos nesse ponto, até mesmo aquém do reformismo.
Nesse contexto, é digno de nota como na maioria de nossas entrevistas apareceu uma dicotomia clara entre “governo” e “processo”: “Não confio no governo, mas confio no processo” foi uma frase constante. E por “processo” não se deve entender apenas o processo constituinte pelo qual o Chile está passando. “Processo” indica também o campo de lutas em ação que acreditam ganhar um campo ainda maior com os avanços esperados pela nova Constituição ou com a possibilidade de se discutir transformações sociais a partir de alternativas reais aos modelos políticos e econômicos vigentes.
É certo que mesmo o governo se compreende mais como um “guardião” dos processos de mudança do que seu ator fundamental. Boric falou mais de uma vez que a função do governo é impedir que o processo de mudança seja bloqueado. Alejandra Bottinelli, professora e militante, expressou bem tal situação em uma de nossas entrevistas ao falar que via nesse governo a função de “resguardar” o movimento que lhe levou ao poder.
Isso produz questões em aberto a respeito do que pode e do que quer esse governo. Terá ele a função de paralisar o processo insurrecional pelo qual o Chile estava a passar, oferecendo uma governabilidade de ‘acordos’ necessários diante de um Congresso Nacional dividido ao meio e de um poder econômico enormemente concentrado? Não são poucos os que acreditam nisso. Ou seria o governo um compromisso necessário para que o processo de transformação não se perca devido ao conflito certo com um Congresso dividido ao meio e um setor empresarial acuado que não teve receio em apoiar um candidato protofascista (José Kast) para tentar vencer as eleições presidenciais? Nesse sentido, os compromissos seriam uma estratégia para fortalecer novas condições mais favoráveis para o aumento gradativo de pressão, como se esse fosse, na verdade, um governo de “transição”?
Em meio a tais questões, a opinião de Daniel Jadue tem um lugar de destaque. Jadue é prefeito de Recoleta, municipalidade pobre do conglomerado de Santiago. Ela era o candidato natural da frente da coligação Apruebo Dignidad à presidência do Chile. Sua derrota nas primárias frente a Boric foi uma surpresa. Hoje, ele vocaliza uma posição de tensionamento no interior da coalização de governo. Diante da configuração atual, Jadue acredita que mesmo os pontos do programa de governo mais polêmicos devem passar por negociações e chegar ao Congresso bastante modificados.
O Partido Comunista Chileno conta atualmente com 12 deputados em um Congresso de 155, um número extremamente significativo. Jadue acredita que “há bastantes companheiros e companheiras, fundamentais para a vitória desse governo, que não estão dispostos a pagar o mesmo custo”. Por “mesmo custo” Jadue se refere à participação do Partido Comunista no segundo governo de Michele Bachelet, ocasião na qual, em nome da governabilidade, o partido se viu obrigado a muitas vezes aceitar e apoiar propostas que batiam frontalmente com seu próprio programa. O que justifica porque ele insiste que “os comunistas não estão dispostos a pagar sempre a fatura da unidade”.
Jadue reconhece que esse será um governo em disputa, como teria sido o segundo governo Bachelet: “mas há uma diferença importante. No governo Bachelet a hegemonia estava do lado das forças conservadoras, enquanto agora a hegemonia está do lado das forças transformadoras”. Essa nova hegemonia faz o Partido Comunista apostar principalmente em duas mudanças de alto impacto: a criação de um sistema de proteção social inexistente no Chile capaz de liberar o ser humano da “ditadura do salário” e o fim do sistema de previdência privada e de capitalização, base dos lucros bancários no país.
No entanto, por mais paradoxal que isso possa inicialmente parecer, Jadue não propõe para tanto uma maior capacidade de negociação da esquerda, mas sim aquilo que ele chama de “desinstitucionalização”: “Passamos de uma esquerda que estava sempre nas ruas e alijada das instituições de poder, para uma esquerda que está em todas as instituições de poder e não coloca mais o pé na rua”. No seu caso, colocar o pé na rua significa retomar o que se entende por “disputa das consciências”.
Para descrever esse processo de disputa e suas estratégias, Jadue explica como o Partido Comunista saiu, em 2000, de 2% dos votos em Recoleta para 65%, em 2020: “As pessoas tinham uma desconfiança inconsciente em relação à política e era necessário inicialmente deslocá-las para a posição de uma confiança consciente. Para tanto, precisávamos mudar algo na vida delas antes de falarmos de política”. A mudança nas condições de vida abriu espaço para a unidade de organização e luta por valores. Ou seja, a estratégia consistiu em retirar, por um momento, o que seria a consolidação ideológica para que ela viesse com força em um segundo momento. Pois o próximo passo era tornar a confiança consciente em consciência de vanguarda, em uma clara adaptação de um modelo leninista de estratégia. Isso foi feito levando a cidadania a ocupar todos os espaços políticos existentes: juntas de vizinhos, centros de estudantes, centro culturais, centros desportivos.
