pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 19 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Gracilaino Ramos e o ato de escrever


Gostaria muito de participar de uma oficina literária com o escritor Raimundo Carrero. Embora ele realize essa oficina com regularidade, na secção pernambucana da União Brasileira de Escritores, nunca tivemos essa oportunidade. Circunstâncias que fogem ao nosso controle, sempre nos impedem de participar. Mas ontem, pelas redes sociais, tivemos a oportunidade de conversarmos com ele. Nos instigavam seus comentários sobre o escritor alagoano, Graciliano Ramos. Aliás, tudo que se refere a Graciliano Ramos, nos interessam bastante. Temos por ele uma grade admiração, seja como escritor, seja como homem público. Quem o leu, sabe do esmero que ele usa na escrita. Como prefeito, honrou a função como poucos. Um homem com um notável espírito público, na verdadeira acepção da palavra. Jamais admitiu um parente sem o instituto republicano do concurso público e multou o próprio pai, que mantinha animais soltos nas ruas. Um dos primeiros livros que li de Graciliano Ramos foi "Infância", onde há alguns relatos sobre como tomou gosto pela literatura - através de um amigo que abriu sua biblioteca para ele - e as agruras da puberdade, onde era obrigado pelo pai a tomar banho em rios infestados de cobras, aqui em Pernambuco, salvo algum engano, na cidade de Bonito. Nos bastidores do "campo literário", para usarmos um conceito do sociólogo francês Pierre Bourdieu, comenta-se que, numa referência jocosa a José Lins do Rego, o velho Graça teria dito: "mas se até José Lins era escritor..." Justamente José Lins, que, na sua posse na Academia Brasileira de Letras, num ato raro, "desancou" o seu antecessor na cadeira, afirmando tratar-se de um "escritor" sem livros. Mas, o que, de fato, nos impressionou nisso tudo - e isso vem sendo trabalhado por Raimundo Carrero, nesta última oficina - é o conjunto da produção de Graciliano Ramos sobre o ato de escrever. Corri para ter acesso às obras Linhas Tortas e Conversas com Graciliano, ambas da editora Record, onde o escritor narra suas impressões sobre o ato de escrever. Há alguns anos atrás, o escritor Raimundo Carrero lançou uma publicação que é uma espécie de reflexão também sobre o ato de escrever. Hoje esse livro estaria esgotado, mas consegui um dos últimos exemplares. Nos tem sido muito útil, sobretudo para aquele "encontro consigo mesmo".

Tijolinho do Jolugue: MP pede absolvição dos acusados da morte do médido Jaime Gold

A morte do médico Jaime Gold, quando pedalava em sua bicicleta na Lagoa Rodrigues de Freitas, no Rio de Janeiro, causou uma grande indignação na população carioca, sobretudo nos seus estratos mais aquinhoados, formados pela classe média alta e pela elite. Por circunstâncias bem conhecidas, esses estratos sociais exercem uma pressão bem mais consistente junto ao poder público. Por isso mesmo, as teses do alemão Habermas sobre os fóruns da sociedade civil perdem consistência quando se questiona sobre os atores que, de fato, teriam vez e voz nesses fóruns. Os canais de acesso às esferas do poder público não são distribuídos equanimamente. Ontem, aqui pelas redes sociais, evidenciou-se as reações distintas do público, para um mesmo ato criminoso, praticado por pessoas de estratos sociais distintos. 

Um playboyzinho de classe média e um esquálido menor em situação de vulnerabilidade social. Muito interessante - e trágico - isso. Pressionado, o governador Luiz Fernando, conhecido como Pezão - acionou seu aparato de segurança do Estado para apresentar imediatamente à população os responsáveis pelo crime. O que se seguiu foi uma sequência de erros da Polícia Civil do Estado e declarações infelizes do governador. Impressionante o número de menores apresentados como tendo sido os autores do crime, num quadro bastante complicado. Um deles, por exemplo, sequer estava no local do crime. Como isso seria possível? Há seis testemunhas que asseguram que ele estava num outro local no momento em que ocorreu o crime. 

Um outro foi detido e o Estado falhou clamorosamente na preservação de sua integridade física. Foi brutalmente espancado na prisão, num ato até curioso para o mundo do sistema prisional. Salvo briga de facções criminosas ou rebeliões, detentos que são acusados de assassinatos não costumam serem espancados. Normalmente isso acontece com estupradores. Diante desses fatos, o MP pediu a absolvição dos menores "acusados" da morte do médico. Muito estranho isso. Os verdadeiros assassinos devem ser encontrados e responder pelos seus atos, consoante a legislação em vigor, mas o aparelho de Estado deve atuar de forma republicana e transparente.


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Tijolinho do Jolugue: Intolerância já fez várias vítimas.


 


Pelo andar da carruagem política, se o nosso quociente de tolerância - que já é frágil - não for imediatamente resgatado, vamos perder a conta das vítimas da intolerância religiosa, com nítidos reflexos na opção sexual de cada um. Nos últimos dias, o país foi sacudido por uma onde de mobilizações de grupos evangélicos e LGBT, cada qual defendendo suas posições, para alguns, de forma radical. Isso colocou mais lenha na fogueira da "guerra santa" que se trava entre esses grupos. O resultado, não poderia ser outro. Cenas explícitas de intolerância religiosa ou de opção sexual -que, no final, tem a mesma matriz de um preconceito religioso. Eles estão ocorrendo em todo o país, em algumas situações, com vítimas fatais, como foi o caso do jovem Rafael Barbosa, um homossexual morto por apedrejamento. No Rio de Janeiro, uma menina de 11 anos foi atingida por uma pedrada, quando saia de um culto de candomblé.

Há um verdadeiro incitamento ao ódio, e as consequências podem ser dantescas. Pastores evangélicos, que exercem grande liderança junto aos fiéis, não se cansam de pregar seus valores em preservação da família e dos "bons costumes", mobilizando seus adeptos pelas redes sociais. Os grupos LGBT não deixam por menos, quando seria prudente que defendessem apenas a sua liberdade de opção sexual. A guerra santa também chega ao parlamento, onde existem deputados que se engalfinham sobre essas temáticas,  a exemplo do Deputado Jean Wyllys, e o pastor Marcos Feliciano, que também é deputado. O parlamento bem que poderia dar a sua contribuição, isto sim, para equilibrar esse meio de campo. 

P.S do Realpolitik: o túmulo de Chico Xavier, na cidade de Uberaba, onde ele nasceu, é a nova vítima dessa guerra santa. Acaba de ser vandalizado. 

Tijolinho do Jolugue: IPEA divulga perfil da populção de jovens vulneráveis do país



 


Bastante curiosos esses dados sobre as pesquisas sociais no país. Era um assunto que nos interessam bastante, mas, em razão das dificuldades com as ciências exatas, não avançamos muito nesses estudos. O conhecimento que nos foi facultados pelo "sistema", nessas disciplinas, apenas nos permitiram passar raspando no ponto de corte do PIMES( Programa Integrado do Mestrado em Economia e Sociologia), numa cadeira de Metodologia da Pesquisa Social, ministrado pelo professor José Carlos Wanderley. Ainda lembro que nos ajudou bastante uma pesquisa sobre o perfil da "produção" do Programa desde a sua criação. A pesquisa alcançou grande repercussão à época. Muitos companheiros nossos não sobreviveram aos números frios apresentados pelo professor. 

Depois, num raro lampejo de lucidez institucional ( ou pessoal?) alguém nos recomendou fazer um curso de Indicadores Sociais, afirmando ser a "nossa cara". Era um curso de aperfeiçoamento, ministrado por professores da Fundaj e da UFPE. Um curso muito bom, uma vez que avançava nos estudos do tema em várias áreas de construção desses indicadores, como habitação, saúde pública, mobilidade urbana, educação entre outros. Muito bom o curso, volto a repetir. Guardo suas apostilas até hoje. 

Desde então, sempre sou instigado a comentar sobre este tema, seja pelas redes sociais ou aqui pela blogosfera. O último relatório da UNESCO sobre a educação no mundo, por exemplo, suscitaram várias postagens aqui no blog. A UNESCO nos reprovou em 04 itens, entre eles, no alto índice de analfabetismo entre a população adulta. O Brasil ainda possui algo em torno de 13 milhões de analfabetos entre a sua população adulta, um índice considerado demasiadamente alto, até mesmo para os padrões latino-americanos. Mesmo anpassant, verifico que, se nós cruzarmos esses dados, vamos encontrar algumas coisas curiosas, mas não necessariamente surpreendentes. 

