pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Crônicas do cotidiano: As mãos de Paulo Freire.



José Luiz Gomes


Paulo Freire é um educador pernambucano, do país de Casa Amarela. Suas atividades profissionais começaram ali no SESC daquele bairro do Recife. Escrevemos vários textos sobre Paulo Freire, mas confesso que, ao lê-los, hoje, não mais nos sentimos à vontade em republicá-los, por inúmeras razões. Ora porque eles já não traduzem a atualidade do pensamento do educador pernambucano, ora porque, como tudo que escrevemos, estão impregnados de impressões pessoais, como as nossas reações à leitura dos seus livros mais importantes, assim como a impressão que Paulo nos passou naquela aula de encerramento dos alunos do curso de alfabetização de adultos, da Usina Catende.

Mas, como circulamos muito pelo bairro de Casa Amarela, as lembranças são inevitáveis. Outro dia, através das redes sociais, ficamos sabendo que a casa onde o educador residiu em Jaboatão dos Guararapes será transformada num centro cultural. Até bem pouco tempo, estava abandonada pelo poder público.  Não sabemos qual foi o destino dado à sua residência de Casa Amarela. Um dos aspectos que mais nos instigam em Paulo Freire é o seu papel de agitador cultural no Movimento de Cultura Popular, criado pelo prefeito Miguel Arraes, lá pelos idos da década de 60. Não raro relemos o Memorial do MCP apenas para recordar "daqueles tempos". Havia até um livro sobre "educação de adultos", elaborado por duas professores militantes do MCP. Por alguma razão, Paulo não gostava do livro.

Escrevendo uma postagem aqui no blog, sobre a suposta condição de fundador do PT atribuída a Hélio Bicudo, tese não confirmada. Eis que encontro a assinatura de Paulo Freire na histórica reunião do Colégio Sion, em 10 de fevereiro de 1980. Quando assumiu a prefeitura de São Paulo, ainda filiada ao PT, Luíza Erundina entregou a Paulo Freire a secretaria de educação do município. Há muitas historietas sobre Paulo. Numa delas se afirma que ele abandonou uma dessas reuniões chatas e improdutivas de trabalho para pegar um cineminha com a esposa. Nessas historietas, há sempre um toque de bom humor e bastante de sua sensibilidade, o que o tornaria um dos mais respeitados pensadores do campo da pedagogia. Aliás, essas experiências pessoais foram fundamentais para estruturar suas reflexões sobre o ato de educar. A questão do diálogo, por exemplo, tão presente em seus ensaios, foi o resultado, segundo ele afirmou, de uma longa conversa mantida com um operário - noite a dentro - numa localidade de Jaboatão dos Guararapes. 

Conta Paulo Freire que enfrentou duas situações, aparentemente constrangedora, quando esteve no Chile e na África. No Chile parece não haver problemas no fato de dois homens se darem as mãos e, na África, durante um passeio pelo campus de uma universidade, depois de uma conferência, viu-se diante de um embaraço. Um professor segurou as suas mãos enquanto ambos passeavam pelo campus. "Pedi a Deus para que alguém de Casa Amarela não nos visse naquela situação". Na primeira oportunidade, colocou as mãos no bolso, de onde não mais as tirou. 

Eis que antes de voltar ao Brasil, Paulo adoece, possivelmente vitimado por alguma dessas doenças tropicais. Humanamente muito bem tratado pelos médicos e enfermeiras africanos, que não se cansavam de pegar em suas mãos, acariciá-las e desejar-lhes melhoras. Conta. Depois disso, relata, em suas reflexões, concluiu que deveria haver alguma coisa de errado numa sociedade onde as pessoas se recusavam a receber uma manifestação de carinho, traduzida num caloroso aperto de mão, num abraço fraterno ou, brasileirissimamente, um tapinha nas costas.


P.S: A leitura dessa crônica contrasta radicalmente com o clima de intolerância, agressividades e preconceitos que estamos vivendo hoje no Brasil. No último domingo, jovens de classe média agrediram adolescentes negros que se dirigiam às praias da zona sul carioca. Em viagem por Salvador, João Pedro Stédile, uma das principais lideranças do MST, foi vítima de hostilidades.

Tijolinho do Jolugue: Marília Arraes propõe moção de desagravo em favor de Michel Zaidan


 
 
Hoje ficamos sabendo, aqui pelas redes sociais, que a vereadora Marília Arraes, representante do PSB na Casa de José Mariano, propôs uma moção de desagravo em relação ao processo movido pelo governador do Estado, Paulo Câmara, contra o cientista político e professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, Michel Zaidan Filho. A res publica aqui no Estado parece que tem donos e eles não aceitam serem contrariados em seus interesses. O professor Michel Zaidan não está sozinho em sua cruzada pelo direito de exercer sua cidadania, externar sua opinião, apontar possíveis equívocos na condução da coisa pública. Conta com solidariedade dos familiares, dos amigos, de uma legião de ex-alun@s e admiradores. 

Creio ser essa a primeira iniciativa institucional no sentido de se contrapor a essas atitudes de criminalizar a liberdade de expressão aqui em Pernambuco. Nós aqui do blog, gostaríamos muito de parabenizar a iniciativa da vereadora Marília Arraes, torcendo que a mesma conte com apoio da maioria dos vereadores daquela Casa - seja de situação ou oposição - e que iniciativas como estas possam surgir de outras instituições, como a OAB, a AIP, movimentos sociais e sindicais, entidades de pesquisa e ensino, UFPE, partidos políticos. No momento, registramos apenas uma nota de repúdio do Movimento de Base do PT, publicada aqui no blog. 

Tijolinho do Jolugue: Saída de Luciano Cartaxo do PT revelam os estertores da política paraibana.

 


Às vezes, uma mexidinha no tabuleiro político constitui-se em fatos dos mais elucidativos para entendermos o que, de concreto, está em jogo em algumas quadras. Recentemente, o prefeito de João Pessoa, do PT, Luciano Cartaxo, deixou o partido para filiar-se ao PSD, comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, um hábil articulador político. Tão hábil que a presidente Dilma Rousseff espera contar com o seu concurso para ver se salva o seu pescoço de um impeachment. A eleição de Cartaxo se deu numa quadra bastante inusitada. Luciano Agra, que era ligado ao governador Ricardo Coutinho, vinha fazendo uma excelente gestão. Pleiteava ser indicado pelo PSB, como candidato à reeleição, com o apoio de Ricardo. 

Mas Ricardo tinha outros planos. Apoiar a reeleição de Agra, praticamente certa, seria credenciá-lo ao Palácio da Redenção num futuro próximo. Agra morreu no ano passado, mas, quem sabe, se ainda estivesse movido pelo combustível do poder talvez ainda estivesse vivo. Com o apoio de Agra, Luciano Cartaxo infligiu uma derrota acachapante a Estelizabel Bezerra, a candidata indicada pelo governador Ricardo Coutinho. Apesar da experiência, Ricardo imagina que eleição era algum concurso de bumbum. A atitude de Cartaxo, naturalmente, foi muito mal recebida pelos companheiros do partido, cuja militância deu o sangue por sua eleição. A maioria dos companheiros entregaram os cargos na Prefeitura de João Pessoa.

Nós, que acompanhamos de perto aquele processo, podemos, de fato, afirmar que a militância petista fez a grande diferença naquelas eleições. Possivelmente em nome do interesse público e da origem de ambos - Ricardo Coutinho antes de ingressar no PSB havia sido um histórico militante do PT -  prefeito e governador, estabeleceram um bom link. Na eleição para governador do ano passado, quando Ricardo Coutinho tentava a reeleição, Cartaxo o apoiou. Comenta-se, à boca miúda, que o seu apoio foi decisivo.Política é como as nuvens - mudam constantemente, como ensinava uma raposa mineira -  o novo cenário que que começou a se desenhar para 2016 começou a incomodar o ator Luciano Cartaxo, que deve tentar uma reeleição. 

Ele começou a desconfiar de algumas movimentações dentro do próprio partido, numa espécie de aproximação demasiadamente perigosas com o atual governador Ricardo Coutinho. Um outro lance dessa jogada, segundo alguns analistas, seria uma aproximação com o grupo liderado pelo senador Cássio Cunha Lima. Os cassistas comemoraram a decisão do prefeito. Para a boca do palco, no entanto, a explicação dada pelo prefeito para sair da agremiação não convenceu muita gente: sua insatisfação com as denúncias de corrupção envolvendo alguns petistas.  Interessante observar que é a bancada petista ligada à Igreja que mais incomodava ao prefeito Luciano Cartaxo.

