pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

terça-feira, 12 de maio de 2015

Vladimir Safatle: Obscurantismo.





Pode parecer um mero problema ligado à vida acadêmica nacional, mas infelizmente é muito mais que isto. Trata-se da expressão perfeita de um sintoma de obscurantismo que parece, aos poucos, tomar conta de setores importantes da sociedade brasileira.
Há alguns anos, alguns dos mais destacados professores de filosofia da PUC de São Paulo, associados a várias universidades francesas, ibéricas e latino-americanas, juntamente com o Consulado Geral da França em São Paulo, criaram a cátedra Michel Foucault. Seu objetivo era fornecer a estrutura institucional para o estudo e pesquisa de um dos filósofos mais importantes do século 20, com grande influência no desenvolvimento do pensamento brasileiro. Graças a tal iniciativa, o Brasil recebeu, por exemplo, um precioso acervo das gravações de suas aulas no Collège de France.
No entanto, há algumas semanas um dos conselhos dirigentes da PUC-SP vetou a criação da referida cátedra. Motivo: o pensamento de Foucault não coadunaria com os valores defendidos por uma instituição católica de ensino. Por ironia do destino, e isto diz muito sobre o Brasil atual, a mesma PUC-SP foi, nos anos setenta e oitenta, uma das instituições responsáveis pela introdução do pensamento de Foucault e outros filósofos franceses entre nós.
Alguns podem ver nisto certa coerência, como seria coerente, seguindo este mesmo raciocínio, impedir os alunos da PUC terem aula sobre Nietzsche (já que este anunciou a morte de Deus), Freud (que chamou a religião de "o futuro de uma ilusão"), Voltaire (o anticlerical por excelência) ou quiçá mesmo sobre Spinoza (visto pela teologia oficial como a expressão cabal da heresia panteísta).
Mas, se assim for, por que chamar de "universidade" o que, cada vez mais, se aproxima de um seminário católico ou de uma maquinaria de proselitismo religioso? "Universidade" significa espaço livre de saber, no interior do qual podemos oferecer um formação na qual visões em conflito são apresentadas. Por isto, o conteúdo de ensino de uma universidade deve estar livre dos limites impostos pelos interesses de igreja, mercado, Estado ou de qualquer outro poder político.
Se a PUC quer seguir tal caminho obscurantista, então ela deve assumir as consequências de sua escolha e abrir mão de sua creditação como universidade. Pois tal creditação é fornecida pelo Estado brasileiro a partir do respeito a valores elementares de abertura e pluralidade. Várias outras universidades católicas no mundo achariam aterrador uma atitude como a recusa de uma cátedra de filosofia por motivos teológicos. Se esta for a regra daqui para a frente, o Estado brasileiro deve defender o conceito de universidade fruto do Esclarecimento.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Altamiro Borges: PSB + PPS, um novo partido de direita


publicado em 11 de maio de 2015 às 11:26
roberto frerire
PSB-PPS: uma fusão pela direita
Já está marcado, para 20 de junho, o casamento de conveniência entre o PSB e o PPS. O congresso da fusão deverá resultar em um partido ainda mais à direita no espectro político. Nas eleições de 2014, o PSB sofreu vários traumas: o primeiro com a trágica morte de Eduardo Campos; na sequência, com o fiasco da Marina Silva; e, nos estertores, com o apoio descarado ao tucano Aécio Neves – um afronta aos fundadores da ex-sigla socialista.
Como resultado, o partido definhou na disputa nos Estados (caiu de cinco para três governos estaduais) e estagnou na Câmara Federal. Já o PPS, do eterno chefão Roberto Freire, quase sumiu no pleito. A união visa dar alguma musculatura as duas legendas combalidas.
Com a fusão, o PPS finalmente desaparece do mapa político e o PSB passa a reunir 45 deputados federais e sete senadores. A resultante, porém, é um partido mais à direita – com Roberto Freire, um tucano infiltrado, na sua vice-presidência, e Marcio França, vice-governador de São Paulo e fiel seguidor de Geraldo Alckmin, com ainda mais força na sigla.
Como apontou Roberto Amaral, fundador e dirigente histórico do PSB, a fusão é “o ponto final da legenda como força de esquerda”. Em nota publicada logo após o anúncio da fusão no jornal “Folha de Pernambuco”, ele pediu mais “honestidade ideológica” aos atuais chefões da sigla e maior respeito aos seus fundadores socialistas.
Para ele, o PSB poderia, “numa homenagem a João Mangabeira, Miguel Arraes e Jamil Haddad, raspar o ‘S’ de socialismo. Poderia ser apenas ‘P40′, um nada e um número, como muitos de seus dirigentes atuais já pleiteiam há tempos”.
Na sua avaliação, “a fusão é moralmente inaceitável, é o ponto final do PSB, formal e politicamente, é o sepultamento do socialismo, do nacionalismo e da prática de uma política de esquerda.No entanto, é processo natural no PSB de hoje que nada tem a ver com o PSB de seus fundadores”. Ele lembra que atualmente a legenda reúne “o Pastor Eurico, o deputado Heráclito Fortes e a família Bornhausen. E será logo mais o partido de Roberto Freire”.
“Por tudo isso, a fusão é tristemente lógica, pois dá sequência aos esforços atuais de jogar a história partidária na lata de lixo e de abdicar de seu futuro. É obra dos que mudam para ganhar, e transformam a política em mero jogo estatístico, ou instrumento de mesquinhas realizações pessoais. É a miséria da política que espanta os jovens”, conclui a nota de Roberto Amaral.
Outros dirigentes e militantes do PSB identificados com as lutas dos trabalhadores também estão indignados com a guinada direitista da sigla e já estudam alternativas de militância à esquerda. Já os expoentes da direita, principalmente na mídia, estão felizes com o transformismo do PSB e a fusão com o PPS.
Em sua coluna no Estadão, Eliane Cantanhêde, da “massa cheirosa” do PSDB, não escondeu a sua alegria.
Em artigo publicado em 3 de maio, ela soltou rojões: “A fusão do PSB com o PPS é mais um torpedo contra o PT e os planos lulistas de eternização no poder… O primeiro ataque frontal será na eleição municipal de 2016, quando PSB e PPS, já recriados sob nova sigla, pretendem lançar a senadora Marta Suplicy contra a reeleição do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo”.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

Tijolinho Real: A doença de Marco Maciel.




O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, num dos parágrafos mais famosos  do seu livro Além do Bem e do Mal, enfatiza que toda palavra é uma máscara e todo o discurso é uma fraude. Muito mais do que importante para algum ramo das ciências sociais, trata-se de um ensinamento importante para vida. Devo confessar que nunca fui muito sensível ao estilo de escrever do filósofo alemão. Fui apresentado a ele através de um outro filósofo, este francês, Michel Foucault,​ sobretudo em razão da leitura de suas famosas conferências no Collége de France. Invariavelmente, Foucault cita Nietzsche, enfaticamente quando trata dessa questão do discurso. 

