pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Editorial: Segundo Mauro Cid, Bolsonaro consultou militares sobre um golpe de Estado.



A CPMI dos Atos Antidemocráticos do 08 de janeiro passa por um momento delicado. A corda está muito esticada entre os parlamentares do Governo e da Oposiçao; os prazos de encerramentos dos trabalhos estão se expirando; e, somado a isso, existe uma clara indisposição com o Poder Judiciário, depois das últimas decisões do STF, no sentido de permitir que os convocados possam não comparecer às audiências públicas. Mas, diante do que está sendo divulgado pela imprensa no dia de hoje, 21, a presença do ex-ajudante de ordens da Presidência da República, Mauro Cid, naquela comissão, torna-se imprescindível. 

Não para falar sobre as joias, mas sobre algo diretamente vinculado ao objeto dos trabalhos daquela comissão, ou seja, as tratativas do plano de golpe de Estado que estava em andamento. Segundo essas fontes, o tenente-coronel confirmou, em seu depoimneto à Polícia Federal, que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria consultado os militares sobre um golpe de Estado. Um dos comandantes militares teria, inclusive, disponibilizado suas tropas para o intento. Aquele mesmo que adiou, o quanto foi possível, receber o futuro Ministro da Defesa do Governo Lula. 

Sobre a aparentemente "inocente" minuta do golpe, Mauro Cid teria declarado que o ex-presidente a recebeu de um dos seus assessores. As revelações dimensionam a encrenca em que o Governo Lula está metido, quando se discute, por exemplo, a necessidade de uma ampla reforma entre os militares, com o propósito de desmontar esses dispositivos. Pelo andar da carruagem política, a esponja da permeabilidade de um golpe de Estado entre os militares brasileiros estava bastante encharcada. 

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 19 de setembro de 2023

Editorial: As mãos de Paulo Freire.



Num dia como hoje, 19\09, nascia o educador Paulo Freire. Pernambucano, do país de Casa Amarela, Paulo se tornaria um cidadão do mundo. A referência ao "país de Casa Amarela" é em homenagem ao padre Reginaldo Velozo, com quem tivemos a oportunidade de compartilhar bons momentos durante o período de nossas pesquisas para um mestrado. Ele sempre se referia ao bairro desta forma, não sem alguma razão, se considerarmos as dimensões geográficas do bairro recifense. Assim como Dom Hélder, que pode ser considerado o eterno arcebispo de Olinda e Recife, padre Reginaldo também foi um eterno pároco do Morro da Conceição, resistindo bravamente à perseguição infringida por setores conservadores da Igreja Católica.   

Escrevemos alguns textos sobre Paulo Freire, mas confessamos que, ao relê-los, hoje, não mais nos sentimos à vontade em republicá-los, por inúmeras razões. Ora porque eles já não traduzem a atualidade do pensamento do educador pernambucano, ora porque, como tudo que escrevemos estão impregnados de impressões pessoais, como as nossas reações à leitura de alguns dos seus livros mais importantes, como Pedagogia do Oprimido e Pedagogia da Autonomia. 

Ainda chegamos a acompanhar duas conferências públicas do pensador Paulo Freire. Uma delas no Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco. Outra, por ocasião da cerimônia de encerramento do curso de alfabetização de adultos, realizado na Usina Catende, na zona da Mata Sul de Pernambuco, que utilizou seu conhecido método para alfabetizar centenas de operários da massa falida, que seria tocada pelos operários a partir de então, consoante acordos celebrados pelo Dr. Miguel Arraes. 

Como circulamos muito pelo bairro de Casa Amarela, as lembranças são inevitáveis. Outro dia, através das redes sociais, ficamos sabendo que a casa, onde o educador residiu, em Jaboatão dos Guararapes, seria transformada num centro cultural em sua homenagem. Até bem pouco tempo, estava abandonada pelo poder público, numa atitude de profundo desrespeito à memória do grande educador pernambucano. Não sabemos qual foi o destino dado à sua residência de Casa Amarela. 

Um dos aspectos que mais nos instigam em Paulo Freire é o seu papel de agitador cultural no Movimento de Cultura Popular, criado por Miguel Arraes de Alencar, pelos idos da década de 60, quando era prefeito do Recife. Não raro, relemos o Memorial do MCP apenas para recordar "daqueles tempos". Havia até um livro sobre "educação de adultos", elaborado por duas professores militantes do MCP. Por alguma razão, Paulo não gostava do livro, embora ele tenha sido elaborado fidedignamente consoante os ensinamentos do mestre. Pelo menos é o que se presume. 

Eis que encontro a assinatura de Paulo Freire na histórica reunião do Colégio Sion, em 10 de fevereiro de 1980, quando o Partido dos Trabalhadores foi fundado. Quando assumiu a prefeitura de São Paulo, ainda filiada ao PT, Luíza Erundina entregou a Paulo Freire a Secretaria de Educação do Município. Há muitas histórias sobre a gestão de Paulo Freire à frente daquela pasta. Numa delas, conta-se que ele, mesmo na condição de gestor das políticas públicas de educação do município, aquiesceu quando uma professora do município afirmou que não seguiria as diretrizes ou orientações da pasta, numa demonstração inequívoca de suas convicções democráticas. Não se tratava apenas de retóricas ou discursos sem consonância com a práxis.   

Nessas histórias, há sempre um toque de bom humor, mas se diz bastante sobre sua personalidade e sensibilidade humanitária, o que o tornaria um dos mais respeitados pensadores do campo da pedagogia. Não apenas no Brasil. Aliás, essas experiências pessoais foram fundamentais para estruturar suas reflexões sobre o ato de educar. A questão do diálogo, por exemplo, tão presente em seus ensaios, foi o resultado, segundo ele afirmou, de uma longa conversa mantida com um operário - noite adentro - quando ainda residia em Jaboatão dos Guararapes. Ali ele entendeu que, para o processo de alfabetização concretizar-se, seria necessário estabelecer um diálogo que permitisse ao educador entrar no universo do educando. Do contrário, o ato de educar não se realiza.  

