pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 16 de abril de 2016

O day after do Brasil será na rua

O capítulo decisivo após a votação do impeachment será na rua, onde a onda progressista cresce, e na corrida para 2018, que Lula lidera.

por: Saul Leblon

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Seja qual for o placar da Câmara no domingo, 17, o day after da votação não inaugurará uma nova hegemonia com força e consentimento para repactuar as linhas mestras da sociedade e do desenvolvimento brasileiros.

Ao contrário.

Provavelmente apertado, o resultado reafirmará a natureza do impasse histórico em que se encontra o país.

Assiste-se a uma ofensiva sem volta de uma parte da  elite brasileira –com seus elos internacionais-- para derrubar o governo da Presidenta Dilma Rousseff e promover uma restauração neoliberal na oitava maior economia do planeta e principal referência da luta pelo desenvolvimento no mundo ocidental.

 
Se perder a sua aposta parlamentar, o golpe não desistirá.

Acionará outras modalidades com o mesmo objetivo, por uma razão bastante forte.

O conservadorismo simplesmente não dispõe de uma opção eleitoral capaz de derrotar o PT nas urnas e implantar o lacto purga de ‘livre mercado’ que preconiza para substituir o ciclo de expansão vivido desde 2004.

Nem mesmo o fuzilamento diuturno de Dilma, Lula e do PT desde a vitória presidencial de 2014 conseguiu atenuar essa limitação conservadora.

São robustas as chances de um novo revés em 2018.

Foi isso que o Datafolha alertou neste domingo   –talvez com a deliberada intenção de acelerar o pacto golpista, mas escondido do leitor no pé da pág. 8.

Ali se acoberta uma singela notícia para um  momento como o atual.

Lula lidera a corrida para 2018 em três de quatro cenários testados e empata com Marina num quarto.

Mais que isso.

Sob perseguição explícita do aparato judicial e midiático, refém de manipulações grosseiras e vazamentos seletivos, seu índice cativo de melhor presidente da história saltou para 40% em 20 dias (era 35% na pesquisa anterior, de março). 

Sob massacre ininterrupto, ainda assim sua taxa de rejeição caiu de 57% para 53%, enquanto a dos rivais subiu, puxada pela de Aécio, que saltou 10 pontos, a de Temer (seis pontos) e a de Marina (cinco pontos).

O veículo dos Frias naturalmente omitiu interações que exigiriam cogitar um clima de virada no ambiente político, mas o fato é que a  taxa de apoio ao impeachment de Dilma também caiu neste último Datafolha.

E não na margem de erro.

Em 20 dias de intenso fogo midiático contra a Presidenta, o apoio ao impeachment recuou expressivos sete pontos (61% x 68%). 

É tão disfuncional para a linha da Folha que seus editores acharam por bem escondê-la.

O que teria levado a essa reversão a uma semana do voto decisivo?

A explicação ajuda a entender porque o conservadorismo foge da urna como o diabo da cruz.

O que mudou nos últimos 20 dias é que Dilma foi à luta.

A Presidenta despiu a tecnocrata e se assumiu líder de um governo sob cerco golpista.-

As cerimonias no Planalto deram centralidade aos movimentos sociais. 

Abriu-se a agenda para atos políticos  que de outra forma seriam sabotados pela mídia, como o encontro dos artistas, o dos intelectuais e o recente, com movimentos de mulheres.

Mais que isso.

Lula voltou às ruas.

Ao contrário do que muitos alardeavam, e alguns temiam, encontrou empolgante receptividade desde a apoteótica manifestação do dia 18, em São Paulo.

Para onde iriam as atuais taxas de rejeição do ex-presidente, em uma disputa eleitoral em que eventos como esses repetir-se-iam diariamente, sendo repercutidos no horário eleitoral para todo o país?

A resposta qualitativa sugere que para toda uma geração do PSDB, de Serra a Alckmin, passando por Aécio e Richa, a chegada ao  poder passa pela caça a Lula e depende do êxito de um golpe de Estado.

Novas e velhas gerações progressistas e democráticas, ao contrário, reaprenderam no ascendente ciclo de mobilizações dos últimos 20 dias, que o governo tem base social disposta a defende-lo; e que a  rua pode engasgar o golpe mesmo com o dispositivo midiático e o aparelho judiciário ao seu dispor.

Em resumo: se vencer dia 17, o golpismo enfrentará uma crescente, tenaz e diversificada resistência de partidos, movimentos sociais, sindicatos, intelectuais, artistas e classe média democrática.

É apenas um pálido retrato do que pode ocorrer.

Mas já se configura uma espiral só equivalente à de 2002, quando a esperança venceu o medo em concentrações e massa pelo país; ou às gigantescas manifestações pelas Diretas Já; ou ainda às demonstrações de contestação à ditadura militar, posteriores ao golpe de 1964, até a edição do AI-5, em 1969.

É essa a filiação do impressionante movimento que em poucas semanas –desde o quase sequestro de Lula por Moro, em 4 de março--  catalisou um sentimento difuso de indignação, sacudiu a classe média democrática, reaglutinou a intelectualidade progressista, articulou-a aos movimento sociais e às centrais de trabalhadores  e começa a ganhar capilaridade organizada, com o florescimento de centenas de comitês pela defesa a legalidade, unificados na Frente Brasil Popular.

E não só em universidades.

Neste final de semana, intensificou-se a irradiação da resistência nas periferias das grandes capitais.

Em São Paulo, Brigadas Populares Contra o Golpe visitaram bairros como Jardim Miriam, Vila Prudente, Itaquera, São Miguel Paulista etc. 

Trata-se de somar à resistência democrática a barragem popular contra o arrocho social e fiscal envelopado no programa do impeachment, ‘Uma ponte para o Futuro’.

Portanto, não há trégua à vista.

O que pretende o conservadorismo é incompatível com a legalidade, a Constituição e as urnas.

Significa que ao terceiro turno em curso, suceder-se-á um quarto, um quinto, um sexto até que se defina o novo ponto de coagulação política que dará forma a outro arranjo de poder e de desenvolvimento.

Interesses antissociais e  antinacionais viram nesse vazio conflagrado a chance de se impor àsociedade por um atalho permeável a projetos de reduzida chance eleitoral.

 
Passo a passo vem promovendo os requisitos ao seu objetivo histórico, a saber:


1. destruir o Partido dos Trabalhadores e tornar suas lideranças sentenciadas e inelegíveis; 

2. fazer a economia gritar:  paralisar o mercado,  sabotar o crescimento,  congelar o investimento, gerar desemprego, insuflar incerteza, pânico e ódio, sobretudo na classe média;

3. desqualificar políticas públicas e avanços obtidos na organização da economia, do mercado de trabalho, das políticas sociais e da soberania geopolítica, corroendo  na prática o espírito e os objetivos da própria Constituição de 1988. 

A crispação se vale daquele que talvez tenha sido o erro superlativo dos governos liderados pelo PT: manter intocado o aparato de comunicação nas mãos da direita brasileira, ademais de supor que seria aceito como sócio remido no clube da lambança eleitoral. 

A cobrança atual mostra o custo mortal dos dois erros.

Definitivamente, o arranjo de poder que sustentou os governos do PT desde 2003 não existe mais.

E não há viagem de volta na história.  É preciso afrontar o projeto de país embutido no golpe com um outro projeto e uma outra governabilidade. 

Dispor de base parlamentar continua vital.

Ela terá que ser recomposta. Mas não será mais capaz –se é que um dia foi-- de sustentar a coerência e a eficácia de um governo determinado a avançar na construção de uma democracia social no país.

Novos atores (frentes populares, mesas de pactos setoriais) e novas formas de participação democrática (conferências nacionais deliberativas, plebiscitos etc) terão que ser construídas. A informação plural terá que romper a blindagem do monopólio conservador, ou será impossível debater alternativas aos impasses do desenvolvimento. 
 

A pedra de toque dessa trajetória consiste em restaurar transparência aos dois campos em confronto na sociedade para expor o agendamento conservador ao céu que o protege: os interesses da elite dominante.

Não há saída puro sangue.

Será preciso negociar pactos, metas, salvaguardas que preservem conquistas, admitam concessões temporais e garantam ganhos estruturais .

Saber onde estão as respostas e reunir a energia política capaz de validá-las é a fronteira que divide a derrota da inauguração de um novo ciclo histórico.

A hegemonia necessária à retomada do desenvolvimento nascerá desse encontro entre  ideias e os fatos criados nas ruas e nas mesas de negociação. 

