pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Mirian Dutra abre o quarto de despejo dos anos 90

Mirian Dutra abre o quarto de despejo dos anos 90

A cumplicidade entre o dinheiro, a soberba e a mídia contém uma atualidade demolidora. A mídia foge desse garimpo porque é parte indissociável da lama.

por: Saul Leblon

reprodução
Por que só agora que o PT está a um degrau do cadafalso?
 
A suspeição que o jornalismo tucano consegue balbuciar em meio às alvejantes declarações de Mirian Dutra sobre a parceria público privada para silenciá-la no governo FHC, carrega um efeito bumerangue demolidor.
 
Pode ser respondida com uma arguição.
 
‘Quem publicaria antes, a história que furou um cerco de 23 anos de obsequiosa cumplicidade da mídia brasileira com esses acontecimentos, para somente agora vir a público num relato demolidoramente crível? (‘Só eu tenho condições de levar este país’, dizia o príncipe à jovem plebeia, há um mês da conquista).


 
Mirian Dutra abriu o quartinho de despejo dos anos 90. E mostra o que tem lá dentro.
 
Sua fala carrega a credibilidade de quem –convencida ou conivente-- fez parte do acervo.
 
O que avulta nessa visitação retrospectiva  são os bastidores de um projeto de poder e de interesses que se blindaram para mudar a lógica do desenvolvimento brasileiro.
 
‘Coveiros do ciclo Vargas’ não era assim que se jactavam aos mercados?  Terceirizar o timão brasileiro ao mercado internacional requeria um método para vencer a travessia politicamente espinhosa.
 
O método, baseado num pacto granítico entre a mídia, os interesses afluentes e o vale tudo ético, é o que guarda o quartinho escuro escancarado agora.
 
Mirian, num dado momento, tornou-se um cisco no olho guloso do visionário do neo- renascimento bancado pelo capital financeiro global, e que se via como o Micheangelo Buonarroti  da Capela Cistina brasileira.
 
Foi preciso expurga-la. O que se fez com a mesma determinação ética e a coesão grupal dos interesses que se fundiram na travessia preconizada para o país.
 
Surpreende que a mídia isenta tenha fugido dessa personagem por 23 longos anos, dispensando-lhe  uma mordaça de silencio e dissimulação conivente?
 
Que veículo ou editor da chamada grande mídia teria bancado antes, e com o destaque merecido, a nova e demolidora entrevista concedida pela ex de Fernando Henrique Cardoso, neste final de semana, a um veículo alternativo?
 
Será necessário lembrar que na anterior, feita pela Folha de São Paulo, perguntas e nominações essenciais  envolvendo a mídia foram evitadas?
 
E que depois disso o veículo dos Frias –cumprida a formalidade das aparências— suprimiu o assunto da primeira página mostrando estranha inapetência investigativa diante de pautas que gritam?
 
Quais?
 
Por exemplo,  a história do jornalista lobista, já falecido, Fernando Lemos. Personagem expressivamente próximo de FHC, cunhado de Mirian Dutra, foi ele que mediou a participação da Brasif na operação para tirar Mirian do país e assim salvaguardar o tucano de constrangimentos na reeleição.
 
Lemos fez dinheiro no governo FHC com serviços de consultoria. Muito dinheiro. Participou do círculo estrito do poder que decidia inclusive as campanhas políticas de FH. Sua viúva,  Margrit Schmidt, segundo a própria irmã contou ao Diário do Centro do Mundo,  possui  ‘apartamentos, um terreno em Trancoso que vale  ‘um milhão’ e conta no Canadá’.
 
Mas ainda recebe recursos públicos como funcionária lotada no gabinete de José Serra, onde nunca comparece. Resquícios da ‘modernização’ das capitanias hereditárias pelo avanço neoliberal.
 
Eterno aspirante à presidência da República, Serra se declara  velho amigo e parceiro de ideias da funcionária-fantasma, que  brada contra a corrupção e a  ‘corja’  do PT’  no  facebook. Serra também é amigo muito próximo do pecuarista Jonas Barcellos, que bancou Mirian e ganhou rios de dinheiro com o monopólio dos freeshops no governo do PSDB.
 
Guarda esse tipo de álbum de recordações o quartinho de despejo dos anos 90 agora entreaberto, mas que a mídia quer lacrar e implodir.
 
A indiferença ética, o tráfico de influência e a lubrificação do dinheiro público a serviço do interesse particular condensados no episódio Mirian Dutra, não formam, como se vê, um ponto fora da curva  no modo tucano de governar as relações entre Estado e mercado; entre capitalismo e democracia, enfim, com papel subalterno ao segundo elemento da equação.
 
Se pouco disso transparece ainda no debate político, deve-se ao protagonista ubíquo dessa trama.  
 
A mídia figura como o grande Rasputin a coordenar os personagens desse ambiente farsesco em que as aparências não apenas são avalizadas, mas diretamente modeladas, conduzidas mesmo pelo poder midiático até a asfixiante rendição à narrativa pronta nas redações.
 
Ou Mirian Dutra não foi ‘induzida’ a dizer à Veja a frase para a qual Veja já tinha espaço, lugar e título, antes que a personagem soubesse que sua boca iria emiti-la?
 
Esse o paradigma da isenção que ordenava e ainda rege o sistema do monopólio emissor consolidado sob as asas do ciclo do PSDB na presidência do Brasil.
 
