pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 23 de junho de 2013

Elio Gaspari: O monstro foi para a rua


 
Em dezembro de 1974, a oposição havia derrotado a ditadura nas urnas, elegendo 16 dos 21 senadores, e o ex-presidente Juscelino Kubitschek estava num almoço quando lhe perguntaram o que acontecia no Brasil.
- O que vai acontecer, não sei. Soltaram o monstro. Ele está em todos os lugares.
Abaixou-se, como se procurasse alguma coisa embaixo da mesa e prosseguiu:
- Ele está em todos os lugares, aqui, ali, onde você imaginar.
- Que monstro?
- A opinião pública.
Dois anos depois JK morreu num acidente de automóvel e o monstro levou-o no ombros ao avião que o levaria a Brasília. Lá ocorreu a maior manifestação popular desde a deposição de João Goulart.
Em 1984 o general Ernesto Geisel estava diante de uma fotografia da multidão que fora à Candelária para o comício das Diretas Já.
- Eu me rendo --disse o ex-presidente, adversário até a morte de eleições diretas em qualquer país, em qualquer época.
Demorou uma década, mas o monstro prevaleceu. O oposicionista Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral e a ditadura finou-se.
O monstro voltou. O mesmo que pôs Fernando Collor para fora do Planalto.
No melhor momento de seu magnífico "Pós Guerra", o historiador Tony Judt escreveu que "os anos 60 foram a grande Era da Teoria". Havia teóricos de tudo e teorias para qualquer coisa. É natural que junho de 2013 desencadeie uma produção de teorias para explicar o que está acontecendo. Jogo jogado. Contudo, seria útil recapitular o que já aconteceu. Afinal, o que aconteceu, aconteceu, e o que está acontecendo, não se pode saber o que seja.
Aqui vão sete coisas que aconteceram nos últimos dez dias:
1) O prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin subiram as tarifas e foram para Paris, avisando que não conversariam nem com os manifestantes. Mudaram de ideia.
2) Geraldo Alckmin defendeu a ação da polícia na manifestação de quinta-feira passada. Mudou de ideia e pacificou sua PM.
3) O comandante da PM disse que sua tropa de choque só atirou quando foi apedrejada. Quem estava na esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia não viu isso.
4) Dilma Rousseff foi vaiada num estádio onde a meia-entrada custou R$ 28,50 (nove passagens de ônibus a R$ 3,20).
5) O cartola Joseph Blatter, presidente da Fifa, mandarim de uma instituição metida em ladroeiras, achou que podia dar lição de moral aos nativos. (A Viúva gastará mais de R$ 7 bilhões nessa prioridade. Só no MaracanãX, torraram R$ 1,2 bilhão.)
6) A repórter Fernanda Odilla revelou que o Itamaraty achou pequena a suíte de 81 m² do hotel Beverly Hills de Durban, na África do Sul, e hospedou a doutora Dilma no Hilton. (Por determinação do Planalto, essas informações tornaram-se reservadas e, a partir de agora, só serão divulgadas em 2015.)
7) A cabala para diluir as penas dadas aos mensaleiros que correm o risco de serem mandados para o presídio do Tremembé vai bem, obrigado. O ministro Dias Toffoli, do STF, disse que os recursos dos réus poderão demorar dois anos para ir a julgamento.
Para completar uma lista de dez, cada um pode acrescentar mais três, ao seu gosto. 

(Folha de São Paulo)

