pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 6 de setembro de 2014

Mino Carta: Os chapa-branca da Casa Grande

Mino Carta: Os chapa-branca da Casa Grande

publicado em 11 de maio de 2012 às 12:13
Editorial
11.05.2012 09:53
Eternos chapa-branca
por Mino Carta, na CartaCapital
O jornal O Globo toma as dores da revista Veja e de seu patrão na edição de terça 8, e determina: “Roberto Civita não é Rupert Murdoch”. Em cena, o espírito corporativo. Manda a tradição do jornalismo pátrio, fiel do pensamento único diante de qualquer risco de mudança.
Desde 2002, todos empenhados em criar problemas para o governo do metalúrgico desabusado e, de dois anos para cá, para a burguesa que lá pelas tantas pegou em armas contra a ditadura, embora nunca as tenha usado. Os barões midiáticos detestam-se cordialmente uns aos outros, mas a ameaça comum, ou o simples temor de que se manifeste, os leva a se unir, automática e compactamente.
Não há necessidade de uma convocação explícita, o toque do alerta alcança com exclusividade os seus ouvidos interiores enquanto ninguém mais o escuta. E entra na liça o jornal da família Marinho para acusar quem acusa o parceiro de jornada, o qual, comovido, transforma o texto global na sua própria peça de defesa, desfraldada no site de Veja. A CPI do Cachoeira em potência encerra perigos em primeiro lugar para a Editora Abril. Nem por isso os demais da mídia nativa estão a salvo, o mal de um pode ser de todos.

O autor do editorial exibe a tranquilidade de Pitágoras na hora de resolver seu teorema, na certeza de ter demolido com sua pena (imortal?) os argumentos de CartaCapital. Arrisca-se, porém, igual a Rui Falcão, de quem se apressa a citar a frase sobre a CPI, vista como a oportunidade “de desmascarar o mensalão”. Com notável candura evoca o Caso Watergate para justificar o chefe da sucursal de Veja em Brasília nas suas notórias andanças com o chefão goiano.
Abalo-me a observar que a semanal abriliana em nada se parece com o Washington Post, bem como Roberto Civita com Katharine Graham, dona, à época de Watergate, do extraordinário diário da capital americana. Poupo os leitores e os meus pacientes botões de comparações entre a mídia dos Estados Unidos e a do Brasil, mas não deixo de acentuar a abissal diferença entre o diretor de Veja e Ben Bradlee, diretor do Washington Post, e entre Policarpo Jr. e Bob Woodward e Carl Bernstein, autores da série que obrigou Richard Nixon a se demitir antes de sofrer o inevitável impeachment. E ainda entre o Garganta Profunda, agente graduado do FBI, e um bicheiro mafioso.
Recomenda-se um mínimo de apego à verdade factual e ao espírito crítico, embora seja do conhecimento até do mundo mineral a clamorosa ignorância das redações nativas. Vale dizer, de todo modo, que, para não perder o vezo, o editorialista global esquece, entre outras façanhas de Veja, aquele épico momento em que a revista publica o dossiê fornecido por Daniel Dantas sobre as contas no exterior de alguns figurões da República, a começar pelo presidente Lula.
Concentro-me em outras miopias de O Globo. Sem citar CartaCapital, o jornal a inclui entre “os veículos de imprensa chapa-branca, que atuam como linha auxiliar dos setores radicais do PT”. Anotação marginal: os radicais do PT são hoje em dia tão comuns quanto os brontossauros. Talvez fossem anacrônicos nos seus tempos de plena exposição, hoje em dia mudaram de ideia ou sumiram de vez. Há tempo CartaCapital lamenta que o PT tenha assumido no poder as feições dos demais partidos.
Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.
Não é por acaso que 64% dos brasileiros não dispõem de saneamento básico e que 50 mil morrem assassinados anualmente. Ou que os nossos índices de ensino e saúde públicos são dignos dos fundões da África, a par da magnífica colocação do País entre aqueles que pior distribuem a renda. Em compensação, a minoria privilegiada imita a vida dos emires árabes.

Chapa-branca a favor de quem, impávidos senhores da prepotência, da velhacaria, da arrogância, da incompetência, da hipocrisia? Arauto da ditadura, Roberto Marinho fermentou seu poder à sombra dela e fez das Organizações Globo um monstro que assola o Brazil-zil-zil. Seu jornal apoiou o golpe, o golpe dentro do golpe, a repressão feroz. Illo tempore, seu grande amigo chamava-se Armando Falcão.
Opositor ferrenho das Diretas Já, rejubilado pelo fracasso da Emenda Dante de Oliveira, seu grande amigo passou a atender pelo nome de Antonio Carlos Magalhães. O doutor Roberto em pessoa manipulou o célebre debate Lula versus Collor, para opor-se a este dois anos depois, cobrador, o presidente caçador de marajás, de pedágios exorbitantes, quando já não havia como segurá-lo depois das claras, circunstanciadas denúncias do motorista Eriberto, publicadas pela revista IstoÉ, dirigida então pelo acima assinado.
Pronta às loas mais desbragadas a Fernando Henrique presidente, com o aval de ACM, a Globo sustentou a reeleição comprada e a privataria tucana, e resistiu à própria falência do País no começo de 1999, após ter apoiado a candidatura de FHC na qualidade de defensor da estabilidade. Não lhe faltaram compensações. Endividada até o chapéu, teve o presente de 800 milhões de reais do BNDES do senhor Reichstul. Haja chapa-branca.
Impossível a comparação entre a chamada “grande imprensa” (eu a enxergo mínima) e o que chama de “linha auxiliar de setores radicais do PT”, conforme definem as primeiras linhas do editorial de O Globo. A questão, de verdade, é muito simples: há jornalismo e jornalismo. Ao contrário destes “grandes”, nós entendemos que a liberdade sozinha, sem o acompanhamento pontual da igualdade, é apenas a do mais forte, ou, se quiserem, do mais rico. É a liberdade do rei leão no coração da selva, seguido a conveniente distância por sua corte de ienas.
Acreditamos também que entregue à propaganda da linha auxiliar da casa-grande, o Brasil não chegaria a ser o País que ele mesmo e sua nação merecem. Nunca me canso de repetir Raymundo Faoro: “Eles querem um País de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. No mais, sobra a evidência: Roberto Civita é o Murdoch que este país pode se permitir, além de inventor da lâmpada Skuromatic a convocar as trevas ao meio-dia. Temos de convir que, na mídia brasileira, abundam os usuários deste milagroso objeto.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

Leonardo Boff: Marina Silva: aquela que mudou de lado.