O maior conglomerado de comunicação do país e a principal revista semanal do mercado brasileiro –as Organizações Globo e a semanal Veja--   não apenas informaram um script conveniente à reeleição de FH.
 
Elas ajudaram ativamente a produzi-lo --a exemplo do que fez a Folha nos anos 70, quando cedeu carros à repressão.  
 
tour de force para despachar Mirian é só um exemplo em ponto pequeno do empenho que movimentou grandes massas de interesses para o ciclo privatizante que viria então.
 
Nenhuma delação extraída pelo método da chantagem coercitiva, tão bem manuseado pela República do Paraná, carrega a delicadeza convincente desse desabafo –ao que tudo indica apenas iniciado—de uma mulher que talvez não tenha mais nada a perder.
 
Recém demitida pela Globo, Mirian provavelmente perdeu também a mesada que recebia de FHC e viu a relação com o filho ser trincada pela intempestiva intervenção do tucano que –em troca de um DNA polêmico--  supriu Tomás com mesada própria, comprou-lhe um apartamento, pagou-lhe os estudos em caras universidades norte-americanas.
 
A mãe do filho que FHC lhe dizia que não poderia ter em seu nome decidiu agora reagir com o que tem de mais letal: a memória.
 
Mirian Dutra apenas começou a falar. Parece que tem muito a dizer: ’Serra eu conheço bem...’, cutucou de relance na última entrevista.
 
Desde o início desse episódio Carta Maior tem insistido em que as relações entre um homem e uma mulher formam um assunto privado.
 
Mas a participação da mídia, de concessionárias públicas, bancos estatais e paraísos fiscais no caso fazem dele um tema público.
 
Foi a cobiça  e a ganância econômica  que politizaram o encontro entre o sociólogo cinquentão e a jornalista jovem;  não o inverso.
 
A descrição impressionantemente crível, repita-se,  do método tucano que Mirian Dutra relata em detalhes dá materialidade a tudo o que o PSDB ora denuncia e atribui aos adversários, sobretudo ao PT.
 
É um revés de dimensões esfarelantes.
 
As revelações em conta gotas trazem um olhar de dentro do fastígio das elites no poder nos anos 90.
 
Um olhar de alguém que circulou nas vísceras do condomínio cristalizado na farra da privatização, quando se desferiu um dos mais virulentos ataques à luta pelo direito a um  desenvolvimento justo e soberano.
 
Conhece-se o custo contábil do desmanche patrimonial que fragilizou a capacidade articuladora do Estado e definhou a governabilidade democrática,  subordinada  desde então à supremacia dos capitais desregulados.
 
Abre-se  a possibilidade agora de se iluminar o interior da  engrenagem  rapinosa.
 
Não para produzir uma arqueologia do revide.
 
Não para se nivelar ao vale tudo dos que buscam aniquilar  as forças e lideranças empenhadas na reversão do desmonte para construir uma democracia social no coração da América Latina.
 
O que está em jogo não é o passado; é a urgência de se devolver esperança ao futuro.
 
O passo seguinte do desenvolvimento brasileiro enfrenta uma encruzilhada histórica. Um ciclo de crescimento se esgotou; outro precisa ser repactuado em novas bases.
 
Muitos dos personagens e interesses econômicos que atuaram no episódio Mirian Dutra –  FHC, Organizações Globo, Veja, Jorge Bornhausen, José Serra  etc—   compõem a linha de frente da ofensiva conservadora atual, determinada a retomar o poder, custe o que custar, para concluir o serviço  dos anos 90.
 
O mapeamento dessas peças do xadrez ganha luminosidade desconcertante nas revelações  de Mirian Dutra.
 
Elas permitem recompor a seta do tempo que une a lógica e a ética dos anos 90 ao projeto intrínseco ao golpismo em 2016 .
 
Detalhar essa cruzada é uma das tarefas  jornalísticas mais importantes do momento.
 
A ela se debruça Carta Maior na matéria  ‘Lei para Todos’, desta edição.
 
Estão radiografados ali  elos explícitos  e dissimulados.
 
É impressionante como os elementos se interligam e convergem, muitas vezes para um mesmo espaço: os paraísos fiscais:    FHC, Brasif, negócios e propriedades dos Marinhos, BNDES, lobistas, empresas de fachada, mansões, helicópteros e personagens referenciais da extrema direita brasileira, como Jorge Bornhausen.
 
O colunismo da indignação seletiva não fará esse garimpo do qual é a parte mais comprometida cascalho.
 
O ressentimento autoexplicativo de Eliane Cantanhede (‘ que sempre soube dessa história’, fuzilou Mirian Dutra) mostra como o jornalismo ‘isento’ sentiu o golpe de uma peça lateral do acervo, que mobilizou a parte graúda do tabuleiro para ser deslocada há 23 anos, e agora volta ao jogo revirando  a mesa.
 
Ao falar é como se Miriam gritasse: 'O Rei está nu'.
 
Não só ele, porém; toda a corte ao seu redor e, sobretudo, o seu projeto de volta ao poder.
 
Daí o alvoroço dos mensageiros do trono.