A seguir, algumas diretrizes extraídas de documentos produzidos por intelectuais engajados em pensar o day after da nação brasileira:

‘...a preservação do emprego e da renda dos trabalhadores é crucial para estancar o retrocesso social e para a consolidação de um mercado interno de consumo de massas capaz de sustentar o crescimento econômico e, por consequência, revigorar a arrecadação governamental, baseada, em grande parte, nas contribuições sobre a folha de salário ... são necessárias medidas emergenciais de curto prazo: o Programa de Preservação do Emprego deve ser ampliado, ter sua duração estendida. A utilização de crédito direcionado dos bancos públicos, condicionado a acordos de manutenção dos empregos, é outro exemplo nessa direção’;

... a definição de meta fixa ou rígida para superávit primário desconsidera que as receitas são afetadas pelo comportamento do quadro macroeconômico nacional, internacional e do cenário político (...) O estabelecimento de “bandas” em torno de meta do superávit, ao invés da fixação de uma taxa fixa, especialmente num período de “travessia” onde reinam incertezas sobre os resultados, é o mais recomendável’; 

‘...a retirada de parte ou da totalidade dos investimentos públicos das metas de superávit primário, é recomendável, uma vez que tais investimentos geram receitas futuras e se financiam no médio e longo prazo’; o desbloqueio do investimento público pode ser capaz de reativar o circuito do gasto privado, ajudando a economia a reverter sua atual situação recessiva e aumentando a receita fiscal’;

‘...em diversos países a meta para a inflação é distribuída num intervalo de 24  meses ou a uma variação de longo prazo, o que dá mais margem à política monetária (juros) para responder apenas às elevações permanentes de preços’; 

‘...combater uma inflação de múltipla origem exige a adoção de políticas e instrumentos econômicos mais refinados e sofisticados que a simples manipulação da taxa básica de juros da economia. Não é com desemprego que se combate inflação’;

‘...Banco Central brasileiro deve ter um mandato duplo, centrado no combate à inflação e à geração de emprego, com a utilização de outros instrumentos de política monetária para a obtenção simultânea destes objetivos’;

‘... a taxa de câmbio real/dólar é umas das mais voláteis do mundo, com um mercado de câmbio extremamente permeável à especulação financeira. As altas taxas de juros têm grande responsabilidade na atração de capitais especulativos que provocam rápidas ondas de valorização e desvalorização cambial, mas há no país também uma institucionalidade que favorece essa especulação; aqui, os movimentos da taxa de câmbio não refletem o fluxo de moeda, mas sim o mercado de derivativos onde se negocia múltiplas vezes o volume de dólares do mercado à vista. A opção por uma taxa de câmbio menos volátil, que reflita as condições reais da economia, exige a regulação ampla do mercado de câmbio, não apenas para disciplinar o fluxo de moeda, mas também a operação com derivativos’;

‘...para voltar a crescer é preciso reverter a atual política monetária; taxas tão altas de juros não encontram nenhuma justificativa numa inflação que é preponderantemente de custos (desvalorização cambial, aumento de preços de bens e serviços monitorados pelo governo, e a própria elevação dos juros), além de alguns problemas de sazonalidade (alta dos alimentos devido à seca etc.). No longo prazo, juros como os atuais alimentam a desindustrialização e estagnação da economia com o consequente flagelo do desemprego. O Brasil vive  uma recessão em processo avançado, com rápido aumento do desemprego e queda do rendimento médio do trabalho, ademais de índices crescentes de inadimplência e recuo no grau de utilização da capacidade produtiva da indústria. O déficit primário (sem o custo dos juros da dívida pública) representa pouco menos de 10% do resultado nominal global (que inclui o peso dos juros). A principal responsabilidade pela magnitude do déficit nominal, no Brasil, portanto, reside na manutenção desnecessária de taxas de juros excessivamente elevadas e nas rotineiras intervenções do Banco Central no mercado de câmbio, com a venda de swaps cambiais. Juntos, os juros e as perdas do BC com essas operações, já são responsáveis por despesas financeiras da ordem de  7% do PIB, ou seja, cerca de 90% de todo o déficit nominal. Mantido essa dinâmica não há como a relação dívida bruta/PIB deixar de crescer, asfixiando o lado real da economia em nome do combate a uma inflação que não é de demanda’;

‘... a melhor alternativa ao arrocho fiscal é a recomposição da capacidade de financiamento do Estado e a melhor alternativa à recomposição dessa capacidade de financiamento é o crescimento da economia, que potencializa as receitas governamentais. Dado o atoleiro no qual o país mergulhou, porém,  deve-se aproveitar ainda os espaços existentes para recompor a capacidade de financiamento público pela revisão dos incentivos fiscais, o combate à sonegação e, principalmente, pela realização de reforma tributária que enfrente a vergonhosa injustiça do sistema brasileiro, altamente regressivo e ineficiente. A revisão da política de renúncia fiscal nos casos em que não produziu o resultado previsto também se impõe. O Brasil é vice-campeão mundial em sonegação de impostos (13,4% do PIB). Perdemos apenas para a Rússia (14,2% do PIB). Em valor, a evasão fiscal em 2011 foi de US$ 280 bilhões, só atrás dos EUA, de US$ 337 bilhões (o valor da sonegação norte-americana, no entanto, corresponde a somente 2,3% do PIB). A recriação (mesmo com alíquota reduzida) de um imposto sobre transações financeiras contribuiria assim  para a definição de uma base de dados transparente, que dificultasse  a evasão fiscal, concentrada nos setores mais ricos da sociedade’;

‘...o Brasil é uma das sociedades mais desiguais do mundo. O topo da pirâmide social, formado por 71.440 pessoas com renda mensal superior a 160 salários mínimos, totalizou rendimentos de R$ 298 bilhões e patrimônio de R$ 1,2 trilhão em 2013. Essa minúscula elite (0,05% da população economicamente ativa) concentra 14% da renda total e 22,7% de toda riqueza declarada em bens e ativos financeiros. Esses extremamente ricos apresentam elevadíssima proporção de rendimentos isentos de imposto de renda. Outra face da injustiça do sistema tributário brasileiro reside na inexistência de imposto sobre a distribuição de lucros e dividendos. Entre os 34 países da OCDE, apenas a Estônia adota semelhante bizarrice. Em média, a tributação total do lucro (integrando pessoa jurídica e pessoa física) chega a 43% nos países da OCDE (sendo 64% na França, 48% na Alemanha e 57% nos EUA). No Brasil, a taxa é inferior a 30%. As raízes desse descompasso remetem às reformas realizadas ditadura militar, ampliadas no ciclo neoliberal dos anos 90. Nenhum governo ousou mudar essa equação, que se transformou em fonte de degenerescência da estrutura tributária e em obstáculo para o crescimento econômico e a justiça fiscal. Não se justifica condenar os deserdados a pagarem os custos do desajuste fiscal recessivo para preservar o privilégio tributário dos ricos: é possível simultaneamente fazer justiça fiscal e justiça social’;

‘...é preciso construir uma rápida resolução das crises no setor de engenharia e petróleo e gás no Brasil, fundamentais para a retomada do investimento. Sem se contrapor às investigações de corrupção, o governo deve convergir para uma proposta de curto prazo: punir os corruptores e multar as empresas, sem retirar destas a capacidade de ação e investimento. Outra opção é  terceirizar o controle e a gestão, com a troca do seu controle acionário quando a  direção estiver desabilitada por crimes comprovados. A possibilidade de pagamento das multas judiciais com ações garantiria a saúde financeira dos grupos e possibilitaria uma saída negociada para alterar seu controle acionário, mantendo-se os  investimentos e a capacidade de gerar emprego’;

11.’...é vital preservar a política salarial para garantir expansão do mercado interno de consumo de massas; esse é um dos pilares do ciclo de crescimento recente e constitui em importante vetor da impulsão da economia; também para a retomada do crescimento econômico e industrial é fundamental que não se retroceda na política de valorização do salário mínimo. O fortalecimento do mercado interno deve ser harmonizado com políticas monetária, cambial, comercial e industrial para evitar que seu dinamismo resulte apenas em aumento das importações, em detrimento da industrialização brasileira’;

‘...o gasto social brasileiro é um importante vetor da demanda agregada. Por seus efeitos multiplicadores, o sistema de proteção social se constitui em instrumento para, simultaneamente, impulsionar o crescimento e reduzir as desigualdades. Um incremento de 1% do PIB nos gastos com educação e saúde, por exemplo, gera crescimento do PIB de 1,85% e 1,70%, respectivamente; o aumento de 1% do PIB nos gastos dos programas Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada e Previdência Social eleva a renda das famílias de 2,25%, 2,20% e 2,10%, respectivamente; um choque de 1% do PIB no gasto com saúde enseja uma diminuição de 1,5% no índice de Gini’;

‘... É preciso barrar qualquer proposta que vise retirar (ou desvincular, como consta do programa do golpe, ‘Uma ponte para o Futuro’) recursos destinados aos investimentos sociais e aos serviços públicos, em particular aqueles com potencial dinamizador mais elevado. A melhoria da gestão dos recursos pode ser fonte de economia de recursos para a União, desde que não impliquem em redução da qualidade e do acesso’.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Editorial: A sorte está lançada. Não apenas a de Dilma, mas a de todos os brasileiros.




O chefe da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, é um cidadão muito polêmico. Sobre ele já disse muita coisa, até mesmo que era o mais tucano dos assessores do Planalto. Isso, claro, quando exercia outras funções. Como ministro da Justiça, não raro, foi acusado de criar alguns embaraços para os petistas, ao não manter controle sobre as operações da Polícia Federal. No geral, ele sempre foi visto como um cidadão que transmite uma certa dubiedade. Agora, no entanto, ao assumir a defesa da presidente Dilma Rousseff, não se pode negar que ele se empenhou bastante e produziu uma peça de defesa irretocável. Mas, como se sabe, o problema nunca foi jurídico. 

Havia algumas divergências no Palácio do Planalto sobre se seria aconselhável recorrer ao STF no sentido de impedir a votação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff no próximo domingo. Havia o temor de um "desgaste" com uma eventual rejeição do STF. Se ficou mais "desgastada" a situação do Planalto eu não sei. O fato é que a sorte está mesmo lançada para o dia 17, no domingo. A maioria dos ministros do STF não viram nenhum problema de o pedido ser votado como está. Compete aos parlamentares ficarem atentos às tais pedaladas, que é o que está em jogo, e deixarem as outras questões de lado.

Aos coxinhas de plantão e aos brasileiros preocupados com os rumos que o país pode tomar consumado este processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, que cumpre apenas uma das etapas do jogo, aconselharia a leitura do artigo do professor Fernando Magalhães, publicado aqui no blog. Deixo o link com vocês no final deste editorial. Assim como a peça de defesa da presidente Dilma Rousseff, produzida por Cardoso, poderia refrear essa insensatez - como informa o cientista político Michel Zaidan Filho. Isso se houvesse algum interesse de conciliação nacional entre esses abutres - o artigo do professor Fernando Magalhães antecipa cenários que deixariam qualquer parlamentar de sobreaviso sobre o day after. 

