Fernando Henrique Cardoso e a presidente Dilma Rousseff já
foram mais gentis um com o outro. Numa demonstração de grande civilidade, FHC
foi convidado por Dilma ao Planalto, onde trocaram uns selinhos que
estremeceram os alicerces petistas. Fernando Henrique também fez declarações
afirmando que Dilma o teria surpreendido positivamente na condução do país.
Dilma nunca pediu satisfações ao partido quando precisou reconhecer os méritos
dos dois governos do tucano, mesmo que isso causasse urticárias nos petistas
mais enrustidos. Com o lançamento das candidaturas presidenciais, porém, as
farpas vieram de ambos os lados. Durante seminário tucano em Minas Gerais,
Fernando Henrique tascou o adjetivo de “ingrata” na presidente, afirmando que
ela havia “cuspido no prato que comeu”, numa alusão às pré-condições econômicas
obtidas no seu governo, que viabilizaram os amplos programas sociais da
coalizão petista. Também acusou o PT de ter usurpado os projetos sociais do seu
governo. É bom que se diga que a propalada “pavimentação econômica” tucano não
teria como objetivo minimizar os graves problemas sociais enfrentados pela
nação, mas preparar o país para a Alca. Se o Governo Lula tivesse embarcado
nessa canoa furada nós não apenas não teríamos realizado uma gigantesco
programa de segurança social, como, possivelmente, teríamos ido à bancarrota, a
exemplo dos países que seguiram o receituário de corte neoliberal à risca. Lula saiu em defesa de Dilma, afirmando que o ex-presidente precisava ficar calado. O PSDB continua mais enrascado do que nunca. Não consegue formular um discurso de contraposição ao PT, sobretudo em razão do enorme alcance social das políticas públicas de caráter inclusivo e de erradicação da pobreza dos petistas. Vão ficar remoendo em torno de si mesmos em 2014. Péssima largada.O PSDB especializou-se na demofobia.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
"O melhor cabo eleitoral do PT é a oposição", Elio Gaspari
O melhor cabo eleitoral do PT é a oposição
Anunciado como se pudesse vir a ser o discurso do então desconhecido companheiro Obama na convenção democrata de 2000, o grito de guerra do senador Aécio Neves foi um pronunciamento pedestre. Suas críticas à década petista têm alguma procedência, mas terminam caindo na armadilha de quem tem muitas opiniões sem que elas formem um ponto de vista. Viu o futuro no retrovisor. Se a exibição das contradições morais, políticas e econômicas do comissariado levasse a algum lugar, Lula não teria sido reeleito, muito menos colocado os postes Dilma Rousseff no Planalto e Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo.
O tucanato continua encantado pela crença segundo a qual se uma pessoa ficar com duas vezes mais raiva do PT, terá direito a dois votos nas próximas eleições. Só a falta de assunto explica o fato de os tucanos terem caído numa finta petista, aceitando uma antecipação precoce e descosturada da sucessão presidencial do ano que vem.
Tome-se o espaço que o senador dedicou à educação. Exatamente 21 palavras: "O governo herdou a universalização do ensino fundamental, mas foi incapaz de elevar o nível da qualidade na sala de aula". Médio. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, o Inep, em 2007 havia 7,1 milhões de crianças matriculadas na zona de mau ensino, com avaliações abaixo de 3,7 no Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico. Em 2011, esse número baixou para 1,9 milhão. Há tucanos que fazem melhor? Em Minas Gerais, com certeza. Em Alagoas, não.
Do outro lado da mesa estão as políticas sociais do governo. Se a oposição admitir que algumas delas funcionam, todo mundo lucra, sobretudo ela. Dois exemplos: o desempenho escolar das crianças beneficiadas pelo Bolsa Família e a discussão do estímulo à criação do turno único nas escolas.