Em política, corrupto e traidor são dois adjetivos que desagradam bastante os eleitores, mas, segundo dizem, a pecha de traidor ainda é mais danosa do que a pecha de corrupto. Fazia algum tempo que não acompanhávamos - como em outros tempos - as movimentações políticas no Estado vizinho. Já fomos bem mais regulares. Essa mexida no tabuleiro, entretanto, suscitou alguns desdobramentos, como as declarações do senador Cássio Cunha Lima de que o atual governador Ricardo Coutinho, teria oferecido dinheiro para que ele retirasse a candidatura nas eleições passadas. 

Ricardo o desmente e emenda que nunca ofereceu dinheiro a ninguém, muito menos a vagabundo. Ao contrário, quando ainda estavam em lua de mel,, Cássio o infernizava, pedindo dinheiro para saldar dívidas de campanhas com um certo operador. Segundo fui informado, durante aquelas eleições que elegeu Cássio governador, motoboys recolhiam contas de água e luz pela periferia de João Pessoa e as devolviam pagas, com o compromisso do beneficiário em votar em Cássio, num flagrante crime eleitoral. O gerente dessa operação irregular chegou a jogar, pela janela de um prédio, mais de R$ 300 mil reais para evitar um flagrante.

Hoje, o senador Cássio Cunha Lima, que coordenou a campanha presidencial do senador Aécio Neves, nas últimas eleições presidenciais, é uma das vozes mais ativas da Câmara Alta em defesa do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Foi exatamente com este vestal que o prefeito Luciano Cartaxo foi se juntar, cometendo, como informou um parlamentar petista, uma espécie de suicídio político.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Para onde caminha Jarbas Vasconcelos?





O Deputado Federal Jarbas Vasconcelos(PMDB), esteve, recentemente, num café da manhã, oferecido por empresários, numa espécie de federação, que atende pelo nome de Lide. Entre os políticos, talvez tenha sido mesmo o principal convidado.A imprensa deu ampla cobertura ao evento trazendo, depois, alguns aspectos da fala do parlamentar pernambucano, hoje muito identificado com as articulações em torno de um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Aliás, o deputado, quando questionado sobre este assunto, percebe-se, na fala sua fala, a condição de inevitabilidade de um possível pedido de afastamento da presidente. Quanto às suas perspectivas políticas, responde, sempre, que a sua prioridade é viabilizar o impeachment da presidente Dilma, como se não houvesse outros projetos a realizar na sua condição de representante de Pernambuco na Câmara Federal.

Um outro aspecto observado nas falas de Jarbas Vasconcelos é um desejo indisfarçável de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja preso, por suposto envolvimento da Operação Lava Jato. Não vou reproduzir aqui o que saiu publicado, uma vez que o deputado pode contestar, mas é como se ele achasse "engraçado' ver o Lula preso. Uma das piores coisas que pode acontecer ao indivíduo é quando ele perde o "eixo", aquele conjunto de regras e princípios que orientam as nossas vidas. Quem já viveu uma situação como esta sabe do que estamos falando.Sinto que é um pouco isso o que vem ocorrendo com o senhor Jarbas Vasconcelos. Tornou-se um político de conveniências, cuja bússola é guiada pelo mais puro pragmatismo, muito longe daquele Jarbas pautado por algumas regras basilares, que o ajudaram a tomar algumas decisões importantes no passado.

Durante a Ditadura, implantado com o golpe civil-militar de 1964, então pertencente aos quadros do MDB autêntico, Jarbas Vasconcelos foi uma das vozes mais ativas no enfrentamento do cerceamento das liberdades individuais aqui em Pernambuco, juntamente com Miguel Arraes, Fernando Lyra, Marcos Freire, Egídio Ferreira Lima, entre outros. Acredita-se que, por razões de espaço político, afastou-se do grupo mais ligado ao Dr.Miguel Arraes, acentuando-se bastante o grau de animosidade entre ambos. Essa relação azedou-se de uma tal maneira que o Dr. Arraes morreu e não reconciliou-se com o desafeto. 

Jarbas, em seu primeiro mandato como prefeito do Recife, ainda conseguiu ser eleito com a bandeira de esquerda, compondo um secretariado com alguns nomes de atores políticos oriundos dos movimentos sociais.  Mas, logo em seguida, antes mesmo do término do seu segundo mandato, costurou uma aliança com as forças políticas conservadoras e reacionárias do Estado, que ficou conhecida como União Por Pernambuco. Daí, então, ele apenas radicalizaria essa tendência, afinando o bico com os tucanos e tornando-se um dos críticos mais ácidos dos governos de coalizão petista. Depois de um desses "cozidão" realizado em sua residência, que contou com a presença do ex-governador Eduardo Campos - onde selou-se a paz entre ambos - Jarbas afinou o discurso anti-petista, apresentando a candidatura presidencial do ex-governador como aquela que apearia o PT do poder. 

Votou no Deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados. Talvez percebendo seu equívoco, hoje prega abertamente o seu afastamento do cargo. Sempre com um olho no padre, outro na missa, um pé em Brasília, outro na província. Jarbas poderia receber o apoio não apenas de setores do partido, mas das hostes do PSDB, para presidente da Câmara Federal, na eventualidade do afastamento de Eduardo Cunha. A reconciliação com o ex-governador Eduardo Campos facultou o ingresso do seu afilhado, Raul Henry, na chapa encabeçada por Paulo Câmara(PSB), além de se tentar introduzir o Jarbinhas na Câmara de Vereadores do Recife, algo que não se viabilizou. 

Com a morte de Eduardo Campos, criou-se um vácuo de lideranças políticas no Estado, o que suscitou a possibilidade de Jarbas Vasconcelos tentar retomar a condição de liderança política que exerceu no passado, postulando uma candidatura às próximas eleições municipais de 2016, quiçá, com o concurso dos tucanos. O quadro está tão embolado no ninho tucano que preferimos nem especular sobre este assunto agora. Vamos deixar para o nosso artigo de monitoramento das próximas eleições municipais do Recife, sempre publicado nas quintas-feiras. O PT publicou uma nota de repúdio às declarações do deputado Jarbas Vasconcelos. 

Outro quadro que evidencia bastante estranheza é a relação do deputado com o prefeito Geraldo Júlio(PSB). Dizem que o deputado trava bonitinho todas as vezes em que é instigado a tratar deste assunto. Por outro lado, se desmancharia em elogios ao governador Paulo Câmara, a quem elogia a capacidade de diálogo. Paulo Câmara faz política. Um ofício que o prefeito Geraldo Júlio parece ter esquecido, segundo se conclui das considerações do deputado Jarbas. Infelizmente, nosso blog ainda não atinge um número expressivo de comentários, o que sentimos muita falta. Leio bastante esses comentários, tomando o cuidado de sempre responder religiosamente aos nossos comentadores. 

Nos comentários publicados no Blog do Jamildo, observei que alguns leitores foram bastante contundentes no tocante à situação enfrentada pelo deputado Jarbas Vasconcelos. Algumas coisas procedem, outras nem tanto. É verdade que ele pertence ao baixo clero da Câmara? É. Mas também não se pode subestimar que ele aparece como bem cotado na eventualidade de um afastamento de Eduardo Cunha(PMDB). Apontado como um dos principais artífices das manobras pelo impeachment, o ex-ministro Moreira Franco(PMDB), esteve presente num desses "cozidões", o que significa dizer que o peemedebista pernambucano não está assim tão "isolado" no PMDB. Também procede a observação de que sua carreira política no Estado quase atingiu o fundo do poço, assim como coube a Eduardo Campos emprestar-lhes uma sobrevida. Por outro lado, também não se pode desprezar seu 'capital" político no Estado, um trunfo com o qual ele poderá contar na eventualidade de desejar mesmo ocupar o vácuo de liderança deixado na província com a morte do ex-governador. 

   

Tijolinho do Jolugue: Revoada no ninho tucano.










Recentemente, o ex-governador, ex-ministro e ex-prefeito do Recife, Joaquim Francisco, entregou uma carta ao governador Paulo Câmara, informando sobre o seu desejo de desligamento da legenda socialista. O " eduardismo" proporcionou alguns arranjos inusitados na política pernambucana. Por uma dessas circunstâncias, o matuto de Macaparana tornou-se suplente de senador na chapa que elegeu o petista Humberto Costa. Joaquim estava, segundo dizem, bastante insatisfeito na legenda socialista. Com o currículo político acumulado, sempre achou que poderia dar uma contribuição maior ao partido. 