Isso pode explicar elementos importantes do processo de enraizamento local que a esquerda chilena foi capaz de desenvolver. Daí a insistência em compreender os poderes locais como base para as lutas que virão, principalmente no interior dos embates para a aprovação do texto constitucional em setembro de 2022.
Mas nesse ponto aparece novamente uma dicotomia que parece marcar também as estratégias da experiência chilena. Ao ser indagado sobre as diferenças entre os dois momentos da história chilena que iniciaram esse texto, momentos encarnados nos nomes de Allende e Boric, Jadue é taxativo: a distinção seria estrutural porque faltaria à esquerda atual uma noção de unidade como ferramenta fundamental de lutas: “esse é um problema sério que limita a capacidade transformadora dos processos políticos”.
Incomoda a Jadue uma certa transversalidade do que ele também chama de “políticas identitárias” que poderiam inclusive se acomodar a posições liberais. Por mais que possamos ler em livros universitários sobre a interseccionalidade das lutas, é certo que no Chile ela é vivenciada de forma dramática e vista como desafio para a constituição da unidade de um processo com uma multiplicidade de atores que vão desde comunistas históricos a mapuches, feministas, autonomistas, sindicalistas, entre tantos outros. Esse talvez seja o momento necessário de tensionamento para a construção do que o presente pode entender por “unidade popular”. Procurar formas de aggiornamento dessa tensão talvez será uma das maiores inovações da experiência chilena.
Via chilena: a América Latina criando novos caminhos. Durante a semana da posse de Gabriel Boric à presidência do Chile, a Cult fornecerá artigos diários escritos a partir do relatos de ativistas, membros do governo e intelectuais chilenas e chilenos. Um momento importante da história do nosso continente descrito a partir de quem está lá.
Vladimir Safatle é Professor Titular da USP e atualmente fellowship do The New Institute/ Hamburgo.
(Publicado originalmente no site da Revista Cult)
Pinga Fogo: Raquel Lyra boa de voto.
É curioso esse mundo da política. Não há dúvidas de que a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, tornou-se um fenômeno eleitoral no Estado. Apenas pesquisas qualitativas, muito bem conduzidas, poderiam desvendar esse fenômeno. Marília Arraes liderava todas as pesquisas para o Senado Federal, exceto se Raquel Lyra estivesse no páreo. Isso confirma a nossa tese de que uma chapa "Luluzinha" teria enormes chances de sagrar-se vitoriosa nas urnas nas próximas eleições estaduais. Não pelo fato de serem mulheres, mas pela densidade eleitoral que elas representam.
Pinga Fogo: A fidelidade de Marília ao ex-presidente Lula.
Pinga Fogo: Miguel Coelho deixa a prefeitura de Petrolina em grande estilo
Decidido mesmo a concorrer ao Palácio do Campo das Princesas nas próximas eleições, o atual prefeito de Petrolina, Miguel Coelho(UB-PE), anuncia que deixará o cargo no dia 30 de março, com grande pompa, numa festa de despedida com a presença de grandes personalidades do cenário político estadual e nacional, como as principais lideranças do União Brasil, ACM Neto e Luciano Bivar. Ocorreram várias tentativas, por parte de outras lideranças políticas do Estado, em formarem uma composição com o jovem prefeito de Petrolina, mas sem êxito.
Editorial: A resistência petista ao nome de Geraldo Alckmin
O Partido dos Trabalhadores, desde a sua fundação, sempre congregou alguns grupos radicais em suas fileiras, entre eles, tendências que haviam participado da luta armada contra a Ditadura Militar. Alguns, aliás, tão radicais que chegaram a ser expulsos daquela agremiação partidária, como foi o caso da Convergência Socialista, que formaria, depois, o PSTU. Coube a José Dirceu, na condiação de presidente do partido, em décadas passadas, a missão de apaziguar a agremiação, tratando de institucionalizá-la, consoante o objetivo maior que seria fazer de Lula o Presidente da República.
A missão foi cumprida com denodo, Lula chegou lá e José Dirceu tornou-se um dos homens mais poderosos da República. O resto é História. Ao longo dos anos, o partido passou por um processo - segundo dizem os teóricos, inevitável - de oligarquização, mas as instâncias e tendências mais orgânicas resistem e continuam fazendo um barulho danado sobre as decisões da agremiação. Aqui em Pernambuco, por exemplo, esse embate não terminou bem. Culminou com a saída da Deputada Federal Marília Arraes do partido, pois, mesmo com liderança e densidade eleitoral, tornou-se inviável na máquina da burocracia partidária, controlada por adversários seus.
No plano nacional, a grande dor de cabeça no momento tem sido provocado pelo anúncio de que o ex-tucano do bico fino, Geraldo Alckmin, depois da filiação ao PSB, deve compor com Lula, na condiação de vice, a chapa que concorrerá às eleições para a Presidência da República. A chiadeira de alguns grupos no partido contra essa composição tornou-se uma verdadeira "campanha" e isso vem incomodando profundamente o morubixaba petista, que já teria declarado que é Alckmin ou ele não seria candidato.