 

          Já vai acalorada a campanha presidencial com uma disputa aberta entre Dilma Rousseff, atual Presidenta e a pretendente Marina Silva. Trata-se, na verdade, do confronto de dois projetos: a manutenção por parte do PT de um projeto progressista, marcado por fortes políticas públicas que permitiram integrar uma Argentina inteira na sociedade organizada. A prática política, imposta pelas elites, era de os governos fazerem políticas ricas para os ricos e pobres para os pobres. Mas aconteceu uma viragem em nossa história. Alguém do povo chegou ao centro do poder e conferiu outra direção ao Estado. Não se pode negar que o Brasil numa perspectiva geral, especialmente na ótica dos pobres, melhorou muito. Negá-lo é mentir à realidade.

         A este projeto progressista se opõe o que a candidata Marina chama de “nova política”. Quando observada de perto, porém, não passa de um projeto conservador e velho que beneficia os já beneficiados e que alinha o país à macroeconomia voraz que faz com que 1% dos americanos possua o equivalente ao que juntos 99% da população ganha. Esse projeto visa a conter o processo progressista, evidentemente, sem anulá-lo, porque haveria, sem dúvidas, uma rebelião popular.

         As opções do PSB e de Marina Silva representam um retrocesso do que havíamos ganho em 12 anos. A centralidade não será o Estado republicano que coloca a “coisa (res) pública” em primeiro plano, o estado dinamizador de mudanças que beneficiam as grandes maiorias a ponto de ter em 12 anos dimiudo a desigualdade social em 17%. Agora com Marina, o foco é o Estado menor para conceder maior espaço ao mercado, ao livre fluxo de capitais sem lei, reafirmando as teses neoliberais: o aumento do superavit primário, que se faz com corte dos gastos públicos, com arrocho salarial e desemprego para assim controlar a inflação e finalmente impondo a autonomia do Banco Central. Especialmente este último ponto é grave porque um presidente foi eleito também para gerenciar a economia (que é parte da política e não da estatística) e não entregá-la às pressões dos capitais, dos bancos e dos rentistas. Seria um atentado à soberania monetária do pais.

         Este projeto velho, foi aplicado no Brasil pelo governo do PSDB, não deu certo, quebrou a economia da União Européia e lançou o mundo numa crise da qual ninguém sabe como sair. O efeito imediato será, como referimos, o arrocho salarial e o desemprego com o repasse de grandes lucros para os donos do capital financeiro e dos bancos.

         Marina quer governar com os melhores da sociedade e dos partidos, por cima das alianças inevitáveis no nosso presidencialismo de coalização. As alianças se farão, provavelmente, com o PSDB e com o PMDB e terá assim que engulir José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor que ela tanto abomina. Sem alianças, Marina corre o risco de não ver passar no parlamento, os projetos que propõe, por falta de base de sustentação.

         Quem a escuta e lê seu programa parece que fez um passeio pelo Jardim do Eden: tudo é harmonioso, todos são cooperativos e não há conflitos por choques de interesses. Esquece que vivemos num tipo de sociedade de mercado (e não apenas com mercado) que se caracteriza pela competição feroz e por parca cooperação. Estimo que Marina, religiosa como é, se inspira no sonho do paleo-cristianismo dos Atos dos Apóstolos onde se diz que “a multldão era um só coração e uma só alma;ninguém considerava sua a propriedade que possuía; tudo entre eles era comum”(At 4,32).

         Estas opções mostram claramente que ela mudou de lado. Antes quando estava no PT do qual é uma das fundadoras falava-se na opção pelos pobres, por sua libertação e se denunciavam os faraós de hoje. Construía no canteiro dos explorados e injustiçados. Agora ela constroi no canteiro dos seus opressores: os endinheirados, os bancos, o capital financeiro e especulativo. Leva a eles o tijolo, o cimento e a água. Seus assessores na economia são todo neoliberais. Os seringueiros do Acre rechaçarm o fato de Marina colocar entre as elites a figura de Chico Mendes, pois sabem que foram agentes dessas elites que o assassinaram; por isso, protestaram veementemente e reafirmaram a tradição do PT apoiando a candidata Dilma.

         Minha suspeita é de que Marina persegue o poder e visa a alcançar a presidência, por um projeto pessoal, custe o que custar. Diz-se por ai, que uma profetiza de sua igreja evangélica, a Assembléia de Deus, profetizou que ela, Marina, seria presidenta. E ela crê cegamente nisso como crê no que, diariamente lê na Bíblica, passagens abertas ao acaso, como se aí se revelasse a vontade de Deus para aquele dia. São as patologias de um tipo de compreensão fundamenalista da Bíblia que substitui a inteligência humana e a busca coletiva dos melhores caminhos para o país.

         Sou duro na crítica? Sou. E o sou para alertar os eleitores/as sobre a responsabilidade de eleger uma presidente com tais ideias. Já erramos duas vezes, com Jânio e com Collor. Não nos é mais permitido errar agora em que a humanidade passa por uma grave crise global, social e ambiental e que reverbera em nosso país.

         Não devemos desistir do que deu certo e avançou. Mas devemos cobrar que se inaugure um novo ciclo que aprofunde, enriqueça e inove para além do que já foi incorporado pela população. Creio que o projeto do PT com Dilma, não obstante os erros e as decaídas que aconteceram e que podem e devem ser resgatadas, é ainda o mais adequado para o povo brasileiro. Por isso apoio Dilma Roussef.