(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Michel Zaidan Filho: A carnavalização do mito

                           

 


Devemos a um conhecido estudioso da cultura de massas no Brasil a chave hermenêutica precisa para entender determinadas manifestações político-culturais em nosso país, em nosso Estado e a nossa cidade. Refiro-me ao uso da categoria estética do “grotesco”, associada pelo   russo Mikhail Bakhtin à “carnavalização” da cultura ocidental. Originalmente   empregada para no estudo da   cultura popular na Idade Média, especificamente a obra do   monge Rabelais, a poética do grotesco tornou-se uma espécie de cânone literário e estético de larga aceitação na   análise de outros contextos culturais distintos e distantes da límpida e elegante   linguagem   simbólica   da   cultura oficial  dos   bem-pensantes e bem comportados ou   socialmente  aceitos pelo asceticismo da tradição judaico-cristã  que  nos formou.

Segundo o crítico da cultura de massas, nada definiria   melhor a identidade do  brasileiro (e certamente do pernambucano e recifense) do que o carnaval, enquanto manifestação da estética do riso ou do grotesco. E o seu maior   intérprete teria sido, aliás, um pernambucano, Abelardo Barbosa (Chacrinha). Este seria o modelo, por excelência, da alma “brincante”, “lúdica” “bioenergética”  do   povo   brasileiro. O que o tornaria resistente às crises ou propenso a esquecê-las. Como diz a propaganda   da cerveja que patrocina  a  folia: “Crise? – que   crise?”. O carnaval, como estética do grotesco, é um rito de inversão simbólica que empodera “imaginariamente” os de baixo   contra os de cima, durante o   ciclo momesco .

Assim, não haveria nada mais   estranho do que a imagem de um carnaval organizado pelos poderes públicos como principal produto turístico a ser vendido a turistas e visitantes do mundo inteiro, sob a justificativa do “exótico”, do “diferente”, do “telúrico” ou “regional”. Que a tapioca de coco ou a batida de limão seja oferecida como a marca da nossa identidade cultural, entende-se. O carnaval, como rito de inversão, não pode e não deve ser transformado numa espécie de “ativo cultural” ou uma “vantagem civilizatória comparada”, destinada a fazer do Brasil o lugar da confraternização das raças.

Mais surpreendente é ver a folia transformada em altar, monumento ou consagração de notabilidades políticas de aldeia, com a participação de   familiares, apaniguados e clientes de toda espécie, para que depois possa ser usado em cartazes de campanha eleitoral antecipada, nas barbas da inerte e cega justiça eleitoral. Como a política de Pernambuco, com ou sem Ariano Suassuna, vem se tornando o palco de um espetáculo armorial, com rainhas, infante e um cordel de áulicos   sempre dispostos a aplaudir o espetáculo mambembe, talvez possamos aplicar aos políticos pernambucanos a categoria de “grotesco”, oriunda da poética do riso, da mofa, do escárnio ou da sátira. 

A política de Pernambuco hoje é objeto da carnavalização, no sentido mais preciso (e profundo) do termo. O sentido bizarro, grotesco, risível das nomeações pós-carnavalescas do   atual representante do Poder Executivo Estadual, só podem ser entendida no registro da política do grotesco e do risível. Pernambuco está sendo objeto de gozações e de riso no Brasil todo como uma espécie de reino armorial onde o seu mandatário (ou mandado) não governa, não administra, cumpre ordens dinásticas ditadas por eminências não tão pardas assim, que apresentam seus pedidos e são regiamente atendidas.

Mesmo quando essas medidas parecem contrariar os princípios mais comezinhos da impessoalidade, da moralidade, da legalidade, que caracterizam a administração republicana. Aqui a famosa tese dos cidadãos “superintegrados juridicamente” e dos “subintegrados” virou a tese dos filhos de algo (“fidalgos”) e a vala comum dos outros cidadãos de segunda categoria que estudam, trabalham duro, prestam concursos, não recebem salário condigno, mas são obrigados a pagar impostos para sustentar a vida nababesca dos primeiros.
             
Quando isto terá fim?

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários de da Democracia - NEEPD-UFPE


Operação esconde FHC e Globo

Operação esconde FHC e Globo

Por Renato RovaiFebruary 22, 2016 12:37
Operação esconde FHC e Globo
Hoje foi deflagrada uma nova etapa da Operação Lava Jato, denominada Acarajé. Entre as medidas, está a expedição do mandado de prisão do publicitário João Santana, responsável, entre outras campanhas, pela de Dilma Roussef à presidência.
Como de praxe, a operação teve todo suporte midiático que costuma ter. E com um personagem que chama a atenção. Assim, o caso envolvendo FHC e Globo já passa praticamente a segundo plano, sem ter sido tratado de forma decente pela mídia tradicional.
Na capa de Veja, mais uma vez Lula; de novo um factoide. Em outras semanais, nem um pio sobre o ex-presidente tucano. Ou sobre a Brasif. Ou, ainda, sobre a Globo, seu triplex, e o elo que a liga ao imbróglio FHC-Mirian Dutra.
Não é nenhuma novidade que a Lava Jato e mídia tradicional jogam juntas. Uma depende da outra. A primeira usa os vazamentos seletivos para conseguir seus objetivos de curto e longo prazo. A segunda tem seus alvos desde sempre (lembrem-se da confissão da presidenta da ANJ de que a mídia tradicional era a real “oposição” no Brasil).
Nada novo. Porém, agora a nova fase da Lava Jato também ajuda a tirar do noticiário um caso que envolve um ex-presidente da República e a poderosa Rede Globo, parceira de primeira hora de Sergio Moro, a quem já premiou como personalidade do ano.
Enquanto isso, diversas questões continuam sem resposta. Por que FHC usou a Brasif para fazer pagamentos a Mirian Dutra? Que tipo de relações a empresa, que foi concessionária do governo federal, tinha com sua gestão ou com governos tucanos?
A Globo também tem muito a explicar. Até porque pagou por quase 20 anos uma funcionária, segundo a mesma, para exilá-la. E para proteger o então presidente da República.
No momento em que isso deveria ser discutido, surge mais um episódio da Lava Jato. Cujo nome oficial é Acarajé, se bem que poderia ser denominada de Operação Esconde FHC ou Esconde Globo. Mas claro que isso é bobagem. O fato de o juiz Sergio Moro ganhar prêmio da Globo é algo absolutamente natural. Em qualquer lugar do mundo isso seria considerado natural…