De fato, com a morte do ex-governador Eduardo Campos, Joaquim Francisco ficou escanteado na agremiação. Seu nome sequer foi lembrado na composição do secretariado de Paulo Câmara ou mesmo de Geraldo Júlio, onde poderia agregar à gestão a sua experiência de um ex-prefeito. Na nossa última postagem sobre o assunto, parecia ainda não estar muito bem definido os rumos partidários que Joaquim Francisco tomaria, mas é dado como certo que o seu abrigo será no ninho tucano. Só Deus sabe como as coisas irão se arranjar por ali daqui para frente. 

Ontem o partido soltou uma nota, pedindo aos seus membros que ocupam cargos na gestão de Geraldo Júlio, que largassem a nau socialista. Uma mexida radical no tabuleiro, com a qual os socialistas não contavam nos seus planos, uma vez que,  no raciocínio socialista,participando da gestão, como eles, os tucanos, poderiam cogitar de uma candidatura própria? Até o momento, a vereadora Aline Mariano, que ocupa a Secretaria de Combate ao Crack e Outras Drogas, não se pronunciou sobre o assunto. 

A nota é realmente para valer. Há uma determinação da legenda tucana no sentido de disputar em raia própria a prefeitura de cidades com mais de 200 mil habitantes. O problema agora é afunilar o processo de escolha de candidaturas, construindo o consenso sobre os nomes que entrarão na disputa, o que não se constitui numa tarefa nada simples. Em Caruaru já existiria um nome, mas sabe-se que, também insatisfeito com a legenda socialista, João Lyra Neto entabula conversas com alas tucanas. Em Jaboatão seria mais simples: será o nome escolhido pelo atual prefeito tucano, Elias Gomes; No Recife... bem, é aqui que a porca torce o rabo. 

Fala-se no nome do Deputado Estadual, Daniel Coelho, um tucano ascendente. Especulou-se, igualmente, uma composição com o PMDB de Jarbas Vasconcelos, numa reedição de uma nova União por Pernambuco, com o patrocínio de grãos tucanos de projeção nacional, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Para complicar ainda mais este cenário, entrou em cena o nome do ex-governador Joaquim Francisco, que entra na legenda com ares de candidato. É bicada para todos os lados. Vamos acompanhar os fatos e observar como eles irão de ajeitar no ninho. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Editorial: Por enquanto, somente notícias ruins.


Nesses momentos de crise, seria mesmo improvável que ouvíssemos notícias alvissareiras. Os jornais escritos do último domingo, por exemplo capricharam na tinta: aumentos de preços, desemprego, arrochos contra servidores públicos, proibição de novos concursos, índices crescentes de violência. É um cardápio de deixar o indivíduo prostrado no sofá, deprimido, sem apetite para o almoço em família. As redes sociais também não ficam muito atrás. Na última sexta-feira, postamos aqui no blog uma notícia de que os alun@s da escola de referência Ginásio Pernambucano estariam fazendo uma mudança de turno em razão da ausência de fornecimento da merenda escolar. O Estado, pelo que informava a nota, não havia pago aos fornecedores. 

Ontem, domingo, foi a vez de uma unidade da UPA - a de Caxangá, até então muito elogiada - externar todo o descalabro em que se encontra a gestão de saúde do município do Recife. Os médicos dessa unidade, num ato coletivo, entregaram seus cargos, entre outras razões, pelo falta de insumos básicos para atenderem aos pacientes. No apogeu da crise do sistema universitário, creio que no segundo Governo do senhor Fernando Henrique Cardoso, a Universidade Federal de Pernambuco chegou ao fundo do poço. No Núcleo de Educação Física, por exemplo, os alun@s eram contingenciados a levarem papel higiênico de casa, para atenderem às suas necessidades básicas. 

Sabemos que é bastante constrangedor estarmos falando sobre isso numa segunda-feira, mas são fatos. Dizem que a situação de nossa gloriosa UFPE estaria de volta a esses tempos nefastos. Isso para ficarmos apenas nos banheiros do Núcleo de Educação Física. Aqui na província, um certo governador, insiste na sua política de não abrir o jogo sobre a real situação financeira do Estado. Teme se indispor com os parentes do seu padrinho político. Gostaríamos muito de saber até quando ele irá segurar essa onda. Fala-se num rombo de 08 bilhões de reais deixados de herança pelo ex-governador. É aqui que, mais uma vez, se recomenda tomar muito cuidado com as atitudes desses governantes, que respondem às críticas dos cidadãos com processos judiciais. 

Nós não vamos entrar aqui nem no mérito do homem cordial, de Sérgio Buarque de Hollanda, aquele que não conhece a fronteira que separa a res publica dos negócios de família. Começamos a suspeitar que essa gente foi mesmo muito escolada na "maquiagem", na supressão dos reais problemas enfrentados pela população através de uma poderosa engrenagem de publicidade institucional. De um mês para outro, por exemplo, os assaltos a bancos mais do que dobraram no Estado:  18 em agosto; 38 em setembro. E o Pacto pela Vida, governador?





domingo, 20 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue; Joaquim Francisco: cobra que não anda não engole sapo



Por vezes comentamos sobre o assunto aqui pelo blog, mas, certamente, os danos que o "eduardismo" provocou na política pernambucana, em seus múltiplos aspectos, mereceria um esmiuçamento da academia. Estão aí os bonecos de fantoches a tocarem a nossa cidade e o Estado, totalmente perdidos, algo semelhante a uma nau sem rumo. E o pior é que essas verdades não podem ser ditas, sob pena de sermos perseguidos e processados. Eles não poupam nem a academia, investindo contra os seus professores, a exemplo do que ocorre com o professor Michel Zaidan Filho. 

No campo estritamente político, o ex-governador Eduardo Campos fez um estrago danada nas forças políticas do Estado, sem escolher ideologia, de um quadrante ao outro, cooptando forças políticas da escola do "macielismo", aos incautos petistas, que entraram em suas armadilhas e hoje já não encontram as saídas. Mais ou menos o que ocorre com aquela arapuca preparada para pegar peixe, bem conhecida de todos. O ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito do Recife, Joaquim Francisco, foi um desses atores que, depois de militar durante anos nas forças políticas conservadoras do Estado, converteram-se ao "socialismo".

Por questões pragmáticas apenas, Joaquim Francisco nunca esteve muito satisfeito na legenda. Reclamava que o seu currículo exigiria um tratamento melhor do partido. A carta onde comunica o desligamento da legenda já teria sido entregue ao governador Paulo Câmara. Há algumas especulações sobre o novo grêmio partidário que abrigará o matuto de Macaparana. Por outro lado, crescem os rumores de que ele poderá disputar as próximas eleições municipais do Recife, em 2016. Como ele mesmo costuma dizer, cobra que não anda não engole sapo.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Alunos do tradicional Ginásio Pernambucano ficam sem merenda.


Política não é feita apenas de gestos, mas de algumas situações emblemáticas, que podem ter um grande significado na cabeça do eleitorado. Não é de desconhecimento de ninguém a situação profundamente preocupante das finanças do Estado. Só quem se nega a falar sobre o assunto é o governador, enredado num processo complicado, uma vez que foi eleito com o beneplácito do finado e, pior, em tese, deveria conhecer em profundidade a real situação das contas públicas estaduais, uma vez que, além de oriundo do Tribunal de Contas do Estado, controlava as áreas de finanças públicas no Governo de Eduardo Campos.  Pois bem, por falta de pagamento ao fornecedor, no dia de ontem, no turno da tarde, os alunos do  tradicional Ginásio Pernambucano ficaram sem merenda. Que situação!

Tijolinho do Jolugue: Luciano Cartaxo deixa o PT. Traidor?




Ainda estamos conversando com as nossas fontes em João Pessoa, mas já podemos antecipar que a jogada do prefeito da capital, Luciano Cartaxo, do PT, é de altíssimo risco. Cartaxo, acaba de anunciar sua saída do PT e filiação ao PSD, comandado nacionalmente por Gilberto Kassab. É bastante intrincado o quadro político que se desenrola na cidade de João Pessoa. Em João Pessoa, o ninho de víboras, tão característico do campo político, nunca esteve tão evidente. É cobra mordendo o próprio rabo. Nas eleições municipais de 2012, numa aliança com Luciano Agra - já falecido - Luciano Cartaxo(PT) infligiu uma grande derrota à candidata do governador Ricardo Coutinho(PSB), Estelizabel Bezerra. Cartaxo tornou-se o único prefeito de capital aqui no Nordeste eleito pelo PT. 