(Publicado originalmente no site do Leonardo Boff)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Michel Zaidan: Foi o PT que matou Eduardo Campos ou foi a morte de Eduardo Campos que atrapalhou a propaganda do PT?s




Seria de bom alvitre que o Comitê político da campanha do ex-governador de Pernambuco fizesse um pronunciamento público sobre uma  série de pichações anônimas que recobrem os muros do  Recife, em locais estratégicos da cidade. Segundo a legenda dessas pichações, foi o Partido dos Trabalhadores que matou Eduardo Campos. Como em ocasiões anteriores, este expediente calunioso e imoral foi utilizado contra candidatos que eram os preferidos pela opinião pública. Quem não se recorda do que foi feito com o ex-senador Marcos Freire? - Muitas questões envolvendo essa tragédia aeronáutica  continuam sem resposta; sobretudo aqueles atinentes à titularidade do aparelho e os beneficiários dos depósitos "em contas fantasmas" correspondentes ao aluguel da aeronave. Naturalmente, o proprietário - seja deste ou do outro mundo - terá de assumir a responsabilidade civil e criminal pelas consequências do sinistro. Pior é a   dúvida que começa a florescer entre os eleitores de bem (não de bens) sobre os financiadores da campanha eleitoral. Agora, vem à tona a informação que uma das empresas beneficiadas com renúncia fiscal pelo hoje candidato do PSB ao governo do Estado, quando era secretário da Fazenda, foi um dos intermediários da compra da aeronave sinistrada.

Será que já não está na hora dos órgãos de controle e fiscalização da campanha eleitoral pedirem uma explicação sobre todas essas questões? - Ou vamos esperar o  fato consumado do resultado eleitoral, para correr atrás da fraude ou do crime eleitoral?

Essa operação de troca dos nomes da chapa majoritária do PSB às eleições presidenciais está cheirando cada vez  a coisa estragada. Primeiro, a candidata nunca renunciou à sua condição de presidente do seu partido "rede-sustentabilidade", o seu discurso é de uma militante pentecostal, apesar da agenda pós-moderna do verde, da equidade e da sustentabilidade. Discurso despolitizado como convém a quem quer engabelar os "bestas". Aproveitou-se da produção cinematográfica do funeral do ex-governador e do poder de escolha da oligarquia local para "cavar" a própria candidatura, mesmo contra a opinião dos próceres nacionais do PSB. E agora vem acusando o governo petista de fazer ameaças e intimidações como o "slogan"  -  "de volta ao passado". Se fosse o passado recente (o neo-liberalismo do PSDB, até que não seria tão espantador. Pior é volta aos tempos da Caverna, da Pré-história, de Brucutu e da família buscapé.
Os eleitores ainda não se deram conta de quem é esse simulacro de candidatura. Ele é produto de uma engenharia perversa, alimentada por muitos interesses que, aproveitando o desgaste da presidente Dilma, se insinua como "novo", "diferente", "alternativo". Não sabem os marqueteiros, que o ex-presidente Fernando Collor - outro simulacro eletrônico de político - também surgiu falando em novidade, em modernidade, em eficiência e coisas que tais. A diferença é que Collor só confiscou a poupança dos mais humildes. A "santinha  do  pau oco" é mais perigosa. Ela esconde, atrás do verde, o espantalho dos costumes e crenças de antanho. Mas ainda temos tempo de revelar a verdadeira face da irmã Marina. O cometa eleitoral parou de subir. A mentira tem perna curta. E muita coisa "estranha" ainda vai aparecer até as eleições de outubro.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, professor da Universidade Federal de Pernambuco

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Tijolaço: Mais laranjas na pista do avião fantasma


2 de setembro de 2014 | 11:33 Autor: Fernando Brito
lopesegalvao
A casinha aí de cima, a de número 32 da pobre Rua Santelmo, no bairro pobre de Tiuma, em Santo Lourenço da Mata,  periferia do Recife, é a sede da “poderosa” Lopes e Galvão, empresa que está sendo apontada pelo PSB como mantenedora, ao custo de R$ 50 mil mensais, dos custos de operação do Cessna usado por Eduardo Campos e Marina Silva na campanha eleitoral.
Ótima apuração da repórter Marcela Balbino – com a colaboração de Thiago Herdy e Antonio Werneck  - mostra a conversa e as risadas do casal Genivaldo e Luciene Lindalva, proprietários da empresa, ao saber que pagavam as despesas de vôo do moderno jatinho.
Está gravado, incontestável.
E a filha do casal, Sylney, resume o despropósito.
— Você acha que, se tivéssemos esse dinheiro todo, eu moraria aqui em Tiúma? Longe de tudo, nessa rua… — afirmou, mencionando o bairro onde mora com a família, na periferia de São Lourenço da Mata.
Mais curioso ainda: depois de descoberto pela reportagem, e após ouvir o PSB sobre o assunto, Genivaldo disse que só fala por meio de um advogado.
O mesmo que atende a família de Eduardo Campos, o criminalista Ademar Rigueira.
Por quê?
O advogado explicou que é muito conhecido, e que Genival pode ter lido o nome dele no jornal, e procurado por seu escritório.
Realmente, Genivaldo e Lindalva, este casal com dinheiro para pagar despesas de um jatinho, agora vai se consultar espontaneamente com um dos advogados mais caros de Recife, e que, por coincidência, serve à família Campos no caso.
Está ficando claro de quem era o avião ou é preciso mais um laranjal aparecer?
(Publicado originalmente no site Tijolaço, por Fernando Brito)

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Michel Zaidan: O morto carregando o vivo


Essa frase designa uma das mais pitorescas alegorias do carnaval popular de Pernambuco. Como o grotesco e o alegórico fazem parte do modo de ser da nossa cultura, temos que convir que as eleições deste ano vão se realizar sob o signo da morte e da religião. Aparentemente, essa alegoria carnavalesca parece não ter relação nenhuma com a política e a fé. Mas aí é onde se enganam uns e outros. O cristianismo é o legítimo herdeiro das tradições pagãs da Grécia arcaica (basta lembrar o culto de Dionísio e o banquete totêmico). E a convivência harmônica e proveitosa entre vivos e mortos nas grandes casas nordestinas. 0 Culto (e o canibalismo) dos mortos é parte integrante da vida dos que estão  vivíssimos e querendo tirar algum proveito da morte.
Estava eu no Maranhão, quando vejo aparecer no guia eleitoral do PSDB nada mais,nada menos do  que  a  imagem   do  falecido,rindo,caminhando, abrindo   os braços e mandando votar num  tal de  Pedro Rocha,para  o  senado federal. Ainda no Maranhão,   soube que   a família  campos (leia-se   a viúva)  tinha  pedido à  Justiça  Eleitoral   a   proibição  do uso  da imagem  de  Eduardo Campos   pelos partidos e  candidatos,nestas    eleições.

