O "Buraco da Gia" (sic) é um restaurante tradicional da cidade de Goiana, Mata Norte do Estado de Pernambuco. Não é propaganda para o seu Luiz - dono do restaurante - mas, de fato, come-se muito bem por ali, com a possibilidade de ter ter um caldinho ou copo de cerveja servido por um guaiamum, um crustáceo de carne bastante saborosa, que vive nas periferias dos manguezais. Diferentemente do caranguejo, não costuma ficar atolado na lama. Segundo seu Luiz, os guaiamuns são "treinados" para essa finalidade. O que se diz, no entanto, é que se trata de um processo natural. Depois que o danado aciona a força das patas, pouco provável que volte atrás. Verdade ou não, o fato é que os tais guaiamuns constituem-se numa atração à parte, sobretudo para os bacanas urbanos que não entendem nada do assunto. A cidade, como é do conhecimento de todos, está recebendo grandes investimentos estatais e privados, inclusive uma fábrica da FIAT. Num tempo em que o ex-governador Eduardo Campos vivia em lua-de-mel, como o Planalto, gestões do Governo Federal ajudaram na escolha da montadora em relação ao Estado de Pernambuco. O candidato Aécio Neves(PSDB), dizem, até hoje não engoliu muito bem essa história. Em sua visita recente ao Estado, Dilma esteve na cidade. Já comentamos aqui, em outras oportunidades, sobre os graves problemas estruturais da cidade. Conheço-a bem porque sempre a visito com os nossos alun@s. Os indicadores sociais de educação, saúde, saneamento deixam a desejar. Há problemas de violência e um alto índice de prostituição infantil. O patrimônio histórico completamente abandonado. Repórter da Folha de São Paulo acompanhou a visita de Dilma à cidade. Num flagrante no Restaurante Buraco da Jia, foi fotografado um guaiamum com um adesivo da candidata Dilma Rousseff, com a insinuação de que, por essas bandas, até os caranguejos votam em Dilma. Como isto já seria previsível, isso gerou uma enorme polêmica, sobretudo em razão dos ânimos acirrados no que concerne à retomada de atos a atitudes de corte preconceituosos nessa reta final da campanha. Coitados. Nem os caranguejos escapam dessa sanha miserável.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Dilma entra na reta final com leve favoritismo
Dilma entra na reta final com leve favoritismo
Por Rodrigo Viannaoutubro 20, 2014 14:14
por Rodrigo Vianna
A eleição entra na última semana com um cenário ainda indefinido. Mas agora já não há “ondas” no horizonte. Em agosto, tivemos a “onda verde” de Marina. Depois, a “onda azul” de Aécio – que foi basicamente uma onda antipetista com forte sotaque paulista.
E a “onda vermelha” de Dilma? Não houve. Nem haverá. Mesmo assim, ela é quem entra na reta final com leve favoritismo. Explico…
Ao contrário do que indicam as aparências, foi a campanha de Dilma quem ditou o ritmo do segundo turno. Na primeira semana, Aécio despontou com força, e tentou criar um clima de “fato consumado”: seus aliados chegaram a divulgar pesquisas falsas com o tucano bem à frente. Era fábula. E o PSDB parece ter acreditado na fábula, descuidando-se do mundo real.
Aécio contava com o bombardeio midiático contra Dilma no caso Petrobras. E ele veio. Por isso, o candidato passou dez dias “olímpico”, enquanto a Globo batia em Dilma. Mas, ao mesmo tempo, o PT desconstruía Aécio; e os próprios tucanos paulistas expunham seu elitismo e preconceito – com ataques ao Nordeste e ao povo mais pobre.
Eram dois movimentos simultâneos, em sentidos opostos. Na campanha oficial – midiática – Aécio parecia ter vantagem: tinha a Globo e mais seus dez minutos em horário nobre. Dilma tinha apenas seu horário na TV.
O que favoreceu Dilma? O mundo real, e a militância.
A campanha de “desconstrução” não pegaria em Aécio se ele fosse um candidato consistente. Ficou claro que não é. E tem enormes telhados de vidro na vida pessoal.