Em maio ao inferno astral enfrentado - com a reação do opositor Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto - o petista, agora, enfrenta mais este problema interno. A probabilidade é que a situação seja contornada, porque, mesmo o petista mais radical sabe que o momento não é dos melhores. Houve um tempo em que a situação estava tão boa que a única questão que se colocava era se Lula venceria no primeiro ou no segundo turno. Hoje, não mais. Lula já emite indicadores que chegou ao seu teto e o adversário avança sobre seus redutos tradicionais, ou seja, entre os eleitores mais pobres, de regiões como o Norte e o Nordeste.
sábado, 26 de março de 2022
Pinga Fogo: Marília Arraes leva a tendência de voto ao Senado como candidata ao Governo do Estado?
Por enquanto, nenhuma pesquisa de intenções de voto foi realizada depois que a Deputada Federal Marília Arraes deixou o PT, filiou-se ao Solidariedade e anunciou que será candidata ao Governo do Estado nas próximas eleições. As pesquisas anteriores indicavam que ela teria uma densidade eleitoral robusta como candidata ao Senado Federal. Algo em torno de 40% das intenções de voto. A questão que se coloca é: será que ela consegue manter esse escore como candidata ao Governo do Estado?
Pinga Fogo: Raquel Lyra, em mais uma pesquisa, confirma sua liderança na corrida pelo Campo das Princesas.
A quadra política pernambucana ainda se apresenta numa situação de muitas indefinições, mas, concretamente, a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), tem sido constante em cravar sua liderança na corrida pelo Palácio do Campo das Princesas nas próximas eleições de 2022. O contexto dos arranjos políticos nacionais não tem ajudado muito as composições políticas aqui na província, daí se entender que sua chapa ainda encontre-se indefinida. Pensou-se até numa chapa "Luluzinha", mas a rebelde Marília Arraes já disse que seguirá em raia própria. A pesquisa à qual fazemos referência é a do Instituto Paraná Pesquisas, onde ela aparece com 25,8%, seguida de Miguel Coelho com 15,6% e Anderson Ferreira 13,6%. Registro TSE sob número: PE- 01060\2022.
Pinga Fogo: André de Paula e Teresa Leitão completam a chapa da Frente Popular.
Pinga Fogo: Os mimos dos tucanos para segurar Eduardo Leite no partido
Tucanos do bico fino não medem esforços para assegurar que o governador gaúcho Eduardo Leite(PSDB-RS) fique no partido. Seu ninho - que segundo dizem sempre foi bastante emplumado - agora recebe a sinalização tucana de uma provável candidatura presidencial, a partir do arranjo político que está em andamento entre o União Brasil, o MDB e aquele partido. Já combinaram com o governador João Dória(PSDB-SP)?
Pinga Fogo: Qual a real capacidade de transferência de voto de Lula em Pernambuco
Pinga Fogo: O que o IPESPE viu que o Datafolha não viu
Ponderado como sempre, o cientista político pernambucano, Antonio Lavareda, em diálogo mantido com a redação da revista Veja, observou um fato curioso, não detectado pela última pesquisa de intenção de voto do Instituto Datafolha. Realizada um pouco depois, a pesquisa do IPESPE já estaria refletindo, em termos de aprovação do Governo, o mau humor dos brasileiros em relação aos índices de inflação. Se há aqui uma tendência, isso só pode ser comprovado com as próximas pesquisa. Por enquanto, apenas uma hipótese.
sexta-feira, 25 de março de 2022
Editorial: Aquela Datafolha que agradou o Planalto.
É sabido que há indisposições do Planalto com alguns órgãos de imprensa. Indisposições que, neste clima de polarização política que estamos vivendo, por vezes, se transformam em agressividade a profissionais do ramo por parte de alguns bolsonaristas mais exaltados. Hoje, tais indisposições estão mais direcionadas à emissora do plim plim, mas, num passado recente, era a Folha de São Paulo que concentrava a maioria dessa bílis. O Datafolha, que é um instituto de pesquisa vinculado ao jornal, possui uma grande espetise em seu campo de atuação, constituindo-se uma referência nacional quando estamos tratando de pesquisas de intenção de voto.
O Instituto é uma espécie de parâmetro ou balisamento entre os demais institutos, apesar da chiadeira em relação a alguns dos seus resultados,principalmente entre candidatos que não aparecem bem nas pesquisas. Já há algum tempo que os institutos apontam para uma sensível recuperação dos indicadores de avaliação do Governo do Presidente Jair Bolsonaro, o que vem se refletindo, igualmente, nos índices de intenção de voto no presidente, em seu projeto de reeleição. Embora vários institutos tenham detectado essa tendência, faltava o Datafolha confirmar.