Qual não foi a minha surpresa em ver em cada esquina, ponte, viaduto, avenida, canal  do Recife imensos posters e bannes com o retrato do falecido!   O Recife transformou-se numa necrópolis, onde os vivos rendem homenagem aos mortos e invocam a sua presença permanentemente para garantir suas conquistas e vitórias. Se estivéssemos em Roma, não haveria problema nenhum. Segundo um conhecido historiador francês, era obrigação das famílias erigir altares dentro das casas para o culto dos ancestrais. Entre nós, inaugurou-se ou reatualizou-se um antigo ritual, descrito por Gilberto Freyre, de manter os mortos convivendo com os vivos. Antigamente, era sinal do respeito e veneração à memória dos falecidos. Hoje, é uma deplorável exploração eleitoral, que deixa os eleitores em dúvida: quem vai ser eleito? - o morto ou os vivos ou os morto-vivos, como a candidata do PSB à Presidência da República
Por falar nela, agora apareceram as declarações a favor do casamento gay, da laicidade do Estado brasileiro, da liberdade de expressão ou confissão religiosa etc. Marina Silva está fazendo como aquele rei "hungenote" francês: "Paris vale uma missa".  É bem o que ela e seus assessores querem fazer nessa eleição. Não custa fingir ou aparentar que é defensores dos direitos e garantias constitucionais das minorias e da secularização da política. Não há como dar crédito a essas declarações de ocasião. São puros atos retóricos destinados a enganar os indecisos, os que ainda não cristalizaram suas intenções de voto. A mentira já começa pela própria candidatura, que não tem nada a ver com o PSB, com as alianças políticas do PSB, com os acordos do PSB e o programa "entrópico" do PSB.
Quem comprar essa falácia eleitoral, vai descobrir tarde demais que comprou uma adepta do fundamentalismo religioso  por uma cidadã republicana. O Estado de Marina Silva é teocrático e sua constituição é uma leitura dogmática, acrítica da Bíblia. 
Michel Zaidan Filho é historiador, filósofo e professor da Universidade Federal de Pernambuco

domingo, 31 de agosto de 2014

A eleição, a TV, o jovem classe C e essa tal de internet

A eleição, a TV, o jovem classe C e essa tal de internet

Por Renato Rovaiagosto 28, 2014 20:08


Passados quase 10 dias de programas eleitorais de TV e de rádio pouca coisa mudou no cenário político. As mudanças significativas tiveram mais relação com a entrada de Marina no jogo do que com a força do broadcasting.
Há algum tempo a TV aberta vem perdendo força no cenário comunicacional brasileiro. Audiências como a do Jornal Nacional que antes batiam na casa dos 80%, hoje quando muito chegam a 20%.
Nos EUA, isso já aconteceu há algum tempo. Aqui até que demorou.
As manifestações de junho não tiveram nada a ver com a TV. Mas houve gente que fez questão de dar um jeito de dizer que foi a Globo que organizou os protestos. A Globo pegou carona para não ser engolida por eles.
O fenômeno dos rolezinhos nos shoppings também surpreendeu muita gente. Aquela galera nunca tinha aparecido na TV. Mas existia e tinha imenso poder de organização.
Na eleição de 2012, a TV patinou mais ainda foi muito forte. E até por isso a classe política manteve boa parte de sua apostas no broadcasting. O marketing eleitoral idem. E quase todos os candidatos aguardavam o horário eleitoral para ver o que iria acontecer.
Em 2012, o Facebook tinha 40 milhões de páginas e perfis no Brasil. Agora, em 2014, são 90 milhões. O público que está nesta plataforma mais do que dobrou.
Mas isso não explica tudo.
O fenômeno da perda da força da TV na decisão do voto tem muito mais a ver com a mudança do poder de influência da formação de opinião na família.
E também com a mudança no padrão de vida das famílias brasileiras.
Quem manda nas eleições no Brasil a partir de agora é a classe C. Ela representa 55% do eleitorado brasileiro. É ela quem vai decidir o próximo presidente da República e os próximos governadores de Estado.
Antes de Lula, a maior parte do eleitorado era das classes D e E. Um eleitorado muito suscetível ao controle do voto pelas classes A e B. E também muito influenciado pela TV.
Nas classes D e E o poder de influência, em geral, não estava nem dentro da família. Estava do lado de fora, principalmente antes do Bolsa Família.
Era a patroa que pagava menos de um salário mínimo para a empregada mãe solteira, mas que lhe dava umas roupinhas de vez em quando, que lhe aconselhava o voto.
Era o “gato” que levava o boia-fria pra se esfalfar o dia inteiro cortando cana que lhe dizia em quem deveria votar.
Na classe C não é mais assim.
O voto passa a ter uma certa dignidade, mas isso não significa que ele terá um contorno popular ou de esquerda.
Os rolezinhos do funk ostentação são muito significativos deste fenômeno. O jovem Classe C quer ser. Ele não aceita ser tratado como um não-sujeito. E ele também quer ter. Não aceita não participar da sociedade do consumo. E ele quer dizer. Ele tem a auto-estima dos batalhadores e dos vencedores e por isso quer dar opinião.
Na classe A, não é incomum você encontrar um pai doutor, mestre ou muito rico e um jovem com menos estudo e um pouco perdido na vida. Sem saber pra onde ir do ponto de vista profissional e pessoal.
Na classe C, em geral, o jovem tem mais educação que o pai e a mãe e em boa parte das vezes ganha mais que eles. Até por ter mais estudo.
Este jovem em boa medida deve ter sido incluído nesse seu novo patamar por conta de programas do governo Lula e Dilma. Mas ele acha que chegou até onde está muito mais por conta dos seus méritos.
E aí vem a questão principal. Esse jovem vê muito menos TV do que seus pais e do que as gerações anteriores. E ele é o formador de opinião.
Ele passa muito mais tempo na internet  vendo vídeos no youtube ou em games ou acessando o Facebook e outras redes.
Esse jovem quando assiste TV é para ver futebol ou uma novela na hora que a família inteira está em casa.
E ele é o mais respeitado da casa. E ele vai ser muito importante para a reflexão familiar e a decisão do voto. Até agora este jovem não está dando a mínima para a propaganda eleitoral.
Ele está noutra. O que não significa que não está nem aí para nada.
Esse jovem não tem a memória do governo FHC, mas ao mesmo tempo ele não é anti-petista. Ele gosta do Lula, mas não paga pau pra ele. Ele não teria grandes dramas em votar na Dilma, mas não sentiu ainda que ela está na pegada com ele.
Na verdade, ele não se sentiu compreendido por quase nenhum candidato e partido.
O universo dele não está nos programas de governo e nem nas propagandas eleitorais. Quando falam dele, só focam em emprego e educação. Coisas que de alguma forma ele vem conquistando. Ele quer se ver mais nas prioridades dos candidatos. Ele quer ser alcançado, mas a partir do seu universo real. Não do ilusionismo. E nem do marquetismo.
Quem entender melhor esse universo vai se dar melhor em 2014. Tanto nas eleições presidenciais quanto na dos estados. Todo mundo de alguma forma concorda que rolou um novo Brasil.
Mas na hora da campanha, os discursos, formatos e o uso dos meios de comunicação é o do Brasil que ficou pra trás.
O jovem classe C é a chave desta eleição. Ele e o seu universo.
(Renato Rovai no blog da Revista Fórum)