Mas o PSDB cometeu também o erro da soberba: FHC dizendo que PT tem só o voto “desinformado” fez coro com os tucanos paulistas berrando contra “nordestinos ignorantes”. Isso tudo criou no Nordeste (e entre os muito pobres de São Paulo, Rio e BH) uma muralha que segurou a onda aecista. Vi porteiros, frentistas e ambulantes dizendo nas últimas semanas: “está na cara que Aécio é candidato pra rico”.
Um amigo, que é do PSD de Kassab (portanto, está a meio caminho entre PT e PSDB), resumiu assim os fatos: “a campanha estava pra ele. Mas equilibrou tudo com as pancadas e o salto alto. Ele entrou de salto alto na Band, e dançou”.
Aécio acreditou que Dilma era uma idiota, uma “anta”, como dizem os sutis tucanos de São Paulo. Acreditou, e caiu do salto alto. Foi uma queda leve. Mas doeu.
No dia 14, Dilma começou a reagir, recuperando terreno. Aí, foi Aécio quem decidiu partir pro ataque. Perdeu as estribeiras no debate do SBT, mostrando dificuldades para lidar com as mulheres de igual para igual.
A partir dali, Aécio seguiu batendo, e Dilma reassumiu o papel de “técnica”, mostrado no último debate – na Record.
Resumo: Dilma bateu, Aécio achou que já tinha ganho. Quando o tucano foi reagir errou a mão. E Dilma mostrou-se mais serena. Só isso explica porque a rejeição de Aécio, em duas semanas, ultrapassou (levemente) a rejeição de Dilma (que apanha há 4 anos, sem parar).
Esse movimento pode ser decisivo para conquistar os indecisos. Por isso, digo que Dilma entra na reta final com leve favoritismo.
Fora isso, há o mapa eleitoral.
Aécio deve abrir boa frente em São Paulo (6 a 7 milhões), Sul (2 a 3 milhões), Centro-Oeste (1 a 2 milhões). Tudo isso, dá ao tucano cerca de 11 milhões de frente.
Mas só no Nordeste Dilma equilibra esse jogo, obtendo vantagem de 11 milhões – talvez um pouco mais.
No Norte do país, o PT projetava uma vantagem de mais de 1 milhão de votos para Dilma – que não deve se confirmar. Com segundo turno para governador no Pará e no Amazonas, Aécio colou seu nome a candidatos que estão fortes. A tendência é uma diferença de 500 mil votos apenas para Dilma, na soma dos dois estados.
Tudo isso indicaria uma pequena vantagem para Dilma. Mas ainda faltam Minas, Espirito Santo e Rio.
A tendencia é algo muito próximo de um empate em Minas. Na soma com Espirito Santos, talvez Aécio leve algum saldo positivo.
O Rio é que pode decidir. E lá há um leve favoritismo para Dilma. O tucano deve ganhar na capital (Zona Sul, Zona Norte e Barra – especialmente) e no sul do Estado. Mas perde feio na Zona Oeste, na Baixada e no Norte do Estado.
O PSOL tem papel fundamental no Rio. E é significativo que Marcelo Freixo tenha ido à TV apoiar Dilma. Jean Willis está muito ativo nas redes sociais e tem participado de atos com a juventude no Rio e em São Paulo. Mostra que o PSOL amadurece. Bom sinal.
Se a (leve) vantagem para Dilma no Rio se confirmar, e se o PT recuperar um pouco do terreno perdido na periferia de São Paulo (reduzindo a vantagem aecista no Estado – de 7 milhões, para menos de 6 milhões), Dilma tende a vencer.
Brasil afora, há um movimento de baixo pra cima de apoio a Dilma. Não parte do PT propriamente. É um sentimento difuso de que Aécio representa uma onda conservadora, quase fascista, que deve ser barrada. Desde 89, eu não via tanta iniciativa militante nas ruas.
Mas Aécio está no jogo, e tem aliados poderosos na Justiça e na Mídia – além de uma militância de classe média com sangue nos olhos.
A última semana ainda guarda golpes midiáticos. A Globo e aparato judiciário tucano vão agir. Não tenham dúvidas.
Mas minha impressão é de que nenhuma “onda” mais vai-se criar. Será eleição decidida no conta-gotas, voto a voto. Abstenção (se for alta no Nordeste e no Rio) pode atrapalhar Dilma.
Contra os tucanos, há a água que acaba em São Paulo. E a favor de Dilma, ainda há o Lula.
Façam suas apostas.
Minha avaliação, hoje, é de vitória de Dilma – com uma diferença entre 500 mil e 1,5 milhão de votos.
(Publicado originalmente no site O Escrevinhador, de Rodrigo Vianna)
Tijolinho do Jolugue: Dilma já supera Aécio. Para as ruas, moçada!
Assim como ocorreu com a "onda" Marina, a "onda" Aécio emite seus sinais de esgotamento. Felizmente, Dilma parece ter acertado o passo. A avaliação do seu Governo melhorou e isso passou a se refletir nas pesquisas de intenção de voto, que apontam a presidente um pouco acima do concorrente. Segundo o Datafolha, Dilma aparece com 52%, enquanto Aécio Neves pontua em 48%. Ainda não deixa de ser um número bastante equilibrado, sobretudo se considerarmos a margem de erro com a qual trabalha o Instituto. De qualquer forma, esses números tocam fogo na militância petista, que já se encontra nas ruas, mobilizada em torno da candidata. Sob esse aspecto,então, os números favoráveis são cruciais. No momento, quem deve andar um pouco aturdido é o candidato tucano. O que eles devem aprontar para os próximos dias? O Sindicato dos Policiais Federais - alguns dizem que as lideranças são tucanas - estão programando uma série de paralisações entre os dias 22 e 25/10, justamento na reta final das eleições. Outra questão é saber como Aécio se comportará no debate de sexta-feira, 24/10, o da Rede Globo. Como Dilma acertou o passo, penso que do lado governista não se poder esperar alguma mudança. Ela deve estudar os números para, literalmente, meter o sarrafo no candidato tucano. Deve manter uma linha propositiva. Uma outra razão que indica que ela deve manter a "linha" são as pesquisas qualitativas realizadas pela coordenação de campanha dos tucanos, onde verifica-se o equívoco da adoção do clima agressivo e beligerante do candidato. Agressivo, beligerante e, porque não dizê-lo, machista, afugentando um eleitorado feminino mais consequente. Agora, o que nos preocupa, no momento, e a presidente já acenou para isso, é a inevitável convocação de uma constituinte exclusiva para tratar da reforma política. Essa bagunça não pode mais continuar. Se o Governo de coalizão petista tem sido tão sensível à inclusão social numa sociedade secularmente excludente, se faz necessário que comece a pensar seriamente na reforma das instituições da República, um antro de familismo amoral, nepotismo, servilismo, incompetência e corrupção. Nosso blog vem recebendo muitas denúncias. Temos um certo cuidado em publicá-las, por razões óbvias. Recentemente, morreu no Estado de Pernambuco um político muito conceituado em todo o Brasil. Rico e bastante articulado, ocupou postos chaves no ninho tucano. O seu nome foi envolvido no escândalo da Petrobras. Paulo Roberto, o delator, afirmou que ele teria recebido propina para esvaziar a CPI da estatal. Os senhores sabem de quanto foi o achaque? 10 milhões de reais. Como dizia uma ex-colega de trabalho, realmente, essa situação não pode continuar. Vamos eleger Dilma e cobrar dela essas reformas. Os tucanos, possivelmente, não estão interessados em fazê-las. Com Dilma, ainda existe uma chance.
Charge de Renato Aroeira, publicada ontem, dia 21/10, no Jornal O Dia.
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Dilma acertou o tom.
Dilma acertou o tom
20 de outubro de 2014 | 01:45 Autor: Fernando Brito
Vou ser bem direto e pouquíssimo passional na análise do debate encerrado há pouco na Record.
Não mexe em nada com mais de 80% dos eleitores que, a esta altura, têm seu voto decidido para o próximo domingo.
A esta altura, exceto por revelações bombásticas, o clima é mais importante que os argumentos.
Como nada do que foi dito na Record foi bombástico, também não são bombásticos os efeitos do debate.
O que não quer dizer que são ou serão pequenos.
Dilma se moderou nas citações numéricas e estatísticas e produziu, de novo, fatos concretos.
Sobretudo na questão da segurança, como já postei aqui, ainda durante o debate.
Os argumentos de Aécio se desmontam com os números e é provável que a própria mídia os tenha de repercurtir.
Mas, insisto, isso não é o essencial.
O essencial é que as pessoas possam se sentir seguras com Dilma, e sentir-lhe a segurança.