Apesar das regras de convivência impostas pelo cargo que ambos ocupam, o fato é que Ricardo Coutinho nunca digeriu muito bem essa derrota. Agora, com a bola inflada com a morte de Eduardo Campos, parece que a ideia de retomar o controle da capital do Estado tornou-se uma ideia fixa para o governador. Num ambiente como este, o sujeito passa a desconfiar da própria sombra. É o que parece que está ocorrendo com o prefeito Luciano Cartaxo, que passou a desconfiar das movimentações dos próprios companheiros de partido, quiçá, articulando com o governador uma manobra para apeá-lo do poder. De uma certa forma, no plano apenas da correlação de forças, a manobra de Cartaxo visa antecipar-se às escaramuças dos seus possíveis adversários. A questão é saber como ela será vista pelos eleitores. Na política, a pecha de traidor é bem pior do que a pecha de corrupto. Vá entender.

Observa-se, igualmente, uma aproximação do prefeito Luciano Cartaxo com o PSDB, mas precisamente com o grupo ligado ao senador Cássio Cunha Lima. Comenta-se, à boca miúda, que os cassistas comemoram bastante a decisão do prefeito. 


Crônicas do cotidiano: José Lins do Rego e as rodas literárias das Alagoas.




José Luiz Gomes



As aulas de Teoria da Literatura, ministradas pelo poeta Marcos Accioly, eram bastante concorridas. As salas do Centro de Artes e Comunicação da UFPE ficavam abarrotadas de alunas, algumas delas mais interessadas no poeta do que no professor. Sabíamos disso pelas inscrições que ficavam registradas nas portas e carteiras, todas em alusão aos seus poemas. Didaticamente, Marcos também conduzia muito bem suas aulas, entremeando a teoria com as suas experiências pessoais e de viagens, o que deixava o ambiente menos anuviado. 

Um outro aspecto importante dessas aulas de Teoria da Literatura era a presença dos escritores pernambucanos, da velha e da nova geração, que discutiam suas obras com o alunado. Tornamo-nos amigos de alguns deles e voltávamos a nos encontrar, sempre aos sábados, na tradicional batida de maracujá, preparada pelo livreiro Tarcísio Pereira, na Livro 7. Desse grupo, aquele com o qual mais nos afinamos, Gilvan Lemos, morreu recentemente. Recife sempre foi uma cidade muito pródiga em termos de "rodas ou círculos literários". Sempre tivemos preferência pelo termo "rodas". Em sua época de estudante da Faculdade de Direito do Recife,  o escritor paraibano, José Lins do Rego, participou de algumas delas. 

Como já afirmamos em momentos anteriores, literatura, boemia e Flamengo eram as paixões do escritor paraibano. Não era mesmo do "eito" nem das "leis". Suas notas na Faculdade de Direito do Recife não passavam de um "simplesmente", o que significava que ele era aprovado "no limite". Era o que a gente poderia chamar de média mínima nos currículos atuais. O que nos intriga é que há uma intensão de trazer para o Recife a condição de berço literário de José Lins do Rego, menosprezando a importância de outros círculos ou rodas literárias na sua formação de escritor, como a de Maceió, nas Alagoas, onde ele escreveu e publicou quatro dos seus principais livros, inclusive o "Menino de Engenho"

Gilberto Freyre sempre fez questão de se colocar como uma espécie de mentor literário do escritor paraibano, José Lins do Rego. O curioso é que, no contexto dessa estratégia de consagração utilizada pelo sociólogo de Apipucos - como bem definiu o professor Diego Fernandes, no seu livro Contando o Passado, Tecendo a Saudade - possivelmente em razão do prestígio intelectual de Gilberto Freyre, José Lins nunca o contestou. Ao contrário, penso que até o estimulava. Pelas rodas de conversas regadas aos licores de pitanga e pela correspondência trocadas entre ambos - hoje exposta no Museu José Lins do Rego, em João Pessoa - não se pode minimizar o estímulo, os conselhos, as orientações de Gilberto ao discípulo. 

Portador de uma visão holística dos fatos sociais e detentor de uma inteligência singular, não foram poucos os atores sociais - bem conceituados dentro e fora da academia - que pediram conselhos ao mestre de Apipucos, como o historiador dos "flamingos", José Antonio Gonçalves de Mello e, de certa forma, o historiador do cangaço, Frederico Pernambucano de Mello que, dentro da perspectiva buourdieusiana de "legitimação", até recentemente voltou para a academia para cumprir os ritos acadêmicos.

Talvez em razão disso, como adverte Diego Fernandes, as rodas literárias do Recife também aparecem como determinantes na carreira literária José Lins, ao passo que outras rodas literárias, como as de Alagoas, são propositadamente minimizadas. A verdade é que, aqui no Recife, no apogeu da boemia, o escritor paraibano farreou bastante. Passava com um "simplesmente" pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, como já afirmamos, e caia na gandaia, até as altas horas, em redutos tradicionais do Recife daqueles tempos, na companhia de grandes nomes de nossa literatura e, certamente, de algumas "mariposas".Eita vidão, José Lins! 


Mas, como adverte o autor, não se pode ignorar a estadia do escritor na terra dos menestréis, inclusive no tocante à sua formação de escritor. Ali, nas rodas literárias, que se reuniam em bares conhecidos da orla de Maceió, José Lins trocou ideias com Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado, gente importante para a sua formação literária, e alguns atores responsáveis pela publicação de seus livros, que apresentaram seus originais aos editores da época. A despeito do enorme sucesso de crítica e público que alcançaria, a primeira edição de "Menino de Engenho" foi bancada pelo próprio escritor. Somente depois - bem depois - já consagrado como um escritor em ascensão - é que José Olympio e Monteiro Lobato entraram na jogada.

Tijolinho do Jolugue: Não encontrei o nome de Hélio Bicudo entre os fundadores do PT



Creio que muita gente conhece a história de formação do Partido dos Trabalhadores, na década de 80. O partido unia correntes do chamado "novo sindicalismo", remanescentes de grupos que lutaram contra a ditadura militar, setores progressistas da Igreja Católica, intelectuais de esquerda, movimentos sociais. A fundação do PT e a composição desses grupos suscitaram muito interesse acadêmico. Várias teses e dissertações foram produzidas sobre o assunto, a esmagadora maioria apontando a "novidade política" do partido no contexto do sistema partidário brasileiro. 

Aqui e ali, algumas ponderações críticas, no contexto da própria academia, como os trabalhos do sociólogo Ricardo Antunes, da UNICAMP, apontando que setores da "classe média tradicional" tiveram um papel importante na construção do PT, diluindo a tese de um "partido dos trabalhadores". Vá la que seja. Vale como ponderação. Com o intuito de emprestar maior credibilidade ao pedido de impeachment da presidente Dilma, assinado pelo professor Hélio Bicudo, a imprensa está alardeando que o cidadão foi um ex-fundador do PT.

Na academia, o PT foi nossa "cachaça". Estudamos o partido desde a sua certidão de nascimento. Tivemos a curiosidade de observar as assinaturas da histórica reunião do dia 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion. Estavam lá as assinaturas de Paul Singer, Mário Pedrosa, Sérgio Buarque de Hollanda, Paulo Freire, Raul Pont, Paulo Skromov. Não encontrei a assinatura do senhor que atende pelo nome de Hélio Bicudo. 