Fiel à tradição escravocrata do país, como costumo dizer para os meus alun@s, em todos os indicadores sociais que tomarmos como referência, a população negra vai aparecer em clara desvantagem em relação à população, digamos assim, embranquiçada. Sabemos que alguém vai afirmar tratar-se de uma obviedade.Mas, as obviedades também precisam serem ditas. De tanto repetidas, talvez elas possam incomodar os ouvidos mais sensíveis. Pois muito bem. O perfil do analfabeto adulto no Brasil é basicamente este: reside nas regiões Norte e Nordeste, é mulher, negra e pobre. Ontem, o IPEA tornou público alguns dados sobre a população de jovens em situação de vulnerabilidade social do país: são oriundos de famílias de extrema pobreza, não estudaram ou abandonaram a escola,  são negros, excluídos socialmente e produtivamente. Um dos Estados onde mais ocorrem incidências de assassinatos de jovens negros no Brasil, entre 18 e 22 anos, é o Estado de Alagoas. Para ser mais preciso, e já chegando os números, Alagoas é considerado o Estado brasileiro mais vulnerável para essa população.

Ali, na zona da mata, nas antigas terras de quilombos, a população de jovens negros está sendo dizimada, assim como ocorria séculos atrás, com seus ancestrais, embora que, como escravos, isso possivelmente ocorria em outras faixas etárias. Em razão desses altos índices de assassinatos, o Governo Federal, em parceria de dois ministérios - educação e cultura - desenvolve ali o projeto Juventude Viva, algo que propus estudar, num seleção de curso, mas foi rejeitado sob a alegação de que não tinha nada a ver com o objetivo de uma determinada instituição federal que, curiosamente, tem seu foco de atuação na região e desenvolve um PDI tentando articular suas ações justamente nas áreas de cultura e educação.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Tremei, res pública! Prefeitos envolvidos em desvios de verbas da merenda escolar perderão o mandato


Desvios de verbas públicas deveria ser um crime punido com o máximo de rigor. Nossa legislação a esse respeito, apesar dos avanços dos últimos anos, ainda é muito branda, permitindo uma série de artifícios que facilitam a vida de gatunos que se apropriam do erário. Dinheiro e um bom advogado conseguem a proeza de livrar essa gente dos rigores da lei. A nossa "justiça" é injusta, na medida em que oferece condições de defesa absurdamente desproporcionais. Ainda ontem estava lendo, aqui mesmo pelas redes sociais, o caso de um pedreiro injustamente condenado. Ele teria passado 05 anos no presídio - até ser comprovada a sua inocência - onde teria sido espancado, estuprado e contraído o vírus da AIDS. Não há mais reparação possível. Acabaram com a vida do rapaz. As verbas para a educação sempre foram muito visadas nas verdadeiras engrenagens, muito bem montadas, de desvios de verbas públicas. Ate recentemente, o FUNDEB era a rubrica onde ocorriam os maiores problemas. Isso entre tantas outras.Já denunciamos, outro dia, que crianças da rede pública de ensino, até da capital, estão deixando de receber a merenda em função de contas bloqueadas por superfaturamento. Todos conhecem os problemas estruturais ligados à merenda escolar. Em muitos casos, constitui-se na única refeição para alguns alunos. Passou a ser ofertada até nos meses de recesso escolar em razão desses problemas. Finalmente, o Senado Federal aprovou uma lei que puni com a cassação do mandato os gestores públicos envolvidos no desvio da merenda escolar. Somos otimistas em relação a isso, mas trata-se de mais uma lei "deslocada" de nossa realidade. Ninguém faz ideia de quantos prefeitos estão envolvidos nessas falcatruas. E, entre este universo, quem, de fato, será alcançado pela lei.
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terça-feira, 16 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Dona Magdalena, uma biografia


Uma das matérias que mais repercutiram nos jornais pernambucanos, do último domingo, foi o lançamento da biografia da Dona Magdalena Arraes, escrita pelo chargista e jornalista Lailson de Holanda e pela historiadora Valda Colares. O livro integra um projeto da CEPE - Companhia Editora de Pernambuco - de publicar a biografias de personalidades pernambucanas. Dona Magdalena não foi apenas a esposa do ex-governador Miguel Arraes de Alencar. O livro procura destacar seu protagonismo na vida política do país, em particular no Estado de Pernambuco. Dona Magdalena foi uma espécie de âncora, de porto seguro para o Dr. Arraes. Sua preocupação com os rumos da política do Estado ficam evidente numa longa conversa que mantivemos com João Roberto Peixe, sobre a criação do Partido dos Trabalhadores no Estado. Segundo Peixe, quando conversavam com Dona Magdalena no Palácio do Campo das Princesas, ela sempre externava sua opinião no sentido de manter a união das esquerdas pernambucanas. A criação do PT, raciocinava ela, contribuiria para fragilizar o campo de esquerda no Estado. Lamentei não ter encontrado uma foto de Alcir Lacerda - que foi durante muito tempo uma espécie de fotógrafo oficial dos Arraes - onde, num dos raros momentos de descontração do casal, Dona Magdalena aparece tomando banho numa praia pernambucana, sempre acompanhada do Dr. Arraes.

Tijolinho do Jolugue: ACM Neto, herdeiro do carlismo, agora é socialista





Por vezes, sou surpreendido imaginando qual o futuro de pessoas como Roberto Amaral e Luíza Erundina num partido como o PSB, mesmo sabendo o quanto é complicado estabelecer uma clivagem ideológica das agremiações partidárias brasileiras. Aliás, ideologia - aqui para nós - está com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato, quando se estar em jogo justamente os partidos políticos.Neste aspecto, sinceramente, não vejo problema nenhum em atores políticos como ACM Neto desejarem entrar no PSB. Quem poderá vetá-lo e sob que argumento? Aqui na província, por exemplo, o ex-governador Eduardo Campos foi uma espécie de avalista de uma sobrevida às viúvas do macielismo. Qual o dilema, portanto, em especial para os neo-socialistas tupiniquins, em aceitar nos seus quadros o herdeiro do carlismo? 

Os principais integrantes da legenda na Bahia, como é o caso da senadora Lídice da Mata, já informaram que, se ACM Neto entrar por uma porta, ela sai pela outra. Em seu blog, Roberto Amaral já externou sua opinião a esse respeito, em consonância com os companheiros baianos da legenda. Carlos Lupi esteve aqui no Recife até recentemente. Propôs que o PSB, ao invés de abraçar o diabo do PSDB, via PPS, junte forças com o seu PDT. Claro que o que move Lupi, possivelmente, também não é nenhuma preocupação de natureza republicana,mas, essencialmente pragmática. Tanto é assim que, logo em seguida, teria sido procurado pelo atual prefeito do Recife, Geraldo Júlio, que quis saber que conversa era aquela de uma possível candidatura pedetista à Prefeitura do Recife, em 2016.

Tijolinho do Jolugue: O estranho mundo do FBI




Esse mundo da espionagem é mesmo bastante interessante. Com a saúde bastante debilitada, Mark Felt, que ocupou a vice-diretoria do FBI,  revelou ser ele o "Garganta Profunda", a fonte secreta que forneceu informações importantes sobre o escândalo Watergate, que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, acossado ante a iminente inevitabilidade de um pedido de impeachment, depois da série de reportagens publicadas pelo Jornal Washington Post, assinadas pelos jovens repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward. ( foto acima)

Os repórteres mantiveram um silêncio obsequioso sobre o assunto durante anos. Depois da revelação do próprio Felt, eles conformaram ser ele mesmo o  "Garganta Profunda". Neste caso em particular, como em relação às investigações recentes sobre a corrupção na FIFA, o FBI, a Polícia Federal Americana, não foi acionada por motivações de corte republicano. Felt foi preterido na indicação à diretoria do órgão, em nome de uma pessoa que gozava da confiança de Nixon. Neste último caso, o da FIFA, já se percebe uma nítida intenção de prejudicar a realização da próxima Copa do Mundo, programada para ocorrer na Rússia, em 2018. As relações entre os dois países azedaram nos últimos meses.