Os dilemas do PT: Esquerda, vou ver?

Os dilemas do PT: esquerda, vou ver?

publicada quinta-feira, 28/08/2014 às 18:44 e atualizada quinta-feira, 28/08/2014 às 18:35
“Parte do PT torce para que a elite – apavorada com a inconsistência marineira – apóie Dilma. Isso significaria aceitar que Dilma vá mais para a direita para ganhar. Outra parte do PT imagina que a melhor forma de enfrentar Marina é aprofundar um programa trabalhista: Dilma teria que defender o fim fator previdenciário, redução da jornada de trabalho, mais direitos sociais, combate ao rentismo.”
por Rodrigo Vianna

Lula vai empunhar a mão esquerda de Dilma?
Nunca acreditei que essa eleição seria decidida num turno único. O grau de insatisfação e a onda anti-petista no Brasil deixavam claro que – mesmo com Aécio e Eduardo no páreo, dois candidatos que tinham dificuldade evidente para representar a “mudança” – Dilma teria que enfrentar um turno final para conseguir o segundo mandato.
Aécio (com apoios fortes em Minas, São Paulo, Bahia e Paraná) deveria bater em 25% até o começo de outubro. Eduardo talvez chegasse a 15%. Dilma, com cerca de 37% ou 40%, teria que enfrentar os tucanos no segundo turno.
O PT se preparou pra isso. Para esse cenário. Era a velha estratégia de fazer pouca política, acreditando que mais uma vez bastaria dizer: “o governo deles é o de FHC, com desemprego e quebradeira; o nosso é o governo do povão e da inclusão social”. Agora, a campanha de Dilma parece desorientada para lidar com a nova realidade pós 13 de agosto (dia do acidente que matou Eduardo Campos), que não é propriamente nova.
Por uma questão operacional e jurídica, Marina não conseguiu legalizar a Rede ano passado. Por isso, e só por isso, o difuso mal-estar de junho de 2013 seguia ausente da campanha de 2014. Por isso, e só por isso, o número de brancos/nulos e de “não votos” era tão grande. A queda do avião mudou tudo. Marina virou a cara de junho na eleição -como escrevi aqui.
A força de Marina (com o perdão do péssimo trocadilho, nesse agosto fatídico) não caiu do céu. Ok, Marina é candidata da Neca Setúbal. Ok, esse papo de “nova política” é falso, além de perigoso e despolitizante. Mas acontece que o eleitorado que vai com a Marina não é a velha classe média anti-petista e tucana. É mais que isso. É a turma dos “celulares na mão”: Luiz Carlos Azenha foi quem melhor traduziu essa nova conjuntura aberta com junho de 2013.
Parte do PT (setor que parece ser majoritário) torce para que os tucanos desonstruam Marina – na base de escândalos e pauladas midiáticas. Mais uma vez, sem política de verdade. Ou então, para que a elite – apavorada com a inconsistência marineira – apóie Dilma num segundo turno. Isso significaria aceitar que Dilma poderia enfrentar Marina como opção pela direita. Seria desastroso para o PT, para os movimentos sociais e sindicatos.
Outra parte do PT e da militância de esquerda não se ilude com essa ideia, e imagina que a melhor (talvez a única) forma de enfrentar Marina é aprofundar um programa de esquerda. Dilma terá que caracterizar Marina como a candidata do grande capital, dos banqueiros. Ela, Dilma, terá que assumir as bandeiras da classe trabalhadora: fim do fator previdenciário, redução da jornada de trabalho, mais direitos sociais, combate ao rentismo.
A mim, parece que a primeira das escolhas é – além de tudo – uma ilusão. Acreditar que Dilma pode virar a opção “confiável” da direita seria desconhecer o ódio que leva empresários, banqueiros e donos da mídia a preferirem “qualquer coisa menos o PT” (como se ouve nas ruas dos bairros nobres de São Paulo, Rio e Brasília).
Mais que isso: quem acompanha os bastidores da eleição diz que jamais os candidatos petistas enfrentaram tamanha seca de recursos. Empresários decidiram que o PT já cumpriu seu papel, e gostariam de virar essa página.
A direção petista pode apostar na saída pela direita. E, numa conjuntura especialíssima, pode até colher uma vitória eleitoral com isso. Mas essa escolha, mesmo que traga vitória eleitoral (pouco provável), seria acompanhada de uma tripla e estrondosa derrota: política, ideológica e simbólica. Se o PT escolher esse caminho, selará seu destino ao lado do PS francês e do SPD alemão…
A outra alternativa é virar alguns graus à esquerda. Essa segunda alternativa pode levar a uma vitória apertada, num clima de grande confrontaçã política e ideológica no segundo turno. Ou pode levar a uma derrota eleitoral (com Marina ganhando apoiada pelos liberais e tucanos), mas que prepare o PT e o bloco de esquerda para uma reorganização: mais próximo dos movimentos sociais e dos sindicatos, esse bloco político pode ser decisivo no enfrentamento de uma agenda liberal que (com Marina ou com Aécio) será imposta ao Brasil. 
Trata-se, portanto, de uma eleição decisiva para os rumos do Brasil, da América Latina e também para o futuro do PT como força (ainda) capaz de comandar um processo de reformas e democratização.
(Publicado originalmente no Escrevinhador, por Rodrigo Vianna)

sábado, 30 de agosto de 2014

Propostas de Marina, "música" aos senhores da riqueza financeira.