(Publicado originalmente no Blog do Rovai, Revista Fórum)

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Pierre Bourdieu no Recife. Fará uma palestra na Prefeitura da Cidade, a convite de Geraldo Júlio.







Esse discurso falacioso dos socialistas tupiniquins sobre "Nova Política" e "Meritocracia", que não resiste às práticas cotidianas observadas na gestão, também está conduzindo seus operadores políticos à situações inusitadas, para não ferirmos a sensibilidade de nossos leitores. O rapaz que conduz a pasta à qual ficará subordinada a filha do ex-governador Eduardo Campos, na Prefeitura da Cidade do Recife, afirmou que ela foi conduzida ao cargo por exigência dos próprios companheiros de trabalhos, em virtude de sua competência. Indagado a esse respeito, pela reportagem do Jornal do Commércio, o prefeito Geraldo Júlio produziu uma frase que deverá entrar para o folclore político pernambucano: Isso acontece com milhares de jovens.

Um dos autores mais festejados quando se discute essas questões de desigualdades é o sociólogo francês, Pierre Bourdieu, ele mesmo vítima infame dela, por ter nascido numa província do interior da França, e ser de origem social fragilizada. Fez um esforço pessoal tremendo para se afirmar na academia parisiense, sabidamente um espaço social repleto de interdições. Superou todos os obstáculos e acabou sendo aceito no Collège de France, onde só entra a elite intelectual francesa, os melhores de sua área de atuação. Dizem que, por motivo de afirmação, escrevia muito difícil e era, pessoalmente, uma pessoa não muito afável. 

Suas idéias entraram no Brasil através das faculdades de educação, onde ele é um dos principais expoentes da teoria crítico-reprodutivista. Por isso mesmo, um dos seus livros mais conhecidos é "A Reprodução", onde traça um diagnóstico do sistema escolar francês, com espaços de fronteiras fechadas, destinados aos filhos da elite, e um outro sistema, para atender aos mais empobrecidos, reproduzindo as condições sociais, simbólicas e materiais de existência do indivíduo. Não é um livro de leitura fácil, mas o recomendaríamos ao senhor Geraldo Júlio. 

Até recentemente, tive o prazer de fazer um curso sobre ele, enfatizando outros aspectos de sua obra, como a construção social da hegemonia ou dominação masculina. Mas, tive o cuidado de avisar para ele pegar leve com essa gente do PSB. Apesar da suposta sólida formação na área de Exatas, eles precisam voltar aos bancos escolares para aprenderem lições sobre patrimonialismo, liberdade de expressão, Estado Democrático de Direito, nepotismo, familismo amoral além de outros conceitos básicos, mas fundamentais para uma boa condução da máquina pública.

Numa sociedade profundamente desigual como a nossa, Geraldo, é preciso ficar atento ao conceito de "capital simbólico", por exemplo, onde se ampliam as interdições do indivíduo num determinado espaço, que não são determinadas apenas pelas desigualdades econômicas, como desejava Marx. Ou seja, desigualdades sociais não decorreriam somente de desigualdades econômicas, mas também dos entraves causados, por exemplo, pelo déficit de capital cultural no acesso a bens simbólicos.

Portanto, Geraldo, a possibilidade de um indivíduo, de um pouco mais de 20 anos, nascido nos bairros alagados da periferia do Recife ou nos Alto da Foice ou do Capitão, começar a vida com um poupudo DAS, num cargo de chefia, são remotas. Remotíssimas. Aliás, se sobreviveu aos 20 anos, certamente, precisou comer o pão que o diabo amassou, usando transporte público com as dificuldades conhecidas, fazendo biscates ou subempregado. De onde você tirou essa expressão: Isso acontece com milhares de jovens. Talvez devesse explicar, com clareza, quem são esses jovens privilegiados pelo "habitus". 

Para mediar o debate, convidei o economista Marcelo Nery, ex-ministro e ex-presidente do IPEA, hoje na Fundação Getúlio Vargas. Ao lado de Márcio Pochmann, Nery é conhecido como um dos principais atores políticos identificados com as políticas de inclusão social dos governos de coalizão petista. Mas, a razão principal para o convite é a sua tese de doutoramento, onde ele discute o conjunto de oportunidades desiguais ofertadas aos que ocupam o topo da pirâmide social e os que ocupam o andar de baixo. Daria um bom debate. Não deixe de comparecer. É uma oportunidade única de rever os seus conceitos. Com essa visão seletiva e enviesada, logo se vê que não avançaremos muito em sua gestão. 






Dória e Matarazzo: o escárnio do PSDB

O líder do 'Cansei' ou o engenheiro de rampas anti-mendigo poderiam liderar as mudanças que a cidade de São Paulo requer?

por: Saul Leblon

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A qualidade do material político que o conservadorismo reserva à apreciação eleitoral de São Paulo antecipa, no plano municipal, a regressão embutida no eventual retorno do PSDB ao poder federal, em 2018.
 