E, para alegria do Planalto, o Datafolha, em sua última pesquisa, divulgada no dia de ontem, confirmou essa tendência. O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, emite todos os indicadores de que já teria encostado no teto, enquanto Jair Bolsonaro(PL) avança. Não apenas em redutos conservadores da região Sul - como pesquisas mais detalhadas conseguiram apurar - mas, sobretudo, junto a um eleitorado pobre, das regiões Norte e Nordeste, benecifiários do Auxílio Brasil. Além de ser um contingente expressivo - estimado em mais de 48 milhões de pessoas\eleitores, com renda de até dois salários mínimos - é tradicionalmente o eleitorado mais identificado com o Partido dos Trabalhadores. O estrago é grande e isso teria sido motivo de grandes comemorações no Palácio do Planalto.
Nem mesmo o mais otimista entre os bolsonaristas poderia imaginar que os resultados concretos do programa Aúxilio Brasil pudessem chegar tão rápido. Jair Bolsonaro melhorou sua avaliação junto a este contingente eleitoral importante. Guilherme Boulos já havia alertado para tal possibilidade, que hoje vem se materializando, constituindo-se numa dor de cabeça para os estrategistas da campanha de Lula, que não tem caneta e o corpo a corpo de outrora torna-se perigoso nesses momentos bicudos que estamos vivendo. Segundo comenta-se, o petista já teria recebido ameaças de morte, que estão sendo investigadas. Recolhido aos aposentos, as chances de reversão desse quadro tornam-se menores. Vamos aos números:
Lula 43%
Bolsonaro 26%
Sérgio Moro: 8%
Ciro Gomes: 6%
terça-feira, 22 de março de 2022
Editorial: Pesquisa da Genial\Quaest indica que as aleições presidenciais de 2022 ainda estão indefinidas.
Minas Gerais e Rio de Janeiro são dois colégios eleitorais importantes no país. Respectivamente, o segundo e o terceiro maiores colégios eleitorais, portanto, cruciais numa eleição presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) ainda lidera nesses dois Estados, mas o presidente do Instituto Genial\Quaest, o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Felipe Nunes - que aparece na foto acima - ouvido pelo jornalista Matheus Leitão, da revista Veja, alerta para algumas questões interessantes, que podem ser extraídas da última pesquisa do Instituto sobre a quadra política carioca.
A primeira observação é que as eleições de outubro estão absolutamente indefinidas, não sendo possível afirmar, ainda, que este(a) ou aquele(a) candidato(a) vencerá o pleito. É certo que nesses dois grandes colégios eleitorais o candidato do PT leva vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro(PL), mas, por outro lado, em ambos os Estados o fator máquina pode desequilibrar o jogo, ou seja, pelo menos no Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro, do mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro, lidera em todos os cenários do primeiro e de um eventual segundo turno.
Em Minas Gerais, por seu turno, temos um governador de perfil conservador no governo, Romeu Zema, do Novo, uma agremiação partidária assumidamente de direita. Nos quatros maiores colégios eleitorais do país, o candidato do PT tenta viabilizar uma costura política com Gilberto Kassab, do PSD, numa tentativa de trazê-lo para o seu projeto ainda no primeiro turno. Kassab, conforme dissemos por aqui, dificilmente irá apoiá-lo ainda no primeiro turno. Vai esperar a porca torcer o rabo, quando terá mais chances de assegurar o seu quinhão de panceta. Por enquanto, joga com a possibilidade de viabilizar a candidatura do governador gaúcho, Eduardo Leite(PSDB-RS).
Pelo andar da carrugem política, teremos uma eleição presidencial bastante disputada em 2022. Desde as manobras de caráter nada republicanos de 2016 que, definitivamente, perdemos a paz democrática. O jogo, as tessituras, a observância às regras, a aceitação dos resultados, a lisura do processo, tudo passou a ser sistematicamente questionado por alguns atores políticos. Ainda hoje, a plataforma do Youtube retirou, acertadamente, os vídeos que propagavam informações falsas sobre as eleições de 2018.
Pinga Fogo: Lula: É Alckmin ou eu não sou candidato.
A rigor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não disse que seria candidato, embora seja. Faz parte do jogo político anunciar a candidatura no tempo certo, de preferência colhendo alguns dividendos deste momento. É igualmente certo que, uma vez filiado ao PSB, o ex-governador Geraldo Alckmin seja anunciado como vice em sua chapa. O nome de Alckmin sempre enfrentou resistências de alguns setores do PT, sobretudo os setores mais orgânicos, de base, aqueles mais orientados ideologicamente. Por outro lado, Lula sabe, desde algum tempo, que um candidato com o seu perfil só chega a ocupar a cadeira de Presidente do Executivo, no Brasil, com um pé no Beco da Fome e outro na Faria Lima. Por isso, andou avisando aos companheiros: se desejarem outro vice, procurem outro candidato à Presidência da República pela legenda. Conforme informa a sempre bem atualizada jornalista Clarissa Oliveira, em sua coluna da revista Veja.