Propostas de Marina, “música” aos senhores da riqueza financeira

publicado em 28 de agosto de 2014 às 10:30
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por Paulo Copacabana, especial para o Viomundo
Não tem como fazer omeletes sem quebrar os ovos.
Esta frase, para mim, resume os desafios políticos que temos pela frente para melhorarmos nosso país nos próximos anos.
A Nova Política só começará com uma ampla discussão e mobilização popular sobre uma reforma política que permita três coisas: ampliar os canais de participação da sociedade na definição do seu próprio destino, reduzir o poder do dinheiro sobre a política e ampliar a representação das classes populares nos parlamentos brasileiros.
Para isso, precisamos de partidos fortes, democracia interna e idéias claras sobre suas posições.
Para Marina Silva representar efetivamente este ideal, não basta dizer que representa a Nova Política. Os aliados que ela carrega e o jatinho que usou financiado por caixa 2 e empresas laranjas desmentem a todo momento esta sua profissão de fé.
Ela precisa rapidamente dizer quando, como, em que direção e com quem fará uma reforma política no Brasil, já no início do seu governo.
A princípio, Marina não parece se preocupar com partidos fortes ou idéias claras. Parece carregar apenas o “espírito do tempo”, marcada por vontades de mudanças abstratas, sem saber exatamente para onde e como. Uma certa continuidade e vertente eleitoral das jornadas de junho de 2013.
Os apolíticos e os antipolíticos parecem finalmente se juntar aos reacionários e àqueles que representam a infantilização da política (quero tudo agora e de qualquer jeito).
As dificuldades de Marina em construir a Nova Política residem exatamente nesta sua frágil base politica de sustentação.
Precisará dos movimentos sociais e trabalhadores organizados para aprofundar a democracia no Brasil. Quando e se quiser fazer este aceno, será rapidamente abandonada pela sua base eleitoral. Crise política à vista.
Por outro lado, na economia política, Marina já encarna o papel de melhor guardiã da financeirização da riqueza. As poucas famílias, empresas não financeiras e bancos, que aplicam suas riquezas em diversos produtos financeiros, estão indo ao delírio com as propostas dos gurus econômicos de Marina.
Banco Central independente, altíssimas taxas de juros que procurem levar a inflação a níveis suíços, câmbio livre, cortes nos gastos públicos, redução dos salários e “outras maldades” já reveladas soam como música aos senhores da riqueza financeira.
Deve começar seu governo já refém destes interesses poderosos. Uma verdadeira crise econômica se avizinha.
Paralisia política e crise econômica pode ser o resultado mais esperado do seu governo. Marina já acenou que planeja ficar apenas quatro anos.
Não terá outra saída. De qualquer modo, já terá cumprido o papel para os senhores do dinheiro.
Para o país, uma lição a mais: a infantilização da política não produz avanços.

(Publicado originalmente no Viomundo)

Marina Silva: Afinal, ela é contra ou a favor do casamento gay?


Há duas situações recentes na política nacional que se aproximam bastante de coisas "plantadas". Começou a circular pelas redes sociais que a candidata Marina Silva seria a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, mais precisamente, o casamento gay, algo surpreendente para alguém com suas convicções religiosas. Os grupos GLBT, principalmente os mais otimistas, logo abraçaram a tese, evidenciando uma simpatia pelas posições da candidata, o que seria natural. Os mais cautelosos estranharam a súbita posição da candidata, informando que ela não se sustentaria quando confrontada com as lideranças evangélicas. Pois muito bem. É isso que, de fato, está ocorrendo. Pelo microblog Twitter, o pastor Silas Malafaia deu um ultimato a candidata. Se ela não desfizer o "mal-entendido" até segunda-feira, a chapa esquenta. A outra informação, já desmentida, diz respeito a um colunista do PIG, que afirmou que José Dirceu teria dito que Marina seria o Lula de saia. Claro que existem petistas que não se bicam com a presidente Dilma Rousseff, mas daí a concluir por uma declaração dessa magnitude vai uma grande diferença. O fato é que a acriana continua "arrasando quarteirões'. Ela pode ser Lula, Aécio, Obama, Antonio Conselheiro, Getúlio Vargas, Max Weber e mais um monte de gente. Por enquanto, parece que ela pode tudo. Temos um pouco mais de um mês para encontrarmos um mecanismo de se contrapor a esse efeito manada. Simplesmente pelo viés religioso, não dá.

Nota do Editor: A charge é de Renato Aroeira, publicada no dia de hoje, 30/08, no Jornal O Dia, do Rio de Janeiro. Admoestada pelo pastor Silas Malafaia, Marina recuou da proposta favorável ao casamento gay, prevista no seu Programa de Governo. Portanto, no caso dela especificamente, retira-se a expressão "plantada". Era Programa de Governo mesmo. 

Foto: Afinal, ela é contra ou favor do casamento gay?

Há duas situações recentes na política nacional que se aproximam bastante de coisas "plantadas". Começou a circular pelas redes sociais que a candidata Marina Silva seria a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, mais precisamente, o casamento gay, algo surpreendente para alguém com suas convicções religiosas. Os grupos GBLT, principalmente os mais otimistas, logo abraçaram a tese, evidenciando uma simpatia pelas posições da candidata, o que seria natural. Os mais cautelosos estranharam a súbita posição da candidata, informando que ela não se sustentaria quando confrontada com as lideranças evangélicas. Pois muito bem. É isso que, de fato, está ocorrendo. Pelo microblog Twitter, o pastor Silas Malafaia deu um ultimato a candidata. Se ela não desfizer o "mal-entendido" até segunda-feira, a chapa esquenta. A outra informação, já desmentida, diz respeito a um colunista do PIG, que afirmou que José Dirceu teria dito que Marina seria o Lula de saia. Claro que existem petistas que não se bicam com a presidente Dilma Rousseff, mas daí a concluir por uma declaração dessa magnitude vai uma grande diferença. O fato é que a acriana continua "arrasando quarteirões'. Ela pode ser Lula, Aécio, Obama, Antonio Conselheiro, Getúlio Vargas, Max Weber e mais um monte de gente. Por enquanto, parece que ela pode tudo. Temos um pouco mais de um mês para encontrarmos um mecanismo de se contrapor a esse efeito manada. Simplesmente pelo viés religioso, não dá.