Essas considerações preliminares nos vem à tona em razão das contradições por trás da figura política do ex-senador Marco Maciel. O político pernambuco figura aqui entre os mais respeitados estudiosos da doutrina liberal no Brasil, ao lado de José Guilherme Merquior. Uma contradição profunda para um político que sempre esteve alinhavado com o fortalecimento do poder de Estado e a supressão das liberdades individuais, durante o Regime Militar de 1964, no Brasil. Marco Maciel fez carreira na estufa da ditadura militar, sendo nomeado, no período, Governador do Estado de Pernambuco, além de outros cargos de relevância na República. Os embates com o ex-senador Marco Maciel foram intensos aqui pelos espaços que ocupamos no blogosfera. Sobre a sua última derrota nas eleições para voltar ao Senado Federal, escrevemos um longo artigo sobre o assunto.

O ex-senador, entretanto, está muito doente e, nessas horas, devemos incorporar outros princípios que orientam a nossa conduta. Do ponto de vista político, não retiro uma palavra do que afirmei sobre ele aqui pelo blog. Estranhava, entretanto, a sua ausência do campo político - para usarmos uma expressão de Pierre Bourdieu - onde ele atuava com notável desenvoltura. Nunca tive a oportunidade - e também faltava o interesse - de conhecê-lo pessoalmente, mas, dizem, trata-se de um cidadão de uma boa conversa, habilidoso articulador. Deve ser mesmo. Nunca fez outra coisa na vida além da política. Parece que nasceu para o mitiiê. Era o tempo todo com o telefone, fazendo contatos, com um link aberto permanentemente com suas bases. Algo nos informava que o ex-senador não ia muito bem. Agora vem a confirmação de que ele fez tratamento do mal de Alzheimer, em Brasília. Este é o momento de esquecer as diferenças políticas e emprestar solidariedade à família, torcendo pelo restabelecimento da saúde de Marco Maciel. Este é um assunto tabu aqui no Estado. Ninguém comenta sobre o mesmo.  

Nos últimos dias, li algumas notícias alvissareiras do progresso da medicina tratamento desta doença, mas ela é terrível. Atinge o disco rígido do indivíduo, apagando de sua memória até as questões mais cruciais, como as relações de parentesco. É pior do que a morte.    

O PT acabou? Ainda não.





José Luiz Gomes escreve: 



Ontem, 10/05, o jornal Folha de São Paulo trouxe um artigo do cientista político Octávio Amorim sobre uma possível derrota do Partido dos Trabalhadores nas eleições de 2018. O PT passa por um momento que exige algumas mudanças de rumo, mas, até 2018 muita água ainda deve correr pelo rio da História, sendo mínimas as possibilidades de alguém prever, com segurança, a derrocada do partido naquelas eleições. Mesmo que esse alguém seja um respeitado cientista político, que atua no campo acadêmico, cujo capital ainda está em alta. Algumas dessas aves de mau agouro - caso do historiador Marco Antonio Villa - já perderam completamente a credibilidade, sobretudo pela indisfarçável torcida em suas análises "acadêmicas". 

Numa democracia representativa, perder é uma das possibilidade possíveis. Penso até que o PT aprendeu bem essa lição. Quem parece que não aprendeu ainda foram os tucanos, a julgar pelas dificuldades de encarar democraticamente a derrota das urnas nas últimas eleições. Mas, o assunto aqui é o PT. O artigo foi muito bem lido pelo também cientista político Cláudio Gonçalves Couto​, que, como nós, iniciou sua trajetória acadêmica estudando o Partido dos Trabalhadores. Tenho muito respeito pelo Couto, que começou dando aulas na Unicamp e hoje atua na Fundação Getúlio Vargas. 16 anos de poder ininterrupto desgastam qualquer agremiação partidária. Com o PT não tem sido diferente. Soma-se a isso alguns equívocos que poderiam ser evitados. Daqueles equívocos ou erros de avaliação que não tem perdão.  

A erosão do capital político do partido, proporcionalmente observado a partir do fortalecimento das forças de oposição, também é inegável. Um exemplo claro disso são os nacos de poder ocupados por setores políticos conservadores, numa tentativa de "equilibrar" a correlação forças. As concessões foram tantas que alguns analistas chegaram a afirmar que a presidente Dilma Rousseff fazia um governo "tucano". A economia não vai bem e nada nos animam a afirmar que poderíamos estar em céu de brigadeiro em 2018. A corrupção da Petrobras produz um desgaste devastador, respingando no núcleo central da coalizão petista, mesmo quando se sabe que não ocorreu envolvimento direto de Dilma e Lula naquelas falcatruas. Eles, porém, são vítimas de "consensos" formados pelos meios de comunicação massa aliados da oposição ou de caráter golpistas. 


Outro grande problema são os "aliados" do PMDB. Com aliados dessa natureza, eles, certamente, nem precisariam de inimigos. As medidas de "ajuste fiscal", alardeadas como absolutamente necessárias, penalizam profundamente os trabalhadores e aposentados, o que implica no aprofundamento da crise de capital político justamente entre setores que, historicamente, sempre estiveram do lado do partido. Um aspecto positivo nesse imbróglio todo é que, finalmente, o partido parece ter entendido ser necessário manter os projetos estratégicos que sempre caracterizam os governos de coalizão petista - como os investimentos em educação - que alcançam setores sociais historicamente marginalizados. Ainda hoje ouvi do filósofo Renato Janine Ribeiro​,  a declaração de que as cotas só acabam quando acabar o racismo no país. Daqui a alguns séculos, imagino. Mangabeira Unger, através da Secretaria de Assuntos Estratégicos, ao seu estilo, prepara um mega-projeto para o "Brasil, Pátria Educadora."

Embora não haja uma articulação entre os dois ministérios - há muito ego em jogo - nada nos leva a considerar a possibilidade de um conflito aberto entre os dois ministros. O que nos preocupa é que, enquanto Renato Janine fala em tomar como norte o PNE em sua gestão, do outro lado, Mangabeira Unger não considerou o PNE em suas considerações. Em todo caso, temos duas das maiores inteligências do país pensando as questões de educação, o que, por si só, já é um dado bastante alvissareiro. O importante é que o caráter estratégico da pasta tenha retomado o seu status.

Numa seara tão cheia de armadilhas como a política é uma atitude, no mínimo, arriscada predizer resultados. O PT já sobreviveu a muitos reveses. Claro que há problemas e o risco de perder as eleições de 2018 é iminente, como já o foi em 2014. Em seu último depoimento na CPI da Petrobras, o delator Paulo Roberto Costa, por exemplo, citou nominalmente gente do partido envolvido em possíveis recebimentos irregulares de doações para as suas campanhas. Vaccari está com prestígio mais baixo do que poleiro de pato, com a cueca toda suja de batom. O pior é que há indícios de que sua mulher sabia de suas escapulidas eventuais. O rolo-compressor em torno do escândalo da Petrobras é "trabalhado" sistematicamente pela mídia com propósitos específicos, desde as últimas eleições, numa articulação muito bem planejada, com  o propósito de ferir o partido de morte. Seria muito interessante que este cientista político também se desse conta dessa urdidura com o propósito de destruir o PT. 