#SomosTodosZaidan: A condição humana


Michel Zaidan Filho
Este é o título de uma das mais famosas obras do escritor francês, André Malraux, ex-ministro da Cultura da França, que trata do massacre de militantes comunistas na Indochina, provocado pela traição de Chiam Kai Shek, líder da China nacionalista. 0 título dessa obra quer definir a essência da condição humana: a solidão. Tratando dos militantes que foram dizimados pelas tropas de Formosa, dizia o escritor que, apesar da causa que os unia, os bravos militantes morriam…sozinhos.
A triste constatação é a mesma feita por Aldous Huxley, quando afirmou que os cristãos entravam de mãos dadas na arena romana, mas morriam sozinhos.Essas considerações vieram à baila a propósito dos processos movidos pelos políticos de Pernambuco contra seus críticos.E aqui a principal lembrança é a dos processos do ex-governador (Jarbas Vasconcelos), hoje Deputado Federal, que apareceu beijando o filho nas redes sociais. Este rancoroso político moveu dois processos e uma interpelação judicial contra mim. Um em cada mandato.
Durante esse tormentoso período, vinha recebendo o apoio moral de um famoso advogado, participante assíduo de comissões federais, ora do Congresso ora do poder Executivo.Qual não foi a minha surpresa diante da reação desse ilustre operador do Direito, quando ingenuamente recorri à sua rica banca de advocacia: disse ele que jamais advogaria contra os amigos e familiares e que, ademais, não via nada de errado ou reprovável no programa de privatização do governo estadual.
Que procurasse, portanto, outros advogados.Foi quando me dei conta de que estava sozinho.De que não adianta esperar nada desses amigos de ocasião para me defender do autoritarismo do mandatário de Pernambuco. Ainda bem, que o então Presidente da OAB assumiu o patrocínio da causa e suspendeu a ação.Agora é diferente.O atual responsável pela administração do Estado é um técnico desconhecido, parente em 5. Grau do governador falecido e recrutado por ele do Tribunal de Contas do estado.
Não se trata de um político, banhado pela aura de bom administrador e popularidade, mas de um auditor que não audita, não controla, não fiscaliza sequer as contas da gestão em que deteve o cargo de Secretário da Fazenda.Não consegue explicar a situação falimentar das contas públicas do Estado, nem o rombo de 8 bilhões de reais herdados de seu benfeitor.
É um gestor que responde às críticas e cobranças de seus concidadãos e concidadãs com processos, sem ao menos indicar a razão, o motivo dessas interpelações. Dessa vez, não estou sozinho. Há um intenso e participativo movimento (Flashmob) de amigos, pessoas, advogados, professores, gente de boa vontade (veja a hashtag: SOMOSTODOSZAIDAN) que promete encher os corredores do Fórum Joana Bezerra, no dia 11 de novembro.
A Câmara Municipal do Recife se comunicou, avisando de uma moção de desagravo contra o governador. Gabinete de deputados, da Assembleia, também. Agora, a situação mudou.Não sou eu o culpado pelo descalabro administrativo do Estado de Pernambuco. Não me beneficiei com isso, nem politicamente, nem economicamente. Como dizia o filósofo, quem aceita o cargo, aceita também os encargos.
Pesados encargos estes, de explicar aos eleitores o sentido da imensa fraude política e eleitoral em que resultou essa malfadada campanha eleitoral coordenada pelos mortos-vivos para oprimir, assustar, perseguir os que teimam em viver honestamente e com liberdade em seu lugar.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD -UFPE


Tijolinho do Jolugue: Ciro Gomes, o boca do inferno, filia-se ao PDT




Logo mais o ex-ministro da Integração Nacional e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, em ato solene, assina sua ficha de filiação ao PDT. Não posso confirmar isso ainda, mas há uma possibilidade de a família Ferreira Gomes, em peso, filiar-se à agremiação pedetista. Assim como ocorre com a maioria dos grêmios partidários brasileiros, não existe apenas um PDT. Existe uma ala mais ligada aos parentes do ex-governador Leonel Brizola e uma outra ala que segue a orientação do atual presidente da legenda, Carlos Lupi, o Lupinho para os íntimos. Há sérias divergências entre esses grupos sobre, apenas para ficarmos num exemplo, qual seria o posicionamento do partido sobre o Governo Dilma. Setores da legenda já teriam desembarcados da nau governista. 

Ciro é uma sujeito muito preparado e inteligente, mas, não raro, peca pelo destempero verbal. Tem o que se diz aqui no Nordeste, "pavio curto". A família Ferreira Gomes é de uma fidelidade canina ao Governo Dilma Rousseff desde o início, ainda na época das movimentações de campanha, quando o ex-governador Eduardo Campos ainda era vivo. Pelo menos publicamente, nada nos indicam que eles mudaram de posição. Até recentemente, Ciro Gomes concedeu uma entrevista ao radialista Geraldo Freire. Nesta entrevista, ele disparou sua metralhadora verbal contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e sobrou também para Hélio Bicudo - que pede o impeachment da presidente - acusado de estar sendo usado pela elite paulista. 

Quando ao Governo Dilma, ele defende sua continuidade, embora faça alguma ressalvas às medidas que precisam ser tomadas para ajustar as contas. Ainda não vejo 2018 no horizonte, mas tudo indica que Ciro Gomes deverá ser mesmo candidato à Presidência da República naquelas eleições. O arranjo político que se insinua até lá - se chegarmos até lá - é bastante complexo.Por enquanto, vamos meditarmos um pouco sob a massaranduba do tempo, observar as águas bater nas pedras e tentar decifrar as mensagens das espumas.

O xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife: Com uma provável candidatura presidencial de Ciro Gomes, o PDT entra no jogo no Recife.







As próximas eleições municipais do Recife, em 2016, necessariamente, passam por Olinda. Estamos cada vez mais convencidos disso. Não se trata, tão somente,  de uma questão de "arranjos" partidários,mas, igualmente, em razão de alguns atores políticos relevantes também entrarem em cena, diluindo algumas composições aliancistas até então consolidadas, como a existente entre o PSB e o PCdoB. No último domingo, ali no Colégio DOM, em Casa Caiada, o PSB realizou seu encontro da Agenda 40, com a presença de algumas lideranças do partido, sua direção estadual e membros convidados de outras legendas. 

Os discursos não deixaram dúvidas sobre a possível candidatura do irmão do ex-governador, Eduardo Campos, o escritor Antonio Campos, a prefeito da cidade nas eleições de 2016. O PSB havia reafirmado que só falaria em 2016 em 2016. Mas como nesse país as regras não aplicam a todos e os direitos da elite não são os mesmos direitos da raia miúda, no caso de Olinda, praticamente foi batido o martelo em torno da candidatura do irmão do ex-governador. Comentando sobre este assunto, embora anpassant, o atual vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, nas entrelinhas de uma entrevista - mas traduzida como um recado direto às movimentações dos socialistas em Olinda - afirmou que "apressado como cru". 

Por falar em PCdoB, a Deputada Federal, Luciana Santos, depois de muitas especulações, finalmente quebrou o silêncio sobre o assunto e acenou com a possibilidade de uma candidatura à Prefeitura de Olinda, em 2016. Luciana já governou a cidade por dois mandatos, tendo entregue o bastião ao atual prefeito, Renildo Calheiros, do mesmo partido, camarada dos tempos de militância estudantil de ambos. O desgaste da gestão comunista na cidade é visível e isso não ocorre apenas pelo longo período em que estão à frente da prefeitura, mas, sobretudo, em função da avaliação que a população do município faz da gestão. 

Em entrevista, a provável candidata comunista observou que foi expressivo o montante de recursos federais que o camarada Renildo conseguiu trazer para o município. É um fato. era o tempo das vacas gordas, do PAC, que destinou 25% de suas verbas apenas para o Estado de Pernambuco. A questão é saber como esses recursos foram aplicados na cidade e em que medida isso se refletiu na melhoria da qualidade de vida da população. Outra observação de Luciana diz respeito às falhas de comunicação da Prefeitura de Olinda. Pode até ser. Segundo ela, todas as ruas do bairro de Jardim Atlântico foram calçadas e sinalizadas. Isso é verdade. Moramos aqui e podemos atestar isso, embora a comunicação não seja, tenha santa paciência, dona Luciana, o único problema da gestão. 

Assim como ocorre em Olinda, com Antonio Campos, também no Recife o prefeito Geraldo Julio vem procurando consolidar as costuras com o Partido Verde.Não sei até que ponto essa agremiação política pode somar ao projeto de reeleição do prefeito Geraldo Júlio, assim como ajudar Antonio Campos em Olinda. Aliança programática, por sua vez, nunca foi mesmo o forte deste partido. Talvez possamos entendê-la como mais um passo no processo de "endireitamento" da legenda socialista. 

Um fato novo que surgiu nesta semana é a postulação do nome da vereadora Isabella de Roldão como opção da legenda do PDT para concorrer às eleições municipais do Recife, em 2016. Isabella está assumindo a direção da legenda no Estado, o que pode facilitar as negociações em torno de viabilidade de sua candidatura. Em entrevista à imprensa, Isabella teria afirmado que poderia abdicar da postulação do seu nome apenas se Paulo Rubem Santigo, hoje na presidência da Fundação Joaquim Nabuco, resolvesse assumir a candidatura, como chegou a ser cogitado. 

É realmente muito pouco provável mesmo que o senhor Paulo Rubem seja candidato nas próximas eleições. Trata-se de mais um arranjo político delicado, uma vez, quando esteve aqui na província, Carlos Lupi, presidente da legenda, entabulou algumas conversas com o prefeito Geraldo Júlio, com o propósito de estreitar o relacionamento entre as duas legendas. Ademais, Rodrigo Vidal, vereador da legenda, ocupa a Secretaria de Defesa e Proteção aos Animais, na gestão de Geraldo Júlio. 

A conjuntura política indica que uma provável candidatura da legenda no Recife deverá ser estimulada. Hoje, dia 17, filiou-se ao partido, em Brasília, o ex-governador e ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. O político cearense acalenta o sonho de voltar a disputar a Presidência da República, em 2018. Numa corrida presidencial, palanques são sempre bem-vindos, sobretudo numa capital com a dimensão política do Recife. 