Paulo Câmara encosta em Armando Monteiro. Efeito manada?

Pesquisa de intenções de voto do Instituto Maurício de Nassau, publicada pelo Jornal do Commércio deste domingo, aponta um empate técnico entre os candidatos que concorrem ao Governo do Estado nas eleições de 2014. Armando Monteiro(PTB), que já liderou com folga as pesquisas anteriores, aparece com 32% das intenções de voto, enquanto o candidato Paulo Câmara(PSB/Rede) desponta com 28% das intenções de voto, caracterizando um empate técnico. Uma boa pergunta a ser respondida neste momento é o que estaria alavancando a candidatura de Paulo Câmara? O guia eleitoral pelo rádio e televisão, que o deixou mais conhecido do eleitorado? O efeito "manada" proporcionado por Marina Silva? a herança do eduardismo, como que ressuscitada com a sua morte prematura? a estratégia de marketing político montada a partir do sepultamento do ex-governador? Equívoco cometido pelo candidato Armando Monteiro? Talvez, assim como ocorre com Marina Silva, um conjunto de contingências favoráveis. É difícil diagnosticar as causas dessa subida vertiginosa, sobretudo em se tratando de um candidato burocrático, engomadinho, insosso, sem carisma. Temos aí pouco mais de um mês para observar como isso vai se refletir nas urnas. Político metropolitanizado, João Paulo encontra-se numa situação mais confortável para o Senado, a despeito da subida de FBC. É que Paulo Câmara cresce num ritmo mais célere.

Datafolha: Dilma 34%, Marina 34%, Aécio Neves 15%. Nossa elite é uma elite de muros. Nunca de pontes.



Paixão



Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada agora há pouco pelo pelo Jornal Nacional aponta um empate técnico entre as candidatas Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva(PSB/Rede). Ambas aparecem com 34%, enquanto o candidato do PSDB, senador Aécio Neves, pontua em 15% das intenções de voto. Esses números não batem com os tracking que estão sendo realizados pelo Planalto, onde Marina mantém os 24% do IBOPE, mas, segundo o jornalista Renato Rovai, a amostragem é bastante reduzida.Como se sabe, uma conjunção de fatores estão alavancando a candidatura da acriana, mesmo com as evidências inequívocas de um possível retorno do receituário neoliberal para a condução da política econômica o que vai significar, necessariamente, recessão, arrocho salarial, desemprego, ausência de crédito para os mais fragilizados socialmente. Há quem afirme que Aécio Neves não mais teria como reagir. As eleições estão perdidas para o PSDB. Será? Marina os representa, assim como representa a direita, a elite, os estratos de classe média anti-petista. As pesquisas também indicam que, se tivermos um segundo turno - hoje quase inevitável - os evangélicos a conduzirão ao Planalto. Uma tragédia tanto do ponto de vista da consolidação de nossas instituições democráticas, quanto das conquistas obtidas pela classe trabalhadora nas últimas décadas com as políticas públicas de corte inclusivo da Era Lula/Dilma. Fica evidente aquilo que o economista Márcio Pochmann falou outro dia num debate no Ceará. A elite brasileira - preocupada com as concessões aos trabalhadores - jogaria pesado para manter seus privilégios. Nossa elite é uma elite de muros. Nunca de pontes. Se depender delas, esse país jamais se encontrará consigo mesmo. Srão mantidos os guetos. As declarações do jornalista Diogo Mainardi nos forneceram a senha: tudo por Marina na estratégia obsessiva de derrotar o PT. Depois da posse, o futuro a Deus pertence.

Marina está muito mais para Jim Jones do que para Cristo.


Por José Luiz Gomes

Adam Przeworski é um cientista político polonês muito respeitado na academia. Uma de suas preocupações de estudos foi o comportamento dos partidos socialistas europeus no contexto de um sistema político hegemonizado pela democracia representativa burguesa. Segundo seus estudos, essas partidos foram, gradativamente,  institucionalizando-se, entrando nessas regras do jogo, isolando os radicais e, obviamente abdicando de algumas teses e incorporando outras. Do ponto de vista estritamente eleitoral, contingenciado pela competição imposta, logo perceberiam que o voto "politicamente orientado" não seria suficiente para conduzi-los ao poder. Isso os obrigou a acenar para novos segmentos sociais, negociar com o grande capital etc. Aqui no Brasil, um pouco orientado pelos estudos de Przeworski, o também cientista político do IUPERJ, Wanderley Guilherme dos Santos, criou a expressão a "Lei de Ferro da Competição Eleitoral", que tenta explicar esse fenômeno, afirmando que manter-se numa postura política identificada tão somente com aqueles estratos sociais que lhes dão suporte, em médio prazo, inviabilizaria eleitoralmente essas agremiações. Por esse raciocínio partidos como o PSOL e o PSTU, em algum momento, irão se deparar com essa dilema, como já ocorreu com o PT num passado recente. Outro estudo muito interessante de Przeworski é sobre a definição do voto do eleitor, consoante a escolha racional. Ele levanta várias hipóteses. Uma delas em partilhar vem a calhar com o momento político pelo qual estamos passando, com a ascensão da candidata Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto. Pelo Datafolha, Marina já se encontra em empate técnico com Dilma Rousseff, ambas com 34%. Como seria, por exemplo, o voto do evangélico pobre, beneficiário dos programas de distribuição de renda do Governo Federal? O que pesaria mais na definição do seu voto. Não conheço estatística informando qual o montante de evangélicos beneficiários desse programa, mas, em todos os levantamentos realizados até agora, há o indicativos de que eles tendem a votar com a fé e não com a boca. A candidata Marina consegue abrir uma vantagem expressiva sobre Dilma no segmento evangélico. Como diria Michel Zaidan, até as nuvens se movem. Imagina as tendências de intenções de voto. Ainda é um pouco cedo para dizer o que vai ocorrer daqui para frente, mas, no momento, a acriana desponta como um tsunami nessas eleições. Não há como minimizar esse fenômeno. Ela preocupa - o que seria natural - os inquilinos do Palácio do Planalto. Mesmo inconsistente, eivada de contradições, matreiramente, a acriana acena para inúmeros segmentos sociais. Associou-se ao grande capital nacional; aparou as arestas com o capital internacional; foi adotada pelo elite e pelos estratos sociais de classe média anti-petista; galvanizou a comoção com a morte do ex-governador Eduardo Campos; sai forte junto aos segmentos evangélicos, sobretudo os pentecostais e neo-pentecostais; com a consequente inviabilidade de Aécio Neves, o conservadorismo brasileiro parece ter encontrado seu candidato, colocando seu aparato midiático (de)formador de opinião ao seu serviço, independentemente das consequências que poderão vir pela frente. Tudo é válido para quebrar a hegemonia de poder da coalizão petista. Mesmo com essa cobra de não sei quantas cabeças, capaz de ressuscitar a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber; mesmo evangélica, alardear que legalizará o casamento entre pessoas do mesmo sexo, acenando para um segmento com o qual ela poderia ter muitas arestas, o LGBT; incorporar uma espécie de "messianismo de corte ultra-liberal" etc. Que nos perdoem seus eleitores, mas essa aventura não nos levaria ao paraíso. Está mais próxima de um Jim Jones do que de Cristo.