Agora é um agente da CIA, que se ultimando numa UTI de um hospital, delirando ou não, informa que foi encarregado pela agência para tirar a vida da atriz Marilyn Monroe. De fato, existem, até hoje, alguns mistérios sobre a morte da atriz, uma frequentadora das hostes do poder americano, na época da hegemonia da família Kennedy. Hoje se sabe que Marilyn era amante do ex-presidente Jonh Kennedy, embora houvesse rumores de que também saia com Bob Kennedy, seu irmão. Nunca ficou descartada a possibilidade de um homicídio em relação à sua morte, embora a versão do suicídio tenham sido amplamente divulgada.



Tijolinho do Jolugue: A corrida ao Palácio Antonio Farias já começou


 


Muito natural que já ocorram uma movimentações em torno das eleições para a Prefeitura do Recife, em 2016. Afinal, já cruzamos o cabo da boa esperança. Em visita ao Recife, o dirigente nacional do PDT, Carlos Lupi, o Lupinho, para os íntimos, já sinalizou que o partido pode lançar candidatura própria nas próximas eleições para o Palácio Antonio Farias. Nas eleições passadas, escrevemos uma série de 30 artigos sobre aquelas eleições, que culminou com a vitória de Geraldo Júlio, do PSB, avalizado pelo ex-governador Eduardo Campos. O último deles, muito antes das eleições, publicado no site de uma instituição federal local, previa a vitória inevitável do candidato socialista, o que nos causou alguns problemas, sobretudo entre companheiros petistas. 
 
Essa história de "campo social", para usarmos uma linguagem do sociólogo francês, Pierre Bourdieu, é, na realidade, um grande problema. Mas, vamos em frente. Pelo andar da carruagem política, o PSDB parece fechado em torno do nome de um Coelho. Tudo indica que o Deputado Estadual, Daniel Coelho(PSDB), será mesmo candidato à Prefeitura da Cidade do Recife, nas próximas eleições municipais. Penso que já está na hora de voltarmos a acompanhar, com mais assiduidade, este assunto. Vamos jogar o xadrez político de 2016, num ano de bastante combustão. João da Costa, que andava sumido, voltou a dar o ar de sua graça. Que o matuto de Angelim não seja subestimando nas costuras internas da agremiação. João Paulo, ex-prefeito da cidade, foi um nome hoje lembrado por alguns internautas ligados à legenda petista. 

Sem mandato e sem ocupar alguma diretoria ou escritório de representação estadual de alguma instituição federal, João voltou a estudar. Por enquanto, era o melhor que poderia fazer. O esboço de uma provável candidatura de Antonio Campos, em Olinda, balançou um tabuleiro que, talvez, precise ser rearrumado na combalida base de sustentação do prefeito Geraldo Júlio, em Recife. Os movimentos do PCdoB, hoje, atendem a uma lógica estritamente pragmática. Talvez por isso mesmo o esboço de uma candidatura socialista em Olinda seja de difícil equacionamento.


Tijolinho do Jolugue: Mais uma vítima do transporte público na RMR

 

O transporte público na região metropolitana do Recife é ruim. Parece que estamos todos de acordo quanto a isso. Poderia passar uma tarde demonstrando aqui porque o nosso transporte público é tão ruim. Parte dessa responsabilidade, certamente, pode ser creditada ao poder público, que não toma medidas para contornar esses problemas; que não exige das operadoras do setor que seja dado um tratamento digno e decente aos usuários; que não melhora as condições de mobilidade ou desatravanca o trânsito, que vem se tornando caótico; que não investe em políticas de infraestrutura que poderiam minimizar esses problemas; que não adota medidas eficazes de combate à violência nos coletivos.

O resultado, no final, é que temos um transporte público caro e ruim, susceptível a todo tipo de ocorrências, como estas recentes, onde dois jovens estudantes, em pouco mais de um mês, tornaram-se vítimas fatais desse conjunto de desmandos, que o poder público parece assistir passivamente. Nos dois casos em particular, há de de registrar a falha humana dos dois condutores. Mesmo assim, embora atenuante, essa circunstância é reflexo, igualmente, da crescente precarização do trabalho dos rodoviários. Trata-se de uma categoria que, praticamente todos os anos, passam alguns dias parados, reivindicando a melhoria das suas condições de trabalho. Capital e poder público sempre empurram o problema com a barriga, tratando alguns questões pontuais, mas deixando de realizar o enfrentamento dos problemas estruturais do setor de transporte urbano público. 

Esses profissionais trabalham sob muita tensão, sobretudo num trânsito caótico como o nosso. Nos dois casos específicos, também não se pode desconsiderar, infelizmente, a responsabilidade dos condutores. A jovem que morreu na Várzea, Camilla Mirela Pires, ficou com a bolsa presa pelo lado de fora da porta. Porta reaberta, carro em movimento, a jovem caiu, vindo a ser atropelada. Uma sequência de erros macabra. No caso do jovem, Harlynton Lima, estudante da UFRPE, depois de insistir para que o condutor do veículo abrisse a porta, resolveu pendurar-se nela. Num movimento brusco do veículo, ele não conseguiu segurar-se e caiu. Não entendo como o condutor deu partida no ônibus com o jovem pendurado, pedindo para subir no coletivo. Uma falha imperdoável. Nossos sentimentos à família desses dois jovens, com o apelo ao poder público e à sociedade civil para que, juntos, possamos tornar o transporte publico do Recife mais "humanizado".

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Lincoln Secco: Maior erro do PT foi seguir estratégia lulista de conciliação permanente

Autor de 'História do PT' diz que foi erro reabilitar protagonista do escândalo do mensalão