Outro dia, recebi aqui na repartição, uma lista das novas aquisições da biblioteca. Lá estava, no topo da lista, o livro do senhor Marco Villa, tratando justamente do fim do PT. Há um desejo de destruir o PT e esse desejo envolve um engendramento complexo, com participação de vários segmentos sociais. O PT cometeu muitos equívocos, mas vai deixar para o país uma agenda de políticas públicas bastante positivas no que concerne ao quesito "cidadania", voltado para andar de baixo da pirâmide social, algo negligenciado historicamente.

Num país como o nosso, de profundas desigualdades sociais, esse capital político tem um peso incomensurável. Foram 22 milhões de pessoas que saíram da condição de extrema pobreza; o maior programa de ingresso de jovens empobrecidos ao ensino superior público, entre 18 e 24 anos,  através do Prouni; o maior e melhor programa de distribuição de renda do mundo, reconhecido internacionalmente. Dava pena do candidato Aécio Neves quando a então candidata Dilma Rousseff comparava os dois governos, o dos tucanos e o da coalizão petista. Quantas escolas técnicas mesmo foram construídas pelo seu padrinho político, senador? Essas questões também virão à tona em 2018, Octávio Amorim. Segmentos expressivos da sociedade brasileira conhecem muito bem o que foram os anos FHC.


A mais maldita das heranças do PT

A mais maldita das heranças do PT

Mais brutal para o Partido dos Trabalhadores pode ser não a multidão que ocupou as ruas em 15 de março, mas aquela que já não sairia de casa para defendê-lo em dia nenhum

O maior risco para o PT, para além do Governo e do atual mandato, talvez não seja a multidão que ocupou as ruas do Brasil, mas a que não estava lá. São os que não estavam nem no dia 13 de março, quando movimentos como CUT, UNE e MST organizaram uma manifestação que, apesar de críticas a medidas de ajuste fiscal tomadas pelo Governo, defendia a presidente Dilma Rousseff. Nem estavam no já histórico domingo, 15 de março, quando centenas de milhares de pessoas aderiram aos protestos, em várias capitais e cidades do país, em manifestações contra Dilma Rousseff articuladas nas redes sociais da internet, com bandeiras que defendiam o fim da corrupção, o impeachment da presidente e até uma aterradora, ainda que minoritária, defesa da volta da ditadura. São os que já não sairiam de casa em dia nenhum empunhando uma bandeira do PT, mas que também não atenderiam ao chamado das forças de 15 de março, os que apontam que o partido perdeu a capacidade de representar um projeto de esquerda – e gente de esquerda. É essa herança do PT que o Brasil, muito mais do que o partido, precisará compreender. E é com ela que teremos de lidar durante muito mais tempo do que o desse mandato.

Algumas considerações prévias. Se no segundo turno das eleições de 2014, Dilma Rousseff ganhou por uma pequena margem – 54.501.118 votos contra 51.041.155 de Aécio Neves –, não há dúvida de que ela ganhou. Foi democraticamente eleita, fato que deve ser respeitado acima de tudo. Não existe até esse momento nenhuma base para impeachment, instrumento traumático e seríssimo que não pode ser manipulado com leviandade, nem mesmo no discurso. Quem não gostou do resultado ou se arrependeu do voto, paciência, vai ter de esperar a próxima eleição. Os resultados valem também quando a gente não gosta deles. E tentar o contrário, sem base legal, é para irresponsáveis ou ignorantes ou golpistas.Tenho dúvidas sobre a tecla tão batida por esses dias do Brasil polarizado. Como se o país estivesse dividido em dois polos opostos e claros. Ou, como querem alguns, uma disputa de ricos contra pobres. Ou, como querem outros, entre os cidadãos contra a corrupção e os beneficiados pela corrupção. Ou entre os a favor e os contra o Governo. Acho que a narrativa da polarização serve muito bem a alguns interesses, mas pode ser falha para a interpretação da atual realidade do país. Se fosse simples assim, mesmo com a tese do impeachment nas ruas, ainda assim seria mais fácil para o PT.
No resultado das eleições ampliou-se a ressonância da tese de um país partido e polarizado. Mas não me parece ser possível esquecer que outros 37.279.085 brasileiros não escolheram nem Dilma nem Aécio, votando nulo ou branco e, a maior parte, se abstendo de votar. É muita gente – e é muita gente que não se sentia representada por nenhum dos dois candidatos, pelas mais variadas razões, à esquerda e também à direita, o que complica um pouco a tese da polarização. Além das divisões entre os que se polarizariam em um lado ou outro, há mais atores no jogo que não estão nem em um lado nem em outro. E não é tão fácil compreender o papel que desempenham. No mesmo sentido, pode ser muito arriscado acreditar que quem estava nos protestos neste domingo eram todos eleitores de Aécio Neves. A rua é, historicamente, o território das incertezas – e do incontrolável.

Na tese do Brasil polarizado, onde ficam os mais de 37 milhões que não votaram nem em Dilma nem em Aécio?
Há lastro na realidade para afirmar também que uma parte dos que só aderiram à Dilma Rousseff no segundo turno era composta por gente que acreditava em duas teses amplamente esgrimidas na internet às vésperas da votação: 1) a de que Dilma, assustada por quase ter perdido a eleição, em caso de vitória faria “uma guinada à esquerda”, retomando antigas bandeiras que fizeram do PT o PT; 2) a de votar em Dilma “para manter as conquistas sociais” e “evitar o mal maior”, então representado por Aécio e pelo PSDB. Para estes, Dilma Rousseff não era a melhor opção, apenas a menos ruim para o Brasil. E quem pretendia votar branco, anular o voto ou se abster seria uma espécie de traidor da esquerda e também do país e do povo brasileiro, ou ainda um covarde, acusações que ampliaram, às vésperas das eleições, a cisão entre pessoas que costumavam lutar lado a lado pelas mesmas causas. Neste caso, escolhia-se ignorar, acredito que mais por desespero eleitoral do que por convicção, que votar nulo, branco ou se abster também é um ato político.
Faz sentido suspeitar que uma fatia significativa destes que aderiram à Dilma apenas no segundo turno, que ou esperavam “uma guinada à esquerda” ou “evitar o mal maior”, ou ambos, decepcionaram-se com o seu voto depois da escolha de ministros como Kátia Abreu eJoaquim Levy, à direita no espectro político, assim como com medidas que afetaram os direitos dos trabalhadores. Assim, se a eleição fosse hoje, é provável que não votassem nela de novo. Esses arrependidos à esquerda aumentariam o número de eleitores que, pelas mais variadas razões, votaram em branco, anularam ou não compareceram às urnas, tornando maior o número de brasileiros que não se sentem representados por Dilma Rousseff e pelo PT, nem se sentiriam representados por Aécio Neves e pelo PSDB.
Esses arrependidos à esquerda, assim como todos aqueles que nem sequer cogitaram votar em Dilma Rousseff nem em Aécio Neves porque se situam à esquerda de ambos, tampouco se sentem identificados com qualquer um dos grupos que foi para as ruas no domingo contra a presidente. Para estes, não existe a menor possibilidade de ficar ao lado de figuras como o deputado federal Jair Bolsonaro (PP) ou de defensores da ditadura militar ou mesmo de Paulinho da Força. Mas também não havia nenhuma possibilidade de andar junto com movimentos como CUT, UNE e MST, que para eles “pelegaram” quando o PT chegou ao poder: deixaram-se cooptar e esvaziaram-se de sentido, perdendo credibilidade e adesão em setores da sociedade que costumavam apoiá-los.