A velha demofobia ensina que dar dinheiro a pobre é assistencialismo barato. No século 19 dizia-se que a abolição da escravatura estimularia o ócio e a embriaguez dos negros. Hoje há gente que acredita que o Bolsa Família remunera a preguiça da miséria e, como o ensino público é ruim, as crianças fogem das aulas ou, quando comparecem, não aprendem. É a ignorância a serviço da demofobia. Em 2011 a evasão escolar da meninada do programa no ensino básico da rede pública foi de 2,9%. Já a evasão no universo das escolas públicas, segundo o Censo Escolar, ficou em 3,2%. No desempenho, perderam de 86,3% a 83,9%. Indo-se para o ensino médio, a garotada do Bolsa Família fez melhor tanto no desempenho (79,9% x 75,2%) como na evasão (7,1 x 10,8%).
Enquanto a oposição mostra-se incapaz de erguer a bandeira do turno único, o governo correu atrás da expansão do tempo integral nas escolas onde a maioria dos alunos são beneficiados pelo Bolsa Família. Em 2010 havia 10 mil escolas públicas com esse regime. Nelas, só 2.869 (29%) tinham maioria de alunos cobertos pelo programa. Em 2012, as escolas com tempo integral triplicaram (32 mil) e 17.575 (54%) são frequentadas por crianças do Bolsa Família. Isso foi conseguido com recursos do Orçamento e parcerias com prefeitos. Nem um tostão federal foi gasto com tijolos, quadras de esporte ou salas para diretores. Muito menos com clipes publicitários ridículos.
E o mensalão? Pois é, pobre não sabe votar. Ou será que sabe, apesar do mensalão?
domingo, 24 de fevereiro de 2013
Zizek, a unanimidade e a esquerda radical, artigo de Roberto Robaina
O dramaturgo Nelson Rodrigues, que muito
nos mostrou a vida como ela é, já dizia que a unanimidade é burra. Este é
o espirito que acredito ser o mais convincente para se encarar os
debates públicos. É com ele que vale a pena assistir as conferências que
Slavoj Zizek vai proferir em Porto Alegre, São Paulo, Brasília e
Recife.
Por onde passa, Zizek atrai muita gente. Em menos de uma semana as
inscrições foram esgotadas. Esta busca, esta vontade de participar de
debates com um filósofo e psicanalista que escreveu sobre Lenin com
simpatia e que se proclama anticapitalista não é à toa. E vai além de
seu talento. A crise do capitalismo atual somente pode ser equiparada
com a crise dos anos 30. Depois de 50 anos de acumulação capitalista,
finalmente a máquina emperrou. Não quer dizer que a crise não seja
superada, mas a estagnação é um fato. E as dificuldades de um novo
período de longa acumulação estão evidentes. A ideia de colapso do
capital é real, embora, como várias vezes disse o mestre Lenin, não há
situações sem saída para o capitalismo.
Mas o que tem isso a ver com o filósofo que alguns querem que seja
apenas um pop star? É a velha questão da crise de direção revolucionária
definida por Leon Trotsky. Os reformistas de todos os tempos ficam
loucos quando falamos disso. Mas eles também diziam que estávamos
delirando quando dizíamos que a crise capitalista não era um fenômeno do
passado. Muito menos a crise de direção. A formulação mais universal e
precisa de tal crise é a ausência de alternativas anticapitalistas e
socialistas para a crise global que vivemos. Diante da ausência de
alternativas e da conversão em seu contrário de muitos partidos – é o
caso do PT*, que de um partido anticapitalista converteu-se na ideologia
do social-liberalismo – as pessoas que despertam diante das
contradições atuais do sistema, contradições cada vez mais graves,
buscam expressões que possam canalizar, nem que seja parcialmente, sua
indignação e sua vontade de construir algo novo sob o sol. Na ausência
de grandes debates partidários, um intelectual crítico começa a ser
encarado como uma instituição, e os lugares em que ele vai animam muitos
a ir lá conferir o que ele tem a dizer.