Pinga Fogo: Lula não apoiará o projeto político de Marília Arraes
segunda-feira, 21 de março de 2022
Pinga Fogo: Pesquisa BTG\FSB joga mais uma ducha fria na viabilidade da terceira via.
A mais recente pesquisa de intenção de voto para a Presidência da República joga mais uma ducha fria nas aspirações do pelotão de candidatos que tentam um lugar ao sol pela chamada terceira via. Alguns analistas políticos já colocaram uma pá de cal sobre o assunto, considerando mesmo a inviabilidade dessa terceira via. Nos primeiros levantamentos dos institutos de pesquisa acreditava-se que o contingente de eleitores dispostos a não votarem em Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) ou Jair Bolsonaro(PL) seria algo em torno de 30%, o que tornava-se possível a possibilidade de uma inclinação ao voto numa alternativa entre ambos os candidatos que polarizam as intenções de voto. Pelo que apurou o Instituto FSB, hoje, esse número não é superior a 11% do eleitorado, muito pouco para viabiliza qualquer pretensão. Por enquanto, entre os políticos, as movimentações ainda são intensas em torno deste assunto.
Editorial: A firmeza do ministro Alexandre de Moraes, o xerife das próximas eleições.
Será firme e intransigente na defesa desses princípios. Portanto, convém aos desavisados de turno - aqueles que querem vencer as eleições disparando mentiras pelas redes sociais - que tal atitude pode ser um tiro no pé. Em pronunciamento no STE ele afirmou que cassaria a chapa do candidato que desobedesse as regras. Nas eleições passadas, tivemos sérios problemas produzidos pelas chamadas fake news, que transformou a mentira numa arma política para desacreditar os adversários. Nas eleições americanas - vencidas por Trump - ainda hoje a sua adversária, a candidata Hillary Clinton, tenta se livrar de tantas mentiras inventadas contra ela nas eleições.
Eleição é para debater programas de governo e negociá-lo com a população, não para emitir notas de desmentidos de inverdades disseminadas profissionalmente. Que vença o melhor programa, a melhor proposta, ampla e democraticamente debatida com a população, de preferência com os candidatos não se negando a comparecer aos debates promovidos pelos meios de comuniação. Ainda estamos longe das eleições de outubro, mas preocupa o percentual de eleitores que demonstram um certo desinteresse pelo assunto, assumindo que votarão em branco ou anularão o voto.
Comentamos sobre isso em relação a São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, mas, aqui no Estado de Pernambuco a coisa não é tão diferente assim. Segundo pesquisa recente, 30% dos eleitores pretendem anular o voto, votar em branco ou abster-se nas próximas eleições. 20% ainda naõ se decidiram em quem vão votar, o que não seria um espanto numa eleição que se realizará ainda em outubro. O que, de fato, preocupa são esses eleitores que já desistiram das eleições.
Pinga Fogo: A barriga do ano
domingo, 20 de março de 2022
Pinga Fogo: O destino de Luiz Henrique Mandetta.
Pinga Fogo: Marília candidata ao senado na chapa do PSB?
Até recentemente, a Deputada Federal Marília Arraes(PT-PE) manteve uma conversa definitiva com a Presidente Nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Segundo comenta-se nos escaninhos da política, ela reafirmou sua insatisfação com o tratamento recebido pelo PT pernambucano e sua disposição de seguir outros rumos partidários, consoante seus projetos políticos. Agremiações políticas para recebê-la é o que não falta na quadra pernambucana, com propostas bem mais interessantes para a deputada. Com sua enorme capilaridade política, Marília tem mantido conversas com os mais distintos atores políticos do Estado, a exemplo de André de Paula, Raul Henry, Priscila Krause - que especula-se que a teria convidado para formar uma chapa "Luluzinha' juntamente com Raquel Lyra. Agora comenta-se que um arranjo político complexo poderia estar em andamento para mantê-la na Frente Popular, com a vaga do Senado Federal garantida. Será que combinaram com os donos do PT local? Eis aqui um xadrez intrincado.
Editorial: A polêmica chegada de Alckmin ao PSB
Finalmente, a "novela' Alckmin parece ter chegado a um desfecho. Afirmar que foi um final feliz seria presunçoso de nossa parte, por alguns motivos. As pesquisas de intenção de voto indicavam que Geraldo Alckmin teria chances reais de ocupar o Palácio dos Bandeirantes a partir de janeiro de 2023, caso mantivesse o firme propósito de continuar como candidato ao Governo do Estado de São Paulo. Circulou até uma versão de que a estratégia de Lula, ao chamá-lo para compor a chapa presidencial que será encabeçada por ele, tenha sido, na realidade, uma manobra com o objetivo de tirá-lo do páreo e facilitar a vida do fiel escudeiro Fernando Haddad(PT-SP) em seu projeto de tornar-se governador do Estado.