Não há hoje uma figura nacional para ocupar o lugar de representação da esquerda
Essa parcela da esquerda – que envolve desde pessoas mais velhas, que historicamente apoiaram o PT, e muitos até que ajudaram a construí-lo, mas que se decepcionaram, assim como jovens filhos desse tempo, em que a ação política precisa ganhar horizontalidade e se construir de outra maneira e com múltiplos canais de participação efetiva – não encontrou nenhum candidato que a representasse. No primeiro turno, dividiram seus votos entre os pequenos partidos de esquerda, como o PSOL, ou votaram em Marina Silva, em especial por sua compreensão da questão ambiental como estratégica, num mundo confrontado com a mudança climática, mas votaram com dúvidas. No segundo turno, não se sentiram representados por nenhum dos candidatos.
Marina Silva foi quem chegou mais perto de ser uma figura com estatura nacional de representação desse grupo à esquerda, mais em 2010 do que em 2014. Mas fracassou na construção de uma alternativa realmente nova dentro da política partidária. Em parte por não ter conseguido registrar seu partido a tempo de concorrer às eleições, o que a fez compor com o PSB, sigla bastante complicadapara quem a apoiava, e assumir a cabeça de chapa por conta de uma tragédia que nem o mais fatalista poderia prever; em parte por conta da campanha mentirosa e de baixíssimo nível que o PT fez contra ela; em parte por equívocos de sua própria campanha, como a mudança do capítulo do programa em que falava de sua política para os LGBTs, recuo que, além de indigno, só ampliou e acentuou a desconfiança que muitos já tinham com relação à interferência de sua fé evangélica em questões caras como casamento homoafetivo e aborto; em parte porque escolheu ser menos ela mesma e mais uma candidata que supostamente seria palatável para estratos da população que precisava convencer. São muitas e complexas as razões.
O que aconteceu com Marina Silva em 2014 merece uma análise mais profunda. O fato é que, embora ela tenha ganhado, no primeiro turno de 2014, cerca de 2,5 milhões de votos a mais do que em 2010, seu capital político parece ter encolhido, e o partido que está construindo, a Rede Sustentabilidade, já sofreu deserções de peso. Talvez ela ainda tenha chance de recuperar o lugar que quase foi seu, mas não será fácil. Esse é um lugar vago nesse momento.
Há uma parcela politizada, à esquerda, que hoje não se sente representada nem pelo PT nem pelo PSDB, não participou de nenhum dos panelaços nem de nenhuma das duas grandes manifestações dos últimos dias, a de 15 de março várias vezes maior do que a do dia 13. É, porém, muito atuante politicamente em várias áreas e tem grande poder de articulação nas redes sociais. Não tenho como precisar seu tamanho, mas não é desprezível. É com essa parcela de brasileiros, que votou em Lula e no PT por décadas, mas que deixou de votar, ou de jovens que estão em movimentos horizontais apartidários, por causas específicas, que apontam o que de fato deveria preocupar o PT, porque esta era ou poderia ser a sua base, e foi perdida.

O partido das ruas perdeu as ruas porque acreditou que não precisava mais caminhar por elas
A parcela de esquerda que não bateria panelas contra Dilma Rousseff, mas também não a defenderia, aponta a falência do PT em seguir representando o que representou no passado. Aponta que, em algum momento, para muito além do Mensalão e da Lava Jato, o PT escolheu se perder da sua base histórica, numa mistura de pragmatismo com arrogância. É possível que o PT tenha deixado de entender o Brasil. Envelhecido, não da forma desejável, representada por aqueles que continuam curiosos em compreender e acompanhar as mudanças do mundo, mas envelhecido da pior forma, cimentando-se numa conjuntura histórica que já não existe. E que não voltará a existir. Essa aposta arriscada precisa que a economia vá sempre bem; quando vai mal, o chão desaparece.
Fico perplexa quando lideranças petistas, e mesmo Lula, perguntam-se, ainda que retoricamente, por que perderam as ruas. Ora, perderam porque o PT gira em falso. O partido das ruas perdeu as ruas – menos porque foi expulso, mais porque se esqueceu de caminhar por elas. Ou, pior, acreditou que não precisava mais. Nesse contexto, Dilma Rousseff é só a personagem trágica da história, porque em algum momento Lula, com o aval ativo ou omisso de todos os outros, achou que poderia eleger uma presidente que não gosta de fazer política. Estava certo a curto prazo, podia. Mas sempre há o dia seguinte.
Não adianta ficar repetindo que só bateu panela quem é da elite. Pode ter sido maior o barulho nos bairros nobres de São Paulo, por exemplo, mas basta um pequeno esforço de reportagem para constatar que houve batuque de panelas também em bairros das periferias. Ainda que as panelas batessem só nos bairros dos ricos e da classe média, não é um bom caminho desqualificar quem protesta, mesmo que você ou eu não concordemos com a mensagem, com termos como “sacada gourmet” ou “panelas Le Creuset”. Todos têm direito de protestar numa democracia e muitos dos que ridicularizam quem protestou pertencem à mesma classe média e talvez tenham uma ou outra panelinha Le Creuset ou até pagou algumas prestações a mais no apartamento para ter uma sacada gourmet, o que não deveria torná-los menos aptos nem a protestar nem a criticar o protesto.
Nos panelaços, só o que me pareceu inaceitável foi chamar a presidente de “vagabunda” ou de “vaca”, não apenas porque é fundamental respeitar o seu cargo e aqueles que a elegeram, mas também porque não se pode chamar nenhuma mulher dessa maneira. E, principalmente, porque o “vaca” e o “vagabunda” apontam a quebra do pacto civilizatório. É nesses xingamentos, janela a janela, que está colocado o rompimento dos limites, o esgarçamento do laço social. Assim como, no domingo de 15 de março, essa ruptura esteve colocada naqueles que defendiam a volta da ditadura. Não há desculpa para desconhecer que o regime civil militar que dominou o Brasil pela força por 21 anos torturou gente, inclusive crianças, e matou gente. Muita gente. Assim, essa defesa é inconstitucional e criminosa. Com isso, sim, precisamos nos preocupar, em vez de misturar tudo numa desqualificação rasteira. É urgente que a esquerda faça uma crítica (e uma autocrítica) consistente, se quiser ter alguma importância nesse momento agudo do país.

