pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

José Álvaro Moisés: Os partidos estão colapsando?


OS PARTIDOS ESTÃO COLAPSANDO?

José Álvaro Moisés

Pesquisa recente do Ibope sobre a confiança dos brasileiros em instituições democráticas mostrou que partidos são as instituições mais desacreditadas pela população. Mais de 80% dos entrevistados afirmaram não confiar em partidos. O índice repete o que minhas pesquisas de 2006 e 2014 mostraram: a desconfiança chegou a 81 e 84% respectivamente. E perguntados se a democracia pode funcionar sem partidos, mais de 30% responderam sim em 2006, mas o percentual subiu para 45% em 2014. Quase metade da população brasileira parece estar deixando de ver os partidos como essenciais ao regime democrático.

O problema ganhou as ruas nos protestos de 2013. Grande parte dos manifestantes repudiou a participação de partidos ou rejeitou seu papel de representação. Não foi suficiente, contudo, para levar os líderes partidários a enfrentar a situação. E Operação Lava Jato está revelando aspectos mais complexos e profundos do problema: não é só o caixa dois das campanhas eleitorais, mas a existência de um poderoso esquema de desvio de recursos para partidos, dirigentes de empresas estatais e personagens emblemáticas como o ex-ministro José Dirceu, do PT. Ou seja, mesmo partidos de esquerda abandonaram a res publica como objetivo da democracia.

Alguns analistas sustentam que como ocorreu com a Democracia Cristã, o PSI e o Liberal na Itália, em consequência da operação Mãos Limpas - que nos anos 90 lançou luz sobre a gigantesca rede de corrupção que dominava a vida política e econômica daquele país - o sistema partidário brasileiro também pode colapsar. A hipótese traduz avaliação negativa sobre a mais importante operação de enfrentamento da corrupção realizada no Brasil, e prenuncia efeitos devastadores para o sistema político; no fundo, questiona se a Operação Lava Jato deve continuar, sem admitir que o abuso de poder dos partidos de governo compromete a qualidade da democracia.

Os partidos vivem o seu pior momento desde o fim do processo de democratização. Após mobilizar corações e mentes para o resgate da dignidade da política, o PT traiu seus princípios, aceitou a cultura dos mal feitos e, sem conseguir se explicar, perde a confiança de eleitores e militantes. Opondo-se a parte das políticas de ajuste do seu governo, disputa posições de poder com seu principal aliado, mas sofre sucessivas derrotas no Congresso sem que o PMDB abra mão de cargos no governo. A síndrome afeta toda a base aliada que, sem coerência programática e de costas para a sociedade, busca benefícios sem dar contrapartida. A oposição tampouco está melhor, PSDB, PPS e DEM sem definir rumos claros, oscilam entre o impeachment de Dilma, eleições fora de regras constitucionais e apoio a aumentos de gastos públicos que contrariam suas posições programáticas. Os sinais são confusos, não oferecem alternativas e indicam irracionalidade no enfrentamento da crise.

O sistema partidário brasileiro tem algo de paradoxal: além de sua perturbadora fragmentação e a constante troca de legendas por parlamentares, os partidos são chamados a garantir a governabilidade do país no Congresso, mas dão pouca ou nenhuma importância para sua conexão com os eleitores, que desconfiam deles, não têm preferência partidária e não querem se filiar. O que conta não é o que os partidos significam para a sociedade, mas como seus arranjos facilitam que os dirigentes – que em muitos casos se perpetuam nas direções - conquistem ou mantenham posições de poder.

Mas posições de poder para que? A explicação está faltando para os eleitores e para a sociedade. Alguns acham que o quadro é normal, partidos existem para conquistar o poder e, se conseguem isso, importa pouco se sinalizam ou não algo de substantivo para os eleitores; é uma opção pragmática, autojustificada, que contamina todo o espectro partidário: já tomou conta do PT, confirma o que faz o PMDB, e avança entre partidos de oposição. Mas segundo Tarso Genro, ex-governador gaúcho, no caso do PT o ciclo está se encerrando; para Frei Beto, amigo de Lula, a busca pura e simples do poder condenou o PT, e para o filósofo José Arthur Giannotti, simpatizante do PSDB, para além de viabilizar as carreiras políticas individuais de seus líderes, o PSDB precisa provar que tem coerência com o seu programa socialdemocrata.
Os partidos têm, portanto, problemas que ultrapassam as distorções reveladas pela Lava Jato. Como ocorreu na Itália dos anos 90, não será a fragilização ou eliminação de regras e procedimentos de fiscalização e o controle que os salvarão. Partidos têm o monopólio da representação dos cidadãos e, por isso, se o contingente de eleitores que os desqualifica cresce, algo está errado. Representar significa estar no lugar de e, para isso, os representantes precisam ouvir, se comunicar e se constituir em referência para as escolhas dos eleitores.

Evitar o colapso dos partidos só depende da capacidade de seus lideres de reconhecer a natureza da crise e reagir antes que seja tarde demais. Eles precisam dizer com clareza como pretendem reconquistar a confiança dos eleitores e explicar, por exemplo, por que os partidos não consultam filiados e simpatizantes para a escolha de candidatos e programas. Precisam, sobretudo, assumir claro compromisso anticorrupção para recuperar os valores republicanos. Mas é ilusório pensar que isso vale só para o PT e a situação, a oposição também precisa se comprometer com o aprofundamento da democracia brasileira. E a solução não está em impedir a continuação da Lava Jato, mas em apoiá-la.


José Álvaro Moisés, da USP, é autor do livro DESCONFIANÇA POLÍTICA E SEUS IMPACTOS NA QUALIDADE DA DEMOCRACIA.

(Publicado originalmente no Estadão)

Tijolinho do Jolugue: Olinda pode perder o título de Patrimônio Cultural da Humanidade

 


Até recentemente, fiz uma longa caminhada pelas ruas de Olinda, com a minha caçulinha, Maria Luísa. Não fazia isso há muito tempo. Lembramos de uma fase de nossa infância, onde um dos prazeres era andar pelas ruas da cidade histórica, aleatoriamente, apenas apreciando a beleza do seu sítio histórico, de suas árvores ainda preservadas, de suas igrejas. Disposta, a guria não refugou nenhuma de suas ladeiras, nem mesmo a que dá acesso ao Alto da Sé, onde já cometemos a imprudência de subir com uma aluna grávida de 08 meses. De volta do Alto da Sé, ainda fomos ao Carmo e ao Fortim. De fato, parece que a cidade precisa ser melhor cuidada pelo poder público. Há alguns claros indícios de abandono por todos os lados que caminhamos. Começamos ali pelo Mercado Eufrásio Barbosa, seguimos pelo Mosteiro de São Bento, Palácio dos Governadores, Museu do Mamulengo, Mercado da Ribeira, Quatro Cantos, Pitombeiras. Depois de um longo período de abandono, o Mercado Eufrásio Barbosa está sendo reformado.

Em alguns trechos da Ladeira da Misericórdia, o lixo se acumula em suas encostas. No Alto da Sé são frequentes as reclamações sobre o abandono do local, o que vem acarretando o aumento da incidência de assaltos e a afugentando os turistas. O lixo também se acumula - naquelas águas outrora limpas - dos lagos do Parque do Carmo, embora, nesse caso, talvez possamos fazer uma ponderação, uma vez que ali observa-se a existência de plantas aquáticas fundamentais para a reprodução de algumas aves. Caminhado para 16 anos de gestão comunista, todos esses anos não foram suficientes para uma verdadeira revolução na cidade. 

