pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 15 de março de 2014

De garis e entulhos racistas: quem varre o que?

De garis e entulhos racistas: quem varre o quê

O brasileiro tem vergonha de se demonstrar racista, mas está perdendo essa vergonha. O Brasil é tão racista quanto qualquer outro país. (Joel Rufino dos Santos)




Antigamente, a gente ia ao cinema para ver mais do que o filme. Dentro dos cinejornais, aguardávamos com ansiedade a hora do Canal 100. Numa época em que as televisões engatinhavam, com tecnologias a lenha, as imagens do Carlinhos Niemeyer nos permitiam quase entrar nos estádios, com closes espetaculares, detalhes impossíveis de captar com as paquidérmicas câmeras de TV.
 
E não se diga que a paixão rubro-negra do Carlinhos privilegiava o Mais Querido. Tudo ao som viciante do Na cadência do samba (Que bonito é/as bandeiras tremulando/a torcida delirando/vendo a rede balançar...). Na era romântica do futebol, o Canal 100 foi um banquete. Tudo devagar, sem essa incontinência digital, que está fazendo o planeta nadar em informação e patinar em ignorância. Dizem que, até 2020, a produção de dados no mundo dobrará a cada dois anos. A criançada está cada vez mais conectada em máquinas e mais carente de contatos e conversas. Um psicólogo que escreveu sobre o assunto disse que já tinha visto um garoto escrevendo uma mensagem enquanto andava de bicicleta. Não é por nada não, mas isso é uma definição precisa de filme de terror, que as novas gerações já estão protagonizando. Eu, hein, Rosa?
 
Voltando à vaca fria. Inspirado em velhos cinejornais, escolho dois assuntos para exibir à distinta plateia. Não são tão voláteis quanto as inaugurações de estradas e os concursos de miss, arroz de festa das Atualidades Atlântida. O primeiro, se me permitem o bairrismo, foi a greve de garis no Rio. Em meio a declarações policialescas do prefeito Paes, nada espantosas na praia do engomado alcaide, creio que há algumas questões subterrâneas, estruturais, que merecem um olhar menos enviesado. Vamos a elas.
 
Antes de mais nada, o nível de desrespeito ao espaço público no Rio é descomunal. Não se trata apenas dos porcalhões, que, como o prefeito Paes, jogam restos de tudo no chão. Trafegar em automóveis nos acostamentos das estradas e nas faixas seletivas exclusivas de transportes coletivos, caminhar em ciclovias, pedalar em áreas de lazer restritas a pedestres, fumar e ouvir música em ônibus, estacionar em locais proibidos, pagar propina ao guarda de trânsito, pedir ao motorista de ônibus para dar um “jeitinho” e parar fora do ponto. São tantas as “pequenas” delinquências diárias que sumiram as fronteiras para elas se expandirem. Estamos em pleno vale tudo. Muitos cariocas, muitíssimos aliás, se julgam  ixpertos, quando, em realidade, não passam de agentes conscientes da destruição da cidade. O que parece uma escala molecular, evolui em ondas e resulta numa convivência irrespirável. Neste contexto, reclamar do lixo acumulado durante uma greve pode parecer legítimo, mas não passa de ruído da multidão que tem enorme telhado de vidro.
 
Também me chamou a atenção um aspecto hipocritamente ignorado pelos meios de comunicação: as péssimas condições de trabalho dos garis. Ganhando menos de dois salários mínimos mensais, muitos deles são obrigados a inalar permanentemente lixo orgânico em decomposição, sem qualquer equipamento de proteção. Não há adicional de insalubridade que compense esta alimentação involuntária. Sim, alimentação. Tive um professor na faculdade que demonstrou que, ao cheirarmos, nosso organismo reage como durante o processo de ingestão de alimentos. Os garis comem, literalmente, porcaria.
 
São esses os trabalhadores que jornalistas inidôneos pediam, aos gritos, que voltassem logo ao trabalho, sem dar a eles o direito de defenderem suas reivindicações. Uma cobertura desprezível, patronal, de uma greve com aspectos complexos. Deu-se a palavra ao presidente da Comlurb e ao alcaide. O microfone e os monitores, no entanto, foram negados às lideranças grevistas. Qual foi o jornalista que pautou, por exemplo, uma reportagem sobre a rotina dos garis, para mostrar à população os que estavam sendo forçados a cruzar os braços, ameaçados de demissão?
 
Apesar de serem concessões públicas, os canais de televisão se comportaram, como de praxe, como braço intelectual da ideologia privada. O direito à informação abrangente foi sonegado.
 
Quando dois sindicatos, o dos petroleiros e o dos professores, hipotecaram solidariedade ativa aos grevistas, veio a tradicional reação pavloviana: estão politizando o movimento! Parece um déjà-vu da época da ditadura civil-militar. Política é crime, já diria o célebre filósofo-de-quepe Newton Cruz, o Nini de sei-lá-quantas estrelas. Ora, bolas, por que a burguesia pode internacionalizar-se, organizar-se horizontal e verticalmente, constituir organismos de autoproteção globalizados, e os trabalhadores devem restringir-se aos limites de suas categorias profissionais? Mais uma vez, a mídia reverbera, muito mais do que um preconceito, os imperativos de classe dos patrões.
 
Por fim, a greve atualizou uma velha questão do movimento sindical, abordada com propriedade por Lenin em Esquerdismo: a doença infantil do comunismo. O que fazer quando um sindicato se fossiliza e deixa de representar os interesses dos trabalhadores? Historicamente, se apresentavam duas alternativas. A primeira, tentadora, era abandonar o sindicato e trabalhar exclusivamente por fora da institucionalidade (o que Lenin criticava). A segunda impunha a luta dentro do aparato legal, único reconhecido pelos trabalhadores em condições não revolucionárias. Os garis que divergiram da direção sindical conseguiram uma importante vitória ao serem reconhecidos como interlocutores na negociação com a prefeitura. Agora, enfrentarão o dilema: conquistam o sindicato pelego e mudam sua orientação ou criam uma estrutura paralela? Qual será a melhor forma de organizar a massa de garis?
 
Passo ao segundo assunto. Desde moleque ouço dizer que o Brasil não é racista, que os casos detectados são isolados, que aqui a discriminação racial não sentou praça. Como se já não existissem provas fartas de que isso não passa de uma perigosa bobagem, agora vem o futebol para confeitar o bolo venenoso. Em poucos dias, um juiz e um jogador foram insultados por idiotas racistas. Não faz muito, um jogador do Cruzeiro foi vítima de racismo no Peru. Será uma escalada? O ódio racial nos estádios brasileiros terá saído do armário ? Difícil dizer. Como o futebol tem raízes fundas no imaginário brasileiro e, bem ou mal, reflete o que somos, cabe dar um trato na matéria.
 
