pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 11 de março de 2016

Michel Zaidan Filho: Psicanalisando o "Panopticum" da cidade universitária

    



                               

Nos anos 30, Sigmund Freud escreveu um ensaio famoso e profético sobre a civilização ocidental (O mal-estar na civilização), tratando de uma espécie de patologia social – a violência e o desejo de autodestruição. Nos anos 50, foi a vez de Erich Fromm fazer a sua psicanálise da sociedade (americana) contemporânea, apontando para uma estranha patologia da normalidade ou da massificação. Eis que em pleno século XXI, surge diante de nós, a comunidade universitária da Universidade Federal de Pernambuco, um corajoso estudioso que se propõe a fazer o diagnóstico e a psicanálise da instituição universitária. Há dias atrás, a psicanalista Rachel Ronik falava da doença da vaidade no meio universitário, em ensaio muito comentado nas redes sociais. 

Não me surpreendi porque seguindo as intuições de Nietzsche e do jovem Walter Benjamin venho acompanhando a transformação da cultura acadêmica nunca “cultura filisteia”, de resultados, sem vigor crítico ou utópico. Desde que foi estabelecido como padrão de produção científica o neo-taylorismo, ou o produtivismo acima de tudo, e o modelo cartorial e auto declaratório do “curriculum lattes” na universidade brasileira, a nossa vã e precária ciência virou uma decalcomania da cultura universitária americana.

O manifesto do referido professor, que é um educador, falava da existência de uma “pulsão de morte” na UFPE, que procurava demonizar o outro a todo custo. Essa pulsão de morte teria abolido o livre debate das ideias pela criminalização sistemática daqueles que se opunham a atual administração da Universidade Pública. Ou seja, as ações, as palavras e resoluções coletivas que questionavam os atos dessa administração estavam sendo tratados como crime e seus responsáveis, como réus em processos administrativos e policiais.

Essa pulsão de morte, que transformaria a UFPE numa espécie de espaço concentracionário, se manifestaria através dos seguintes indícios ou sinais: 1) o gradeamento da UFPE, segregando-a da comunidade adjacente: 2) a farda de guerra vestida pela guarda patrimonial da universidade:3) o uso exagerado de tecnologias nos centros e no campus em nome da “segurança”: 4) o emprego de uma linguagem estigmatizadora ou rotuladora:5) incapacidade de escutar o Outro (os moradores do entorno, os estudantes os críticos etc.):6) a manutenção do Estatuto universitário oriundo do regime militar, recusando o novo, fruto de uma amplo e democrático consenso universitário.

O pesquisador, utilizando referências teóricas como Max Weber e Enriquez (da sociologia clínica), fala da instituição de um imaginário burocrático, excludente e autoritário dentro da UFPE. Em oposição a um “locus” da liberdade de opinião e criação. Imagino que essa tarefa não deve ter sido difícil para o atual reitor e seus fiéis colaboradores, em razão das condições em que se deu sua reeleição: trocando apoios por cargos, coordenações, nomeações, núcleos de pesquisas etc. Com tais métodos de persuasão e convencimento, criou-se uma rede de clientelismo na universidade, que minou a autoridade moral e acadêmica da instituição, mas garantiu a reeleição do dirigente universitário. 

Ex-pró-reitores transformaram-se em oficiais de gabinetes, servidores foram investidos da função de Pró-reitores e docentes egressos de campi do interior passaram a integrar comissões de inquérito para criminalizar estudantes e funcionários, em função de suas ações contra a invasão policial ao campus (por duas vezes), a privatização da gestão do Hospital universitário, corte de bolsas, não pagamento às empresas prestadoras de serviço, cujo o triste espetáculo é a degradação física das instalações universitárias etc.

Como diria Freud e Fromm, há um mal-estar na comunidade universitária da UFPE. A impressão que se tem é de um gerente de gastos, não de um educador à frente da UFPE. O que faremos, antes que essa coisa toda degringole num regime falsamente meritocrático, mas profundamente autoritário e intolerante?

Basta de fascismo!

Basta da hipocrisia meritocrática!

Basta de autoritarismo!

Basta de criminalizar o direito de crítica e de opinião.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE


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Nota de repúdio às perseguições políticas na UFPE


Reitoria
A ADUERN – Associação dos Docentes da UERN – vem, através desta nota, repudiar as ações de violência e perseguição política aos estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que em outubro de 2015 ocuparam a Reitoria da instituição, reivindicando a implementação do estatuto discutido e aprovado pela comunidade acadêmica.
A estatuinte referendada determinou a paridade na universidade, com 33% de representação para cada segmento, diferente dos atuais 70% para docentes, 15% para técnicos administrativos e 15% para os estudantes. O Conselho Universitário (Consuni), porém, não ratificou a decisão democrática, o que ocasionou a ocupação.
Desde então, os discentes que participaram da manifestação vêm sendo vítimas de acusações, perseguição política e criminalização por parte da administração universitária, que mantém processos judiciais contra os estudantes.
Acreditamos que qualquer forma de reprimir e/ou cercear os diretos e a liberdade política é inaceitável, e isso se agrava quando falamos do contexto de uma universidade repleta de cientistas, pesquisadores e pensadores que tem como objetivo construir um novo mundo, a partir do conhecimento e da quebra de antigos paradigmas.
Defendemos o imediato arquivamento dos processos judiciais, assim como a implementação da estatuinte debatida e aprovada na UFPE. Solidarizamo-nos com os estudantes e todas as outras vítimas da perseguição política na instituição. Sabemos que o fantasma da repressão e violência ainda paira sob as universidades e somente com mobilização coletiva poderemos impedir decisões arbitrárias, como as tomadas pela Reitoria da federal pernambucana.
A luta por uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade não será calada, nem com processos judiciais nem com grilhões. Estaremos juntos e cada vez mais fortes na defesa de universidades autônomas e livres, que respeitem e representem os anseios e decisões populares.
A Diretoria
Foto: Clarissa Siqueira/Arquivo Rádio Jornal

quinta-feira, 10 de março de 2016

Charge!Aroeira via Facebook

O abandono da presidente Dilma Rousseff.



A oposição está tentando encontrar, a todo custo, ilícitos cabais que comprometem o Governo da presidente Dilma Rousseff, facilitando, assim, a tramitação de um processo de impeachment. Ainda não há, o que suscita ainda mais a certeza do engendramento montado no sentido de apeá-la do poder, mesmo que não haja elementos que justifiquem essa medida extremada. Obra de ressentidos que não respeitam o resultado das urnas. A situação de Dilma torna-se a cada dia mais complicada, em função de uma série de fatores desfavoráveis que parecem agir em conjunto, fragilizando o seu governo. A inflação deu até uma trégua no último mês, mas, a rigor, nada funciona a contento. 