 
Lula em exposição em Milão neste mês. / Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Autor do livro "História do PT" (Ateliê Editorial), o professor da USP e historiador Lincoln Secco, diz que o partido que governa o país há pouco mais de 12 anos é mais burocrático e menos militante. Filiado a essa legenda, Secco afirma que a maior falha dos petistas foi desenvolver a estratégia lulista: a conciliação permanente.
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Pergunta. Como o senhor definiria o PT hoje? De esquerda, de centro-esquerda?
Resposta. Esquerda e direita são localizações no espaço político. Se você considerar os grandes partidos brasileiros, o PT é a esquerda que o país conseguiu ter. É a nossa esquerda institucional que aceita a ordem. Não é uma esquerda anticapitalista.
P. O que diferencia o PT dos demais partidos?
R. Basta olhar para a parcialidade com que a grande imprensa trata o PT para ver que há diferenças dele em relação aos demais. Você imaginaria alguém se preocupando com o congresso do PMDB? Ali não há tendências ideológicas, só conflitos de lideranças. O mesmo vale para o PSDB. O PT hoje é um partido que possui um jogo de lideranças ao lado da velha disputa de tendências ideológicas. Ele continua inovador: tem 50% de mulheres na direção e proibiu a reeleição por mais de duas vezes dos deputados.
P. Por que o partido se afastou de suas bases (sindicatos, igreja)?
R. Houve mudanças na própria base social do PT. Ela foi desmontada nos anos 1990. As duas instituições citadas sofreram com a terceirização e automação (no caso dos sindicatos mais importantes do PT, bancários e metalúrgicos) e com o ataque do papado à teologia da libertação (no caso das comunidades eclesiais de base). Ao lado disso, o PT cresceu em importância no Estado nos anos 1990, ocupando prefeituras, Governos estaduais e aumentando a bancada de deputados. O resultado só poderia ser um partido mais burocrático e menos militante.
P. Há quem defenda sua refundação. Isso é possível?
Os escândalos ligados ao PT estão todos os dias na televisão. Quase não há críticas ao governo do PSDB em São Paulo
R. Não. Desde o I congresso já se falava em refundação. A história não gira para trás. Hoje, tanto as alas esquerdistas quanto as de direita estão atreladas aos cargos públicos que o partido têm. O PT é grande demais para mudanças bruscas.
P. O senhor vê alguma diferença no tratamento da mídia dos Governos petistas com relação aos seus antecessores?
R. Há pesquisas conclusivas sobre isso em inúmeras teses universitárias. O laboratório de mídia da UERJ mostrou isso. É claro que quem está no governo é sempre mais atacado pela imprensa e com razão. Considerando o período que o PSDB esteve na presidência (1995-2002), ainda assim a grande imprensa foi mais desfavorável a [Luiz Inácio] Lula. Os escândalos ligados ao PT estão todos os dias na televisão. Quase não há críticas ao governo do PSDB em São Paulo. O mensalão petista levou os líderes do PT à cadeia, já o chamado “mensalão mineiro” prescreveu. Aliás, o nome escolhido não foi “mensalão tucano”. Enfim, os próprios jornalistas que trabalham em reportagens e precisam sobreviver nesta imprensa sabem que seus patrões são parciais.
P. Quais as principais falhas dos governos do PT?
R. A maior foi a estratégia lulista. A da conciliação permanente. Ela foi útil para eleger Lula em 2002, mas ao contrário do que a direção petista acreditou, a reeleição de Lula se deu num ambiente de polarização social e política e a de Dilma Rousseff também. Lula fez um governo mais à esquerda depois da crise de 2005. No entanto, o lulismo adotou a tática de ser pragmático enquanto a oposição se tornou radical e ideológica. O outro erro foi a corrupção. Apesar da corrupção ser um ente do jogo político estabelecido e de eu achar injusto condenar o José Dirceu sem provas, ou só julgar empresários que doam ao PT e não a outros partidos, considero que foi um erro não ter sido radical numa reforma política que diminuísse a influência do poder econômico nas eleições. Hoje, isso é impossível. Mas quando Lula tinha altíssima popularidade era possível. É hipocrisia achar que uma empresa doa dinheiro a um partido por ideologia por isso teria que ser radical no ambiente exterior para ser também no interior. Não adianta punir seu tesoureiro se o modo de arrecadação continua o mesmo. Você o substitui e o próximo também vai para a cadeia. O PT poderia ter punido exemplarmente o seu tesoureiro Delúbio Soares, por exemplo. Eu o cito porque ele é réu confesso. Fez “caixa dois”. O PT o expulsou e, depois, o aceitou de volta. É um equívoco. Eu sei que não dá para exigir que líderes de esquerda sejam todos como o presidente [José] Mujica, mas precisam ao menos ter um comportamento público melhor do que os da direita. É sua obrigação. Não adianta dizer que todos fazem igual.
P. Quando surgiu o mensalão houve quem decretasse a morte do PT. O que não ocorreu. Mas quais os efeitos desse escândalo, na sua opinião?
R. Foi a maior crise da história do PT. Destruiu seu discurso sobre ética na política, que era forte nos anos 1990 e dirigido à própria classe média e abateu seus líderes históricos, exceto Lula. O PT só não acabou por causa de suas políticas públicas que lhe permitiram manter o apoio da classe trabalhadora.
P. Com a crise da Petrobras e a operação Lava Jato, reaparecem algumas pessoas que dizem acreditar no fim do PT. O PT caminha para seu leito de morte?
R. Em condições normais, o PT será superado quando surgir uma esquerda melhor do que ele. Ele representa uma opinião pública enraizada na sociedade civil, milhões de simpatizantes, movimentos sociais e a maior central sindical do Brasil. Como poderia acabar? Só uma ruptura institucional, como impeachment poderia derrubá-lo. O que pode acontecer no curto prazo é uma derrota eleitoral em 2016 e em 2018. Isto poderia fragmentá-lo e levá-lo a uma situação como a do PRD no México. Mas não seria um “fim”.
O PT montou seu governo sobre um pacto social-rentista que melhora a vida dos muito pobres e garante superlucros ao sistema financeiro
P. No mensalão, o partido não excluiu seu tesoureiro, ao contrário. Agora, no caso Petrobras, também não. Por que o PT não pune quem se envolve com corrupção?
R. O PT só pode ser eleitoralmente competitivo se arrecadar recursos como os demais partidos. Portanto, se ele pune um, a justiça condena o próximo. É uma situação sem saída. Para muitos antigos petistas é um absurdo você ver dirigentes outrora socialistas se corromperem. Mas também é absurdo eles serem punidos pelo que todos os demais políticos fazem. Só que esta não pode ser uma desculpa para o PT. Ele precisaria ser radical agora, mas não vai ser. Como eu disse antes, ele não foi radical quando tinha apoio social para isso. Por que seria agora? A ideologia do lulismo diz o contrário: ele só tinha apoio porque não era radical. Eu posso responder: então porque, agora, com um governo que faz tudo o que o grande capital quer, ele não tem apoio?
P. Por que há uma forte onda antipetista atualmente? O senhor acredita em um confronto entre classes?
R. O antipetismo sempre existiu, especialmente em São Paulo. Aumentou em 2006, quando as políticas sociais de Lula incomodaram a classe média tradicional. E agora por causa dos efeitos retardados da crise econômica mundial. Veja que nada tem a ver com corrupção. Esse é o discurso que justifica o antipetismo. No auge do mensalão, Lula foi reeleito. Só que agora, ao lado do antipetismo há a fragmentação da base social petista porque a presidenta fez um ajuste fiscal contra sua própria base, atacando direitos sociais e trabalhistas. O PT montou seu governo sobre um pacto social-rentista que melhora a vida dos muito pobres e garante superlucros ao sistema financeiro. A classe média não ganha nada com isso. Há uma base material para sua insatisfação associada ao seu histórico medo da aproximação com os pobres. Com a economia em recessão e com uma nova classe trabalhadora gerada pelo próprio PT, é difícil manter a melhoria contínua de direitos sociais. Ela também acaba se inclinando para o antipetismo.
P. Em outras situações, alguns líderes defenderam que o partido poderia não ser cabeça de chapa em uma eleição presidencial. Desde a redemocratização do país, isso não ocorreu até hoje. Isso é possível na próxima eleição?
R. Seria um erro do PT e acredito que seja difícil acontecer. Não há no Brasil algo como a concertacción no Chile. O Brasil não tem partidos historicamente estruturados e ideologicamente bem definidos. O PT é uma exceção. Na direita, o PSDB é o que mais se aproxima disso, mas jamais se aliaria ao PT.
P. A oposição tem chamado o PT de traidor do trabalhador. Essa discussão ocorre principalmente com a votação do pacote de ajuste fiscal. Por outro lado, os opositores, e boa parte da base governista, tem apoiado o projeto da terceirização. Quem, afinal, seriam os defensores e os inimigos dos trabalhadores?
R. A oposição é que não é (risos). O governo, de fato, cometeu estelionato eleitoral. A Dilma enganou as bases sociais do PT. É absurdo ela jogar a conta da crise no colo da classe trabalhadora. Tinha que fazer ajuste? Tinha. Então por que não taxar também as grandes fortunas e, especialmente, os bancos? Ela cometeu um erro que vai ficar na sua biografia. Será o Felipe González do PT. No PT o líder espanhol foi sempre visto como sinônimo de transformismo pelas alas mais à esquerda. O PT está numa situação difícil. Não pode apoiar essas medidas, mas não pode fazer oposição à presidenta.
O governo, de fato, cometeu estelionato eleitoral. A Dilma enganou as bases sociais do PT.
P. O PT é hoje um partido de líder único?
R. O PT teve que transferir a liderança de Lula para Dilma porque seus principais líderes foram derrubados pelos escândalos de 2005. Só que Dilma não é uma “petista histórica”, não tem base organizada no partido. Isso dificultou a substituição do Lula.
P. Por que há tantas correntes diferentes dentro do PT?
R. É o resultado de sua história. Desde a fundação o PT em 1980 admitiu a formação de correntes internas para se diferenciar do centralismo dos partidos comunistas. Mas na maior parte do tempo isso jamais inviabilizou a formação de uma maioria em torno do Lula.
P. Na sua opinião, Lula será candidato em 2018? Se não for ele, quem seria?
R. Difícil prever. Depende de como estará a avaliação do governo e do próprio Lula. Se ele estiver bem, será o candidato. Caso contrário vai apoiar outro nome. O PT tem ministros, governadores e até o prefeito de SP. Se ele for reeleito em 2016 se torna uma alternativa. Os que dizem que o PT será derrotado em 2018 tem só um wishful thinking (desejo). É até provável uma derrota petista, mas a oposição teria que ter um programa alternativo. E não tem.