A exclusão social, que, não raro, se confunde com vários preconceitos, está na origem do futebol no Brasil.
 
Em São Paulo, os primeiros times foram todos compostos pela elite branca, especialmente os oriundos das colônias inglesa e alemã. Quando o povo começou a organizar suas peladas em várzeas e pensou em aderir a uma proposta liga metropolitana, os clubes dos abonados se recusaram a misturar-se com os “canelas negras”, como desdenhosamente chamavam os varzeanos.
 
No Rio de Janeiro, há o caso da torcida do Fluminense. Em 1914, um século pois, chegou ao clube um jogador do América. Negro. Temeroso da reação dos torcedores, gente de nariz empinado, cobriu-se com pó de arroz para disfarçar a cor de sua pele. Foi só com muita luta que essas barreiras foram rompidas. Como, aliás, acontece com todas as causas populares.
 
Dos episódios recentes, sobram muitas constatações e perguntas. Os técnicos, mal chamados de “professores”, se omitem. A exceção é Muricy Ramalho. Felipão prefere distância indecente dos acontecimentos, achando que melhor é ignorar o racismo. Os cartolas fingem indignação, mas a revolta fica na retórica vazia de sempre. Os jogadores, sem lideranças reconhecidas e totalmente despolitizados (onde está o Bom Senso F. C. ?), vão a reboque dos acontecimentos.
 
Se tivessem um pouco de organização, não esperariam pelas nunca tomadas providências e se recusariam a continuar os torneios enquanto não se punissem as ofensas. Yaya Touré, da seleção de Costa do Marfim, propôs que os jogadores negros boicotem a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, por conta do racismo de torcidas locais. Será que isso não devia valer para qualquer país? Não se combate a intolerância racial com bons modos. No país da Copa das Copas (sic), este não é um assunto menor.
 
Abraço.

Jacques Gruman, no Portal Carta Maior

sexta-feira, 14 de março de 2014

Lula: pobre pode cursar universidade. E isso incomoda.


Presidente esteve no Paraná em encontro com a militância paranaense


Conversa Afiada reproduz texto do Instituto Lula:


“SE FIZEMOS NO BRASIL, PORQUE NÃO PODEMOS FAZER AQUI NO PARANÁ?”, DESTACA SENADORA GLEISI HOFFMANN EM ENCONTRO NO PARANÁ



“Se fizemos no Brasil, porque não podemos fazer aqui no Paraná?”, questionou a senadora e ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, na noite desta sexta-feira (14), em Curitiba. Ela esteve ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de diversas lideranças estaduais em um encontro com a militância paranaense.

Gleisi, que é a primeira mulher a ser senadora no Paraná, se dirigiu especialmente aos jovens e às mulheres. “Quem dizia que iríamos ter sete milhões de universitários? Aliás, diziam que não podíamos mais abrir cursos universitários e que filho de pobre não podia ter curso superior”, destacou.

A senadora ressaltou o papel crucial que as mulheres têm hoje no desenvolvimento do nosso país e as diversas políticas implementadas pelo governo nesta área. Ela lembrou especialmente do reconhecimento da profissão das donas de casa, que agora têm direito a aposentadoria. “Diziam que o Estado não tinha recursos, mas não tinha era vontade política”.

Lula também falou do papel da mulher e ressaltou que a presidenta Dilma enfrenta um grande preconceito por ser a primeira mulher presidenta do Brasil. “Muitas vezes dizem que a Dilma é brava, mas ela está tendo sucesso em um lugar que é historicamente de homens. Tem que ser brava mesmo”, destacou.

Ele ressaltou que muito do incômodo que algumas pessoas têm com o governo petista é fruto das realizações feitas. “Nós criamos universidades, o Prouni, o Fies, o Ciência sem Fronteiras, isso incomoda. Uma filha de empregada doméstica pode cursar uma universidade federal”. O ex-presidente ressaltou que nos últimos anos foi possível provar que “os pobres deixaram de ser problema e viraram solução”.

Também estiveram presentes ao encontro o ministro das comunicações, Paulo Bernardo, o presidente estadual do PT, Enio Verri, presidentes de partidos aliados, além de prefeitos e parlamentares de partidos aliados.




Clique aqui para ler “Wanderley: os avanços são as respostas aos questionamentos”

Aqui para 
“Lula aos brasileiros: rumo à marcha para a vitória !”

E aqui para “Gleisi chama FHC às falas”


Em tempo: Do Blog do Planalto:

GOVERNO TORNOU PRIORITÁRIA A CONSTRUÇÃO DE CASAS PARA QUEM MAIS PRECISA, AFIRMA DILMA



A presidenta Dilma Rousseff afirmou, nesta sexta-feira (14), durante entrega de 1.788 unidades habitacionais em Araguaína (TO), que tem orgulho do programa Minha Casa Minha Vida por tornar a casa própria um direito de todos. Segundo Dilma, o governo retirou de seu orçamento os recursos para construir moradias para as pessoas que mais precisam.

“Me alegra muito ver que o Brasil de hoje é bem diferente daquele Brasil do passado, aquele Brasil em que a casa própria era privilégio de alguns, e hoje é direito de todos. (…) Estar recebendo essas casas, portanto, é um ato de cidadania, é porque cada de vocês, cada uma das mulheres e dos homens aqui presentes são cidadãos de um país que reconhece o direito do povo brasileiro a ser o grande beneficiário do crescimento do país”, afirmou.

(Publicado originalmente no Conversa Afiada)

Praia Del Chifre: Quero curtir!

Motivada pela postagem de um internauta, voltou o debate sobre a praia Del Chifre, entre Recife e Olinda. Trata-de uma praia bem-localizada, muito bonita, mas entregue à própria sorte. Abandonada, é frequentada apenas por alguns poucos surfistas que, dizem, é ótima para essa prática de esporte. Próxima a uma favela, praticamente não há acesso à praia, exceto pela favela do Maruim. Conforme comentei pela manhã, há um projeto grandioso para aquela área, onde prevê-se a construção de alguns espigões - o que desaprovamos - requalificação da praia, articulação com o Espaço Ciência, Classic Hall, Shopping Tacaruna, Fábrica Tacaruna, Centro de Convenções. Uma das vias que cortam aquela área seriam interditadas, restando apenas uma via de acesso à Agamenon Magalhães. Seria uma espécie de um novo Aterro do Flamengo. A ideia é boa, merece ser discutida. Apenas o Rio Beberibe está em obras, mas, segundo sabemos, trata-se de um projeto de navegabilidade. Algo que traz um certo alento é a construção de uma ciclovia, sabe-se, já acertada com entre as Prefeituras de Olinda e Recife. Sugiro aqui uma proposta de retomada do debate sobre a utilização da praia Del Chifre: #querocurtirapraiadelchifre

Tijolaço: A Folha pegou Dudu com o "seu" Duda e o Lalá de FHC, mas o Duda, mesmo, rodou. Ou não?