Alguns analistas consideram hoje possível a ocorrência de um golpe, de caráter institucional, tramitando pela Casa Legislativa. É muito grande a pressão. Agentes econômicos e financeiros, setores da mídia, da sociedade civil organizada, do parlamento. Até mesmo o PT não esboça aquela solidariedade que se poderia esperar dele, após os acontecimentos que culminaram com a adoção de algumas medidas econômicas; a aprovação do Projeto Serra, que flexibiliza a exploração do petróleo do Pré-sal; além das ações da Polícia Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Quem estuda os golpes de Estado sabe que existem uma série de pré-requisitos para a sua materialização. Estamos falando aqui de um golpe de Estado tradicional. Como no Brasil nada ocorre de forma "tradicional", é possível que se encontre uma "saída" para o imbróglio em que estamos metidos, que pode passar pelo afastamento da presidente Dilma. Quando observava o país, o ex-presidente Jânio Quadros costumava dizer que éramos uma espécie de hímen flexível. A oposição perdeu nas urnas, mas insiste em usar o tapetão. Como disse outro dia, Dilma entregou os anéis(Pré-sal), mas eles desejam os dedos. O engendramento é ousado e está muito bem articulado, envolvendo agentes econômicos, políticos, do judiciário, da mídia, da sociedade civil. Dilma se indispôs até mesmo com as suas tradicionais e potenciais base de apoio. É um quadro muito difícil. Um terrível e angustiante abandono.   


Os perigosos tentáculos de um Estado Policial




Ontem publicamos aqui no blog um artigo do cientista político Michel Zaidan, onde ele discute os possíveis indícios de um Estado Policial no Brasil, diante da inação ou inoperância dos poderes constituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário). O caso do ex-presidente Lula talvez seja o mais emblemático exemplo do surgimento dos tentáculos desse Estado Policial, onde o aparato policial age sem os freios impostos pelas prerrogativas legais e constitucionais inerentes a todos os cidadãos, apoiados, pasmem, por setores midiáticos. 

Desde ontem que vem sendo veiculados por esses setores conhecidos da mídia - com grande estardalhaço - o fato de o Ministério Público de São Paulo ter apresentado denúncias contra Lula e a família do ex-presidente. Quem traduziu muito bem essa situação inusitada foi o jornalista Fernando Brito, do Blog Tijolaço: O MP está acusando Lula de ter ocultado bens que, na realidade, não são dele. Vejam  o absurdo da situação. Por outro lado, hoje ficamos sabendo que, acionado pelos advogados da família, o juiz Sérgio Moro resolveu devolver ao ex-presidente parte do material apreendido durante a 24ª fase da Operação Lava Jato. Creio ter havido aqui algum exagero nessas apreensões. Dizem que até a carteirinha que Lula guardava, ainda do período em que era líder do Sindicato dos Metalúrgicos, os caras levaram. 

Assusta observar pelas redes sociais alguns incautos aplaudindo essas operações, numa clara demonstração de que desconhecem a dimensão desse problema. Observem que, não raro, alguns ministros do STF apontam equívocos procedimentais nas decisões e ações determinadas no curso da Operação Lava Jato. Uma condução coercitiva aplicada equivocadamente, pode ser traduzida como um sequestro.Executivo e Legislativo, como observou o professor Michel Zaidan, estão literalmente "travados". Não se espere que dali possa surgir algum lampejo de lucidez.  

Priscila Krause continua articulando a sua candidatura. Tá difícil.




Ontem, a Deputada Estadual Priscila Krause fez um périplo em Brasília, conversando com lideranças dos Democratas, com o propósito de viabilizar sua candidatura à Prefeitura da Cidade do Recife, nas eleições de 2016. Disposição, a filha de Krause parece ter de sobra, assim como ocorre com o tucano Daniel Coelho. O problema são os arranjos e costuras no plano nacional, envolvendo assuntos graúdos - como o pedido de impeachment da presidente Dilma, por exemplo - que coloca as eleições do Recife, para alguns grêmios partidários, como coisa de varejo. O DEM é base de apoio da gestão do senhor Geraldo Júlio. 

Alguns dos grêmios partidários situados mais à direita do espectro político, como é o caso do Solidariedade e do PSD, já confirmaram que apoiarão o projeto de reeleição do prefeito Geraldo Júlio. Pelo andar da carruagem política, sobretudo em razão dos socialistas já se definirem como oposição ao Governo Dilma, tudo se conclui que os Democratas deverão fechar alianças no plano nacional que podem complicar os planos da deputada aqui na província.Diante deste contexto adverso e com o propósito firme de candidatar-se, ficamos sabendo que a deputada pensou até em mudar de legenda. 

Por enquanto, como pode, ela vai fustigando as contas da Prefeitura da Cidade do Recife e do Governo do Estado, ambos comandados pelos socialistas. Não nutro nenhuma identidade ideológica com ela, mas devo reconhecer - como já o fiz em outras ocasiões - que a deputada é uma das vozes mais ativas da oposição em Pernambuco. Consegue se sobressair, num contexto onde a oposição não passa de um arremedo. 

A estranha "leveza" dos comunistas no Recife.


É cada vez maior a nossa inquietação sobre como o PCdoB irá se comportar em relação às próximas eleições municipais do Recife.E observando as fotos que estão sendo publicadas pela imprensa, em eventos que confirmam a presença de algumas siglas - que já apoiam o prefeito - em seu projeto de reeleição, então, a preocupação é ainda maior. Qual será, afinal, o posicionamento desse partido na quadra local? As fotos em que aparece a figura do vice-prefeito, Luciano Siqueira, ele aparenta está mais contente do que pinto no lixo, ladeado por aquelas figuras emblemáticas da esquerda pernambucana como André de Paula (PSD) e Augusto Coutinho, do Solidariedade. Essas duas legendas já confirmaram que estarão no projeto de reeleição do prefeito Geraldo Júlio. 

Não é muito comum isso. É contraditório até com os princípios que sempre regeram as legendas comunistas - onde o projeto coletivo sempre predominou sobre o indivíduo - mas acredito que esta despreocupação do vice tem relação com um posicionamento já tomado: Ele aposta no projeto de reeleição do prefeito Geraldo Júlio, independentemente das consequências dessa decisão no contexto das eleições municipais de Olinda, que envolve um embate entre comunistas e socialistas. Olinda é Olinda, Recife é Recife. Suas declarações sobre este imbróglio, aliás, sempre foram muito comedidas, dando a entender que apostaria numa via diplomática, com muita vaselina política, nunca no confronto ou ruptura PCdoB/PSB.  