Contava Paulo Freire, por ocasião do encerramento do curso da Usina Catende, que enfrentou duas situações aparentemente constrangedoras, quando esteve no Chile e na África. No Chile parece não haver problemas numa circunstância em que dois homens possam se dar as mãos. Na África, durante um passeio pelo campus de uma universidade, depois de uma conferência, viu-se diante de um embaraço. Um professor segurou as suas mãos enquanto ambos passeavam e conversavam descontraidamente. "Pedi a Deus para que alguém de Casa Amarela não nos visse naquela situação". Na primeira oportunidade, contava Paulo Freire, colocou as mãos no bolso, de onde não mais as tirou.

Eis que, antes de voltar ao Brasil, Paulo adoece, possivelmente vitimado por alguma dessas doenças tropicais. Humanamente muito bem tratado pelos médicos e enfermeiras africanos - que não se cansavam de pegar em suas mãos, acariciá-las e desejar-lhes melhoras - relembra. Depois desse episódio, observa em suas reflexões, concluiu que deveria haver alguma coisa de muito errado numa sociedade onde as pessoas se recusavam a receber uma manifestação de carinho - motivada por preconceito - traduzida num caloroso aperto de mão, num abraço fraterno.

A homenagem do blog ao patrono da educação brasileira. Paulo é daquela geração de 60, que poderia ter transformado o destino deste país e, quem sabe, até mesmo do continente latino-americano, pois suas reflexões teóricas se inserem numa perspectiva continental. Nossa elite torpe, consorciada com a banca internacional, impediu que contingentes expressivos da sociedade brasileira exercessem sua cidadania plena, posto que não alfabeizados. O Brasil ainda ostenta um dos maiores índices de analfabetismo do mundo, número que poderia ser sensivelmente reduzidos, caso as reformas de base fossem viabilizadas. Previa-se um amplo programa de alfabetização de adultos, aplicando-se o método de Paulo Freire. É curioso como este tema é negligenciado mesmo quando estamos sob a égide de governos progressista. São 10 milhões de analfabetos, com um recorte de gênero, raça e regional. Em sua maioria são mulheres, negras, de idade avançada, vivendo, em sua maioria nas regiões Norte e Nordeste do país.   

Editorial: O impasse entre os Poderes da República na CPMI dos Atos Antidemocráticos.

 


Os discursos ou narrativas proferidas durante o primeiro julgamento dos envolvidos nos atos golpistas de 08 de janeiro - assim como as penas aplicadas aos réus - dão o tom sobre como estão sendo construídas as narrativas em torno do assunto. Até mesmo os embates entre os juízes sugerem como aqueles atos estão sendo apreciados. Parece existir,por exemplo, uma tendência de aplicação de duras mais severas aos financiadores de tais eventos. Até mesmo os ataques vis à Suprema Corte indicam que os réus estão enroscados na própria trama, ou seja, ao invés de defenderem os seus constituídos, os advogados de defesa preferem centrar seus esforços batendo na tecla da teoria da conspiração.   

As narrativas, na realidade, seja do ponto de vista do Governo, seja do ponto de vista da Oposição, ja existem e estão consolidadas. O que estamos sugerindo aqui é que tais narrativas estão sendo submetidas às clivagens das provas arroladas pelos tribunais de julgamento, produzindo os ônus cabíveis àqueles atores que participaram dos intentos golpistas contra as nossas instituições democráticas. A corda está bastante esticada, mas nós já sabemos quem ganhará esse cabo de guerra, como se dizia nas nossas brincadeiras de infância nas saudosas tardes da Praça Monte Castelo. 

Por outro lado, esse cabo de guerra não deixa de produzir suas consequências ou malefícios republicanos, como no dia de hoje, 19, quando o STF, através do Ministro André Mendonça, determinou que o militar Osmar Crivelatti, auxiliar do tenente-coronel Mauro Cid na ajudância de ordens da Presidênfia da República, deixasse de comparecer à CPMI dos Atos Antimocráticos do 08 de janeiro, gerando um mal-estat generalizado entre os parlamentares. Esta já é a segunda vez que o STF toma uma decisões do gênero, criando-se um clima nada amistoso entre os Poderes Judiciário e Legislativo. O mais curioso é que não haveria precedentes neste sentido. 

Além de recorrer, o presidente da comissão, o Deputado Federal baiano Arthur Maia(UB-BA), já se prontificou a agendar um encontro com a Ministro Rosa Weber, que preside a Suprema Corte, no sentido de ajustar algumas questões, uma vez que, caso o procedimento de permitir a ausência do depoente torne-se a norma, prejudica enormemente os trabalhos da comissão. Pior que isso, gera uma grande dúvida até mesmo sobre as prerrogativas inerentes ao poder Legislativo, em particular as CPIs, algo que precisa ser imediatamente ajustado. O direito de permanecer em silêncio compreende-se. É constitucional. Já de não comparecer às audiências...

Editorial: A repercussão positiva do discurso de Lula na ONU.



Até recentemente, os escaninhos da política informavam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava à procura de um ghost writer, em meio às preocupações com as derrapadas recorrentes até então cometidas em suas falas. Precisaríamos apenas de alguns ajustes, mas já aprovamos o nome do novo ghost writer do presidente Lula. O Governo, como já foi noticiado, promove alguns ajustes nesta área, sempre nevrálgica, da comunicação institucional. Os bombardeios do outro lado são intensos, dispostos a encontrarem quaisquer deslizes que sejam cometidos para explorá-los através de suas plataformas sempre bastante azeitadas. 

Pior do que isso, apenas a constatação de que, se não encontrarem algo que possa ser explorado negativamente nessas falas, eles inventam, o que exige um sinal de alerta permanentemente ligado. Em sua passagem por Cuba, por exemplo, sobretudo naquele ambiente ou país, o presidente cometeu o equívoco - no nosso ponto de vista - de fazer referências à regulação das redes sociais. Fala que produziu uma repercussão negativa, como se já não bastasse, para provocar os bolsonaristas, a sua aproximação a uma "ditadura comunista", conforme se referem à ilha as ordas radicais de direita espalhadas nas redes sociais. A proposta de renegociação das dívidas de Cuba com o país, então, não precisamos sequer entrar nos detalhes. 

Em sua coluna no site UOl, o sempre antenado e arguto jornalista Josias de Souza, chama a nossa atenção para uma importância crucial dessas constantes viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao exterior: Recuperar a nossa estética, duramente castigada na Era Bolsonarista, quando o país chegou a ser adjetivado na condição de párea internacional, algo que não preocupava nenhum pouco ao ex-presidente. Se existem muitas críticas a essas viagens de Lula, podemos elencar aqui, através da observação do jornalista, um dos seus aspectos positivos.   