A eleição está dividida e como em toda a situação dividida, a confiança que se percebe e se transmite é decisiva.
Aécio pareceu-me bem menos seguro e a muitos deve ter dado também esta sensação.
Claro que não aos áulicos, mas os áulicos servem para bater palmas no estúdio, não mais que isso.
O fato é que a insegurança mudou de lado, em duas semanas.
Depois do desempenho ”surpreendente” de Aécio no primeiro turno (embora muitos já estivéssemos afirmando muito antes que ele e não Marina iria ao segundo turno) e do apoio que o tucano recebeu de praticamente todas as candidaturas, exceto a de Luciana Genro, a pergunta já não é mais se Dilma terá condições de resistir-lhe.
Mas se ele terá condições de ultrapassá-la.
Porque, mais que o resultado que se publica, a gente percebe no comportamento dos candidatos quando ele sabe está atrás ou à frente nas intenções de voto, porque tem dados muito mais precisos e confiáveis do que nós.
Aécio já não era o “desafiador”.
Mas o desafiante.
E nisso, ele foi xoxo.
Não poderia, como ocorreu, ter recebido “explicações” da candidata sobre o que significavam as coisas sobre as quais falava, como os bancos públicos, por exemplo.
Nada pior do que se mostrar despreparado. O que, apesar da oratória limitada, Dilma não se mostra.
Ele, muito mais do que ela, precisaria ter exibido solidez, porque depende de um “clima”.
E não exibiu justamente porque tem pouca solidez.
O debate do SBT, como o da Band, teve o tom certo para mobilizar apoiadores.
Aécio vinha de seu momento e, pelo visto, não conseguiu capitalizar o favoritismo com que emergiu das urnas do primeiro turno, quando poderia ter abatido a estabilidade que, há meses, a candidatura Dilma apresentava, justamente por ter esta solidez.
Seria uma nova “onda” e a “onda” foi quebrada com o confronto.
Já o da Record mirou os eleitores, não para os militantes.
E, para eles, Dilma acertou o tom.
Recuperou a segurança, a firmeza, a imagem tranquila.
A de favorita.
(Publicado originalmente no site Tijolaço)
Tijolinho do Jolugue: Dilma ganhou o debate da Record. E agora?
A Rede Record nunca teve uma tradição muito forte na realização de debates entre candidatos presidenciais. Penso ser a Band a emissora mais bem conceituada no assunto, posto que a emissora do plim plim, não raro, assume desavergonhadamente uma preferência por este ou aquele candidato. Um debate na sexta-feira, por exemplo, pode ter uma "edição' no sábado com força até mesmo para influir nos resultados de uma eleição, conforme adverte-nos alguns históricos recentes. Mas, em razão de uma série de circunstâncias específicas, o debate da Rede Record revestiu-se de uma importância singular. Ele iria refletir - como, de fato, refletiu - as intermináveis reuniões de avaliação de campanha de ambos os candidatos, notadamente a presidente Dilma Rousseff (PT), que luta pela reeleição. Do lado de lá, da direita, vem uma campanha de ódio irrefreável contra o PT. Isso faz muito mal numa campanha, mas não há mais como controlá-la, sobretudo depois das agressões do candidato Aécio Neves(PSDB) no debate da Band. As pesquisas qualitativas depois do debate indicaram o equívoco da estratégia, refletido no aumento de sua taxa de rejeição. Para completar o enredo, recebeu, de imediato, o apoio de notórios espancadores de mulheres, enquadrados na Lei Maria da Penha. Se isso significar sua derrota, azar o dele. Esta campanha raivosa já está disseminada nas ruas, com eleitores petistas sendo agredidos em praça pública, bares etc. Em todo caso, no debate da Record, o tucano foi mais comedido. Do lado da coalizão petista, duas tendências: uma que recomendava que ela pulasse no seu pescoço quando se sentisse agredida, respondendo-o na mesma moeda. Dizem que o ex-presidente Lula era partidário dessa tese. Do outro lado, aqueles que advogavam uma campanha mais propositiva, não embarcando no ardil do adversário. Pelo comportamento de Dilma no debate de ontem, essa última tese deve ter prevalecido. Arrisco a dizer que foi o melhor debate de Dilma nessas eleições. A presidente mostrou que em trabalho, realizações e propostas para governar o país. Desmascarou o receituário neoliberal do candidato Aécio Neves, sobretudo as consequências da receita de bolo de Armínio Fraga para enfrentar a alta dos preços. Quanto aos investimentos sociais, sua lembrança de que o governo tucano gastou em 08 anos o que o governo petista gasta em um mês com o Bolsa Família, só poderia mesmo ter ruborizado o candidato. Não havia como responder. Vamos torcer que parte da sociedade brasileira, até domingo próximo, recupere o bom-senso e perceba objetivamente os projetos que estão em jogo nessas eleições: um avanço das conquistas sociais com algumas correções de rumo ou um retrocesso aos anos nefastos da Era FHC.