O PCdoB, a julgar por este e por outros comportamentos, parece hoje completamente descaracterizado. Seus membros são cada vez mais egoístas, pragmáticos, individualistas. Nada daquilo que se aprendeu na cartilha comunista de outrora. Para ser fiel à sua história, deveria ser o contrário. Tenho acompanhado com lupas o que ocorre no Estado do Maranhão, com a gestão do comunista Flávio Dino. Ele não corresponde às nossas expectativas... e nem a dos maranhenses que acreditaram nele. Ainda não conseguiu imprimir a marca do seu governo. Num rompante de publicidade institucional anda ao lado do motorista, mas, nas coxias, vem fazendo um governo de fazer corar os mais renhidos sarneysista. Aliás, infelizmente, para ser sincero, os sarneysistas continuam dando as cartas no governo. 

A máquina do Estado contra um único homem


troops
Parem para pensar.
Neste momento, quase uma vintena de promotores federais e estaduais, uma dezena ou mais  de delegados da PF, centenas de agentes, auditores-fiscais da Receita, juízes e assessores da vara de Sérgio Moro, centenas de servidores, carros, escritórios, tudo está mobilizado para encontrar o que possa levar à cadeia um único homem.
Luís Inácio Lula da Silva.
Entre vencimentos, vantagens, encargos e diárias deste pessoal, o Estado brasileiro – leia-se eu e vocês – gasta, por baixo, R$ 10 milhões de reais por mês. E olhe que isso é um cálculo conservador.nem coloquei, por exemplo, os quase 100 mil reais de auxílio moradia dos procuradores da República, nossos campeões da moral.
Se incluíssemos aí o valor da máquina de propaganda posta a serviço desta caçada, a conta subiria à casa do bilhão. Não é exagero, é só olhar o custo de páginas e páginas de pura reprodução do que querem dizer (ou vazar) os perseguidores de Lula. E a TV, em seus horários mais nobres, e as rádios, e os portais de internet…
Do outro lado, nem mesmo “passar o chapéu” para tentar organizar uma estrutura de defesa.
Imagine! Se até uns miseráveis pedalinhos para os netos viram sinais da ‘fortuna” amealhada pelo ex-presidente!
O combate é, evidentemente, para lá de desigual, mais ainda porque um lado pode tudo – o legal e o arbitrário – e o outro não pode sequer conhecer do que é acusado.
A tal “paridade de armas” em que se funda a luta jurídica é só uma ironia perversa.
E isso é assim porque se quebrou um princípio fundamental da operação do Direito, que é a função de equilíbrio dada ao juiz.
Quando o juiz, por tudo e todos os fatores, sente-se livre para misturar a instrução criminal com a função julgadora, a balança desaparece e sobra à Justiça só a espada.
Ou seja, seu poder passa a ser exercido apenas pela força, num combate onde, além do desequilíbrio, só um lado pode ser ferido e maltratado.
E quando a mídia se soma a ele, é como um massacre.
E o massacre é a antítese da Justiça.
É por isso que vivemos hoje julgamentos de sentenças prontas.
Mesmo em crimes que, se de fato ocorridos na extensão que se apregoa, a reparação seria essencialmente de natureza pecuniária – afinal, não faz sentido deixar um ladrão preso e rico, ainda que, para os delatores, a prisão seja apenas uma tornozeleira, ou nem isso – mas percebe-se o prazer mórbido de condenação na casa dos 20 anos para quem se lhes tirassem o dinheiro, nenhum mal seria capaz de causar.
Faz-se, porém, no desejo de transformar a pena num “pau-de-arara”, do qual a delação é a única forma de livrar-se.
Não vão acusar Lula, Dilma ou seus auxiliares? Acusariam as próprias mães!
não é possível que homens e mulheres com a cultura jurídica – sim , há exceções, concordo – dos membros do Supremo não enxerguem isso que esta á nossa vista, dos leigos.
Mas eles, juízes, estão tão prisioneiros quanto os encarcerados de Moro: se ousarem discordar serão condenados à pena da execração pública,
Viu-se, nestas rápidas pinceladas, o desigual do combate.
Não obstante, Lula irá travá-lo, mas precisa de novas forças.
E o que se quer, agora, decisivamente fazer é impedir que ele as desperte e reúna.
Esta força tem um nome.
Chama-se povo brasileiro.
E o povo brasileiro, pacato ordeiro e pacífico,  atende a rugidos.
Não a miados.
(Publicado originalmente no site Tijolaço, do jornalista Fernando Brito)


quarta-feira, 9 de março de 2016

Michel Zaidan Filho: O dilema patrimonialismo X republicanismo no Brasil





É rica e variada a ensaística brasileira que trata da herança portuguesa ligada ao Patrimonialismo. Nomes como Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro, Simon Schwartz, Oliveira Viana, Nestor Duarte constituem uma galeria de estudiosos das instituições políticas brasileiras, com uma profunda ênfase no uso privado, familista dos bens públicos e sua distribuição aos parentes, contraparentes, cupinchas, apaniguados e que tais. Essa tradição analítica foi consideravelmente ampliada com os últimos ensaios de Francisco de Oliveira e o último livro de Faoro sobre o liberalismo no Brasil. Oliveira fala de uma burguesia de Estado, que só acumula capital através de uma relação simbiótica com o Estado e suas políticas de “socialização das perdas”. Burguesia cartorial, da corrupção e da sonegação fiscal; dos grandes e pequenos negócios com os agentes públicos. Empresas que criam fundações humanitárias para esconder a face podre dos desvio do dinheiro público através da participação em grandes obras públicas.

Naturalmente que isso só pode ser feito com a cumplicidade dos gestores públicos. Eles são sócios no crime. São beneficiários, de um ou de outro modo. A criminalização dos ilícitos contra o erário público, seus atores, beneficiários e agentes do Poder Público, imputando-lhes a responsabilidade civil e criminal, punindo-os exemplarmente e exigindo a devolução ou o pagamento dos recursos desviados, não deve – entretanto- servir de instrumento de uma vindita ou catarse popular, sobretudo quando identificada com a figura do “vingador público”, seja um caçador de marajás ou um simples juiz. Mais problemático ainda é o uso ilegal, descontrolado ou partidarizado do chamado “Poder de Polícia” do Estado Democrático de Direito. Não se pode aceitar a existência de um estado policial e militar dentro do Estado Constitucional, regido pelo ordenamento jurídico da Nação. Isso ocorre quando os Poderes da República não funcionam, não cumprem com suas obrigações. Se o Legislativo legislasse, e o Executivo executasse e o Judiciário garantisse o cumprimento das leis brasileiras, o aparelho militar e policial não teria tanto autonomia. O ativismo policial corresponde à inação dos outros poderes.