Se sim, trata-se de uma jogada de mestre, uma vez que, além de não atrapalhar os planos do petista, Alckimin poderá ajudá-lo bastante na empreitada, que não será nada fácil pelo andar da carruagem política. O Planalto vem apostando bastante naquela praça, jogando todas as suas fichas no ex-Ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, que, inaugurando obras e sempre acompanhado do presidente Jair Bolsonaro, vem contribuindo para desequilibrar o jogo, em meio a essa briga entre PT e PSB. Dória, por sua vez, continua no divã da Ciência Política, que tenta entender porque, mesmo relativamente bem avaliado, ele não consegue transferir votos para o seu canditado, o vice governador Rodrigo Garcia(PSDB-SP).
Não há como os petistas raízes aceitarem Geraldo Alckmin(PSB-SP) de bom grado. Seria pedir um pouco demais. Alckmin será aceito pelos petistar menos radicais e mais consequentes, ou seja, aqueles que reconhecem como inevitavel às forças progressistas ter um pé no Beco da Fome e outra na Faria Lima - se deseja ter chances de chagar ao Planalto - dada as nossas características políticas. Hoje, Alckmin representa a nova "Carta aos Brasileiros', um compromisso assumido no passado pelo petista de não mexer nos interesses da Casa Grande.
Alckmin chega ao PSB fazendo referência a uma expressão usada por uma de suas maiores lideranças, o ex-governador Eduardo Campos. Parece que não pegou bem porque a frase de Eduardo foi proferida num momento em que ele demonstrava claramente que estava se afastando do Partido dos Trabalhadores, como estratégia para chegar à Presidência da República. Naqueles tempos, o antipetismo tornara-se uma estratégia eficiente para se vencer uma eleição presidencial. Há quem afirme que, hoje, nao seria assim tão determinante.
sábado, 19 de março de 2022
O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: O desequilíbrio do "fator Lula" é real em Pernambuco?
José Luiz Gomes escreve:
Este segundo artigo sobre as eleições estaduais de outubro, em Pernambuco, admitimos, acaba, de alguma forma, levantando uma discussão já apontada no primeiro artigo, ou seja, qual a real capacidade de transferência de voto do petista Luiz Inácio Lula da Silva para o candidato socialista, o Deputado Federal Danilo Cabral(PSB-PE). A rigor, ainda não temos este dado, embora a aposta dos socialistas seja imensa em torno deste assunto, se considerarmos o desgaste da gestão depois de ocuparem o Palácio do Campo das Princesas por 16 anos. Há uma fadiga de materia; a avaliação do Governo Paulo Câmara(PSB-PE) não é das melhores e há muita insatisfação nas bases interioranas do partido, evidenciada através de inúmeras defecções e debandadas já observadas.
A posição do ex-presidente Lula nas pesquisas de intenção de voto aqui no Estado de Pernambuco é bastante confortável, de acordo com um levantamento realizado pela Empresa de Pesquisas Técnicas, Científicas e de Mercado LTDA(EMPETEC),divulgado pelo jornal Diário de Pernambuco, contratante da mesma. Ele atinge um índice de 62,6% das intenções de voto, abrindo uma diferença enorme em relação ao seu principal oponente, Jair Bolsonaro(PL), que crava 16,5%. Lula, portanto, aqui em Pernambuco, tem mais que o triplo do seu principal adversário na corrida pela Presidência da República.
Os bolsonaristas, naturalmente, contestam esses números, mas não vamos aqui abrir uma avenida de polêmicas em torno deste assunto, porque, como disse antes, estamos vivendo um momento onde a bílis substituiu o argumento e já não existem a verdade e a mentira - como nos nossos bons tempos de infância - mas sim uma narrativa construída e eficientemente divulgada, como é o caso das fake news, neste momento de pós-verdade, assunto abordado pelo professor Michel Zaidan Filho em artigo recente, publicado nas redes sociais. Uma mentira, suficientemente bem trabalhada, torna-se uma verdade "absoluta". Com o uso das ferramentas hoje disponíveis, ela talvez nem precisa ser repetida mil vezes, como recomendava Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda Nazista de Hitler.
Não se trata aqui de má vontade ou de uma torcida do contra, mas, diante dos fatos, o PSB terá enormes dificuldades em fazer o sucessor do governador Paulo Câmara(PSB-PE), correndo um sério risco de perder o controle de um dos seus redutos mais emblemáticos, com forte influência sobre o conjunto nacional da legenda. Corremos o risco de ficarmos nos repetindo aqui, ao apontarmos as causas pelas quais essas dificuldades se mostram evidentes. Ocorre, porém, que faz algum tempo que só há notícias ruins para os socialistas. Agora mesmo tomamos conhecimento de que o Estado lidera o ranking nacional de fechamento de empresas, quebradeira que contou com o reforço dos lockdowns determinados durante a pandemia da Covid-19.
