pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 10 de janeiro de 2021

Tijolinho: Impasses, rebeliões e farpas na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados.



Com a proximidade da eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, prevista para acontecer em  primeiro de fevereiro, não seria incomum que os ânimos ficassem exaltados entre os dois campos de disputa, situação e oposição, com declarações de parte a parte, seja em pronunciamentos, seja através de postagens nas  redes sociais. Se, por uma lado, é difícil aos petistas - sobretudo depois dos pertados políticos que vazaram de um futuro livro escrito pelo ex-deputado Eduardo Cunha - engolirem essa aliança pontual com Rodrigo Maia(DEM-RJ), por outro lado, partidos como o PSL manisfestam um certo desconforto ao perfilarem ao lado de grêmios políticos como o PT, PCdoB, PSOL, Rede, absolutamente divergentes de sua linha programática e ideológica. Assim, esboça-se uma rebelião  entre os seus parlamentares, que não desejam sufragar o nome de Baleia Rossi(MDB-SP) para a Presidência daquela Casa Legislativa. O presidente nacional da legenda, Luciano Bivar(PSL-PE) estaria atuando como bombeiro, tentando apagar o  incêndio, ratificando a decisão do partido de votar no candidato de oposição e não no nome do candidato governista, João Lira(PP-AL). 

Embora eleito com o apoio decisivo do ex-presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido), Luciano Bivar(PSL-PE) é um desses que romperam e não nos parece que haverá caminho de volta, apesar da máxima do ex-governador Paulo Guerra, que dizia que em política não existem "Nunca" nem "Jamais".  Confesso aos leitores que até hoje não entendi muito bem os motivos da saída do presidente daquela agremiação, exceto, talvez, pelo que se especula de que ele deseja um partido para chamar de seu. Rusgas, farpas, choros e arrependimentos serão a toada daqui para frente, numa eleição marcada por um grande paradigma político, bastante diferente de outros momentos, onde os arranjos não eram assim tão complexos, como a manutenção, já em UTI, da  própria saúde de nossa democracia representativa. Ao apagar das luzes, segundo informa um colunista, Maia promoveu uma série de nomeações para a ocupação de cargos na instituição, com o propósito de "acomodar" sua base aliada. A informação é segura - do contrário não estaríamos publicando por aqui - uma vez que ela vem respaldada pelos portarias publicadas pelo Diário Oficial. Os recursos de Maia são menos robustos - muito diferente do montante de verbas disponíveis para  liberação através de emendas parlamentares ou nomeações para a máquina - mas eles existem e estão sendo sensivelmente utilizados, consoante acertos políticos.  

Como um hábil ator político, possivelmente, Rodrigo Maia alimenta a estratégia de gerar fatos políticos, ampliando o conflito com o presidente Jair Bolsonaro, numa tentativa clara de demarcar espaço, beneficiando-se dos impasses relativos ao agravamento da pandemia do Covid-19, assim como em relação aos problemas relativos à vacinação em massa da população. Há quem observe, porém, que uma eventual derrota do deputado João Lira(PP-AL), apoiado pelo Planalto, não seria, assim, o fim do mundo. Poderia, até, trazer alguns dividendos políticos positivos para ele na disputa de 2022, pois ajudaria a  jogar o carma pesado do PT no colo dos seus opositores, um fardo difícíl de carregar,  em razão da profunda campanha de desgaste de imagem produzida contra este partido junto a uma opinião pública hoje muito influenciada por fake news. Influenciada, aqui, é eufemismo. Na realidade, uma opinião pública formada por mentiras disseminadas com propósitos sempre escusos. 

Editorial: Caminhos (e descaminhos?) do Partido do Trabalhadores.




Ao se aproximar o dia da eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, ampliam-se as indisposições entre o atual presidente daquela Casa, Rodrigo Maia(DEM-RJ), e o Presidente da República, Jair Bolsonaro(Sem Partido). Como é sabido, ambos apoiam candidaturas distintas, o que, em parte, explica essas indisposições, que,  na realidade, já ocorrem há um bom tempo, com armistícios esporádicos, regados a canapés, cujos sabores são logo esquecidos, posto que incapazes de demover divergências políticas aparentemente irreconciliáveis.  Nossa quadra política passa por um dos momentos mais delicados, indutor de acordos e alianças antes inusitadas, como o apoio circunstancial e temporável do PT ao candidato apresentado por Rodrigo Maia, Baleia Rossi(MDB-SP). Tanto os Democratas quanto os emedebistas estiveram diretamente envolvidos nas tecituras políticas que culminaram com o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), numa trama nebulosa e inconstitucional, somente agora revelada em sua inteireza pelo livro-bomba do ex-deputado federal Eduardo Cunha. 

Essas revelações acenderam ainda mais a fagulha de repulsa entre aqueles petistas que nunca concordaram com essa aliança, mesmo diante de um cenário político controverso como este, onde a própria democracia representativa corre um sério risco. E, por falar no Partido dos Trabalhadores, dois fatos nos chamaram a atenção nos últimos dias. O artido de despedida do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad(PT-SP), comunicando sua decisão e exposição de motivos para não mais colaborar com o Jornal Folha de São Paulo, assim como uma  possível declaração do também ex-ministro da Justiça, Tarso Genro(PT), sugerindo, pasmem, uma aproximação do PT com ninguém mais ninguém menos do que o governador paulista, João Dória Junior(PSDB-SP), visando as eleições de 2022. Bem se ver que o momento político é daqueles capazes de produzir uma mistura homogênea entre água e óleo, diante das circunstâncias que se apresentam. O motivo da saída de Haddad da condição de colaborador do jornal paulista foi motivado por um editorial daquele jornal, onde se insinua que sua preocupação com a extinção dos imbróglios jurídicos que envolvem o ex-presidente Lula, na realidade, estaria relacionado à sua própria viabilidade como candidato às eleições presidenciais de 2022. Haddad seria uma espécie de poste de Lula. 

Acompanho a trajetória do político paulista há algum tempo e, em essência, discordo de boa parte do editorial. De fato, há uma espécie de pacto político entre Lula e Fernando Haddad(PT-SP), o que, inclusive, cria alguns problemas para o partido em outras praças, assim como interdita a viabilidade do surgimento de novas lideranças para se apresentarem ao eleitorado como representantes do partido, como é o caso, por exemplo,  de Camilo Santana(PT-CE), governador do Ceará, que está de malas prontas para deixar a legenda, cooptado que foi pelo PSB como possível alternativa às eleições presidenciais de 2022. A Executiva Nacional do partido jamais homologaria sua candidatura. Camilo Santana sabe disso. Nós sabemos disso. Haddad é uma espécie de "menudo" de Lula, ou seja, rebento de uma geração de (novas?) lideranças que o ex-presidente tentou formar depois da debacle do desgaste político dos antigos companheiros, durante os governos do PT em Brasília. Dentre esses menudos, creio, o único que permanece ativo ainda é o professor Fernando Haddad. Há de fato, uma fidelidade canina ou uma dívida de gratidão de Haddad ao ex-presidente Lula, algo que não pode ser interpretado unicamente como um propósito eleitoral. Há outros sentimentos em jogo e, neste aspecto, o editorial do jornal paulista foi infeliz. 

Na realidade, o jornal cometeu não um, mas dois equívocos em relação ao ex-ministro. Haddad foi um dos melhores ministros da educação dos últimos anos no Brasil, responsável, inclusive, pelo pool de ingresso de jovens pobres e negros ao ensino superior, uma verdadeira revolução na educação brasileira, conforme já enfatizamos em outros editorais. Numa outra matéria do jornal, ao abordar esse avanço substantivo na nossa educação, o jornalista esconde o fato de que esse crédito deve ser dado aos Governos da Coalizão petista, tratando genericamenete esse período como "década", como se políticas públicas e atores políticos específicos não estivessem por trás dessas conquistas. E, neste caso, os créditos também precisavam ser dados ao ex-ministro do Governo Lula, Fernando Haddad, assim como a outros nomes do Governo da Coalizão Petista, que, através de políticas públicas sistemáticas e articuladas, conseguiram essa proeza para a democracia substantiva no país. Este é o único indicador que melhorou em relação à raça negra nos últimos 520 anos.  