sábado, 22 de junho de 2013

Marcos Weissheimer: Uma multidão sequestrada por fascistas


publicado em 22 de junho de 2013 às 12:05

 Não há um “movimento” em disputa, mas uma multidão sequestrada por fascistas
Uma multidão sem representantes, cuja direção (rumo) parece ter sido sequestrada por grupos de extrema-direita e passa a atacar instituições públicas, partidos políticos e manifestantes de esquerda, não só não me representa como passa a ser algo a ser combatido politicamente.
Data: 21/06/2013
por Marco Aurélio Weissheimer, em Carta Maior
O que começou como uma grande mobilização social contra o aumento das passagens de ônibus e em defesa de um transporte público de qualidade está descambando a olhos vistos para um experimento social incontrolável com características fascistas que não podem mais ser desprezadas.
A quem interessa uma massa disforme na rua, “contra tudo o que está aí”, sem representantes, que diz não ter direção, em confronto permanente com a polícia, infiltrada por grupos interessados em promover quebradeiras, saques, ataques a prédios públicos e privados, ataques contra sedes de partidos políticos e a militantes de partidos, sindicatos e outros movimentos sociais?
Certamente não interessa à ainda frágil e imperfeita democracia brasileira. Frágil e imperfeita, mas uma democracia. Neste momento, não é demasiado lembrar o que isso significa.
Uma democracia, entre outras coisas, significa existência de partidos, de representantes eleitos pelo voto popular, do debate político como espaço de articulação e mediação das demandas da sociedade, do direito de livre expressão, de livre manifestação, de ir e vir. Na noite de quinta-feira, todos esses traços constitutivos da democracia foram ameaçados e atacados, de diversas formas, em várias cidades do país.
Houve violência policial? Houve. Mas aconteceram muitas outras coisas, não menos graves e potencializadoras dessa violência: ataques e expulsão de militantes de esquerda das manifestações, ataques a sedes de partidos políticos, a instituições públicas. Uma imagem marcante dessa onda de irracionalidade: os focos de incêndio na sede do Itamaraty, em Brasília. Essa imagem basta para ilustrar a gravidade da situação.
Não foram apenas militantes do PT que foram agredidos e expulsos de manifestações. O mesmo se repetiu, em várias cidades do país, com militantes do PSOL, do PSTU, do MST e pessoas que representavam apenas a si mesmas e portavam alguma bandeira ou camiseta de seu partido ou organização.
Em Porto Alegre, as sedes do PT e do PMDB foram atacadas. Em Recife, cerca de 200 pessoas foram expulsas da manifestação. Militantes do MST e de partidos apanharam. O prédio da prefeitura da cidade foi atacado. Militantes do MST também apanharam em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre outras cidades.
Em São Paulo, algumas dessas agressões foram feitas por pessoas armadas com facas. E quem promoveu todas essas agressões e ataques? Ninguém sabe ao certo, pois os agressores agiram sob o manto do anonimato propiciado pela multidão. Sabemos a identidade de quem apanhou, mas não de quem bateu.
Desde logo, cabe reconhecer que os dirigentes dos partidos, dos governos e dos meios de comunicação têm uma grande dose de responsabilidade pelo que está acontecendo.
Temos aí dois fenômenos que se retroalimentam: o rebaixamento da política à esfera do pragmatismo mais rasteiro e a criminalização midiática da política que coloca tudo e todos no mesmo saco, ocultando da população benefícios diários que são resultados de políticas públicas de qualidade que ajudam a vida das pessoas.
Há uma grande dose de responsabilidade a ser compartilhada por todos esses agentes. A eternamente adiada Reforma Política não pode mais esperar. Em um momento grave e difícil da história do país, o Congresso Nacional não está em funcionando. É sintomático não ter ocorrido a nenhum dos nossos representantes eleitos pelo voto convocar uma sessão extraordinária ou algo do tipo para conversar sobre o que está acontecendo.
Dito isso, é preciso ter clareza que todos esses problemas só poderão ser resolvidos com mais democracia e não com menos.
O rebaixamento da política à esfera do pragmatismo rasteiro exige partidos melhores e um voto mais esclarecido. A criminalização da política, dos partidos, sindicatos e movimentos sociais exige meios de comunicação mais responsáveis e menos comprometidos com grandes interesses privados.
Não são apenas “os partidos” e “os políticos” que estão sendo confrontados nas ruas. É a institucionalidade brasileira como um todo e os meios de comunicação são parte indissociável dessa institucionalidade.
Não é a toa que jornalistas, equipamentos e prédios de meios de comunicação estão sendo alvos de ataques também. Mas não teremos meios de comunicação melhores agredindo jornalistas, incendiando veículos de emissoras ou atacando prédios de empresas jornalísticas.
Uma certa onda de irracionalidade atravessa esse conjunto de ameaças e agressões, afetando inclusive militantes, dirigentes políticos e ativistas sociais experimentados que demoraram para perceber o monstro informe que estava se formando. E muitos ainda não perceberam. Após as primeiras grandes manifestações que começaram a pipocar por todo o país, alimentou-se a ilusão de que havia um “movimento em disputa” nas ruas.
O que aconteceu na noite de sexta-feira mostra claramente que não há “um movimento” a ser disputado. O que há é uma multidão disforme e descontrolada, arrastando-se pelas ruas e tendo alvos bem definidos: instituições públicas, prédios públicos, equipamentos públicos, sedes de partidos, jornalistas, meios de comunicação.
Os militantes e ativistas de organizações que tentaram começar a fazer essa disputa na noite de quinta foram repelidos, expelidos e agredidos. Talvez isso ajude a clarear as mentes e a desarmar um pouco os espíritos para o que está acontecendo.
Não é apenas a democracia, de modo geral, que está sob ameaça. Há algo chamado luta de
classes
, que muita gente jura que não existe, que está em curso.
Não é à toa que militantes do PT, do PSOL, do PSTU, do MST e de outras organizações de esquerda apanharam e foram expulsos de diversas manifestações ontem.
Com todas as suas imperfeições, erros, limites e contradições, o ciclo de governos da última década e em outros países da América Latina provocou muitas mudanças na estrutura de poder. Não provocou todas as necessárias e esse é, aliás, um dos fatores que alimentam a explosão social atual. Mas muitos interesses de classe foram contrariados e esses interesses não desistiram de retornar ao poder plenamente. Tem diante de si uma oportunidade de ouro.
Como jornalista, militante político de esquerda e cidadão, já firmei uma convicção a respeito do que está acontecendo.
Uma multidão cuja direção (rumo) passou a ser atacar instituições públicas, sem representantes, sequestrada por grupos de extrema-direita, que rejeita partidos políticos e hostiliza manifestantes de esquerda, não só não me representa como passa a ser algo a ser combatido politicamente. Ou alguém acha que setores das forças armadas e da direita brasileira estão assistindo a tudo isso de braços cruzados?