E a sociedade civil brasileira? 0 que dizer de seus espasmos participativos? – Aqui entre nós não há propriamente o que se chama de “espaço público” no Brasil, entendido este como o lugar da formação racional da vontade política da sociedade. O que temos entre nós é um “espaço comum” produzido por uma sofisticada engenharia simbólica, destinada a nos fazer crer que pertencemos uma imaginária comunidade nacional, a um mesmo movimento ou causa comum. Pior ainda, por empresas jornalísticas (que são concessão do Poder público) que cuidam especialmente de seus interesses corporativos, sob o manto da inocência e da imparcialidade.


Agora junte os pedaços do quebra-cabeça: herança patrimonialista, burguesia de Estado, inação ou inoperância dos Poderes constituídos, instabilidade política social, e autonomia do aparelho policial. Aí vem o messianismo político (a ideia de que “Deus é brasileiro”) e que vai enviar um anjo vingador, com suas espada na mão, para nos redimir da ação dos carcomidos, dos corruptos, dos marajás etc. Claro que cada um espera que o messias saia de sua igreja, de seu partido, de seu movimento. Mas do caos, das desorganização institucional, da falta de esperança e confiança nas instituições públicas, pode brotar não o eleito que nos salvará do precipício na undécima hora, mas a besta-fera do apocalipse, e aí não vai ter para ninguém.


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD -UFPE. 

Não é um momento muito bom para greves, professores.



Mesmo com a decretação de sua ilegalidade, pela Justiça,os professores da Rede Municipal de Ensino do Recife resolveram entrar em greve. Nesses tempos difíceis - com enormes dificuldades de financiamento da máquina pública - já seria previsto que a Justiça decretasse a sua ilegalidade, creio, sobretudo em razão do comprometimento da Lei de Responsabilidade Fiscal do Município. Nesses momentos bicudos, se depender da Justiça, todas as greves no serviço público serão decretadas ilegais. Somente neste ano, mais de uma categoria de servidores resolveram sentar à mesa de negociações ou mesmo abdicarem de alguns dos seus pleitos, em razão do momento nada propício para os movimentos paredistas. Os professores do Estado e os policiais civis podem ser encaixados entre essas categorias. 

A fala acima parece até reproduzir a percepção de quem está do lado dos patrões ou a de um "pelego", aqueles sindicalistas que fazem o jogo do capital, por vezes até comprados. Não é este o caso. Como professor, entendo serem justas e legítimas as reivindicações da categoria. Entendo, também, que há sérios problemas de gestão da máquina, inclusive as conhecidas inversões de prioridades, onde as recomposições das perdas salariais dos servidores ficam relegadas a segundo plano. Aliás, quando o quesito é má-gestão, não tenho dúvidas de que os professores dariam uma nota ínfima aos seus atuais gestores. 

A questão, volto a repetir, é que a máquina pública, no momento, encontra sérias dificuldades para fechar a conta. Por culpa dos gestores? Sim. Eles possuem sua parcela de culpa. Há graves problemas na gestão da Rede Municipal de Ensino do Recife, refletidos, inclusive, nos baixos resultados alcançados nos indicadores de educação. Faz algum tempo que o Recife é uma das capitais com um dos piores desempenhos. Trata-se de um problema de tática de luta. Na nossa opinião, outras formas de enfrentamento deveriam ser esgotadas. A greve, no momento, pode resultar num enorme desgaste para a categoria, com multas pesadas ao sindicato que os congrega. 


terça-feira, 8 de março de 2016

Wanderley Guilherme dos Santos: Preparar para a hora do basta



A investigação Lava está à beira de implodir em razão do delírio ideológico dos promotores e do Juiz por ela responsáveis. A retórica desabrida, satanizando tolices, a desinformação e, pior, a antecipação de lances futuros, alguns fora da competência do Juizado curitibano, dificultam a distinção do que é prestação de contas, propaganda, dissimulação e wishfulthinking. A palavra “indício”, por exemplo, deixou de “indicar” algo e passou a gigantesca evidência, como o enxofre, da inconfundível presença do demônio. O óbvio planejamento de intervenções espetaculares de acordo com a temperatura política, e o crescente atrevimento com a descabida e prepotente condução coercitiva do ex-presidente Lula da Silva, resultam da complacência das autoridades superiores, no Executivo, Legislativo e Judiciário Trata-se de comportamento inquisitorial pré-concebido, insultando frontalmente as crenças cívicas da maioria dos pobres brasileiros e contaminando negativamente as expectativas da população, em geral.

À falta de, até agora, comprovados crimes de acumulação econômica ilegal, por parte do ex-presidente Lula, policiais e procuradores transformam um inquérito da mais absoluta pertinência e tempestividade em malabarismos de sessão matinal circense em torno de pedalinhos, um sítio e um tríplex. Ainda que fossem doados mediante recursos de uma “vaquinha” entre todas as grandes empreiteiras nacionais, e durante o mandato do ex-presidente, a questão é: e daí? – Sem comprovação de que alguma delas foi direta e ilegalmente beneficiada por intervenção do presidente (e não a mera suspeita, pois alguma sempre ganhará concorrências) aceitar os pedalinhos seria criticável, mas de limitado atentado à moral e ao patrimônio público. Ora, não só não apareceram provas, nem mesmo, ao que saiba oficialmente, delação de ninguém a respeito de nada, como os procuradores estão desviando o olhar da população do que é fundamental: a acumulação econômica ilegítima via predação de patrimônio e recursos públicos. Com o aplauso dos que consideram que delação justifica coação e até prisão estão dando cobertura ao diversionismo midiático, cúmplices dos ladravazes enriquecidos por acumulação econômica ilegítima.

Comparar o absurdo acúmulo pessoal de riqueza por parte de empresários, políticos e altos burocratas a um sítio supostamente presenteado a Lula, é sandice, péssima utilização do mandato investigativo que a sociedade lhes paga: onde estão as contas no exterior, coleções de obras de arte, veículos, propriedades rurais e urbanas para exploração econômica, viagens regulares por conta própria e passadio de primeira em Paris, Londres, Nova Iorque? Onde se esconde o acervo de joias de d.Mariza? E seu guarda-roupa de grife? Sítio em Atibaia e tríplex em Guarujá que nem do casal são? Ora, trata-se de outra manifestação de preconceito, presumindo que Lula, de origem pobre, tisnaria sua dignidade e a da função que ocupou interferindo nas ações públicas por preço tão vil. Claro, corrupção mesmo, a sério, só para eles, bem nascidos e mal acostumados.