É certo que o próprio Zizek iria pular com esta explicação. Ele disse
recentemente em entrevista para o jornal Zero Hora que a crise do
capitalismo é apenas europeia. Sim, disse esta bobagem: a crise é
somente europeia. É claro que todos que leram os seus livros sabem que
ele escreveu coisas opostas a esta. Em seu Vivendo no fim dos tempos,
Zizek diz simplesmente assim: “ A premissa subjacente deste livro é
simples: o sistema capitalista global aproxima-se de um ponto zero
apocalíptico. Seus quatro cavaleiros do Apocalipse são a crise
ecológica, as consequências da revolução biogenética, os desequilíbrios
do próprio sistema (problemas de propriedade intelectual, a luta
vindoura por matéria prima, comida e água) e o crescimento explosivo das
divisões e exclusões sociais.” (Pg 12). Ainda bem que ele não disse
para esquecerem o que ele escreveu. Zizek, aliás, depois de jogar
algumas ilusões numa certa gestão de esquerda dos negócios capitalistas
diz que continua anticapitalista. Neste caso foi bom mesmo avisar.
Então, o fato é que todos nós precisamos de um debate profundo sobre
qual é o estado da situação e que perspectivas estão postas para quem
defende uma transformação estrutural da realidade. É incrível que um dos
lugares mais dinâmicos em que esta discussão está em curso é na Grécia.
Segundo Badiou, a ideia de Bem pensada por Platão na Grécia antiga tem
muito vínculo com a proposta comunista do século XXI. Badiou escreveu um
livro sobre Platão que ainda não está traduzido para o português onde
justamente faz uma releitura acerca das ideais de Platão precisamente
para construir e fortalecer as ideais comunistas. E corretamente diz que
é a possibilidade deste tipo de releitura que permite a eternidade de
uma obra. É o caso da República de Platão.
Entre os protagonistas atuais deste debate esta a coalizão da
esquerda radical Syriza. Eles não têm tudo resolvido – longe disso – nem
pregam a unanimidade – que é burra lá como aqui. Mas sempre é bom saber
que no país em que a crise do capitalismo está mostrando sua força
terrível e degradante, os trabalhadores e jovens estejam empenhados em
lutar por uma alternativa. Por sinal, no excelente livro de Zizek, “O
vivendo no fim dos tempos”, publicado em 2010, o barbudo de fala agitada
deu um chute para fora do gol tremendo quando falou da Grécia. Disse
que a “história da esquerda grega comprova mais uma vez a miséria da
esquerda contemporânea: não há conteúdo positivo em seu protesto, apenas
uma recusa generalizada de fazer concessões para defender o Estado de
bem-estar social”. (pg 347). Ufa! Quem conhece a história da esquerda
grega sabe que ela enfrentou o nazismo e golpes contrarrevolucionários
terríveis. Acho que não completou um ano e o próprio Zizek estava num
grande ato público defendendo o Syriza como um excelente exemplo de
esquerda. Lideres do PSOL como Luciana Genro estiveram também em Atenas,
junto com esta coalização da esquerda radical grega, entregando a eles
todo o nosso apoio. No caso de Zizek, embora tenha criticado uma
esquerda que se limite a defender apenas o bem estar social, acha um
grande progresso que o Brasil tenha o bolsa família como conquista. Aí
realmente não faz sentido.
Como todos perceberam, com Zizek estamos longe da unanimidade. Não
perdemos nunca de vista, porem, seus méritos extraordinários. Não apenas
em seus livros encontram-se ideias brilhantes no terreno da filosofia,
da psicanálise, do cinema e da política. Mas no terreno específico da
política sua popularidade e sua imensa capacidade intelectual tem
ajudado a despertar muita gente para as ideias da esquerda radical
(radical no sentido dado por Marx, de tomar as coisas pela raiz). Com
seu capital cultural, Zizek tem chamado a atenção para a obra de Lenin,
defendendo que este mestre da revolução seja resgatado. Temos esta
dívida como Zizek. Isso já foi dito por Alex Callinicos e creio que é um
reconhecimento justo.