Não são todos que bradam o  "Fora, Dilma", que dimensionam corretamente o problema. Em 1964, por exemplo, hoje uma das entidades mais engajadas na defesa do impeachment, a OAB, apenas se deu conta do problema com a decretação do Ato Institucional Número 05, que comprometeu bastante as liberdades individuais e coletivas. Várias secções regionais da OAB foram vítimas de atentados, inclusive a pernambucana, e, nem assim, parece que eles aprenderam a lição. Em 2016 estão aí, novamente, para endossar essa ilegalidade contra o mandato da presidente Dilma Rousseff. 

Se Dilma cair ela não cairá sozinha. Levará com ela os milhares de brasileiros e brasileiras que votaram nela nas eleições de outubro de 2014; os avanços conquistados no enfrentamento do problema da pobreza no país; o legado da diminuição das desigualdades sociais; o combate sistemático à corrupção; e, o mais importante: a manutenção e o aperfeiçoamento de nossas instituições democráticas. Sem o devido respeito ao seu mandato, corremos sérios riscos de um retrocesso. Perdemos todos. Vai com Dilma o fio da esperança da legalidade, da preservação do Estado Democrático de Direito, que passou a ser "assediado" nos últimos anos.   

Editorial: Dentro das regras da legalidade, não há mais nada a negociar.






A julgar pelo jogo bruto que está sendo jogado em Brasília, pelos operadores que trabalham pela aprovação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, não descarto a possibilidade concreta de o Planalto encontrar alguns problemas no sentido de conquistar os 172 votos necessários para barrá-lo na votação programada para o próximo domingo. O rolo-compressor envolve desde a negociação de cargos e vai ao limite das ameças veladas, conforme já foi denunciado. O que está em jogo não é apenas a "cabeça" da presidente Dilma Rousseff, mas o pescoço de inúmeros parlamentares envolvidos em falcatruas com o dinheiro público. Feita as contas, aprovado o impeachment da presidente, já está acertada as outras etapas do jogo, numa operação que envolveria acordos no sentido de poupar determinados parlamentares de constrangimentos legais. Isso sem falar na brutalidade ( ou pacote de maldades) das medidas de ajustes que estão sendo pensadas pelo conjunto de forças que desejam o PT fora do poder. Afora o mais que provável "endurecimento" do exercício do poder político.

É um jogo de bandidos. Um jogo para se jogado entre as facções do crime organizado que, na absoluta ausência do aparelho de Estado, controlam as unidades prisionais. Um governo que tem Michel Temer como vice não é, necessariamente, nenhum "mocinho", mas há uma nítida impressão de que as forças governistas perderam a capacidade de "barganha". Se o pedido de impeachment é aprovado pela Câmara dos Deputados, dificilmente o Planalto conseguirá sua reversão na apreciação pelo Senado Federal. Uma derrota acachapante do Planalto na Câmara produziria um efeito devastador no Senado Federal. Seria pouco provável estancar essa sangria, com os "coxinhas" comemorando a vitória como se fosse a conquista de uma copa do mundo.   

Em última análise, o que se pode compreender é que Dilma Rousseff, pelo que se conhece de sua integridade, não autorizaria negociações que extrapolassem os limites estritos da legalidade. Certo mesmo estava Barroso, ministro do STF, ao demonstrar suas preocupações sobre os rumos do país com essa gente que aí está. De forma consequente, o ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, manifestou sua preocupação sobre o que poderá ocorrer domingo, em Brasília, onde foi erguido uma espécie de muro, onde serão separados os partidários do impeachment e aqueles que são contra. A despeito de todo o aparato policial mobilizado, há, concretamente, a possibilidade de confronto. 

Jamais imaginaria que pudéssemos chegar a este estágio. O ovo da serpente estava sendo "chocado" e, sequer, nos apercebemos da gravidade. Foi ganhando musculatura nas lares, nas ruas, no trabalho, nas escolas, nas repartições públicas, nas escolhas equivocadas do PT. Alás, a burocracia petista, embebida pelo exercício do poder, perdeu o contato com os movimentos sociais, permitiu que seus inimigos históricos comessem o governo por dentro. Governou com os inimigos, dormiu com os inimigos. Cevou urubus que hoje vicejam na carniça. Não é incomum encontrarmos dentro das repartições públicas, exercendo cargos de confiança, coxinhas pregando abertamente o impeachment da presidente Dilma Rousseff. 

Muitas reformas deixaram de ser feitas, outras mantidas em banho maria, e hoje paga-se um preço muito alto por isso. Avançamos nas políticas sociais de corte inclusivo, mas marcamos passo na educação, na reforma política, na regulação da atuação dos meios de comunicação de massa. Existem uns manipuladores a rasgarem a Constituição, usurparem mandatos legítimos, acusarem sem prova, condenarem sem julgamento, e uma massa amorfa a seguir seus rumos obscurantistas, sem se dar conta das consequências deste ato para a saúde já frágil de nossa democracia.  

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quarta-feira, 13 de abril de 2016

Crônicas do cotidiano: Arruando pelas ruas do Recife com uma namorada americana.






Houve um tempo em que residíamos ali naquele espaço que os amigos denominavam de "Portal do Derby", um trecho já no final da avenida Conde da Boa Vista e início do bairro do Derby, separados apenas pela Av. Agamenon Magalhães. Bons tempos aqueles, onde se podia curtir as árvores centenárias da praça do menor bairro do Recife, os amigos da Casa do Estudante, a cervejinha gelado do Drive In - aos final da tarde -, o Cinema da Fundação -nas matinês dos domingos-, os eventos da Cultura Francesa. Por essa época namorávamos uma americana que, não raro, fazia uma ponte entre Nova York, Derby e Gaibu apenas para matar as saudades do mago.Que chico!, como diria minha caçulinha Maria Luísa. Outro dia, remexendo as coisas velhas, encontramos um monte de recordações daqueles tempos.

Dando-se uma esticadinha a mais - mais para a Conde da Boa Vista - podia-se apreciar as iguarias gastronômicas do seu mercado - como o cuscuz com bode guizado de Dona Maria - uma prosa no Bar Mustang, os sorvetes da primeira soverteria Fri-Sabor, os pães da Padaria Imperatriz, que fica imprensada na rua do mesmo nome - onde se fazem os melhores pães do Recife. Os sorvetes da Fri-Sabor já não são mais os sorvetes daqueles tempos. Não são mais os sorvetes que costumávamos apreciar com Marlon, Gabriel e outros amigos de outrora. Era um sorvete artesanal, de receita caseira, imbatível. Creio que o processo de industrialização não lhe fez bem. A marca foi comprada e expandiu seus negócios. É administrada pelas mulheres de um grande grupo industrial do Estado. Nada contra as mulheres, mas o sorvete não é mais o mesmo. 

Por essa época, ainda se podia vestir uma camiseta, uma bermuda folgada, calçar um chinelo havaiano e arruar pelo Recife,como diria Mário Sette, curtindo sua paisagem, seu sítio histórico, sua gastronomia, sem os receios de ser molestado numa esquina qualquer. Não que não houvesse essas ocorrências desagradáveis naquele período, mas, certamente, a incidência era bem menor. Sempre gostava de começar ali pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, nas proximidades do Parque Treze de Maio. O Parque Treze de Maio tem 6,9 hectares e já foi bem maior no passado, segundo dizem. Havia a informação de que tanto o prédio onde hoje funciona a Câmara Municipal do Recife quanto a Faculdade de Direito do Recife teriam contribuído para limitar seus espaços. Depois descobri que foram edificações construídas bem antes da inauguração do Parque. O que, de fato, contingenciou seu espaço físico foi a construção da Biblioteca Pública do Estado e o complexo escolar do IEP. 

À época foi instituído um concurso para a aprovação do projeto do Parque, vencido por Domingos Ferreira, nome de uma avenida do Bairro de Boa Viagem. Comenta-se, igualmente, Gilvan Lemos, que os pardais chegaram no Recife através daquele parque. Havia ali, em abundância, um inseto que incomodava bastante seus frequentadores. A solução foi importar esses pássaros de origem africana para o local. Eram predadores naturais deste inseto. Tornaram-se uma praga urbana, inclusive afugentando muitas outras aves daquele local.

Seguindo pela Princesa Isabel, vamos dar num trecho da Rua da Aurora, onde o poeta Manuel Bandeira ia fumar escondido. Casario ainda preservado, prédio do Ginásio Pernambucano e da Assembleia Legislativa do Estado. Na direção da TV Universitária é mais bonito, inclusive pelas intervenções do local e do manguezal do Capibaribe, mas já não se aconselhava desde aquela época. É mais seguro ir em direção ao centro. Na época, na cabeceira da ponte Princesa Isabel, ficava uma escadinha onde se era possível alguns flashes, observando-se, ao fundo, o Palácio do Campo das Princesas. Era uma boa tomada. 

Cruza-se a ponte Princesa Isabel - há um poema aos namorados nas pontes e nas águas do Rio, J. Michiles -  e chega-se à bifurcação que nos remete ao Palácio do Campo das Princesas ou ao Teatro de Santa Isabel. Na pracinha que fica em frente ao Palácio do Campo das Princesas, um imenso Baobá, talvez o mais robusto do Recife. Possui um tronco enorme. Seguindo em frente - depois de apreciar as belezas do Rio Capibaribe, conhecer o Pátio de São Pedro e o Mercado de São José - estamos chegando ao Recife Antigo, Marco Zero, Praça do Arsenal, Torre Malacoff, Rua do Bom Jesus, Sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira construídas pelos judeus nas Américas, Teatro Apolo - o mais antigo do Recife - Cais do Porto, Rua da Guia, Marco Zero, onde o Recife nasceu há cinco séculos.  Ainda hoje se faz aquele trajeto, por sinal inseguro, em alguma canoa, entre o Porto e as esculturas de Francisco Brennand, na outra margem.Na época elas ainda não existiam. 