É uma decorrência lógica.
 
Os nomes que disputam a vaga tucana nas eleições da capital paulista em outubro próximo, vinculam-se, respectivamente, às aspirações presidenciais de José Serra, de um lado, e às do governador Geraldo Alckmin, de outro.
 
Andrea Matarazzo e João Dória Jr são por assim dizer suas cabeças de ponte para o salto nacional.


 
Num extremo, a visão higienista e autoritária da questão social na mais pura tradição do ‘liberalismo’ quatrocentão; no outro, a contrapartida disso no plano econômico: a concepção do Estado como um estorvo do mercado e da sociedade.
 
Esses, os ingredientes que compõem a química dos dois lados –sendo também o substrato comum a Aécio Neves.
 
O que os distingue é a rivalidade interna dos currais e questões menores de estilo e circunstância.
 
Dória Jr, o pré-candidato do governador paulista, singulariza-se por uma assumida determinação de servir a cifrões, a partir de seis zeros.
 
Júnior traz no currículo sortida capacitação para serviços desfrutáveis pelo dinheiro grosso. Inclua-se desde a promoção de jantares políticos, a desfiles de pets de madames no refúgio de inverno da paulistada, em Campos de Jordão.
 
É dele a paternidade do movimento ‘Cansei’, por exemplo.
 
Uma espécie de antecessor das milícias criadas hoje pelos kins catupirys, o ’Cansei’ nasceu em 2007,  48 horas após o acidente com o avião da TAM que matou 199 pessoas em São Paulo.
 
Lula acabara de ser reeleito a contrapelo das esperanças conservadoras nos efeitos do julgamento do ‘mensalão’.
 
Aos olhos dos donos, o Brasil vivia o caos...
 
O pessoal das rodoviárias começara a frequentar aeroportos –‘voluntarismo populista’, fulminaria FHC a exibir as marcas de um ressentimento em carne viva.
 
O ‘caos aéreo’ era o grito de guerra do jornalismo que cevava futuras alas de batedores de panela.
 
O trágico acidente veio a calhar.
 
Sua causa real –erro humano-- só viria ser comprovada quatro anos depois, dando à precariedade da pista uma canal para a criminalização de Lula pelos punhos de renda.
 
Um desses burros de carga das tarefas  superiores chamou o então Presidente da República de assassino na primeira página de um veículo representativo da falta de escrúpulos  impressa.
 
Júnior enxergou a janela de oportunidade para servir.
 
Surgiu então o ‘Cansei’.
 
No auge, o movimento reuniu cinco mil dondocas e senhores de fina estampa na praça da Sé, com direito a hino nacional cantado por Agnaldo o Timóteo
 
Adiante.
 
A obra-prima, porém,  viria com a esperta criação de uma versão de Davos na ilha de Comandatuba, em simbiose com a revista Caras.
 
Nesse palanque tropical, de regularidade anual, regado a bom uísque, com grifes e milionários a ecoar o jogral do Brasil aos cacos,  economistas de bancos palestram para manchetes pré-combinadas: ‘o intervencionismo petista está acabano com o Brasil; só o arrocho salva o país do caos’.
 
Vender o patrimônio público  --‘privatizar tudo o que for possível’—é o slogan de Júnior na disputa interna do PSDB.
 
Faz todo sentido.
 
O que destoa um pouco é a pretensão de cravar sua candidatura com o slogan ‘João dos bairros’, na busca do eleitor das periferias.
 
A ver.
 
Seu rival, Andrea Matarazzo, apoiado por Serra & FHC, não deixa por menos na paradoxal trajetória do  algoz que aspira representar as vítimas.
 
Uma espécie de Maria Antonieta da questão social, Andrea ancora suas pretensões em comprovada perspicácia para lidar com o antagonismo entre sobras de gente e ‘ordem’ no espaço urbano.
 
‘Se não há bancos, eles poderão dormir na grama, é mais macio’, sentenciou nossa Maria Antonieta, a propósito das divisórias de ferro que mandou instalar em bancos públicos para inviabilizar o descanso dos moradores de rua –um dos destaques da sua atuação  na gestão Serra/Kassab.
 
Ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República no governo FHC, quando cevou o trânsito que tem hoje entre donos da mídia e seus editores de confiança, Matarazzo foi coletor de campanha de Serra e assumiu a prefeitura de São Paulo com o tucano em 2005 , no cargo de diretor regional da Sé. Quando Kassab sucedeu o prefeito, foi catapultado ao cargo estratégico de chefe de todas as regionais.
 
Deriva daí uma obra desabrida, batizada pelo Padre Lancelotti de ‘higienismo social’.
 
Destaque dessa modalidade foi a “rampa anti-mendigo’, um obstáculo de concreta áspero implantado pelo trio Serra/Kassab/Matarazzo em viadutos para impedir moradores de rua de dormir ou se proteger do frio e da chuva.
 
A faxina capitaneada por Matarazzo não ficou nisso.
 
Incluiu medidas pró-ativas, como a expulsão da cooperativa de catadores de Pinheiros. E um mutirão higienista com  disparos de jatos d’água em moradores de rua reincidentes e seus pertences.
 
A isso denominou-se de “revitalização do Centro de São Paulo”.
 