Os responsáveis pela investigação devem um balanço claro da Lava-Jato e da expectativa de prazos de conclusão. Claro que a descoberta de evidências (não “indícios”) provoca alteração em cronogramas, mas a existência de um quadro de referência é indispensável para que o jornalismo possa acompanhar e a opinião pública possa avaliar se estão sendo eficientes e produtivos ou meramente difamadores e garotos propaganda de televisão.


Com a coação física e moral do ex-presidente Lula os responsáveis pela Lava-Jato talvez venham a se revelar indignos dos privilégios que desfrutam. O ex-presidente é um dos mais importantes recursos políticos dos miseráveis deste País, líder de governos capazes de provocar justamente esse ódio amparado em toga. Destrui-lo, seria uma derrota imensurável para os pobres e humilhados; destruí-lo injustamente, aproveitando os privilégios de classe e corporação, é inaceitável. Se for comprovada a precipitação e o infundado da coação ao ex-presidente, o insulto não poderá passar em branco. Juízes e procuradores deverão pagar pela ameaça em que se constituíram aos pobres do Brasil. Pedidos de desculpa serão insuficientes. Hora de preparação para o que estão pedindo. No grito, não mais.




(Publicado originalmente no Segunda Opinião)

segunda-feira, 7 de março de 2016

Michel Zaidan Filho: A criminalização da política no Brasil

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Os eventos ocorridos na quinta-feira e a condução "coercitiva" do ex-presidente Lula à Polícia Federal, em São Paulo, contribuíram para tirar qualquer dúvida da natureza policial que está sendo dada à crise política no Brasil. Ninguém duvida de que estamos no epicentro de uma aguda crise de governabilidade, que aliás alimenta a crise econômica que ora atravessa o país. Há como quê uma ação combinada entre os presos da Operação Lava Jato, suas presumidas delações premiadas, os vazamentos seletivos para a imprensa e as ações (ou etapas) da operação policial.  o esboço da delação premiada do senhor Delcídio Amaral estava pronta desde de dezembro, e no entanto só foi publicada na véspera da 24ª etapa da Operação Lava Jato. 

E entregue à revista semanal Isto É, não à Veja ou Época, porque estas últimas costumam antecipar matérias pela internet. Há algo de orquestrado nessa ação. Não se emite um mandado de condução coercitiva para proteger ninguém, mas para coagir alguém. Ao que se sabe o ex-presidente não se negou a ir depor na Polícia Federal. Mas pediu para falar com o seu advogado, antes. Se a oposição e os setores golpistas desse país acham que deram um tiro certeiro na direção do enfraquecimento político de Lula e no fim antecipado do mandato da Presidente Dilma, podem ter se equivocado redondamente.  Até ontem, a crise estava restrita ao Judiciário e ao Legislativo. 

Hoje ela pode se tornar uma crise social, mobilizar muitas pessoas e movimentos a tomar posição e ocupar as ruas para lutar pelo que acreditam. O caminho do quanto pior, melhor - que há muito tempo a oposição vem trilhando no Brasil - pode gerar um efeito político indesejado para aqueles que vivem a semear  ventos, mas não querem colher tempestades. As vivandeiras dos quartéis, os pescadores de águas turvas e os candidatos a messias, podem ser tão prejudicados, com a sua pregação golpista, quanto à sociedade brasileira. 

Faz tempo que não se vê uma agenda positiva no Congresso, que possa unir o país e tirá-lo da crise. Mas as catilinárias dos partidos da oposição podem sim entornar o caldo e preparar o ambiente para a quebra do compromisso democrático. Não podemos viver debaixo de uma ditadura do Judiciário, nem da Polícia Federal. É preciso que se restabeleça a boa fé e a veracidade dos agentes políticos na sociedade brasileira. O processo de desconstrução permanente das instituições e seus membros só favorece a interesses escusos, que não ousam mostrar a sua cara.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE


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Condução coercitiva? O que é isso, companheiro?

A arte de cevar urubus

domingo, 6 de março de 2016

Uma farofada na praia dos Marinhos




Num passado recente, já usei com muito mais frequência o microblog Twitter. Quando o usava, os debates eram quentes por ali, mesmo com as limitações impostas pelos 140 toques. Hoje, domingo, resolvi dar uma passada por ali. Talvez volte a usá-lo nos próximos dias, em razão de algumas chateações com a rede Facebook. Nossa preocupação, no momento, é o que poderá ocorrer em relação às mobilizações que estão programadas pelos coxinhas, que deverá ocorrer no dia 13/03. Eles já estão convocando a turma há algum tempo e, agora, depois do massacre midiático imposto a Lula, não seria surpresa se as ruas recebessem um número expressivo de pessoas. 

Em defesa da legalidade - daqueles que defendem o Estado Democrático de Direito e o respeito às regras do jogo da democracia representativa, nem precisa convocar. Eles já estão nas ruas, protestando na frente da sede da Rede Globo e realizando a famosa "farofada" na mansão dos Marinhos, num trecho de praia privatizada, no litoral de Paraty. Temos até receio de confirmar que essa propriedade é mesmo dos Marinhos, em razão de que eles já andaram advertindo os blogues "sujos" a esse respeito. 

Muito bem bolada essa ideia, uma vez que não existe nada que incomode mais os ricaços da burguesia do que uma farofada nas proximidades de suas propriedades. 

sábado, 5 de março de 2016

PSB abandona Dilma. É o PSB sendo o PSB.



Dizem que, sobretudo em política, os cavalos selados devem ser bem aproveitados. Mas, estamos falando aqui de oportunidades políticas históricas, aquelas que devem ser muito bem aproveitados, em benefício da sociedade. Oportunismo político já é uma coisa bem diferente. A decisão do PSB em anunciar que está desembarcando na oposição ao Governo Dilma, neste momento de turbulência, se encaixa mais como oportunismo político de baixo nível do que qualquer outra coisa. 

Lembraria aqui aos próceres líderes da legenda que o senhor Miguel Arraes, num dos momentos mais difíceis vividos pelo ex-presidente Lula, durante o mensalão, esteve em Brasília, para manifestar sua solidariedade ao conterrâneo. Um ato revestido de um grande simbolismo, dada a integridade e a grandeza política do senhor Miguel Arraes. Os socialistas de hoje já não ostentam a mesma envergadura. 

Este momento político de intensa turbulência serviu, também, para demonstrar que, hoje, longe daqueles tempos de Arraes, o PSB é o PSB. Em atos contínuos, no plano nacional, anunciou sua vinculação política à oposição e, de quebra, no plano estadual, a rescisão do contrato da Arena Pernambuco, sem dar maiores explicações à sociedade pernambucana e brasileira. 

A jararaca estará de volta em 2018. Cutucaram seu rabo.