(Publicado originalmente no El País)

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Guilherme Boulos: O PT colhe o que deixou de plantar

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Líder do MTST defende que é urgente o governo pautar reformas estruturais – política, tributária, urbana – para não permitir retrocessos
Sarah Fernandes, da Rede Brasil Atual
São Paulo – A crise econômica mundial, somada ao tensionamento de forças políticas e a um modelo de ascensão social pautado no consumo levou ao limite a “política do consenso” implementada pelo governo PT nos últimos 12 anos. “Agora é a hora de pautar reformas estruturais ou retroceder”, alerta o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, em entrevista exclusiva à Rede Brasil Atual. “É impossível, em uma sociedade de classes, fazer mudanças sem conflito. De algum modo, o PT ajudou a criar esse antipetismo de direita. O PT colhe o que deixou de plantar”.
Os limites das políticas petistas, o papel dos movimentos sociais e o acesso democrático à cidade foram os temas principais da conversa, em um café, no centro de São Paulo. “Do jeito que as coisas estão, só é perigoso conversarmos aqui e alguém vir dizer que estávamos em Paris!”, brincou, antes no início da entrevista. Por muitas razões, a chamada “direitização do senso comum” é um dos temas centrais do seu novo livro, “De que lado você está?“, que será lançado na quarta-feira (10) pela editora Boitempo, durante o Colóquio Internacional Cidades Rebeldes. “Tem uma turma alucinada chamando o PT de bolivariano. Antes fosse!”, brincou.
“Aí entramos em uma situação preocupante: o quanto é atrasada a elite brasileira. O quanto não aceita nenhum tipo de concessão. Pobre andar de avião? Preto na universidade? Empregada doméstica com direito trabalhista? Não pode! Essa mentalidade escravocrata está semeando um cenário de ódio. Precisamos construir uma saída ao esgotamento do modelo petista, mas quem está canalizando esse discurso de insatisfação é o setor mais conversador, reacionário, de ultradireita”.
Confira a entrevista na íntegra.
Já na apresentação do livro, o sr. afirma que o PT optou pela estratégia da chamada “política do consenso”, sem romper com estruturas tradicionais. Qual é a capacidade real de um partido que assume o governo de fazer essas rupturas?
Um partido, quando entra no governo, precisa também incidir na relação de forças da sociedade. Foi isso que o PT não fez. Só buscar uma composição com as forças existentes para estruturar a governabilidade, sem iniciativas políticas que façam o enfrentamento, dá no que deu: depois de 12 anos de PT, nós temos uma direita mais forte, uma sociedade mais conservadora e uma despolitização reinante. Isso não quer dizer, evidentemente, que não houve avanços. Não quero ser confundido com aqueles que dizem que o governo do PT é um retrocesso. Os avanços, do ponto de vista de programas sociais, de acesso ao consumo dos mais pobres, de reorientação do orçamento com maior investimento social, são inegáveis. Mas também foram insuficientes, porque não alteraram a relação de forças.
O que deveria ter sido feito na prática para alterar essa relação de forças?
Vamos tomar um exemplo: o Hugo Chávez chega ao governo na Venezuela numa relação de forças desfavorável. E cede no começo. Ele fez um ajuste fiscal severo no seu primeiro ano, mas também criou uma relação de forças. Fez a disputa no seio da sociedade: foi para cada município venezuelano e buscou fortalecer conselhos populares, a auto-organização, os movimentos sociais e construiu um caldo que permitiu sustentar mudanças políticas mais de fôlego.
Quando a direita de lá reagiu e deu um golpe no Chávez, em 2002, não durou três dias, porque o povo cercou o Palácio exigindo a volta do presidente. Construiu-se uma base social e um processo de politização. Isso foi feito com conflito. É impossível, em uma sociedade de classes, fazer mudanças sem conflito. Esconder o conflito de classes, como foi feito aqui, despolitiza a sociedade e cria a ideia de que toda ascensão é individual, e não fruto de um processo de disputa política.
Até quem ascendeu a partir das políticas sociais do governo do PT enxerga sua ascensão de maneira meritocrática?
A maioria dos prounistas votou no Aécio Neves (PSDB) nas eleições do ano passado. Precisa mais do que isso? O governo criou processos de transferência de renda, mas não se mexeu muito na distribuição. Houve uma ascensão dos mais pobres, mas, ao mesmo tempo, uma ascensão ainda maior dos mais ricos.
O PT não soube dialogar com essa nova classe trabalhadora. Ela estava na condição de subproletária, informal, e com as políticas do governo entrou na formalidade e teve o incremento da renda, pelos programas sociais, pelo crédito e pela maior geração de empregos. Mas ascendeu pelo consumo, sem a lógica de conflito social, da disputa de direitos e da politização. Assim, obviamente, se criam pessoas que acreditam na meritocracia, que são reféns do discurso da direita e que desenvolvem um comportamento cada vez mais individualista e consumista.
Essas mudanças estruturais seriam, por exemplo, a democratização da mídia, reforma política, reforma tributária?
E a reforma urbana e agrária também. São as reformas estruturais que, neste país, estão bloqueadas desde 1964. A última vez que se falou isso de forma séria, o presidente (João Goulart) tomou um golpe e isso deixou de ser pauta política.
Em relação ao monopólio das comunicações, é vergonhoso que em 12 anos, não se tenha tocado nisso. Ao contrário, reproduzir na distribuição de verbas públicas e nos anúncios um modelo que privilegia os grandes meios corporativos. De algum modo, o PT ajudou a criar esse antipetismo de direita. O PT colhe, não o que plantou, mas o que deixou de plantar.
E houve um momento em que o cenário político era muito mais favorável. Com um governo com 80% de aprovação, como já teve, você vai pra cima do Congresso. Manda a lei de mídia e chama a população e os movimentos sociais para cima. O Congresso brasileiro sempre foi muito conservador. Talvez o mais atrasado dos poderes e é impressionante como a esquerda, de forma geral, toma a questão das relações de força de uma maneira metafísica, como se fosse algo intocável e imutável. Correlação de força se muda e, quando se tem o governo, se tem uma ferramenta tremenda para disputá-la.
Foi por medo ou por falta de visão?
Acho que é medo, mas também é opção política. As opções políticas do PT revelam o nível de comprometimento do partido e do governo com o capital privado do país. O PT está votando hoje contra o financiamento empresarial de campanha, mas foi o partido que mais recebeu dinheiro empresarial nas últimas campanhas, até por ser governo. Assim, estabeleceu vínculos de compromisso com esses setores econômicos poderosos e fez a opção política de não romper esses vínculos. Agora paga o preço.
Mas é possível se eleger sem garantir ganhos reais ao capital?
Neste sistema político, muito improvável. Então, é preciso discutir essa questão em outro âmbito da política, que é na rua. Se não for lá, não se muda. Achar que o Congresso vai fazer uma reforma política… A semana passada mostrou o que eles fazem.
Agora, isso não pode servir de argumento, como serve, para dizer ‘essa é a única forma de se eleger, então vamos mantendo assim’.  Com isso, se legitima o conservadorismo e se legitima que não se façam mudanças estruturais. Não dá para ser assim. Se um partido quer ser visto como um elemento de transformação na sociedade, precisa pautar temas e, inclusive, dizer ‘dentro desse sistema político, a disputa é desigual’.
Estamos falando do PT, mas é importante também falar sobre o que foi o deserto neoliberal dos anos 1990 e do que são os tucanos no governo. Esse deserto neoliberal criou a ideia de que política é só institucional. Na década de 80, nós tivemos política na rua. Pouco a pouco, foi-se tirando a política da rua. O PT continuou esse movimento, quando fez um governo desmobilizado, levando lideranças para o gabinete.
E qual é a força política dos movimentos sociais organizados para peitar esse poderio econômico arraigado na política e no Judiciário?
Os movimentos sociais organizados não têm. Nós vivemos hoje um momento que não é de afluxo de lutas sociais. É claro que, a partir de junho de 2013, se teve uma maior mobilização da sociedade, para a direita e para a esquerda. O conflito social está mais aberto e polarizado, mas nós ainda não temos ‘caldo’ para dizer que temos condição suficiente para fazer um grande enfrentamento. Mas é papel dos movimentos construir isso, com a sua atuação cotidiana.
Por falar em junho de 2013, qual foi o principal legado desta jornada?
Tivemos dois principais legados. Um deles, perverso, pela direita. Foi aí que ela começou a se encorajar para ir às ruas e defender as opiniões que antes tinham vergonha – e que deveriam continuar tendo, porque são posições que beiram o fascismo. Houve um fortalecimento e uma rearticulação do pensamento de direita no Brasil e isso se expressou no período eleitoral do ano passado e sobretudo na manifestação de 15 de março deste ano.
Mas, felizmente, esse não foi o único legado. Junho de 2013 surgiu desencadeado por uma mobilização legítima, de direitos sociais, e por um movimento de esquerda, que é o Passe Livre. Foi uma luta contra a mercantilização do transporte e contra o aumento da tarifa, que foi vitoriosa. A tarifa baixou. Teve um efeito de exemplo muito poderoso: quando o povo se organiza e vai para a luta consegue resultado.
Toda a movimentação estimulou a ascensão de vários outros movimentos sociais. A partir do segundo semestre de 2013, as ocupações de terra explodiram nas cidades brasileiras. Foi um gatilho pra luta social.
A direita na rua é negativo ou positivo para a democracia?
Eu acho muito negativo ter nas ruas grupos defendendo apologia à tortura, à ditadura, à Polícia Militar. Agora, temos um aspecto positivo que é o fato de a polarização se tornar mais clara. Fica mais difícil negar os conflitos de classe, de interesses políticos e ideológicos que habitam a sociedade brasileira. Eu espero que um dia essa elite diga: ‘Eu era feliz e não sabia’, o que vai ser possível se a gente construir um projeto de esquerda mais amplo no país.
Essa ascensão conservadora– que elegeu o Congresso mais conservador desde a ditadura civil-militar – é resultado de quê?
De um sistema político carcomido. Cá entre nós, este Congresso não é essencialmente diferente do anterior. Houve uma piora em grau, mas no ponto de vista de processo político é a mesma coisa. Ícones de direita se fortaleceram e, com o enfraquecimento do governo pela perda de popularidade, conseguiram impor sua agenda política. Acho também que isso é expressão da forma como a mídia trabalhou e ajudou a construir essa ‘direitização’ do senso comum na sociedade brasileira.
Há um claro esforço dos veículos tradicionais em manter Dilma e o PT acuados para levar a uma vitória que dê a legitimidade das urnas a Geraldo Alckmin em 2018. Pode ser positivo para a esquerda que o PT perca e volte a ser oposição?
Eu não acho que uma vitória de propostas mais à direita seja benéfica em nenhum sentido. O PT não tem a mesma credibilidade que teve outra hora para a oposição. Não adianta sair do governo e dizer ‘Agora eu sou oposição e sou contra tudo isso’. Não rola. Teve 16 anos, não fez, e acha que vai chegar na oposição com credibilidade para liderar esse processo? Não vai.
Abordando a temática da reforma urbana, quais as mudanças necessárias nas grandes cidades brasileiras?
Nós precisamos tomar a dimensão do que é a crise urbana no Brasil. As cidades se tornaram uma verdadeira máquina de exclusão e segregação. Temos aí uma das contradições do modelo petista: nunca se teve tanto investimento em políticas urbanas, mas também elas nunca foram tão desarticuladas. Assim, acabaram por servir à exclusão e à segregação.
Vou dar um exemplo: o programa Minha Casa Minha Vida construiu 2 milhões de casas até aqui e o déficit habitacional nas grandes cidades brasileiras aumentou. Em 2008, o déficit, segundo o IBGE e a Fundação João Pinheiro – fonte dos dados oficiais – era de 5,3 milhões de unidades. Em 2012, última data disponível, era de 5,8 milhões.
Isso porque este processo de investimento urbano foi feito sem nenhuma regulação e foi apropriado como crédito pelo capital privado, pelo setor imobiliário e pela construção civil, que cresceu de uma forma desproporcional. Foi o setor, talvez, que mais tenha ganhado com o crédito público.
E esses setores articulados, produzindo novos empreendimentos, gerou um processo de valorização incrível, que, em seis anos, ficou na casa dos 200% nas grandes cidades. Isso faz com que o aluguel aumente, mas o salário não aumentou na mesma proporção. Ora, se eu pagava R$ 300 de aluguel e meu aluguel aumentou para R$ 800, tenho que morar mais longe ainda. E isso significa creche pior, posto de saúde pior, mais tempo de deslocamento no transporte público.
O debate que o MTST faz é que, lutando só por moradia, nem o problema de moradia você resolve. Construindo casa, o problema da moradia se agrava, se você não tem uma política de reforma urbana que pense o direito à cidade acima dos investimentos privados, acima da apropriação privada do espaço urbano. Isso implica políticas de regulação, implica espaços públicos e sociais de deliberação e conselhos que funcionem.
Na Venezuela, por exemplo, a questão urbana e da moradia foi uma das grandes bases de sustentação do chavismo. Os movimentos de moradia são hoje uma parcela dos movimentos sociais com maior capacidade de aglutinação e reivindicação?
Na Venezuela, o Gran Misión Vivienda é um programa exemplar, com um nível de participação popular muito alto, com alta qualidade das habitações, e com nível de regulação e de exigência do Estado muito grandes. Aqui no Brasil, a explosão da crise urbana aprofundou as contradições e criou mais espaço para a mobilização social.
O crescimento de movimentos como o MTST nos últimos anos tem diretamente a ver com isso. As pessoas não querem ser jogadas para mais longe, não aguentam mais pagar um aluguel que sufoca o orçamento familiar. Isso cria um ‘caldo’ para processos de resistência.
Mas acho que não podemos falar de um protagonismo exclusivo, mas em um protagonismo compartilhado. Os movimentos sociais urbanos, isoladamente, não têm a menor condição de encabeçar as transformações necessárias. Precisa-se construir processos de unidade que envolvam o movimento sindical, os movimentos do campo e a articulação da juventude.
Até porque existem movimentos e ‘movimentos’ de moradia. São diversas vertentes…
Tem de tudo. Temos um campo de movimentos combativos que pensam a luta por moradia articulada com a reforma urbana, que têm um projeto político de transformação da sociedade, como o MTST. Há movimentos, digamos, mais corporativos, focados na pauta da moradia, e que perdem a visão que essa luta isolada não resolve o problema da moradia.
Tem também movimentos oportunistas, como em todos os campos, que fazem das ocupações um negócio. O curioso é a grande mídia pegar essa parcela minoritária e bater como se fosse regra. Acho que tem um percentual menor de oportunistas no movimento social do que na edição da Rede Globo ou no Congresso Nacional.
A segregação urbana, que tão fortemente marca as grandes cidades brasileiras, e a ascensão social verificada nos últimos anos, motivaram de alguma forma o ódio de classe?
Sem dúvida. Se fez tão pouco perto do que se precisava fazer, não se mexeu com nenhum privilégio, com o tripé neoliberal da política econômica, com as metas de inflação, com o superávit primário, com o câmbio flutuante, não se mexeu com o sistema da dívida pública, que é a maior forma de concentração de renda do Estado brasileiro, não se mexeu com sistema político, com o monopólio da mídia, com estrutura arcaica do Judiciário, nada…
E há uma grita na sociedade como se tivéssemos feito uma revolução socialista no Brasil. Tem uma turma alucinada chamando o PT de bolivariano. Antes fosse!
Aí entramos em uma situação preocupante: o quanto é atrasada e intolerante a elite brasileira. O quanto não aceita nenhum tipo de concessão. Só do pobre ascender já é um escândalo, mesmo que ele ainda se encontre no topo da pirâmide. Pobre andar de avião? Preto na universidade? Empregada doméstica com direito trabalhista? Não pode!
Essa intolerância, esse atraso, essa mentalidade escravocrata da elite tem semeado um cenário de ódio e caricaturizando o governo do PT como revolucionário. Esse é o drama social que vivemos hoje: precisamos construir uma saída ao esgotamento do modelo petista, mas quem está canalizando esse discurso de insatisfação é o setor mais conversador, reacionário, de ultradireita.
E qual o horizonte de uma saída à esquerda para crise?
O horizonte passa por um caminho estratégico e outro tático. Qual o programa pautado pelo PT e por uma parte da esquerda nesses anos? Um programa de pequenos avanços e conquistas sociais graduais, sem mexer na estrutura do país. Essa estratégia não funciona mais, porque depende de condições que não estão mais dadas: uma delas é um nível de crescimento econômico que permita essas pequenas concessões e uma conjuntura que mantenha as forças sociais mais ou menos controladas. Nenhuma delas está mais dada. Nós temos uma crise econômica mundial e os produtos brasileiros, sobretudo as commodities, não têm mais o mesmo valor que tinham há dez ou há cinco anos. Essa é a hora de dar uma guinada e pautar reformas estruturais. No Brasil, ou se pautam esses temas ou se retrocede.
Peguemos o ajuste fiscal: a Dilma fez porque quis? Não. A crise piorou e o orçamento não cresceu. Ela precisou cortar. Agora, de quem cortou? Ou você retrocede e corta em direitos sociais e investimentos, que foi a escolha do governo, ou pauta reformas, como a reforma tributária, como a taxação das grandes fortunas. É preciso construir uma estratégia em torno das reformas populares.
Essa mudança estratégica implica também uma mudança tática, porque ela não vai ser implementada no interior desse sistema político. Para essa estratégia ser posta em prática será preciso aglutinar um amplo movimento de massa e isso implica conflito, enfrentamento de rua e pressão social.
O PT é capaz de fazer essas mudanças tática e estratégica?
Eu acho que hoje o PT não mostra disposição política para fazer isso, mesmo estando na sua maior crise, criminalizado e emparedado por diversos setores da sociedade e pela mídia.
Qual sua avaliação do Plano Diretor Estratégico de São Paulo, aprovado no ano passado, e de sua capacidade de combater essa lógica segregacionista da cidade?
O plano sozinho não faz reforma urbana e não enfrenta a segregação. Ele pode nos ajudar a fazer esse enfrentamento. O plano aprovado tem elementos importantes de avanço. Tivemos que fazer concessões, mas conseguimos impor algumas derrotas ao setor imobiliário, que queria avançar de forma cada vez mais voraz.
Conseguimos aumentar as áreas de Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social), regulamentar mecanismos do Estatuto das Cidades para a função social da propriedade, aumentar o Fundurb (Fundo de Desenvolvimento Urbano) que vai ser direcionado para compra de terra e programas de habitação. Mas o plano só vai se efetivar com luta social.
Qual o legado da Copa para São Paulo e para as demais metrópoles do país?
Talvez de mais positivo seja o 7 a 1 (risos). De resto, foi daí para baixo. Foi um processo de movimentação dos setores da construção civil que aprofundou processos de despejo, de segregação e de especulação. As obras da Copa não foram pensadas do ponto de vista do acesso à cidade e da garantia de direitos. Foram pensadas do ponto de vista funcional, de acesso aos estádios, aos centros hoteleiros, aos aeroportos. E deixaram para trás um rastro de despejo e políticas de militarização das cidades.
Créditos da foto: Gerardo Lazzari/RBA
(Publicado originalmente no site do Combate ao Racismo Ambiental)

Tijolinho do Jolugue: Líder dos Panteras Negras é libertado da solitária depois de 43 anos.

 


Albert Woodfox, integrante do grupo Panteras Negras, foi libertado após ser mantido por 43 anos numa solitária. Agora com 68 anos, Woodfox informa que presenciou muitos companheiros tombarem pelo caminho, depois de serem submetidos à mesma tortura que lhes foi imposta. Os Panteras Negras era um grupo que lutava contra práticas de cunho racistas cometidas pela sociedade americana, evidentemente, contra os negros. Foi detido sob acusação de roubo e, na prisão, acusado de assassinar um guarda, numa rebelião, motivo pelo qual foi conduzido à solitária, onde permaneceu por 43 anos, até recentemente. Ele nunca assumiu nenhum desses crimes. 

Neste último caso, o da morte de um guarda, até a viúva se juntou ao movimento que pedia sua saída da solitária. Os Estados Unidos possuem o maior sistema prisional do mundo, concentrando a maior população carcerária do planeta. Uma boa parte deste sistema é mantido pela iniciativa privada. Se com o Estado gerenciando esse troço torna-se difícil falar em "ressocialização", vocês bem podem imaginar a desgraça que é o capital por trás dessas atribuições do Estado. Estamos fazendo um curso de ética e é muito comum alguns imagens, como a tolerância, as virtudes, a laicidade, o equilíbrio, a justiça. Ontem foi um dia ótimo, porque a discussão se deu em torno da filosofia aristotélica, onde há um capítulo muito interessante, que pode - e deve - ser remetido ao debate atual sobre as cotas. Penso não haver discussão séria sobre as questões relativas às cotas para as IFES sem a presença de Aristóteles. Por mais que me esforce, não encontro nenhuma justificativa plausível para se manter alguém numa solitária por 43 anos. É demasiadamente desumano.

Outro dia, num curso sobre a doutrina liberal, o professor falava sobre a permanente preocupação dos liberais em "limitar" o poder do Estado. Ao longo da história, vários mecanismos foram criados ou aperfeiçoados para dar suporte essa inquietação dos liberais. Não se entende como não houve a possibilidade de a sociedade civil agir para evitar essa atrocidade cometida contra Woodfox. Em última análise, isso significa que os sistema de pesos e contrapesos - a despeito da tentativa de proporcionar um equilíbrio na garantia dos direitos individuais - ainda é muito falho. A mão do Estado pesou muito forte sobre o então jovem Woodfox, que perdeu quatro décadas de sua vida num cubículo.

Tijolinho do Jolugue: Agora são os policiais civis, Paulo Câmara.

 

Acabei de conversar com um colega de trabalho sobre os tempos bicudos que estamos vivendo. Ontem, postamos no blog um artigo sobre o fim da greve dos professores. Eles voltam ao trabalho depois de um processo desgastante, bem distante de obterem as reivindicações desejadas pela categoria, como o cumprimento do pagamento do piso salarial para todos os profissionais do ensino. No artigo, chegamos mesmo a nos perguntar se fez mesmo sentido essa greve, que, em última análise talvez tenha mesmo é contribuído para fragilizar o poder de luta da categoria. Mal saímos desse impasse, e a Polícia Civil do Estado anuncia uma paralisação de 48 horas. O SINPOL, o sindicato da categoria, informa que Pernambuco paga o menor salário a um policial civil entre todos os Estados da Federação. 

Se na Secretaria de Educação as coisas não andam muito bem, aqui é que a porca torce o rabo mesmo. Depois que se perdeu o controle sobre o "Pacto pela Vida", a turma anda batendo cabeça. Ninguém mais se entende. Declarações do secretário da pasta são contestadas pela Associação dos Delegados; inquéritos administrativos são abertos contra lideranças do SINPOL; há uma crescente precarização das condições de trabalho dos policiais civis. Talvez fosse interessante discutir como chegamos a esta situação, mas o fato concreto é que o Estado está com suas receitas contingenciadas, já ultrapassando o limite previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal, ou seja, 46,6%. Certamente isso não é problema dos servidores públicos, que andam com a corda no pescoço, mas é um fato. Nessas circunstâncias, a Justiça é célere na decretação da ilegalidade do movimento grevista, como já ocorreu com os professores. Tempos difíceis esses, gente. 

terça-feira, 9 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: A incrível "desenvoltura" de Carlos Lupi no Recife.


 


Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, está no Recife. Impressionou a desenvoltura de "Lupinho" no mundo político pernambucano, conversando com inúmeros atores; propondo possíveis candidaturas para o pleito municipal de 2016; articulando uma possível fusão do seu partido com os neo-socialistas tupiniquins, o que seria uma maneira, segundo ele, de livrá-los do abraço da morte com os tucanos, via PPS. Uma conversa com o prefeito de Olinda, Renildo Calheiro, do PCdoB, também está nos seus planos. Entre as possíveis candidaturas municipais, a do ex-deputado Paulo Rubem Santiago​, hoje na presidência da Fundação Joaquim Nabuco. Paulo Rubem poderia, segundo desejo de Lupi, habilitar-se como postulante à Prefeitura do Recife, nas eleições do próximo ano.

Sobre as eleições de 2012 para a Prefeitura da Cidade do Recife, publicamos uma série de 30 artigos sobre o assunto, abordando todos os principais lances e estratégias do atores políticos direta ou indiretamente envolvidos naquele pleito. O último dele, antevia a inevitável vitória do então candidato Geraldo Júlio, do PSB. Este artigo repercutiu bastante e nos causou uma certa dor de cabeça. Mas isso é coisa do passado. No geral, pelo menos para mim, a experiência foi muito boa e pretendo retomá-la. Não temos dúvidas quanto às manifestações dos bastidores, a esta altura, já bastante intensas. Por outro lado, este também é um momento de muitos "blefes", muitos "para ver se pega". Natural mesmo somente a candidatura de Geraldo Júlio à reeleição. Para isso, o prefeito já articula a entrega de um conjunto de obras que podem minimizar seu desgaste junto à opinião pública recifense. 

Penso que nem ele mesmo acredita naquelas pesquisas de jogam sua avaliação lá para as nuvens. Quando retomarmos essa série de artigos, emitiremos nossa opinião sobre uma possível candidatura do senhor Paulo Rubem Santiago. Nas imagens em que Carlos Lupi aparece no Palácio do Campo das Princesas, acompanhado de outras figuras políticas do partido e do PSB, alguém, pelas redes sociais, afirmou tratar-se do "Quinteto Violado".

Tijolinho Real: Professores de Pernambuco decidem encerrar greve.


 
 
Até recentemente, publicamos no nosso blog um artigo do professor Michel Zaidan sobre o ofício do magistério. Zaidan falava de uma experiência pessoa de 40 anos no magistério, mas, nas linhas e entrelinhas do texto observa-se sua preocupação em descrever as características do ato de ensinar, algo que, certamente, está na raiz de tanta receptividade ao texto, excetuando-se dessas conclusões, claro, o enorme carinho de gerações de estudantes que tiveram a grata oportunidade de serem alun@s do mestre. Sobretudo nesses tempos bicudos do exercício do magistério - onde um percentual expressivo de professores, fragilizados por inúmeros fatores - estão deixando a profissão -  era um típico artigo a ser debatido em sala de aula. 

Este artigo nos veio à mente por ocasião do encerramento da greve dos professores no Estado de Pernambuco. Tenho ouvido muitos comentários a esse respeito, não necessariamente aprovando a decisão da categoria. Seria até natural que alguns professores desejassem que a greve fosse mantida. Mas, a rigor, o que nos incomoda é aquela sensação de "desamparo" e "frustração" da categoria, entre aqueles que decidiram por voltar às aulas, que parecem ter sido vencidos pela cansaço, pela pressão do Estado ou talvez induzidos a tomarem uma decisão pela ausência de liderança da categoria que os representa. Que danado de força levantou a mão daqueles professores? Parecia mais um culto neopentecostal ou uma assembleia de partido comunista daqueles tempos. A mesma pergunta que se fez o filósofo francês, Louis Althusser, quando, numa reunião do Partido Comunista Francês, levantou a mão apoiando a expulsão da própria esposa dos quadros da agremiação.

Como diria o cancioneiro popular, se fosse perto todo mundo ia, se fosse raso ninguém se afogava, se fosse frio ninguém se queimava. É só colocar o Zé Ramalho na vitrola. Desde o início que estamos informando que esse embate não seria fácil, dadas as circunstâncias de um Estado com as finanças comprometidas pela LRF, uma esfera federal com a tesoura amolada e perspectivas econômicas nada alentadoras. A multa aplicada ao SINTEPE já chega a um milhão e meio de reais. Curiosamente, até os órgãos de fiscalização do Estado chegaram a se pronunciar, informando que não aconselhariam ao Estado conceder o reajuste requerido pela categoria dos professores. O quadro era, realmente, muito nebuloso.

Por outro lado, também não se pode negar que faltou brio nessa decisão. Faltou, se nos permitem, altivez. Pareceu mais uma capitulação diante das inúmeras pressões. Lamentavelmente, isso vem sendo assim explorado pela imprensa, que trata a questão como uma vitória do governador Paulo Câmara. Em última análise, talvez possamos concluir por uma "precipitação" da categoria em decretar a greve? Por que somente agora são invocados outros instrumentos de resistência ou desobediência? Por que esses instrumentos não foram pensados antes da decretação da greve? Como fica a situação dos professores penalizados durante o processo?

segunda-feira, 8 de junho de 2015

"De ecclesia lascatorum": a Igreja dos lascados

“De ecclesia lascatorum”: a Igreja dos lascados

06/06/2015
Talvez alguns se espantem diante de semelhante título: De Ecclesia Lascatorum, a “Igreja dos lascados”. No final do meu livro Igreja: carisma e poder (1982) eu prometia uma continuação com o título De severina Ecclesia: a “Igreja severina”. Quer dizer, a Igreja dos lascados e pobres, chamados de “severinos” no Nordeste. Nunca pude escrever tal livro, embora o Card. Joseph Ratzinger, ainda Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, que julgou aquele livro, de tempos em tempos, pedia informações se o livro anunciado havia sido publicado ou não. Enchia-se de temores pela ortodoxia do texto pois o tema dos pobres sempre mete medo aos portadores de poder.
Mas eis que agora aparece um livro que concretizou aquele meu propósito de antanho. Vem elaborado de uma forma profundamente espiritual, comovedora e convicente pelo meu querido e saudoso confrade Frei Lency Frederico Smaniotto, apelidado no seminário, carinhosamente de “Bambio” ou de “Cascudo”, falecido recentemente.
Se alguém quiser conhecer a radicalidade de um franciscano que tomou a sério a mensagem inovadora do Concílio Vaticano II, os documentos do episcopado latino-americano de Medellin e de Puebla, a opção radical pelos pobres e lascados e a teologia da libertação, leia, então, este livro. Segure as lágrimas porque sua saga provoca tal comoção, pela coerência, afetuosidade, humildadade, coragem e espiritualidade franciscana que só encontra paralelo no Padre Alfredinho, em Frei Damião, no bispo de Barra na Bahia Dom Luiz Fernando Cappio e no bispo de São Felix do Araguaia, Dom Pedro Casaldaliga, e ouso dizer, no Papa Francisco, entre outros.
Ele realizou literalmente o que o Papa Francisco pediu no dia 28 de maio de 2015 aos franciscanos do mundo inteiro: que vivessem a menoridade. Dizia o Papa:“menoridade significa sair de nós mesmos, de nossos esquemas e pontos de vista pessoais; significa ir além das estruturas – que também são úteis, quando utilizadas sabiamente –, além dos hábitos e das certezas, para testemunhar uma proximidade concreta com os pobres, necessitados e marginalizados, em uma atitude autêntica de partilha e de serviço”. Frei Lency foi concretamente um frade menor que se abaixava até estar à altura dos olhos do outro para vê-lo olho a olho.
Escreveu o livro De Ecclesia lasctorum, “a Igreja dos lascados”em cima de um bujão de gás. Nele não se trata de fazer teologia. Mas de testemunhar uma mística junto aos mais humilhados deste mundo, os servos sofredores e invisíveis da sociedade. Não é apenas escrever mas muito mais viver, sofrer junto, apanhar junto, ser preso junto, arriscar a vida junto e alegrar-se junto. Mil lutas e centenas de derrotas. Mas, como o Mestre, nunca abandonou os seus. Sempre se reergueu e retomou a via-sacra dos lascados, onde quer que estivessem.
Percorreu as principais estações da paixão popular nos vários Estados no Brasil. Efetivamente, Jesus continua dependurado na cruz, gotejando suor e sangue e gritando orações a Deus. Frei Lency se associou àqueles que escutaram o lamento do Mestre. Juntos com tantos lascados procurou baixá-los da cruz.
Estimo que este livro é um dos testemunhos mais vivos, mais fiéis e mais persuasivos da Igreja dos pobres, honra de nossa Igreja brasileira e farol a iluminar caminhos de tantos que, compassivos e soiidários, querem e nem sempre podem seguir a mesma opção.
Mas esta opção está aí para mostrar que o Evangelho dos lascados está vivo. Ele pode ser vivido na radicalidade que a viveu Francisco de Assis, atualizada por Francisco de Roma. Sua mensagem é tão desafiadora que nenhuma editora teve a coragem evangélica de publicá-la. Mas “habent sua fata libelli” diziam os antigos:”os livros, os verdadeiros, têm o seu destino.”
O livro é completado com escritos de outro que se identificou com a população afrodescentente Frei David Raimundo Santos, abrindo escolas e preparando estudantes para a universidade.
Frei Lency já não está mais visível entre nós, embora sempre presente. Ele está com seus lascados que o precederam na glória. Está, finalmente, junto com o Ressuscitado que não escondeu suas chagas de lascado. Depois de tanta luta, Frei Lency não morreu: foi atender a um chamado de Deus que lhe sussurrou:
“Meu querido filho, Lency, como te esperava! Vens cansado e com o corpo todo gasto. Agora estás comigo e te levarei à fonte da eterna juventude onde todos os teus irmãos e irmãs lascados estão te esperando. E qual águia que renova todo o seu corpo, reviverás. Mais ainda, ressuscitarás para estares eternamente conosco, com aqueles “meus irmãos e irmãs menores” nos quais eu estava presente e que tu me serviste e que agora já não padecem, já não choram nem se lamentam pois tudo isso passou.
Vem, meu querido filho Lency. Vem, pois te esperava desde sempre. Cumpriste tua missão como a minha quando peregrinava entre os pobres e lascados da Palestina. Vem, fica conosco para sempre pelos tempos que não terão fim num novo Céu e numa nova Terra onde não haverá mais lascados porque todos serão irmãos e irmãs, meus filhos e filhas queridos”.
Leonardo Boff
Amigo-irmão-confrade
AOS INTESSADOS NA COMPRA do livro : DE ECCLESIAM LASCATORUM
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