O trabalho teve uma perna estrutural com o encerramento das atividades de albergues tradicionais na região, como o Centro de Acolhida Jacareí, na Bela Vista, que abrigava até 400 pessoas e o Albergue São Francisco (no Glicério), o maior da área central, com vagas para 720 desabrigados por noite.
 
A substituição dessas estruturas de acolhimento por núcleos de convivência, sem espaço de pernoite, evidenciaria a esférica determinação de ‘resolver’ o problema da degradação social’ do centro paulistano, varrendo as sobras humanas para periferias invisíveis.
 
A solução ótica ganhou aplausos de uma elite que prefere pagar para não ver o problema do que contribuir para solucioná-lo.
 
O vassourão social empunhado por Matarazzo na gestão Serra/Kassab rendeu-lhe então o sugestivo apoio da revista ‘Veja’, que o consagrou com o merecido epíteto de “xerifão das subprefeituras”.
 
É dessa matéria prima que o PSDB pretende extrair uma candidatura vencedora em São Paulo, capaz de fazer da disputa municipal uma plataforma de voo para o posto máximo da nação, dois anos depois.
 
Uma tarefa dessa envergadura atribuída a personagens da qualidade de um Dória ou um Andrea suscita justificáveis apreensões com o que se reserva ao país na etapa seguinte do percurso.
 
O conjunto faz da eleição de outubro em São Paulo um divisor de águas.
 
A ideia de que uma metrópole capitalista possa ser administrada pelo livre curso dos interesses dominantes, como preconiza a lógica intrínseca a Dória e Andrea, é o que de mais próximo se pode conceber em termos de barbárie.
 
Quando esse conceito se aplica a uma mancha urbana como a de São Paulo, a sexta maior mancha urbana do planeta, com 12 milhões de habitantes –20 milhões somando-se a área metropolitana --  o resultado é o que se vê.
 
E o que se vê não se equaciona se não tiver como ponto de referência algo ontologicamente ausente do repertório político do PSDB do para a capital: democratizar o poder sobre a cidade.
 
São Paulo não pode mais ter  ‘zonas livres de democracia’, para usar a expressão feliz de Yanis Varoufakis, ou ela se tornará a mais pura e convulsiva  replicação do mercado.
 
Para que não seja uma réplica do capital em concreto, a São Paulo do século 21 precisa de uma dose maior de democracia do que apenas eleger  vereadores a cada quatro anos. Ou renovar regularmente o ocupante da cadeira do prefeito.
 
Ainda que isso seja importante, é insuficiente.
 
Durante quase toda a sua história, São Paulo foi administrada na contramão dessa lógica.
 
A urbanização caótica que a define é a mais perfeita expressão daquilo que os mercados são capazes de produzir, deixados ao próprio arbítrio.
 
Não existem panaceias para reverter esse processo.
 
De nada adianta zerar a tarifa, por exemplo, se o ônibus não anda, retido pela supremacia paralisante do automóvel –como ainda acontece em São Paulo, embora Haddad tenha iniciado uma corajosa ampliação de corredores e faixas exclusivas para ônibus.
 
Hoje a cidade tem mais de 350 quilômetros de faixas implantadas; a meta para os corredores está aquém dos 150 quilômetros previstos, mas a velocidade média dos ônibus em diferentes vias teve ganhos de 8% a quase 30%.
 
Ir além de forma ainda mais abrangente e acelerada não é uma escolha de natureza técnica.
 
Ela encerra apostas políticas que a cidadania deve ter o direito de avaliar e assumir.
 
A fatia do orçamento municipal que deve ser devolvida à população na forma de subsídios é uma das decisões a serem facultadas à decisão plebiscitária dos seus cidadãos.
 
De quanto deve ser, quais serviços deve contemplar  e para quem deve ir o subsídio são questões indissociáveis de uma São Paulo mais democrática, mais pluralista e participativa.
 
Quanto a cidadania se dispõe a adicionar ao IPTU para financiar a política de subsídios que essa transformação requer?
 
Hoje São Paulo subsidia R$ 1,90 em cada viagem de ônibus na cidade. Só 57% das viagens pagam tarifa cheia.
 
É possível e desejável ir além?
 
É esse um atalho capaz  de arremeter a democracia contra as muralhas da desigualdade erguidas pelo mercado?
 
Trata-se de uma escolha política, só concebível com a desconcentração do poder sobre a cidade.
 
Soa concebível que alguém com o perfil do idealizador do ‘Cansei’, ou o do ‘do engenheiro de rampas anti-mendigo, possa liderar uma travessia dessa envergadura?
 
Há vivos indícios que não.
 
Haddad assumiu uma prefeitura afogada em corrupção, com uma dívida que era o dobro da receita líquida – da qual 13% destinados ao pagamento de juros.
 
Conseguiu renegociar isso.
 
Ainda faltam recursos, porém, para criar a base financeira de uma regulação social que devolva a metrópole a seus cidadãos.
 
No final de 2013, centuriões do PSDB foram à Justiça e derrubaram a cobrança do IPTU progressivo proposto por Haddad.
 
A mídia conservadora deu legitimidade ao espírito separatista inscrito no  boicote a um orçamento de convergência social.
 
Como é possível construir uma cidade livre a partir dessa angulação excludente endossada por Dória Jr e Andrea Matarazzo ?
 
Não é possível e nem eles se propõem a isso.
 
Poucas capitais do mundo reúnem massa crítica equivalente a de São Paulo para imprimir uma nova referência na modulação do desenvolvimento brasileiro a partir do tripé de organização comunitária, administração plebiscitária, planos diretores participativos --  no transporte, no lazer, na educação e a na saúde.
 