A condução coercitiva imposta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva produziu alguns efeitos. Há uma série de mobilizações nacionais em defesa dos direitos mais comezinhos de nossa frágil democracia; uma indignação de setores sociais contra o ato de arbítrio; a confirmação do componente "político" em torno da operação Lava Jato; a "sintonia" da mídia golpista com o aparato judiciário, numa urdidura muito bem orquestrada no sentido de desmoralizar e inviabilizar o PT. Não que o PT não tenha cometidos erros. De fato, ele cometeu. Mas há um clara "seletividade" nas ações de setores do aparato judiciário com o propósito de punir membros da agremiação. O que está em jogo não é a defesa dos interesses republicanos, mas a montagem de uma engrenagem política disposta a ferir de morte seus adversários. É por isso que se diz que Lula já foi condenado. Essas ações são um detalhe desse enredo. 

A elite e a classe média brasileira são uma das mais insensíveis do mundo. Foi cevada nas diferenças impostas pelos 360 anos de trabalho escravo. As políticas de inclusão social do Partido dos Trabalhadores, mesmo com todos os percalços, tentou construir uma nação. Concretizar pontes entre o andar de baixo e o topo da pirâmide, que só se integram durante o carnaval e o futebol. As demonstrações crescentes de intolerância, de justiçamento, de execração pública, não deixam dúvidas sobre o ódio de classe, a incapacidade de convivência entre os estratos da pirâmide social. A elite não abre mão dos seus privilégios. As políticas sociais de inclusão da era petista incomodou muita gente. 

Não tenho dúvida que o fato de membros do PT ter se envolvido em casos de corrupção possa ter indignado a alguns, mas isso não seria suficiente para desencadear essa sanha enfurecida de ódio, demonstrada pelos manifestantes à direita do espectro político, contra o PT. O ex-presidente Lula ficou indignado com o tratamento dispensado a ele pela Polícia Federal, por determinação judicial equivocada. Num ato político, afirmou que tentaram atingir a cabeça da jararaca, mas erraram o alvo. Acertaram o rabo. Isso o deixou com a convicção de que querem atingi-lo de morte. Longe de esmorecê-lo, reafirmou seu propósito de disputar os votos dos eleitores nas eleições presidenciais de 2018. 

Governador Paulo Câmara rescinde contrato com a Arena Pernambuco


Agenda positiva em política, nesses tempos bicudos, é mesmo muito difícil. Aproveitando o tsunami que tomou conta do campo político com o desencadeamento da 24ª fase da Operação Lava Jato, sorrateiramente, através de uma nota soltada por sua assessoria, O Governo de Pernambuco anunciou a rescisão do contrato com a Arena Pernambuco. Olha, Paulo, devo informar que o Estado de Pernambuco agradece a medida, nesses tempos de austeridade, com grandes dificuldades de financiamento da máquina pública. Como reiteramos por aqui inúmeras vezes, políticas públicas do interesse da população estavam sendo comprometidas em razão dos contratos firmados nessa PPP
Gostaríamos, no entanto, que Vossa Excelência tivesse agendado um encontro com a imprensa - de preferência envolvendo os veículos mais independentes - para justificar tais medidas, com argumentos que demonstrassem o quanto a decisão - tomada no governo do seu antecessor - foi danosa, desde o início, para os interesses do Estado. É preciso, Paulo, que essa agenda negativa deixado pela seu antecessor seja mostrada para o povo de Pernambuco. Vossa Excelência é governador de um Estado. Sua responsabilidade republicana é enorme. 
Veja a nota oficial
O Governo de Pernambuco vem a público informar que decidiu rescindir o contrato de concessão com a Arena Pernambuco Negócios e Participações pelas razões que passa a expor:
1- A Arena Pernambuco foi entregue em junho de 2013 e custou R$ 479.000.000,00 (base maio de 2009), tendo 75% da sua construção financiada pelo BNDES e sendo a mais barata entre as arenas construídas no Brasil, levando em conta a capacidade instalada;
2- Após a realização da Copa das Confederações, a Arena começou a ser operada pela concessionária Arena Pernambuco Negócios e Participações, a quem cabe a obrigação de explorar economicamente o empreendimento;
3- Nesse período de exploração da Arena, o Governo do Estado de Pernambuco constatou que as receitas projetadas pela Concessionária não se confirmaram;
4- Diante da diferença entre as receitas estimadas e as realizadas, o Governo do Estado decidiu fazer uso do mecanismo de revisão contratual e encomendou à Fundação Getúlio Vargas (FGV) a análise do aspecto econômico do contrato, seus custos, suas receitas, apontando caminhos para a execução ou rescisão contratual, sempre com vistas a se obter a solução mais vantajosa ao interesse público;
5 – O estudo da FGV sinalizou o que a equipe técnica do Governo do Estado já tinha constatado: que a frustração de receitas decorreu da subutilização do equipamento. Diante disso, o Governo decidiu rescindir o contrato; Pela lei, o contratado deve ser ressarcido do saldo devedor da obra, uma vez que o equipamento foi efetivamente construído, está em funcionamento e pertence a Pernambuco;
6- No entanto, enquanto não houver uma decisão definitiva dos órgãos de controle quanto ao valor total da obra, o Governo do Estado não efetuará nenhum pagamento;
7- O Governo do Estado abrirá uma concorrência internacional para contratar uma nova empresa para a operação da Arena Pernambuco;
8 – Importante destacar que o contrato de concessão foi aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE), na decisão de n.o 0101011/2011; Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e BNDES;
9 – A análise encomendada pelo Governo do Estado de Pernambuco à Fundação Getúlio Vargas está disponível no Portal da Transparência no http://www.transparencia.pe.gov.br .

As sutilezas nada sutis da 24ª fase da Operação Lava Jato.



Lida na voz de Renata Vasconcelos, do Jornal Nacional, as explicações do juiz Sérgio Moro para não convocar a esposa de Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa Letícia, através do instrumento da "condução coercitiva", mereceriam uma análise de discurso. Ela "explica" porque Marisa Letícia não foi convocado através desse instrumento, assim como "justifica" a aplicação do mesmo para a ouvida do ex-presidente Lula. Essa é apenas uma das sutilezas nada sutis envolvendo essa fase da Operação Lava Jato.  É voz corrente entre os juristas que Sérgio Moro pisou na bola aqui. Não cabia tal instrumento no caso de Lula. E aqui não estamos "fulanizando", mas falando das garantias dos direitos individuais, de procedimentos republicanos, dentro do respeito ao Estado Democrático de Direito. 

Creio que, falar aqui sobre a ampla cobertura do Sistema Globo aos fatos, soa tautológico até mesmo para os anti-petista mais renhidos, que devem estar aplaudindo a atuação midiática de uma aliada de sempre. Seus repórteres e cinegrafistas foram hostilizados durante o episódio, numa evidente demonstração de que eles têm "lado". Mas é incrível a cadeia de "coincidências" dessa 24ª fase da operação Laja Jato. Estou apenas aguardando as capas das revistas Veja e Época desta semana. E o massacre midiático a que foi submetido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve terminar por aí. A sanha já foi desencadeada há algum tempo. 