Charge! Benett via Folha de São Paulo.

 


segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Editorial: Momentos cruciais para a CPMI dos Atos Antidemocráticos do dia 08 de janeiro.



A previsão é que o relatório da CPMI dos Atos Antidemocráticos de 08 de janeiro seja entregue no dia 17 de outubro. Dentro de um mês, portanto. Não há clima para a prorrogação dos prazos de trabalho, em razão de inúmeros fatores, entre os quais o próprio desinteresse, tanto da situação quanto da oposição. A rigor, a rigor, nenhum dos lados está plenamente satisfeito com os rumos que os trabalhos tomaram. Se a oposição se queixa de falta de ressonância na condução das pautas e pleitos da agenda, os governistas lamentam que algumas decisões tomdas pelo Poder Judiciário esteja prejudicando a construção de um relatório mais consistente, com os indiciamentos daí decorrentes. 

Antes, uma delegada que trabalhava na inteligência da Secretatia de Segurança Pública do Distrito Federal deixou de ser ouvida em audiência pública por uma decisão de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Era uma pessoa crucial nas investigações que estão em curso, com a capacidade e a possibildade de amarrar alguns fios soltos. Se viessa a falar, naturalmente. Amanhã, terça-feira 19, poderia ser ouvido o candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Braga Netto, certamente um dos nomes mais importantes para os trabalhos da comissão. 

Por alguma razão, seu depoimento foi adiado para um outro momento. Na sessão de amanhã, será ouvido um ex-auxiliar do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, Osmar Crivelatti, outra peça-chave, que já entrou com pedido junto ao STF no sentido de não comparecer ou, se comparecer, usar de suas prerrogativas legais de se manter em silênco naquilo que o incrime, o que significa, em última análise, manter um silêncio sepulcral, uma vez que há muita subjetividade nessa premissa.  Detalhe: o pleito está sendo analisado pelo ministro André Mendonça. 

Editorial: As especulações em torno do futuro do Ministério da Justiça.

 



Depois que começaram as especulações em torno de uma eventual indicação do nome de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal, todos as hipóteses estão sendo lançadas em torno do futuro deste ministpério, assim como dos nomes que poderão ser indicados para substituir o titular na pasta. Com a precipitação de uma eventual indicação do titular para o STF, está ocorrendo uma verdadeira corrida pela disputa de indicação entre os aliados próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há várias possibilidades em estudo, a começar pela divisão da pasta em duas - Ministério da Justiça e Ministério da Segurança Pública - com simples ajuste internos, o que contemporizaria, inclusive, o PSB, que anda magoado com as últimas mudanças ministeriais. 

Por essa solução caseira, Ricardo Cappelli, atual Secretario-Exeutivo do Ministério da Justiça, assumiria a titularidade da pasta, enqaunto o Secretário Nacional de Segurança Pública, o pernambucano Tadeu Alencar, seria alçado à condição de ministro. Há, por outro lado, um grande lobby de setores organizados da sociedade civil no sentido de indicar uma mulher ao cargo. É preciso ter alguma cautela por aqui, uma vez que estamos tratando apenas de especulaçoes em torno do assunto. 

Como o jogo do poder é bruto, embora esteja realizando um grande e elogiável trabalho à frente daquela pasta - quem sabe exatamente por isso - Flávio Dino tornou-se o ministro mais popular do Governo Lula, suscitando as as ciumeiras internas em sua base mais próxima, embora ele nunca tenha aventado qualquer pretenção de postular-se como um sucessor do morubixaba petista.  

Editorial: Caixa Econômica de porteira fechada para o Centrão.


Durante uma entrevista concedida a um grande jornal, o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira(PP-AL), confirmou os detalhes de ajustes dos acordos políticos que estão sendo costurados entre o Centrão e o Governo Lula. Ao anunciar a minirreforma ministerial - mantida em banho maria durante meses - nenhum martelo foi batido em relação à Caixa Econômica Federal. Nos bastidores, no entanto, sabia-se que o banco entraria na cota do PP, consoante os acertos em andamento. Neste entrevista, Lira confirma que o PP ficará com a Presidência e mais 11 diretorias, que serão rateadas entre os integrantes do agrupamento político. 

É curioso que, geralmente reticente em fechar questões definitivas nesses acordos - sempre tratando-os como algo pontual e provisório, consoante as circunstâncias políticas específicas - Lira agora admite que o PP, de fato, poderá integrar a base do Governo, consoante esses últimos acertos. Ainda não se sabe se ele combinou com o senador Ciro Nogueira ao fazer tal afirmação. O dirigente da legenda já afirmou que o partido não irá integrar a base governista. Conversas com Lula ele só deseja em 2026, quando das próximas eleições presidenciais. Lula aposta no blefe, pois, segundo sua filosofia, nenhum político resiste a cargo. 

Nem precisamos aqui entrar nas "sutilezas" do que signifca entregar a presidência de um banco estatal para o Centrão. Que os contribuintes preparem os bolsos e o Governo, pos sua vez, assuma o ônus do desgaste político produzido com tal concessão. Esta conta do Governo com o Centrão é alguma coisa que não bate nunca. Já se especula sobre mais um desmembramento de ministério, o que elevaria seu número para 39, o mesmo da era Dilma Rousseff. A promessa sempre foi no sentido de reduzi-los.    

Editorial: As contas que não batem na Intervençao Federal no Rio de Janeiro.


Começamos a semana com notícias ruins sobre a malograda intervenção federal no Rio de Janeiro, determinada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Fontes policiais que investigam as maracutais nas prestações de contas, sugerem que havia uma verdadeira quadrilha operando nas licitações executadas, representando prejuízos gigantescos para os cofres públicos, através de desvios e malversação desses recursos. Assim, algo como os R$ 400 mil apenas com camarões, presunto parma, tortas holandesas, cream cheese e outras iguarias eram apenas a ponta do iceberg. E olha que estamos aqui elegendo apenas um recorte da avaliação dos resultados dessa Intervenção no estado do Rio de Janeira. Haveriam outras considerações ainda mais problemáticas.  

É curioso como a questão da moralidade pública foi uma das teses que sustentaram as narrativas do governo anterior, ancoradas no antipetismo. Tal narrativa deu suporte à ascendência de Jair Bolsonaro ao poder, em contraponto aos desgates produzidos na opinião pública pelos escândalos de corrupçao da Era Petista, como o Mensalão e o Petrolão. Mas, aos poucos, vai ficando tudo muito parecido ou, a rigor, nunca foram assim tão diferentes neste aspecto. Um dos principais nomes envolvidos nessas transações nebulosas, de caráter antirrepublicano, deverá ser ouvido nesta semana durante os trabalhos da CPMI dos Atos Antidemocráticos. 

A essa altura, seus advogados devem está tomando todas as providências jurídicas para que seu constituído permaneça em silêncio durante a audiência pública. Pelo papel estratégico desempenhado pelo cidadão na última gestão, existe uma grande expectativa em torno de tal audiência, mas o cara está tão encrencado que não surpreenderia que ele usa e abuse do direito de permanecer em silêncio. Pior do que isso só mesmo o pleito de sua defesa cair nas mãos de algum magistrado comprometido com o ancien régime e ele autorizar o seu não comparecimento. Acreditamos que não, uma vez que ficou muito feio da última vez.  

Editorial: Cozinha solidária do MST já entregou mais de 10 mil marmitas aos desabrigados das enchentes no Rio Grande do Sul.



Circula bastante nas redes sociais um vídeo onde o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS), faz uma visita à cozinha solidária do MST, na cidade de Encantado, que já preparou mais de 10 mil marmitas para socorrer os desabrigados das enchentes em regiões do estado. Esta cozinha, particular, está localizada na cidade de Encantado, mas a solidaridade do movimento se estende para outras praças do país, sempre que a situação impõe a necessidade de se prestar solidariedade aos que estão precisando. Trata-se de uma práxis de rotina do Movimento dos Sem Terra. Uma ação social que se insere no escopo das atividades do movimento, possivelmente não enxergada pelos membros da oposição que integram a CPI do MST. 

O governador Eduardo Leite, filiado ao PSDB, é, claramente, um nome de oposição ao Governo Lula, mas, em circunstâncias assim, as divergências políticas precisam ser deixadas de lado. As hordas bolsonaristas exploram como podem a ausência de Lula nas regiões do estado castigadas pelas enchentes, inclusive estabelecendo parâmetros comparativos em relação às auas viagens ao exterior, sempre consoante os exigências e compromissos do país nos fóruns mundiais. 

Quando o presidente retornar, será submetido a uma cirurgia que o deverá mantê-lo mais tempo por aqui. Recuperado, convém reconsiderar essas saídas recorrentes do país, alimentando a sanha da oposição. No caso do Rio Grande do Sul, ele já antecipou que não pretende visitar o estado, missão ja delegada e cumprida com brio pelo seu vice, Geraldo Alckmin, salvo melhor juízo, num final de semana, onde anunciou a liberação de recursos federais para atender às necessidades dos atingidos pelas enchentes. Na ocasião, foram divulgadas imagens mal-humoradas do governador - como sempre exploradas pelas mídias sociais - onde seria perfeitamente compreensível seu cansaço e abatimento diante da tragédia que se abateu sobre o estado por ele governado.  

Charge1 João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 17 de setembro de 2023

Editorial: Segundo pesquisa do Datafolha, 52% dos entrevistados consideram que Bolsonaro cometeu crime.



Na realidade, o acordo firmado entre a Polícia Federal e o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, tenente-coronel Mauro Cid, não recebe o nome de "delação", mas de colaboração premiada. Há diferenças sutis entre ambos os termos, mas o fato é que o ex-ajudante de ordens vem colaborando bastante com os investigadores da PF. Segundo o ex-auxiliar, Bolsonaro tinha conhecimento sobre as transações de venda das joias, assim como recebeu, em dinheiro, o montante arrecadado com a venda das mesmas. Somente o relógio Rolex teria sido avaliado em 300 mil reais. 

Diante de tantas evidências, ficou difícil convencer a população - à exceção, quem sabe, dos bolsonaristas mais radicais - de que o mito não se meteu, definitivamente, numa encrenca pesada. Inelegível, enredado como está, comenta-se que dirigentes da legenda à qual ele está filiado, o PL, reconsideram novas estratégias para a atuação política do ex-presidente daqui para frente. Mesmo inelegível, o cálculo é que ele poderia ser um grande capitão eleitoral nas eleições municipais de 2024. Pelo andar da carruagem jurídica, as previsões são sombrias até outubro de 2024.   

Uma eventual punição, ainda mais severa do que a inelegibilidade, já começa a fungar o cangote do bolsonarismo. Antes mesmo da colaboração do militar, a Polícia Federal já reunia elementos suficientes para dar prosseguimento aos inquéritos. Em todo caso, a colaboração foi muito bem-recebida, uma vez que pode ajustar alguns fios soltos. No próximo mês deverá ficar pronto o relatório da CPMI dos Atos Antidmocráticos. Pela disposição dos integrantes da base governista, vem chumbo-grosso por aí, possivelmente respingando sobre o ex-presidente e seus auxiliares diretos, dentre eles o próprio Mauro Cid.  

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 16 de setembro de 2023

Editorial: Lula em Cuba. Os ataques dos Bolsonaristas.



Não é preciso ser bolsonarista ou petista para compreendermos que a Ilha de Cuba não vive um bom momento, seja do ponto da vista da economia, seja do ponto de vista das liberdades individuais ou coletivas, um problema, aliás, inerante às experiências de socialismo real em todos os continentes do planeta. Antes de deixar o plano terrestre, o filósofo-político italiano Norberto Bobbio, já chamava a nossa atenção para o problema de se resolver a equação igualdade\liberdade sob a égide de um regime socialista. 

Nos últimos anos, algumas mobilizações de ruas foram veementemente repremidas pelo regime, assim como existem inúmeros presos políticos, acusados de contra-revolucionários. De fato, há problemas de abastecimentos de alguns itens básicos na ilha, em sua maioria como resultado do estrangulamento econômico imposto pelo embargo, que já dura mais de seis décadas. Como se sabe, Cuba exerce um verdadeiro fascínio na esquerda brasileira, desde as heróicas batalhas travadas pelo Movimento 26 de Julho, nas densas florestas da Sierra Maetra. 