Não se trata de substituir um déficit do ciclo petista no plano federal por um fetiche de 'participacionismo municipal’.
 
Trata-se de afrontar um déficit político.
 
Sem o qual será impossível resgatar a verdadeira dimensão daquilo que Henri Lefevbre denominou de o 'direito à cidade'.
 
Atribuir à folha corrida de Dória ou Andrea as credenciais para conduzir  essa transição é mais que temerário.
 
É um escárnio do PSDB.  E ele é ilustrativo do que se concebe para o país a partir do que se oferece a São Paulo.

(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

O xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife: Afinal, como vota o eleitor chikungunya?






José Luiz Gomes da Silva


É sempre muito complicado comentar a atuação dos órgãos de imprensa no Brasil, sem cair naquele conhecido maniqueísmo, o que não favorece uma avaliação mais isenta. No final, acaba-se sempre elegendo aqueles órgãos representantes da imprensa "golpista" - que, de fato, existem - e, de outro lado os blogs "sujos", aqueles que fazem a defesa do governo, acusados de receberem patrocínio para tal. Pontualmente, porém, aqui e ali, mesmo entre os ditos representantes do "PIG", é possível, sim, se ler uma matéria de fato jornalistica, para muito além da compra do barco realizada por Marisa Letícia; as 37 caixas de bebidas enviadas por Lula ao Sítio de Atibaia; ou a antena da OI instalada naquela propriedade. 

Li, por exemplo, imaginem os senhores, uma excelente matéria sobre a diminuição dos índices de violência no Estado de São Paulo. Se isso foi lido em jornais como a Folha de São Paulo ou O Estadão, logo se imagina que seria uma matéria laudatória, elogiando as políticas públicas do governador tucano Geraldo Alckmin. Qual não é nossa surpresa ao constatar que, ao ouvir o pesquisador, a diminuição desses índices é atribuída, pasmem, não ao aparelho de Estado, mas ao crime organizado em siglas como o PCC. Somente lendo a matéria vocês entenderão como o pesquisador chegou a essas conclusões.

Aqui na província, duas matérias recentes, uma do programa Fantástico, da Rede Globo, e outra do jornal Folha de São Paulo, deixou o staff socialista local apreensivo. Uma delas, a do Fantástico, seria sobre as obras de infraestrutura ainda inacabadas, previstas ainda para a realização da última Copa do Mundo. Esse enredo é bastante nebuloso, envolvendo questões como inversão de prioridades; denúncias de malversação de recursos públicos; gestão temerária e incompetente. A matéria deve respingar em pombas bastante emplumadas do ninho socialista, que hoje ocupam cargos relevantes na gestão da máquina pública estadual e municipal e pretendem, pelo visto, continuarem na vida pública. 

De acordo com investigações da Polícia Federal, na construção da Arena da Copa, foram desviados, através de uma quadrilha organizada envolvendo agentes públicos e privados, algo em torno de 42 milhões de reais. Por favor vão se entender com a Polícia Federal pois quem afirma isso é o órgão. Outro fato que chama a nossa atenção é o "zelo" das autoridades públicas estaduais em honrar os compromissos - hoje a conclusão é que foram danosos ao interesse público - com a construtora que ergueu aquele elefante branco. Contingencia-se recursos do programa "Chapéu de Palha" e até UPAS deixam de ser concluídas, mas não faltam recursos para este fim.

O preço a ser pago por tudo isso são os enormes problemas provocados pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti, como a Dengue, a Zica, a Chikungunya. Pernambuco lidera as estatística nacionais de casos de microcefalia, até segunda ordem, creditadas às complicações da Zica. A matéria do jornal Folha de São Paulo diz respeito às UPAS mantidas pela Prefeitura da Cidade do Recife, abarrotadas de pessoas esperando atendimento médico. Segundo a reportagem, passa das 10 horas, em média, para um paciente ser atendido numa dessas unidades. 

Hoje fica patente que perdemos anos no enfrentamento de problemas estruturais, como saneamento básico, por exemplo. Estimativas mais otimistas das autoridades sanitárias do pais calculam que estamos defasados em 50 anos neste quesito, ou seja, se passássemos a trabalhar, de fato, pelo bem-estar da população, somente em 05 décadas teríamos as condições ideais mínimas de enfrentar surtos como este. Todos os entes federados, como já afirmei outro dia, têm culpa no cartório. Se olharmos no retrovisor de nossa história política, muitos governantes serão mostrados: governos militares, PSDB, PT.

Em última análise, num horizonte próximo, nada nos assegura que chegaremos em outubro próximo em condições melhores do que a atual. Em situações como esta, quem está no comando da máquina paga um preço maior nas urnas. Com um provável agravamento desses problemas - num período de vacas magras, com enormes dificuldades de financiamento da máquina - sabe-se lá como o eleitor chikungunya reagirá nas urnas. 

Pelos jornais locais, sobretudo nos últimos dias, venho observando que a oposição vem marcando posições mais contundentes contra os governos socialistas, seja na Prefeitura do Recife, seja no Governo do Estado. Vem, pelo menos, demarcando posições num ano eleitoral, o que seria natural. Mas, ainda assim, observo que se trata de iniciativas pontuais, sobretudo entre os prováveis postulantes à cadeira de Geraldo Júlio no Palácio Antonio Farias, como é o caso de Priscila Krause(DEM), Sílvio Costa Filho(PTB), Edilson Silva (PSOL). Numa raia própria, posto que, a rigor, ainda não sonha com aquela cadeira, o vereador André Régis, entre os tucanos. 