Olinda é apresentada como a "prioridade" das "prioridades" entre os comunistas do PCdoB. Vocês imaginam se não fosse. Do elevador instalado no Alto da Sé, pude observar a beleza daquela cidade, inclusive da mata no seu entorno, que estaria em negociação com setores da Igreja no sentido de transformá-la num parque. Nunca mais ouvi nada sobre este assunto. A cobertura vegetal é realmente espetacular, sobretudo quando vista de cima.Agora vem a notícia que, pelo descaso do poder público, Olinda pode perder o título de patrimônio cultural da humanidade.

O título foi obtido na gestão do prefeito Germano Coelho, um dos mais ativos integrantes do Movimento de Cultura Popular, o MCP, criado na gestão de Miguel Arraes, quando ele era prefeito do Recife. Não seria a primeira vez que esse título estaria ameaçado. Recentemente a Prefeitura do Município realizou uma limpeza no famoso Canal da Malária, um cartão de visita da cidade. Se vocês observarem, o muro está a ponto de desabar. Não resistiria aos próximos invernos, e as intervenções ficaram apenas na limpeza e poda dos manguezais. 

Tijolinho do Jolugue: Michel Temer deixa a articulação política do Governo.






Neste final de semana, estranhei alguns movimentos dos atores políticos sabidamente conspiradores ou susceptíveis a um afastamento da presidente Dilma Rousseff, do cargo de Presidente da República Federativa do Brasil, legitimamente eleita dentro das regras do jogo democrático. Discutimos isso pelo blog. Parecia que o clima estava mais sereno, caminhando para um contexto de normalidade institucional, numa perspectiva de calmaria, até sairmos da crise. Aqui na província, um "cozidão" realizado por um possível candidato a substituir o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, companheiro de legenda do PMDB. Logo em seguida à orgia gastronômica, os convivas saíram invocando um gesto de grandeza da presidente Dilma Rousseff no sentido de pedir sua renúncia do cargo. 

Num artigo de um  jornal da tropa de choque golpista, o articulista apresentava seus argumentos para informar que a trégua avalizada pelas federações empresariais, os grandes bancos, setores da mídia e políticos, havia chegado ao fim. A crise econômica estava tão braba que o Governo não teria o que oferecer aos seus "achacadores" de turno. Mais uma vez ou sempre prevalece a lógica do capital. Acrescente-se a isso o pedido de revisão da aprovação das contas de campanha da presidente Dilma Rousseff, solicitado a TSE, pelo ministro Gilmar Mendes. 

Um outro fator que pode estar pesando contra a manutenção das regras do jogo é o pouco intervalo que o Planalto teve para se refazer da refrega golpista. O PMDB que já estava dividido, parece que esfacelou de uma vez o seu apoio à base aliada da presidente Dilma Rousseff. O vice-presidente, Michel Temer, acaba de entregar o cargo de articulador político do Governo. Ele até teria habilidade para o exercício do cargo, mas sempre foi um ator político a quem não se pode dar total confiança. É do tipo que age pragmaticamente, procurando unicamente maximizar os seus interesses pessoais. Os princípios republicanos nunca orientaram a sua conduta política. Se percebe que o barco pode afundar, ele o abandona na primeira hora. Seu afastamento da coordenação política do Governo é, de fato, um mal presságio para a saúde de nossa frágil democracia política. 

A charge é do Renato Aroeira

domingo, 23 de agosto de 2015

Tijolinho do Jolugue: O "cozido" azedou para o prefeito Geraldo Júlio




O prefeito do Recife, Geraldo Júlio(PSB), não foi ao cozidão oferecido pelo Deputado Federal Jarbas Vasconcelos(PMDB), neste sábado, dia 22 de agosto. Como bem observou a blogueira Noélia Brito, estavam presentes atores políticos que deverão fortalecer o partido nas próximas eleições municipais, como o Deputado Estadual Ricardo Costa, que deverá candidatar-se às próximas eleições municipais para a Prefeitura de Olinda, em 2016. O "cozidão", então, numa primeira leitura, teria como objetivo a estratégia traçada no encontro estadual da legenda, ocorrido até recentemente, ou seja, fortalecer o partido na capital, região metropolitana e interior. Nos últimos dias, tem se especulado bastante sobre uma eventual movimentação do grupo de Jarbas Vasconcelos no sentido de viabilizar sua candidatura às eleições municipais recifenses de 2016.

Jarbas vem jogando em várias frentes e isso pode turvar ou confundir as análises. Por vezes, o propósito é este mesmo: confundir. Aqui convém separar muito bem os ingredientes desses cozidos, evitando que o pirão da análise entorne. Uma versão do 'cozidão" também é oferecida em Brasília, confirmando que ele jogará suas fichas, dependendo das oportunidades, tanto na província quanto no plano nacional. Existe um claro vácuo de liderança política no Estado, deixado com a morte do ex-governador Eduardo Campos. Uma raposa política com a experiência e a capilaridade de Jarbas, certamente, se assanharia em ocupar esse espaço. 

Não se constituiria nenhuma surpresa se ele estiver se movimentando nessa direção. Aqui houve um processo de "eduardolização" da política. O ex-governador deixou muitas viúvas, dentro e fora das hostes socialistas. Paulo Câmara e Geraldo Júlio são técnicos que, circunstancialmente, assumiram o leme político do Estado e da capital. Daqui não se espere grandes coisas não. Um papo com Jarbas poderia ajudar a entender melhor essas suas movimentações. Com a possibilidade real de um afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha(PMDB), o nome de Jarbas passou a ser cotado como um provável substituto. 

O problema aqui são os possíveis acordos firmados com os seus apoiadores, todos indicando que ele chagaria ao cargo com o compromisso de pedir o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Aliás, Raul Henry, um fiel escudeiro, já declarou pelos jornais que Dilma, num ato de grandeza, deveria renunciar ao cargo. Dilma Rousseff nunca mais teve algum sossego com essa gente. O mercado, setores da mídia golpista, políticos mais sensatos já desistiram dessa aventura golpista, mas há ainda quem a alimente nos bastidores. Três lances, neste último final de semana, conforme já discutimos aqui no blog, mostram que os conspiradores ainda estão ativos.    

Tijolinho do Jolugue: Maílson da Nóbrega explica porque não houve golpe.



O economista Maílson da Nóbrega foi Ministro da Fazenda do Governo José Sarney. Paraibano, Maílson, segundo se informa, foi um estudante bastante aplicado na juventude. De origem humilde, conquistou o respeito devido no seu campo de atuação. Todos sabemos que o mercado tem uma lógica própria, inexorável, independentemente dos atores políticos. Aliás, quase sempre, o mercado "escolhe" os atores políticos consoante os seus interesses. Os analistas políticos chegaram à conclusão de que três lances foram decisivos para arrefecer as manobras em torno de uma possível tentativa de impedir a conclusão do mandato da presidente Dilma Rousseff. O mais importante desses lances foi proposto pelo mercado. Logo em seguida, a Rede Globo encampou a proposta e, por fim, alguns atores políticos finalizaram o processo com algumas declarações. Hoje sócio de uma consultoria, Maílson da Nóbrega revela, em artigo, as razões de mercado, ou seja, como, mais uma vez, foram maximizados os seus interesses e a sua lógica. Aliás, muito simples. Já vivemos um momento difícil na economia e um golpe agora, em razão do "barulho" que os petistas poderiam fazer, apenas agravariam os problemas.  

Michel Zaidan Filho: A Judicialização da política





Acabo de ler um denso e substancioso trabalho sobre o conceito de Imparcialidade dos Juízes. Uma tese de doutorado em Direito realizada na UnB, por um jovem advogado da AGU, Douglas Carvalho. A tese levanta muitos argumentos teóricos, jurídicos, históricos e filosóficos - ao longo da história do pensamento ocidental - sobre a formação dessa imparcialidade ou separação dos Poderes e chega a uma conclusão de que ela é uma herança do  liberalismo constitucional e atende a determinados interesses.