Foto: O tsunami Marina está mais para Jim Jones do que para Cristo. 

Por José Luiz Gomes

Adam Przeworski é um cientista político polonês muito respeitado na academia. Uma de suas preocupações de estudos foi o comportamento dos partidos socialistas europeus no contexto de um sistema político hegemonizado pela democracia representativa burquesa. Segundo seus estudos, essas partidos foram, gradativamente, se institucionalizando, entrando nessas regras do jogo, isolando os radicais e, obviamente abdicando de algumas teses e incorporando outras. Do ponto de vista estritamente eleitoral, contingenciado pela competição imposta, logo perceberiam que o voto "politicamente orientado" não seria suficiente para conduzi-los ao poder. Isso os obrigou a acenar para novos segmentos sociais, negociar com o grande capital etc. Aqui no Brasil, um pouco orientado pelos estudos de Przeworski, o também cientista político do IUPERJ, Wanderley Guilherme dos Santos, criou a expressão a "Lei de Ferro da Competição Eleitoral", que tenta explicar esse fenômeno, afirmando que manter-se numa postura política identificada tão somente com aqueles estratos sociais que lhes dão suporte, em médio prazo, inviabilizaria eleitoralmente essas agremiações. Por esse raciocínio partidos como o PSOL e o PSTU, em algum momento, irão se deparar com essa dilema, como já ocorreu com o PT num passado recente. Outro estudo muito interessante de Przeworski é sobre a definição do voto do eleitor, consoante a escolha racional. Ele levanta várias hipóteses. Uma delas em partilhar vem a calhar com o momento político pelo qual estamos passando, com a ascensão da candidata Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto. Pelo Datafolha, Marina já se encontra em empate técnico com Dilma Rousseff, ambas com 34%. Como seria, por exemplo, o voto do evangélico pobre, beneficiário dos programas de distribuição de renda do Governo Federal? O que pesaria mais na definição do seu voto. Não conheço estatística informando qual o montante de evangélicos beneficiários desse programa, mas, em todos os levantamentos realizados até agora, há o indicativos de que eles tendem a votar com a fé e não com a boca. A candidata Marina consegue abrir uma vantagem expressiva sobre Dilma no segmento evangélico. Como diria Zaidan, até as nuvens se movem. Imagina as tendências de intenções de voto. Ainda é um pouco cedo para dizer o que vai ocorrer daqui para frente, mas, no momento, a acriana desponta como um tsunami nessas eleições. Não há como minimizar esse fenômeno. Ela preocupa - o que seria natural - os inquilinos do Palácio do Planalto. Mesmo inconsistente, eivada de contradições, matreiramente, a acriana acena para inúmeros segmentos sociais. Associou-se ao grande capital nacional; aparou as arestas com o capital internacional; foi adotada pelo elite e pelos estratos sociais de classe média anti-petista; galvanizou a comoção com a morte do ex-governador Eduardo Campos; sai forte junto aos segmentos evangélicos, sobretudo os pentecostais e neo-pentecostais; com a consequente inviabilidade de Aécio Neves, o conservadorismo brasileiro parece ter encontrado seu candidato, colocando seu aparato midiático (de)formador de opinião ao seu serviço, independentemente das consequências que poderão vir pela frente. Tudo é válido para quebrar a hegemonia de poder da coalizão petista. Mesmo com essa cobra de não sei quantas cabeças, capaz de  ressuscitar a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber; mesmo evangélica, alardear que legalizará o casamento entre pessoas do mesmo sexo, acenando para um segmento com o qual ela poderia ter muitas arestas, o LBGT; incorporar uma espécie de "messianismo de corte ultra-liberal" etc. Que nos perdoem seus eleitores, mas essa aventura não nos levaria ao paraíso. Está mais próxima de um Jim Jones do que de Cristo.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Marina Silva: A farsa da terceira via

Tijolinhos do Jolugue: Neca é a candidata, Marina a testa de ferro.




Marina Silva vai tirando a máscara e aparecendo suas verdadeiras intenções: reduzir a participação dos bancos públicos e ampliar a participação dos bancos privados. Esta maravilhosa meta foi apresentada pela dona do Itaú, que não é surpresa não. Marina voltará a colocar na agenda do país a privatização do Banco do Brasil e da Caixa como pretendia FHC e pretende Aécio. Ou seja, adeus crédito para os mais pobres e a classe média baixa. Voltaremos aos patamares de crédito antes de Lula, quando só os ricos tinham acesso a ele e ainda diziam que o país era capitalista. Cada vez mais fica claro, a verdadeira candidata é a Neca Setúbal, Marina é só a testa de ferro.

Durval Muniz é professor da UFRN. Hoje, 29/08/2014, em seu perfil no Facebook