Um outro quadro petista que respeito bastante é o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro. Inteligente e perspicaz, o gaúcho se constitui num dos mais argutos observadores da nossa cena política, emitindo opiniões sempre muito respeitadas. Como afirmamos antes, no início deste editorial, a quadra política, numa dimensão diria que internacional, muito mais do que confusa, é extremamente preocupante, pois compromete os tecidos social, democrático, ambiental e, por consequência, civilizatório. Ou a humanidade dá um basta a este tsunami fascista e ultraliberal ou corremos um sério risco de nos encaminharmos para uma barbárie. Não sem motivos, há uma série de reflexões entre os analistas sociais mais consequentes em torno de uma sociedade pós-capitalista. Não preciso entrar nos detalhes sobre como este cenário se apresenta no país, algo discutido ao longo dos nossos editoriais. Talvez, diante dessas contingências políticas impostas pelo momento é que o ex-ministro tenha sugerido uma aproximação do PT ao PSDB do polêmico governador paulista, João Dória Junior, algo que, só de pensar, provoca urticárias e alguns membros e militantes da agremiação. Somente no contexto exposto é que se pode compreender o posicionamento de Tarso Genro. Mas, como disse, é bom ficar atento, pois ele costuma saber do que está falando.     

Charge! Duke via o Tempo

 


sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Editorial: Boas e más notícias em relação ao Coronavírus.


O mundo ainda acordou hoje sob os efeitos da ressaca política dos episódios do dia 06, ocorrido nos Estados Unidos, quando partidários do presidente Donald Trump invadiram o Capitólio, insatisfeitos com os resultados das últimas eleições presidenciais,  que sufragaram o nome de Joe Biden, do Partido Democrata, como vencedor daquele pleito. Donald Trump mudou completamente sua narrativa discursiva após o malogro de subverter as regras do jogo imposto nos limites da democracia representativa, que ratificaram o nome de Joe Biden como vencedor do pleito e futuro presidente dos Estados Unidos. Ao longo dos anos, a experiência democrática americana passa por um processo de fragilização, que pode ser explicado por inúmeros fatores - até mesmo em relação à composição étnica de sua população, com a chegada de imigrantes de outros países - mas, como disse antes, eles são rígidos na observação de alguns pressupostos basilares do regime democrático, como o respeito às regras de acatamento dos resultados eleitoriais, assim como ao princípio da alternância do poder. O incitamento a não observância dessas regras é considerado fato grave, quando imputado ao mandatário de turno  do cargo, tornando-o passível de um processo de impeachment, como se pensa em relação a Donald Trump, mesmo há poucos dias da entrega do mandato. 

Há várias leituras sobre esse fato político entre os analistas sociais, seja ele cientista político, historiador ou sociólogo. Alguns apontando um gravíssimo precedente, que pode a vir se repetir em outros países, consoante os arranjos políticos em curso, que integra essa onda conservadora de ultradireita, que traz, no seu bojo,  uma orientação política ultraliberal, que subverte valores democraticos em vários países, uma racionalidade incompatível com o respeito aos diretios individuais e coletivos, predadora em relação ao meio-ambiente. Uma lógica de acumulação do capital fanancista que está produzindo uma verdadeira catástrofe anticivilizatória. Outros observadores, no entanto, advogam que o que houve no dia 06 foi o debacle desse processo, ao se evitar que os vândalos materializem seu projeto, quando as instituições ainda se mostraram sólidas o suficiente para evitar o desmonte do edifício democrático. Aliado a isso, um outro indicador promissor para este último grupo seria o acúmulo de derrotas da chamada supremacia branca em eleições pontuais realizadas naquele país. Aqui sim, há um gostinho de vitória da luta antirracista, com repercussões em todo o mundo, dado o peso norte-americano que essa causa assumiu com o movimento Vidas Negras Importam.  

Aqui no Brasil, depois dos trágicos números do recrudescimento da Covid-19, que já nos elevou à triste marca dos 200 mil mortos, finalmente, as boas notícias do Ministério da Saúde, comunicando a negociação para a aquisição de um montante de vacinas superior a 400 milhões de doses, capaz, no final, de garantir uma dose dupla da vacina a cada brasileiro, conforme observação de um colunista político, que teve o cuidado de fazer as contas dos números apresentados pelo Governo Federal, através do ministro Eduardo Pazuello, da Saúde. Ainda segundo o ministro, essas vacinas deverão ser distribuídas de forma equânime, conforme as necessidades, entre os entes federados. Uma outra notícia alvissareira é a superação dos problemas inciais relativos à aquisição de insumos básicos como agulhas e seringas. A melhor notícia, no entanto, é o anúncio do índice de imunidade proporcionado pela CoronaVac, vacina que está sendo produzida pelo Instituto Butantan, avaliado em 78%. Esse índice é considerado muito bom em situações do gênero, onde algo em torno de 50% a 60% já seriam bem-vindo. 

O profundamente lamentável nisto tudo é o contumaz uso político desse drama de saúde pública que o país atravessa, com objetivos claramente eleitoreiros, visando as próximas eleições presidenciais de 2022, orquestrado por pretendentes ao cargo. Por questões óbvias, não vou aqui citar nome, mas os brasileiros e brasileiras bem-informados sabem a quem estamos nos referindo. Até o nome da CoronaVac passou a ser associado diretamente a este ator político, de ambições desmedidas, extremamente oportunista, capaz de aliar-se a Deus e ao Diabo para obter seus objetivos. Trava uma luta desesperado para dar o start de vacinação em massa em seu reduto político, de olho nos dividendos que podem ser colhidos nas eleições presidenciais de 2022. Outro dia, circunstancialmente, tivemos a oportunidade de acompanhar um debate antigo, onde ele trava um embate com um ator político do Partido Socialista Brasileiro. Profundamente didático para conhecermos sua personalidade.   


Charge! Duke via O Tempo

 


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Tijolinho: Medidas restritivas de aglomerações no Estado.



O governador Paulo Câmara(PSB-PE) se reuniu com os prefeitos da região metropolitana do Recife, com o objetivo de ajustar as medidas de contenção ao avanço do coronavírus no estado, que tem demonstrado um grande recrudescimento nos últimos dias, em todo o país. Ainda no dia de ontem, foram registradas 1.226 mortes, índice apenas comparável aos  piores momentos do primeiro surto da doença entre nos, quando medidas radicais de restrições de contato social precisaram ser adotadas. Hoje, com a economia ainda mais fragilizada e a pressão do mercado, medidas assim, embora necessárias, não seriam bem-vindas, em razão da grita dos comerciantes. Ainda assim, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Calil, do PSD, resolveu correr o risco, em razão dos problemas de estrangulamento da rede hospitalar do município. Um remédio amargo, mas menos amargo do que a perda de vidas decorrentes das complicações pelo contágio com o vírus. Alguns países europeus estão radicalizando, como a Inglaterra, que determinou que os alunos ficassem em casa novamente. Aquele país europeu, inclusive, enfrenta  problemas com uma variante do vírus, mas já iniciou a vacinação em massa da população.

Infelizmente, diante dos impasses com a questão da vacinação, envolvendo o poder central e os entes federados, assim como em relação ao destravamento da burocracia internacional para a aquisição da vacina - neste caso registro os avanços em relação às negociações de compra de doses produzidas pelo lnstituto Serum, da Índia - não descarto a possibilidade de os governos estaduais adotarem medidas radicais, assim como já ocorreu em Belo Horizonte, prevista para ser mantida por três semanas. Se dependesse da opinião do renomado cientista  Miguel Nicolelis, que assessora o Consórcio Nordeste nesta questão, um novo lockdown nacional precisa ser adotado imediatamente, sob pena de termos dias sombrios pela frente, com leitos de UTIs abarrotados, milhares de mortos e contaminados.  