A tendência à judicialização da política é um fenômeno generalizado, não só em função da contratualidade das relações sociais e o avanço do braço jurídico do Estado no cotidiano das pessoas, mas sobretudo em função da crise de legitimidade (e funcionamento) dos demais Poderes (o Poder Legislativo e o Poder Executivo), em sociedades cada vez mais complexas e conflituosas no mundo de hoje. A doutrina da separação de poderes, seja na sua versão francesa (Montesquieu) ou na sua versão americana (checks and balances) corresponde ao período áureo do liberalismo, onde o Parlamento despontava como o legítimo e maior detentor da soberania popular, conforme o pensamento do abade Sieyes. Com a complexificação da sociedade e a imensa pletora de funções que a administração pública assumiu, o Parlamento foi progressivamente perdendo importância na vida das nações. 

Ou porque não esteja aparelhado para tratar das questões, ou porque é lento na forma de decidir ou porque só cuida de aprovar medidas que atendem aos seus próprios interesses: a doença do corporativismo. Nos regimes presidencialistas, como o nosso, há uma improvável e perigosa conjugação de multipartidarismo com o poder do Presidente. Um Presidente que precisa do apoio de uma relativa maioria parlamentar, para aprovar sua agenda e dar sustentação ao mandato presidencial. E um quadro político-partidário fragmentado, pouco representativo e corporativista. 

Se o poder Executivo governa através de medidas provisórias, exorbita a sua competência constitucional, ao determinar a agenda do Parlamento. Se tenta buscar o apoio dos parlamentares, tende a se tornar refém do fisiologismo. No Brasil, quando se fala de governo de coalizão, entendeu-se governo de cooptação. Quando o Presidente é fraco, a economia anda mal e sua popularidade é baixa, facilmente ele se torna uma presa de interesses sub-partidários, sub-republicanos, paroquiais.
Num quadro como esse, é compreensível que o Poder dos Juízes conspire contra a sua alardeada imparcialidade e que seus julgamentos sejam neutros, técnicos ou ditados pelo respeito à Constituição. Entre a crise de representação política do Parlamento e a fragilidade da base de apoio do Poder Executivo, entende-se o messianismo jurídico que se instalou no imaginário da população brasileira, que ora busca um vingador público ou alguém que governe, faça a máquina do Estado andar. Os juízes podem ter um brilhante curriculum jurídico - como Joaquim Barbosa - e serem indicados pelo partido A ou partido B, mas carecem de legitimidade política e social para decidirem ou governarem o País. 

O processo da decisão judicial está longe de ser neutro ou ditado pelos comandos constitucionais. Principalmente em países como o nosso, onde a interferência do sistema político no Judiciário é reconhecidamente grande. Os juízes votam e decidem de acordo com suas convicções, valores, visões de mundo ou interesses que consideram válidos. O magistrado não julga a lide, como um santo diante das questões sociais. O magistrado decide, como uma forma de poder monocrático, que às vezes não dá satisfação nenhuma à sociedade sobre seus julgados. 

O famoso controle externo do Judiciário só atua em questões administrativas da prestação jurisdicional. E as corregedorias nem sempre cumprem satisfatoriamente suas  funções. Em matéria de transparência, celeridade, acessibilidade e racionalidade, os nossos magistrados deixam muito a desejar. E já houve quem propusesse uma lei para os juízes, de forma a conferir mais previsibilidade às decisões judiciais. Outros acham que o signo jurídico é, ele mesmo, um signo aberto, polivalente, passível de múltiplas leituras e interpretações. O instituto da sumula vinculante viria minimizar essa liberdade de julgar dos magistrados.
O fato é que existe quem defenda que a judicialização da política (e da administração) é um mal necessário em razão da fraqueza e o despreparo dos demais poderes. A clássica separação de poderes não corresponderia ao estágio atual da nossa sociedade, que exige cada vez mais decisões adequados e rápidas para múltiplas questões difíceis e intrincadas. Agora, se Joaquim é melhor do que José para apreciar e julgar os denunciados da operação Lava Jato isso não passa de uma tipo de suspeição lançada pelos partidos sobre o Poder Judiciário, que tende a minar a credibilidade que este Poder ainda tem junto a opinião público, em face da crise política que ora atravessamos no Brasil.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE. 

sábado, 22 de agosto de 2015

Tijolinho do Jolugue: A sexualidade da Presidência da República.





Eles parecem dispostos a ver a presidente Dilma Rousseff sangrar em praça pública. Mal a presidente se refaz de uma investida e seus algozes já estão armando novamente. Agem de uma maneira bastante articulada, atuando em todos os flancos, usando de expedientes abjetos . Parece não haver limites para essa gente. Até uma organização criminosa como a Máfia mantém um código de conduta, respeitado pelos seus membros. Acabamos de publicar uma postagem sobre as possíveis costuras em torno do nome do deputado federal pernambucano, Jarbas Vasconcelos, no sentido da indicação do seu nome para presidir a Câmara Federal, caso seja mesmo confirmado um impedimento do deputado Eduardo Cunha, denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao STF. 

Jarbas, que tem uma carreira política muito identificada com a normalidade institucional e o Estado Democrático de Direito, até bem pouco tempo, posicionava-se em defesa da legalidade, ou seja, da preservação do mandato da presidente Dilma Rousseff. Não se sabe por qual cargas d'água, ele abandonou o sossego de um dia de sol com os amigos para participar das manifestações contra Dilma Rousseff, no domingo, dia 16. Especulamos, então, que poderia ser mesmo em função de um provável corpo-corpo com um reduto eleitoral importante - a classe média do Recife - caso se concretizasse as especulações em torno de uma possível tentativa de concorrer, mais uma vez, à Prefeitura da Cidade do Recife, nas eleições municipais de 2016. Nada disso. 

O que parece estar em jogo mesmo é a Presidência da Câmara dos Deputados. Nesse intervalo, Jarbas concedeu algumas entrevistas, onde sugeriu que a presidente Dilma Rousseff renuncie, sob pena de ser expulsa da Presidência da República. Ou seja, peça para sair ou a gente te tira de lá. Segundo dizem, tudo estaria perfeitamente acordado com os seus apoiadores de turno, no sentido de, se eleito, ele abrir ou acatar os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Seria cômico se não fosse trágico o senhor Jarbas Vasconcelos se prestar a esse serviço. 

Numa outra frente, Gilmar Mendes, mesmo depois das contas aprovadas, está pedindo revisão de nota. Por fim, a edição de uma de nossas revistas semanais se esmerou na baixaria contra a presidente Dilma Rousseff. Num dos seus artigos, insinua que os problemas da presidência estão relacionados à falta de sexo da comandante da nau. Onde nós vamos parar?

Você precisa ler também:

conspiração Jarbas Vasconcelos

Tijolinho do Jolugue: A conspiração "Jarbas Vasconcelos".






Não se constitui nenhuma novidade uma possível candidatura do Deputado Federal Jarbas Vasconcelos(PMDB) à presidência da Câmara dos Deputados, caso se confirme o impedimento do senhor Eduardo Cunha(PMDB), atual presidente daquela Casa, recentemente denunciado ao STF pela Procuradoria-Geral da Presidência da República. O que se discute agora é sobre se ele seria ou não um bom nome para os interesses das res publica, de uma maneira geral, e, mais especificamente, para os interesses dos segmentos sociais mais populares. O que os jornais de hoje trazem com um grande estardalhaço, nós já discutíamos pelo blog.

Do ponto de vista estritamente eleitoral, algo nos informa que ele é um candidato viável, a julgar pelo trânsito fácil junto aos setores conservadores da política brasileira. O seu perfil, certamente, não assusta aos mais renhido dos tucanos, em processo crescente de "arenização". Como diria uma grande raposa política mineira, em política, devemos ficar atentos aos "movimentos das nuvens". Evidentemente que essas articulações em torno do nome do pernambucano não começaram agora. Na capital federal, assim como ocorre aqui em Pernambuco, há uma versão do famoso "cozido", onde romarias de políticos, das mais distintas matizes ideológicas, vão à residência do deputado pernambucano "apenas" atraído pelo suculento cozido, quiçá também preparado com os ingredientes adquiridos aqui no Mercado da Encruzilhada. Não preciso informar aos nossos leitores de que não existe "cozido" de graça. Alguns, aliás, saem muito caro. 

Num belo domingo de sol, quando o pernambucano bem que poderia estar descansando, tomando sua dose de Logan e preparando um churrasco de picanha, eis que ele foi à manifestação contra a presidente Dilma Rousseff, na praia de Boa Viagem. Jarbas foi uma das vozes mais ativas contra a Ditadura Militar, instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Temos nossas divergências, mas engrossamos a tese, aqui no blog, de que golpista ele não seria. Pela sua militância política, certamente, lutaria até as últimas consequências em defesa de um mandato obtido nas urnas, dentro das regras do jogo do regime democrático, como foi o caso da vitória da presidente Dilma Rousseff.

Ele,Jarbas, sabe que o que estão tentando fazer com a presidente Dilma Rousseff não se sustenta dentro do plano da normalidade constitucional e do respeito ao Estado Democrático de Direito. Pelas entrevistas concedidas e pelos atores que estão "inflando" o seu nome, algo nos suscitou algumas preocupações. Jarbas seria o nome para matar dos Cunhas de uma cajadada só. Seu nome estaria sendo urdido com alguns compromissos tácitos. Derrubaria Cunha e assumiria o compromisso de pedir o impedimento da presidente Dilma Rousseff. Essa turma, mesmo depois dos 80 anos, não deixa de cometer seus "desatinos". É preciso ficar de olhos neles. 


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Crônicas do cotidiano: Severino bucho-azul.






José Luiz Gomes

Nosso curso de Letras, na UFPE, ainda foi muito "puxado", como diriam os nossos avós. Foi o nosso primeiro vestibular. Por essa época, ainda existia a primeira e segunda opções. Dentro de uma perspectiva bourdieusiana, a primeira opção, provavelmente, para os mais privilegiados, os filhos da classe média ou da elite, e as segundas opções para os alunos oriundos da escola pública, o grupo em que nos encontrávamos. Tudo devidamente legitimado em nome da meritocracia de corte burguesa. Morando na cidade de Paulista, Região Metropolitana do Recife, precisávamos chegar ao Centro de Artes e Comunicação da UFPE às 7:30 da manhã, para assistirmos as famosas  aulas de Latim, ministradas pela professora Inalda. Acordávamos às 05:00 horas e chegávamos àquela Instituição já literalmente "coalhado". 

Muita dureza. As tardes e noites eram dedicadas às salas de aula. Não era brincadeira não. Hoje, Latim já não se encontra mais no desenho curricular do curso, e você ainda tem a opção de dedicar-se apenas ao ensino de uma língua, que pode ser o português. Na nossa época, eram duas. Tínhamos dois  grandes amigos no curso. Pedro, que tornou-se diplomata, e o almirante Guimarães, um ex-oficial da Marinha, que já se encontrava com a mente em frangalhos, castigado que fora pelas agruras da vida. Não raro, vinha acompanhado da esposa, de quem nos tornamos amigo também.

Pedro, ainda tive a oportunidade de encontrá-lo num supermercado, outro dia, fazendo compras com a esposa, num desses shopping centers da vida - que frequento apenas por força das circunstâncias - já então com aquela empáfia de rico, o que nos facultou apenas um abraço e um aperto de mão, mas já sem aquele afeto das conversas alegres, nos alambrados do CAC, horas a fio, antes ou depois das aulas. Bastante viajado, na condição de diplomata, penso que o caboclo esqueceu de suas origens, em Timbaúba de Mocós. Guimarães sumiu completamente. Tentei de todas as formas reatar aquele contato, mas todas as tentativas se mostraram inúteis. Com ele, além do grande amigo, foi embora também um romance que cometemos durante o curso, por exigência de uma das disciplinas. Nada muito rebuscado, apenas para cumprir um rito acadêmico. Um exercício de escrita, na realidade.

Nunca mais tive notícia do mesmo e havia apenas a cópia que ficou nas mãos do Guimarães, que já não era assim um cara muito organizado. Os anos se passaram e Mariana, uma aluna com a qual mantivemos um relacionamento durante o curso, jura que o mesmo teria sido publicado, segundo soube, com um nome diferente do original, mais ou menos o que ocorreu com Cazuza, de Viriato Correia.Na realidade, nunca se soube o verdadeiro nome do cidadão que entregou os originais de Cazuza a Viriato. Difícil acreditar nessa conversa. Impossível que o Guimarães que conheci tomasse uma atitude do gênero, sem que nos fosse dado os créditos devidos. 

Não aquele Guimarães que conheci, das tripas de porco com cerveja do famoso Bar da Tripa - salgadas que só a molesta - das sextas no Bar do Abacaxi, das farras na residência de Remígio, quando a família viajava e, principalmente, aquele Guimarães que, mesmo com um inglês macarrônico, aprendido na beira do cais - nos tirou, incontáveis vezes, dos embaraços na disciplina. Inspirado, nos bares com música ao vivo, tomava o microfone e saía a imitar o Frank Sinatra. Sua interpretação de Let me try again era inconfundível.  Dávamos muitas gargalhadas. Bons tempos aqueles...

Os escritos, tratava-se, na realidade, de um esboço de literatura infantil, sem maiores pretensões, apenas para o cumprimento dos requisitos de uma disciplina. Salvo algum engano, a disciplina de Teoria Literária, ministrada pelo poeta Marcus Accioly. Outro dia o encontrei passeando aqui pelo calçadão da praia de Casa Caiada, em Olinda, já sem esconder os efeitos dos longos anos de vida. Não se pode dizer que fazia uma caminhada. Estava mais para um passeio descontraído. Como um almirante teria muitas histórias para contar, achei por bem juntarmos suas experiências, com as nossas vivências de menino, na cidade de Paulista. Havia alguns personagens engraçados em nossa Vila Torres Galvão. um dos capítulos dizia respeito a um cidadão conhecido pela alcunha de Severino Bucho-Azul, que dava título ao romance, possivelmente um nome apropriado para um romance de literatura infantil. 

Foram 165 páginas de memórias e reminiscências.Isso depois de procedermos inúmeros cortes, literalmente "censurando" as safadezas do Guimarães. Para nós, mesmo sabendo tratar-se de um trabalho experimental, uma perda irreparável. Eis que remexendo as coisas velhas que sempre guardei, encontrei alguns rascunhos de anotações sobre esse tal romance, precisamente sobre os tipos engraçados de nossa cidade, que passamos a compartilhar com vocês, nessa crônica de fim de fim de semana.

Na vila onde morávamos existiam algumas pessoas de nome ou apelidos curiosos. Havia inúmeras justificativas para isso: Atitudes, traços físicos, atividades profissionais ou algum ofício cotidiano. Os folcloristas Câmara Cascudo e Mauro Souto Maior trabalharam essa questão. Mauro chegou a escrever um livro sobre o assunto. Tinha o hábito de contactar diretamente os cartórios de registro civil com essa finalidade. “Nomes Próprios Pouco Comuns” sempre despertou muito interesse dos leitores. Um verdadeiro best-seller do folclorista da Fundação Joaquim Nabuco. No nosso caso, não se trata bem de nomes propriamente ditos, mas de apelidos, ou, se preferirem, o nome seguido dos apelidos, o que era muito comum. 

Ai vão eles: Severino Bucho-Azul, teria realizado uma cirurgia no abdômen e havia ficado com uma marca que, segundo dizem, era azulada, algo pouco provável, mas permitido no campo do folclore.  Mané Vê-Dois. Era um cidadão vítima do alcoolismo que já se encontrava na fase onde o caboclo passa a ver, num delírio, a imagem de um bode – sempre um bode, nunca entendi muito bem porque não outro animal – algo comum entre os alcoólotras. Bio Doceiro, um vendedor de doce japonês que, invariavelmente, chamava nossa atenção não apenas pelo inconfundível apito, mas pelas iguarias que transportava, um doce apreciado ainda nos dias de hoje. Uma atividade informal que sobreviveu ao tempo. Não sei como aquele doce saia tão gostoso, fabricado num ambiente de tanta imundície. Bio Doceiro morava praticamente numa pocilga, mantida por sua esposa, Tonha da Porca. Tonha cevava os leitões recolhendo restos de comidas pelas casas vizinhas em horários regulares. Quando eles já estavam bem gordinhos, os matava, comercializando a carne, normalmente em algumas datas específicas do ano.

Eu quero um quilo de lombo, eu quero um quilo de costela. Não esqueça dos pés para a feijoada. E assim ia, até que o leitão, antes mesmo de morrer, já havia sido todo esquartejado. Mesmo nessas condições, nunca soube de alguém ter sido acometido pelo famoso germe  transmitido pela carne do animal, criado sem nenhuma condição básica de higiene. Dona Chocha, uma baixinha simpaticíssima, que aturava nossas peraltices em seu quintal, sempre que possível. Nossos excessos eram solenemente castigados. Havia uma cerca com a plantação de avelós, uma planta que, segundo dizem, estudada hoje como alternativa ao tratamento do câncer.  

O avelós possui um leite que, quando bate nos olhos, provoca dores e ardências intensos. Costumávamos muito cortar seus galhos apenas para ver o leite derramar. Os acidentes eram freqüentes.  Manuel Farinha Seca, um miliciano que trabalhava para os Lundgrens. Tinha como missão fiscalizar as matas da Companhia de Tecidos Paulista. Possuía uma prole respeitável e uma voz inconfundível. Não raro ficávamos sabendo de suas escapadas às inúmeras emboscadas de que era vítima, na volta para casa, em razão das inimizades adquiridas pelo ofício. 

Existiam outros tantos tipos engraçados, como um barbeiro alcóolotra, que costumava dar banhos de talco Cinta Azul  nos clientes. Alguém lembra desse talco? Português era o apelido dele.Gente boa aquele Português. Não raro íamos em reca cortar o cabelo. Depois do corte "pé quadrado", o melhor momento era quando o Português nos dava um banho com aquele talco. Nas sextas-feiras, só voltava para casa a reboque dos filhos, totalmente embriagado, sem a menor coordenação. Observar aquelas cenas era de partir o coração de uma criança. Comenta-se, que internado e atormentado pela compulsão de tomar uma pinga de cachaça, teria ingerido o próprio álcool que seria usado no seu tratamento, num descuido da enfermeira. Prometo que voltaremos a tratar desses assuntos. 

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Tijolinho do Jolugue? Rodrigo Janot denuncia Cunha, Renan e Collor. A República resiste?



Nossos últimos artigos e postagens trataram da delicada situação política do país, onde o capital levyano ditas as regras da política econômica, enquanto o enredo político tornou-se uma ópera bufa comandada pelo avalista político do governo, Renan Calheiros. Em última análise, o Governo acabou. Mas como dizem que o que já é pior ainda pode piorar mais, eis que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, assim como o comandante da ópera, Renan Calheiros, serão denunciados pela Procuradoria-Geral da República, na Operação Lava Jato. Não sei como eles vão se arranjar daqui para frente. Os dois sempre entenderam essas denúncias como sendo represária do Planalto contra eles. 

Moveram mundos e fundos para evitar que Rodrigo Janot fosse reconduzido ao cargo. Mais votado entre os pares, Janot foi reconduzido, sob o beneplácito da presidente Dilma Rousseff, num raro momento de suspiro republicano. Se Dilma cedesse a mais essa chantagem, aí seria hora mesmo de redigir a sua carta de renúncia, dando transparência ao que já ocorre, de fato, nos estertores. Ela encontra-se fragilizada, é verdade, mas nada impede que as nuvens mudem até o final do seu governo. É difícil, mas não impossível.

O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: Quem, afinal, irá afinar a orquestra política dos neo-socialistas no Estado?




 

José Luiz Gomes


O prefeito Geraldo Júlio(PSB) até que se esforça, mas o grau de insatisfação da base aliada na Câmara de Vereadores do Recife permanece emitindo alguns sinais preocupantes, como as reuniões de vereadores em conhecidos restaurantes da cidade, certamente não apenas para experimentar o rico cardápio das comidas regionais, preparados no capricho, em alguns botecos que se tornaram famosos, nos morros, periferias ou mercados públicos. Entre um molho de perua à cabidela, um caldinho de sururu, uma lapada de cana cobiçada, muitas coisas são articuladas, como as sondagens sobre mudança de sigla partidária, formação de bloquinhos, apoios a prováveis candidatos, além das inevitáveis traições, das quais nem Cristo escapou.  Imagina um cidadão que atende pelo nome de Geraldo Júlio.

O atendimento das demandas da base aliada dependem de inúmeros fatores, inclusive a capacidade da máquina pública em suportar tais padrões, sempre orientados pelas chantagens, pelo mais vil fisiologismo, por puro pragmatismo. Quisera que fosse diferente, que essa base de apoio se constituisse por políticos interessados no bem da polis, no equacionamento dos seus problemas, na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Desejar isso, no entanto, parece ser demasiadamente idealista.

O que  nos parece evidente - e pelas razões já expostas - é que o senhor Geraldo Júlio enfrenta alguns problemas de condução política de sua base de sustentação na Casa de José Mariano. Talvez ocorra com ele os mesmos problemas de Dilma Rousseff, no plano nacional. Nem gosta da raia miúda do cotidiano da política - a chamada micropolítica - tampouco foi feliz nas suas escolhas dos nomes da articulação. Esse sempre foi um gargalo do Governo Dilma Rousseff, até o presente. Hoje, o grande avalista político do Governo atende pelo nome de Renan Calheiros, presidente do Senado Federal. Isso depois de inúmeras tentativas fracassadas, puxando para este meio de campo até mesmo gente muito experiente, mas perigosa, como é o caso do vice-presidente, Michel Temer, que mais conspirou do que articulou.

Em artigo recente, publicado aqui pelo blog, o cientista político Michel Zaidan revela detalhes sobre a composição do grupo político montado pelo ex-governador Eduardo Campos, dividido basicamente entre os estrategistas e os gerentes. Aos primeiros, competia a tarefa do planejamento, da montagem das estratégias, das costuras aliancistas, a missão de ganhar as eleições. Aos segundos, os gerentes, a tarefa técnica, gerencial, executiva. De personalidade egocêntrica, sempre que possível, o ex-governador costumava cortar as asas daquelas pombas políticas mais ousadas do grupo, abrindo um espaço mais expressivo para aqueles homens de sua estrita confiança, de observância cega às suas recomendações, sem brilho próprio, apenas executores. 

Foi assim na escolha do nome do partido que concorreria à Prefeitura da Cidade do Recife, bem como a unção de Paulo Câmara para concorrer ao Governo do Estado. Dois nomes neófito na política, do seu grupo executivo, formados na cozinha do Palácio do Campo das Princesas. Deu até a entender que poderia agir diferente, distribuindo cargos estratégicos a secretários com um perfil mais político, mas, na última hora optou pelo nome dos gerentes, já que ele mesmo assumiria a coordenação política do processo. Emblemático que, por ocasião das homenagens de um ano de seu falecimento, o governador Paulo Câmara tenha afirmado que gostaria muito de estar governando com Eduardo Campos. Tadeu Alencar, Danilo Cabral, Milton Coelho, João Lyra Neto, Fernando Bezerra Coelho. Todos foram preteridos ao longo desse processo, sempre em favor do grupo gerencial.