O socialismo, ninguém tem dúvida sobre isso, trouxe grandes avanços sociais para o país, seja no que diz respeito à reforma agrária, na assistência à saúde da população, assim como em relação à educação, universal, gratuíta e de excelente qualidade. Um colega professor sempre nos chama muito a atenção para aquilo que seria a essência do projeto socialista: a segurança alimentar da poulaççao, que vivia à míngua antes da Revolução, enquanto uma elite privilegiada esbanjava nos cassinos.  Pode ser que não tenhamos por lá os itens que estavam listados nas licitações, sob suspeição, da Intervenção no Rio, como camarão, presunto parma ou torta holandesa, mas, certamente, teremos um pirãozinho com arroz, acompanhado de um suco de fruta e alguma proteína animal. Com um detalhe crucial: para todos.

As hordas de bolsonaristas espalhadas pelas redes sociais estão em polvorosa com a visita do presidente Lula àquele país. A reação só se compara à visita do presidente Nicolas Maduro, da Venezuela, à Brasília. Para incendiar o debate, Lula ainda foi infeliz em sua fala, ao se referir ao tema polêmico da regulamentação das redes sociais. Isso em discurso minuciosamente preparado por seus assessores. O governo não vai bem de comunicação, conforme enfatizamos no dia de ontem, o que talvez explique um pouco a perda de popularidade aferida pela pesquisa do Instituto Datafolha.    

Editorial: General Braga Netto na CPMI dos Atos Antidemocráticos.


A CPMI dos Atos Antidemocráticos do 08 de janeiro encontra-se em sua fase final. Se não ocorrer nenhuma prorrogação dos trabalhos, o seu relatório, sob a incumbência da senadora Eliziane Gama(PSD-MA), deve ser entregue no próximo mês de outubro. Certamente vão ficar algumas pendências, mas os prazos são exíguos e, pelo andar da carruagem política, nem a Oposição, muito menos o Governo, teriam interesse numa eventual dilatação desse prazo. Aliás, como informa o próprio presidente dos trabalhos, o Deputado Federal Arthur Maia, a comissão já iniciou os seus trabalhos usando todos os limites de tempo previsível. 

Fala-se, ainda, numa audiência e acareação envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e o seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, assim como os comandantes da Força Nacional, que devem uma explicação o porquê não agirem, na ocasião, para impedir a depredação do patrimônio público, uma vez que haviam pelotões convocados e estacionados em Brasília. Aqui, o debate tem sido muito a respeito das prerrogativas de ações dessas tropas, uma vez que convocadas por autoridades do Governo Federal. Segundo algumas avaliações, eles só poderiam agir sob comunicação prévia e anuência do Governo do Distrito Federal. Outras opiniões alegam haver uma autonomia para as forças agirem sem cumprir tal protocolo. 

A bomba da próxima semana, no entanto, fica mesmo para a presença do general Braga Netto, candidato a vice-presidente da República na chapa de Jair Bolsonaro. Bolsonarista convicto, existiriam indícios que poderiam ligar o militar às tessituras que culminaram com os atos do 08 de janeiro. A sessão promete ser uma das mais movimentadas da comissão.   

Editorial: Um curso de democracia para os bolsonaristas radicais. Temos vagas!

 


No dia de ontem, a imprensa e as redes sociais repercutiram uma notícia curiosa. A PGR estaria pensando em promover um cursinho de democracia para os bolsonaristas envolvidos nos atos antidemocráticos do 08 de janeiro. Como professor, só podemos considerar uma inicitiva das mais louváveis. Há algo de muito errado com essas hordas ensandecidas que saem às ruas ou acampam nos quartéis, se dizendo patriotas e democratas, ao tempo em que pedem uma intervenção militar, não acatando ou desrespeitando os resultados de um pleito legítimo, procedimento essencial numa democracia respresentativa. 

Trata-se de uma incongruência dos diabos, pois criticam as ditaduras comunistas, por um lado, mas pedem uma ditaduta para o país. A proposta da PGR vem no escopo de se oferecer o projeto pedagógico como alternativa no sentido de atenuar as encrencas jurídicas nas quais alguns deles estão metidos até o pescoço. Algo parecido com a redução de pena aplicada àqueles apenados que se propõem a ler nas unidades prisionais. Os bolsonaristas radicais, aliás, são muito suscetíveis a confusões teóricas. Eles já andaram embarcando nas teses furadas do seu mentor, que afirmou que o fascismo era uma ideologia de esquerda, o que rendeu muita tinta para provar o contrário. Oportuna a iniciativa da PGR. 

O mais desastroso de tudo é que essas narrativas bolsonaristas - aqui classificadas como insanas e estapafúrdias - acabam contaminando atores que, em princípio, deveriam se constituir em antídotos à sua propagação. Seja por sua formação sólida, seja pelos cargos estratégicos que ocupam na República, com um altíssimo poder de indução. Não vamos aqui entrar nos detalhes para não "melindrar", mas tenhamos dó dessa gente, que endossam a tese de que foi o Governo Lula quem orquestrou a tantitva de golpe de Estado do dia 08 de janeiro.  

Editorial: 16\09\1973. Victor Jara vive!



Num dia como hoje, em 1973, durante o Golpe de Estado no Chile, foi assassinado o cantor Victor Jara, cujas canções embalaram o sonho do povo chileno em torno de um projeto de governo socialista liderado por Salvador Allende. Victor Jara foi preso, torturado e morto por oficiais e soldados que cumpriam ordens da ditadura chilena, recém-instaurada no país, comandada pelo general Augusto Pinochet. Com o processo de redemocratização em curso, um dos soldados envolvidos cumpriu um papel fundamental no esclarecimento dos fatos envolvendo a sessão de tortura e morte, mas, mesmo em tais circunstâncias, seu principal algoz, um oficial conhecido como " Príncipe", nunca foi identificado. Assim que reconhecido entre os milhares de opositores detidos, o militar fez questão de comandar, pessoalmente, o processo de tortura atroz contra o cantor.

O grau de insanidade e perversidade dessas torturas é algo indescritível,dimensionando os cuidados que precisamos ter com seres humanos investidos de tal poder, cumprindo ordens explícitas de ditadores de turno ou mesmo interpretando, ao seu modo, as licenciosidades facultadas pelos regimes de exceção. Existe a suspeita de que, durante aqueles dias sombrios, militares brasileiros, sob os auspícios dos americanos, integravam uma "Escola do Terror", localizada no Panamá, onde eram instrutores de técnicas de tortura.  

As mãos de Victor Jara foram esmagadas a coronhadas e 42 tiros foram desferidos contra ele, num requinte de crueldade inominável. No Estádio Nacional do Chile, para onde outros prisioneiros foram conduzidos, logo após o Golpe de Estado, começaram as sessões de tortura contra o cantor, um dos símbolos da Revolução Socialista Chilena, abortada por um golpe de Estado urdido nos salões ovais. A tortura, no Estádio Nacional do Chile, contra o cantor se assemelha ao que ocorreu aqui no Recife, mais precisamente no bairro de Casa Forte, quando o líder comunista Gregório Bezerra foi torturado e escorraçado em praça pública, pisando no asfalto com os pés sangrando, submetidos que foram a produtos químicos corrosivos, usados em baterias de automóveis. 

Quem, irresponsavelmente, sae às ruas para pedir intervenção militar deve ter algum problema de ordem pessoal ou desconhece completamente a História. Talvez seja por isso que um órgão da República esteja sugerindo um curso de democracia para a essa gente. Quem sabe, assim, eles se tornam mais consequentes, meçam melhor suas atitudes, antes de seguirem ondas fascistas que depõem contra os alicerces básicos de uma democracia política. Do contrário, talvez a pedagogia das duras penas aplicadas aos infratores surtam algum efeito.   

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Editorial: Flávio Dino no Supremo Tribunal Federal. Será?


Alguns veículos de comunicação estão divulgando a informação de que o presidente Lula teria confidenciado a interlocutores a intenção de indicar o atual Ministro da Justiça, Flávio Dino, para a vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal. As especulações em torno do possível interesse do político maranhense em ser indicado para a pasta são recorrentes, desde o momento em que ele chegou à Esplanada dos Ministérios, embalado na vitória do petista, para a qual o amigo deu uma grande contribuição em seu estado.

O cargo estaria, segundo se especula, entre as aspirações do ministro. Até recentemente, porém, quando o assunto voltou a ser discutido, o ministro desconversou, informando que não haveria nenhuma conversa neste sentido, tampouco alguma demanda. O tempo passou e, hoje, as especulações continuam cada vez mais forte. Como Flávio Dino se tornou o ministro mais popular do Governo Lula, existem uma tietagem nas redes sociais em torno do assunto. Uns preferem que ele continue como Ministro da Justiça, onde vem realizando um excelente trabalho na pasta. Outros, sugerem que seria ótima a presença do ministro na Suprema Corte, atropelando, ao seu modo, os nomes indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Os tempos prometem uma polarização política até as próximas décadas. Segundo essa última pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, 29% se declaram petistas, enquanto 25% se colocam como bolsonaristas. 21% se posicionam como equidistantes, mas a gente sabe que acabam se posicionando em um dos polos em algum momento das disputas eleitorais, de onde se conclui por uma batalha inglória da chamada terceira via.     

Editorial: Nova pesquisa Datafolha sobre a avaliação do Governo Lula.


Preferimos fazer uma chamada de editorial menos comprometedora, mas, a rigor, o Governo Lula apresenta uma queda de popularidade neste último levantamenteo realizado pelo Instituto Datafolha, principalmente entre os estratos da classe média, onde crescem a rejeição ao seu Governo. O Governo Lula vem apanhando feio na guerra de comunicação e este fato, em si, pode ser o responsável pela perda de pontinhos preciosos no quesito avaliação. Há alguns dias atrás o Governo anunciou que iria reestruturar o seu staff de comunicação institucional digital. Alguns medidas estão sendo tomadas, mas ainda insuficientes para reverter tal situação. Talvez seja preciso um pouco mais de paciência para aguardar os seus resultados positivos,uma vez que a pesquisa do instituto foi realizada entre os dias 12 e 13 deste mês. Os bons resultados por aqui demoram um pouco a aparecer.  

Pelo lado da oposição, as trincheiras nunca foram desmontadas, seja através dos canais tradicionais da grande mídia, que não escondem suas indisposições com o Governo, seja através das redes bolsonaristas, sempre vigilantes, acompanhando algumas atitudes do Governo que possam inflamar as hordas, como as recorrentes viagens ao exterior ou aos polpudos investimentos na aquisição de uma nova aeronave presidencial. Todos os dias são replicados os gastos exorbitantes com essas viagens, sugerindo que talvez fosse o caso de reavaliar algumas posturas. Existem até cálculos afirmando que o mandatário não passa mais do que vinte dias no país antes da próxima viagem. Ontem, ele precisou adiar uma passagem aqui pelo Recife, onde anunciaria a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima. Voltou da Índia e já está indo para Cuba, uma ditadura comunista, conforme os bolsonaristas costumam se referir à ilha.

Em junho, segundo o mesmo instituto, Lula tinha 37% de avaliação e passou para 38% no último levantamento, variação dentro da margem de erro. Nesta mesma pesquisa, ele apresentava 21% de ruim e péssimo, quando agora apresenta 27%, fora da margem de erro, portanto, indicando um declínio de avaliação positiva. Entre um intervalo e outro da pesquisa do Datafolha, um outro instituto havia sinalizado para o mesmo resultado.  

Editorial: Dias difíceis para Jair Bolsonaro.



Muito se especulou sobre os termos desse acordo de delação premiada celebrado entre o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, tenente-coronel Mauro Cid, e a Polícia Federal. Houve até quem tenha se posicionado contra, conforme foi o caso da PGR. A princípio se pensou tratar-se de uma delação "seletiva", ou seja, o acordo envolvia apenas alguns dos casos investigados pela Polícia Federal. Mas, a julgar pelo que vem sendo divulgado pela imprensa, as excepcionalidades são mínimas, ou seja, o acordo é bastante amplo. 

Por outro lado, as pontas arramadas no STF, definindo, tipificando o que ocorreu em 08 de janeiro como uma tentativa de golpe de Estado, estipulando penas draconianas para os réus envolvidos, podem dá o tom da encrenca em que esses atores estão envolvidos, sendo prudente, neste caso, dizer logo tudo o que se sabe, singularizando o papel real de cada um nessa engrenagem. Até mesmo uma acareação entre o militar e o ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo prevista pela CPMI dos Atos Antidemocráticos. 

O presidente dos trabalhos, Deputado Federal Arthur Maia, já se mostrou reticente, mas disse que se submete às decisões do colegiada. O clima, como se sabe, não anda nada bom na comissão, depois de ter vazado um eventual encontro entre um assessor da relatora e o filho de um dos ouvidos durante os trabalhos, o general Gonçalves Dias. Assessores mais próximos dos ex-presidente estão preocupados com o seu futuro político, diante das bombásticas revelações como esta que está nas páginas da revista Veja desta semana, onde o ex-ajudante de ordens assegura que, de fato vendeu joias, que seriam do patrimônio da União, e entregou o dinheiro, em espécie, ao ex-presidente. 

Editorial: O "Príncipe" no Supremo Tribunal Federal.



Num dos capítulos do livro "O Processo", do escritor tcheco Franz Kafka, o personagem, senhor K, questiona a capacidade do advogado encarregado de sua defesa, por uma razão aparentemente simples: Ele não fazia as perguntas necessárias. No dia de ontem, por ocasião de uma defesa de réus envolvidos nos atos antidemocráticos do dia 08 de janeiro, tivemos o caso de um advogado que, muito provavelmente, nao estaria fazendo as leituras corretas. Em qualquer atividade, além das perguntas certas, se faz necessário ler bastante. Para um advogado, embasar o sustentar uma defesa exige-se bons argumentos, não raro, construídos a partir de leituras de diversos campos do conhecimento, como a Literatuta, a Filosofia, a Ciência Política, a História. 

O advogado de um dos réus confundiu ou trocou os "Príncipes" de Maquiavel e o de Antoine de Saint-Exupery. Num outro momento, querendo citar Pôncio Pilatos, ele se expressou com o nome de Afonso Pilatos, escorregão que subiu ao trendig topics de uma dessas redes sociais. Um outro advogado acabou se indispondo com membros da Suprema Corte, ao fazer a defesa do primeiro réu julgado, posteriormente condenado a 17 anos de prisão e pagamento de multas, condenação que vem produzindo grandes discussões dentro e fora do campo jurídico.  

Crimes tipificados e jurisprudência criada, a tendência é a pior possível para os réus envolvidos naqueles atos, na maioria dos casos, pessoas simples, impulsionadas pelas narrativas golpistas provenientes do bolsonarismo, que incitou o ódio a pessoas e instituições, ancoradas em pressupostos de teor fascista. Muitos, inadvertidamente, embarcaram nessa onda. Na Alemanha Nazista, as indisposições se davam até entre crianças alemães e crianças judias, dimensionando a periculosidade dessas narrativas de ódio. A troca dos "Príncipes" constitui-se apenas numa simples filigrana. Pouco coisa mudaria se ele tivesse acertado o "Príncipe" de Nicolau Maquiavel.   

Charge! Mor via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Editorial: Façam suas apostas. Os jogos de azar estão liberados.



Foi rápida a aprovação da liberação das apostas, até porque o Centrão tem interesse na receita desses jogos, notadamente da parte que caberá ao Ministério dos Esportes, recentemente assumido pelo deputado André Fufuca(PP-MA). Uma das razões para os Progressistas aceitarem o butim desse ministério dizia respeito exatamente a esse aporte de recursos. Embora haja uma resistência de sua agremiaçao política em assumir que entra na base de sustentação do Governo Lula, em certa medida pode-se dizer que o deputado André Fufuca representa o Centrão nessa engenharia política complicada. Por que complicada? Porque, como disse o jornalista Josias e Souza em sua coluna do UOL, Lula esconde o matrimônio com o Centrão. 

A cerimônia de posse dos novos integrantes do Governo foram discretas, sem a presença de figurões desse grupo político. E olha que essas negociações estão apenas no começo, se entendermos que o Governo não completou sequer um ano. Um outro grande complicador é que o Legislativo tornou-se mais independente do Poder Executivo. A margem de manobra do Centrão, então, em tais circunstâncias, é bem maior. Lula vai precisar utilizar toda a sua habilidade de negociação e capacidade de engolir sapos daqui para frente. Estamos apenas no começo desse casamento. É preciso, no mínimo, salvar as aparências para os amigos e familiares.

Fica claro, de imediato, que será impossível satisfazer as exigências do Centrão. As concessões de agora podem, inclusive, não significar muita coisa em termos da aprovação de projetos de interesse do Governo no Parlamento. A julgar pelos pronunciamentos dos dirigentes dessas agremiações - tanto do PP quanto dos Republicanos - nada assegura que seus comandados sigam a orientação do Governo.  

Editorial: A força das "narrativas'.



Sempre se aconselha tomar os cuidados necessários em torno das "narrativas'. Elas podem conter finalidades ou propósitos escusos, com o objetivo de se contrapor às verdades ou atingir adversários e desafetos. Nesses tempos bicudos, produzidos pelos ventos fascistas do bolsonarismo, então, essas narrativas ganharam um fôlego incomensurável, transformando mentiras em verdades absolutas e incontestáveis, utilizando-se dos recursos tecnológicos disponíveis. Reputações de pessoas e instituições foram jogadas na lata do lixo através desses expedientes abjetos, utilizados à exaustão.  

A gente sempre pensa que essas narrativas não chegam aos escalões mais escolarizados, mas isso é muito relativos porque, em grande parte, elas podem ser produzidas por esses estratos sociais. Evidente que a esponja é mais sensível no andar de baixo da pirâmide social, entre inúmeras razões. Nos dias de ontem e hoje, durante o julgamento dos réus envolvidos na tentativa de golpe perpetrada no dia 08 de janeiro, a julgar pela fala de alguns magistrados, é possível concebermos que essas narrativas chegaram ao alto escalão dos judiciário brasileiro, quando ministros se colocam - numa referência à tentativa de golpe contra as instituições da democracia brasileira - como um passeio no parque. 

Outra narrativa fantasiosa diz respeito à teoria conspiratória de que integrantes do Governo Lula poderiam ter participado de uma "armação'. Sabe-se lá com que propósito. O general Dutra, durante seu depoimento em audiência pública, no dia de hoje, 14, perante à CPMI dos Atos Antidemocráticos, tem sido bastante comedido e burocrático em suas respostas. Se havia uma grande expectativa do Governo em relação à sua audiência, podemos ter certeza de que ela será frustrada.  

Editorial: Ministro Cristiano Zanin acompanha o voto do ministro Alexandre de Moraes no julgamento dos réus do 08 de janeiro.



Pelo andar da carruagem jurídica, o caldo deve entornar para os envolvidos na frustrada tentativa de golpe de Estado do dia 08 de janeiro. Com a condenação do primeiro réu, cujo julgamento iniciou-se no dia de ontem, forma-se uma jurisprudência em torno do assunto, implicando numa provável condenação dos demais envolvidos, com crimes perfeitamente tipificados e penas definidas, além do pagamento de multas de ressarcimento ao erário, em razão da depredação de prédios públicos, fato ocorrido na sede dos Três Poderes da República. 

Depois do voto de ontem, do ministro Kássio Nunes Marques, na condição de revisor, sugerindo penas mais brandas, hoje,dia 14, formou-se uma grande expectativa em torno do voto do ministro Cristiano Zanin, recentemente nomeado pelo Governo Lula para aquela Corte. Os petistas mais radicais, autênticos ou ideologicamente orientados, por razões óbvias, gostariam que o indicado acompanhasse uma tendência de voto natural, consoante a pauta da esquerda. O voto dele, em oposição à descriminalização do uso de drogas, por exemplo, surpreendeu muita gente de esquerda, mas deve ser respeitado em nome de sua postura republicana e de suas convicções pessoais. 

Salvo os ministros indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, os demais membros da Corte devem acompanhar o voto do relator, o Ministro Alexandre de Moraes. Muito delicada a situação dos envolvidos nesses episódios, conduzidos, em alguns casos, por mensagens irresponsáveis, transmitidas através de ZAP, conduzidas por pessoas que sem nenhum comprimisso com as instituições democráticas do país.    

Editorial: General Gustavo Henrique Dutra na CPMI dos Atos Antidemocráticos do 08 de janeiro.



O general Gustavo Henrique Dutra presta depoimento, no dia de hoje, 14, na CPMI dos Atos Antidemocráticos de 08 de janeiro. O general era o comandante militar do Planalto durante as ocorrências daqueles episódios, constituindo-se, assim, um depoimento dos mais importantes para as conclusões dos trabalhos daquela comissão. Uma questão crucial aqui diz respeito à desmobilização dos acampamentos de bolsonaristas que estavam na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília, sob o seu comando. Integrantes da Polícia Militar do Distrito Federal reeiteram que ocorreram várias tentativas de desmobilização dos manifestantes, sempre esbarrando na proibição do Comando Militar do Planalto. Teriam ocorrido três tentativas da Polícia Militar do Distrito Federal neste sentido.  

Há vários depoimentos dos integrantes da PMDF confirmando essa narrativa. Outra questão diz respeito ao perfil dos manifestantes que se concentravam nas imediações do Quartel-General, também conhecido como Forte Apache. Havia, muito provavelmente, alguns inocentes úteis, mas, por outro lado, existiam golpistas e até terroristas, como mostram as fotos divulgadas pela relatora da comissão, a senadora Eliziane Gama(PSD-MA). Como a comissão já caminha para os seus arremates finais, possivelmente algumas contradições não poderão ser esclarecidas em sua plenitude. 

Até recentemente, uma determinção judicial concedeu o direito ao não comparecimento de uma testemunha-chave, que esteve no epicento daqueles episódios. Em princípio, não há nenhuma perspectiva de prorrogação dos trabalhos da CPMI dos Atos Antidemocráticos.  

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Editorial: Na posse de Sílvio Costa, o desapontamento de Márcio França.

Crédito da foto: Blog do Magno Martins. 


No escopo dos objetivos a que se propõe, não há muitas expectativas em relação a essa minirreforma administrativa do Governo Lula. À exceção do pernambucano Sílvio Costa Filho(Progressistas-PE), que assume o Ministério dos Portos e Aeroportos carregado de bons ventos, ainda no dia de ontem este editor leu alguns comentários com avaliações nada positivas acerca dos dois outros ministros recentemente nomeados, André Fufuca(Progressistas-MA) e Celso Sabino (UB-PA). Eles ocupam, respectivamente, as pastas dos Esportes e do Turismo. 

Soma-se a esse imbróglio, o jogo pesado do Centrão, eternamente insatisfeito com as concessãos do Governo. Repete-se aqui a máxima de uma avaliação de um filósofo francês sobre a situaçao Chilena: A direita nunca está satisfeita. Quanto mais o Governo cede, mas eles avançam. Em última análise, Lula poderia engendrar uma manobra política complicada, com o objetivo de apear Arthur Lira da Presidência da Câmara dos Deputados, o que não seria nada muito simples. Assim, talvez precise comer o mingau quente pelas beiradas até o final do seu governo. Isso numa avaliaççao otimista, porque, como aconselha o ditado popular,não se pode cutucar o diabo com vara curta. 

Sílvio Costa já entra no Governo comprando uma divergência cara aos Republicanos, ou seja, a privatizaçao do Porto de Santos, pleito do governador Tárcicio de Freitas, um dos caciques da legenda. Em algum momento das negociações com os Republicanos, a privatização do Porto de Santos chegou a ser cogitada como proposta para atrair a legenda. Neste caso em particular, demover as resistências do governador paulista. Aliás, Sílvio Costa assume, mas o partido já informou que ele entra sozinho, sem o aval da legenda, que permanece fora da base governista oficialmente.

Essa reforma de Lula se assemelha muito àquela prática rocorrente nos canteiros de obra da construção civil, envolvendo a transferência de areia de um ambiente para outro. Sempre fica um punhado em cada transferência. A foto acima é bastante ilustrativa. o Deputado Federal André Fufuca aparece com um sorriso forçado, ao passo que o ex-Ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, não demonstra disposição para fazer o sinal de positivo. Sabe-se que os socialistas não gostaram nenhum pouco dessas mudanças.