Comenta-se que a esposa de um prefeito do Recife fez alguns comentários sobre aquelas esculturas e o caso repercutiu bastante, quase provocando uma tragédia. Na opinião dela, as esculturas se assemelhavam ao órgão sexual masculino. Um colunista social resolveu relatar o fato numa coluna que assinava no jornal e o prefeito entrou armado na redação para tomar satisfações. Aquela área ali era muito boa para os amassos. Deserta e romântica. Ficávamos por ali mesmo, horas a fio, voltando apenas no finalzinho da tarde. 

Aos domingos, logo cedinho, Gaibu, onde ficávamos na palhoça de seu Duda, um senhor muito conhecido na localidade. Ali se comia muito bem os frutos do mar, preparados com esmero para clientes de longas datas. À noite, num barzinho, ouvir música ao vivo, na voz e violão de Paulinho. Leslye, este era o nome dela, gostava muito de Geraldo Azevedo, principalmente Dia Branco, música obrigatória no repertório de Paulinho.Depois de um pucha- encolhe que durou três anos e meio - sempre nessa ponte Nova York -Derby-Gaibu , Leslye deve ter se cansado da insistência para que fôssemos residir na terra do Tio Sam. Ela acabou ficando por lá, e eu por aqui, na província, ainda se lambuzando com o cuscuz com bode de Dona Maria. Faça bom uso dos seus hamburgueres com Coca-Cola.  

Editorial: Um sistema político, definitivamente, liquidado.





Durante esta semana que antecede a votação do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, publicaremos editoriais diários sobre o assunto. Estamos aqui, dentro das nossas limitações conhecidas, ocupando os espaços possíveis nas redes sociais e na blogosfera com o propósito de se contrapor ao massacre midiático a que a presidente Dilma Rousseff está sendo submetida cotidianamente. Não fosse bastante a torpeza de um pedido de impeachment sem fundamentação jurídica - o que pode ser traduzido, com todas as letras e os pontos nos "is", como um golpe - ela vem sendo atacada na sua honra, publicamente traída por aqueles que deveriam estar ao seu lado nesses momentos difíceis, como um vice, que foi eleito junto com ela, na sua chapa. Há muitos adjetivos para classificar essa atitude abjeta do seu vice, Michel Temer, mas creio um dos adjetivos possíveis seria covardia. 

Caso essa sandice seja aprovada, vamos fazer história da pior forma possível, olhando para o retrovisor, o que, em si, não seria um problema, desde que não estivéssemos flertando com o obscurantismo, com práticas nefastas e anti-democráticas, incapazes de respeitar as prerrogativas mínimas de um mandato obtido legitimamente nas urnas. Tem razão a presidente quando invoca essa questão. Tratar Cunha e Temer de conspiradores - sem identificar quem está liderando quem - constitui-se apenas numa grande tautologia, senhora presidente, pois trata-se de dois contumazes conspiradores. Não se espere desses dois senhores algo de caráter republicano ou de lealdade. Lealdade, sim, aos seus interesses pessoais mais comezinhos e dos párias que os acompanham.  

Mas, uma outra questão que merece nossas considerações, são as capas das revistas semanais destas últimas semanas. Na semana passada a revista IstoÉ trouxe em sua edição a foto da presidente Dilma Rousseff e uma ilação sobre o seu suposto destempero. A panfletagem, alimentada por fontes não identificadas do Palácio do Planalto - fazia alusão aos possíveis destemperos da presidente com os seus auxiliares. Tratava-se de uma "matéria" típica do jornalismo marrom, o que levou as autoridades do Governo a mover todas as ações possíveis no sentido de obter alguma reparação pelo dano à honra da presidente. 

Desta vez foi a revista Veja - sim, ela mesmo - que se superou nos ataques à presidente Dilma Rousseff, estampando na capa desta semana que o seu Governo está em liquidação. Já disse outras vezes aqui que alguns órgãos de imprensa do país hoje parecem destinados a assumirem a condição de porta-vozes de um determinado segmento de consumidores. No caso desses órgãos, consumidores "coxinhas". Deixaram de fazer jornalismo já faz algum tempo. A capa desta revista Veja circulou no gabinete daqueles deputados que votaram a favor da aprovação do parecer do deputado relator Arantes, ontem, na Câmara dos Deputados. 

O que vai ocorrer no próximo dia 17 ainda é incerto. Há uma oposição que aposta todas as suas fichas na aprovação do pedido de impeachment na Câmara dos Deputados. As defecções do PRB e do PP, da base aliada, foram comemoradas quase como uma certeza de vitória no próximo domingo. Aqui no Recife, um dos principais operadores dessa conspiração publicou uma mensagem num blog local informando sobre as catastróficas ocorrências caso Dilma Rousseff não seja afastada da presidência. Uma irresponsabilidade. Jogo sujo. Atitude fascista, com o propósito de disseminar mentiras, plantar discórdias, sempre com objetivos escusos: desgastar a presidente antes da votação do domingo, desencorajando uma recomposição da base governista. 

Se este fisiológico e oportunista de plantão tivesse um mínimo de dignidade, de caráter, deveria se debruçar sobre o que seria um futuro Governo Temer, tutelado pelo PSDB e outras forças políticas, como PPS, que funcionam como seus satélites.  




segunda-feira, 11 de abril de 2016

Violência no Estado ganha destaque na imprensa nacional.



Através da edição de hoje de um determinado jornal, o aumento da violência no Estado ganhou repercussão nacional. O senhor Alessandro Carvalho, Secretário de Defesa Social, foi ouvido durante a matéria, apontando que os índices de desemprego podem estar contribuindo para a elevação das estatísticas de violência. Fico muito preocupado quando uma autoridade pública estabelece essa relação tão orgânica entre causa e efeito. Lembro que, quando a economia da região Nordeste ia muito bem, o aumento da violência na região dava-se, entre outros motivos, pelo PIB que circulava na região, favorecendo os "negócios" ilícitos. Pelo menos no que concerne ao Pacto pela Vida, dois aspectos precisam entrar nessa discussão. 

Já faz algum tempo que o PPV está enfrentado alguns problemas, a despeito do esforço das autoridades para colocá-lo nos trilhos novamente. Entre a morte do ex-governador Eduardo Campos e os primeiros meses da gestão do senhor Paulo Câmara, ocorreu aí um hiato, uma solução de continuidade extremamente danosa para os resultados que o PPV vinha obtendo no enfrentamento do problema da violência no Estado. É como se houvesse um "relaxamento" dos atores diretamente envolvidos com o assunto, aliado às dificuldades de financiamento da própria máquina pública. O déficit de pessoal já era observado há algum tempo e, apenas recentemente, é que o Governo do Estado anunciou um concurso público para as polícias Civil e Militar. 

Um outro aspecto a ser observado - este de caráter metodológico - diz respeito aos critérios adotados para "mensurar" esses índices, apenas se concentrando naqueles crimes que atentam contra a vida. O que vem ocorrendo mais recentemente, sobretudo em regiões do interior do Estado, é uma espécie de cangaceirismo moderno, com bandoleiros muito bem-armados espalhando o terror por onde passam. Essas "ações espetaculares", pelos efeitos psicológicos e midiáticos que produzem,  são capazes de jogar para baixo qualquer política de segurança pública. Os assaltos a coletivos também estão se tornando frequentes. Quem lida com este assunto sabe que ele indica que alguma coisa não anda muito bem na área de segurança. Trata-se de um "indicador" emblemático. Não sei, por exemplo, qual o "status" que este delito ocupa nos levantamentos das estatísticas do PPV.   

A discussão sobre o "espaço público" e as ocorrências recentes no Centro de Educação da UFPE