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Acabou a farra das doações de empresas privadas às campanhas eleitoriais.





Ainda repercute pelas redes sociais o discurso e a postura do ministro Gilmar Mendes sobre matéria que está sendo apreciado no STF, que trata do financiamento privado de campanhas políticas. Nos parece que a estratégia do ministro Gilmar Mendes era adiar a votação, feito obtido com a duração do seu discurso, que passou das 05 horas, não permitindo que o advogado da OAB externasse seu pronunciamento sobre a matéria. Embora investido da liturgia do cargo, o ministro usou a tribuna do STF para proferir um discurso político, tendencioso, com endereço certo: O Governo da presidente Dilma Rousseff. Ele já foi chamado de tudo aqui pelas redes sociais, mas eu não ousaria fazer o mesmo, sobretudo por uma questão de coerência com a linha editorial do blog. O que vem ocorrendo com o STF dá bem a dimensão da encrenca onde estamos metidos, com as principais instituições da República comandadas por atores políticos com a estatura de um Gilmar Mendes, de um Eduardo Cunha, de um Renan Calheiros. 

Não sabemos o que poderá ocorrer daqui para frente com o Governo Dilma - num equilíbrio bastante frágil - mas há algo de muito podre no reino da Dinamarca. Isso não pode dar muito certo mesmo não. Com posturas como a do Gilmar Mendes, o STF deixa de ser aquela instância do equilíbrio, da equanimidade, da isenção; Dilma foi eleita com um programa e capitulou-se ao programa do adversário, praticando uma espécie de estelionato eleitoral; a base de apoio faz o jogo dos algozes de Dilma, articulando com seus adversários para derrubá-la; prenuncia-se um sucateamento dos serviços públicos; comprometimento dos programas sociais que sempre foram a marca diferencial dos governos de coalizão petista; mobilizações dos movimentos sociais contra o governo, como é o caso do MTST, que está prevista para o dia 23 próximo; imprevisibilidade dos acertos dessas últimas medidas no que concerne ao enfrentamento da crise. São muitos poréns.

A  manobra de Gilmar Mendes, no entanto, teve uma durabilidade exígua. Por 8 votos contra e 3 a favor, foi decretara a inconstitucionalidade das doações de empresas às campanhas políticas. Apesar dos poréns, será que nem tudo está perdido?

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Editorial: Não foi isso o que nós combinamos, Dilma Rousseff.


 

 
No último final de semana, o Jornal Folha de São Paulo, através de um editorial com o sugestivo título "Ultima Chance", praticamente deu um ultimato à presidente Dilma Rousseff. O jornal da família Frias é uma espécie de porta-voz dos interesses da elite conservadora do país. Como a crise é grande e envolve diversos aspectos, talvez devêssemos dividi-las em pedacinhos para melhor entendê-la. É o que pretendemos fazer, ao discuti-la, durante os próximos dias. Enquanto Dilma era pressionada pela direita a radicalizar esses ajustes de orientação neoliberal, ditados pelo mercado e o grande capital; por outro lado, os movimentos sociais, como o MST, o MTST se colocavam numa trincheira oposta, exigindo da presidente uma mudança substantiva na condução da política econômica, claramente, subtraidora dos diretos da classe trabalhadora. Não sabemos se existe esse termo "subtraidora" mas ele será mantido, por se aplicar bem à situação. Se não existe, acabamos de criar mais um neologismo.

No lema desses movimentos sociais - historicamente identificados com os governos de coalizão petista - a saída seria com o povo e pela esquerda. Dilma fez ouvidos de mouco em relação aos apelos dos movimentos sociais, optando por um alinhamento com os segmentos políticos derrotados nas últimas eleições, que querem apeá-la do poder antes do prazo de validade, que vai até 2018. Nossa identidade com o Governo Dilma permanece, vamos defendê-lo até às últimas consequências, mas não dá para tapar o sol com a peneira, como vejo que alguns petistas estão fazendo aqui pelas redes sociais. Nossa posição é de princípio. O que defendemos intransigentemente, na realidade, é o cumprimento das regras do jogo democrático.O respeito ao Estado Democrático de Direito. Legalmente, não há nada previsto que possa justificar um pedido de impeachment e as próximas eleições presidenciais estão agendadas para outubro de 2018. 

Como disse, pretendo abordar cada questão ao seu tempo, estabelecendo um encadeamento didático, facilitando o entendimento dos leitores. Mas, de antemão, já antecipo o grave equívoco do aumento da carga tributária, com a volta do famigerado CPMF, um imposto profundamente impopular. Por outro lado, para o deleite de nossa elite escravocrata, os programas sociais - a despeito das negativas do Governo - serão, sim, atingidos, quebrando um ciclo de enfrentamento das desigualdades históricas no país. Minha Casa, Minha Vida; Pronatec; Bolsa Família, programas sociais importantíssimos, terão dificuldades de apresentarem estatísticas favoráveis nos próximos rankings. Em termos programático, está ocorrendo uma espécie de estelionato eleitoral. Não foi isso o que nos combinamos, dona Dilma Rousseff. Comecei a desconfiar desse processo quando, logo no início do seu Governo, a "vaca começou a tossir", confirmando a tese do filósofo Nietzsche de que toda palavra é uma máscara e todo discurso é uma 'fraude". Seu Governo é de fazer corar o mais renhido tucano. Está mantida a lógica da corda que arrebenta sempre do lado mais fragilizado, dos mais pobres, dos sem teto, dos sem terra, dos assalariados, dos servidores públicos. Mais uma vez o grande capital está blindado.

Alguns desses programas deverão morrer mesmo de inanição, como vem ocorrendo com o Bolsa Família, que não sofre reajustes desde 2014. Afirmamos isso baseados em pronunciamentos públicos de economistas que tiveram relações diretas com as políticas de redistribuição de renda, como é o caso de Marcio Pochmann​ e Marcelo Neri​ - profundamente identificados com os projetos de erradicação da pobreza dos governos de coalizão petista - mas pessimistas quanto ao futuro desses programas. Logo no início do Governo Dilma, Marcelo Neri deixou a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, numa atitude numa devidamente esclarecida. Voltou a dar suas aulas na Fundação Getúlio Vargas. Hoje foi a vez do oráculo de Harvard, Roberto Mangabeira Unger​ entregar o boné. Talvez porque não haja mesmo muita coisa a ser feita com o Brasil, Pátria Educadora.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Transposição das águas do Rio São Francisco: e não é que o João tinha razão.





O geógrafo Milton Santos costumava afirmar que a satisfação de um intelectual era observar que as suas teses estavam se confirmando. Pedia-nos que ficássemos atentos àqueles intelectuais movidos por outras vaidades e interesses. Dividir os pesquisadores entre aqueles que ficaram contra ou a favor do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco não contribui muito para o debate que realmente importa. No auge dessas discussões - ainda no Governo Lula - o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, João Suassuna, apontava alguns equívocos nesse projeto, tanto no que concerne à concretização dos seus possíveis objetivos, quanto à inviabilidade técnica, devido à escassez de recursos hídricos já observada no castigado Rio São Francisco, o que também poderia comprometer, num futuro próximo, a geração de energia. 

As obras de transposição do Rio São Francisco passaram por inúmeros problemas, como atrasos, graves problemas técnicos, denúncias de superfaturamentos e coisas afins. Em certa medida, convém esperar, observar a pouca água bater nas pedras e tentar decifrar as espumas. É o que os matutos chamam de "meditar sob a massaranduba do tempo". De origem no Cariri paraibano, João Suassuna soube esperar o momento certo para ver suas teses se confirmarem. Assim como ocorre lá pelo Planalto - onde a crise política instaurou-se de uma vez - também a crise hídrica - quiçá energética - são ameaças que pairam sobre as nossas cabeças. Convém enfatizar que João Suassuna não era necessariamente "contra" uma solução que resolvesse os problemas de abastecimento de água na região Nordeste.  

Apenas sugeria que a proposta seria inviável, propondo outras alternativas, de menor custo, e mais viáveis. Convém enfatizar, igualmente, que João falava como um técnico, um pesquisador do semiárido nordestino. Hoje, em sua página, o presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Paulo Rubem Santiago, observa que o pesquisador cobra um pouco de coerência do senador Fernando Bezerra Coelho, que ocupou a pasta da Integração Nacional no primeiro Governo Dilma. Infelizmente, você não encontrará coerência por aqui, João. Os atrasos e embaraços nessa obra já se constituía como uma plataforma política do ex-governador, Eduardo Campos, em seu projeto de tornar-se presidente da República. Bem próximo ao período da Páscoa, quando ele ainda estava em campanha, nosso perfil aqui do Facebook recebeu a visita de um coelho. Penso que você sabe de quem se trata. Não era o coelhinho da Páscoa não.