Depois do encontro do governador, já li vários pronunciamentos dos prefeitos municipais de áreas litorâneas anunciando medidas preventivas para evitar aglomerações e, consequentemente, aumento do número de casos e mortes. As aglomerações que ocorrem nas praias nos finais de semana, com uma população já saturada do confinamento, certamente, contribui para a ampliação do número de casos de contágio pelo vírus. Essas medidas são um indicador de que a reunião surtiu seus efeitos positivos. Melhor ainda seria que, de forma consciente, a população se mantivesse atenta à necessidade de se adotar medidas que contribuíssem para evitar essas aglomerações, o que não vem ocorrendo. Neste caso, não resta outra alternativa que não a adoção de medidas mais duras pelo poder público, como uma nota emetida pela Secretaria de Defesa Social informando que intimará para prestar esclarecimentos quem violar as normas estabelecidas no tocante às proibições de aglomerações.    

Editorial: A democracia americana em risco.



Ainda durante os debates da última eleição presidencial americana, vencida por Joe Biden, do Partido Democrata, li um artigo do linguista Noam Chomsky, que me deixou bastante preocupado. Naquele artigo, entre outras inquietações, o ativista dos direitos humanos americano demonstrava uma grande preocupação com os rumos da democracia americana, em caso de as milícias armadas apoiadoras do então ainda presidente Donald Trump, não aceitarem o resultado do jogo e, insufladas, tentarem contestar o que as urnas indicavam, ou seja, uma vitória do candidato democrata. Ontem, dia 06, com a invasão do Capitólio - o  Congresso Americano -  as preocupações do linguista começaram a se confirmar, abrindo um precedente perigoso, que põe em risco não apenas aquela experiência democrática, mas o regime de democracias de outros países, principalmente entre aqueles países cujos líderes se espelham no presidente americano, fenômeno político que se espalha por vários continentes, com seus ilustres representantes latino-americanos.  

Alguns analistas políticos advogam aqui uma clara tentativa de golpe de estado, algo inédito na experiência democrática norte-americana, que não é lá grandes coisas, tem suas falhas evidentes, mas sempre deram um jeito de salvar as aparências, inibindo essas aventuras, caracterísitica comum entre as ditas republiquetas de bananas. Neste momento, entre os países que constrangem a democracia, milícias apoiadoras de governos com tendências autoritários - em alguns casos armadas - estão sendo instrumentalizadas para objetivos antidemocráticos, numa simbiose de interesses econômicos, políticos e geopolíticos, de matriz financista ou ultraliberal, que já não consegue viabilizar-se no contexto de um regime democrático, portanto precisa destruí-lo para consolidar seu projeto de poder e implementar sua agenda nefasta, incapaz de ser negociada em praça pública, exceto, talvez, entre os apoiaores insanos. O rolo compressor é perverso, anticivilizatório, predador e está comprometendo profundamente os tecidos social, democrático e ambiental. Uma espécie de capitalismo pandêmico, que está conduzindo-nos  a um desastre, a uma barbárie. Não há limites na consecução de seus piores objetivos.  

A negligência em relação à saúde pública, assim como o desprezo pelos procedimentos dos regimes democráticos causa urticárias em suas principais lideranças pelo mundo afora, com apoio de setores neopentecostais, militares, milicianos e grupos protofascistas. Como temos discutido por aqui, há até uma convergência de agenda, a princípio contraditória - como o apoio de grupos neopentecostais a práticas anticristãs ou sua aproximação com o crime organizado - envolvendo até mesmo denúncias de tráfico de drogas e expedientes milicianos. Uma das explicações possíveis é a tese da prosperidade - que guia esses grupos neopentecostais - assim como a sua penetração geográfica. Afinal, a maior força do neopentecostalismo está nas periferias empobrecidas,  nas favelas, controladas por traficantes e grupos milicianos armados. No Rio de Janeiro, por exemplo, 1 em cada 4 pessoas já vivem, literalmente, sob o controle das milícias. Ali já se observam, nitidamente, as digitais do Capitalismo Gore. Para sobreviver naquele ambiente é preciso fazer acordos e esses acordos também incluem os representantes de seitas neopentecostais, daí se entender essa perniciosa e singular aliança.  

E, como as contradições são uma norma desse momento delicado enfrentado pela civilização, a normalidade democrática dos americanos estará nas mãos de chefes militares e ex-ministros da defesa, que já assinaram uma nota informando que as regras do jogo devem ser respeitadas e que não admitiriam ou endossariam qualquer aventura proponente do contrário. No artigo citado acima, o linguista Noam Chomsky ainda fazia referênfia a este fato, observando que, em algumas operações recentes, o próprio presidente Donald Trump utilizou mercenários armados para as suas ações. Grupos e milícias armadas sempre se constituíram em graves ameaças aos regimes democráticos. Isso desde o surgimento do nazismo ou até antes, se nos aprofundarmos nos exemplos históricos. 

Facilidade na aquisição de armas, treinamento militar a civis deveriam ser muito bem observados, restritivos e monitorados com muito cuidado por aqueles que lutam pela preservação da democracia. Permissividade neste tema é uma prática que deveria ser combatida e rechaçada desde suas origens. Não é incomum a formação de "exércitos de cristo" junto a determinados grupos ou seitas neopentecostais, numa inegável tentativa de imprimir um imaginário de militarização de seus atos, sempre com prejuízos para a democracia, uma vez que esses grupos são induzidos a impor sua vontade sobre os outros, fato comprovado pelos constantes ataques aos terreiros de religiões afro-brasileira, em sua maioria, em ações individuais, comentidas por surtados.  O verdadeiro "Exército de Cristo" era composto por doze apóstolos que pregavam a paz e a justiça entre os homens. Nunca o ódio.  

As forças do campo democrático e progressista ainda não esboçaram uma reação à altura que o momento político exige. Estão inertes, acompanhando de camarote os acontecimentos. Como já externamos por aqui, todas as ações desses grupos que flertam com o fascismo  são milimetricamente planejadas. O fascismo tem um método, o fascismo tem um programa, o fascismo tem uma ideologia. O que ocorreu nos Estados Unidos é apenas um esboço do que pode vir a ocorrer em outras praças, caso esse projeto se sinta ameaçado. O roteiro do filme já foi escrito e desta vez ele não foi escrito pelos roteirista da indústria cinematográfica americana, mas pelo mainstream ultraconservador da banca internacional.   

As vozes das mulheres quilombolas

 


As vozes das mulheres quilombolas
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Selma dos Santos Dealdina é organizadora do livro 'Mulheres quilombolas', que reúne ensaios e poemas sobre o papel das mulheres nessas comunidades (Foto: Divulgação)

 

“Ser mulher quilombola é sinônimo de resistência. Significa carregar na identidade, no corpo, no cuidado com a família, na lida no campo ou na agitação do urbano uma história ancestral de muita dignidade”, assim Nilma Lino Gomes apresenta Mulheres quilombolas: territórios de existências negras femininas, organizado por Selma dos Santos Dealdina.

O livro reúne textos de mulheres de diferentes quilombos espalhados pelo Brasil, que reforçam, sob diferentes perspectivas, a afirmação acima. Mas o que seria um quilombo? Segundo Carlídia Pereira de Almeida, quilombo pode ser definido de várias maneiras, e a história de seu conceito “é controversa entre a população afrodescendente”, uma vez que “cada quilombo é diferente do outro e não há necessidade de fixar categorias estáticas, devido ao processo de reconhecimento da própria comunidade”. Entre as muitas definições de quilombo, algumas características parecem se repetir: “São comunidades que travam diariamente o embate pelo direito à terra e ao território, bem como por políticas públicas específicas, das quais foram sistematicamente privadas devido ao racismo do Estado”, como lembra de Almeida.

Os quilombos representam também, de acordo com Selma dos Santos Dealdina, “um projeto de partilha, de viver em comunidade, de construção de território enquanto coletivo, compartilhando o acesso a bens, em especial à terra”. O quilombo é uma alternativa ao capitalismo, afirma a pesquisadora. Talvez por isso, e principalmente neste governo, ele seja tão mal visto por aqui.

Nessas comunidades, as mulheres exercem um papel fundamental, pois são elas que transmitem oralmente seus valores culturais, sociais, educacionais e políticos para os mais jovens, ou seja, entre outras funções, cabe a elas serem as “guardiãs da pluralidade de conhecimento que são praticados nos territórios quilombolas”, como se lê no ensaio assinado por Givânia Maria da Silva.

Entre esses muitos conhecimentos, afirma Dealdina, estão aqueles relacionados ao cuidado da roça, das sementes e “da preservação de recursos naturais fundamentais para a garantia dos direitos”. Valéria Pôrto dos Santos destaca a prática da agroecologia, “uma ciência que valoriza o conhecimento agrícola tradicional, desprezado pela agricultura moderna […]. O principal indicador deve ser o bem-estar da população, e não a produção econômica”, o que leva a um “consumo consciente e sustentável, além de inserir práticas educativas nos diferentes espaços comunitários”.

Este livro chama a atenção para essa sabedoria, para essa “inteligência do sensível”, que apreende o mundo como totalidade viva e que, diferentemente do capitalismo, não produz ecocídios, como denuncia o pensador afro-europeu Dénètem Touam Bona, no recém-lançado Cosmopoéticas do refúgio (Cultura e Barbárie).

Por vezes o que acontece é que a sociedade civil e a academia se apropriam desses saberes das comunidades quilombolas para “uma pesquisa individualista e sem responsabilidade coletiva”, como já alertava, nos anos 1990, Dona Procópia, citada por Dealdina. Dessa forma, esses saberes expropriados dos quilombolas acabam sendo usados para outros fins, que não se coadunam com a compreensão de coletividade, fundamental para essas comunidades.

Além de ensaios, há também poemas no livro, entre eles, “Povo Negro”, de Ana Cleide da Cruz Vasconcelos, cujos versos enfatizam a luta pelo território, que é comum às comunidades quilombolas, já que ao longo dos séculos vêm sendo privadas de suas terras: “O povo negro é trabalhador/é pescador pra sua família alimentar./ O povo negro quer terra pra morar,/ quer terra pra plantar, mas não tem lugar”.

Em outro poema, “Mulheres da Amazônia”, Vasconcelos traz à tona a força das mulheres da Amazônia, “negras, indígenas, pescadoras./ As lavadeiras, as parteiras e as benzedeiras”, que não conheciam seus direitos, mas agora conhecem e conseguiram avançar em todas as áreas, como bem se pode observar nas biografias das estudiosas que assinam os textos desta antologia.

Cabe aqui, contudo, uma ressalva: a força das mulheres negras não significa que elas possam suportar tudo, “inclusive a violação de direitos fundamentais como educação, saúde, oportunidades de trabalho digno etc.”, como enfatiza Maria Aparecida Mendes.

Mulheres quilombolas é um livro fundamental, que nos dá a oportunidade de conhecer as experiências de mulheres negras que “silenciadas avançaram. Invisibilizadas avançaram. Aquilombadas, avançaram”, como diz Flávia Oliveira no texto de orelha.

Dirce Waltrick do Amarante é autora, entre outros, de Cem encontros ilustrados (Iluminuras).

Mulheres quilombolas: territórios de existências negras femininas
org. Selma dos Santos Dealdina
Jandaíra
168 páginas – R$48,00

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

Charge! Duke via O Tempo

 


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Editorial: O Brasil, de fato, vive um mau momento econômico?



Os profissionais de medicina já haviam alertado para os problemas psíquicos que devem atingir a população em relação ao confinamento imposto pela pandemia do coronavírus. Somente depois de superarmos essa fase do isolamento social - algo que pode ser obtido com a vacinação em massa da população - é que teremos uma ideia mais concreta sobre esses danos à saúde mental da população. Sou informado sobre uma matéria de um grande jornal paulista, dando conta de que as mulheres teriam maiores probabilidades de apresentarem esses sintomas e patologias e fico tentando imaginar por quais motivos elas teriam maior propensão ao problema. Como não li a matéria, seria injusto de nossa parte ficar aqui fazendo conjecturas sobre o assunto. Além de injusto, seria uma deslealdade com nossos fiéis leitores e leitoras. Sem melindres, porém, já que estamos tratando de coisas sérias, arriscaríamos um possível palpite de cronista fã de carterinha de Luis Fernando Veríssimo, aquele da Comédia da Vida Privada. Ah! como sinto falta das interpretações de Fernanda Torres e Marco Nanini. Um mote desse e não temos dúvidas de que ele estaria explorando algumas possibilidades, como, por exemplo, a frustração feminina diante do fechamento ou restrições de acesso aos shopping centes, privando -as de um dos seus maiores prazeres: fazer compras. Confinammento social é fogo, gente! Outro dia circulou um vídeo onde uma amante - descompensada - procura um homem casado, em sua residência oficial, que ele dividia com a esposa e filhos.   

Mas, o que nós gostaríamos de tratar com vocês aqui, hoje, diz respeito a uma fala do presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido), afirmando sua preocupação com o fato de o país está quebrado e ele já não mais saber o que fazer. O Ministro da Economia, Paulo Guedes, saiu em sua defesa informamdo que, de fato, do ponto de vista das finanças públicas, haveria convergências com o chefe. No contexto beligerante que estamos vivendo hoje, por vezes até por oportunismo, surgiram várias vozes dissoantes, em protesto contra a fala do presidente. Nos bastidores, comenta-se que há no governo uma queda de braço evidente entre os ministros Paulo Guedes e Rogério Marinho, do Desenvolvimento, em torno da manutenção ou não do Auxílio Emergencial, um fundo de emergência para fazer frente aos graves probelmas econômicos que vieram no bojo da crise de saúde pública. Segundo alguns analistas, esse auxílio seria fundamental para garantir a popularidade do presidente junto às classes C e D, algo de bom alvitre para quem pretende uma reeleição. O dono do cofre, Paulo Guedes, tem urticárias sempre que escuta essa tese circulando nos corredores do Palácio do Planalto. 

Não se pode fazer vista grossa aos problemas econômicos advindos com as restrições de contato e fechamento de estabelecimentos comerciais e indústriais durante o período imposto pelos lockdown geral ou parcial. Comércios foram fechado, postos de empregos foram perdidos durante esse periodo. Certamente, uma das razões para os governantes não adotaram medidas tãos radicais neste momento de retomada do surto da doença - seria a pressão exercida pelo capital. Paulo Guedes não gosta muito desses números, mas o IBGE aponta que três milhões e meio de empregos formais foram perdidos num intervalo de apenas um ano. Em São Paulo, já está ocorredndo um fenômeno curioso. Com as restrições impostas para a abetura do comércio - aliada ao aumento dos impostos como o ICMS - os comerciantes estão se deslocando para outras praças. Com o prolongamento dessa pandemia, se, no passado, tevemos uma guerra de incentivos fiscais entre os entes federados, hoje pode se falar num deslocamento do capital em função de medidas brandas ou rigorosas em relação  à circulação de pessoas. 

Faz algum tempo que não estamos sob um bom momento econômico, mas dizer que o país está quebrado, naturalmente, foi força de expressão do presidente Jair Bolsonaro. Aliás, quando a crise de saúde pública nos atingiu, já não íamos muito bem das pernas, com a precarização e  aumento sensível de trabalhadores que viviam sob a condição de insegura da informalidade. Como diria os próprios economistas, a tempestade é perfeita e, ainda mais perfeita, se consideramros os ajustes impostos por uma política ultraliberal, com sua dinâmica ou lógica de insensibilidade às garantias e direitos individuais e coletivos, excludente dos contingentes populacionais que não conseguem participar dos banquetes e orgias consumistas. Inclusive no setor público, temos déficits e dívidas, mas também temos lastro e créditos. Como disse, o termo utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido) pode ser enquadrado como força de expressão, fruto do expontaneísmo com que se comunica com seus eleitores. 

Tijolinho: Corrupção não se combate com decreto, Ives Ribeiro


Houve um tempo em que acompanhei mais de perto a trajetória política do prefeito de Paulista, Ives Ribeiro(MDB-PE). Era um tempo em que o ex-governador Miguel Arraes ainda era vivo e Ives era uma espécie de representante do arraesismo na região metropolitana norte do Recife, tendo sido prefeito de Itapissuma, Igarassu e Paulista, em todas essas cidades por dois mandatos consecutivos, um caso único em todo o país. O tempo passou e cometo a franqueza de dizer - franqueza é sempre uma qualidade que incomoda - que, se o velho D. Miguel Arraes ainda estivesse vivo, certamente o aconselharia a ficar atento às más companhia. Mas não vamos entrar aqui em polêmicas, sempre desgastantes, como se já não nos bastassem os sofirmentos infringidos por essa nefasta pandemia, que não emite sinais de enfranquecimento. Outro dia, diante dos seus projetos de intervenções na orla do município, sugeri que ele ficasse atento aos irreversíveis danos ambientais produzidos no município, ao longo dos últimos anos, que já comprometeram recursos naturais e referências históricas importantes, tudo em nome da sanha da especulação imobiliária. 

Naquela postagem, também fazia referência aos graves problemas de corrupção no município, envolvendo os poderes Executivo e Legislativo. Isso se arrasta há longos anos, como uma prática que parece ter se institucionalizado, para o desconforto dos cidadãos e cidadãs paulistenses, que pagam seus impostos e são lesados com os desvios  de recursos para fins nada republicanos, com prejuízos evindentes para  os serviços e equipamentos públicos. Por vezes, em razão das dificuldades de os órgãos de controle e fiscalização do Estado realizarem seus trabalhos a contento, seria de muito bom alvitre que o próprio eleitor produzisse, através do seu voto, essa assepcia política, impedidndo que esses agentes continuassem na condução dos negócios públicos. Infelizmente, nem sempre isso ocorre como nós gostaríamos. 

Isso vem a propósito de uma espécie de termo de compromisso anticorrupção que o prefeito Ives Ribeiro(MDB-PE) exigiu que os secretáros assinassem, assumindo o compromisso de combater a corrupção no município. O ato tem um valor simbólico, mas tenho dúvidas sobre seus efeitos práticos. Não por desconfiar das intenções do prefeito e dos seus futuros secretários - que devem ser as melhores possíveis -, mas, sobretudo, por saber da complexidade do problema da corrupção no país. Trata-se de uma corrupção de caráter endêmico, que não se combate a partir de um decreto. É uma questão de costumes, ou, mais precisamente, de mau costume, o que nos torna uma das nações mais corruptas do planeta. Outro dia comentava com um colega que temia bastante pela gestão do Eduardo Paes(DEM-RJ) no Rio de Janeiro. Ali, a corrupção está de uma forma tão entranhada, que parece que a máquina não anda sem o seu concurso. Não deve ser nada fácil conduzir uma máquina nessas condições, completamente estigmatizada.   

Charge! Via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Editorial: Finalmente, o PT decide apoiar a candidatura de Baleia Rossi.


Como sempre enfatizamos por aqui, o momento político e institucional  que o país atravessa não é dos melhores e pode tornar-se ainda mais nebuloso, caso as instituições basilares da democracia representativa não sejam preservadas. Daí se entender que a próxima eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados assuma tal magnitude, enquadrando-se neste axioma observado acima, bem diferente de outras eleições, realizadas, digamos assim, em clima de normalidade democrática. Como já tratamos dessas questões por aqui, em inúmeros editoriais, vamos nos deter numa resolução recente do Partido dos Trabalhadores, que, depois de muitas negociações internas, resolveu, finalmente, apoiar o nome do Deputado Federal Baleia Rossi, do MDB Paulista, o candidato indicado pelo atual presidente daquela Casa Legislativa, Rodrigo Maia(DEM-RJ). A bancada petista, composta por 54 Deputados Federais - a maior bancada, por sinal - ficou dividida, mas, no final, construíu um consenso em torno do nome do Deputado Baleia Rossi. Havia até questões de gênero em jogo, como o lançamento de uma candidatura feminina nesta primeira fase da disputa, já que o jogo deve ser mesmo definido num segundo turno.  

Rodrigo Maia(DEM-RJ) tem sido muito otimista em relação ao resultado daquele pleito, que deve ocorrer no ínicio de fevereiro, mas é sempre bom ficar atento a uma observação de uma raposa da política mineira, Tancredo Neves, observando que, naquele escurinho, sobretudo em votação secreta, os homens traem. E as mulheres também, meu caro Tancredo, antes que nos acusem de misoginia. Há uma estimativa, por exemplo, de que nada menos do que 15 parlamentares do Partido Socialista Brasileiro não sigam a orientação da Direção Nacional da Legenda, que indicou o voto no candidato da oposição, Baleia Rossi(MDB-SP). Esses parlamentares devem sufragar o nome do Deputado Arthur Lira(PP-AL), que tem o apoio do Palácio do Planalto. Assim como ocorre com o PSB, não seria improvável que tal fato possa ocorrer em relação a outras agremiações políticas. Mesmo assim, a adesão do PT ao nome do Deputado Baleia Rossi deixou Rodrigo Maia mais tranquilo, ele que não escondia de ninguém sua tensão nos últimos dias.

Há quem observe nesses arranjos políticos em torno de apoios na disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados possíveis acordos em relação às eleições presidenciais de 2022. Não seria improvável, mas seria precipitado tirar algumas conclusões. Partidos do campo progressista, como o PSOL, por exemplo, ainda não resolveu acompanhar a decisão do PT, o que seria, em tese, um caminho "natural", sobretudo em se trantando das contingências políticas que estão em jogo neste momento. As atitudes desse partido, não raro, nos surpreendem bastante. Um dos argumentos para não aderir de imeditato à candidatura de oposição seria a de adquirir melhores condições de espaço na composições das comissões. O apoio no segundo turno - de acordo com o raciocínio daquela agremiação - aumentaria o seu poder de barganha nas negociações. Se nos permitem a digressão, um raciocínio estritamente fisiológico, o que, a rigor, não combinaria com o perfil deste partido. 

O que se comenta nas coxias é que o Planalto teria acusado o golpe em relação ao apoio do PT ao nome indicado por Rodrigo Maia(DEM-RJ). Em todo caso, considerando a imprevisibilidade das traições - normalmente, exceto talvez pelo PSB, quem trai não antecipa a traição - não se pode aqui arriscar um prognóstico de um resultado sobre aquela eleição. O mais importante precisa ser preservado. O papel do Legislativo no contexto de uma democracia representativa, instância de poder do equilíbrio de forças entre os três poderes. Normalmente, em situações de Executivos fortes, tanto o poder Legislativo quanto o Poder Judiciário, por razões óbvias, se sentem ameaçados em sua autonomia e independência.  


"É nosso dever lutar por nossa liberdade": sobre a autobiografia de Assata Shakur


No dia 16 junho de 2017, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participava de um evento na Pequena Havana, bairro de Miami onde moram cubanos exilados, com uma audiência formada por setores da comunidade cubana-estadunidense que o apoiaram durante o processo eleitoral. No discurso proferido, entre outras questões, mencionou o cancelamento das políticas de aproximação entre Cuba e os Estados Unidos, iniciada durante a presidência de Barack Obama. Trump também exigia a liberdade dos presos políticos cubanos e demandava o retorno de estadunidenses exilados naquele país, que nomeava como fugitivos. Uma menção em especial, com direito a ênfase e pausa dramática, chamou a atenção: “[…] return the fugitives from american justice — including the return of the cop-killer Joanne Chesimard” (“[…] entreguem os fugitivos do sistema de justiça estadunidense — incluindo a assassina de policiais Joanne Chesimard”).[nota 1]


Por que o presidente de uma das maiores potências econômicas do mundo publicamente nomeava essa mulher como um dos empecilhos para aproximação entre dois países? Quem é, afinal, Joanne Chesimard? O que havia de tão singular em torno dela?

“MEU NOME É ASSATA SHAKUR” [nota 2]

Joanne Chesimard é o nome civil de Assata Shakur, cuja trajetória representa os desejos e lutas por liberdade e autodeterminação para muitos movimentos de libertação negra em todo mundo. Ela é referência essencial para o movimento Black Lives Matter e seu livro Assata: An autobiography, lançado em 1987, é responsável por sua contínua e permanente circulação. No Brasil, de forma independente, os textos e o pensamento da autora já circulam há algum tempo entre setores do movimento negro, que a tem como referência. Em dezembro, está prevista o lançamento da edição brasileira do livro pela editora Pallas, com tradução de Carla Branco.

Como ocorreu com um número considerável de ativistas negros — que foram criminalizados, perseguidos, presos ou eliminados pelo Estado, em especial nas ações do Cointelpro [nota 3] —, Assata foi acusada de crimes que não cometeu, entre eles o assassinato de um policial no dia 2 maio de 1973, em uma carreteira na cidade Nova Jersey. [nota 4] O que seria mais um caso comum naquele contexto tornou-se excepcional quando ela conseguiu fugir do presídio, em 1979, e reapareceu em Cuba, na década seguinte, na condição de exilada política.

Assata Shakur nasceu na cidade de Nova York em 1947, mas passou a infância na Carolina do Norte, um estado sulista segregado. Retornou adolescente para o distrito do Queens, em sua cidade natal. Participou de algumas organizações negras que compuseram o movimento Black Power, militou no Partido dos Panteras Negras. Posteriormente, após a brutal investida do Estado americano para destruir o Partido, ela integrou o Exército da Libertação Negra, uma organização da qual pouco se sabe por conta de seu caráter clandestino — a própria autora menciona poucas informações sobre o assunto no livro.

No período que esteve no Partido dos Panteras Negras, não era uma liderança pública. Na verdade, ela, como outras mulheres negras, fazia parte da base do Partido, ainda que publicamente as principais lideranças fossem masculinas. As mulheres eram responsáveis, por exemplo, pela execução dos programas sociais para a comunidade, dos quais o mais famoso era o programa do café da manhã que alimentava crianças antes delas irem à escola — muitas das crianças, particularmente as negras, iam assistir aulas com fome e tinham dificuldades de aprendizagem. Um dos aspectos interessantes da autobiografia é o relato e análise da experiência cotidiana dos Panteras do ponto de vista de quem estava na base, longe dos holofotes.

AUTOBIOGRAFIA

A autobiografia de Assata Shakur é uma obra de referência lida nos mais variados contextos, de ativistas a acadêmicos. A razão de sua popularidade está no fato de a autora elaborar uma construção e apresentação de si profundamente conectadas a uma reflexão acerca do racismo e da supremacia branca na formação estrutural dos Estados Unidos, apontando elementos práticos para a ação política.

A obra compõe uma conhecida tradição de escritas autobiográficas feitas por integrantes dos movimentos de luta por libertação negra das décadas de 1960 e 1970, um campo narrativo no qual a escrita feita por mulheres negras ocupa um espaço tímido, mas contundente.[nota 5] No conjunto dessas publicações observa-se a característica comum de realizar um exercício de autorreflexividade, teorização e organização da própria trajetória. Elas servem como espaço de elaboração tanto de si como do contexto nos quais viveram e atuaram. Trata-se, também, de narrativas de disputa da própria História e de determinados acontecimentos que foram primeiramente apresentados por terceiros (imprensa ou governo, por exemplo) em campanhas de vilipendiações.

A autobiografia de Assata Shakur, contudo, amplia as características usuais do gênero por algumas razões. Suas singularidades verificam-se, por exemplo, nas experimentações literárias da obra, que acomoda gêneros como a poesia (a autora coloca seus próprios poemas na narrativa), algo incomum em publicações similares. Há, também, uma descontinuidade na estrutura cronológica da apresentação dos acontecimentos: os capítulos não estão organizados de forma linear, revelam alternâncias de temporalidades, idas e vindas na narrativa.

No entanto, o que a torna realmente singular é a acomodação do silêncio, a manutenção do segredo — e, ainda que o caso dela não tenha sido o único, é sem dúvida um dos mais instigantes e um dos que alcançaram grande visibilidade midiática. A trajetória da autora é envolvida em mistérios instigantes que não são resolvidos no livro; ou seja, o que gostaríamos de saber não nos é dito. Propositalmente, ela não nos conta como conseguiu escapar da prisão. Onde esteve durante sua clandestinidade? Como sobreviveu? Como chegou a Cuba? Assata não apresenta respostas para essas perguntas; antes, faz descrições vagas, sugere mais do que responde e, principalmente, mantém o silêncio sobre aquilo que não se pode revelar. Afinal, há segredos que devem ser preservados.[nota 6] Esse interdito torna a leitura menos óbvia e mais interessante pois, em lugar de satisfazer a curiosidade do público, a autora nos leva a outros caminhos. No livro, esses silêncios são expressivos porque compõem um espaço especulativo a respeito da possibilidade de futuros.

A busca pela liberdade e seus significados é um dos temas que mobilizaram as ações políticas e as reflexões teóricas de Assata. Não é casual que o pós-escrito da autobiografia a tenha como primeira palavra: “Liberdade. Eu não conseguia acreditar que aquilo realmente tinha acontecido, que o pesadelo havia acabado, que finalmente o sonho se tornou realidade.”

Também não é casual que a narrativa se encerre em Cuba, local onde a autora encontrou sua liberdade: afinal, o governo cubano tem assegurado e garantido sua segurança física. O final do livro traz o tão sonhado encontro entre as mulheres de sua família: a mãe, a tia e a filha que teve no período em que esteve encarcerada. Assata termina com as seguintes palavras: “Não havia dúvida, nosso povo um dia seria livre. Os cowboys e os bandidos não eram donos do mundo.”

As fundadoras do movimento Black Lives Matter mencionam com frequência a importância da autora para elas, repetindo com frequência a frase Assata taught me (“Assata me ensinou”). Em termos de liderança política, há uma particularidade a respeito do Black Lives Matter: é a primeira vez na história das lutas negras nos Estados Unidos que o protagonismo público não pertence aos homens negros, mas às mulheres negras. Assim, entende-se a importância de Assata como referência revolucionária feminina.[nota 7] Versos de sua autoria são constantemente citados por ativistas do movimento ao término de reuniões, atos e encontros, repetidos em conjunto como mantras que inspiram as gerações mais jovens a persistirem. Assim, seguem e mantêm a tradição de luta, levando-a até as próximas gerações:

É nosso dever lutar por nossa liberdade.
É nosso dever vencer.
Devemos nos amar e apoiar uns aos outros.
Não temos nada a perder, exceto nossas correntes: [nota 8]

Em 2013, Assata tornou-se a primeira mulher a entrar na lista de terroristas mais procurados do FBI. Atualmente, a recompensa por seu paradeiro, de acordo com o site do próprio FBI, é de um milhão de dólares. Não é sem razão que o presidente dos Estados Unidos, que sustenta abertamente a ideia da supremacia branca, a considere uma “questão internacional”. No entanto, para pessoas comprometidas com a luta contra o racismo e contra a supremacia branca, Assata Shakur é uma revolucionária.


NOTAS

[nota 1] A declaração de Trump está disponível em youtube.com/watch?v=7yNsiZbKd1s (em 24’12”).

[nota 2] A citação completa no original: “My name is Assata Shakur (slave name joanne chesimard), and I am a revolutionary. A Black revolutionary” (em Assata: An autobiography; Westport, Connecticut: Lawrence Hill Books, 1987, p. 49). As traduções das demais citações deste texto são de minha autoria.

[nota 3] Cointelpro foi um programa de contra inteligência do governo estadunidense que se dedicou a perseguir dissidentes políticos de forma ilegal. Sabe-se hoje, por meio de ampla documentação sigilosa liberada pelo próprio governo estadunidense, que movimentos e lideranças eram monitorados. Há evidências que provam o envolvimento do FBI e dos departamentos de polícias em assassinatos, e se envolveram na imputação de crimes a membros da chamada “esquerda radical” — particularmente, a militantes negros revolucionários, alguns dos quais se encontram presos até hoje.

[nota 4] O caso é bastante complexo. Em maio de 1973, Assata, Zayd Malik Shakur e Sundiata Acoli estavam em um carro que foi abordado pela polícia em uma rodovia com pedágio. A situação se transformou em um tiroteio no qual morreram Zayd e um policial. O julgamento ocorreu em 1977 e Assata foi condenada pelo assassinato do policial mesmo com as evidências médicas comprovando que seria impossível ela ter feito o disparo, uma vez que já se encontrava imobilizada em função de um tiro que recebeu de outro policial.

[nota 5] Além da autobiografia de Assata Shakur, outras duas escritas por mulheres negras ativistas são consideradas clássicos referenciais do gênero: a de Angela Davis, Uma autobiografia (Boitempo, 2019); e a escrita por Elaine Brown, A taste of power: A black woman’s story (Nova York: Doubleday, 1992). Abordei o assunto em artigo neste Pernambuco, na edição de março/2019, no qual discuti a autobiografia de Angela Davis.

[nota 6] Assata consegue a liberdade em uma ação considerada ilegal e que contou com a participação de muitas pessoas, algumas posteriormente presas e outras cujo envolvimento não se sabe ao certo.

[nota 7] Por essa filiação política, é frequente que conservadores e reacionários acusem o movimento de terrorista e violento. Uma das apresentações feitas pelas lideranças do Black Lives Matter está disponível em youtube.com/watch?v=dUZDZaWNOFg

[nota 8] No original: “It is our duty to fight for our freedom./. It is our duty to win./ We must love each other and support each other./ We have nothing to lose but our chains:

(Publicado originalmente no site do Suplemento Pernambuco)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Madame Bovary e as Tiranias da Intimidade | Margareth Rago

Tijolinho: Oposição qualificada na Casa de José Mariano. Bom para a democracia.


O PSB pernambucano já começa a preparar o terreno para as eleições estaduais de 2022. Ao assumir a pasta de Desenvolvimento Econômico, confirma-se a nossa previsão de que o nome o ungido é mesmo do ex-prefeito do Recife, Geraldo Júlio(PSB), que vem de um sensível desgaste neste segundo mandato à frente do Palácio Antonio Farias. A expectativa dos socialistas é a de que o futuro prefeito, João Campos(PSB), possa fazer uma gestão bem-sucedida, contribuindo para que o eleitorado urbano possa melhorar a avaliação do partido como um todo, apagando a imagem de uma gestão que enfrentou muitos problemas. A secretaria de Desenvolvimento Econômico é uma secretaria estratégica, com capacidade de captação de grandes recursos privados, o que pode projetar o nome do seu titular, habilitando-o ao embate de 2022, que não será fácil, pois a oposição conta com uma safra de novos prefeitos, com grande capacidade de trabalho, reeleitos, com  capilaridade politica, administrando grandes redutos eleitorais, em alguns casos, numa linha direta com Brasília. 

Aqui no Recife, são enormes as dificuldades que deverá enfrentar o futuro prefeito, problemas que se acumulam durante décadas, como perda de competitividade, redução de investimentos privados, aumento sensível das desigualdades sociais, degradação do centro da cidade. Outro dia fiquei estupefato com um vídeo que assisti sobre a população em situação de rua que está ocupando o pátio da Matiz de Nossa Senhora do Carmo, um dos nossos cartões postais. Alguém me informou que o mesmo problema ocorre em outros logradouros, como o Pátio de São Pedro, a Praça Maciel Pinheiro, proximidade do Mercado de São José, entre outros. Os recursos são escassos e exige dos novos gestores muita sensibilidade e criatividade para empregá-los da melhor maneira possível, em função de um benefício coletivo. Recife tem um sério problema com as intervenções urbanas, sempre orientadas pelo interessse do capital, desde o século passado. Outro dia ficamos sabendo sobre uma dissertaçãode mestrado, defendida recentemente, tratando desta questão. Isso confirma uma tese que sempre enfatizamos por aqui, a partir de um grafite observado no muro do Hospital Ulisses Pernambucano, conhecido como Tamarineira: O arquiteto do Recife é o capital. 

As possíveis mudanças nas diretrizes que regem as ZEIS - Zonas Especiais de Interesse Social - num processo de flexibilização legal permissivo, abrindo espaço para maior intervenção do capital, é algo que deve ser cuidado com bastante carinho, evitando posturas de caráter higienistas, facultando o acesso à cidade a apenas alguns poucos cidadãos privilegiados, com capacidade de consumo. Muito salutar, neste sentido que, logo na posse, a veradora eleita pelo PT, Liana Cirne, tenha exposto uma longa faixa na Casa de José Mariano, chamando a atenção do poder público para o problema. Liana Cirne, ao lado de Jairo Brito(PT), Ivan Morais(PSOL) Dani Portela(PSOL), a vereadora mais bem votada nas últimas eleiições - constitui-se numa safra de vereadores sérios, movidos pelo espírito público, preocupados com o bem comum, de perfil  republicano, que deverão fazer a diferença nos trabalhos daquela Casa. Embora o Partido dos Trabalhadores não assuma esta posição, tanto Liana quanto Jairo já assumiram que serão oposição.  

 

Editorial: Camilo Santana é a aposta do PSB para as eleições presidenciais de 2022



Um grande jornal paulista, ainda no dia de hoje, publicou um editorial acerca de um possível sectarismo do Partido dos Trabalhadores, numa referência às articulações em torno da Presidência da Câmara dos Deputados. Ora, esse termo, "sectarismo", era muito usado na década de 80 do século passado, quando se tentava caracterizar aquela agremiação política singular, surgida nas lutas sindicais e sociais, formada por lideranças do Novo Sindicalismo, setores que haviam pego em armas contra a Ditadura Militar, intelectuais de classe média, segmentos progressistas da Igreja Católica. Com o crescente processo de inserção daquele grêmio partidário nas regras do jogo da democracia representativa burguesa, gradativamente, o PT institucionalizou-se, celebrando alianças com grupos conservadores e acordos com o capital, perdendo, naturalmente, as características identitárias que marcaram o sua origem, entre elas o sectarismo. Não acredito que este seja hoje um termo dos mais felizes para ser impingido àquela agremiação política. 

O que percebemos como muito nítido, hoje, é a confirmação da tese do sociólogo alemão, Robert Michels, sobre o processo inevitável de oligarquização das origanizações sindicais e partidárias. No atual estágio, o partido possui suas tendências hegemônicas, capitaneadas por seus caciques, que, praticamente, controlam os órgãos deliberativos da legenda em cada estado da federação, mesmo enfrentando uma forte resistência dos setores mais jovens, orgânicos ou "radicais". Como dizia o cientista político italiano, Angelo Panebianco - numa referência às mudanças institucionais - por mais que uma instituição política mude ao longo de sua história, sempre haverá uma influência das cartas jogadas no início de sua formação. Haverá sempre esses grupos mais autênticos na agremiação, embora em situação de subalternização em relação aos chamados oligarcas. Aqui na província pernambucana, por exemplo, são esses grupos mais orgânicos e autênticos que exigem que o partido entregue os cargos no Governo Paulo Câmara(PSB) e volte a ser oposição. Principalmente depois do desgaste produzido pelas últimas eleições municipais. 

Não conheço em profundidade a realidade de outras praças, mas não seria improvável um diagnóstico de que a mesma situação ocorre, por exemplo, com o PT de Fortaleza, no Ceará. Ali, nas últmas eleições municipais, travou-se uma luta renhida entre as forças de oposição e setores conservadores, que perfilaram em apoio ao nome do capitão Wagner(Pros). O governador do PT, Camilo Santana, coerentemente, apoiou o nome indicado pelo PDT, Sarto Nogueira, que, no final, acabou vencendo aquelas eleições. Numa atitude, neste caso pouco compreensível, setores da agremiação decidiram que iriam fazer oposição ao futuro prefeito, algo que desgostou bastante o atual governador, Camilo Santana. Os rumores dão conta de que ele estaria de malas prontas para ingressar no Partido Socialista Brasileiro, numa articulação onde estaria em jogo as eleições presidenciais de 2022. Um dos artífices dessas articulações seria o governador de Pernambuco, Paulo Câmara(PSB), que, pelo visto, parece ter tomado gosto pela política depois do segundo mandato. Paulo Câmara foi um técnico alçado à condição de político pelo ex-governador Eduardo Campos. Além das articulações nacionais, prepara o terreno para fazer seu sucessor no Estado, nas eleições do próximo ano.  

O governador do Maranhão, Flávio Dino(PCdoB) também integraria essa composição. Isso talvez explique o acordo de cavalheiros com o PT local, que deve manter seus representantes no Governo do Estado, mesmo com forte resistência de integrantes e parlamentares da legenda, que já assumiram que farão oposição aos governos municipal e estadual dos socialistas. É preciso maiores informações para se tirar alguma conclusão mais específica sobre esse arranjo político, costurado com muito zelo pelas duas legendas. Como disse ontem no editorial, a plutocracia paulista petista, há muito tempo, faz uma dobradinha entre Lula e Fernando Haddad, ambos com juras de amor eterno. Uma relação de lealdade absoluta, o que é raro em política. Se Lula torna-se inviável por algum motivo, o bastão da disputa é entreque ao professor. Como já afirmamos antes, o PT tem capital político para levar uma eleição presidencial para o segundo turno - o que é importante - mas  torna-se alvo fácil para os adversários no segundo turno, em razão do desgaste proporcionado no imaginário social em razão da campanha sistemática de destruição de reputação. 

Principalmente aqui na região Nordeste, várias lideranças políticas do partido tem se projetado nacionalmente nas últimas décadas, como é o caso de Jacques Wagner e, naturalmente, Camilo Santana. Infelizmente, esse processo de oligarquização que passa a agremiação tem impedido que essas lideranças sejam testadas nacionalmente. São nomes menos desgastados, promissores, gestores bem-avaliados, que poderiam dar uma efetiva contribuição não apenas para oxigenar seus quadros, mas disputar em melhores condições as eleições. Antes, pesava bastante o argumentos dos grandes colégios eleitoriais, mas, sinceramente, não sei se hoje, este argumento seria assim determinante. Haddad é um dos "menudos de Lula", um conjunto de nomes forjados na luta política pele ex-presidente, depois da inviabilidade política de antigos companheiros, como José Dirceu, por exemplo. Talvez seja o momento de o PT pensar noutras alternativas e fechar seus flancos contra as investidas de outros partidos, mantendo nos seus quadros alguém com o perfil do governador Camilo Santana.  

Charge! Duke via O Tempo

 


domingo, 3 de janeiro de 2021

Tijolinho: Nova geração de prefeitos de olho no Campo das Princesas.




O ex-governador João Lyra Neto assumiu o Governo do Estado por alguns meses, em razão do afastamento do cargo do então governador Eduardo Campos(PSB), que iria concorrer às eleições presidenciais de 2014. Fez uma gestão discreta, como manda o figurino dessas substituições, mas obteve alguns resultados positivos, o que o credenciaria a habilitar-se a concorrer às eleições estuduais de 2016, logo em seguida, projeto inviabilizado pelos arranjos políticos locais da legenda socialista, que tinha outros planos. Mágoas e ressentimentos ficaram, embora, quando governador, Eduardo Campos tenha contemplado bastante aquele município da região Agreste pernambucano. No final, aquela contemplação que, de fato, importava - que seria o endosso do nome dele para concorrer ao Governo do Estado - não saiu. Já com uma certa idade, o patriarca do grupo político dos Lyra recolheu-se aos seus aposentos e passou o bastão da disputa política às novas gerações do clá, neste caso, sua filha Raquel Lyra(PSDB). 

Eleita prefeita em 2016, Raquel Lyra(PSDB) tem feito uma gestão criativa e inovadora, dando nó em água, para empregar bem os recursos públicos nesse momento de escassez. Pelo o andar da carruagem política - uma vez que foi reeleita na eleição municipal de 2020- a princípio, pode-se concluir que o eleitorado está aprovando sua gestão à frente da edilidade municipal. Raquel foi eleita sem muitas dificuldades para um segundo mandato. João Lyra, que estava naquela fase de recolhimento político - não necessariamente o imposto pela pandemia - compareceu à posse da filha, prestigiando-a, cheio de orgulho da herdeira política, que não esconde os projetos de credenciar-se a uma candidatura ao Governo do Estado pela oposição, em 2022.

Raquel Lyra(PSDB), ao lado dos herdeiros políticos dos clãs Ferreira e Coelho, respectivamente Anderson Ferreira(PL) e Miguel Coelho(MDB), são as grandes apostas políticas da oposição para as eleições estaduais de 2022. Cada qual se movimenta como pode - alguns com articulações e capilaridades políticas mais azeitadas, como é o caso de Miguel Coelho, que tem um irmão representante na Câmara Federal, Fernando Filho(MDB), e o pai, Fernando Bezerra Coelho(MDB) no Senado Federal. Seu pai é líder do Governo Federal no Senado - Isso garante a ele melhores condições de negociações de recursos federais para o município de Patrolina, como uma verba já assegurada, obtida através de liberação de emenda parlamentar, para execução pelo DINIT, destinada à melhoria das condições da Rodovia 428, que liga o município ao Recife, obra muito importante para o escoamento da produção da fruticultra irrigada da região. Mesmo neste contexto, não se pode desprezar o capital político dos outros dois possíveis postulantes ao cargo pela oposição, sobretudo em se tratando de cidades estratégicas, com a desnsidade eleitoral de uma Joaboatão dos Guararapes ( Região Metropolitana) ou de uma Caruaru( Agreste).  

P.S.: Do Contexto Político: "Recolheu-se aos seus aposentos", aqui, é força de expressão. Na realidade, não reuni as condições de acompanhar as eleições em Caruaru neste último pleito, mas, quando de sua primeira eleição, em razão das indisposições políticas, o Palácio do Campo das Princesas jogou "pesado' para favorecer seus candidatos naquele município. João Lyra, com a sua experiência, foi o grande artífice da vitória da filha. Estaria cometendo uma injustiça se não reconhecesse este fato, assim como, acredito, que ele seja uma espécie de consultor informal da filha prefeita. 

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo