pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A polêmica em torno do Parque Estadual Marinho de Lagoa Vermelha





Na atual conjuntura, assuntos polêmicos é o que não faltam. Mas, precisamente no Estado da Paraíba, nos últimos dias, certamente, o disciplinamento ou a reordenação do uso do Parque Estadual Marinho de Areia Vermelha ganhou todos os rankings, superando, inclusive, outros temas, como a crise de abastecimento de combustível e as movimentações na capital em torno das próximas eleições municipais de 2016. As autoridade estaduais, depois de décadas de descaso com aquele parque marinho - permitindo a presença de comerciantes na área, com montagem de barracas e venda de todos os tipos de alimentos - finalmente, parece ter percebido a gravidade do problema, que compromete, segundo eles mesmo, a galinha dos ovos de ouro do Estado da Paraíba, algo que poderia, em certa medida, ser comparada à Ilha de Fernando de Noronha, no Estado de Pernambuco. 

O parque possui uma área de 230 hectares, foi criado pelo decreto lei nº 21.263, de 28 de agosto de 2000 e fica localizado nas imediações da Praia de Camboinha, no município de Cabedelo. A princípio, a ideia seria preservar o ecossistema, a coroa, os recifes de corais, a flora e a fauna marinha. Como as boas intenções, quando não acompanhadas de ações concretas, ficam apenas no plano das boas intenções, o Parque Estadual Marinho de Lagoa Vermelha, infelizmente, já comprometeu 70% daquilo que deveria ser preservado. A polêmica em torno do assunto, além da população, envolveu uma guerra de liminares entre o judiciário - acionado por uma associação que congrega os comerciantes - e as autoridades ambientais do Estado. 

Num dia, a presença dos comerciantes era permitida. No outro, revogada através de uma nova liminar. O fato gerou uma manifestação da associação dos magistrados do Estado, depois das polêmicas declarações do secretário de turismo de Cabedelo, argumentando que os juízes estavam revogando as liminares sem o conhecimento de causa, ou seja, a necessidade premente de preservação ambiental daquele espaço. Em nossa modesta opinião, o Estado demorou bastante para tomar as medidas necessárias que garantissem a preservação daquele ecossistema. Procedimentos semelhantes devem ser adotados ali em Picãozinho, na praia de Tambaú.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Descanse em paz, Amarildo. Em parte, a justiça foi feita.



Até Junho de 2013, o pedreiro Amarildo de Souza era um cidadão comum, assim como os milhares de moradores da Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Como de costume, foi a um barzinho ali da esquina, tomar uma cervejinha antes do almoço, para abrir o apetite, conforme os manuais de quem vive lá no morro. Numa abordagem policial, foi retirado do recinto, arbitrariamente, uma vez que não havia nenhum mandado de prisão contra ele, tampouco estivesse envolvido em algum flagrante que justificasse a sua remoção do local, para averiguações policiais. O que se seguiu a seguir foi um grande pesadelo. Para o pedreiro, para a sua família e para a sociedade brasileira, mas precisamente para aquele estratos que ainda possuem a capacidade de indignar-se diante das injustiças. Não vamos aqui nos referir aos indicadores sociais que informam como agem a nossa polícia, sobretudo a Militar, quando precisar lidar com aquela população marginalizada política, econômica e socialmente. 

Esses dados são de domínio público, denunciados até recentemente por Ongs como Human Rights Watch. Nossa Polícia Militar, por exemplo, é a polícia que mais mata em todo o mundo. Citar dados aqui seria não apenas desnecessário, mas poderiam cansar os nossos leitores. O caso Amarildo, em si, traduz todas as mazelas da corporação policial brasileira, com ingredientes que subsidiariam qualquer estudo sócio-antropológico sobre o assunto. Amarildo é pobre, favelado e negro. Na percepção desses policiais, portanto, aprioristicamente, tratado como um "marginal". Pelo visto, inclusive entre aqueles escolhidos para gerenciar uma UPP instalada na Favela da Rocinha, o que demonstra que esses policiais militares não receberam qualquer tipo de orientação especial para lidar com uma população subtraída socialmente, salvo alguma nova técnica de tortura, com o propósito de que eles confessem crimes não cometidos.  