Nesses tempos bicudos, de tolhimento da liberdade de expressão, do jugo do delito de opinião, convém tomar cuidados com as citações dos nomes para não sermos vítimas de processos. Aqui em Pernambuco, hoje, se processa alguém por qualquer motivo. Até os professores da UFPE, como é o caso de Michel Zaidan, estão se tornando alvos dessas investidas. Esses atos contam com a inércia da imprensa, dos sindicatos, das entidades de classe, dos movimentos sociais, partidos políticos e afins. Esse coelho que nos visitou - sem ser convidado - fez um barulho danado, elencando todos os problemas da obra e que, na eventualidade de uma eleição de Eduardo Campos, isso seria contornado. 

Fiz uma perguntinha que o deixou enfurecido: então, cara, tu estás admitindo o fracasso da gestão do senhor Fernando Bezerra Coelho, do teu partido, que respondia pela pasta? o coelho pulou fora e hoje está assoberbado com a Lei de Responsabilidade Fiscal do Estado. Melhor assim. Se há alguma coisa que possuímos de sobra é coerência. Não somos contra a obra de transposição das águas do Rio São Francisco, João, sobretudo em razão dos seus objetivos finais, mas, pelo menos nos seus apontamentos dos problemas, infelizmente, alguns deles estão se confirmando.  



Nas imagens acima, o açude Gargalheiras, no Rio Grande do Norte, um dos mais importantes do Estado, antes e depois da estiagem. A sangria deste açude é um verdadeiro acontecimento na cidade de Acari, que já conta com uma incipiente estrutura turística para atender aos visitantes. Acari é a cidade mais limpa do Brasil. Em termos de culinária, o prato mais comum é o camarão, crustáceo abundante na região, comercializado por inúmeras famílias.  

Tijolinho do Jolugue: Editorial da Folha coloca Dilma na guilhotina




Neste domingo, a partir de um editorial do Jornal Folha de São Paulo, publicamos no blog um artigo do professor da Universidade Federal da Paraíba, Joeldes Meneses. O editorial do jornal da família Frias traz o "sugestivo" título: "Última chance". Lá para o final do seu artigo, o professor Joeldes sugere que o editorial deveria ser chamado, na realidade, de "preparação da guilhotina", dado seu caráter de ultimato ao governo Dilma Rousseff. O problema de nossa economia é bastante delicado, exigindo muita ponderação, discernimento e prudência. Não somos  economistas,mas, nessa crise específica, parece que nem eles tem uma solução para o problema. Vivem batendo cabeça, cada qual apresentado um receituário destinto como forma de enfrentar essa crise. Para não enveredarmos por um assunto que não dominamos, vamos nos deter nos aspectos políticos dessa crise, embora, em última análise, ela possua um componente econômico evidente. 

Em entrevista recente, com a experiência de quem chegou a trabalhar com o presidente João Goulart, o hoje vereador Waldir Pires assegura que os conspiradores que se unem numa tentativa de interromper o Governo da presidente Dilma Rousseff são muito parecidos com aqueles que derrubaram o Governo João Goulart. Os udenistas daquela época hoje estão distribuídos em partidos como o PMDB, o PSDB, os Democratas e outras siglas afins. Ou seja, não há muita diferença entre os conspiradores de 1964 e os dos dias atuais, inclusive, quando o assunto é a grande imprensa, que oferece combustível sistemático aos urubus voando de costa, que ocupam outras plataformas de ação, como os que atuam no parlamento. 

Pelos idos de 1964, a família Mesquita, do Estadão, em Washington, pregava abertamente um golpe no Brasil. O editorial da Folha sugere que estamos próximos do fim. A trégua teria sido quebrada e os conspiradores voltaram à carga no sentido de fustigar um governo democraticamente eleito, cujo prazo de validade vai até 2018. Não há muita novidade aqui. É a Folha sendo a Folha.O que observamos como preocupante é o desfecho desse processo, que, certamente, poderá culminar num governo de coalizão liderados por esses algozes, com prejuízos evidentes para a saúde de nossas já frágeis instituições democráticas e o comprometimento dos avanços sociais conquistados nas últimas décadas, sob o governo de coalizão petista.  

Movimento de Base do PT publica nota de repúdio à censura do Governo de Pernambuco ao professor Michel Zaidan

domingo, 13 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: O processo contra Michel Zaidan - o silêncio ao redor.



O professor Michel Zaidan é um dos mais ativos e combativos cientistas políticos do Estado. Nunca foi um intelectual de gabinete, participando ativamente das mobilizações sociais em defesa dos direitos sociais; do Estado Democrático de Direito; da gerência democrática, republicana e transparente do Estado. Participa dos debates em sindicatos, universidades,  movimentos sociais, Ongs, diretórios acadêmicos, partidos políticos e outras entidades da sociedade civil. Dificilmente recusa um convite para participar de um debate, ministrar um curso, realizar um seminário. Penso que o único critério que orienta o professor é que esses temas se coadunem com as suas diretrizes de pensamento e o livre debate de ideias, que devem conduzir a uma vida em sociedade mais tolerante e justa socialmente.  

Até recentemente, realizou um curso sobre ética na política, organizado pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado. Um enorme sucesso, uma plateia atenta aos ensinamentos do mestre. Vale a pena assinalar, igualmente, a intensa participação do professor na imprensa, seja na imprensa escrita, televisionada ou radiofônica, debatendo eleições, gestões públicas, mobilizações sociais, entre outros temas. Sua participação nas redes sociais e na blogosfera tornou-se ativa nos últimos anos. O professor estava entre aqueles que tinha uma "desconfiança" dessas novas ferramentas de comunicação, desconfiança hoje já superada. 

Neste sentido, como bem observou o professor, é bastante estranho que os partidos de esquerda, os movimentos sociais, as entidades da sociedade civil organizada, as instituições acadêmicas - como a Universidade Católica de Pernambuco - onde foi aluno - e a UFPE - não publiquem uma nota de repúdio contra essa lei da mordaça, contra o jugo do delito de opinião que está  sendo implantada no Estado. Os jornais locais, neste domingo, dia 13, não trazem uma única nota sobre esse episódio, que atenta contra a liberdade de expressão e de opinião. Uma lástima mesmo. Estamos realmente em mal lençóis. Se os milicos, por uma infelicidade voltarem, certamente, encontrarão uma legião de lambe-botas.  

Última chance ou preparação da guilhotina?



Leio estarrecido nos jornais de domingo as medidas cogitadas de vir em resposta ao rebaixamento da nota do Brasil por uma agência de rating do mercado financeiro: atrelamento dos gastos em políticas sociais ao crescimento do PIB, aumento da idade mínima de aposentadoria, aumento para 12 por cento na contribuição dos servidores públicos para a previdência, extinção da política de aumentos reais do salário mínimo, etc.



Ao que parece, como lenitivo, aventa-se a hipótese distante de estabelecimento de novas alíquotas sobre a renda dos mais ricos.
Impressiona a baixa qualidade do debate econômico na grande imprensa sobre as possibilidade de saídas da crise. Martela-se uma única tecla, que passa por verdade dogmática. Só há espaço para uma vertente do debate econômico: a sabedoria convencional que considera que o problema fiscal será resolvido às custas de uma recessão redentora, em vez de cogitar a possibilidade da queda das despesas financeiras, através da baixa da taxa de juros, bem como, pelo lado da arrecadação, a taxação das grandes fortunas e do consumo de luxo.
É falso afirmar que o caminho por nós insinuado foi fracassado no primeiro governo Dilma. Ao contrário, no primeiro governo Dilma, tivemos o congelamento de tarifas públicas de energia e aportes subsidiados do tesouro ao BNDES, na esperança que a redução dos custos fiscais do capital produzisse crescimento econômico. Deu no que deu.
Escrevi em agosto de 2914, incrédulo de assistir o ufanismo ingênuo de muitos militantes do PT em campanha, que qualquer que fosse o presidente da república eleito, ele enfrentaria uma crise fiscal do Estado, cujas primícias estavam evidentes. Mas também nunca concordei que o receituário encomendado a Joaquim Levy constitua a única alternativa possível. Isso é arrematada bobagem de ignorantes.
Acabo de ler nesta madrugada o editorial de capa da Folha de S Paulo, cujo emblemático título acode pelo nome de "Última Chance". Nele, encontram-se enunciadas as medidas impopulares de apoio da burguesia brasileira, algumas das quais citei no começo dessa postagem.
Mais adequado seria que o título do editorial fosse - PREPARAÇÃO DA GUILHOTINA.

Jaeldes Meneses, professor da Universidade Federal da Paraíba.

sábado, 12 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Antonio Campos será mesmo candidato em Olinda



A agenda 40, uma série de encontros promovidos pelo PSB no Estado, esteve aqui em Olinda, no Colégio Dom, em Casa Caiada. Antes, foram espalhados pela cidade alguns outdoors, numa campanha de filiação ao partido. O irmão do ex-governador, Antonio Campos, possível candidato à Prefeitura da Marim dos Caetés, esteve presente ao encontro, assim como o senador Fernando Bezerra Coelho. Sileno Guedes, presidente da legenda no Estado, em seu discurso, praticamente confirma que o escritor Antonio Campos será mesmo o candidato da legenda à Prefeitura da Cidade, nas eleições municipais de 2016, algo que até os mosteiros de Olinda já sabiam. Dizem que os convidados extrapolaram, em muito, a tribo socialista. Havia convidados de outras legendas, o que nos fornece mais um indicativo de que a candidatura de Antonio Campos é mesmo definitiva. 

Ainda sobre Olinda, uma outra especulação que também está tomando contornos de realidade, é a possível candidatura da Deputada Estadual Luciana Santos, do PCdoB, o mesmo partido de Renildo Calheiros. Já se esperava que socialistas e comunistas fossem ao confronto na cidade, o que pode respingar na composição da aliança entre os dois partidos no Recife. Pernambuco vive sob o jugo do "delito de opinião", mas nos arriscamos a informar que um dos atores que aparece na foto acima, que cumpria, pelo que se sabe, o papel de intermediador de verbas de campanha em eleições passadas, sorrateiramente como uma víbora, vem se movimentando perigosamente pela região metropolitana do Recife. 

Em entrevista concedida a um jornal local, no momento que se referia a essas movimentações em Olinda, o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, foi lacônico: apressado como cru. Um torpedo com endereço certo. Não faz muito tempo, o irmão do ex-governador cobrou um posicionamento da legenda socialista sobre sua candidatura em Olinda. Oficialmente, o partido anuncia que só discutiria 2016 em 2016. Como se trata do irmão do ex-governador, eles abriram uma exceção, mostrando, como dizia o ex-presidente Jânio Quadros, que, neste país, o hímen é mesmo complacente e as regras não se aplicam a todos. 

Tijolinho do Jolugue: E o Moreira Franco foi ao "cozidão" de Jarbas.





A imprensa traz hoje a informação de que a presidente Dilma Rousseff teria identificado em Moreira Franco(PMDB), seu ex-ministro, como o principal nome entre os conspiradores de um suposto pedido de impeachment contra ela. Nunca fui muito simpático a este cidadão, mas, sinceramente, nunca imaginei que ele pudesse ser um dos principais atores envolvidos nessa conspiração. Muito mais pelo seu estilo - normalmente discreto - do que pelo seu caráter, muito semelhante aos demais companheiros de agremiação, o que não surpreenderia se ele tivesse metido até a medula nessa engrenagem política. O que nos leva a concluir que a presidente pode ter razão é um "cozido", recentemente oferecido pelo pernambucano, Jarbas Vasconcelos, em sua residência, na capital federal, onde o senhor Moreira Franco esteve presente. 

Até recentemente, o Deputado Federal Jarbas Vasconcelos, em declarações à imprensa, sugeriu que o Governo da presidente Dilma Rousseff havia acabado e ela se fazia de sonsa, parecendo desconhecer a gravidade do problema. Duas coisas nos impressiona neste cidadão Jarbas Vasconcelos: historicamente, ele foi forjado na luta pela redemocratização do país, sendo um dos mais combativos parlamentares contra a Ditadura Militar, instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Perfilou, durante muitos anos, entre os autênticos do PMDB. Esse é o dado histórico de sua biografia. 

No tocante ao aspecto conjuntural, até recentemente, manifestava-se contra as tentativas de conspiração contra o mandato da presidente Dilma Rousseff, colocando-se como um ator político identificado com a legalidade. Eis que ele abandona o sossego de um dia ensolarado de domingo - onde poderia convocar os amigos para mais um "cozido", em sua casa de praia -  para participar das manifestações contra a presidente Dilma, naquele dia 16 de agosto, na praia de Boa Viagem. Os fatos que ocorreram em seguida apenas confirmariam aquilo que já se suspeitava, ou seja, ele mudaria de posição, passando a defender o impeachment ou a renúncia da presidente. 

Aliás, ele fala muito em renúncia, como se a presidente Dilma fosse mulher de renunciar a alguma coisa. Informa o parlamentar que o processo seria menos traumático e, com isso, a presidente daria uma demonstração de grandeza. A posição de Michel Temer todos já conhecem. Ela não se orienta por princípio, convicção, mas pelo mais puro oportunismo político. Não teria qualquer remorso em dá uma rasteira na titular do cargo, caso veja nisso uma oportunidade de ampliar o seu poder ou nacos na administração pública, tratada, no Brasil, como um butim dessa gente.  

Michel Zaidan Filho: O duro e impopular exercício da crítica


Dizia o cronista pernambucano Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra. É burra e perigosa, quando se trata da existência de uma sociedade democrática.
Por melhor e infalível que seja o governante de turno (prefeito, governador e presidente), a necessidade do contraditório, da atividade crítica, vigilante e fiscalizadora dos cidadãos é fundamental para a oxigenação do sistema político-partidário.
A busca, a qualquer preço, da unanimidade pelo governante é uma forma de despotismo suave, sobretudo quando se assenta na cooptação, no aliciamento ou compra de apoio político-parlamentar.
A liberdade de expressão ou de opinião, num regime democrático, não é um beneplácito do gestor ou administrador. É uma garantia de que sua gestão seja republicana, realize o bem comum ou o interesse público.
Um administrador público – seja ele um político de carreira, um guarda-livros ou contabilista – não é eleito por um chefe, por uma família, uma oligarquia ou grupo político, para preservar e ampliar vantagens, conveniências e interesses desse grupo ou dessa oligarquia.
A Ciência Política Clássica levou muitas centenas de anos para definir o conceito de representação ou mandato popular. Desde o abade Syeis até hoje, a essência, o garante, a base da representação é a soberania do povo. Ou seja, o mandatário governa em nome, com e para o povo.
É portanto injustificável que produza-se uma curiosa inversão: de mandatário do povo em mandante do povo.
Em vez, do compromisso com os interesses populares, compromissos com os financiadores ou patrocinadores de campanha, o governante deve fidelidade à Constituição e à vontade política da população, expressa na autorização dada, pelo voto, ao vencedor nas urnas. Mas isso o obriga a realizar sua vontade e, acima de tudo, a prestar contas de seu mandato àqueles que o elegeram e também aos que não o elegeram. Afinal, todos são contribuintes e cidadãos.
Um governante que não sabe conviver com o contraditório e se aborrece com as críticas de seus concidadãos ou governados confunde a gestão pública com a gestão privada (de sua casa ou de sua empresa) ou, como burocrata, pensa que a crítica é uma mera licença poética concedida por ele aos que desaprovam ou fazem reparos à sua gestão.
Estes confundem a liturgia e os privilégios do cargo como autorização para fazerem o que quiserem com o erário público, sem prestar contas de sua gestão. E ai das daqueles que acharem ruim; estes vão se queixar ao bispo.
Um agravante desse modelo de gestão é a ausência efetiva da separação de poderes e o papel da mídia.
Se as novas casas legislativas não estivessem tão desmoralizadas e destituídas de poder, seriam o contraponto necessário à vontade imperial do governante. A elas cabe o papel da fiscalização, do controle das atividades do Poder Executivo. Infelizmente, tornaram-se em instrumento de homologação da vontade do gestor, às custas do aliciamento e da cooptação. Como dizia a filósofo judia, se transformaram em mercados de compra e venda de apoios políticos.
Pior é o papel da imprensa dita livre e independente, que se comporta como empresa e busca vantagens junto ao Poder Político e Econômico.
De órgãos formadores da opinião pública, viraram máquinas de “produção” de um falso consenso, de uma pseudo-unanimidade em torno dos poderosos de turno.
Se quisermos desfazer a impressão de um famoso historiador paulista que chamou o nosso regime democrático de um profundo mal-entendido, num contexto de formação oligárquico-liberal, é preciso fazer da liberdade de opinião, da liberdade de crítica, da liberdade de consciência, mas do que uma simples reverência retórica nas cátedras e salões nobres do Parlamentos.
É preciso ter coragem de exercê-las diante daqueles que confundem o cargo com uma prebenda, e a crítica como crime ou desrespeito.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE


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