Aqui fazemos a ressalva de que fomos a favor dos lockdowns, certamente adotados como medida preventiva no que concerne ao avanço da pandemia. Prudentes as medidas adotadas pelo Governo do Estado, que, aliás, ressaltamos, como um dos melhores gestores da crise sanitária no país. Este que seria um dos vértices mais importantes de um projeto sucessório - conforme observou o cientista político Antonio Lavareda - aliado a avaliação do gestor e a condução da economia, pelo andar da carruagem política, não irá trazer dividendos eleitorais, se considerarmos, por exemplo, o que está ocorrendo no Estado de Saõ Paulo com o governador João Dória(PSDB-SP), que não consegue deslanchar embora a população reconheça seus méritos no enfrentamento da pandemia.
Embora Paulo Câmara não seja o candidato, é o PSB que estará pedindo aos eleitores para permanecer mais 04 anos à frente do Palácio do Campo das Princesas. Um analista político outro dia escreveu que o PSB “sabia ganhar eleições”. Não duvidamos dessa espertise, mas os tempos são outros. Não sei se seria o caso de ressuscitar o defunto para carregar o andor, como sugere um dos primeiros pronunciamento públicos do candidato Danilo Cabral. A referência aqui, naturalmente, é em relação ao ex-governador Eduardo Campos. Sua orfandade foi importante para eleger Paulo Câmara, num momento em que o eleitorado passava por uma profunda comoção depois de sua trágica morte. Isso, hoje, já não se aplica mais. Uma outra questão seria a capacidade de Lula transferir votos para o candidato Danilo Cabral. Eis aqui um tema para ser analisado com muito cuidado. Na região Nordeste, de fato, Lula é um grende puxador de votos, mas seria complicado apostar todas as fichas nessa relação assim tão orgânica.
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P.S.: Contexto Político: Esta questão da capacidade de transferência de voto de Lula para o candidato do PSB ainda não foi explorada por nenhuma pesquisa aqui no Estado. Fica a dica. Em São Paulo, a aliança de Lula com o Geraldo Alckmin - além de credenciar Lula na Faria Lima - cumpre uma outra função fundamental, ou seja, é certo que o ex-tucano poderá dar uma enorme contribuição ao projeto de fazer de Fernando Haddad(PT-SP) governador do Estado. Um outro fato curioso é que o candidato do Planalto naquele Estado, o ex-ministro da infraestrutura, Tarcísio de Freitas, avança como um trator em redutos do interior paulista, trazendo enormes preocupação aos demais postulantes. Um detalhe: As pesquisas já demonstraram que o presidente Jair Bolsonaro constitui-se num grande puxador de votos para o amigo e ex-ministro. Como seria aqui em Pernambuco?
Que tipo de mudança?
(Foto: Ralph Baiker)
Maria Rivera Iribarren é deputada constituinte. Advogada ligada à Defensoria Popular, órgão que presta apoio jurídico a movimentos sociais, presa política durante a ditadura militar, Maria Rivera descreve as insurreições de 2019 pelas quais o Chile passou como “manifestações revolucionárias”. Ela não é a única a pensar assim. Marcela Leiva, militante que aparecera no primeiro texto dessa série, havia usado a mesma palavra de maneira enfática.
Não é preciso muito para sentir o peso que uma palavra como essa tem para nós. Da mesma forma, não é necessário muito para lembrar também de seu desgaste e de sua indeterminação. Pois estamos quase que naturalmente dispostos a aceitar que não veremos mais transformações estruturais em formas políticas e modos de produção, a não ser em delírios de certos acadêmicos ociosos.
Ou ainda, que veremos transformações, mas elas não se darão sob a forma de rupturas de estrutura. Ou ainda, que haverá rupturas de estruturas, mas que deveríamos repensar o que entendemos efetivamente por “estrutura” e quais seus pontos de mudança. É certo que todas essas questões fazem parte da compreensão do que está a ocorrer hoje no Chile.
“Eu falaria que as revoltas de 2019 foram o início de uma revolução porque todos diziam que haveria de mudar tudo. Houve uma irrupção violenta das massas que, por um instante, ninguém podia controlar. Como se falava nesse momento: nos tiraram tudo, até o medo”, diz Maria Rivera. Alejandra Bottinelli, professora de literatura da Universidade do Chile, militante com forte participação em grupos ligados ao governo que se inicia no dia 11 de março, tem uma figura concreta para esse descontrole: “Muitos diziam que as manifestações não sabiam para onde iam, que suas pautas eram confusas. Era interessante que, de fato, elas não tinham direção, mas eu falo de direção geográfica. Elas não obedeciam ao trajeto de todas as manifestações em Santiago. Eram mesmo movimentos de corpos sem condução”.