14 de março de 2014 | 09:07 Autor: Fernando Brito
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E a Folha partiu para cima do Eduardo Campos, que  coisa, hein?
Depois de publicar, ontem, matéria sobre a licitação milionária do Governo de Pernambuco, que aumentou para R$ 100 milhões (eram R$ 50 milhões até 2012) a verba de publicidade do Estado, hoje veio de editorial sobre o caso.
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E vem dizendo que “quem não aguenta mais” é o contribuinte sustentar esquemas de publicidade da candidatura do pernambucano.
Mas a Folha pega o assunto pela metade.
Porque a confusão do título é mesmo a confusão da rede de negócios montada com as verbas de publicidade do Governo do Estado e da Prefeitura do Recife, sob o comando do “duduísta” Geraldo Júlio, aquele dos camarotes com banheiros imperiais.
A agência Link/Bagg, do marqueteiro histórico de Dudu, o publicitário Edson Barbosa, leva metade do bolo.
Mas há outra fatia gorda, de R$ 25 milhões para a empresa Blackninja, do sociólogo Antonio Lavareda, ex-guru de Fernando Henrique Cardoso.
Só que o nome da Blackninja é DM-Blackninja.
Adivinhou de quem é o DM?
Dele mesmo, Duda Mendonça.
Que, mês passado, saiu misteriosamente da empresa.
Depois de ter, segundo a Veja, levado um “não” ao seu desejo de ser o marqueteiro de Aécio Neves e de Eduardo Campos.
Agora vem este editorial da Folha, estranhíssimo, dando até uma “pegadinha”  nos gastos de propaganda de Geraldo Alckmin.
Como diria aquele personagem da televisão: “nada é fruto do acaso…”
O maravilhoso mundo do jornalismo empresarial e da publicidade é igual aquela famosa  história sobre a  fabricação das salsichas…
E o mais engraçado é que nós é que somos os “”blogueiros sujos”…

Fernando Brito, no site Tijolaço

O mensalão de Eduardo Campos


 
Me perdoem por apelar para um título tão sensacionalista, mas não resisti. Peço também desculpas aos estrategistas da campanha de Eduardo Campos pelo susto.
O título me veio à mente assim que li matéria de Bernardo Mello Franco, na Folha, informando que “a menos de um mês de deixar o cargo para se lançar à presidência, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, está concluindo uma licitação de R$ 100 milhões em propaganda”.
Segundo a matéria, o valor será o maior já aplicado num ano desde que Campos tomou posse, em 2007; até 2012, Campos gastava R$ 55 milhões e no ano passado esses gastos pularam 25% para R$ 70 milhões. Em 2014, a alta sobre o ano anterior será de 17,6%.
Não vou criminalizar o gasto com propaganda de Campos, talvez não haja nada de errado, mas aí você vê quanto mal causou ao país a manipulação da opinião pública no caso do mensalão.
O mesmo publicitário que receberá esses R$ 100 milhões do governo do estado, Edson Barbosa, da Link Bagg, será o responsável pela campanha de Eduardo Campos. Aliás, ele já é o publicitário de Campos há tempos: coordenou as campanhas do governador, e depois a do prefeito do Recife, Geraldo Júlio, também do PSB e, naturalmente, apoiado por Campos.
Se Antonio Fernando de Souza, então procurador-geral da República, e Joaquim Barbosa, juiz responsável pelo inquérito 2245 (que seria transformado na Ação Penal 470 alguns anos depois), não tivessem escondido o relatório de Flavio Zampronha no gavetão secreto onde enfiaram o inquérito 2474, o Brasil teria a oportunidade de conhecer as entranhas do financiamento eleitoral no país.
O que Zampronha descobriu, em sua investigação, era que Valério recebia dinheiro de inúmeras estatais, inclusive do Ministério Público de Goiás, e investia em campanhas políticas.
Não é isso que Edson Barbosa faz, de forma muito mais descarada? Ele receberá R$ 100 milhões do governo de Pernambuco este ano, e ainda mais um cachê à parte para fazer a campanha de Eduardo Campos. Me parece evidente ou inevitável que uma parte daqueles R$ 100 milhões serão usados na campanha de Campos, nem que seja, para sermos respeitosos, na forma de “know how” e estrutura física.
Quem controlará se um computador, se uma máquina fotográfica, se um grupo de operadores, adquiridos com os R$ 100 milhões do governo pernambucano serão ou não usados na campanha eleitoral de Campos? Não dá para controlar isso, até porque talvez não haja nada de ilegal, embora, seguramente, seja um tanto questionável do ponto-de-vista ético.
Ou talvez seja a realidade de todas as campanhas eleitorais no Brasil. Todo mundo arruma esquemas para financiá-las.
Ao manter o inquérito 2474 sob sigilo, Barbosa cumpriu o objetivo da oposição midiática: o mensalão tinha que focar no PT, e apenas no PT. Não podia ser transformado, como deveria ter acontecido, numa oportunidade para o Brasil discutir o financiamento de campanha e pressionar o parlamento a aprovar uma reforma política.
Isso não interessava aos donos do poder, que adoram o fato das campanhas serem caras. Porque assim eles podem controlá-las, e impor o filtro ideológico mais importante para as elites: só os ricos podem se eleger. Com sua fortuna de R$ 60 bilhões, a família Marinho, sozinha, pode bancar umas 20 ou 30 campanhas. Ou seja, pode bancar a campanha de seus candidatos preferidos em eleições presidenciais por um período superior a 100 anos. E não estou contando com a estrutura física das Organizações Globo, que certamente somaria outros cem anos ao potencial dos Marinho de patrocinar eleições.
Eles só não ganham (e se consomem de ódio por causa disso) porque suas propostas são tão miseráveis, que não conseguem convencer nem o mais simples representante do povo.
Por isso, aliás, o ódio da mídia e da direita ao sindicalismo. Com todos seus inúmeros problemas, o sindicalismo brasileiro é a única ferramenta que a classe trabalhadora (leia-se esquerda) possui para conquistar uma representação política.
Sem sindicatos, como será possível eleger um trabalhador?
Por isso também a direita quer tanto o voto distrital, que é a maneira mais certeira de matar o voto sindical. Se tivermos de votar somente no candidato do bairro, eliminaremos automaticamente o voto por categoria de trabalho.
O voto distrital, por esta razão, é retrógrado, e corresponderia a um profundo retrocesso democrático. É preciso libertar o voto, não aprisioná-lo num distrito.
Eu penso inclusive que poderíamos libertar uma parte dos votos legislativos do limite geográfico. Podíamos votar em alguns deputados fora do nosso limite estadual, o que abriria a oportunidade de elegermos representantes políticos conforme a nossa afinidade ideológica ou categoria profissional, independente do estado de origem dos mesmos. Surgiriam mais representantes dos garis, dos motoristas de ônibus, dos professores, dos blogueiros.