Os recentes eventos ocorridos no hall no Centro de Educação – pichações, graffitagem, inscrição de dizeres e frases- exprimindo um conteúdo de certa forma inesperado (aliás, inesperado, sobretudo, no gesto) teve o efeito de desencadear reações igualmente inesperadas, algumas exaltadas, outras mais serenas e reflexivas, mas que tiveram um efeito visível: estimularam um caloroso debate (aberto ou velado) sobre a legitimidade (e até a legalidade) do ato e sobre o uso do chamado “espaço público”.
Não me reportarei aqui às circunstâncias que provocaram os eventos (uma oficina de graffitagem orientada por professores deste CE), e começarei tentando refletir sobre o uso, agora já um pouco abusivo, de um conceito que me parece valioso e decisivo para a sensibilidade que chamamos de republicana: o “espaço público”. Percebi – e aceito o fato de poder estar, eventualmente, ajuizando de forma equivocada- que se estabeleceu, não apenas um uso repetitivo do termo -como assinalei- mas, sobretudo, uma operação linguística que facilmente reconheci ao lembrar de velhos estudos que realizei, em outra época, sobre o tema batido e rebatido da “ideologia”. Um daqueles autores afirmava algo como “(...) A ideologia também opera discursivamente, torcendo e retorcendo os conceitos e as palavras até que delas não sobre mais nenhuma substância semântica original, ali onde ela –a palavra- bebia sua força de significação original”. Explico porque principio com esta reflexão.
Os gregos da época de Péricles faziam uma interessante distinção entre a Ágora (a praça pública onde os ‘demos’ se reuniam para deliberar sobre os destinos da cidade) e a Pólis (uma determinada disposição ‘interior’ para regular os conflitos entre os homens através da palavra argumentada, através do convencimento e do diálogo). Era a Pólis que representava o “espaço público” e não a Ágora que era apenas um lugar situado na geografia urbana (como a Asty e a Acrópole). Quando nós confundimos uma coisa com a outra, somos levados a admitir, por exemplo, que, como existia a Praça Vermelha (um lugar público) na Moscou stalinista, logo também existia “espaço público” no regime soviético; que como existia a Alexanderplatz (uma praça pública) na Berlim nazista, também existia “espaço público” sobre o hitlerismo! O que não é de forma alguma verdade. Como também não é verdade que, o fato de existirem prédios públicos, financiados com dinheiro público e destinados a servir a um “público” eles estariam abertos a qualquer um: organismos ligados à inteligência e segurança nacionais não são abertos, não são “democráticos” (e, sim, hierarquizados e com forte noção de mando e obediência) e, mesmo públicos e funcionando no interior de estados de direito, não são nem transparentes em suas ações e estruturas e nem abertos ao olho republicano. O que complica ainda mais o conceito! Mas mostra que “espaço público” apesar do conceito indicar uma geografia, um thopos, ele significa uma outra coisa, só possível ali onde os homens decidiram resolver suas dissensões através da palavra. O Espaço Público é isto: uma decisão de colocar “um mundo entre os homens” (Inter homines esse) e, através da pluralidade de opiniões e pontos de vista decidir sobre destinos comuns. Não se trata, inicialmente, nem de se obter hegemonias, consensos, harmonias sociais, resultados ou contratos sociais... , mas de assegurar que esta pluralidade possa se exercer em qualquer espaço onde homens se encontram para exprimir pontos de vista diferentes e plurais sobre o mundo e suas experiências possíveis. Um espaço público pode ser eliminado (totalitarismo) ou consolidado (democracias), mas não pode, a rigor, ser “pichado” ( o que se picham são paredes de prédios públicos ou privados).
Se aceitarmos esta proposição conceitual (e acho que ela é aceitável, ou cairíamos numa confusão cujo resultado só interessaria àqueles que desejariam reduzir o espaço da pluralidade de opiniões. Aliás, uma posição que ganha cada vez mais, desculpem o trocadilho, espaço!) talvez tenhamos uma outra perspectiva sobre os eventos recentes do CE.
Não gostaria de discutir a “legalidade” do ato, com sua eventual criminalização, seus “vândalos”, seu aspecto “anti-higiênico”, sua “formação de quadrilha”... (um vocabulário muito mais adequado às ideologias iliberais, higienistas, haussemaneanas e racialistas do que a intelectuais que fizeram da “formação humana” sua profissão e seu compromisso), teses com as quais eu não concordo, mesmo porque tive uma formação nas ciências sociais e humanas que, de alguma maneira, me ofereceu filtros para que eu não enxergasse nos eventos de natureza social, nas explosões de expressão subalternas, nas formas desviantes de organização de demandas..., simples atos de bárbaros em vias de destruir a grandeza perene do Império: não concordo, pois, com tais teses, assim como receio que discutir sua “legalidade” é criar deliberadamente uma cortina de fumaça sobre aquilo que se esconde abaixo da linha d´água destas discussões.
Acendeu-me, no entanto, a luz amarela do alerta ideológico quando ouvi frases de meus colegas professores, publicamente proferidas e, algumas delas, sem nenhum pejo de disfarçar a inspiração zdhanovista de seus propósitos, frases que aqui reproduzo com a mesma marca de deselegância e grosseria com a qual foram proferidas: “_Que vão à merda todos aqueles que defendem a liberdade de expressão artística!”, ou ainda, “_Se dermos o direito de voto universal aos estudantes, este Centro vai se transformar num Templo Evangélico!”. Ouvi, ainda, no debate que se instalou no hall do CE, joias de confusão antirrepublicana tais como “_Na minha casa eu não deixo meus filhos riscarem as paredes!”. Não há, aqui nesta frase, propriamente falando, uma “confusão” entre espaço público e espaço privado, mas um prolongamento de um no outro, como se o espaço público fosse uma extensão do privado: eis aqui a base onde se assenta o patrimonialismo ou o cartorialismo tão comuns em nossas relações com a coisa pública, como se educação doméstica fosse a mesma coisa que “virtude republicana”. Ainda pior é supor que o “_Não deixo” da autoridade parental (privada) possa se alongar no espaço público!
Preocupantes frases porque, mais do que manifestações de descontrole verbal, de um passageiro surto antirrepublicano, de ironia descabida ou de confusão semântica, nelas já se pode antever um futuro debate que seus autores apenas anteciparam: a futura relação entre sociedade e universidade (que o novo Estatuto tratará de dar substância) e as formas de exercício da democracia entre nós. Eis o que se esconde sob a linha d´água.
Foi ainda interessante, no aludido debate, que, mais do que se procurar refletir sobre o ocorrido, o que ele revelava ou escondia, de que “Outras pedagogias” se estava falando (e por que as atuais não “servem” mais); o que queria dizer o enigmático “Mais Mel!” (mais doçura em nossas relações? Mais Everson Melquíades?, professor negro, de origem pobre, homossexual, gordo...., quer dizer, alguém que mesmo tendo os atributos dos excluídos, aparece como um símbolo das dores expressas nas paredes do CE?); porque o CAC também fora atingido? ..., mais do que refletir, repito, procurou-se “soluções”: punição para os diretores por sua suposta cumplicidade, falta de autoridade e de zelo com o patrimônio público (a política do “Não deixo!” à qual me referi acima), pintar as paredes de branco (como se pudéssemos apagar os fatos, escondendo-os sob um camada de tinta, a política da “pá-de-cal”), ou, finalmente, criminalizando os atos e convidando uma advogada-psicóloga para iniciar sua intervenção lembrando os artigos do Código Penal nos quesitos sobre depredação do patrimônio público (a política dos bárbaros contra o Império)!!!!
Mas o que não se pode negar é que foram exatamente os fatos ocorridos que provocaram a emergência de um espaço público entre nós: um debate acalorado e com tinturas de exaltação irracional, mas um debate. Eis aqui um fato interessante e inabordado na discussão: o estético (falo também do mural externo, igualmente objeto de viva polêmica) foi capaz de produzir um espaço público! Não cabe aqui a máxima latina “Gosto não se discute” (ou estaríamos impedidos de falar de “bom” ou de “mau” gosto). Cabe –isto sim- a ideia kantiana de que toda vez que dizemos para alguém algo como “Veja que linda paisagem!” estamos procurando o acordo tácito de nosso interlocutor (e há até um certo constrangimento quando há discordância), um acordo que não está orientado por nenhum princípio apodítico ou demonstrativo, como uma asserção científica ou uma proposição lógica sobre a qual não teríamos outra saída, senão concordar. Aqui, neste espaço público gerado pelo estético, estamos em plena possibilidade de exercermos nossa capacidade de julgar os objetos que despontam no horizonte social - alguns até incômodos!-, de nos colocarmos no lugar do outro e de estabelecer, com toda propriedade, o ESPAÇO PÚBLICO da opinião argumentada (embora nem todos os argumentos tenham igual valor diagnóstico, descritivo ou judicativo). Bastaria lembrar, em apoio ao meu argumento, do efeito cultural, social, político e institucional que os graffites tiveram nos eventos de Maio de 1968 em Paris, eventos que, depois deles, nunca mais seríamos os mesmos, sobretudo em nossas relações com a autoridade.
Penso que foi isso que aconteceu no CE. Mas, acho também que tais eventos só provocaram a onda de protestos, de indignação, de incompreensões mútuas, de frases desastrosas, porque já se percebe na atmosfera dominante, que um modelo de universidade está chegando ao fim, que estamos do limiar de um outro arranjo institucional, com novas configurações de poder e mando; há o temor de que, o que aconteceu no CE, se espalhe pelo campus, que os estudantes – nossa razão de estar lá e nosso temor cotidiano, inclusive político- apareçam na cena institucional armados de novas exigências, novos conceitos, constituindo uma outra subjetividade coletiva, organizando novas demandas, para as quais não estamos preparados (inclusive demandas pedagógicas), exprimindo inusitadas indignações que nos farão sempre muito medo.
De que forma eu vislumbro o que está por vir?