Por essas ironias da história, o resultado da ausência de condução foi conduzir-se exatamente para onde manifestação alguma havia ido. Mover-se sem condução é algo perigoso, pois você pode acabar alcançado o alvo. Como dizia Hegel, o medo do erro muitas vezes esconde o medo da verdade. No caso, a verdade é outro nome para os espaços empresariais e de representação do Capital: “Tudo mudou quando as manifestações se dirigiram para o Costanera Center [o maior shopping center de Santiago, situado no supostamente mais alto edifício da América Latina]. Foi como se uma fronteira tivesse sido ultrapassada. A partir daí, ficou claro para os setores burgueses que seria necessário negociar”, diz Paulo Slachevsky, editor da LOM ediciones, uma das mais importantes editoras de livros de humanidades do país.
Mas se há aqueles que reconhecem uma dimensão efetivamente insurrecional pela qual passou o Chile, é difícil encontrar voz dissonante quando a questão é sobre o que pode o governo que se inicia no dia 11: “o governo de Boric terá aberturas democráticas, mas essas aberturas não resolverão as demandas populares. Podemos escrever uma constituição que é um poema, mas isso não resolve”, diz Maria Rivera.
Se for possível dizer em uma expressão o que move a expectativa de muitos dos atores e das atoras políticas, talvez o melhor termo, aquele que mais apareceu, seja: “Estado solidário”. Luis Mesina, líder sindical que também aparecera no primeiro texto, é um dos que sintetiza o embate falando sobre a “passagem de um Estado subsidiário para um Estado solidário”.
“Estado subsidiário” é o termo que nasce a partir da constituição de 1980 para falar de um Estado radicalmente atrofiado em sua capacidade de assegurar serviços públicos e planejamento econômico. O que talvez explique porque um cartaz onipresente nas ruas de Santiago ainda hoje seja: “vocês transformaram nossas necessidades em seus melhores negócios”.
Manifestações em Santiago, Chile, no dia 8 de março (Fotos: Ralph Baike)
Mas o que tal Estado solidário pode ser, até onde ele pode ir, nada disso está efetivamente claro. Mesmo questões como a educação completamente gratuita não estão no Plano de governo de Boric. Joga-se para a expectativa de modificação desse ponto pela constituição.
Nesse contexto, há aqueles que creem que veremos uma dinâmica de avanços de questões nas quais os movimentos sociais são mais fortes, como as causas ambientas, as lutas feministas e povos originários, um redesenho institucional do país, mas poucas transformações econômicas. Poucas ao menos se comparadas ao nível de radicalidade das exigências do que os chilenos e chilenas chamam de “outubrismo”, ou seja, o horizonte dos movimentos que emergem em outubro de 2019.
“Certamente, vai haver decepção”, diz Marcela Leiva. Menos ainda se lembrarmos o que um governo “reformista” como Salvador Allende implementou: nacionalização da economia do cobre (base das exportações chilenas), estatização do sistema bancário, só para ficar nos dois casos mais exemplares.
Mas se voltamos os olhos aos movimentos mais estruturados, é fácil perceber uma dinâmica de lutas com força hegemônica. Exemplar nesse caso é o movimento feminista. Em 8 de março, 200 mil mulheres pararam o centro de Santiago para marcar o Dia Internacional da Mulher. Em vários momentos, esses movimentos foram os responsáveis por sustentar as dinâmicas de lutas que deram força à insurreição popular. Hoje, ele se mostra claramente como um movimento dotado de transversalidade generacional e rechaço explícito ao horizonte do pensamento conservador, ainda forte no Chile.
Isso não impede de perceber como um dos eixos do ciclo de lutas sociais que agora se desdobram passa pela composição de uma unidade real que não será efetivamente simples. Um exemplo dramático disso ocorreu na própria manifestação de 8 de março, que encontrou com uma outra manifestação que defendia a liberação dos presos políticos de 2019 e que acabou se degenerando em violência e garrafas de vidro voando.
Não são poucos aqueles que temem que “a unidade como valor fundamental” não esteja mais na ordem do dia, com o consequente adiamento infinito das lutas estruturais entre Capital e trabalho, como Daniel Jadue, prefeito de Recoleta e pré-candidato à presidência do Chile pelo Partido Comunista Chileno.
O fato é que as chamadas para as manifestações de 8 de março clamavam para atos: “feministas, antirracistas, anticapitalistas, antifascistas, antiextrativistas”, entre outros. Ou seja, há a consciência do problema. Mas é certo também que alguns temas são mais facilmente integráveis do que outros. E nesse ponto gira toda a tensão dos processos políticos atuais no mundo. Tensão que o Chile parece viver em uma intensidade e urgência ainda maior.
Via chilena: a América Latina criando novos caminhos. Durante a semana da posse de Gabriel Boric à presidência do Chile, a Cult fornecerá artigos diários escritos a partir do relatos de ativistas, membros do governo e intelectuais chilenas e chilenos. Um momento importante da história do nosso continente descrito a partir de quem está lá.
Vladimir Safatle é Professor Titular da USP e atualmente fellowship do The New Institute/ Hamburgo.
(Publicado originalmente no site da Revista Cult)