Uma das outras "sutilezas" diz respeito aos tais pedalinhos batizados com o nome dos netos do ex-presidente, encontrados no sítio de Atibaia, adquiridos por Marisa Letícia, onde a Polícia Federal e o Ministério Público parecem encontrar indícios que levem aos reais proprietários da chácara. Como assim, senhores?  

sexta-feira, 4 de março de 2016

O xadrez politico das eleições municipais de 2016, no Recife: Priscila Krause anuncia que está na disputa



 


No dia de ontem, 03 de março, em evento na Câmara Municipal do Recife, oficializou-se a filiação da vereadora Marília Arraes ao PT. A cerimônia contou com a presença de ilustres integrantes da legenda aqui da província, como o senador e líder do Governo Dilma, Humberto Costa, e o superintendente da SUDENE, ex-prefeito João Paulo de Lima e Silva.Não se pode negar que o PT recebeu Marília Arraes de braços abertos. Sua ficha de filiação à legenda foi abonada pelo ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. 

Na última vez que discutimos este assunto aqui no blog, uma questão ainda ficou sem resposta: Qual o papel que a vereadora Marília Arraes deverá desempenhar nas próximas eleições do Recife, hoje na condição de aliada aos petistas? Até recentemente, pelas redes sociais, a vereadora deixou escapar que João Paulo será o futuro prefeito do Recife. Isso confirma a nossa hipótese de os dois pretenderem se transformar numa dupla infernal,com o propósito de atazanar o projeto de reeleição do prefeito Geraldo Júlio(PSB).

Com o gesto, Marília Arraes abre uma frente dissidente em contraponto aos neo-socialistas tupiniquins e na família Campos/Arraes. Em diversos momentos, que culminaram com o seu desligamento da legenda, Marília Arraes vem dando demonstrações coerência e independência. Consolida-se, no imaginário social recifense, a percepção de que a gestão socialista faz um governo para os estratos sociais mais aquinhoado, deixando os mais empobrecidos fora do seu rol de preocupações.

Creio que, se, de fato, João Paulo pretende candidatar-se deverá construir um discurso acerca do seu legado como prefeito da cidade, cuja gestão olhava com mais carinho para os mais empobrecidos. E olha que ele tem espertise suficiente para demonstrar que, em sua gestão, não houve inversão de prioridades, algo que se tornou lugar comum na atual gestão. O "cuidado com as pessoas",penso, ainda deve sensibilizar bastante o eleitorado. Marília, por sua vez, foi muito mal tratada pelos socialistas da terrinha. Nem lembrava mas desse episódio, mas, em sua carta de despedida da legenda, ela faz referência a uma cadela batizada com o seu nome. Era uma cachorra que, costumeiramente, perambulava pela sede do partido. Uma grosseria inimaginável.

Um outro fato que deve convergir com o "cuidado com as pessoas" é a sua identificação com legado arraesista. Com a crescente descaracterização e decomposição ideológica do PSB, Marília preserva-se como a verdadeira herdeira do legado do Dr. Arraes. Uma possível unidade discursiva pode sr construída entre ambos, Marília e João Paulo. Ele foi um dos que mais festejaram sua chegada ao partido. Vamos acompanhar o que acontece daqui para frente. A candidatura de João Paulo não é prego batido e ponta virada. Isso ainda envolve um longo processo de discussões internas na legenda.

E olha que, discussões, companheiros, continua sendo uma herança que a legenda ainda preserva. Logo que João Paulo anunciou sua intenção de postular ao cargo, projeto que contaria com o apoio de caciques nacionais da legenda, dirigentes locais fizeram questão de alertá-lo que isso passaria pelos canais legitimadores. É certo que, hoje, o partido passa por um processo de oligarquização, mas, o sotaque assembleístico ainda permanece Por outro lado, aqui no Estado, ainda predomina um acentuado grau de divisão interna da legenda, expondo facções contra facções, fragilizando-se diante dos adversários.

Quem soube explorar com maestria esses flancos foi o ex-governador Eduardo Campos que, com suas manobras, impediu que o partido se constituísse numa força política capaz de fazer um contraponto ao eduardismo. Deu o bote no momento certo - a despeito de nossas advertências - e desalojou os petistas do Palácio Antonio Farias. 

Quem continua com movimentação de candidato é o Deputado Federal tucano, Daniel Coelho. Seu nome aparece sempre entre os prováveis candidatos, a despeito dos acordos que poderão vir a ser celebrados, envolvendo o PSB/PSDB, no plano nacional, o que inviabilizaria uma candidatura local do partido. Em todo caso, o tucano, nascido de um ovo chocado no ninho tucano, posto ali por algum cuco. Hoje, mais do que nunca - depois da 24ª fase da Operação Lava Jato - ele coloca o seu bloco na rua. Estará presente nas manifestações contra o Governo Dilma, programadas para o próximo dia 13/03.Espero que ele não se zangue com essa brincadeira do Cuco. O Cuco é uma ave que não choca os seus ovos. Costuma ficar à espreita, retirar os ovos naturais de alguma ave desavisada, colocar os seus no ninho, que deverão ser chocados e tratados por esta ave, como se fossem os seus verdadeiros filhos. A observação vem à calhar porque não segredo para ninguém que Daniel é um tucano atípico.

Por outro lado, bem do lado de lá, leio hoje nos jornais uma matéria repercutindo uma entrevista da Deputada Estadual,Priscila Krause, do DEM, onde ela praticamente oficializa sua candidatura à Prefeitura da Cidade do Recife, em 2016. A jovem deputada anuncia que estará no jogo, sendo muito improvável um recuo. Vale o registro de que Priscila Krause, de fato, se movimenta como candidata já há algum tempo. Sua condição de Deputada Estadual a contingencia a ficar mais de olho no que ocorre no Palácio do Campo das Princesas, mas, quando pode, ela ão deixa de fustigar a gestão do senhor Geraldo Júlio(PSB).

Um dos primeiros obstáculos a serem contornados, é a sua filiação partidária aos democratas, um partido que integra a base de sustentação do prefeito Geraldo Júlio. A parlamentar possui uma base de apoio eleitoral já consolidado na cidade do Recife. 

quarta-feira, 2 de março de 2016

Em Pernambuco, os urubus voando de costa estão à solta.





Mantidas as atuais circunstâncias adversas na economia e na política, antevejo que o Partido dos Trabalhadores deverá enfrentar sérias dificuldades nas próximas eleições. Isso parece óbvio e é óbvio mesmo. Mas, como eu gostaria que algumas figuras de proa da política pernambucana não fossem bem-sucedidas nas urnas! Ah, como gostaria. Agora me lembro que, numa dessas eleições, o ex-presidente Lula, de uma lapada só, aposentou próceres figuras do campo político pernambucano. Não vou citar nomes por respeito a uma dessas figuras, que se encontra bastante enferma, mas recordo de ter escrito um longo artigo sobre os tais urubus voando de costa.  

Quando vejo hoje atores do campo político pernambucano festejando as agruras porque passa a presidente Dilma, torcendo pelo quanto pior melhor, completamente desprovidos de qualquer espírito público, peço a Deus que, do alto dos meus 55 anos, nos reserve aí mais uma duas eleições para que possamos reverter este quadro e continuar corrigindo as desigualdades sociais históricas da sociedade brasileira. Penso nisso em função do claro oportunismo político de alguns atores da província. Um eles é cuco verde. Nasceu aquecido (chocado)no ninho tucano mas faz questão de demarcar as "diferenças", apresentando-se ao eleitorado, supostamente, com outra plataforma. O danado é que há eleitores que acreditam nisso. O caboclo já estaria "engajado" nos protestos contra o Governo Dilma, marcados para o dia 13/03. 

Um outro, hoje Deputado Federal peemedebista, fez um discurso contundente contra a indicação da mãe do ex-governador Eduardo Campos para o TCU e declarou logo depois que não via nenhum problema em relação à indicação de João Campos, filho do ex-governador, para a Chefia de Gabinete de Paulo Câmara. Onde ele escondeu a coerência, em gente? Vocês lembram desse episódio?  

Jaques Wagner amplia seus nacos de poder no Governo Dilma Rousseff




O Ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, chegou ao Governo Dilma pelas mãos do ex-presidente Lula. Hábil articulador político, é um homem de sua inteira confiança. Agora mesmo, por ocasião da substituição do Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, coube a Wagner indicar o seu substituto, o procurador Wellington César Lima. A relação entre ambos é das melhores. À época em que ocupava um cargo que tinha como obrigação fiscalizar o Governo Baiano, Wellington nunca criou o menor embaraço para o então governador, Jaques Wagner. Em Brasília, Wagner o pinçou para o Ministério da Justiça. O que se comenta nas coxias do poder, em Brasília, é que Jaques estaria tentando emplacar vários nomes de sua confiança naquela pasta, ampliando seus nacos de poder. Isso já estaria deixando alguns integrantes do governo enciumados. 

A realidade é que, com a saída de Cardozo daquela pasta, ocorreu uma remexida geral no órgão. Creio que alguns nomes devem sair até mesmo em solidariedade ao ex-chefe. Como Wellington é procurador, há setores que veem alguma incompatibilidade no exercício da função. O STF já teria sido acionado para pronunciar-se sobre o assunto. Não gostaria de ser indelicado com o futuro ministro, mas, pelo andar da carruagem política, quem deve mesmo dar as cartas naquela pasta daqui para frente será o ex-governador baiano. 

Vereadores de Caruaru aumentam seus salários em 70%. Imoral.





Normalmente, nos mês de outubro, em razão das festividades em comemoração ao dia das crianças, costumo visitar a cidade de Caruaru com a família. É um bom momento para medirmos a temperatura do termômetro político local. Já faz um bom tempo que mantemos essa agenda. Este ano, pretendemos voltar, independentemente dos abalos sísmicos observados até mais recentemente. A cidade é um pulsos políticos mais importantes do Estado. Para as próximas eleições, então, o caldeirão deverá ferver. Mas, o abalo sísmico de hoje foi produzido pela Câmara de Vereadores do Município, que aprovou um aumento de 70% dos salários dos vereadores daquela Casa, previsto para ser pago a partir de Janeiro de 2017, o que deverá elevar os salários dos atuais R$ 9.000,00 para R$ 15.000,00. 

Naturalmente que a repercussão será muito negativa junto à população. Sobretudo se considerarmos o atual momento de dificuldades, onde se espera exemplos de austeridades de todos os setores, principalmente de órgãos de governo e casas legislativas. Os servidores públicos federais do Executivo receberam uma promessa de 5% previstos para agosto de 2016 e mais 5% para Janeiro de 2017. Está todo mundo com a corda no pescoço. 7, 2 mil estudantes da UFPE devem perder suas bolsas, em razão de cortes orçamentários. A concessão de um aumento de 70% nos salários, nas atuais circunstâncias, soa irreal, fora da realidade e, portanto, imoral. 

Pátria Educadora deixa 7, 5 mil estudantes sem bolsa na UFPE



Já faz algum tempo que não publicamos notícias boas por aqui. Peço um pouco de paciência aos nossos diletos leitores para anunciar mais uma notícia ruim. Na realidade estamos vivendo momentos muito delicados na política e na economia. Leitores minimamente informados estão acompanhado as turbulências cotidianas, nos dispensando da necessidade de fazer aqui uma exposição de motivos para chegarmos a essas conclusões.Vou poupá-los dessas mazelas, mas não poderia deixar de comentar o que vem ocorrendo com a Universidade Federal de Pernambuco. Vale a ressalva que o problema vem de Brasília e está relacionado aos cortes de verbas destinados a alunos bolsistas. Cortes de verbas recentes, deixaram o cobertor da Pátria Educadora muito curto.

Aliás, creio que, mantido esse "apagão econômico", não vejo como possamos manter as condições de sustentabilidade das políticas de inclusão social que sempre caracterizaram os governos da coalizão petista. Até mesmo economistas como Marcio Pochmann e Marcelo Neri já alertaram para o problema. E olha que eles são insuspeitos para falarem sobre o assunto. Pochmann chegou a afirmar, com todas as letras, que o legado de conquistas sociais da Era Petista está ameaçado. Ambos economistas são identificados com as políticas redistributivas de renda dos governos Lula/Dilma. 

Depois de presidir o IPEA, Marcelo Neri assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos, sempre preocupado com essa questão. No segundo mandato de Dilma, surpreendentemente, entregou o boné, logo no início. Voltou a dar aulas na Fundação Getúlio Vargas. Parecia antever os problemas que enfrentaria pela frente. Pois bem. A tal Pátria Educadora acaba de cortar 3, 4 milhões do auxílio estudantil, o que deixará 7, 2 milhões de estudantes sem bolsa na UFPE. Muitos deverão desistir ou trancar os cursos. É algo que, por conhecer de perto como isso funciona, nos deixam preocupados. Nesse ritmo, a tendência é que os programas sociais do governo estejam irremediavelmente comprometidos.