A Deputada Priscila Krause gosta muito de números e, sempre que pode, mostra a fragilidade das contas públicas do Governo do Estado. Até recentemente, o Deputado Sílvio Costa Filho mostrou a precária condição em que se encontra alguns UPAS mantidas pela Prefeitura da Cidade do Recife. Quem anda com o capital político um pouco "chamuscado" é o dirigente do PSOL, Deputado Estadual Edilson Silva. Ainda é cedo para apontar as razões para isto, mas nos aparece que alguns equívocos do mandato, aliado a uma exposição demasiada, pode estar contribuindo para o fato.  

No geral, salvo as exceções, a oposição é fraca. A Casa de José Mariano, por exemplo, deixou de aprovar uma moção de desagravo ao professor Michel Zaidan, quando este foi vítima de um processo movido pelo governado Paulo Câmara(PSB), num típico delito de opinião. 


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Dilma esqueceu de levar o guarda-chuva






Conta-se que um determinado pastor convidou os fiéis para um retiro. O objetivo seria realizar uma forte oração com o propósito de que Deus enviasse chuva para região, há muito tempo castigada pela estiagem. Todos reunidos, orações fortes, e nada acontecia. As chuvas não vieram. Eis que, no final, alguém observou que nenhum dos fiéis portava guarda-chuva, sendo, portanto, num dizer bíblico, homens e mulheres de pouca fé. Isso talvez se aplique a esta última campanha do Governo Federal de combate ao mosquito Aedes Aegypit. A campanha foi apresentada como a "virada do jogo", o momento em que a população e o Estado, agindo em sinergia, venceriam a guerra contra o mosquito transmissor de doenças como a Dengue, A Zica e a Chikungunya. 

Não quero ser pessimista, mas todos sabem que as finanças públicas estão combalidas ou, para ser mais exato, o Estado está falido. Há uma enorme dificuldade de financiamento da máquina. Creio que todos os avanços sociais conquistados na Era Petista, com as políticas públicas de inclusão social, estão seriamente comprometidos. Ainda ontem li aqui algo sobre o corte de bolsas nas IFES, inclusive na nossa gloriosa UFPE, comprometendo a sequência de curso, atingindo alunos carentes. Para março, estão previstos novos cortes no Orçamento da União, a tabela do Imposto de Renda não é corrigida...o quadro é, de fato, cinzento. 

Dilma cumpriu apenas um rito, deu o exemplo que a população talvez esperasse de um governante. Arregaçou as mangas e entrou pessoalmente na campanha de combate ao mosquito. Neste quesito, talvez tenha contado com o empurrãozinho dos assessores de comunicação institucional do Planalto. Mas, sinceramente, assim como aqueles fiéis, não foi de guarda-chuva àquela favela do Rio de Janeiro, muito bem maquiada antes de sua visita. No dia seguinte, um domingo, em pronunciamento, nem tocou no assunto. Passou a defender o amigo Lula das acusações e difamações que lhes estão sendo imputadas.

Reportagem do Fantástico deixa o Palácio do Campo das Princesas apreensivo.





O reportagem do Programa Fantástico, da Rede Globo, desembarca em Pernambuco para realizar uma grande matéria sobre o "andamento" das obras de infraestrutura da última Copa, inclusive a Arena construída em São Lourenço. Segundo comenta-se nas coxias, o fato vem causando uma grande apreensão entre os socialistas tupiniquins. E há razão para isso, uma vez que existem problemas de toda ordem, além das denúncias de malversação de recursos públicos, já constatadas pela Polícia Federal. No auge da blindagem socialista, em momentos como este, os telefones da emissora já teriam sido acionados por um certo governador dos olhos verdes, que ligava para as redações, exigindo a cabeça do atrevido que ousasse criticar o seu governo.

Com a sua morte, e consequentemente a desintegração do grupo, hoje o processo está mais diluído, embora as primeiras páginas dos jornais locais ainda sejam reservadas pelo Governo, a preços altíssimos. A coisa seria bem mais simples se tivéssemos homens públicos sérios, preocupados com o bem-estar da população. Outro dia relembrávamos, aqui mesmo pelo blog, numa outra postagem, o descaso com a saúde da população. Segundo os especialistas na área de saneamento básico, o país precisaria de 50 anos de investimentos para atingirmos as condições sanitárias mínimas, o que nos permitiriam enfrentar endemias como a das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti. No retrovisor da história, uma legião de gestores, portanto, que deveriam ser cassados por não realizarem as funções precípuas para as quais foram eleitos, ou seja, tratar do bem-estar da população. 

Até recentemente, o Governo do Estado de Pernambuco, decidiu não concluir e colocar em funcionamento 05 UPAS, para honrar os compromissos assumidos pela construtora que ergueu o elefante branco denominado Arena da Copa. Para conhecermos os subterrâneos desses equívocos, governador, talvez nem precisássemos de uma matéria do Fantástico, transmitida em cadeia nacional. Até porque, a audiência da emissora do plim plim já foi bem melhor. Como não teremos solução a curto prazo para os problemas provocados pelas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti, convém colocar as barbas de molho, de olho em 2016 e 2018, quando, certamente, teremos os reflexos daquilo que começamos a chamar por aqui de "eleitor chikungunya".