As informações que se seguiram ao seu desaparecimento já indicavam que ele não seria encontrado com vida. Aliás, um dos episódios que precisam ser explicados, neste caso, é onde se encontra o corpo do ex-pedreiro. Aqui e ali, a Justiça faz justiça, como neste último caso e no caso do advogado Luiz Mattos, onde seus algozes também foram condenados, em julgamento no ano passado. Luiz Mattos foi assassinado por denunciar os crimes de pistolagem, cometidos por grupos de extermínio que atuavam na fronteira entre os Estados de Pernambuco e Paraíba. No caso de Amarildo, a exclusão e condenação de 13 policiais militares, com patentes de soldado a major, com penas sempre próxima ou acima dos 10 anos, é suficiente, até numericamente, para entendermos a dimensão do enredo "institucional" que culminou com o seu "sequestro", tortura, morte, ocultação de cadáver. E olha que as organizações dos direitos humanos e o Ministério Público ainda não estão satisfeitas com as penas imputadas, tampouco com o número de condenados.

Um anticapitalista do século XXI


Erik Olin Wright propõe uma 'utopia real': encontrar um caminho alternativo melhorando o sistema que temos atualmente.


Natalia Aruguete e Bárbara Schijman - Página/12 (tradução: Cepat)
reprodução
Seu último livro, ‘Construyendo utopías reales’, leva consigo uma contradição intrínseca. Poderia explicá-la?


A palavra “utopia” usualmente se refere a uma espécie de fantasia do lugar perfeito. Portanto, se alguém quer criticar uma proposta, pode dizer: “isso é utópico”. É uma forma de desestimular uma ideia sem discuti-la, é como dizer: “isto é impossível”. “Real” significa que algo pode acontecer. O que faço é unir “real” e “utópico” como uma provocação. Supõe nos forçar a pensar simultaneamente a respeito de quais valores nos importam, quais são nossas aspirações para um mundo humanitário verdadeiramente justo e conservar esses valores sempre à frente de nosso trabalho analítico e teórico.


O dueto “real/utópico” implica em pensar a respeito do tipo de mundo que gostaríamos de ter, trabalhar para construir alternativas no mundo e nos mover nessa direção. Utopias, no sentido de pensar alternativas às instituições dominantes que encarnam nossas mais profundas aspirações por um mundo justo e humano. Real, no sentido de alternativas que podem ser construídas no mundo assim como ele é, que também prefiguram o mundo como pode ser e ajudam a nos mover nessa direção. Na versão inglesa, a primeira palavra do título de meu livro não é “construir”, mas, sim, “visualizar” (conceber). Construir ou imaginar não é o mesmo que visualizar ou conceber. Visualizar compreende a ideia de imaginar o que realmente pode ocorrer.


Em que sentido seu propósito é provocar o leitor?


No sentido de que o título obriga a pensar o que significa esta ideia do utópico e o real. São termos que, assim apresentados, podem parecer contraditórios. Quero que as pessoas pensem acerca dessa tensão. Se você é um realista e se esquece da utopia, então fica envolvido somente nas políticas pragmáticas, que perdem qualquer outra visão. Se você é um utópico sem ser realista, então cria projetos de fantasia que nunca podem acontecer.


E neste mundo que você imagina, sim, é possível a utopia se concretizar?


Claro que pode. É uma combinação impossível, mas essa é a natureza do problema e queremos que as pessoas pensem constantemente sobre as implicações morais dos projetos políticos que perseguem e sobre a necessidade prática de fazer algo no mundo. Quando digo que se trata de uma provocação, simplesmente me refiro a forçar as pessoas a pensar sobre essas coisas.
 


Por que concebe que as utopias reais são, ao mesmo tempo, um objetivo e uma estratégia?


Mais recentemente, acrescentei que na realidade se trata de uma meta, um processo e uma estratégia. De maneira que há três tipos de “palavras” envolvidas. Uma meta alude àquilo que alguém procura conquistar, por exemplo, quais tipos de instituições novas você tenta construir. Uma estratégia se refere à forma como encarar o problema da mudança social. A velha forma da visão revolucionária tinha a ver com o viver um mundo de dominação, opressão e exploração; o que precisamos fazer é destruir essas instituições e construir novas. Refiro-me a esta ideia como a estratégia de destruir. É o velho ideal revolucionário: destruir o sistema e construir um alternativo. A ideia da real utopia como uma estratégia é nos propor construir uma alternativa agora, onde podemos, nos espaços e nichos da sociedade. Pensemos quais aspectos desse mundo alternativo realmente podemos construir agora, e então coloquemos essas peças juntas e as alarguemos de maneira que nos movamos para nossos objetivos. Neste sentido, falo de estratégia; e me refiro a erodir o capitalismo a partir da construção de alternativas.
 


Poderia nos dar um exemplo desta estratégia?