Miguel do Rosário no site Tijolaço.

O ônibus da atriz Lucélia Santos.


Ainda repercute nas mídias sociais, a polêmica em torno do flagra da atriz Lucélia Santos usando um transporte coletivo. Como no Brasil transporte público é deficitário, usado por pessoads de baixa renda, logo se concluiu que a festejada atriz poderia estar na pior. Lucélia Santos já causou polêmicas em razão de algumas declarações, com as quais nunca concordamos. Mas, nesse caso específico, tiro o chapéu para a resposta dada pela atriz aos seus interlocutores. Se estivemos num país onde o transporte coletivo fosse tratado com dignidade, não seria nenhum surpresa encontrar famosos usando os tradicionais busões. Em última análise, por aqui, transporte publico tornou-se sinônimo de decadência, de probreza. Chamem o antropólogo Roberto DaMatta, por favor. DaMatta informa que a primeira providência de uma cidadão brasileiro quando "melhora de vida" é comprar um carro e contratar uma empregada doméstica. O carro permite a sua condição de "individualidade" em meio à multidão. A empregada é contratada, literalmente, para a exegese dos seus recalques. Ainda bem que as melhorias das condições sociais proporcionadas no Governo Lula - permitindo que negros e probres pudessem estudar - diminuíram sensivelmente a "oferta" de pessoas nessa atividade. As pesquisas recentes, endoçando um pouco o que a Lucélia diz - informam que a classe alta - os realmente bem de vida - estão usando mais os transportes coletivos. Quem, de fato, prefere o inferno do trânsito, mas o status do carro, são os remediados, os emergentes. Acreditamos que até a classe média tradicional estaria revendo seus conceitos sobre o assunto.

Os estupendos gastos com publicidade.


 
Comentando a agenda que surgiu das mobilizações de rua de junho de 2013,

propondo entre outras coisas, uma inversão nas prioridades de investimentos públicos, o expeirente jornalista Carlos Chagas propôs que os governantes poderiam começar pelos estupendos gastos com publicidade, uma prática comum em todas as esferas da administração pública. Quando alguém tem a preocupação de fazer as continhas, evidenciam-se os absurdos. Retiram-se dinheiro de rubrica sociais, falta dinheiro para a merenda das criancinhas, remédios de distribuição gratúita, manutenção de escolas, hospitais etc. Um pandemônio inexplicável. Em Pernambuco, por exemplo, ao que se sabe, recursos do Programa Chapéu de Palha, foram parar na conta de construtoras, numa total inversão de prioridades. Até bem pouco tempo, o Governo do Estado anunciou uma licitação de R$ 100 milhões para a publicidade institucional. Segundo cálculos do editoral do jornal Folha de São Paulo, desta sexta-feira, isso representa um aumento de 42,9% com publicidade - possivelmente relativo ao ano de 2013 -, verba que, segundo jornal, deve ficar com uma empresa de conhecido marqueteiro do Palácio do Campo das Princesas. Isso ocorre, como já afirmamos, de forma generalizada. O Governo Dilma também aumentou sensivelmente suas verbas publicitárias em relação ao Governo Lula. Está aqui uma boa bandeira de luta para as próximas manifestações de rua. A melhor propaganda é atender às demandas da população. O resto é conversa fiada, quase sempre para "maquiar" - a preço de ouro - a lição de casa que deixou de ser feita.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Michel Zaidan Filho: O uso político da memória

 
                                                                       
                                           No dia 1º de abril deste ano, o golpe civil-militar de 1964 completa 50 anos. Como outras efemérides históricas do nosso calendário, vai ganhar vários seminários e debates. O grupo memória, da Pós-graduação de História, da UFPE, vai realizar um. O Espaço Socialista  também estará realizando um debate público, no SIMPERE, no próximo sábado.  Mas o governo do estado de Pernambuco parece ter se antecipado e juntamente com a UNICAP, o GAJOP e a Comissão da Verdade, resolveu fazer o seu na universidade jesuítica, durante esta semana.
                                          É sintomática a atitude de se antecipar às demais iniciativas da sociedade em rediscutir as consequências do regime militar no Brasil. Certamente, o nosso dirigente estadual tem interesse direto na reescritura desse triste evento. Primeiro, porque a família Arraes foi duramente atingida pelo golpe: o ex-governador Miguel Arraes foi deposto. preso, teve seus direitos políticos cassados e foi exilado do país. A lembrança dos seus feitos foi conspurcada pela historiografia do regime militar. Só se pôde deles ter  conhecimento  através de teses, livros e autobiografias produzidas  ao longo de todos esses anos. Em segundo lugar, há o interesse político do seu herdeiro político em tirar dividendos eleitorais das homenagens e louvaminhas aos atingidos, sobretudo aos da família do ex-governador. A propósito, a família foi alvo de uma homenagem, no início do encontro.
                                          O que mais importa chamar a atenção é o uso político, estratégico da memória histórica, destinado a produzir uma hagiografia cívica que sirva aos interesses do presente, às motivações da hora, aos objetivos políticos do grupo (familiar) ora no poder. Neste sentido, retornamos sempre ao conceito orwelliano da história, com o seu infame departamento da memória, reescrevendo o passado de acordo com as conveniências políticas  do presente. Podemos dizer como Nietzsche, Foucault e Crocce, já existe história do presente, nunca do passado. A nossa visão do passado não passa de uma mera racionalização de imperativos de poder. E ponto. Não sei se esses políticos de Pernambuco operam com essa sofisticação intelectual. São pragmáticos demais. Talvez contratem alguns pesquisadores, publicistas e acadêmicos para o fazerem.
                                           O fato é que se todo esse esforço hermeutico sobre o golpe civil-militar de 1064 deixar de realçar a sua essência bonapartista, apoiada na histeria anti-comunista das classes  média, para o aumento da internacionalização da economia brasileira, a formação de um sindicalismo de ponta, uma indústria cultural moderna e a  emergência de novos atores sociais, for trocado por uma hagiografia de sinal invertido, para satisfazer  interesses da hora, de nada terá valido todo esse vozerio e o ruido, a não ser para a publicação de artigos e livros, que irão rechear o curriculum lattes de alguns.
                                         Como dizia um filósofo, nada do que aconteceu está perdido para a História. Mas se permitirmos que os vencedores de outrora continuem vencendo,  nem os mortos, os desaparecidos, os torturados estarão a salvo em suas sepulturas.