Esquerda ou direita?


 
O levante urbano desencadeado pelo Movimento Passe Livre (MPL) obteve uma vitória extraordinária ao conquistar a redução do preço das passagens do transporte coletivo em São Paulo e em tantas outras cidades. Mas, conquistada a reivindicação, é preciso saber para que lado vão os personagens que tomaram as ruas depois de 20 anos de ausência das massas na cena brasileira.
Duas características peculiares aos protestos recentes criaram uma indeterminação. A primeira é o seu estilo horizontal de organização, cujas raízes profundas estão na tremenda crise que assola a democracia contemporânea. Indignadas com o descolamento entre o mundo da política e o inferno da vida cotidiana, as pessoas recusam as organizações tradicionais --sejam partidos, sejam sindicatos--, ou o que se pareça com elas.
Convém esclarecer, antes que haja qualquer mal-entendido, que a democracia não pode funcionar sem partidos e que os sindicatos, apesar de todos os problemas, continuam a ser o melhor instrumento que o trabalhador tem para defender seus interesses. Para completar, em minha opinião, a democracia --em que pese os inúmeros e graves percalços pelos quais passa-- é a maior conquista da humanidade no campo da política. Isto posto, é preciso canalizar a revolta contra as instituições para uma participação que as revitalize, e não que as destrua.
O saudável ímpeto antivertical tem como contrapartida a falta de direção unificada. Ao não se delimitar com clareza o que cabia e o que não cabia nas manifestações, elas começaram a agregar um pouco de tudo, até mesmo ideologias opostas, como ficou claro na briga entre direita e esquerda que marcou a comemoração da vitória na av. Paulista anteontem.
O segundo elemento singular é que nunca na história recente do país --e, talvez, nem na antiga-- camadas populares tenham se levantado em tal proporção. Se o estopim foi aceso pela classe média, o novo proletariado, forjado na década do lulismo, entrou nas avenidas, dando um colorido inédito às marchas reivindicatórias. Uma placa tectônica do país se mexeu, surpreendendo a todos os atores tradicionais.
Iniciado pela esquerda, o processo ficou indeterminado quando se verificou que tal fração de classe pode ser fisgada pela direita, a partir de apelos contra a corrupção. A direita quer vender a ideia de que sanear o Estado (o que é necessário) e cortar funcionários resolveria as demandas por saúde, educação e segurança.
Caberá à esquerda, que teve o mérito de começar a luta, ter a coragem de mostrar a cara e propor um programa que, sem deixar de ser republicano, aposte na ampliação do gasto público, de modo a construir o bem-estar que as massas exigem. 

André Singer, Folha de São Paulo, 22.06.2013

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Crise de representação e sociedade em rede: Manuel Castells em alta.

 