Um exemplo disto é proporcionado pelas empresas recuperadas. Também quero pensar acerca das utopias reais como um processo, porque nesse processo de construção de alternativas as próprias pessoas que se envolvem estão experimentando uma forma de solidariedade, igualdade e democracia que deseja ver no mundo. A luta por um mundo alternativo, quando está sendo construído, é também um processo que se adverte em sua própria vida. De maneira tal, que qualquer um que tenha se envolvido em lutas pela justiça social sabe que quando se trabalha com outros ativistas, tem-se uma sensação de fazer parte de algo mais importante que tão só a si mesmo. Sente-se conectado – isso é a solidariedade -, em uma relação igualitária com outras pessoas e empoderado para construir uma democracia viva e não somente trabalhar pela democracia.
 


Acredita que o mundo está preparado para caminhar nesse sentido?


Não, o mundo não está preparado, nós devemos preparar o mundo. As alternativas são criadas por seres humanos que se reúnem e decidem... Nós últimos tempos, trabalhei em uma lista de utopias reais. As primeiras que localizei são as cooperativas de trabalho, que incluem as “empresas recuperadas” como uma forma de cooperar. É uma forma de converter uma empresa capitalista em uma cooperativa gerida por seus trabalhadores.


Há duas formas diferentes nas quais se formam as cooperativas. Uma forma é quando um grupo de pessoas se junta e decide começar um negócio com a lógica de cooperativa, mas a partir de bases capitalistas convencionais. Então, os próprios trabalhadores administram uma empresa democraticamente e tomam suas próprias decisões. Outro modo se dá quando os trabalhadores transformam uma empresa capitalista existente em uma cooperativa.
 


Acredita que é possível ampliar o trabalho cooperativo?


Argentina é um dos lugares no qual o desenvolvimento do trabalho cooperativo é ativo através de suas empresas recuperadas. Atualmente, há 350 empresas recuperadas no país. Cerca da metade destas empresas foram constituídas após a crise, foram inventadas, por assim dizer, na crise, mas continuaram. Madygraf era uma grande empresa de impressão pertencente a uma corporação multinacional; a corporação multinacional sofreu um processo de desinvestimento (esvaziamento) e se pensou em seu fechamento, no ano passado. Os trabalhadores a assumiram e a estão gerindo com êxito.


Não há nenhum país no qual o desenvolvimento das cooperativas de trabalho esteja no centro da economia, sempre está nas margens. Essa é a forma como as coisas acontecem: na margem. Porém, seu potencial é realmente considerável e – eu argumentaria e especularia um pouco – o potencial das cooperativas de trabalho aumentará e não diminuirá nas próximas décadas. Em parte, isso se deve ao fato de que a nova tecnologia do século XXI (computadores, internet e outros processos digitais) é mais barata que a velha tecnologia.
 


Que diferença isso produziu no passado?


O capital intensivo requerido para que uma empresa de impressão seja exitosa é mais barato agora que há trinta anos. O sistema econômico industrial que conhecemos tinha economias de grande escala: se você era um gigante, podia produzir muito mais economicamente que se fosse pequeno. Isso é cada vez menos certo. E na medida em que é menos verdadeiro, torna-se mais fácil – em princípio, ainda que não sempre na prática – para os próprios trabalhadores de uma empresa em particular dirigi-la, porque não tem 10.000 trabalhadores, mas, ao contrário, apenas algumas centenas. De tal modo que, atualmente, é possível ter algumas centenas de trabalhadores organizando a produção industrial. Esse é um tamanho prático para ter um autogerenciamento e estar organizados democraticamente.
 


Acredita que é possível que as utopias se tornem realidade, quando quem governa é um partido de direita?


Estou desenvolvendo uma perspectiva sobre o problema de como transformar as sociedades capitalistas. Acredito que o traço mais notável da situação política atual é que em todas as partes, na Argentina, nos Estados Unidos, naIslândia, está ocorrendo o que chamamos de “volatilidade política”.


 


Como define a volatilidade política?


Trata-se mais de movimentos rápidos, da esquerda para a direita ou da esquerda para o centro, do que a consolidação de uma coalizão política com uma base forte e segura que persiga, com o tempo, uma agenda política particular. Por exemplo, na Islândia, um país pequeno que teve uma crise financeira catastrófica em 2008, uma coalizão de esquerda eleita após o colapso da economia fez um trabalho muito bom restaurando a estabilidade econômica. Abandonaram a Europa e os bancos, recusaram-se a pagar os bancos, nacionalizaram todos os bancos, puseram os banqueiros na prisão, mas perderam a eleição seguinte. Ou seja, assim que as coisas melhoraram, um partido de centro-direita disse: “Agora que estamos fora da crise, podemos dirigir melhor a economia”. Uma volatilidade extrema.
 


Nesse caso, o que você acredita que ocorre entre a agenda política e as principais preocupações do público?


Tem a ver, acredito, com um aumento generalizado da desconfiança para com os políticos e a política. Um cinismo ampliado por parte dos eleitores, que não acreditam em ninguém; aceitam mentiras e enganos constantemente. Sendo assim, sua ação política é fundamentalmente negativa, é um voto contra o partido no poder.
 


Por que você considera que isso ocorre?


Não tenho uma resposta firme sobre a razão pela qual há tanto cinismo neste período, parece algo generalizado: ocorre nos Estados Unidos, na Grécia, na França, na Islândia e na Argentina. E dado que é um fenômeno geral, não é possível responder olhando os detalhes de alguns países em particular. Não são os detalhes da “corrupção do governo de Lula” o que explica o cinismo brasileiro, porque se encontra cinismo por todas as partes. Acredito que a sensação geral de risco e incerteza acerca do futuro, sem uma visão política muito credível sobre o que fazer a respeito, é parte do assunto.


Estamos atravessando um período de mudanças globais tremendas, além do mais. Quando se pensa nos últimos 25 anos: o fim da União Soviética, o aumento do terrorismo islâmico, uma crise global atrás de outra, a emergência da China como um ator dominante na economia mundial, o aquecimento global; todas estas questões estão criando um grande sentimento de instabilidade, incerteza e imprevisibilidade, sem nenhuma força política que faça uma descrição credível do que é possível fazer para empurrar as coisas ou que, de algum modo, melhore a vida das pessoas. Parte de tudo isto é ideológico. Parte de tudo isto é neoliberalismo.
 


Seguindo sua ideia da volatilidade, você acredita que os valores e as utopias mudam com o passar do tempo?


Acredito que é mais fácil dizer que sim, que é claro que as coisas mudam. Contudo, acredito que há certos valores que as pessoas guardam em seu coração, por assim dizer, que não mudam muito. As circunstâncias em que as sociedades vivem mudam e, por isso, podem ter mais ou menos esperança de que esses valores encontrem um lugar. Há muitos estudos sobre os “valores pós-materiais”, o pós-materialismo, uma ideia muito na moda nos últimos 25 anos. A ideia central é que na medida em que os países se tornaram mais ricos e prósperos, as pessoas passaram a estar menos preocupadas com questões vinculadas aos valores e mais preocupadas com temas como o estilo de vida, a identidade, a orientação sexual e todos esses tipos de visões. Porém, não estou convencido acerca disso, porque o sentimento de insegurança econômica tem caminhado de mãos dadas com uma maior prosperidade, sendo assim, as pessoas ainda estão preocupadas com os problemas econômicos diários.
 


Como quais?


A estabilidade de seus trabalhos, o futuro de seus filhos e todas essas questões. Por isso, não compro essa noção de que estamos na era do pós-materialismo, que é o que provavelmente se poderia se falar nos países ricos e que, muitas vezes, é vista como forma de entender a vida social das classes médias. No entanto, acredito que as pessoas de classe média estão muito preocupadas com as questões econômicas. As pessoas não votam de um modo sensato, podem ter ilusões, podem votar mais por razões materiais do que por razões de identidade.
 


Como analisa o comportamento da esquerda, neste cenário?


A esquerda tem uma longa tradição de divisões, muito mais que a direita. É mais fácil para a direita se reunir ao redor de uma única figura política ou de um único programa político, ao passo que a esquerda se rompe em todos os tipos de grupos. Em parte, isto é assim porque a tarefa da esquerda é mais complexa.
 


Em que sentido, mais complexa?


Se o propósito central de seu movimento político tem a ver com transformações para um mundo mais justo, igualitário e democrático, essa é uma agenda verdadeiramente árdua. Por conseguinte, a razão pela qual acredito que a esquerda tende a se fragmentar é simplesmente porque as tarefas de um movimento político como o seu são complicadas. Ao mesmo tempo, é certo também que a esquerda esteve atada a uma história embananada e difícil. Também é certo que a esquerda, diante da ausência de um amplo movimento de base popular, não tem uma relação fácil com seu eleitorado natural.


A direita, por sua parte, sim, possui uma relação fácil com seu eleitorado, que são, em sua maioria, os segmentos ricos e poderosos da sociedade. Portanto, a questão financeira e organizacional na direita é um assunto simples: políticos extremamente abastados com redes de pessoas endinheiradas para financiar e apoiar um movimento de direita, enquanto que um movimento de esquerda precisa trabalhar através de movimentos sociais e operários para ter uma base popular.
 


Quais os tipos de estratégias você considera importante implementar contra o capitalismo?


Há muitas fontes de sofrimento no mundo, muitos problemas na vida das pessoas, observamos a pobreza e a insegurança em meio à abundância. A primeira pergunta é: como diagnosticar as causas destes problemas? Na minha perspectiva, a causa fundamental de muitas destas questões é a natureza capitalista da economia. Com isto, refiro-me ao domínio da vida econômica por parte das empresas capitalistas e o capital. Algumas pessoas identificam o capitalismo com os mercados, de fato, é muitas vezes uma espécie de companheiro de trabalho para o capitalismo.
 


Acredita que não são diretamente identificáveis?


Eu não me oponho aos mercados. Oponho-me aos mercados que se organizam em torno dos centros concentrados de poder, que é a forma como funcionam os mercados capitalistas. Sendo assim, sou anticapitalista no sentido de identificar instituições e estruturas particulares como os condutores mais fundamentais de toda uma série de problemas. É muito difícil se opor a um sistema, é mais fácil se opor a políticas concretas. Nestes dias, estou escrevendo: Como ser anticapitalista no século XXI?
 


E como acredita que pode se concretizar o ser anticapitalista?


O problema é: como ser um verdadeiro anticapitalista, dado a enormidade do sistema que se está tentando substituir? E é daí que provém essa lista das quatro estratégias históricas. Estas são as quatro estratégias que haviam sido adotadas por pessoas que compartilham este ponto de vista: os movimentos revolucionários, a democracia social progressiva, algum tipo de movimento de pequenos agricultores na fronteira dos Estados Unidos, no século XIX, procurando escapar do capitalismo ao se converter em agricultores autossuficientes no Oeste, etc. E esta ideia de procurar construir alternativas dentro do próprio capitalismo, erodindo o capitalismo como forma de pensar estratégias, é um pouco o modo como o próprio capitalismo surgiu nas sociedades pré-capitalistas.
 


Como descreveria o surgimento do capitalismo?


Quando se pensa em quinhentos anos atrás, não aconteceu que um grupo de comerciantes, banqueiros e artesãos se sentaram ao redor da mesa e disseram: “odiamos o feudalismo, como podemos destruí-lo?”. Construíram alternativas ao feudalismo nas cidades, em pequenos espaços, onde puderam, e depois expandiram esses espaços e o fizeram em colaboração com segmentos da classe feudal, que considerou vantajoso permitir que o capitalismo surgisse e se desenvolvesse, apesar do fato de que durante o longo prazo de seu surgimento e desenvolvimento minaria as bases do feudalismo. Sendo assim, minha visão a favor de transformar o capitalismo tem esse caráter. A ideia de “utopias reais” combina esforços para resolver problemas dentro do capitalismo e neutralizar os danos com o esforço de erodir o capitalismo mediante a construção de alternativas.


Créditos da foto: reprodução

(Publicado originalmente no portal Carta Maior)




A cadeia de Lula, por Jari da Rocha


lulajari
A entrevista de Lula aos blogueiros (esses blogueiros… sempre contrariando a imprensa bacana) ainda vai dar muito o que falar.
Lula decepcionou mais uma vez. Quem o queria abatido, se abateu. Quem queria ver o olhar perdido, se perdeu de vez. Quem o queria na cadeia, terá que esperar a vez.
Lula disse: “To no jogo!”
Resta apenas choramingar, mentir, pinçar frases, descontextualizar.
Não há cadeia suficiente para Lula, não há construção erigida que suporte tamanha pena, que dê conta de tanto pecado. Haja grades de ferro e de aço que sejam capazes de segurar, de reter e de trancafiar tanta coisa numa só, tanta gente num só homem. Não há cadeia no mundo que seja capaz de prender a esperança, que seja capaz de calar a voz.
Porque, na cadeia de Lula, não cabe a diversidade cultural
Não cabe, na cadeia de Lula, a fome dos 40 milhões
Que antes não tinham o que comer
Não cabe a transposição do São Francisco
Que vai desaguar no sertão, encharcar a caatinga
Levar água, com quinhentos anos de atraso,
Para o povo do nordeste, o mais sofrido da nação.
Pela primeira vez na história desse país.
Pra colocar Lula na cadeia, terão que colocar também
O sorriso do menino pobre
A dignidade do povo pobre e trabalhador
E a esperança da vida que melhorou.
Ainda vai faltar lugar
Para colocar tanta Universidade
E para as centenas de Escolas Federais
Que o ‘analfabeto’ Lula inventou de inventar
Não cabem na cadeia de Lula
Os estudantes pobres das periferias
Que passaram no Enem
Nem o filho de pedreiro que virou doutor.
Não tem lugar, na cadeia de Lula,
Para os milhões de empregos criados,
(e agora sabotados)
Nem para os programas de inclusão social
Atacados por aqueles que falam em Deus
E jogam pedras na cruz.
Não cabe na cadeia de Lula
O preconceito de quem não gosta de pobre
O racismo de quem não gosta de negro
A estupidez de quem odeia gays
Índios, minorias e os movimentos sociais.
Não pode caber numa cela qualquer
A justiça social, a duras penas, conquistada.
E se mesmo assim quiserem prender
– querer é Poder (judiciário?),
Coloquem junto na cadeia:
A falta d’água de São Paulo,
E a lama de Mariana (da Vale privatizada)
O patrimônio dilapidado.
E o estado desmontado de outrora
Os 300 picaretas do Congresso
E os criadores de boatos
Pela falta de decência
E a desfaçatez de caluniar.
Pra prender o Lula tem que voltar a trancafiar o Brasil.
O complexo de vira-latas também não cabe.
Nem as panelas das sacadas de luxo
O descaso com a vida dos outros
A indiferença e falta de compaixão
A mortalidade infantil
Ou ainda (que ficou lá atrás)
Os cadáveres da fome do Brasil.
Haja delação premiada
Pra prender tanta gente de bem.
Que fura fila e transpassa pela direita
(sim, pela direita)
Do patrão da empregada, que não assina a carteira
Do que reclama do imposto que sonega
Ou que bate o ponto e vai embora.
Como poderá caber Lula na cadeia,
Se pobre não cabe em avião?
Quem só devia comer feijão
Em vez de carne, arroz, requeijão
Muito menos comprar carro,
Geladeira, fogão – Quem diz?
Que não pode andar de cabeça erguida
Depois de séculos de vida sofrida?
O prestígio mundial e o reconhecimento
Teriam que ir junto pra prisão
Afinal, (Ele é o cara!)
Os avanços conquistados não cabem também.
Querem por Lula na cadeia infecta, escura
A mesma que prendeu escravos,
‘Mulheres negras, magras crianças’
E miseráveis homens – fortes e bravos
O povo d’África arrastado
E que hoje faz a riqueza do Brasil.
Lula já foi preso, ele sabe o que é prisão.
Trancafiado nos porões da ditadura
Aquela que matou tanta gente,
Que tirou nossa liberdade
A mesma ditadura que prendeu, torturou.
Quem hoje grita nas ruas
Não gritaria nos anos de chumbo
Na democracia são valentes
Mas cordatos, calados, covardes
Quando o estado mata, bate e deforma.
Luis Inácio já foi preso,
Também Pepe Mujica e Nelson Mandela.
Quem hoje bate palmas, chora e homenageia,
Já foi omisso, saiu de lado e fez que não viu.
Não vão prender Lula de novo
Porque na cadeia não cabe
Podem odiar o operário
O pobre coitado iletrado
Que saiu de Pernambuco
Fugiu da seca e da fome
Pra conquistar o Brasil
E melhorar a vida da gente
Mas não há
Nesse mundão de meu Deus
Uma viva alma que diga
Que alguém tenha feito mais pelo povo
Do que Lula fez no Brasil.
“Não dá pra parar um rio
quando ele corre pro mar.
Não dá pra calar um Brasil,
quando ele quer cantar.”
Lula lá!

(Publicado originalmente no blog do amigo Miguel do Rosário)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O xadrez político das eleições municipais do Recife, em 2016: Acordos nacionais "rifam" a possibilidade de uma candidatura própria dos tucanos no Recife.





No início do mês de Janeiro, ocorreram algumas inquietações no ninho tucano pernambucano. A movimentação maior, registre-se, envolveu mais intensamente aqueles tucanos que defendem uma candidatura própria do partido às eleições municipais de 2016, no Recife. Trata-se, reconheça-se, de um grupo de parlamentares com expressiva influência na máquina local do partido. Movimentos e acenos dos atores políticos devem ser acompanhados atentamente pelos analistas. Há, entre esses parlamentares, uma preocupação sobre o papel que os tucanos deve representar na quadra política pernambucana. Para esses, a agremiação tucana está muito aquém de suas possibilidades e deveria assumir, de fato, um projeto de poder com o propósito de conquistar os palácios Antonio Farias e Campo das Princesas. 

Entre esses que assumem publicamente esta posição está o vereador do Recife, André Régis, um ferrenho opositor da gestão do socialista Geraldo Júlio. Como já afirmamos em outras ocasiões, uma candidatura própria dos tucanos ao Palácio Antonio Farias esbarra em alguns obstáculos, talvez intransponíveis, a julgar pelo andar da carruagem política. Manter a prefeitura do Recife é a prioridade das prioridades dos socialistas pernambucanos, principalmente depois da morte do ex-governador Eduardo Campos. Há costuras nacionais que indicam uma aproximação entre tucanos e socialistas, o que implicariam numa improvável aventura tucana na província. O curioso é que, desta vez, a opção de deixar as coisas como estão é uma opção ótima para os dois principais postulantes tucanos à presidência da República, o senador Aécio Neves e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Este último, inclusive, entabula um namoro explícito com os socialistas, caso seja mais uma vez rifado no pleito de uso da legenda para as suas aspirações presidenciais. Aliás, esse namoro é antigo. Quem não se lembra das boas relações entre Alckmin e o ex-governador Eduardo Campos, em eleições passadas?

Chegar a um acordo com os socialistas, por sua vez, é uma proposta muito bem recebida entre os partidários do senador mineiro, muito próximo aos herdeiros dos campos.Diante da possibilidade da inviabilidade de uma candidatura própria, comenta-se nas coxias que o Deputado Federal Daniel Coelho poderia deixar a legenda à procura de um novo partido que bancasse sua candidatura. Essa legenda poderia ser o PTB, caso haja um acordo com o também postulante, Sílvio Costa Filho(PTB), além do cacique da legenda, Armando Monteiro. Há, portanto, motivos para que os socialistas locais nunca tenham levado muito a sério essa ideia tucana de uma candidatura própria ao Palácio Antonio Farias. E, certamente, não seria -apenas - pelo fato de alguns tucanos já integrarem a gestão do prefeito Geraldo Júlio. 

É que acordos nacionais podem melar as pretensões do ninho tucano tupiniquim. Os petistas ou simpatizantes do partido estão sendo "caçados" em praça pública. Ainda neste domingo, um militante pró-Dilma chegou a ser agredido em praça pública, ali no Parque da Jaqueira. Os níveis de intolerância parecem ter chegado ao limite. Há um consenso na legenda que estas próximas eleições municipais serão uma das mais difíceis para o partido. Mesmo nessas circunstâncias adversas, o partido parece sentir a necessidade de redobrar esforços para a superação da crise. Uma das estratégias é o fortalecimento da legenda, ampliando sensivelmente o números de candidaturas próprias.

Alguns encontros já realizados, o caso da Paraíba é um bem exemplo disso, indicam essa tendência da agremiação. Naquele Estado há, inclusive, uma tendência à "interiorização" do partido, fortalecendo a presença em cidades estratégicas, como Serra Branca, a rainha do Cariri, onde o PT sai de candidatura própria. Essas iniciativas parecem externar orientações definidas no plano nacional da legenda. Por falar nisso, o ex-prefeito do Recife por dois mandatos, hoje na presidência da SUDENE, João Paulo, em entrevista concedida, anunciou sua disposição de lançar sua candidatura pela legenda à Prefeitura da Cidade do Recife, em 2016. É a primeiro vez que ele se manifesta tão enfaticamente sobre o assunto, antes mesmo de consultar o seu astrólogo. João Paulo faz questão de enfatizar que a sua postulação conta com o apoio e o incentivo dos caciques nacionais da legenda. Ouvido pelo imprensa, Oscar Barreto, da Executiva Municipal, colocou panos mornos sobre o assunto, alertando que o partido ainda não se definiu sobre o nome que deverá concorrer ao Palácio Antonio Farias. Para um bom entendedor, isso é o bastante.  

Enquanto isso, o prefeito Geraldo Júlio(PSB) tenta administrar as intempéries políticas e naturais, como este último vendaval que tomou conta da cidade do Recife nos últimos dias, deixando um rastro de problemas, atingindo, sobretudo, os estratos sociais mais vulneráveis, aqueles esquecidos por uma gestão que, como afirma, o cientista político Michel Zaidan, caracteriza-se pela "inversão de prioridades". Não terá vida fácil daqui para a frente.

Editorial: A propósito de um tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia.







O comportamento de alguns setores da mídia brasileira chega a ser patético. Quando há a necessidade da realização de matérias que esclareçam a população sobre desvios de conduta na gestão da máquina - de acordo com as conveniências e as verbas de publicidade estatal recebidas - esses órgãos simplesmente ignoram os fatos ou praticam uma espécie de indignação seletiva, poupando ou minimizando aqueles políticos com os quais mantém uma relação de proximidade perigosa. Noutros, posam de vestais da ética, fingindo cumprir o papel de fiscalizadores da conduta dos nossos homens públicos, mas, na realidade, prestando-se ao serviço vil de assassinos de imagens, utilizando-se de recursos dúbios ou mesmo plantando informações inverídicas ou ilações. Creio que o caso do famoso tríplex do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se enquadra nesta observação. 

Com este assunto, muito tinta já foi gasta, abordando-o sob os mais distintos aspectos. Li algo sobre o "patrimonialismo" de corte petista e até sobre uma recusa à conciliação de classe, que Lula teria tentado - em vão - materializar no Brasil. O que nos inquieta, entretanto, é a sanha de alguns órgãos da imprensa, numa cruzada disposta a tudo, no sentido de "condenar" o "execrar" o ex-presidente Lula, muito antes dos devidos esclarecimentos ou provas em contrário. Impressiona-nos como "jornalistas" estão tratando este caso, apontando Lula como, de fato, proprietário deste tal tríplex do Guarujá e, quem sabe até mesmo, proprietário do sítio de Atibaia. Benefícios supostamente auferidos em transações nebulosas com empreiteiras, quando de sua permanência no Palácio do Planalto. 

O Instituto Lula foi criado com outra finalidade, mas, a julgar pelo andar da carruagem política, o seu setor jurídico será o epicentro das atividades daquele órgão, em razão da saraivada de ilações que estão sendo imputadas ao ex-presidente. No dia de ontem, o Instituto Lula publicou uma longa matéria no sentido de esclarecer a opinião pública acerca da real participação de Lula na Cooperativa Bancoop, que envolve o tríplex do Guarujá. Lula era epenas um cotista da cooperativa, com cotas um pouco acima de R$ 40 mil reais, devidamente declaradas à Receita Federal. 

É possível que o Lula tenha visitado o imóvel, assim como consideramos estranho essa relação entre a construtora OAS com a Bancoop, uma cooperativa administrada durante anos pelo senhor João Vaccari Neto, tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, envolvido - este parece um caso concreto, com provas irrefutáveis - até a medula em falcatruas cometidas com o dinheiro público. O caboclo já está cumprindo pena. Entra naquela galeria dos petistas que não honraram os compromissos da ética na condução dos negócios públicos, assumida em praça pública. 

Vamos aguardar, senhores, que essas investigações movidas pelo Ministério Público de São Paulo, e no bojo da Operação Lava Jato, possam esclarecer, por exemplo, se, de fato, a OAS retribuiu a agentes públicos as benesses auferidas nas transações com a estatal Petrobrás, fornecendo imóveis como pagamento de "propina". Por enquanto, apenas especulações. O problema é que, na ânsia de massacrar o ex-presidente, esses órgãos estão deixando a ética jornalista - e até o jornalismo de um lado - para praticaram o mais vil linchamento moral de um cidadão. Um bom exemplo disso é o tal barco adquirido pela ex-primeira dama Marisa Letícia, no valor de um pouco acima de 4 mil reais, com emissão de nota fiscal de compra e tudo mais. O que prova isso, afinal? Qual a relação com o fato de Lula ser o suposto proprietário do sítio? Ao ex-presidente Lula, sequer, tem sido respeitado o direito ao princípio da presunção de inocência ou observada a prerrogativa legal de que todos são inocentes até prova em contrário. 

No momento, nada foi provado sobre a propriedade daquele tríplex, tampouco a nota fiscal de compra de um barco no valor de 4 mil reais, muito menos, prova de que Lula seja o dono do sítio de Atibaia. Prova, apenas, que Dona Marisa Letícia toma os cuidados devidos ao realizar uma compra: pede a nota fiscal. Por enquanto, malgrado as mazelas que envolvem essa tal cooperativa - isto sim já muito evidente, com inúmeros credores lesados - nada há contra o ex-presidente, o que desaprova a conduta de alguns setores da imprensa, descaradamente agindo de má-fé, sob o manto de propósitos escusos. A simples possibilidade de uma eventual candidatura de Lula em 2018, possivelmente, é a motivação que desencadeou esse processo.

A charge que ilustra o texto é de autoria do chargista Renato Aroeira