Há claramente um espírito aristocrático que animou e moldou boa parte de nossas instituições superiores de saber e conhecimento. Mesmo depois de a democracia ter deixado de ser exclusivamente um regime de governo (uma relação entre cidadão e estado) para se transformar, em nossa contemporaneidade, em um estilo de vida, concepções elitistas e aristocráticas de universidade atravessaram toda a modernidade: de Alfred Whitehead ao Acordo de Bolonha, passando por Heidegger, Humboldt, Ortega y Gasset e até Habermas ou, entre nós, um José Artur Giannotti (A Universidade em ritmo de barbárie), a clave foi uma só: como o acesso ao saber está reservado a poucos numa sociedade em que sua distribuição não atinge a todos indistintamente, conclui-se que o governo deste saber (em outras palavras a gestão universitária) também não pode ser exercida por qualquer um. No máximo, os autores concordam que a relação entre universidade e sociedade deva ser “democrática”, no sentido da difusão do conhecimento e do atendimento das solicitações sociais (algo que também está em risco!). Mas nunca está em questão a administração deste saber de forma democrática. A interrogação de fundo, pois, é simples e direta: a universidade pode suportar (e até onde?) a democracia? Qual o significado da atual linguagem “meritocrática”, em franca expansão entre nós? Ela é ou não compatível com a democracia?
Principio com uma observação: não existe “gestão democrática” in abstrato, pairando sobre todo e qualquer modelo de universidade, como uma entidade universal e aplicável a qualquer caso, um ente metafísico desencarnado e que, dependendo apenas da vontade política dos agentes, ele se incorporaria numa administração.
As instituições superiores de ensino, modernamente pensadas para dar respostas a questões como a “construção nacional”, a “formação da elite dirigente”, a “identidade cultural da nação”, as “solicitações da sociedade”, as “transformações que a sociedade necessita”, “refletir o espírito de uma época”, a formação de “quadros para o desenvolvimento econômico”, ou transmitir o “saber de alto nível entre gerações”, etc., têm dificuldade em conviver internamente com um escopo democrático amplo de escolha de seus dirigentes, já que o critério (aristocrático) de qualidade exigido pelo saber não é compatível com o critério de quantidade (maioria) fixado pela democracia. O risco seria muito elevado de entregar à ignorância – ao “não-saber”- o comando da Pólis universitária! Enquanto a universidade esteve dirigida apenas a setores muito exclusivos da sociedade, com um forte sentimento de casta intelectual e de pertencimento a um estrato diferenciado encarnado numa corporação (e o espírito de corporação é absolutamente incompatível com democracia), este problema não se colocou jamais. Ele surge no momento em que, na sociedade de massas, com o acesso cada vez menos restrito aos bens de consumo, o próprio saber –aos poucos também entendido como “mercadoria” e, portanto, sujeito aos mesmos mecanismos da compra e venda- também passa a ser ‘consumido’. É tedioso fazer da universidade o lugar da crítica à produção e ao consumo alienado e desumanizante, na medida em que ela mesma, a universidade contemporânea, também se tornou um lugar de consumo e de produção: consumo de informações com vistas à acumulação de capital simbólico (variável e volátil como as modas intelectuais) ou de profissionalização técnica (para atender às demandas do mercado), e produção de conhecimento (baseada em critérios quantitativos de aferição -artigos e papers produzidos). Percebe-se que já se abre aqui uma primeira tensão em nossa configuração universitária: o critério de quantidade (maioria) é considerado perigoso para definir o modelo de gestão, mas é aceitável para avaliar a produtividade docente!
A pressão das massas, sobretudo nos países de capitalismo mais avançado, em ter acesso ao ensino superior – especialmente após os eventos de 68, abrindo a universidade para as classes médias e, no caso do Brasil, durante o regime militar, com a expansão das faculdades privadas-, terminou colocando no cardápio universitário a questão da democracia. Inicialmente no acesso, em seguida nas relações pedagógicas e finalmente na participação da gestão dos diferentes órgãos administrativos (Conselhos, Comissões, Fóruns, Órgãos Suplementares, etc.). O surpreendente é que sempre que, na Universidade, expulsamos os detritos autoritários e elitistas pela porta, em nome da democracia, eles voltam pela janela! Como se estivéssemos num sessão freudiana, eis que nos deparamos com o “retorno do recalcado”. O hall do CE, nestes recentes eventos, apenas despertou temores que, com efeito, são aqueles com que a democracia sempre se confrontou: o medo dos desqualificados, da turba, dos vândalos, dos sujos, da massa exaltada, disforme e manipulável...
Um modelo universitário como este, que estamos vendo se implantar rapidamente entre nós, não se sustenta sem uma viga ideológica ao mesmo tempo frágil e sedutora: esta viga chama-se Meritocracia. Em seu rigor originário, a palavra deveria significar “governo do (ou pelo) mérito”, mas a etimologia não explica em que contexto o termo e a ideia foram gerados e, sobretudo, que contrabandos semânticos foram insidiosamente introduzidos no uso atual do termo.
A ideia de meritocracia sugeria a ruptura com o Antigo Regime: não seria mais o nascimento, o sobrenome, o estamento que determinaria nem a ocupação dos cargos públicos, nem a representação política, herdados da ordem aristocrática. O mérito pessoal, avaliado pelo talento e pelas qualidades “naturais” de cada um, assentado no princípio do “individualismo” (e não no do pertencimento a uma ordem estamental) marcaria doravante o novo ordenamento republicano: eis o sentido, por exemplo, do concurso público. Mas, se os talentos individuais são distintos e os valores com os quais os julgamos também (“fidelidade” ou “bravura” na ordem feudal; “etiqueta” na ordem cortesã; “virtude” [republicana] na ordem burguesa) seria preciso um instrumento social de correção das desvantagens e deficiências presumivelmente “naturais” de talento. O problema é que na ordem pós-revolucionária, a meritocracia cumpria -como vimos- o papel (ilusório, claro, já que tratava os desiguais pelo mesmo metro!) de oferecer condições de partida semelhantes aos indivíduos. Hoje o discurso meritocrático, esteio ideológico da “produtividade” acadêmica, da seleção dos “melhores” (com suas premiações e bônus) cumpre o papel inverso: ele restaura hierarquias, qualifica e desqualifica pessoas em função de critérios não substantivos (qual a relevância social de minha pesquisa?), distribui privilégios e, no horizonte, reabilita uma ordem aristocrática e perversamente tautológica: os que merecem têm, os que têm merecem! Pobres dos “sem-mérito”!... A história da meritocracia é, assim, aquela de uma curiosa restauração: imaginada para romper com a ordem aristocrática, sua função hoje é restabelecê-la! Nossos meritocratas, no fundo, não conseguem disfarçar suas mais profundas inclinações antirrepublicanas. Eis o fundo opaco onde repousam aquelas estranhas e grosseiras frases proferidas por meus colegas de Centro!
Chegamos, agora, ao umbigo desta minha reflexão. Quais os temores que rondam a democracia universitária? Eu assinalaria quatro:
a) O temor de que a democracia conduza o ensino superior a tarefas políticas que contradizem sua função;
b) O medo de que a democracia dos centros de ensino conduza a uma politização da ciência, incompatível com as condições imanentes do progresso científico;
c) O receio de que a democracia universitária facilite o surgimento de grupos partidaristas;
d) E no campo técnico-profissional, o medo de que uma democracia do ensino superior submeta à decisão coletiva questões que até então eram de competência de cada professor.

Minha resposta a estes temores será clara e a anuncio em conclusão desta reflexão: a universidade não pode suportar a democracia e nem a suportará enquanto uma determinada relação entre saber e poder vigir em nossas relações sociais; enquanto saber e conhecimento forem confundidos; enquanto o instituído e o instituinte se amalgamarem, enquanto a lógica dos sistemas produtivos galvanizarem nossas ações; enquanto meritocracia se confundir com tecnocracia e esta com “discurso da competência”. Isto significa que a universidade vai abandonar completamente a democracia e instalar, entre nós, um regime despótico ou absolutista? Não, de forma alguma! Significa que aceitará, por pressão social, a regra democrática nas duas pontas do sistema: na entrada (acesso mais amplo, sistema de cotas, etc.) e na saída, maior visibilidade social de sua tarefa, maior distribuição de conhecimento, etc. Mas não aceitará a democracia procedimental: a gestão do sistema não admitirá a regra democrática que, na verdade, não se resume a uma decisão pela maioria, mas na constituição de uma coisa chamada “espaço público-decisório”: a visibilidade pública de todos os seus membros através de sua voz e de sua ação com vistas a fins moralmente aceitáveis e coordenados através da interação comunicativa de seus membros.
Assim, não é porque como professor ou diretor de centro, participando dos diversos e decisivos Conselhos desta universidade, fica assegurada a democracia desta instituição: a democracia está ameaçada porque a ciência que a Universidade cria e deveria dividir com a sociedade não terá mais a função de esclarecimento. Entendo “esclarecimento” num sentido não iluminista, quer dizer, ajudar a sociedade a digerir seus preconceitos, ajudar a própria universidade a questionar suas finalidades e procedimentos e ajudar a própria ciência a discutir a validade de seus pressupostos. Como a democracia é o único regime de governo que se fortalece quando é questionado, o único capaz de suspeitar de suas próprias certezas sem, com isso, se destruir, fica claro que a ausência do instrumento crítico (uma vez que a ciência, como força produtiva, terá se confundido com a técnica) não terá mais esta função. O resultado é preocupante: caminhamos a marcha batida para uma ordem universitária “tecno-gestionária-empresarial” tendo a clara impressão de viver numa ordem democrática e participativa.
É sociologicamente curioso observar intelectuais ‘esclarecidos’, ‘libertários’ e ‘conscientes’ pavimentarem o caminho de ordens sociais obscurantistas. De qualquer forma, não será a primeira vez na história...

Flávio Henrique Albert Brayner é professor do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco

( Texto publicado com a autorização do autor)


A estátua de Paulo Freire não é consenso







Já escrevi dois textos sobre a fachada do CE ou o desejo de docentes modificar a entrada do CE com argumentos sub-reptícios diversos. O que está por trás desse discurso e desejo? Provavelmente, que a atual direção REPRESENTA (é reflexo) dos desejos da maioria institucional “científica” (?!). A própria logomarca (“Somos todos CE”) dos candidatos à direção do CE já expressava isso – peço autorização para citar passagem do outro texto que divulguei durante o período da eleição para direção do CE: “Fiquei matutando o slogan pois ele me incomodava: o sujeito estava oculto (o “nós”). Ficava me perguntando: quem falava? Quem era esse “nós”? Quando se refere a um “nós” ocultado quer se dizer um “Eu”? E quem era esse “Eu” que estava falando? O que ele, efetivamente, desejava quando não se apresentava como “Eu”? Essas perguntas são importantes, pois não vivemos numa sociedade de “comunhão”, de “solidariedade” e de “igualdade”. 


A sociedade é capitalista, alguns a classificam como “capitalismo financeiro”, outros, simplesmente de capitalismo. Eu acrescentaria,para alguns marxista é uma blasfêmia, de “capitalismo patrimonialista”. Em síntese: vivemos numa sociedade de classes antagônicas, racista, machista, sexista. Essas práticas e valores que de uma forma ou de outra encontram-se no CE, certamente, e mais ainda, na UFPE, estão incluídos no “nós” do CE? O CE deve estar “unido” em que? Com qual finalidade devemos nos unir? Quais os seus objetivos? A união pela união? Não há indicação do sentido da união. Da mesma forma que o slogan, o sujeito está “oculto”, os objetivos e finalidades também estão”. Ora, esta “confusão” da representação da “coisa” com a própria “coisa”, na forma onipotente, gera ou representa ações autoritárias pensando que os “representantes” e os “representados” são a mesma coisa e são homogêneos. Isto quer dizer que a representação simbólica das coisas (pensador, um grupo, uma ideia, etc), estes são capazes de fazê-la planamente. Eles têm o poder da “mana”, o domínio da “alma” na sua representação da matéria. 


Ora, como a pichação ou a grafitagem não faz parte do “universo científico” (valorizado, respeitado), é vista e representada (em força instituinte) como uma ação vândala, depredação do bem público, ela gerará divergências, não unificará, não é capaz, é incapaz de gerar REPRESENTAÇÃO HOMOGÊNEA, por sua natureza ser ILEGAL (negra e pobre não intelectual, não científica). É aí que entra a estátua de Paulo Freire. Esses que detêm a “mana”, a força espiritual , são os únicos que podem manipular os bens simbólicos correspondentes com os saberes científicos. Se na fachada do CE fosse a imagem de Paulo Freire não haveria problema (Aqui seria um retrato, não uma grafitagem, pois os “promotores” querem definir a imagem a ser exposta, a grafitagem não permitiria isso). 


Por que? Porque a imagem Paulo Freire seria por si só “expressão” do Centro. Ledo engano. Paulo Freire não seria, também, consenso, portanto, o conflito estaria estabelecido. Por vários motivos: Um “retrato” de Paulo Freire NÃO É PAULO FREIRE, NÃO É A IDEIA DELE. Mas uma apropriação da imagem dele. O CE não é um “Somos todos CE”. O CE é muito mais que isso. Uma estátua implica valores, ideologias, concepção política e expressa um tempo histórico. Paulo Freire NÃO É UM SANTO PARA SER IDOLATRADO, é um autor datado que exige reinterpretação constante sobre sua obra para que possamos descartar, partes, momentos ou toda a obra, dependendo do enfoque. Isto quer dizer que ele, também, não é consenso. A Criação de uma estátua exigiria uma discussão para ser aprovada. Como a instituição imaginária social “científica” toma pra si como “consenso” não houve polêmica. Repito: uma das funções da instituição é IMPEDIR O PENSAMENTO REFLEXIVO (Eugène Enriquez). “Todos” se sentem representados por essa imagem. 


Ainda mais: uma estátua é uma “obra de arte”. Além do mais, o criador, um artista renomado e querido, Abelardo da Hora. Ou seja, todos os ingredientes juntos consolidavam uma ação POLÍTICA (não intelectual e muito menos científica) como EXPRESSÃO da instituição CE. Ora, quem são os grafiteiros? Um Zé-Ninguém (“moreno”), não tem o nível universitário, muito mal tem dinheiro para a passagem, não domina as teorias da Pedagogia, desconhece a história desta “ciência”. Ou seja, ele não detém o capital cultural para livremente desenhar “qualquer coisa sem sentido” que expresse o que é a “Educação”. Aquilo é um emaranhado de riscos desconectos com a “realidade educacional”. Eu perguntaria: a estátua de Paulo Freire representaria o pensamento de Paulo Freire? Não! Paulo Freire jamais aceitaria, em vida, que uma estátua sua fosse objeto de adoração e de culto. 

O Pensamento de Paulo Freire não é a sua própria imagem, mas as dos explorados. Portanto, a melhor homenagear a Paulo Freire teria que ser a produção da imagem dos próprios oprimidos analfabetos que ele dedicou sua vida – mesmo deportado pela ditadura para Guiné-Bissau. A representação de “algo”, por mais simples que possa ser, não é espelho da realidade: é conflito, ângulos, focos, interesses, valores, etc. Conclusão: o argumento de que a grafitagem feita não representa a “Educação” vale, também, para a imagem Paulo Freire: não representa a Educação. Na escolha, fico com o “moreno”, o pobre, o não cientista, o não universitário que nos ensinou a usar belissimamente as cores dando vida a catacumba CE. Ele nos alfabetizou. Tenhamos humildade de reconhecer que precisamos ser alfabetizado por aquele que Paulo Freire o receberia de braços abertos. Pois este sim, tinha um coração de ouro."




Evson Malaquias Santos é professor do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco

Quais lições podemos extrair da Pedagogia da Criminalização da pichação no Centro de Educação?



QUAIS LIÇÕES PODEMOS EXTRAIR DA PEDAGOGIA DA CRIMINALIZAÇÃO DA PICHAÇÃO NO CE?

Para quem não sabe do que se trata a “pedagogia da criminalização”, um brevíssimo esclarecimento: tendo em vista uma reunião de avaliação e oficina sobre a grafitagem na fachada do CE, e outras atividades culturais, aquel@s que participavam do evento, espontaneamente, começaram a realizar a pichação no Centro de Educação (UFPE). Essa ação gerou reação sectária de alguns docentes, com discussão no Conselho Departamental, originando três reuniões nos três turnos para discussão sobre o ocorrido e denúncia na Reitoria visando criminalizar a direção do Centro e seus participantes.

Uma das lições é lamentar o ocorrido. Lamentavelmente, a experiência democrática e dialógica discursivamente propalada no CE está bastante longe. Lamentar também – e isso nos espantou – o fato de alguns desses discursantes, que mantinham entre si laços afetivos e de respeito, terem partilhado ou serem cúmplice de tal prática. Parte desses docentes decidiu extrair lições de repressão, e não educativas. As certezas moralistas prevaleceram diante da perplexidade reflexiva. A pedagogia da criminalização suplantou daqueles que bradaram e diziam: eu existo.

A ditadura de 64 não acabou. Como diz Felix Guatarri, pensando na sua realidade, os hítleres (aqui, os ditadores civis-militares) estão nas almas e mentes das pessoas e das organizações. Os cabos Anselmos estão soltos ainda dançando nas luzes do dia – e, à noite, entregando os outros.

A discussão ocorrida na manhã da quarta (07/08/13), denominada “roda de diálogo”, iniciou-se com os convidados expondo a mesma posição (não havia o contraditório), dando ênfase à “pirâmide do terror”: “pichação é crime”, é “ato de quadrilha”, é “contra a lei”. Eles insistiram em suas falas na pregação do medo, do terror, buscando intimidar e dominar os presentes por esses sentimentos.  A “roda” e o “diálogo” foram pelos ares – apenas retóricas: o roteiro, os personagens e a dinâmica das filmagens estavam decididos antecipadamente: pichação=vândalos, logo, criminosos. Criminosos=punição. Era uma equação fácil, simples... e reacionária.


Tão assustadora quanto as imagens aterrorizantes que emergiram nas falas dos “convidados” foi, por parte de alguns dos organizadores, a prática política de se esconderem por trás dessas falas, querendo tratá-las como linguagens neutras e científicas enunciadas pelos convidados. Se Paulo Freire estivesse vivo, estaria revoltado pelo fato de algumas categorias e conceitos centrais do seu pensamento estarem sendo usados de forma tão irresponsável. Paulo Freire nunca defendeu a pedagogia da prática punitiva da lei para educar os adultos analfabetos. O diálogo, para ele, era de subversão – logo, de transgressão à norma heterônoma (como os pichadores agem, só que com instrumentos e estéticas diferentes). Ele sempre defendeu uma universidade autêntica, contrapondo-se à inautêntica (alienada dos problemas nacionais). Uma Universidade autêntica seria subversiva, porque autêntica ... e autônoma.

O silêncio no momento do debate, daqueles que o organizaram, que defenderam essa concepção pedagógica da repressão, é assustador..... porque tínhamos tudo para instaurar, a partir de práticas construídas historicamente,  coletivamente, um debate que viesse da alma, das crenças de cada um. Poucos foram sinceros nas suas crenças e se expuseram. Aos que se expuseram, nosso maior respeito e admiração – apesar de discordarmos do conteúdo das argumentações. Não haverá espaço público democrático sem sinceridade e sem amor. Infelizmente, não teremos “tempo” para desenvolver esses aspectos da política desprezados pelos discursos da teoria política (a ênfase é no utilitarismo e no interesse). Repetimos: não haverá espaço público democrático sem sinceridade e amor.

O Congresso Nacional já discute a lei antiterror para a Copa de Futebol, proibindo qualquer manifestação pública e crítica sobre o evento ou qualquer outro que o prejudique. Novas violências virão, por parte do Estado, caso seja aprovado tal projeto aberrante. É lícito perguntar: esses discursos repressores da lei retornarão? Docentes, discentes e servidores administrativos que se manifestarem publicamente deverão ser enquadrados nessa lei? O discurso produzido aqui no CE se somará ao do Estado repressor e propagará a prisão dos supostos envolvidos?  Retornaremos ao famoso 477 e aos Atos Institucionais com apoios de docentes da Educação?


Esse acontecimento de filme de ficção trágica deve nos alertar de uma coisa: o Centro de Educação até hoje não instituiu um espaço público democrático – o que é uma tautologia, pois, se é público, é democrático. Não confundamos “coletivos” de seres humanos com “espaços públicos”. Hoje, o que nós temos são “coletivos humanos” privatizados (burocráticos-fálicos), e não públicos. O episódio da criminalização da pichação teve a repercussão que teve, certamente, por um dentre tantos outros motivos: o Centro se institui no seu cotidiano por construções burocráticas (Conselho Departamental, Colegiados, Comissões, etc); não temos órgãos que incorporem a participação efetiva dos três segmentos (estudantes, servidores e docentes) de forma democrática. O desejo da comunhão não existe ou está fraco. Somos governados, ainda, pelo estatuto da ditadura e pelo imaginário da ordem que só sabe pregar: respeito aos mais “antigos”, respeito aos mais “antigos”, respeito aos mais “antigos” (que é o mesmo que dizer: manter o que aí está, manter o que aí está). Lembremo-nos de um slogan que a ditadura defendeu muito bem, “Brasil, ame-o ou deixe-o”; “CE, ame-o ou deixe-o”.

O forte sentimento de medo da pichação, talvez, possamos compreendê-lo em razão de pichação ser uma transgressão (não é revolução), um grito de insatisfação, um ato de autonomia, de liberdade. O ato foi um gesto de singularidade, de liberdade política. Ora, as forças conservadoras da “alma atormentada” não admitem (ou, naquele momento não admitiram) singularidade política que implica autonomia. A energia libidinosa da pichação assustou a ordem da rotina em que não acontece nada (antierótica). Esse gesto da pichação instaurou um princípio de formação do espaço público, como tal, livre, que num gesto de irmandade ameaçou valores recalcados, conservadores, tendendo a defender a pureza da ordem das coisas. A pichação foi associada à sujeira, à desobediência, à destruição (impurezas). A pichação tocou no calo da ordem: erotizou o espaço e as formas arquitetônicas (transformou o puro em impuro). A pureza na política (inclusive a travestida de administração e legalidade) é perigosa: ela nos remete à movimentos reacionários visando a purificação como os nazismos, os stalinismos, o varguismo, a ditadura civil-militar (vide a defesa da Família e da Tradição) etc. Todos esses movimentos ideológicos visaram a purificação da Nação e do Patrimônio Público (que de público não há nada). A política de competição hoje implementada na Pós-Graduação visa, também, a purificação: afastar os impuros (os improdutivos) para que não contaminem os puros (a busca pela produtividade e resultados individuais e institucionais).

Por fim, a gestão atual do Centro precisa assumir para si a responsabilidade de pautar a criação de órgãos democráticos (no plural): operativos, consultivos e deliberativos (sem estes, não há democracia) – a discussão da estatuinte vem a calhar. Essa direção está tímida, inexistindo ações eficazes: o Conselho Departamental Ampliado e a Ouvidoria são medidas burocráticas e privatistas que não interessam à democratização do CE. A votação estrondosa que recebeu essa direção precisa ser expressa em ações e propostas para que todos se reconheçam no processo de criação e implementação desses órgãos; assim, daremos passos firmes e consistentes, diminuindo ou eliminando práticas, que emergiram da alma atormentada (imagens recalcadas de repressão) e que não ajudam na consolidação democrática que o CE discursivamente propaga de vento em popa.

Proponho a criação de um órgão, bastante amplo, político-pedagógico que teria a função de discutir e deliberar posição/orientação sobre temas político-pedagógico-educacionais em âmbito nacional ao local (UFPE), um órgão técnico-adminsitrativo-educacional, assembleias gerais nos três turnos para assuntos polêmicos, realização de Congresso bi anual. Precisamos instituir um espaço público de fato, e não essa farsa, oriunda da ditadura: burocrática, fálica e privada.

A construção coletiva desses novos órgãos dará nova oxigenação ao CE, resgatando formas comunitárias e solidárias. Certamente, emergirão conflitos antagônicos, porque velhos poderes visam desaparecer ou serão canalizados para estruturas administrativas e outras serão propostas para instituir novos valores, novas pedagogias. O importante é que as diversas opiniões, ideologias e pedagogias tenham espaços organizacionais que possibilitem a circulação e que as condições de disputas de idéias sejam respeitadas, e não escondidas nas estruturas conservadoras/reacionárias dos atuais Conselhos e Colegiados. Os estudantes e servidores precisam ser chamados a assumirem suas responsabilidades em defesa da coisa pública, do bem público. O diretório acadêmico precisa se mobilizar para assumir-se como sujeito histórico, e não apenas, objeto. A participação efetiva dos estudantes é fundamental para que se instaure e institua novos órgãos e democráticos. Incluímos ainda, como sujeitos vivos a se integrarem na composição e criação dos órgãos democráticos, a comunidade da várzea, seus moradores e artistas/educadores, criando laços afetivo-corpóreos, instituindo um corpo vivo e pulsante na perspectiva de um imaginário público e revolucionário.

Antes de encerrarmos, é bom demarcar a importância política de a direção do CE informar publicamente (e não apenas nos Colegiados e Conselho Departamental), com detalhes, sobre a denúncia (e o/a denunciante) na Reitoria e seus desdobramentos por parte da administração central, caso ocorram. A prática criminalizadora precisa ser combatida na raiz para que ela não volte novamente. Precisamos construir um espaço público que as pessoas se reconheçam e respeitem a sua dinâmica e deliberações. O Conselho Departamental e os colegiados dos departamentos representam a escuridão da ditadura. Eles não conseguem mais – se é que algum dia conseguiram – traduzir os anseios coletivos democráticos. Enterremos esses órgãos, pois a palavra “democracia” não tem valor nenhum se não houver correspondência com o corpo, a organização. Façamos o seu luto. A insistência em propagar tal palavra, democracia, sem mexer em seu “interior” só poderá ser interpretada como manipulação, engodo, pois não há “alma” sem “corpo” e “corpo” sem “alma”.

Aqueles que se sentiram agredidos, por favor relevem interpretações pessoalizadas. Aqui, propusemos uma análise consistente; e caso não a tenhamos conseguido, resta-nos pedir-lhes desculpas pelos limites, enfatizando porém, o que nos moveu foi o objetivo sincero de contribuir para a construção democrática apregoada pelo CE.


PELA   CRIAÇÃO  DE   UM   ESPAÇO   PÚBLICO   DEMOCRÁTICO  DESEJANTE: PLURAL, DIVERSO E AUTÔNOMO!

Recife,  26 de agosto de 2013



Evson Malaquias de Moraes Santos

        (Texto publicado com a expressa autorização do autor, que é professor do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco )

Charge! Renato Aroeira via Facebook

domingo, 10 de abril de 2016

Até o Datafolha confirma que Lula é imbatível.

Intenção de voto 2016


A última pesquisa Datafolha, publicada no dia 09, sobre a intenção de voto dos eleitores para as eleições presidenciais de 2018, apresenta um cenário curioso. Nos dois cenários apresentados - com o senador Aécio Neves(PSDB) ou o governador Geraldo Alckmin(PSDB) como candidatos - Lula e Marina Silva lideram as intenções de voto. É uma pesquisa realizada com bastante antecedência, mas mostra alguns fatos emblemático. O prestígio de Lula continua forte junto ao eleitorado. Disputando eleições limpas, pedindo o voto do eleitor a partir de um programa de governo, muito dificilmente os tucanos teriam condições de suplantar o oponente, donde se entende essas manobras de tapetão, de bastidores, no sentido de apear da vida pública o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Um internauta observou que o maior índice de crescimento se deu exatamente no momento em que houve a condução coercitiva de Lula, determinada pelo juiz Sérgio Moro. Há rumores de que, naquele momento, estava em jogo um projeto de execração pública de Lula, que seria levado para ser ouvido na Justiça do Paraná. A ação de um capitão da Aeronáutica, no Aeroporto de Congonhas, evitou esse desfecho. Nunca se soube o nome deste capitão, mas, segundo alguns, sua ação pode ter evitado até mesmo um golpe de Estado. 

Das razões de boicotar a Rede Globo - uma entrevista esclarecedora com Reginaldo Nasser

Jornal GGN - O professor Reginaldo Nasser concedeu entrevista à rádio da Rede Brasil Atual para falar sobre suas negativas de conceder entrevista à Rede Globo. Eis as razões, e que acabaram por inspirar tantos mestres.
Reginaldo Nasser é cientista político e professor de Relações Internacionais da PUC de São Paulo. Ele sugere que seja feito um boicote contra a Rede Globo, por considerar que a emissora tem tido uma posturamais que antiética na cobertura jornalística da crise política que acomete o país. Ele se recusa a dar entrevistas para a Globo. E ele não está só.
A reportagem é de Marilu Cabañas, da Rede Brasil Atual.
(Publicado originalmente no site do Nassif)

sábado, 9 de abril de 2016

Charge! Leo Villanova via Facebook

Chumbo-grosso na semana que antecede a votação do impeachment


Uma vez "admitido", existe a expectativa de que o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff possa ser apreciado já no próximo domingo, dia 17 de abril. A próxima semana, portanto, será uma semana para ficarmos de prontidão, com a disposição de barrar essa tentativa nefasta de afastar da Presidência da República, sem crime de responsabilidade configurado, uma presidente eleita pelas urnas, nas eleições de 2014. Não preciso repetir aqui que se trata de um golpe, mesmo que pelas vias institucionais. Há, em razão disso, uma responsabilidade maior de mobilização de todos aqueles que se colocam do lado da legalidade, do respeito aos institutos da democracia representativa e do Estado Democrático de Direito. Isso está muito além da defesa da presidente Dilma Rousseff. 

Pode-se apostar que a semana que antecede a votação será uma semana muito difícil. Eles já devem ter preparado o arsenal de ações - certamente midiaticamente mirabolantes - com o propósito de vencer este cabo de guerra entre legalidade e ilegalidade travestida de expedientes muito bem conhecidos. O senhor juiz da Justiça do Paraná encontra-se meio ressabiado depois das reprimendas aplicadas a ele, em razão das lambanças com a história dos grampos e seu vazamento criminoso. Esperamos que não fique apenas nisso, pois ele cometeu crime. Há alguns ministros do STF que já manifestaram um raciocínio nesta mesma direção. 

Um outro aspecto que deve tê-lo deixado preocupado é a ideia fixa de enquadrar Lula e Dilma na Lava Jato, algo que não encontra respaldo nos autos até aqui. O Planalto acredita que será deflagrada mais uma fase da Operação Lava Jato, desta vez com o propósito de criar um clima pró-impeachment na semana que antecede a votação. Pode apostar que sim. Eles não baixariam a guarda justamente neste momento decisivo para os seus intentos de afastar o PT do poder. Aliás, todas as ações que querem afastar Dilma da presidência estão muito bem coordenadas. Dia 17 está programada mais uma mobilização dos coxinhas.