Dilma ainda aguenta um segundo mandato?

Por vezes me pergunto qual a motivação de Dilma Rousseff para um segundo mandato. Somente uma grande vontade cívica, a certeza de que, apesar das circunstâncias, pode dar uma grande contribuição às políticas inclusivas iniciadas no Governo Lula. Seu caráter, sua personalidade, sua ética entram em confronto cotidiano com as bandalheiras que rolam na política. O caso recente do PMDB é um bom exemplo disso. Ou cede ou essa turma, sem escrúpulos ou orientação ética, joga pesado, constrange, humilha, chantageia para atingir seus objetivos fisiológicos. Dilma é, definitivamente, um caso perdido. Deve estar fazendo um esforço enorme para suportar a amargura de ser poder em tais circunstâncias. Pensou, como sugeriu o jornalista Josias de Souza, que sua postura intransigente com a bandalheira poderia surtir algum efeito entre os parlamentares. Já devia saber que tal expediente não funciona. Não entre aquelas raposas, cevadas nos estertores do que há de pior na política brasileira. Até o "galeguinho", segundo informações do jornal Folha de São Paulo, manobrou para que a bancada do seu partido colaborasse na refrega sofrida pela presidente Dilma Rousseff, nas últimas votações da Câmara dos Deputados.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Depois de morto, Gushiken derrota "Veja": o caso das falsas contas no exterior



“A Veja dá a entender que não eram fantasiosas as contas no exterior. E não oferece um único indício digno de confiança. Infere, da identidade dos acusadores e dos interesses em jogo, a verdade do conteúdo do documento. A falácia é de doer na retina.” (trecho da sentença que condenou “Veja”)
por Rodrigo Vianna
Quase oito anos se passaram. A Justiça levou tanto tempo para ser feita, que a vítima dos ataques covardes já não está entre nós. Fundador do PT, bancário de profissão, Luiz Gushiken foi ministro da SECOM na primeira gestão Lula. Por conta disso, teve seu nome incluído entre os denunciados do “mensalão” (e depois retirado do processo, por absoluta falta de provas)…
Mas os ataques de que tratamos aqui são outros. Em maio de 2006, a revista “Veja” publicou uma daquelas “reportagens” lamentáveis, que envergonham o jornalismo. A torpe “reportagem” (acompanhada de texto de certo colunista que preferiu se mudar do Brasil – talvez, por vergonha dos absurdos a que já submeteu os leitores) acusava Gushiken de manter conta bancária secreta no exterior. Segundo a publicação da editora Abril, os ministros Marcio Thomaz Bastos, Antonio Palocci e José Dirceu (além do próprio Lula!) também manteriam contas no exterior.
Qual era a base para acusação tão grave? Papelório reunido por ele mesmo – o banqueiro Daniel Dantas. A “Veja” trabalhou como assessoria de imprensa para Dantas. Da mesma forma como jogou de tabelinha algumas vezes com certo bicheiro goiano. Mas mesmo ataques vis precisam adotar alguma técnica, algum rigor.
No caso das “contas secretas”, não havia provas. Havia apenas o desejo da revista de impedir a reeleição de Lula. O vale-tudo estava estabelecido desde o ano anterior (2005) – com a onda de “denuncismo” invadindo as páginas (e também as telas – vivi isso de perto na TV Globo comandada por Ali Kamel) da velha imprensa.
Pois bem. Gushiken processou a “Veja”. O trabalho jurídico (árduo e competente – afinal, tratava-se de enfrentar a poderosa revista da família Civita) ficou por conta do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados – com sede em São Paulo. Em primeira instância, a revista foi evidentemente derrotada. Mas a Justiça arbitrou uma indenização ridícula: 10 mil reais! Sim, uma revista que (supostamente) vende 1 milhão de exemplares por semana recebe a “punição” de pagar 10 mil reais a um cidadão ofendido de forma irresponsável. Reparem que este blogueiro, por exemplo, que usou uma metáfora humorística para se referir a certo diretor da Globo (afirmando que ele pratica “jornalismo pornográfico”), foi condenado em primeira instância a pagar 50 mil reais a Ali Kamel! E a “Veja” deveria pagar 10 mil… Piada. 
Mas sigamos adiante na história de Gushiken. O ex-ministo recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo. Antes que os desembargadores avaliassem a demanda, Gushiken morreu. Amigos mais próximos dizem que o estado de saúde dele  (Gushiken lutava contra um câncer) se agravou por conta dos injustos ataques que sofreu nos últimos 8 anos.
Gushiken morreu, mas a ação seguiu. E os herdeiros agora acabam de colher nova vitória contra “Veja”. O TJ-SP mandou subir a indenização para 100 mil reais, e deu uma lição na revista publicada às margens fétidas da marginal.
O desembargador Antonio Vilenilson, em voto seguido pelos demais desembargadores da Nona Câmara de Direito Privado do TJ-SP (apelação cível número 9176355-91.2009.8.26.0000), afirmou: 
“A Veja dá a entender que não eram fantasiosas as contas no exterior. E não oferece um único indício digno de confiança. Infere, da identidade dos acusadores e dos interesses em jogo, a verdade do conteúdo do documento. A falácia é de doer na retina.”
Quanto aos valores, o TJ-SP sentenciou:
“A ré abusou da liberdade de imprensa e ofendeu a honra do autor. Deve, por isso, indenizá-lo. No que diz com valores, R$ 10.000,00 não condizem com a inescusável imprudência e com o poderio econômico da revista. R$ 100.000,00 (cem mil reais) atendem melhor às circunstâncias concretas.”
Chama atenção que a Justiça tenha levado 8 anos para julgar em segunda instância (portanto, há recursos possíveis ainda nos tribunais superiores) caso tão simples. O “Mensalão” – com 40 réus na fase inicial – foi julgado antes.
A Justiça é rápida para julgar pobres, pretos, petistas. E eventualmente é rápida também para punir blogueiros que se insurgem contra a velha mídia. Mas a Justiça é lenta para punir ricos, tucanos e empresas de mídia.
De toda forma, trata-se de vitória exemplar obtida por Gushiken – que era chamado pelos amigos mais próximos de “samurai”… 
E falando em samurais, há um ditado oriental que diz mais ou menos o seguinte : submetido ao ataque de forças poderosas, o cidadão simples deve agir como o bambu - sob ventania intensa pode até se inclinar, mas jamais se quebra.
O “samurai” ganhou a batalha. Inclinou-se, ficou perto de quebrar-se. Mas está de pé novamente. E é de se perguntar, depois da sentença proferida: quem está morto mesmo? Gushiken ou o “jornalismo” apodrecido da revista ”Veja”?
Nunca antes na história desse país, o Judiciário adotou expressão tão precisa e elegante para descrever fenômeno tão abjeto: a revista da família Civita produz “falácias de doer na retina”. E não são poucas.

(Publicado originalmente no site O Escrevinhador)
 

Qual o preço da vitória do blocão contra o Governo?

O PMDB faz um jogo duplo. Ele apoia o governo de um lado, mas surfa no antipetismo, de outro.

O Conversa Afiada reproduz artigo de Miguel do Rosário, extraído do Blog O Cafezinho:

Qual o preço da vitória do blocão contra o governo?



por Miguel do Rosário
A oposição, aí incluindo seus tentáculos na mídia, tem o direito de comemorar a derrota política imposta pelo chamado “blocão” contra o governo nesta terça-feira, ao criar uma comissão para investigar negócios da Petrobrás na Holanda.

É uma vitória que vale especialmente para a centro-direita (ou direita mesmo) que apóia o governo de má vontade, apenas por apego ao poder, como é o caso de parcela do PMDB e quase todo PSD, cujos membros saíram do DEM à procura de sombra e água fresca.

Entretanto, esse movimento tem dois lados.

De um lado, mostra a força do blocão, que agora tentará usar isso para ampliar as chantagens contra o governo.

De outro, revela, para o governo, quem são seus verdadeiros aliados, e quem está pronto para lhe passar a perna na primeira oportunidade.

Em ano de eleição, é muito bom saber, com certeza, quem está do seu lado de verdade.

O Congresso tem 513 deputados. O blocão conseguiu exatamente a metade do total: 257 deputados.

A turma de Eduardo Cunha assinou uma declaração de guerra. Uma guerra surda, porque entre aliados em tese, mas por isso mesmo ainda mais fratricida e sangrenta.

No Painel da Folha, há a informação de que Eduardo Cunha disse a Michel Temer que o PT tem um “projeto hegemônico que afasta aos poucos os partidos da coalização”.

Pode até ser. Mas Cunha tem um ponto-fraco. Ele confia demais em jogadas palacianas, e esquece que o poder político, seja do PT, seja do PMDB, seja do governo, seja da oposição, só tem uma fonte real: o voto.

O PMDB foi o único partido da base que perdeu filiados em 2013. Por quê? Porque não está mudando. Não está discutindo teses, programas, ideologias, projetos de país. O adversário do PMDB não é o PT, é seu próprio espelho. É um partido grande, capilarizado, que governa milhares de municípios, e que poderia contribuir muito mais para o debate político nacional se investisse mais em… debates, e menos em figuras questionáveis como Eduardo Cunha.

Afinal, o que quer o PMDB? Que o PT, ou qualquer partido que estiver no governo, lhe garanta algum tipo de cota fixa, imutável, em troca de seu apoio no Congresso?

Na verdade, o PMDB faz um jogo duplo. Ele apóia o governo, de um lado, mas surfa no antipetismo, de outro. Até aí tudo bem, é da política.

Mas haverá um momento em que o partido terá de se decidir. Essa postura de ameaçar o governo com um possível apoio a Aécio Neves apenas ridiculariza o PMDB, porque revela um partido sem substância, disposto a apoiar qualquer um, desde que lhe pague bem. Ao agir assim, as eleições se tornarão cada vez mais caras para o PMDB, porque ele terá cada vez menos o voto das pessoas politizadas, e precisarão cada vez mais do voto fisiológico, comprado a peso de ouro de um eleitor cada vez mais cético, num mercado eleitoral cada vez mais competitivo.

Tem uma senhora cujos serviços de faxina eu contrato de vez em quando que me contou uma coisa engraçada. È triste por um lado, até porque isso não deve ser legal, mas engraçado também. Os políticos lhe dão dinheiro para que ela distribua aos eleitores da região. Compra de voto descarada. O eleitor vai à casa dela, dá o número do título, e recebe R$ 50.

Aí entra a parte engraçada. Tem eleitor que vendeu seu voto para mais de cinco candidatos diferentes. Ou seja, o político, quando pensa que está enganando o eleitor, está é levando uma rasteira, merecida, do cidadão. O cidadão pega o dinheiro, evidentemente porque está precisando, mas não vota no candidato que lhe deu o recurso. Ou pode até votar num daqueles que lhe deu dinheiro, mas vota naquele de sua preferência. Ou seja, o recurso à compra de voto fica cada vez mais caro, pois o voto é secreto, protegendo o eleitor.

Voltando à “vitória” do blocão sobre o governo, tenho a impressão que muitos parlamentares que se recusaram a participar do jogo sujo de chantagem política liderado por Eduardo Cunha se identificarão com esta frase de Darcy Ribeiro, que o colega de Twitter, Mario Marona, lembrou nesta manhã, ao publicar a foto abaixo.

“Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.

(Publicado originalmente no Conversa Afiada)

O tempo passa, o tempo voa e as chantagens do PMDB continuam numa boa.

 
 
O tempo vai passando e estão chegando à superfície alguns informes sobre os estertores da votação, no dia, de ontem, na Câmara dos Deputados, que impuseram uma derrota ao Governo no que concerne à abertura de investigações sobre possíveis irregularidades na Petrobras. Vazava sempre para a imprensa as informações de que as desavenças entre PMDB e PT estariam relacionadas a alguns arranjos regionais e, sobretudo, a insistência de Dilma em indicar para a pasta da Integração, o senador cearence Eunício Oliveira, quando o partido desejava a indicação de Vital do Rêgo, senador pelo Estado da Paraíba, este sim um nome orgânico aos interesses da agremiação. Agora, não diria que para espanto, mas, sobretudo, para desgosto da galera, o PS do site Viomundo informa que, tudo teria começado quando Dilma resolveu afastar um indicado de Eduardo Cunha de uma das diretorias da Patrobras. É jogo duro essa gente.

A revolta do blocão liderado por Eduardo Cunha e os ataques à Petrobrás.

publicado em 12 de março de 2014 às 12:29

12/03/2014 – Copyleft
Com apoio do PMDB, blocão de insatisfeitos impõe derrota ao governo
Na noite de terça, foi aprovada a comissão externa para investigar a Petrobras. Nesta quarta, o PMDB promete liquidar o sonho do marco civil da internet.
Najla Passos, na Carta Maior
Brasília – O novo blocão de partidos que reúne oposição e base insatisfeita conseguiu impor, na noite de terça (11), a primeira derrota significativa para o governo, desde o início da crise entre PT e PMDB, os dois maiores partidos da base aliada: aprovaram no plenário da Câmara a instalação de uma comissão externa que vai investigar se a Petrobrás recebeu ou não propina da empresa holandesa SBM Offshore, que aluga plataformas flutuantes.
Apesar dos esforços do PT para retirar a matéria de pauta, a aprovação ocorreu por 267 votos favoráveis, 28 contrários e 15 abstenções.
A comissão externa não tem poderes de investigação como o de uma CPI, mas o governo teme que a exposição do nome da Petrobrás prejudique a imagem da petrolífera no mercado internacional.
Apesar do Ministério Público da Holanda já ter afirmado que não há nenhuma investigação em curso contra a empresa brasileira, os deputados irão àquele país acompanhar o desenrolar das denúncias sobre práticas de corrupção por parte da SBM Offshore envolvendo empresas internacionais parceiras.
A oposição, que recebeu o inesperado reforço de parte da base, comemorou o feito.
“A presidente vai ver que não pode tratar o Parlamento como ela trata”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), autor da proposta. O líder do PT, deputado Vicentinho (SP), reagiu: lembrou que o seu partido é o maior da Câmara e deverá estar em peso na composição da comissão externa. “Vamos cumprir o que foi aprovado, mas o PT é o maior partido e estará em maior número”, declarou.
Mal encerrada a votação, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), já anunciava que a guerra continua. Segundo ele, nesta quarta (12), o partido irá trabalhar para colocar em pauta e derrubar o marco civil da internet, matéria considerada prioritária pelo governo e que tem o apoio dos movimentos organizados pela democratização da comunicação. “Nós queremos votar amanhã [quarta] e vamos votar para derrotar”, afirmou.
Cunha, que vinha sendo isolado pelo Planalto como principal responsável pela crise entre PT e PMDB, recebeu apoio irrestrito da bancada de seu partido na terça.
Dos 72 deputados, mais de 60 participaram da reunião que aprovou, por unanimidade, uma moção de apoio ao líder, desgastado após trocar farpas públicas com o presidente do PT, Rui Falcão, e se posicionar de forma irredutível contra o marco civil da internet, defendendo os interesses comerciais das empresas de telecomunicações.
Mesmo o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), que mantem boa interlocução com o Planalto, saiu em defesa do colega de partido. “Isolar o líder de uma bancada de 76 deputados não passa pela cabeça do PMDB”, disse ele.
Nesta terça (11), os líderes dos partidos da base que permanece fiel ao governo conseguiram retirar o marco civil da internet em pauta, por temer uma derrota. “A meta principal do PT é votar o marco civil da internet, mas parece que não será possível esta semana, já que alguns partidos da base não querem votá-lo, não por ser contra a proposta, mas por conta da conjuntura política”, justificou o líder do PT, deputado Vicentinho (SP).
Hoje, a batalha continua.

Também nesta quarta, o PMDB promete conduzir o blocão a aprovar 21 convocações de ministros para prestar esclarecimentos ao parlamento. O campeão de pedidos é justamente o ministro da Saúde, Arthur Chioro, responsável pelo programa Mais Médicos, um dos principais acertos do governo Dilma e, por isso, uma das principais vitrines eleitorais da presidenta candidata à reeleição.
A bancada do PMDB definiu, na tarde da terça, que irá apoiar pelo menos uma das convocações de Chioro, pela Comissão de Finanças.

Durante a terça, a presidenta Dilma Rousseff, que foi prestigiar a posse da presidenta Michelle Bachelet no Chile, tratou a crise com bom humor. Questionada pela imprensa, afirmou que “o PMDB só lhe dá alegria”.
O vice-presidente Michel Temer, que reuniu Alves e Cunha em sua residência, esta manhã, para tentar costurar o fim do impasse, elogiou o comentário. “A presidenta foi clara em dizer que o PMDB só dá alegrias. E só dá alegrias mesmo para o governo, apoia o governo, ajuda o governo”, afirmou.

Na segunda, antes de seguir viagem, a presidenta se reuniu com líderes do PMDB para tentar costurar o fim da crise.
Apesar dela ter prometido apoio político ao partido em pelo menos seis estados durante as eleições deste ano e acenado com a possibilidade de atender a exigência da sigla de ocupar um sexto ministério, as negociações não surtiram efeito.
PS do Viomundo: Tudo começou quando Dilma tomou a direitoria internacional da Petrobrás que estava sob controle de um aliado de Eduardo Cunha, nos diz uma importante fonte do setor da energia. A ver. Se for fato, revela a que se resumiu a política no Brasil.

(Publicado originalmente no Viomundo)

Quem, afinal, é esse Eduardo Cunha?


Quem é Eduardo Cunha? O que ele representa e quem está disposto a segui-lo? Ontem, de uma maneira dura, a presidente Dilma Rousseff cientificou-se dessas informações, ao ser derrotada pelos próprios "aliados" no que se refere ao pedido de investigações sobre supostas irregularidades na Petrobras. Pagou para ver e não gostou do resultado. Anda bastante irritada e pode sofrer mais uma refrega no dia de hoje, na votação sobre o marco civil da internet, uma questão prioritária para o Governo. Quem deseja mais informações sobre os estertores em que estão sendo cevadas personalidades do perfil de Eduardo Cunha, basta acompanhar um vídeo, postado em nosso blog, onde o jornalista Bob Fernandes esmiuça sua personalidade. Contingenciada pelas circunstâncias da realpolitik de um presidencialismo de coalizão, Dilma coabita com o PMDB, mas não suporta algumas figurinhas carimbadas da agremiação, a exemplo de Eduardo Cunha, líder do partido, e Henrique Alves, presidente da Câmara dos Deputados. Quando o assunto é PMDB você pode desconfiar de tudo, inclusive das supostas boas intenções de algumas lideranças do partido com maior ascendência junto a presidente. Um dos seus caciques, por exemplo, informou a Dilma que o partido apoiaria o candidato Armando Monteiro(PTB) em Pernambuco. Que PMDB? O PMDB do "cozido", afinal, está fechado com a candidatura presidencial do governador Eduardo Campos. São raposas em quem não se deve confiar.

terça-feira, 11 de março de 2014

Entenda como funciona a oposição "extraoficial" de Eduardo Cunha

Oficialmente, lidera o PMDB para aprovar os projetos de interesse do governo. Extraoficialmente trabalha para que esses projetos não sejam aprovados



Daniel Quoist
Renato Araújo / ABr


Qualquer pessoa minimamente interessada em política sabe o poder de destruição que tem uma personalidade beligerante quando assume uma função, digamos, de liderança.   