Tão ou mais importante do que a corrupção, que não foi inventada pelo PT no Brasil, é o fato de o partido ter traído algumas de suas bandeiras de identidade
Também não adianta continuar afirmando que quem foi para as ruas é aquela fatia da população que é contra as conquistas sociais promovidas pelo governo Lula, que tirou da miséria milhões de brasileiros e fez com que outros milhões ascendessem ao que se chamou de classe C. Pessoas as quais é preciso respeitar mais pelo seu passado do que pelo seu presente ficaram repetindo na última semana que quem era contra o PT não gostava de pobres nos aeroportos ou estudando nas universidades, entre outras máximas. É fato que existem pessoas incomodadas com a mudança histórica que o PT reconhecidamente fez, mas dizer que toda oposição ao PT e ao Governo é composta por esse tipo de gente, ou é cegueira ou é má fé.
Num momento tão acirrado, todos que têm expressão pública precisam ter muito mais responsabilidade e cuidado para não aumentar ainda mais o clima de ódio – e disseminar preconceitos já se provou um caminho perigoso. Até a negação deve ter limites. E a negação é pior não para esses ricos caricatos, mas para o PT, que já passou da hora de se olhar no espelho com a intenção de se enxergar. De novo, esse discurso sem rastro na realidade apenas gira em falso e piora tudo. Mesmo para a propaganda e para o marketing, há limites para a falsificação da realidade. Se é para fazer publicidade, a boa é aquela capaz de captar os anseios do seu tempo.
É também por isso que me parece que o grande problema para o PT não é quem foi para as ruas no domingo, nem quem bateu panela, mas quem não fez nem uma coisa nem outra, mas também não tem a menor intenção de apoiá-lo, embora já o tenha feito no passado ou teria feito hoje se o PT tivesse respeitado as bandeiras do passado. Estes apontam o que o PT perdeu, o que já não é, o que possivelmente não possa voltar a ser.
O PT traiu algumas de suas bandeiras de identidade, aquelas que fazem com que em seu lugar seja preciso colocar máscaras que não se sustentam por muito tempo. Traiu não apenas por ter aderido à corrupção, que obviamente não foi inventada por ele na política brasileira, fato que não diminui em nada a sua responsabilidade. A sociedade brasileira, como qualquer um que anda por aí sabe, é corrupta da padaria da esquina ao Congresso. Mas ser um partido “ético” era um traço forte da construção concreta e simbólica do PT, era parte do seu rosto, e desmanchou-se. Embora ainda existam pessoas que merecem o máximo respeito no PT, assim como núcleos de resistência em determinadas áreas, secretarias e ministérios, e que precisam ser reconhecidos como tal, o partido traiu causas de base, aquelas que fazem com que se desconheça. Muitos dos que hoje deixaram de militar ou de apoiar o PT o fizeram para serem capazes de continuar defendendo o que o PT acreditava. Assim como compreenderam que o mundo atual exige interpretações mais complexas. Chamar a estes de traidores ou de fazer o jogo da direita é de uma boçalidade assombrosa. Até porque, para estes, o PT é a direita.

A síntese das contradições e das traições do PT no poder não é a Petrobras, mas Belo Monte
A parcela à esquerda que preferiu ficar fora de manifestações a favor ou contra lembra que tão importante quando discutir a corrupção na Petrobras é debater a opção por combustíveis fósseis que a Petrobras representa, num momento em que o mundo precisa reduzir radicalmente suas emissões de gases do efeito estufa. Lembra que estimular a compra de carros como o Governo federal fez é contribuir com o transporte privado individual motorizado, em vez de investir na ampliação do transporte público coletivo, assim como no uso das bicicletas. É também ir na contramão ao piorar as condições ambientais e de mobilidade, que costumam mastigar a vida de milhares de brasileiros confinados por horas em trens e ônibus lotados num trânsito que não anda nas grandes cidades. Lembra ainda que estimular o consumo de energia elétrica, como o Governo fez, é uma irresponsabilidade não só econômica, mas socioambiental, já que os recursos são caros e finitos. Assim como olhar para o colapso da água visando apenas obras emergenciais, mas sem se preocupar com a mudança permanente de paradigma do consumo e sem se preocupar com o desmatamento tanto da floresta amazônica quanto do Cerrado quanto das nascentes do Sudeste e dos últimos redutos sobreviventes de Mata Atlântica fora e dentro das cidades é um erro monumental a médio e a longo prazos.
Os que não bateram panelas contra o PT e que não bateriam a favor lembram que a forma de ver o país (e o mundo) do lulismo pode ser excessivamente limitada para dar conta dos vários Brasis. Povos tradicionais e povos indígenas, por exemplo, não cabem nem na categoria “pobres” nem na categoria “trabalhadores”. Mas, ao fazer grandes hidrelétricas na Amazônia, ao ser o governo de Dilma Rousseff o que menos demarcou terras indígenas, assim como teve desempenho pífio na criação de reservas extrativistas e unidades de conservação, ao condenar os povos tradicionais ao etnocídio ou à expulsão para a periferia das cidades, é em pobres que são convertidos aqueles que nunca se viram nesses termos. Em parte, a construção objetiva e simbólica de Lula – e sua forma de ver o Brasil e o mundo – encarna essa contradição (escrevi sobre isso aqui), que o PT não foi capaz nem quis ser capaz de superar no poder. Em vez de enfrentá-la, livrou-se dos que a apontavam, caso de Marina Silva.
O PT no Governo priorizou um projeto de desenvolvimento predatório, baseado em grandes obras, que deixou toda a complexidade socioambiental de fora. Escolha inadmissível num momento em que a ação do homem como causa do aquecimento global só é descartada por uma minoria de céticos do clima, na qual se inclui o atual ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, mais uma das inacreditáveis escolhas de Dilma Rousseff. A síntese das contradições – e também das traições – do PT no poder não é a Petrobras, mas Belo Monte. Sobre a usina hidrelétrica já pesa a denúncia de que só a construtora Camargo Corrêa teria pagado mais de R$ 100 milhões em propinas para o PT e para o PMDB. É para Belo Monte que o país precisaria olhar com muito mais atenção. É na Amazônia, onde o PT reproduziu a visão da ditadura ao olhar para a floresta como um corpo para a exploração, que as fraturas do partido ao chegar ao poder se mostram em toda a sua inteireza. E é também lá que a falácia de que quem critica o PT é porque não gosta de pobre vira uma piada perversa.
A sorte do PT é que a Amazônia é longe para a maioria da população e menos contada pela imprensa do que deveria, ou contada a partir de uma visão de mundo urbana que não reconhece no outro nem a diferença nem o direito de ser diferente. Do contrário, as barbaridades cometidas pelo PT contra os trabalhadores pobres, os povos indígenas e as populações tradicionais, e contra uma floresta estratégica para o clima, para o presente e para o futuro, seriam reconhecidas como o escândalo que de fato são. É também disso que se lembram aqueles que não gritaram contra Dilma Rousseff, mas também não a defenderiam.
Lembram também que o PT não fez a reforma agrária; ficou aquém na saúde e na educação, transformando “Brasil, Pátria Educadora”num slogan natimorto; avançou muito pouco numa política para as drogas que vá além da proibição e da repressão, modelo que encarcera milhares de pequenos traficantes num sistema prisional sobre o qual o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, já disse que “prefere morrer a cumprir pena”; cooptou grande parte dos movimentos sociais (que se deixaram cooptar por conveniência, é importante lembrar); priorizou a inclusão social pelo consumo, não pela cidadania; recuou em questões como o kit anti-homofobia e o aborto; se aliou ao que havia de mais viciado na política brasileira e aos velhos clãs do coronelismo, como os Sarney.
Isso é tão ou mais importante do que a corrupção, sobre a qual sempre se pode dizer que começou bem antes e atravessa a maioria dos partidos, o que também é verdade. Olhar com honestidade para esse cenário depois de mais de 12 anos de governo petista não significa deixar de reconhecer os enormes avanços que o PT no poder também representou. Mas os avanços não podem anular nem as traições, nem os retrocessos, nem as omissões, nem os erros. É preciso enfrentar a complexidade, por toda as razões e porque ela diz também sobre a falência do sistema político no qual o país está atolado, para muito além de um partido e de um mandato.
Há algo que o PT sequestrou de pelo menos duas gerações de esquerda e é essa a sua herança mais maldita. E a que vai marcar décadas, não um mandato. Tenho entrevistado pessoas que ajudaram a construir o PT, que fizeram dessa construção um projeto de vida, concentradas em lutas específicas. Essas pessoas se sentem traídas porque o partido rasgou suas causas e se colocou ao lado de seus algozes. Mas não traídas como alguém de 30 anos pode se sentir traído em seus últimos votos. Este tem tempo para construir um projeto a partir das novas experiências de participação política que se abrem nesse momento histórico muito particular. Os mais velhos, os que estiveram lá na fundação, não. Estes sentem-se traídos como alguém que não tem outra vida para construir e acreditar num novo projeto. É algo profundo e também brutal, é a própria vida que passa a girar em falso, e justamente no momento mais crucial dela, que é perto do fim ou pelo menos nas suas últimas décadas. É um fracasso também pessoal, o que suas palavras expressam é um testemunho de aniquilação. Algumas dessas pessoas choraram neste domingo, dentro de casa, ao assistir pela TV o PT perder as ruas, como se diante de um tipo de morte.