Isso criou um vazio político na agremiação, sobretudo se entendermos que o grau de harmonização do grupo anda está muito longe atingir o ideal, se é que algum dia chegará a isso. Na ausência da liderança catalisadora exercida pelo ex-governador, a tendência é que se ampliem essas divergências, quiçá provocando algumas defecções. Como aqui no Estado nós tivemos uma espécie de eduardolização da política, o vácuo dessa liderança  é perceptível dentro e fora das hostes socialistas. Como em poder não existe espaço vazio por muito tempo, logo, logo esse vácuo será preenchido de alguma forma. Quando o grupo deixar de usar a imagem do falecido como um capital político para os vivos - bem vivos - talvez isso possa ser apressado. Eles parecem que ainda estão sob o efeito do luto. Como afirmamos numa postagem no dia de ontem, é muito pouco provável que os familiares do ex-governador permitam que outros atores - que não o próprio irmão, a viúva ou os filhos - assumam essa liderança política.

A julgar como procedente matéria do colunista Inaldo Sampaio, publicada em sua coluna da Folha de Pernambuco, no dia de ontem, as divergências internas do grupo começaram a aflorar de vez. De acordo com o colunista, o escritor Antonio Campos, irmão do ex-governador, teria dado um ultimato ao prefeito Geraldo Júlio no sentido de que este indique se a máquina partidária dos socialistas estará com ele numa eventual candidatura à Prefeitura da Cidade de Olinda, nas próximas eleições municipais de 2016. O primeiro-irmão tomou gosto pela política e seria candidato independentemente do apoio dos socialistas. Caso, em 15 dias, o prefeito do Recife não se posicione a esse respeito, ele irá à procura de uma outra legenda onde possa viabilizar sua candidatura.

O problema de Geraldo Júlio diz respeito ao PCdoB. Este partido acompanha os socialistas desde algum tempo. Aqui no Recife e alhures, o comportamento dos seus membros tem sido marcado pelo mais puro pragmatismo. Há muito tempo não honra suas remotas tradições históricas, tampouco o "C" de comunista que ainda insiste em manter na sigla. Nada mais degradante do que um comunista convertido aos apelos do capital. Assim parece ser hoje o perfil dos comunistas do PCdoB. Lá pelo Estado do Maranhão - que é governado pelo "comunista" Flávio Dino, segundo soubemos, a polícia nunca reprimiu com tamanha violência os movimentos sociais. Dizem que nem na época mais dura da oligarquia Sarney. o pleito desses movimentos sociais? demarcação das terras quilombolas e indígenas, mais escolas para as aldeias. Coisas assim que os autênticos comunistas do passado lutavam bastante para materializar.

Aqui no Recife, quando perceberam que o barco petista estava naufragando, pularam na primeira hora, e entraram de sola no projeto socialista de tornar Geraldo Júlio prefeito da cidade do Recife. A manobra permitiu aos comunistas manter como intocável o seu reduto político, a cidade de Olinda. Num momento em que o prefeito Renildo Calheiros - já então desgastado - tentava a reeleição, e enfrentando algumas dificuldades, o ex-governador Eduardo Campos fez questão de emprestar sua solidariedade ao aliado. Os comunistas governam a cidade por 16 anos. Foram dois mandatos de Luciana Santos e dois mandatos de Renildo Calheiros. Num encontro nacional da legenda, a cidade já foi eleita como a prioridades das prioridades do partido. Há um desgaste natural, mas eles irão tentar manter a hegemonia de poder conquistada na Marim dos Caetés. Tudo indica que a deputada federal Luciana Santos deverá tentar voltar a administrar a cidade. A entrada de Antonio Campos, nesse cenário, dá uma mexida substantiva no conjunto da aliança entre as duas legendas.

Geraldo Júlio, um jogador inexperiente e defensivo, que tem medo até da própria sombra, não vê com bons olhos perder o concurso dos "comunistas" em seu  projeto de reeleição. Mas uma vez fica evidente que, talvez em nenhum outro momento, com a entrada de Antonio Campos no pleito, nunca as eleições na Marim dos Caetés interferiram tanto no tabuleiro eleitoral da disputa no Recife.

P.S.: do Realpolitik: Ontem, sábado, dia 22, segundo a imprensa noticiou, ocorreu mais um daqueles famosos "cozidos" na casa de praia do Deputado Federal Jarbas Vasconcelos. Uma ausência suscitou muitos comentários: a do prefeito do Recife, Geraldo Júlio. Logo após o encontro, o vice-governador do Estado e fiel escudeiro do senhor Jarbas Vasconcelos, Raul Henry, passou a reproduzir o mesmo discurso do padrinho político no tocante a pedir a renúncia da presidente Dilma Rousseff. Essas movimentações do grupo liderado por Jarbas - talvez em função do vácuo de liderança política deixado com a morte de Eduardo Campos - inquieta bastante os neo-socialistas da província. 
  

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Tijolinho do Jolugue: Ciro Gomes, o boca do inferno, poderá ingressar no PDT






Hoje especulou-se sobre a possibilidade do ex-ministro e e-governador do Ceará, Ciro Gomes, filiar-se ao PDT. Inteligente e preparado, Ciro Gomes é um homem de pavio curto. Sempre que pode, exercita sua bateria giratória contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, depois que este tornou-se um desafeto dos Ferreira Gomes, naquele episódio envolvendo o seu irmão, Cid Gomes. Cid fez duras declarações contra a composição dos deputados da Casa e já chegou ao recinto demitido do cargo de Ministro da Educação. Não disse nenhuma mentira, mas há verdades que não podem ser ditas. Foi um episódio melancólico. Cid foi praticamente expulso, sob apupos, daquela Casa. 

Foi um dos poucos ministros que defenderam o Governo Dilma com tamanha veemência. Já acuada por essa tal "governabilidade", Dilma entregou a sua cabeça aos seus algozes. Depois do episódio, Cid parece ter se recolhido aos aposentos. Pelo menos temporariamente. Já o seu irmão, pelas características conhecidas, nunca se afastou da boca do palco. Até recentemente se especulou que teria voltado a alimentar os sonhos presidenciais. O futuro dirá se isso é verdade ou não. 

Há quem assegure que o ex-ministro estaria entrando para a tropa de choque anti-golpista do Governo Dilma. O PDT é uma colcha de retalhos. Até recentemente, anunciou o afastamento da base de apoio do Governo Dilma. Não sei em que contexto o ex-ministro entra nessa legenda. Há algumas pessoas boas por ali, ainda vinculadas aos ideias do grande estadista Leonel de Moura Brizola. Espero que o ex-ministro entre na legenda com esse espírito.  

Tijolinho do Jolugue: Antônio Campos dá um ultimato a Geraldo Júlio





Sinceramente, não vejo como os familiares possam perde o controle do espólio político do ex-governador Eduardo Campos. Todas as demonstrações nos informam o contrário, a começar pela movimentação dos familiares, procurando ocupar os espaços de poder deixado pela morte do ex-governador. Claro que isso não é automático. Há muitas divisões internas nas hostes neo-socialistas tupiniquins e no plano nacional. Um bom exemplo disso é a recente perda do passe da ex-prefeita Marta Suplicy, cujas articulações de ingresso na legenda estavam bastante avançadas. Deu para trás. 

Marta já anunciou que deverá filiar-se ao PMDB, legenda pela qual deverá sair candidata nas eleições municipais paulistas de 2016. O curioso, conforme comentávamos ontem, é que senhora Marta Suplicy anda à procura de um partido não corrupto. Certamente, aterrissou no lugar errado. No plano local, há algumas divisões na legenda. Para complicar ainda mais o cenário, os atores ascendentes não possuem experiência política. Tanto o prefeito quanto o governador são do quadro "executivo". Homens escolhidos a dedo pelo ex-governador para cumprirem determinadas missões. De preferência quem não ameaçasse a sua hegemonia sobre o grupo. Eduardo, literalmente, isolou as raposas politicas da legenda, a exemplo de João Lyra e Fernando Bezerra Coelho.

Enquanto ele estava vivo para costurar as alianças, dirimir conflitos, impor os seus nomes, tudo ia muito bem. Com a sua morte, o rebanho neo-socialista ressente-se de um hábil articulador. Neste cenário, Geraldo Júlio, que deseja sua reeleição, teme a própria sombra. Trata-se de um jogador defensivo. Não se arrisca muito no tabuleiro político. As movimentações do irmão do ex-governador, o escritor Antonio Campos, no sentido de viabilizar sua candidatura à Prefeitura de Olinda, nas eleições de 2016, já se sabia disso, iria provocar um rearranjo aliancista, uma vez que o PSB sempre respeitou o tradicional reduto político do PCdoB. 

Nas dificuldades de reeleição de Renan Calheiro, o próprio ex-governador foi a Olinda ajudar o aliado. O acordo era tácito. Os comunistas apoiavam os socialistas no Recife e este os apoiavam em Olinda. A entrada de Antonio Campos no tabuleiro político da Marim dos Caetés, mexeu com esse arranjo. Geraldo não deseja perder o apoio do partido no Recife, tampouco o PCdoB parece disposto a apoiar um outro nome, que não seja o da deputada Luciana Santos, que pretende voltar a gerir os destinos da cidade histórica. Segundo o colunista Inaldo Sampaio, hoje, na Folha de Pernambuco, Antonio Campos teria ameaçado chutar o pau da barraca. Deu um prazo de 15 dias para o partido se definir sobre o apoio de sua candidatura. Do contrário, irá a procura de uma outra legenda para viabilizar a sua candidatura. Vamos ver como Geraldinho irá se sair dessa.

Cientistas políticos debatem protestos de direita

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Fernando Henrique Cardoso: Qual é a tua, cara?





Seria inevitável que os políticos mantivessem um certo grau de pragmatismo. Mas seria igualmente necessário que esse pragmatismo fosse acompanhado do respeito às regras do jogo democrático, do interesse público acima tudo. Espanta o comportamento do senhor Fernando Henrique Cardoso, um homem que já foi presidente do país por dois mandatos, manter uma postura temerária, oscilante - e de certa forma irresponsável - quando se trata de preservar as instituições de nossa já combalida democracia. Parece mover Fernando Henrique Cardoso uma torcida indisfarçável pelo malogro do Governo Dilma Rousseff. Para que não se sabe muito bem, uma vez que o consenso a que se chegou - mesmo entre os golpistas de turno - é que seria inoportuno uma ruptura institucional neste momento, onde todos teriam muito a perder. 

Na nossa época de peladeiro, desconfiávamos bastante daquele garoto que dizia que jogava bem em qualquer posição. Essa regra parece que se aplica ao ex-presidente Fernando Henrique. Consoante as mudanças das nuvens, ele se coloca como um conciliador, no dia seguinte aparece postando em sua página que a presidente faria um gesto de grandeza se renunciasse, porque o seu governo é legal, mas não é legítimo. Não satisfeito, conhecendo as divisões no ninho tucano, antecipou-se em procurar o governador Geraldo Alckmin e o senador Aécio Neves no sentido de que eles afinassem o discurso. 

Conhecedor do desgaste do senador Aécio Neves, o governador Geraldo Alckmin foi um dos principais avalistas no abortamento dessa conspiração golpista. Ele disputa a vaga de concorrente em 2018 e sabe que isso só será possível com a manutenção das regras do jogo democrático. Do alto dos seus mais de 80 anos de vida, intelectual respeitado, duas vezes presidente da República, confesso que esperava mais comedimento do ex-presidente. Podia se dedicar agora a escrever seus artigos, dar suas palestras. Faria um bem danado ao país se ficasse na sua, como se diz aí fora. 

Zizek: O aumento do uso da violência no exercício do poder político



Penso que era o Alvin Toffler que tinha o hábito de encher a sua sala com recortes de jornais e, depois de observá-los, indicar as possíveis tendências de mudança do comportamento das pessoas em sociedade, traduzidas por ele com o nome sugestivo de "ondas". Mesmo com a advento das redes sociais, salvo algum engano, ele permaneceu com esse comportamento. Não necessariamente entrou nessa "onda". Zizek, sem dúvida é o filósofo marxista mais festejado da atualidade. Dentro e fora do circuito acadêmico. Ao apagar das luzes das grandes manifestações que ocorreram no Brasil, as chamadas Jornadas de Junho, o filósofo esloveno fez uma observação que passamos a ficar atento sobre o seu desdobramento desde então. 

Ele chamou a atenção para o recrudescimento do uso da força no exercício do poder político. Recolhendo dados sobre segurança pública em alguns Estado da Federação, vejo com tristeza, por exemplo, os enormes gastos para manter as forças de ocupação militar nas favelas cariocas e de São Paulo. Um gasto muito superior aos investimentos sociais, o que, na realidade, evidencia a enorme ineficácia na manutenção dessas UPPs. O termos mais correto a ser aplicado aqui é mesmo "ocupação militar", com as suas graves consequências, como o uso do arbítrio, dos desaparecimentos de moradores, do uso de tortura e coisas afins. A propalada "presença do Estado" não passou desse estágio, mesmo com os enormes apelos dos especialistas, que sempre advogaram a ampliação dessas medidas, no sentido de enfrentar os problemas de educação, saúde, saneamento, mobilidade, lazer. 

O grande geógrafo Milton Santos costumava afirmar que a grande satisfação de um intelectual era saber que as suas teses estavam se confirmando. A julgar pelo que ocorreu ainda naquelas jornadas, sobretudo em Estados como Pernambuco e Rio de Janeiro, o Zizek tinha lá suas razões. Mais recentemente, mesmo que pontualmente, temos observado algumas situações que corroboram, também, com esta tese do filósofo, como a que ocorreu no Estado do Paraná, onde o governador tucano, Beto Richa, reprimiu com violência a greve dos professores daquele Estado. E isso parece não ser uma tendência marcada pela "ideologia", posto que o governador "comunista" do Maranhão, Flávio Dino, também caprichou no cassetete ao reprimir, com violência, movimentos sociais que reivindicavam a demarcações das terras e mais escolas. 

Nos últimos meses, observamos uma escalada da violência em alguns Estados. Bahia, Pernambuco, Maranhão, Paraíba, acompanhamos mais de perto. É preciso tomar alguns cuidados com esses números, tipificando, inclusive as modalidades de delito que, de fato, estão com os índices em alta. Por exemplo, Bahia e Maranhão tem registrado muitos assaltos a coletivos. Um outro fator que nos impõe cautela são as chacinas, que causam grandes comoções, mas que, na apuração fria dos índices, por vezes, não informam mudanças muito significativas. 

Wagner Braga Batista: O fascismo nos convida para jantar.









* Wagner Braga Batista

Ao adentrar num supermercado, deparei-me com uma cena grotesca. Duas mulheres, jovens, esbravejavam, ostensivamente. Uma delas gritava:

- Esta comida não se dá nem pra porco.

Prosseguiu:

- Ainda bem que AINDA não sou militar. Se fosse quebrava tudo.

Atônitas, pessoas dispostas nas enormes e costumeiras filas,  entreolhavam-se assustadas.

Os rompantes não cessaram:

- O culpado é este povo imbecil.

Imaginei que a furiosa fera estivesse interpelando algum destes Abilio Diniz, sócios de grandes redes de supermercados, franquias estrangeiras, que controlam a venda de bens no atacado, um destes atravessadores, que minam a economia popular, grandes frigoríficos, que cartelizam o preço da carne, fazendeiros, que utilizam trabalho escravo para alimentar bois, plantacions da sustentabilidade, que disseminam alimentos com agrotóxicos e nos envenenam, publicitários, que fraudam a quantidade e a qualidade de produtos ou habituais especuladores,  que inflacionam a inflação, para arrancar nossos olhos da cara.

Nada disto, a Mussolini de saias, agredia verbalmente uma das caixas. Intimidada e envergonhada, a moça sequer lhe dirigia o olhar.

Pendores autoritários, que estavam restritos a faustosas sacadas e varandas, nos últimos dias descem  dos pedestais da truculência.  Ganham as ruas e chegam às portas de supermercados. Trazem no bolso o protagonismo de sempre, culpam o pescoço pelo corte da guilhotina. Misturam militares, “povo imbecil” e intimidações como ingredientes do golpismo.  Esquecem-se da corrupção endêmica e da secular desigualdade social. Da anemia crônica da justiça e da democracia. Valem-se da crise fabricada para legitimar sua arrogância e autoritarismo.

Não seria temeridade dizer: a classe média sediciosa quer mostrar sua importância. Após subir na vida utilizando expedientes deploráveis, obter atestado de crédito e moralidade por meio cartões de agências bancárias, agora quer ser reconhecida por seus préstimos a quem nos sufoca.  Pleiteia acesso à sala de jantar de financistas e de oligarquias.  Não como convidada, mas como  serviçal. Satisfaz-se realizando serviços menores, algumas atividades insalubres e pequenas violações de  direitos, com as quais seus patrocinadores não se comprometem. Estes mantêm limpas suas mãos. Deixam o trabalho sujo para operadores, cães de guarda, criminosos comuns, jagunços do cerrado, ubermagistrados e habituais jornalistas do caixa dois.

Neste país desigual e injusto, os fatos não falam por si. Costumeiramente nos enganam. São subsumidos por suas versões. Ganham o colorido que donos de pautas e manchetes imprimem nas nossas cabeças. Como diz o samba canção, as dores da gente não saem nos jornais.

Há poucos dias, uma bomba pouco explosiva, causadora de falso atentado, importada da Venezuela, foi plantada em instituto em São Paulo, ardilosamente chamado Lula.  Coquetéis de gasolina, sabor suave e levemente inflamável, foram lançados de monomotor, para celebrar dias de férias de trabalhadores sem terra, acampados em Minas Gerais.

Alguns pareceres do Ministério Público são hilários. Isentam recursos e espaço públicos de malversação e uso privado, bem como abacaxis e jaboticabas de nascer nas pistas ociosas de Montezuma. Já que fraudes costumam fugir de gavetas, mandam arquivar  aeroportos e prender o mordomo.

Antiquados e eficazes aparelhos da burguesia estão sendo revitalizados pela modernosa restauração liberal.

Mas, versões e provocações se combinam. Ferem o senso crítico e desmerecem a consciência coletiva.

Outro dia, um cidadão, que se disse capitão de corveta, dirigiu-se a lançamento de livros no Rio de Janeiro. Afirmava trazer abraços de dois notórios fascistas para o autor, o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, Frei Betto. Tratava-se de uma provocação? Jamais. Apenas um gesto de cordialidade.

Pequenos, mas emblemáticos fatos são reveladores da cultura que nos cerca.

O fascismo, reabilitado pela furiosa vanguarda liberal, não precisa recorrer às armas convencionais para golpear a democracia. Dispõe de armamento mais sutil e sofisticado. O dinheiro de bancos, parlamentos alugados por grandes empresas, indústrias da falsificação e da  inverdade, reverberações premiada pelo marketing da catástrofe,  ONGs sustentáveis e humanitárias de George  Soros, tribunais da injustiça, que sentenciam quem querem e bem  entendem.  Se este arsenal for insuficiente, apela para aparatos repressivos de costume, a exemplo do que ocorreu no Paraná e em São Paulo.

O fascismo é consórcio de gente parasitária. De camadas médias, autodenominadas empreendedoras, que se sentem ameaçadas pela ampliação de direitos, e de lumpens, dispostos a qualquer coisa em troca de favores. É a massa de manobra preferencial da aristocracia improdutiva, financeira e latifundiária, em franco processo de degenerescência. Esta gente não enxerga horizontes socializatórios. Ressuscita e mobiliza seus espectros, o ódio às minorias, a criminalização de movimentos sociais, a aversão a sindicatos, o jugo de mulheres, as máquinas  de terror, o belicismo e prisões, a discriminação de homossexuais, o desprezo por crianças e adolescentes. Reinventa, modernamente, sua barbárie passada com auxílio do marketing e da manipulação das “belas causas”.  Insidioso, convida-nos para sua celebração hedionda. Franqueia sua sala de jantar.

Cuidemo-nos, todos, para não ser parte do seu cardápio.


* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição

Tijolinho do Jolugue: Marta Suplicy parece mesmo que perdeu o prumo político.






A ex-senadora Marta Suplicy, segundo dizem, está de malas prontas para ingressar no PMDB. As articulações em torno de uma possível filiação ao PSB, por algum motivo, não prosperaram. Não se pode mesmo levar os políticos brasileiros a sério - com raríssimas exceções - porque, em última análise, a ex-senadora teve a coragem de afirmar que estava à procura de um partido menos corrupto do que o PT. Isso só pode ser brincadeira. Salvo algum engano, Marta Suplicy entra mesmo no seu outono político. O capital político construído ao longo de sua militância no Partido dos Trabalhadores - onde, até certo ponto, se identificava com uma plataforma política mais progressista - aos poucos, está se esvaindo. 

É preciso ter muito cuidado com essas coisas, mesmo conhecendo as fragilidades do eleitorado brasileiro. Em alguns casos, ele não costuma perdoar essas mudanças repentinas de rumo político, motivada tão somente pelo jogo pragmático das disputas eleitorais. Marta Suplicy começou a perder o prumo político quando foi preterida pelo partido nas eleições de 2012, para a prefeitura da capital, em São Paulo. Não necessariamente pelo partido, mas por Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou impondo o nome de Fernando Haddad como candidato. Na realidade, desde então, as feridas nunca foram devidamente cicatrizadas. 

Embora ministra de Dilma, Marta era um poço até aqui de mágoas. Em sua carta de despedida do Ministério da Cultura, já esboçava suas insatisfações com o Governo de Dilma Rousseff. A escolha do nome do sociólogo Juca Ferreira para substitui-la naquela pasta, igualmente, suscitou em Marta Suplicy mais uma motivação para as críticas. Desta vez, ainda mais contundentes, com ilações sobre a conduta do indicado. É difícil saber qual o cálculo político da senhora Marta Suplicy. Ela pode, inclusive, está realizando alguns cálculos equivocados. A filiação ao PSB envolvia alguns lances curiosos, a começar por um possível apoio do atual governador tucano, Geraldo Alckmin, à sua candidatura à Prefeitura da Cidade de São Paulo. 

Isso não seria inusitado se considerarmos a "camaradagem" do governador paulista com os neo-socialistas, a começar pelo ex-governador Eduardo Campos. Porque essas entabulações não prosperaram é um grande mistério. Também não sabemos qual o preço do seu passe nas hostes peemedebistas, mas, possivelmente, deve concentrar-se numa possível candidatura nas eleições de 2016. Se isso ocorrer - e caso venham a se confirmar as previsões - ou os desejos - de João Santana, marqueteiro oficial do Planalto - ela poderia bater chapa com o próprio Lula. Já imaginaram?