Percebo que está em curso uma longa peregrinação de jornalistas às universidades à procura de uma explicação sobre as últimas mobilizações de rua que estão pipocando em todo o país. Conforme afirmamos pelo blog, tanto o sistema político quanto a academia foram pegos, literalmente, de calças curtas. Salvo algumas ponderações sobre as origens do MPL, sua agenda de reinvidicações, a condenação aos históricos problemas estruturais do país, no mais, nenhuma teoria mais explicativa sobre o que vem ocorrendo no país. Atônita, a classe política já começou a sinalizar com a necessidade de reorientar suas ações com o objetivo de atender a algumas dessas demandas, equivocadamente focadas apaenas na ponta do iceberg, ou seja, a tarifa do transporte coletivo. Vários Estados e capitais já sinalizaram nessa direção e os ecos da rua já atingiram o Poder Legislativo, em Brasília, onde já se discute uma redução de impostos que poderiam diminuir o valor das tarifas praticadas. Neste contexto, por dois motivos, ganha evidência o sociólogo catalão Manuel Castells, uma espécie de guru do grupo político que gira em torno da Marina Silva. Entusiasta de suas teorias, sabidamente, até o nome "partido" foi abolido pela acreana ao fundar sua "Rede Solidariedade". Faz algum tempo, escrevemos um longo artigo sobre o pensamento de Manuel Castells. Nada mais atual para entendermos a força das redes sociais do que o seu livro, que já se tornou um clássco, "Sociedade em Rede". Um outro aspecto que deve ser observado na teoria do catalão diz respeito ao esfacelamento do modelo de representação das democracias burguesas, onde os políticos passam a representar, unicamente, demandas do capital, envolvem-se em falcatruas, se locupletam da função, desviam recursos públicos, fraudam, celebram acordos espúrios, tornam o chefe do executivo reféns de chantagens etc. No caso brasileiro, nada mais emblemático do que o PMDB - que teve seu site invadido - para constituir-se como síntese desses desmandos. Os assessores da Presidência da República e do Estado de São Paulo - que demonstraram tanta preocupação sobre a força das redes sociais - deveriam, na realidade, fazer uma leitura correta sobre o que se passa com elas. Nos útlimos dias que antecederam às mobilizações, nunca vi tanta gente estabelecer comparações sobre os investimentos que estavam sendo feito para a realização da Copa em contrapartida aos gravíssimos problemas sociais do país na área de educação, saúde, infraestrura de transporte, degradação dos centros urbanos etc. Antes, essas "comparações" eram solenimente ignoradas, não mereciam curtições ou compartilhamentos. Nos últimos dias, "fermetou" e jogou a rapaziada nas ruas. Pay Attention, governantes!!! Gradativamente, vamos procurando outra aproximações teóricas para entender o fenômenos das ruas.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Jarbas Vasconcelos não foi ao forró da Fazenda Macambira.

  
Muito antes dos calejados cronistas de política, já antenciávamos que a Fazenda Macambira, em Caruaru, de propriedade dos Lyras, transformara-se num verdadeiro termômetro político do Estado. Sem nenhum exagero, macielistas de carteirinha já dançaram forró no seu arraial e, depois das tradicionais iguarias de época ali servidas, saíram do ambiente professando sua fé eduardista. Fernando Lyra, quando vivo, saboreou grandes churrascos políticos naquele espaço particular da Princesa do Agreste. Sem qualquer exagero, dizia-se que o homem era capaz de dar nó em água nas articulações políticas. Dia 24, o candidato Aécio Neves deve chegar ao Recife para um almoço com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Não fosse o compromisso de Eduardo Campos com a Copa das Confederações, certamente, eles estariam juntos no rala-bucho de Caruaru. Se Lyra estivesse vivo, seria uma boa oportunidade de encontrarem aquele que já afirmou que os dois políticos formam as duas maiores lideranças surgidas no país nos útlimos anos. Em seus comentários políticos aqui na rede, no dia de hoje, a jornalista Ana Lúcia Andrade comentou sobre as ausências sentidas no Forró da Fazenda Macambira deste ano. Não marcaram presença nem o senador Jarbas Vasconcelos e nem o seu fiel escudeiro, Raul Henry. Mesmo diante da possibilidade de o partido lançar candidatura própria ao Governo do Estado, próceres peemedebistas já reafirmaram que a prioridade da agremiação no Estado é reconduzir Jarbas Vasconcelos ao Senado Federal. Caso se viabilizasse a candidatura presidencial de Eduardo Campos, tudo seria mais simples para acomodar Jarbas na vaga de senador. Ocorre, entretanto, que a candidatura de Eduardo à Presidência das República passa por tenebroso inverno, com resistências dentro das próprias hostes socialistas e sistematicamente afetada pelas manobras do Planalto. Em suposta confidência ao jornalista da Época - que recentemente assinou uma matéria sobre o esfriamento do entusiasmo de Eduardo Campos com a sua candidatura - Jarbas Vasconcelos teria afirmado que Eduardo havia acusado os reflexos do jogo duro infringido pelo PT. Diante do exposto, como diria os bacharéis sem registro na OAB, começaram as especulações em torno das alternativas que se apresentam para o governador Eduardo Campos. O Senado Federal seria uma delas, confrontando-se diretamente com os planos de Jarbas Vasconcelos, daí começarem as indigestões políticas entre ambos e os "compromissos familiares" que afastaram Jarbas do rala-bucho da Fazenda Macambira. Já dizia uma velha raposa da política mineira que política é como as nuvens...Quem, quando criança, costumava tentar decifrar as nuvens que se formavam no Céu sabe do que estamos falando.