domingo, 19 de outubro de 2014
Tijolinho do Jolugue: Minha Casa, Minha Vida é do Governo Federal, Primavera.
Nove em cada 10 eleitores de Primavera, cidade localizada na região da Mata Sul do Estado, votaram em Paulo Câmara nas últimas eleições para o Governo do Estado. O candidato socialista sequer visitou a cidade nas eleições passadas. Integrando o staff governista, por lá passaram o filho do ex-governador Eduardo Campos, João Campos, e o candidato a vice na chapa de Câmara, Raul Henry. Confesso que fiquei curioso em entender essa excelente performance do candidato situacionista naquela cidade, distante 81 km da capital. A cidade, na realidade, não apresenta um quadro sócio-econômico muito satisfatório. A atual prefeita, inclusive, não conta com uma boa aprovação da gestão. A cidade ressente-se de investimentos em obras de infraestrutura básica. O que explica, então, o fenômeno? A rigor, nada. Salvo o fato de a cidade ter sido mais receptiva à onda de comoção que tomou conta do Estado com a morte do ex-governador, fato bastante explorado pelos marqueteiros. Perguntado pelo jornalista que produziu a matéria, um cidadão local afirmou que seria eternamente grato ao ex-governador pela entrega das 228 casas do Minha Casa, Minha Vida. Olha o tamanho da encrenca. A cidade tem uma cachoeira famosa, a Cachoeira do Urubu.
Tijolinho do Jolugue: Em busca dos 31,6 milhões de votos dos indecisos
No dia de ontem, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o seu staff de campanha e alguns assessores diretos. O objetivo seria o de tomar algumas decisões sobre a estratégia de campanha que vem sendo adotada. No grupo, há os que defendem uma postura maios incisiva da presidente, sobretudo em razão dos rumos que a campanha vem assumindo, num clima de absoluta animosidade entre petistas e tucanos. O país está dividido entre pobres e ricos, paulistas e nordestinos. Já foram registradas várias agressões a militantes petistas pelo Brasil afora. Por outro lado, há um grupo que defende que a candidata não embarque nesse "jogo", adotando uma linha mais propositiva. Penso que nada pode ser feito em relação aos eleitores que já assumiram o seu voto. Esse clima beligerante é um sintoma disso. Quem vota em Aécio(PSDB) tem ódio do PT. A grande batalha mesmo deve se dar em torno dos 31,6 milhões de eleitores indecisos. São esses eleitores que decidirão as eleições presidenciais de 2014. Como conquistá-los? Eis aqui um grande problema. Esse clima de acirramento e a possibilidade concreta de jogarmos no lixo décadas de conquistas e avanços sociais, de alguma forma, parece estar despertando a militância petista, que sai às ruas para pedir votos para a presidente Dilma Rousseff. Um movimento ainda incipiente, mas que pode - como no passado recente - fazer a diferença. Por outro lado, admito que o engendramento montada pelos setores conservadores da sociedade brasileira para derrotar o PT não será facilmente vencido. A engrenagem está azeitadíssima.
sábado, 18 de outubro de 2014
Michel Zaidan Filho: Ressentimento político
0 pior sentimento que pode dominar uma campanha política é o do ódio, da ira, do preconceito e da discriminação. Ele próprio é um sinal do baixo grau de socialização política de uma disputa eleitoral. É como se praticássemos a política do amigo e do inimigo: quem não está comigo, está contra mim. Não há espaço para argumentos, debates, críticas e o contraditório. Só acusações, queixas, ressentimentos. É preciso convir que estas eleições foram as mais despolitizadas dos últimos tempos. Em vez de teses, programas e proposições, xingamentos, ofensas, insinuações. Não há dúvida que parte disso tem a ver com a entrada da candidata Marina Silva na disputa eleitoral. Irmã Marina, desculpe-nos os seus seguidores, rebaixou o nível da campanha a uma discussão (arenga) teológica ou de costumes, retirando o caráter republicano do pleito e levando-o para um culto da Assembléia de Deus (variante pentecostal do Cristianismo reformado). Enquanto a campanha era disputada entre partidos, candidatos e projetos institucionais (PSB, PSDB, PT) o tom do debate foi um. Depois que Marina Silva foi ungida pela família Campos Accioly como sucessora de Eduardo Accioly Campos, o tom foi outro.
É de se acrescentar que a entrada da família do ex-governador na cena política acabou conferindo uma fisionomia familiar (e regional) à candidata do PSB. Tornou-se uma questão de "honra", quase pessoal e familiar derrotar a candidata do PT. Essa vingança comprometeu a serenidade das eleições. Pareceu uma cruzada de Deus contra o Satanás, do cristão contra o agnóstico ou ateu, da honestidade contra a desonestidade. Se estivéssemos na época da UDN e o candidato fosse Jânio Quadros contra o Marechal Lott, daria para entender os termos dessa discussão. Uma querela sobre os usos e costumes da família brasileira, sua religião, suas idéias sobre o sexo, o casamento, a família etc. Mas é bom lembrar que o Brasil mudou muito e a TFP praticamente desapareceu do cenário político brasileiro. Então como entender que depois da derrota da irmã Marina, esse clima perdure, continue na campanha eleitoral?
Ódio de classe? - Ressentimento social? - Aqui, gostaria de tocar num ponto delicado: a ideologia das classes médias urbanas no Brasil, sobretudo a de São Paulo. Não é de hoje que conhecemos a natureza do "civilismo" dessas camadas médias, que foram a base da preferência por Rui Barbosa contra Hermes da Fonseca. Esse bendito "civilismo" é impenetrável a qualquer apelo socialista ou comunista. Se é pródigo em acolher o discurso moralista da UDN, é perfeitamente refratário a qualquer estribilho ou refrão levemente social. Não é à toa que os políticos do PSBD façam sua festa eleitoral em São Paulo, este colégio eleitoral prefere eleger Maluf, Ademar do Barros, Jânio Quadros, 0restes Quércia do que um político socialista ou identificado com os interesses das classes trabalhadoras.
A nossa classe média tradicional vestiu a camisa verde-amarela, nessas eleições, não por causa da seleção brasileira ou algum arremedo de cultura cívica, republicana, vestiu a camisa auri-verde numa clara demonstração de ódio, de preconceito, de discriminação em relação aos mais pobres, os miseráveis, os trabalhadores de salário mínimo, usuários do SUS, do péssimo transporte público, do barraco ou da casinha popular. Preconceito que tornou-se regional, estimulado pelo príncipe dos sociólogos, FHC, contra os nordestinos pobres, beneficiários das políticas de transferência de renda, do Governo Federal. 0s mesmos miseráveis que ajudaram a elegê-los por duas vezes, com o auxílio das oligarquias nordestinas.
Não pode haver dúvida de que estamos diante de uma divisão, uma polarização política e social, nesta eleição: de uma lado está o povo, a arraia miúda, os tabaréus, a plebe rude e ignara e o seu desejo legitimo de ser aceita e reconhecida socialmente, num país de escravocratas disfarçados, de outro, um bloco histórico reacionário, privatista, preocupado com a defesa de seus privilégios sociais, cujo candidato vem manipulando como pode esse moralismo despolitizado das classes médias urbanas no Brasil.
O que virá depois? - As cruzadas do evangelho para caçar e queimar em praça viva os comunistas, os ateus, os agnósticos ou simplesmente aqueles que não compactuam com a reprodução desse monumento de iniquidade que é a sociedade brasileira?
Michel Zaidan Filho é cientista político, filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Um debate para cair na rua, na boca do povo
16 de outubro de 2014 | 20:49 Autor: Fernando Brito
Claro que os comentaristas da imprensa vão dizer que o debate foi ruim para os dois candidatos, tamanha foi a troca de acusações entre Dilma e Aécio.
Mas ele teve um grave problema para Aécio Neves, agravado pelo horário em que foi ao ar, fora das maratonas madrugadoras dos encontros anteriores.
Foi o de colocar “na rua” os fatos que pouco ou nada estavam na boca do povo.
O nepotismo.
A propaganda oficial nas rádios de propriedade dele.
O sumiço do dinheiro da Saúde e da Educação em Minas.
A corrupção engavetada do tucanato.
E, claro, o aeroporto do titio, este já de maior conhecimento público.
Mesma situação do episódio da recusa de Aécio ao teste do bafômetro.
Além de tocar na acusação de Paulo Roberto Costa ao então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, ter levado algum para parar – como parou – a CPI da Petrobras em 2009, colocando o tema em pauta e impedindo que a mídia em geral “engavete” a reportagem da Folha.
Depois de um começo mais tenso, Dilma se soltou.
Politizou a falta d’água em São Paulo.
Ao ponto de um impagável “Aécio, isso é feio…”
Aécio estava visivelmente nervoso, até porque sabe, nos levantamentos que tem, que já estava em situação mais desvantajosa do que aquela que as pesquisas apontam.
Foi-lhe cobrado ser mais agressivo – inclusive publicamente por Ricardo Noblat, que escreveu um post em seu blog intitulado “Ou Aécio parte para cima de Dilma ou morrerá na praia” – e foi.
Mas talvez não contasse com que Dilma fosse também e repisasse o que saiu só lá pela meia-noite no debate da Band.
E Dilma foi muito mais dura.
E colhe daí um benefício extra-debate.
Incendiou seus apoiadores e mostrou-lhes que é hora de partir para cima, sem os punhos de renda que marcam boa parte da esquerda.
Pode ser que tenha sido, até, um pouco mais agressiva do que recomendariam as boas técnicas de marketing, mas como Aécio foi também, isso não é um prejuízo.
Porque até agora, a “guerra” era, na verdade, um massacre unilateral da aliança mídia-tucanato.
E já não é mais.
(Publicado originalmente no site Tijolaço)
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Michel Zaidan Filho: Eduardismo

Existe, no Estado do Maranhão, um complexo cultural em torno do boi (boi bumbá). Certamente, em função da importância da pecuário bovina naquela região. No âmbito do complexo, há uma tradição sebastianista, na praia dos artistas, que no período de lua cheia faz D. Sebastião ressuscitar em forma de um touro, com um chifre só. 0 animal é a manifestação do espírito do monarca português, morto na batalha de Al-Kacequibir e nunca sepultado. O messianismo sebastianista é muito forte na cultura popular brasileira, sobretudo na região norte-nordeste. É como se a nossa gente simples do interior nunca tivesse sido socializada - politicamente - pelos rituais da República laica e positivista. E seguisse acreditando numa ordem teológica, animada por deuses e orixás, sempre prontos a intervir no curso da vida humana e salvá-la do precipício que a vive rondando os pobres cristãos brasileiros. Há quem diga que isso é sinal do nosso subdesevolvimento político e que o próprio instituto do presidencialismo é uma sobrevivência atávica desse messianismo político. Verdade ou não, esse sebastianismo sempre se manifesta em momento de crises na República brasileira. É como se o pai primordial ou o deus ancestral da tribo nos abandonasse. E nesse momento, temos de invocar o espírito de D. Sebastião para nos proteger das desgraças que estão sempre a desabar sobre nossas cabeças.
Pernambuco também tem seu ciclo sebastianista, já descrito por seus escritores e literatos. 0 último foi Ariano Suassuna, com a Pedra do Reino. Suassuna, por laços de família e afinidades políticas, foi o cronista oficial desses feitos antigos: chegou a defender uma modalidade de socialismo monárquico, animado por vaqueiros e beatos. Mas com certeza foi na figura dos ilustres membros da Casa dos Arraes que deve ter encontrado a reencarnação viva da figura do nosso rei encantado. Claro que a morte (trágica) sempre confere ao personagem uma aura de heroísmo, de bravura e santidade. Nada como a morte para mitificar o personagem. Eis que um rebento da "família" Arraes desaparece tragicamente num desastre de aviação. Fato corriqueiro na história da aviação civil do Brasil? - Não. O pretexto que faltava para a deificação do personagem. Mas quem escreveria a história, com Suassuna já morto? - A família do morto, com a ajuda dos meios de comunicação e do governo do Estado. Pronto. Temos a versão contemporânea, atualizada do complexo cultural do sebastianismo em nosso Estado. Só que dessa vez, D. Sebastião se manifestou na pessoa do ex-governador desaparecido. E transformado no maior cabo eleitoral da história política de Pernambuco. Eleitor de Marina Silva, eleitor de Paulo Câmara, eleitor de Aécio Neves e por aí vai. Mas era preciso ter os sacerdotes-interpretes da vontade do morto. É aí onde entra a esperteza do primo do governador eleito, João Grilo. 0 messias se expressa através do irmão (que sabe escrever e interpretar sinais), da viúva ( transformada num passe de mágica na maior política do Ocidente), no filho (o sucessor e continuador da saga intrépida da falecido), dos cortesões e cortesãs e dos apaniguados de todos os tipos. 0 que o santo, a santidade e seus sacerdotes farão por nós, pobres contribuintes, que no final pagamos a conta sem participar do festim?
Pode usar a sua bovina maioria na Assembléia Legislativa para criar um feriado dedicado à memória do chefe desaparecido. Neste dia, todo o serviço público e as escolas estaduais e municipais se dedicarão a rememorar a saga do líder tragicamente falecido. Como era bom, despojado, generoso e voltado ao bem comum do povo pernambucano. Cartazes com a sua ilustre figura devem ser espalhados por todas as ruas, pontes, avenidas, prédios públicos, estradas e ônibus permissionários de concessão pública. 0s próximos hospitais, postos de saúde, escolas, bibliotecas, viadutos e outros equipamentos públicos devem ostentar o nome: Eduardo Campos, o defensor perpétuo do povo pernambucano. Historiadores devem ser contratados com recursos do instituto João Mangabeira para escrever a biografia do líder, de forma que as novas gerações possam conhecê-lo, depois de morto. A FACEPE deve ser mobilizada para oferecer bolsas de pesquisa àqueles que produzirem a melhor tese sobre a obra administrativa e político do ex-governador.
A guarda e o culto dessa memória deve ficar sob os cuidados da família (ampliada) Campos Accioly: o irmão-literato, a viúva combalida, os filhos do casal, os primos, os concunhados, os contraparentes e a extensa legião de "clientes" e apaniguados do ex-governador. O exercício continuado de rememoração da vida do morto deve servir de alimento da fabulosa coligação política que elegeu o seu candidato, seu senador e os filhos, seus correligionários e auxiliares administrativos e o messianismo eduardiano. Com o lembrete de que a administração pública do município e do Estado não deve ser confundida com a bacia das almas deste e do outro mundo. E que algum milagre o santo deve operar na educação, na saúde, no meio-ambiente, na mobilidade urbana, na segurança, no transporte público, porque a paciência dos crentes e fiéis tem limite. 0 santo não pode fazer o milagre só em casa!
Michel Zaidan Filho é cientista político, historiador, filósofo e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Tijolinho do Jolugue: Os girassóis estão com Dilma Rousseff
Quando o candidato Aécio Neves estava despencando nas pesquisas, comenta-se que, na Paraíba, o candidato que o apóia naquela Estado tinha dificuldade, até mesmo, de colocar suas bandeiras nas carreatas. Até então, mantinha uma diferença significativa sobre o candidato Ricardo Coutinho(PSB) e não era prudente que o seu nome não fosse associado a um candidato que estava na rabeira da disputa. Nos últimos dias do primeiro turno Aécio deu uma alavancada significativa, contornando o problema.A família Cássio Cunha Lima, inclusive, é responsável pela única vitória do tucano numa grande cidade do Nordeste, Campina Grande, cidade em relação à qual a coalizão petista precisa ficar atenta. Embora sendo do PSB, o governador Ricardo Coutinho, que disputa a reeleição, abre uma dissidência na legenda para apoiar o nome de Dilma Rousseff. O jogo está bastante equilibrado naquela Estado. Ainda não saíram pesquisas sobre o segundo turno, mas a expectativa é de uma disputa acirrada, voto a voto. O apoio de Ricardo vem num bom momento. Os arcos de coalizões que se formaram no primeiro turno das eleições naquela Estado não foram muito favoráveis à presidente Dilma Rousseff. O candidato do PMDB, Vital do Rego, obteve apenas 5% dos votos. De olho em Campina Grande, "Mago".
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