O sequestro dos sonhos de pelo menos duas gerações de esquerda é a herança mais maldita do PT, ainda por ser desvendada em toda a sua gama de sentidos para o futuro
O PT, ao trair alguns de seus ideias mais caros, escavou um buraco no Brasil. Um bem grande, que ainda levará tempo para virar marca. Não adianta dizer que outros partidos se corromperam, que outros partidos recuaram, que outros partidos se aliaram a velhas e viciadas raposas políticas. É verdade. Mas o PT tinha um lugar único no espectro partidário da redemocratização, ocupava um imaginário muito particular num momento em que se precisava construir novos sentidos para o Brasil. Era o partido “diferente”. Quem acreditou no PT esperou muito mais dele, o que explica o tamanho da dor daqueles que se desfiliaram ou deixaram de militar no partido. A decepção é sempre proporcional à esperança que se tinha depositado naquele que nos decepciona.
É essa herança que precisamos entender melhor, para compreender qual é a profundidade do seu impacto no país. E também para pensar em como esse vácuo pode ser ocupado, possivelmente não mais por um partido, pelo menos não um nos moldes tradicionais. Como se sabe, o vácuo não se mantém. Quem acredita em bandeiras que o PT já teve precisa parar de brigar entre si – assim como de desqualificar todos os outros como “coxinhas” – e encontrar caminhos para ocupar esse espaço, porque o momento é limite. O PT deve à sociedade brasileira um ajuste de contas consigo mesmo, porque o discurso dos pobres contra ricos já virou fumaça. Não dá para continuar desconectado com a realidade, que é só uma forma estúpida de negação.
Para o PT, a herança mais maldita que carrega é o silêncio daqueles que um dia o apoiaram, no momento em que perde as ruas de forma apoteótica. O PT precisa acordar, sim. Mas a esquerda também. 
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficçãoColuna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site:desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter:@brumelianebrum
  • Enviar para LinkedIn110
  • Enviar para Google +376

    domingo, 10 de maio de 2015

    Nasce uma nova classe: a lumpenburguesia!