É o caso do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Oficialmente é o líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, o segundo maior partido da base aliada que dá sustentação ao governo Dilma no Congresso.

Extraoficialmente é o criador de problemas por excelência: está em contínua queda de braço com a presidenta ou com seus prepostos da mesma base aliada.

Oficialmente deveria liderar a bancada do PMDB para aprovar os projetos de interesse do governo.

Extraoficialmente trabalha exatamente para que esses projetos sejam derrotados e, sempre que possível, que sejam derrotas clamorosas, ruinosas, barulhentas.

Oficialmente deveria estar alinhado com a principal figura do PMDB na atualidade, o vice-presidente Michel Temer.

Extraoficialmente é quem mais cria problemas para o nº 2 da República que, vira e mexe, tem que ir se explicar perante a presidenta Dilma, e gastar imensa energia para apagar os sucessivos focos de incêndio criado pelo correligionário carioca.

Oficialmente deveria manter um mínimo de cooperação e de urbanidade com o partido da presidenta, o PT, e somar esforços com este para produzir matéria legislativa que traduza em ações concretas o plano de governo oferecido à população nas eleições de 2010.

Extraoficialmente comporta-se como macaco em loja de louças, fustigando o presidente do PT, Rui Falcão, infernizando a vida do vice-presidente da Câmara, André Vargas, ironizando e desqualificando os diversos ministros de Estado que, por acaso, sejam petistas de carteirinha.           




Oficialmente deveria trabalhar para abater no nascedouro os escândalos ‘fakes’, artificiais, forjados por uma Oposição capenga para desgastar a imagem do governo junto à população e que sempre contam com a extrema boa vontade de uma mídia tradicional empenhada ela mesma em ter incontestável protagonismo de oposição ao governo.

Extraoficialmente é incansável em fazer articulações para desmobilizar a bancada do PMDB em defesa do governo e em promover factóides que coloquem água no moinho para a criação de Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPI), que tanto podem ser sobre a Copa 2014, a Petrobrás, o papel do Itamaraty na crise da Venezuela, as brechas no Mais Médicos, os riscos de apagão, o descontrole da inflação, os empréstimos a Cuba, o uso de aviões da FAB. Ou seja, tudo que poderia ser rapidamente esclarecido acionando as instituições competentes e que existem exatamente para isso, como a Advocacia-Geral da União, a Controladoria Geral da União, a Procuradoria Geral da República, o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, o Itamaraty, o Ministério da Saúde, o Ministério da Fazenda, o BNDES, o Ministério das Minas e Energia.

Oficialmente deveria defender dos ataques de uma oposição - sem bandeiras e sem discurso - o governo em que seu partido ocupa a vice-presidência, mantêm em sua órbita de atuação 5 ministérios e milhares de cargos de segundo, terceiro e quarto escalões, incluindo vistosas diretorias em estatais do porte do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Petrobras, CHESF, DNIT.

Extraoficialmente se entrega de corpo e alma a apoiar convocação de ministros de Estado, propostas pelo consórcio PSDB-DEM-PPS, com o objetivo básico de gerar desgaste para o governo, que tanto pode ser político, quando de imagem, midiático.

Oficialmente deveria ter uma atuação de líder nos tradicionais moldes que privilegiam a transparência, a sinceridade, o senso de agregação em torno de um ideário ou de uma causa e que prefira a proatividade ao invés do desmesurado reacionarismo.

Extraoficialmente faz questão de atuar nos bastidores, nas articulações que minem, avariem e enfraqueçam a capacidade do governo federal de apresentar iniciativas legislativas condizentes com o anseio da maioria dos brasileiros que elegeu o PT para lhe governar desde as eleições de 2010.

Oficialmente deveria encorajar o surgimento (e fortalecimento) de crescentes pontos de convergência entre os lideres (e suas respectivas bancadas) que integram o imenso arco de partidos que apoiam o governo.

Extraoficialmente trabalha para potencializar as insatisfações individuais dos deputados, exigir de maneira truculenta o pagamento de emendas parlamentares, ridicularizar (sempre que possível) presidentes de partidos que dão suporte ao governo, criar as condições para criar facções, blocos e similares que atravanquem de vez a ação do governo no Congresso.

Oficialmente deveria buscar interlocução preferencial com o governo a que serve e para o qual foi designado líder de bancada, a começar com o azeitamento das comunicações com a presidenta da República e o alinhamento consensual com o vice-presidente da República, fomentar diálogo fácil com demais lideranças do PT e do PMDB, abrir canais de conciliação com lideranças oposicionistas.

Extraoficialmente é imbatível em torpedear esses canais de comunicação, utilizando as redes sociais para mostrar contrariedade, desaprovação, desaforos e frustrações com os rumos do governo, de seu partido e do partido do governo.

Oficialmente deveria blindar o governo de crises artificiais, crises que têm como objetivo prioritário diminuir o imenso apoio político que a presidenta angariou para se lançar a uma campanha reeleitoral com todos os ingredientes para ser vitoriosa ainda no primeiro turno das eleições majoritárias de outubro de 2014.

Extraoficialmente se comporta mais oposicionista que os líderes de bancadas oposicionistas como Antonio Imbassahy (PSDB), Mendonça Filho (DEM), Beto Albuquerque (PSB) e Rubens Bueno (PPS).

Feitas estas considerações, algumas perguntas que exigem urgentes respostas:

1. Além dele próprio, a quem mais serve o líder peemedebista Eduardo Cunha?

2. Quem, nos bastidores, mantêm o deputado Cunha na liderança do PMDB?

3. Será que o PMDB nacional é incapaz de ver o que o Brasil todo vê: Eduardo Cunha é a pessoa menos indicada para as funções de líder de bancada governista?

4. Qual é a pauta de reivindicações do deputado carioca pendente de aprovação do Planalto?

5. Ter um ministério ‘para chamar de seu’?

6. Conseguir a nomeação de meia dúzia de afilhados para ocupar diretorias de importantes empresas estatais?

7. Apoio do governo para voos eleitorais de maior envergadura em sua base política no Rio de Janeiro?

8. Sentimento de frustração com a atuação política de lideranças de seu próprio partido (Michel Temer – Henrique Eduardo Alves – Valdir Raupp – José Sarney - Renan Calheiros)?

9. Ter protagonismo de líder oposicionista visando concorrer como vice de Aécio Neves ou em caso de rompimento de Marina Silva com o PSB, fazer dobradinha com seu xará Eduardo Campos?

10. Por que é tão difícil para o PMDB destituí-lo da liderança de sua bancada na Câmara?

(Publicado originalmente no Portal Carta Maior)