* Zizek disse em sua entrevista a Zero Hora e seu livro acima citado
que Lula apenas corrompeu pequenos partidos. Talvez Zizek ignore que o
PT tem entre seus líderes não apenas corruptores, mas corruptos, entre
os quais estão consultores de grandes empresas capitalistas, como é o
caso dos ex-ministros (os todo poderoso) Palloci e José Dirceu.
Roberto Robaina é presidente da Fundação Lauro Campos.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Um pouco de Bobbio faria muito bem a Marina Silva.
A ausência de uma posição mais firme sobre se é ou não governo, se é de esquerda ou de direita vem contribuindo bastante para todo
tipo de especulações e associações sobre a ex-senadora Marina Silva. Marina já
foi acusada de defender as posições do Estado de Israel no conflito palestino, de
estar consorciada com os banqueiros do ITAÚ, que adota as mesmas cores da
rede-sustentatibilidade, o laranja, e tem sido generoso com a ex-senadora.
Consideramos que isso fragiliza a proposta da ex-senadora, na medida em que,
além de suscitar tantas especulações – provocando essas reações – ainda permite
a “diluição de uma identidade”, o que pode não ser muito interessante para a
futura legenda, que já nasce com o princípio da desconstrução do discurso mais
tradicional sobre partidos políticos. Grosso modo, a Rede vem recebendo adesões
muito mais à esquerda do espectro político o que, facilitaria, inclusive, uma
guinada no pêndulo da legenda. Não entendo as razões da senadora ao adotar essa
postura. Já que ela está lendo muito os trabalhos do sociólogo Manuel Castells,
ideólogo do grupo, talvez fosse o caso de o blog indicar para ela a leitura
de um livreto do filósofo político italiano, Norberto Bobbio, falecido até
recentemente. O livro tem como título “Esquerda e Direita”. Nele, Bobbio
disseca as razões pelas quais ainda é possível falar numa agenda de esquerda,
mesmo com o desmonte da experiência do socialismo realmente existente. Essa
agenda, segundo o filósofo, incluiria, inclusive, algumas teses muito
identificadas com os verdes, como a defesa de um modelo de desenvolvimento
sustentável; a ética na condução da coisa pública e um velho dilema, o da
construção de uma sociedade menos desigual. Quando assumiu a Fundação Joaquim
Nabuco, num de seus primeiros encontros com os funcionários, em razão da enorme
expectativa que se formava, fiz questões de inquirir o ex-ministro Fernando
Lyra – falecido recentemente – sobre alguns desses temas.
PSDB: Pelo andar da carruagem, Aécio joga a toalha.
No ritmo em que o PSDB se encontra, logo, logo o senador
Aécio Neves joga a tolha e faz uma composição com o governador Eduardo Campos.
Procedem algumas críticas dos tucanos em relação ao senador mineiro. Em alguns
momentos ele passa a impressão de que não se sente muito motivado para a
empreitada. Noutros momentos – com mais freqüência – é o próprio partido que
não lhes assegura as condições necessárias para que ele alce vôo. No último
final de semana, em entrevista a uma revista semanal, o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, conseguiu a proeza de não apenas habilitar-se às
disputas internas da agremiação, como trouxe consigo uma penca de possíveis
candidatos – todos os governadores do partido – além de José Serra. Isso mesmo.
Ele ressuscitou a figura mais emblemática da “fadiga de material” na
agremiação. Para completar o enredo, em seminário recente, ao invés do partido
lavar as roupas sujas com o detergente da “renovação”, um dos assuntos mais
comentados foi a possível candidatura do governador pernambucano, Eduardo
Campos, que possui um ótimo trânsito na legenda.
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