    10 de maio de 2015 | 12:25 Autor: Miguel do Rosário
    ScreenHunter_5767 May. 10 11.44
    (Grupo protesta na chegada de convidados ao casamento do médico Roberto Kalil com Claudia Cozer. – Michel Filho / Agência O Globo)
    Um dia alguém tem de escrever contos e romances sobre nossa época!
    Fazer filmes e seriados!
    Não será a Globo, com certeza, que irá fazê-lo, porque ela será personagem principal.
    Eu arrisco aqui alguns conceitos que podem ajudar os futuros intérpretes desses tempos sombrios.
    Antigamente, os marxistas falavam em lumpemproletariado, para se referir às franjas mais ignorantes e ociosas da classe trabalhadora, um segmento com tendência a uma anarquia autodestrutiva, e que não ajudava a sua própria classe nas lutas contra a burguesia.
    A palavra vem do alemão, Lumpenproletariat, e significa “seção degradada e desprezível do proletariado”, de lump ‘pessoa desprezível’ e lumpen ‘trapo, farrapo’ + proletariat ‘proletariado’.
    Também se usava a expressão “lumpesinato”, para se referir aos setores degenerados do campesinato.
    Se Marx fosse vivo, e observasse o cenário hoje, poderia inventar o termo (se é que inventou e eu não sei) lumpenburguesia: as franjas degeneradas e desprezíveis da própria burguesia.
    Afinal, não são apenas conservadores. São positivamente idiotas.
    Aquelas pessoas portando faixas pedindo intervenção militar, em pleno 2015, são representantes desta lumpenburguesia.
    Suponho que toda sociedade burguesa deva possuir a sua cota de lumpenburguesia, mas receio que, em alguns momentos históricos, estes setores saiam do controle.
    No caso do Brasil, a mistura de analfabetismo político generalizado com uma mídia tão concentrada quanto reacionária, fez com que a lumpenburguesia assumisse a liderança de toda uma classe.
    O burguês, que já foi uma classe revolucionária que depois virou conservadora, mas sempre liderado por um setor culto, hoje é guiado por indivíduos que acreditam na Veja e acham que Lulinha é dono da Friboi. Não é chute. Há pesquisa da USP confirmando esse triste fenônemo.
    Por isso as eleições de 2014 foram tão nervosas, porque corremos o risco de sermos governados por esses malucos, que vão às ruas protestar contra a corrupção e depois votam em… Aécio.
    A lumpenburguesia nada mais é do que o exército de zumbis formado pela mídia. São aqueles que acreditam em tudo que a Globo divulga, apesar de que hoje já se tornaram tão fanáticos que acham que até mesmo a “Globo é petista”.
    Mas a Globo lhes trata com um carinho de mãe, condescendentemente. Sabe que seus exageros advêm do excesso de consumo das drogas midiáticas que ela mesmo, a Vênus, lhes oferece diariamente.
    Os professores de São Paulo põem 30 mil pessoas protestando contra o governador. A Globo não dá nada, ou não dá destaque nenhum.
    Já uma manifestação de 30 coxinhas na porta do casamento “do médico de Lula e Dilma” vale uma extensa matéria, cheia de fotos, vídeos e entrevistas com vários representantes.
    Uma manifestação bizarra, de franjas mal educadas da burguesia, xingando os convidados, batendo panela.
    Trabalhadores fazem protestos o tempo inteiro, Brasil à fora, e não são ouvidos.
    Já um punhado de lunáticos de barriga cheia e cérebro vazio, viram capa de jornal.
    Como dizia um dos pioneiros do jornalismo americano, Joseph Pulitzer: “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.”
    *
    Reproduzo abaixo a matéria, para registro histórico.
    Grupo protesta no casamento do médico de Lula e Dilma, em São Paulo
    Cúpula do poder marcou presença na cerimônia em bairro nobre da capital paulista; Dilma e Alckmin sentaram na mesma mesa
    POR JULIANNA GRANJEIA, O GLOBO
    09/05/2015 21:56 / ATUALIZADO 09/05/2015 22:56
    SÃO PAULO — Prestigiado por políticos da cúpula do poder e também da oposição, o casamento do cardiologista Roberto Kalil com a endocrinologista Claudia Cozer, na noite deste sábado, teve protesto e panelaço na entrada de convidados. O ato foi promovido por um grupo de aproximadamente 30 pessoas no Itaim, bairro de classe alta da capital paulista, onde ocorria o casório.
    Com uma lista estrelada de padrinhos que incluiu a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do senador José Serra (PSDB-SP), a cerimônia contou com a presença de vários integrantes da cúpula petista, como o ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o presidente do PT, Rui Falcão. Segundo interlocutores, a presidente sentou na mesma mesa que o ex-presidente Lula, o presidente da Câmara Eduardo Cunha, o senador José Serra (PSDB-SP) e o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).
    Quando Dilma chegou, moradores de prédios no entorno do restaurante onde a festa ocorria reforçaram o barulho da rua, por alguns minutos. O esquema de segurança na entrada impediu que manifestantes se aproximassem do salão ou afetassem a festa para 400 convidados, que vinha sendo preparada há seis meses. O salão do Leopolldo, local do casório, foi palco há uma pouco mais de uma semana de outra união, do empresário Roberto Justus com Ana Paula Siebert.
    O presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha chega ao casamento com a esposa. – Michel Filho / Agência O Globo
    Na noite deste sábado, grades foram colocadas na rua para organizar a passagem de veículos com convidados. A checagem na lista de presença era realizada carro por carro, ainda distante do salão. A cerimônia começou com uma hora de atraso. Convidados consultados pelo GLOBO relataram que dentro da festa era possível ouvir o barulho do protesto.
    O cartorário Adriano Canteli, de 30 anos, saiu do bar onde estava próximo ao local do casamento, para protestar.
    — Xinga o Lula “pra” gente (sic*), fala para ele devolver nosso dinheiro — disse ao senador José Serra, quando ele chegou ao casamento.
    — Não sei quem é, mas se está aqui não presta. É tudo da mesma laia — gritou uma das manifestantes que vaiava os convidados.
    O empresário Eduan Pinheiro, de 34 anos, disse ser membro do movimento “Acorda Brasil”. Ele afirmou ter sido convocado pela rede social para protestar na portaria da festa. Integrantes do grupo “Vem pra rua” estenderam quatro faixas em protesto.
    A hoteleira Selene Salomão, 49 anos, levava um cartaz contra “o apoio do governo brasileiro ao venezuelano Nicolás Maduro”, e dizia ter sido candidata a vereadora na última eleição em São Lourenço, no interior de Minas Gerais, pelo PSOL, legenda ligada à esquerda.
    — Era o único partido que fazia oposição ao prefeito — justificou.
    O noivo Roberto Kalil é médico pessoal de Dilma, Lula e Serra. Há tempos, ele possui pacientes na cúpula do poder brasileiro. Em seu primeiro casamento, em 1989, entre os padrinhos estavam o deputado Paulo Maluf e o ex-presidente militar João Figueiredo.
    A presidente deixou o casamento por volta das 22h45, e seguiu direto para Brasília, onde vai passar o domingo com a mãe e a filha.
    (Publicado originalmente no site Tijolaço)

    sábado, 9 de maio de 2015

    Michel Zaidan Filho: Os dois Edilson





    Nas eleições passadas para a Prefeitura do Recife, tive uma experiência epifânica: ao sair na direção do terminal de ônibus da cidade universitária me deparei com candidato do PSOL, Edilson Silva, fazendo campanha - na parada dos ônibus - a pé, com o megafone da mão. Imaginei a desigualdade de chances e recursos que separavam os candidatos naquela campanha eleitoral. Um apoiado pelo rolo compressor da máquina pública - capitaneada pelo ex-governador do Estado - com muito dinheiro, farta propaganda eleitoral e a "ajuda" do padrinho politico; e o outro sem nenhum vintém, além de suas convicções republicanas, sua coragem e sua determinação. Resultado: obteve ele o número inacreditável de 13.000,00, mas infelizmente não foi eleito para a Câmara dos Vereadores do Recife, onde teria prestado um enorme serviço à municipalidade e seus cidadãos contribuintes. Hoje, Edilson Silva é o primeiro deputado na Assembléia Estadual de Pernambuco, quase a única voz de oposição ao Prefeito, eleito pelo ex-governador do Estado.

    Pois bem. Relembro - com satisfação - esses fatos porque uma revelação semelhante ocorreu comigo, na última sexta-feira, às 10:00 da noite. Ao sair de uma reunião com os meus bolsistas do NEEPD, no Centro de Filosofia e Ciências Humanas, encontro 3 colegas distribuindo panfletos aos transeuntes da comunidade universitária, para a eleição do reitor. Mas o que me chamou mais a atenção foi o depoimento de 2 deles: se aproximaram de mim e disseram: professor tiramos R$ 2.000,00 dos nossos salários para confeccionar esses panfletos. Fiquei tocado. Embora nunca tenha votado no partido do candidato, pois sou militante histórico do outro partido, não pude deixar de admirar aquele formidável esforço ideológico, republicano, cívico daqueles militantes, fazendo campanha boca-a-boca, 10:00 da noite, numa sexta-feira, em ponto de ônibus. 

    Repliquei que a campanha deles já estava moralmente ganha. Não é necessariamente o resultado (muitas vezes duvidoso e fraudulento) de uma eleição que decide sobre a verdade ou correção ou mérito dessa competição. Aí importa tanto os fins, como os meios. Se os meios forem moralmente condenáveis - e muitas vezes o são de diversas maneiras - não haverá resultado justo que compense os deslizes morais, políticos e administrativos dos competidores. Numa eleição em que parece "valer tudo", um  candidato que não utiliza  para se eleger senão os próprios meios de subsistência e o de seus companheiros e apoiadores, sinceramente este já ganhou. Para mim, este é o vitorioso da competição. Quem quiser use outros recursos, apoios, estratégias, pensando que a vitória  redime todos os pecados cometidos durante a campanha eleitoral, mais ainda numa universidade pública. Para mim, a correção dos meios é parte integrante da qualidade moral, política, republicana da vitória. Quem quiser suje suas mãos, esperando obter cargos, nomeações, recursos, equipamentos, bolsas etc. Mas não queira se iludir sobre o preço pago pelo esforço de eleger seu preferido. Sujar as mãos significa entornar na lama das virtudes cívicas  o caldo da democracia e do respeito às regras do jogo democrático. 

    Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.

    sexta-feira, 8 de maio de 2015

    Tijolinho Real: Afinal, houve ou não houve a agressão de Roberto Freire(PPS) à deputada Jandira Feghali(PCdoB)?





    Na década de 80, o então combativo "comunista" Roberto Freire era tido como uma grande referência da esquerda pernambucana. Quando começaram as articulações em torno da fundação do PT no Estado, um dos argumentos em contrário era exatamente aquele que informava existir grandes lideranças de esquerda na província, uma espécie de mercado político inflacionado no campo esquerdista. Alguns anos depois, veio a queda do Muro de Berlim e os partidos comunistas iniciaram um agonizante processo de decomposição ideológica, culminando com essas siglas de ocasião, alinhavada com grupos de centro-direita, muito distante dos princípios que abraçaram no passado. O PPS é um bom exemplo do que estamos falando, mas isso se aplica à quase totalidade dos partidos que se identificavam com a experiência do socialismo real, a exemplo do PCdoB. São raras e honrosas as exceções. 

    O enredo é surrealista e, como grand finale, estamos a um passo da fusão entre os neo-socialistas do PSB e o PPS, mesmo sob os protestos de  Roberto Amaral​, um dos últimos autênticos socialistas, ainda da época do Dr. Miguel Arraes. Talvez por isso, o professor Clóvis de Barros Filho, da USP, no Curso de Ciência Política, seja tão enfático ao afirmar que a ideologia não se constitui um critério seguro para se definir um partido político. O PT foi criado no Estado, Roberto Freire mudou seu domicílio eleitoral para São Paulo, articulou-se com os tucanos e sobrevive até hoje, seja como "conselheiro" de alguma empresa estatal, seja como deputado eleito com os votos do tucanato paulista. O que mais nos surpreendeu em Roberto Freire não foi nem essa guinada à direita, digamos assim, mas uma reportagem do jornalista Sebastião Neri, onde ele põe em dúvida toda a trajetória política do deputado, mesmo à época em que ele se apresentava como um combativo militante anti-ditadura militar. 

    A matéria foi escrita por Neri, mas, no nosso perfil do microblog Twitter, ele soltou os cachorros contra mim. Não era para menos. Deve ter ficado enfurecido quando alguém teve a ousadia de desconstruir a sua biografia política. Tenho acompanhado, aqui pelas redes sociais,  alguns comentários de pessoas que foram ligadas ao deputado Roberto Freire. É preciso ter muito cuidado antes de se fazer uma acusação dessa natureza, embora muita gente vá apenas na "onda', movidos pelos mais diferentes motivos, inclusive de gênero. Pelo exposto, não tenho nenhum motivo para defender o deputado Roberto Freire. Mas, por outro lado, as imagens não corroboram com a tese de agressão. Talvez mais tarde, assistindo algum vídeo da tumultuada sessão possamos até mudar de ideia sobre o assunto. Há um momento em que ele segura o braço da deputada Jandira Feghali​, mas Freire argumentou que ela tentou interrompê-lo. Infeliz mesmo foi a declaração do deputado dos democratas, em defesa de Roberto Freire. Esta sim merecedora de nosso repúdio.

    Michel Zaidan Filho:Um monumento ao delator ou ao criminoso?

     
     
     
          
    Tratado com toda distinção, ora como doutor ora como vossa excelência, o ex-diretor da área de abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa prestou o seu depoimento na CPI que investiga o desvio de dinheiro nos contratos bilionários das maiores empreeiteras do país com a estatal petrolífera. Costa foi aguardado com muita expectativa, pelos parlamentares da comissão, porque foi o primeiro delator premiado a colocar a boca no trobone e a partir daí, começaram as prisões, denúncias e convocações dos envolvidos pela Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro. O ex-diretor fez seu ato de contrição perante os deputados e senadores. Disse que estava arrependido, que reconhecia a sua responsabilidade civil e penal pelos ilícitos e manifestou preocupação com o sofrimento dos seus familiares. Mas confirmou - um a um - os nomes das empreiteiras envolvidas no escândalo, o valor das quantias distribuídas aos políticos e declinou o nome de cada um deles, com o seu respectivo partido.
     
    Quando interrogado porque citava nomes de políticos já mortos (Janene, Sérgio Guerra e Eduardo Campos), ele respondeu que havia testemunhas vivas para comprovar as afirmações (o senador Fernando Bezerra Coelho e o deputado Eduardo da Fonte). Disse o delator premiado que o fato de Eduardo Campos e Sérgio Guerra terem morrido, em nada desqualifica ou anula o valor da informação. Pois a dinheirama embolsada por ambos ( 20.000.000,00 e 10.000.000,00) foram utilizados para financiamento das campanhas do PSB e do PSDB. E há o testemunho dos parlamentares que estão vivíssimos, embora neguém que tenham recebido ou visto o dinheiro.
     
    Curiosamente, ninguém contestou na comissão as respostas dadas por Costa sobre o envolvimento desses políticos. Pelo contrário, foi solicitado a ele a confirmação de todos os nomes sob suspeição. O desvio do dinheiro, para os políticos de Pernambuco, se deu por ocasião das obras de construção da Refinaria Abreu Lima. Algumas das empreiteiras que deram o dinheiro eram sócias de empresas (Atlântico Sul) que forneciam peças e equipamentos à Petrobras. Por orientação de seu Janene, Paulo Roberto Costa autorizou o pagamento por aquelas empreiteiras dos valores já mencionados ao ex-governador de Pernambuco e ao ex-presidente do PSDB, bem como há vários deputados do PP.
     
     
    É o caso de se perguntar se o delator merece receber um prêmio, por ajudar a passar a limpo a corrupção eleitoral no Brasil ou os políticos que se envolveram na falcatrua e morreram, antes de serem denunciados, processados e presos - exemplarmente? - Respondam voces, leitores críticos e honesto. Se a impunidade vigorá mais uma vez, então terá valido o crime e seus beneficiários podem continuar rindo à toa, mesmo no outro mundo. Se a delação premiada faz do doutor e da V.Sa. Paulo Roberto Costa um herói, também estamos diante de uma situação embaraçosa. Afinal, trata-se de responsabilidades solidárias: o corruptor e os corruptos. Não tem ninguém mais inocente. Todos são responsáveis pelos ilícitos que cometeram. Todos devem pagar!
     
    Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE