pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

sábado, 9 de julho de 2016

Serra e o servilismo na política externa

Com o tucano, ressurge a visão conservadora, travestida de moderna e pragmática, de um Brasil inevitavelmente dependente

por Roberto Amaral — publicado 08/07/2016 11h02, última modificação 08/07/2016 15h14
Wilson Dias / Agência Brasil
José Serra e Michel Temer
José Serra e Michel Temer em junho: no novo governo, a mudança no Itamaraty é a mais evidente

No discurso de transmissão do cargo de ministro das Relações Exteriores ao professor e empresário Celso Lafer (2001), aquele chanceler que se notabilizaria  por tirar os sapatos e as meias para ingressar nos EUA, o ministro Luiz Felipe Lampreia, resumindo a política externa do governo FHC (a dependência encantada), proclamou:

 "O Brasil não pode querer ser mais do que é".
Não se tratava, essa, de uma frase qualquer perdida no cipoal de um discurso protocolar, mas de síntese lapidar de como a classe dominante brasileira, alienada e colonizada – culturalmente, politicamente, ideologicamente – se vê a si mesma e como a partir dessa visão abastardada (o sempre presente ‘complexo de vira-latas’ diagnosticado por Nelson Rodrigues), vê o país e nosso papel no mundo. Ou, antes, nosso não-papel.
Lampreia falava como intelectual orgânico da classe dominante nativa, como falaria e agiria seu sucessor Celso Lafer e como fala agora José Serra.
Com aquela síntese o embaixador, recentemente falecido, exortava-nos à renúncia não só a qualquer política externa tentativamente independente – tradição que o Itamaraty vinha construindo desde Afonso Arinos-San Tiago Dantas --, mas mesmo de renunciar simplesmente a ter política própria, aspirar a algo no concerto das nações. Sem saber, Lampreia antecipava o que seria a não-política externa de seu correligionário José Serra.
O ministro Lampreia, todavia, não estava só, nem foi original em seu discurso dependentista, que vê a dependência não como tragédia a ser removida, mas como fatalismo transformado em momento de regozijo. Antes dele, Vicente Rao, servindo ao governo títere de Café Filho (agosto de 1954/novembro de 1955), declarara, sob os aplausos da grande imprensa brasileira: 
“O Brasil está fadado a ser, por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos.
O conflito dependência/independência vem de longe. Evidentemente, não podemos aspirar à autonomia, mesmo condicionada pelo entrecho internacional, ou à independência, à soberania e ao desenvolvimento, ou seja, a um projeto nacional, se aceitamos uma visão de Brasil e de seu lugar no mundo, segundo a qual nosso país “não pode querer ser mais do que é”, pois “o importante é adaptar-se ao mainstream” e “ser convidado para sentar-se à mesa” de discussão, pois, quem sabe, nos servirão as sobras.
Essa visão estreita, conformista, subdesenvolvida é típica do intelectual orgânico do conservadorismo, travestido de modernidade e pragmatismo, portador daquele realismo de interesses que tende a inculcar no povo a ideia de que compor e adaptar-se é mais inteligente (prático, útil, rentável) do que lutar. É assim que as elites colonizadas passam às nossas populações – como científica, objetiva, prática e pragmática, isenta, benéfica e única – a ideologia do dominante.
A política externa brasileira, desde a redemocratização de 1946 até aqui, vem oscilando entre servilismo abjeto e tratativas de independência, estas principalmente a partir dos governos Jânio (1961) e Jango (1961-1964) cujo mais largo período de vigência foi vivido nos 12 anos de governo petista (2003-2015).
Esse período de política benfazeja foi interrompido pelo governo interino e a nomeação de José Serra para o Itamaraty, cuja política, por suas mãos, volta aos padrões dos tempos Collor-FHC, exemplarmente definidos por Chico Buarque de Holanda: “o Brasil que fala grosso com a Bolívia e fino com os EUA”.   
Remontam aos anos 1950 os primeiros movimentos visando à constituição do que nos anos 1960 ficaria grafado como ‘Política Externa Independente’. Se muito de sua formulação doutrinária pode ser atribuído ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros-ISEB (1955/1964), Hélio Jaguaribe e outros, a implantação é obra da meteórica presidência Jânio Quadros (1961), levada a cabo pelo seu ministro (MRE) Afonso Arinos, que, com San Tiago Dantas, dar-lhe-ia continuidade no governo João Goulart.
Não se trata, pois, a tratativa de uma política externa independente, de uma ‘invenção ideológica do lulismo’, mas de projeto longamente maturado pela sociedade brasileira.
Essa política, de priorização dos interesses nacionais, é abandonada após o golpe militar de 1964, quando impera a doutrina segundo a qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’, nesses termos formulada pelo embaixador do Brasil em Washington, general Juraci Magalhães (1966-1967).
Tal política, por sua vez, começa a ser revertida, já sob a ditadura militar, logo ao tempo de Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores. A autonomia cresce nas administrações Geisel (ministro Azeredo da Silveira) e Figueiredo (Saraiva Guerreiro). Geisel (1974-1979) chega a romper o acordo militar Brasil-EUA ao reagir às ameaças da Casa Branca, insatisfeita com o acordo nuclear firmado pelo Brasil com a Alemanha (1975), que previa transferência de tecnologia sensível ao Brasil.
Naquele ano, foi criado o ainda hoje claudicante Programa Nuclear Brasileiro, que previa a instalação de uma usina de enriquecimento de urânio, e várias centrais termonucleares, contra o que militavam e ainda militam os EUA.
A política externa Geisel-Azeredo da Silveira, que não agradou aos grandes meios de comunicação brasileiros, como igualmente e pelos mesmos motivos não agradaria a gestão Amorim, ficou conhecida pelo rótulo de 'pragmatismo responsável' e implicou, dentre outras inciativas, o reconhecimento diplomático brasileiro da República Popular da China e da independência dos países africanos lusófonos, em guerra de libertação nacional.
Esse Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola e o governo de Agostinho Neto, para o que muito concorreu a atuação do embaixador brasileiro Ovídio Mello.
Tal tradição que se vinha construindo, de uma política externa que priorizava os interesses nacionais e, por consequência, exigia de nosso país o exercício de um papel ativo, é, porém, congelada nos governos da ‘Nova República’, nomeadamente nas administrações Collor e FHC, para ser retomada pelo governo Lula, conduzida pela tríade Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores), Samuel Pinheiro Guimarães (secretário-geral do MRE) e Marco Aurélio Garcia (assessor especial da Presidência da República). 
Seu diferencial é representado por maiores iniciativas no plano internacional, onde o Brasil procura o espaço de ator.
Assim, o projeto de política externa independente simplesmente retomava seu leito natural. Mas após de 12 anos de política altiva e ativa nos termos em que a definiu o chanceler Amorim, contemplada de sucesso e consagrada pelo reconhecimento internacional, retornamos, com o governo interino e ilegítimo de Michel Temer, à alienação da dependência encantada.
Retornamos aos anos Collor-FHC e para esse papel deplorável ninguém mais capacitado do que o senador José Serra. E ele, com sua truculência, já disse a que veio: assumindo ‘nossa irrelevância’ (aquela que o colonizador inculca no colonizado), mais uma vez nos pomos a serviço da política dos EUA.
Seu discurso de posse – recheado de ideologismos em nome da negação da ideologia – é tão deplorável que lembra os textos do lamentável embaixador Rubens Barbosa e as lamúrias de Sérgio Amaral, eternamente inconformado com sua remoção da Embaixada do Brasil em Paris.
O novo chanceler parece incansável na faina de dividir e destruir o Mercosul (que absorve 80% de nossos produtos manufaturados) abrindo caminho para uma Alca de fato, quando, realizando os sonhos de Vicente Rao, teremos renunciado a toda e qualquer possibilidade de construir uma grande nação, um grande país, razoavelmente rico, minimamente justo e independente.
O sonho da Unasul será substituído por uma recuperada OEA, submissa como sempre aos interesses da geopolítica dos EUA, pois, para tal mister foi criada em 1948, em plena Guerra Fria, e a seu serviço.
Ao mesmo tempo em que lança farpas contra os governos de Venezuela, Cuba, Bolívia e Nicarágua – lembrando os piores editoriais do Estadão –, o novo chanceler chega ao cúmulo da inconveniência de deslocar-se a Montevidéu, levando FHC a tiracolo, para tentar impedir que o Uruguai passe a presidência pro tempore do Mercosul à Venezuela, tendo de ouvir de Tabaré Vasquez que as normas são acordadas para serem cumpridas.
Para essa nova fase de dependência encantada são incompatíveis iniciativas como a de nossa presença nos BRICS, como é inconcebível tentarmos exercer, sem o comando ou ao menos o placet da Casa Branca, qualquer posição destacada, ou de liderança regional, muito menos nossa aproximação com o hemisfério Sul.
Sintomático dos novos tempos é o silêncio do governo brasileiro ante a iminência de instalação de bases militares dos EUA na Argentina, uma das quais na nossa sensível tríplice fronteira.
É apenas o começo
.

Le Monde Diplomatique: "Parlamentarismo deslocado" e a "ponte da amizade".

PARAGUAI E BRASIL
“Parlamentarismo deslocado” e a “ponte da amizade”
O golpe contra o governo Lugo colocou o Paraguai na contramão do progressismo da região; o golpe contra Dilma colocaria o progressismo na contramão
por Henrique Ferreira


Com o golpe de 2009 contra Manuel Zelaya, presidente de Honduras deposto pelo Congresso, abriu-se no continente latino-americano o precedente de interrupção de um governo por meio de artimanhas e prerrogativas do Parlamento.

Em 2012, o Congresso paraguaio aperfeiçoou o uso de um julgamento político para interromper um governo; valendo-se da comoção que produziu o massacre de Curuguaty, armaram o julgamento de Lugo, que se transformou em golpe parlamentar.
O impeachment no Brasil tem etapas que permitem desenvolver uma defesa com mais tempo – no Paraguai, os julgamentos políticos são trâmites rápidos: Lugo foi deposto em uma semana de processo. Porém, da mesma forma que no Paraguai, esse instrumento republicano, no caso da presidenta Rousseff, foi levado a cabo sem provas reais e acusações fundadas. A base governista rachou e o Congresso formou um governo por eleição indireta.
Deixamos de ser um país fragmentado, com pequenos núcleos agrícolas autossuficientes e desconectados desde a década de 1960, após a construção da represa hidrelétrica de Itaipu, que alistou forças de trabalho locais e despovoou o campo. Com a estrada então inaugurada, que uniu a capital à fronteira do Brasil, muitos brasileiros de zonas rurais que antes não podiam pagar os altos preços pela terra em seu país tiveram acesso a ela no Paraguai. A consequência pode ser percebida no norte e no noroeste do país, onde há muitos “brasiguaios” assentados e arraigados culturalmente.
Quase 90% das terras cultiváveis se destinam à produção em grande escala e monocultura; 2,6% dos proprietários concentram 85% das terras;1 brasileiros teriam 4.792.528 hectares; estrangeiros, 7.708.200 hectares, área equivalente a quatro departamentos2 juntos na região de fronteira com o Brasil.3 A área total nacional é de 40.675.200 hectares, dos quais 12% estão nas mãos de brasileiros.
Desde 2005 existe a Lei de Segurança Fronteiriça – que proíbe a compra de terras de fronteira por estrangeiros –, mas os proprietários de terra brasileiros não permitiram que ela fosse aplicada. Um dos maiores opositores brasileiros à lei é Tranquilo Favero, e esse conflito foi mencionado no documento de acusação durante o julgamento político de Lugo em 2012.
Em 1989, com o golpe de Estado perpetrado pelas Forças Armadas, o então ditador Alfredo Stroessner se exilou no Brasil.
Durante a instável transição democrática do Paraguai, governos colorados se alternaram e colocaram em xeque suas próprias disputas internas. O Itamaraty teve um protagonismo importante nesses acontecimentos. O embaixador brasileiro no Paraguai, Marcio de Oliveira Dias, designado por Fernando Henrique Cardoso, conta como organizou um encontro entre os presidentes brasileiro e paraguaio, para que este último tivesse apoio para destituir o conhecido general golpista Cesar Oviedo.4
Em 1999, Raul Cubas Grau renunciou à presidência do Paraguai e, antes que se iniciasse um julgamento político contra ele, o Brasil lhe concedeu asilo político. Logo depois do golpe político-parlamentar que tirou Lugo do poder, o Brasil liderou o Mercosul para que fossem impostas sanções ao Paraguai. Com a chegada à presidência de Horacio Cartes, em 2013, pelo Partido Colorado, a dura posição inicial contra a Venezuela foi suavizada por uma série de telefonemas do Itamaraty, e o então chanceler brasileiro Antonio Patriota sentenciou em uma entrevista que a posição de Cartes era a de um presidente recém-eleito e que “é importante seguir o que dirá Horácio Cartes no pleno exercício do poder”.5

Onda precarizadora e “desdemocratizadora”
O mundo do trabalho no Paraguai é estrutural e historicamente precarizado: 33% dos jovens trabalham em situação de subemprego; 60% dos jovens não possuem contrato; cinco de cada dez trabalhadores de 30 a 39 anos recebem um salário mínimo; a renda média é de US$ 370, sendo o salário-base US$ 307. No fim do ano passado, o portal do governo (www.ip.gov.py) publicou um relatório do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar) segundo o qual as empresas brasileiras economizariam 54% em custos de produção em alguns setores.6 A Gerência de Serviços de Internacionalização da Confederação Internacional das Indústrias afirma que 80% das maquilas no Paraguai são de capital brasileiro, e as exportações desse tipo de empresa cresceram 52% entre 2013 e 2014.7
Neste contexto, vemos que um dos principais apoiadores do impeachment no Brasil, a Fiesp, tem em sua agenda desmontar a CLT e terceirizar o trabalho nas empresas brasileiras, ou seja, sua política faria o Brasil retroceder ao nível paraguaio de proteção zero ao trabalhador e desmantelaria fábricas no Brasil para deslocá-las para o Paraguai, com a promessa de economia nos custos de produção.
O peso do Brasil para o Paraguai e região é de equilíbrio e, para nossa realidade, teve protagonismo com tentativas de golpe e golpes consumados.
O caso brasileiro vem demonstrar que os grupos que detêm o poder econômico e político não têm escrúpulos em colocar em prática em nossas democracias um “Parlamento deslocado”. O golpe no Brasil terá influência sobre todos os presidentes eleitos por voto popular: serão prisioneiros da dinâmica parlamentar e seus financiadores. 


Editorial: PT apoia Rodrigo Maia(DEM) para evitar um mal maior





Faz algum tempo, sem parar, publicamos um editorial por dia aqui pelo blog. É sempre uma decisão difícil escolher um tema a cada dia, mesmo diante de tantas possibilidades. Por vezes, já num processo bastante adiantada, desistimos de publicar algum texto, contingenciado pelos fatores mais diversos. Acabamos de "desistir" de mais um texto sobre o Ministério da Educação que, no ritmo em que se encontra, deve ser "privatizado" até o final dessa interinidade, que esperamos que seja breve. Mais um dono de faculdade privada foi nomeado para compor o CNE - Conselho Nacional de Educação - reproduzindo uma tendência naquele órgão.


Ainda em razão do governo interino e ilegítimo, não poderia deixar de compartilhar com vocês uma reflexão do professor titular da Universidade do Rio Grande do Norte, Durval Muniz, sobre as perspectivas sombrias que nos aguardam neste interinidade: Um país sem educação, sem petróleo, sem bolsa de estudos, sem SUS, com 80 horas semanais de trabalho, com aposentadoria aos 75 anos, um país capacho das vontades americanas, um país governado por uma quadrilha corrupta, reacionária e hipócrita, servindo de bandeja a um empresariado e a uma elites que ainda sentem saudades da escravidão.Claro que algo precisa ser feito para que essas previsões do professor Durval Muniz não se materializam. 

Uma outra questão que suscita nossos comentários no dia de hoje é o possível apoio do PT à candidatura do Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, Rodrigo Maia (DEM) para a Presidência da Câmara dos Deputados. As negociações contariam com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Do ponto de vista ideológico e programático, há quem veja nisso uma grande contradição, uma vez que o Deputado e o seu partido, o DEM, além de adversário histórico do petismo, formaram um dos núcleos mais entusiasmado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. É isso mesmo, sob este aspecto, não há aqui qualquer reparo. Há, aqui, uma contradição clara.

O que está em jogo, porém, é uma análise sobre a correlação de forças. E, nesta correlação de forças impostas pela realpolitik, com toda a desgraça, melhor seria um Rodrigo Maia(DEM), do que permitir que o senhor Eduardo Cunha(PMDB) continue ditando os rumos daquela Casa, como uma espécie de eminência parda, mesmo afastado, que é o que parece que ele pretende. O Centrão, que orbita em torno de uma candidatura que conta com o aval dele, deve somar algo em torno de 270 parlamentares, que foram decisivos no processo de impeachment que afastou temporariamente a presidente Dilma Rousseff da Presidência da República. 

Numa conjuntura como esta, mesmo que a posição de Lula possa ser questionada sob alguns aspectos, por outro lado, não restam alternativas às forças políticas que ainda resistem às urdiduras de caráter golpistas, às quais o senhor Eduardo Cunha(PMDB) sempre esteve ligado. Sua renúncia da presidência daquela Casa, num ato recente, não passou de um dramalhão muito bem ensaiado pelos atores políticos que ainda tentam protegê-lo, conforme afirmamos ontem aqui pelo blog. 


A charge que ilustra este editorial é do chargista e músico Renato Aroeira. 



Drops político para reflexão: O que nos reserva o governo golpista?

O Brasil que nos será presenteado pelo governo golpista e pela turma do verde e amarelo, o da nossa bandeira nunca será vermelha, e outros chavões imbecilizados, os coxinhas e amantes do pato da FIESP. Um país sem educação, sem petróleo, sem bolsa de estudos, sem SUS, com 80 horas semanais de trabalho, com aposentadoria aos 75 anos, um país capacho das vontades americanas, um país governado por uma quadrilha corrupta, reacionária e hipócrita, servindo de bandeja a um empresariado e a uma elites que ainda sentem saudades da escravidão.

Prof. Durval Muniz em sua timiline da rede Facebook

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Charge! Quinho via Facebook

Charge!Leo Villanova via Facebook

Editorial: A "dramática" renúncia do senhor Eduardo Cunha.



Temer_CryBaby.jpg

E o Eduardo Cunha chorou. O fato ocorreu no dia de ontem, após a sua renúncia ao cargo de Presidente da Câmara dos Deputados. De acordo com os sempre bem-humorados internautas, foi um ato típico dos dramalhões mexicanos, essas novelas retransmitidas por aqui, através da TV do Sílvio Santos. Uma palavra que, segundo ele mesmo, não fazia parte do seu dicionário, passou a fazer depois das contingências impostas por uma conjuntura política extremamente desfavorável. Era a renúncia ou a cassação. Com a renúncia, a raposa ainda pode aguardar pelos próximos lances do jogo, previamente acordado com os operadores do golpe institucional que se instaurou no país, do qual ele foi um dos artífices. 

O clamor popular contra o Deputado Eduardo Cunha é enorme. Já dissemos isso aqui e voltamos a repetir, o que fazer com Cunha é algo que preocupa bastante os conspiradores. Ontem, o que mais se via pelas redes sociais eram pessoas afirmando-se insatisfeitas com a "renúncia" e exigindo a sua "prisão". É uma "equação política" difícil de resolver, até mesmo para os especialistas em ardis. O percurso a seguir já seria previsível: a preservação do mandato de Deputado Federal, talvez com uma punição de afastamento por alguns meses; e os processos que correm contra ele julgados pelo senhor Gilmar Mendes, uma vez que não se exige a participação do colegiado daquela corte, formando pelos 11 ministros, uma vez que ele já não é o presidente do poder legislativo. 

Felizmente, algumas dessas urdiduras costuradas nas coxias dos golpistas não saem conforme o figurino. As vezes é preciso, como diria o saudoso Mané Garrincha, combinar com o adversário, que, pontualmente, vem esboçando uma resistência cívica ao golpe contra a presidente afastada Dilma Rousseff. O senhor ministro da Justiça, por exemplo, depois da repercussão negativa à nomeação do general Sebastião Robero Peternelli, para presidir a Funai, voltou atrás e revogou a nomeação que havia sido acertada com os apoiadores do PSC, numa típica cobrança do butim. O militar estava entre aqueles que apoiaram o golpe civil-militar de 1964. Ocorreu uma forte mobilização das comunidades indigenistas. Embora pontuais, essas pequenas vitória contra os golpistas, no final, podem representar um esboço de resistência importante.

Ontem, publicamos aqui pelo blog um artigo do professor da UFPE e cientista político Michel Zaidan Filho. O artigo, entre outras questões, enfatiza a celeridade do desmonte das políticas sociais redistributivas de renda deste governo interino, numa velocidade alarmante, para atender aos interesses dos que o apoiaram. Os golpistas agem com o mesmo entusiasmo de moscas varejeiras em carne podre. Como afirmamos logo no início deste governo interino, parece existir no ministério uma concorrência macabra entre eles, para ver quem apresenta melhores "resultados" ao chefe e sua trupe de apoiadores. 

Já nos parágrafos finais do seu texto, o professor Zaidan volta à província para discutir os desmandos governamentais que estão ocorrendo no Estado de Pernambuco. Estamos preparando um dossiê ou uma espécie de accountability da gestão socialista. Muito em breve a publicaremos por aqui, mas o professor Michel, em seu artigo, já nos oferece um precioso "aperitivo".   

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Editorial: Justiça suspende farra com passaportes diplomáticos para pastores evangélicos.





Outro dia, em razão da produção de um texto, pesquisamos aqui pela internet algum instrumento de tortura de escravos que se iniciasse com a letra "B". Quem nos instigou foram os comentários do sociólogo Sérgio Pinheiro(USP), acerca da bancada dos bancos, da Bíblia, da bala, dos bois, da bola que estiveram dando suporte às urdiduras golpistas que afastaram temporariamente a presidente Dilma Rousseff da Presidência da República. Logo depois descobriríamos, através de um longo texto, publicado no portal Carta Maior, sobre uma tal bancada de "escravocratas", ou seja, parlamentares que mantinham, em suas propriedades, trabalhadores em condições de trabalho sub-humanas e que lutavam pelo afrouxamento da legislação que trata do assunto no Legislativo Federal. Encontramos um instrumento bastante utilizado na idade média, a berlinda, ou seja, o "B" que faltava para identificá-los. Esses parlamentares também estiveram dando apoio ao golpe institucional. 

Feita essa digressão, reservo o editorial de hoje a uma espécie de "cobrança do butim" ou os benefícios auferidos por aqueles que estiveram diretamente envolvidos nesse conjunto de forças sociais e políticas que engendraram a derrubada temporária da presidente Dilma Rousseff. O cientista político Michel Zaidan, em artigo publicado aqui no blog, também comenta o assunto, enfatizando a voracidade com  que esses senhores estão desmontando as políticas sociais no país.Um dos grupos sociais mais relevantes entre esses aproveitadores de ocasião é representado pela bancada da Bíblia, um conjunto de pastores e parlamentares que deram apoio integral às urdiduras inconstitucionais ora em curso. 

A lista é extensa, mas, emblematicamente, citaria aqui o nome do pastor R.R.Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, que, logo após José Serra assumir o Ministério das Relações Exteriores, concedeu para ele um passaporte diplomático. Antes, já havia concedido um outro passaporte diplomático para o também pastor da Igreja Assembleia de Deus, Samuel Ferreira e sua esposa, Keila. Samuel Ferreira é investigado sob suspeita de lavar dinheiro de propina para Eduardo Cunha. 

O mais curioso disso tudo são as justificativas apresentadas pelo Itamarati - leia-se José Serra - para a concessão desses passaportes diplomáticos, onde se observa uma inconcebível confusão entre Estado e religião. Reproduzo aqui o despacho do juiz que analisou a ação: " Na ordem constitucional vigente, o Estado é laico, há separação plena entre Estado e Igreja, de forma que é efetivamente incompatível com a Constituição que líder religioso nesta condição e no interesse de sua instituição religiosa, seja representante dos interesses estatais brasileiros no exterior". 

A gestão de José Serra no Itamarati tem sido bastante criticada, muito embora essas críticas sejam inócuos se ele se propuser - como se propôs - a dar aquela guinada prevista no rumo das nossas políticas exteriores consoante a nova nucleação de poder formada pelos operadores do golpe institucional que contou, inclusive, com apoio de setores da "banca internacional". Mais um "b". Há queixas pontuais, como seus hábitos de vampiro, que atrapalham bastante o fluxo de trabalho naquela pasta, notadamente em função dos fusos horários. Ele também é criticado por ter apresentado absoluta falta de conhecimento sobre assuntos básicos das relações internacionais, pagando micos em encontros no exterior. Mas, como disse, isso pouco importa para o Jaburu, se ele fizer o serviço que se espera daquela pasta. E olha que ele vem se esforçando.

Uma outra consideração diz respeito aos projetos políticos de José Serra(PSDB). Será que ele ainda deseja ser presidente da República? Há quem jure que sim, que, no caso dele, trata-se de uma ideia fixa. E, como diria Machado e Assis, Deus te livre de uma ideia fixa, caro leitor. Alguns analistas sugerem que ele estaria preparando o mesmo caminho trilhado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou seja, depois do Itamarati, quem sabe um cargo na área econômica e, de volta, o olho no Palácio do Planalto, o que poderia ser sua última cartada, em razão da idade já avançada. Se está tudo muito turno neste universo político, ao menos esta decisão judicial pode inibir novas concessões descabidas desses passaportes diplomáticos. 

Charge! Aroeira via Facebook

Michel Zaidan Filho: A desgraça de muitos é a sorte de alguns




No compasso de espera do julgamento pela Senado Federal do afastamento (ilegal) da Presidente Dilma Rousseff, vai se processando o trabalho de desmonte das políticas públicas redistributivas no Brasil.

A voracidade e a cupidez da turma que comprou pastas ministeriais pelo seu voto contra a Presidente não têm paralelos na história da administração pública em nosso país. Parece que a (má)consciência da interinidade e ilegalidade estimula o arbítrio e a violência com que vem sendo feito o trabalho de desmonte de todas as conquistas do povo brasileiros, nesses últimos 15 anos.

Como a direita fisiológica e privatizante não conseguiu pelo voto chegar ao Poder, o atalho ilegal, inconstitucional, suspeitoso tornou-se o caminho mais fácil para a execução de uma agenda não publicizada, anteriormente, que pode ser definida como o "desmanche" do sentido de toda atuação do estado brasileiro em prol dos mais humildes e necessitados.

O chefe interino, que recebe às ordens do bandido afastado da Presidência da Câmara, vai se caracterizando como um governo de sobressaltos, do vai-e-vem, da dança de rato, ora para frente, ora para trás, ao sabor das pressões dos diversos grupos que apoiaram a manobra temerista.

A fisionomia dos golpistas vai surgindo no horizonte para não deixar ninguém se enganar com a concepção da obra: o interino da Saúde, depois de decretar a falência do SUS, fala em criar plano de saúde pagos para o povo, com todas as limitações que cercam esse tipo de produto, para alegria das empresas particulares de Saúde.

O avicultor da educação reforça o financiamento público às instituições privadas de ensino, através do Fies, enquanto deixa ao deus dará as instituições públicas de ensino (congelando concursos, mudando as regras da aposentadoria e congelando salários).

O menudo das cidades trabalha para a paralisação dos metrôs e para cortar o financiamento das habitações populares. O transformista da defesa abre o seu ministério para a contratação de parentes. E o pelego da força sindical conseguiu emplacar o filho no Instituto da Reforma Agrária.

Pelo visto, os "impeachmistas" se locupletaram com o golpe parlamentar. Deram-se bem. Até quando?

Em Pernambuco, as coisas se passam como no país de Alice: tudo está bom, tudo está bem. A polícia civil   dá provas de sua incontestada capacidade pericial de não periciar, a mando de seus superiores.

O ministério público dá sinal de vida, denunciando um potencial candidato às eleições municipais, adversário natural do prefeito da atuação oligarquia política.

E o governador é apresentado, pelo obeso e afônico secretário de saúde, como o estadista do ano, ao ter indicado um modelo de protocolo no diagnóstico e tratamento da microcefalia! É o caso de se perguntar se Deus enviou o mosquito da doença apenas para o governador se destacar como o mais perfeito paladino da saúde pública no Brasil.

Na verdade, tudo isso é um escárnio diante das inúmeras dificuldades da população nas UPAS, nos postos de saúde, nos hospitais estaduais, nas UTIs. Só governantes e gestores que transformam a miséria humana em matéria de propaganda enganosa (e cara), podem ser transformados em "heróis" às custas do sofrimento alheio.

E a Arena Pernambuco, qual é o protocolo de eficiência, funcionalidade e economia para esse monumento ao desperdício de dinheiro público? E o caixa dois que irrigou montanhas de dinheiro público para as campanhas eleitorais do PSB em Pernambuco? Qual é o protocolo? O modelo de moralidade pública que pode justificar o domínio dessa oligarquia política que tanto nos infelicita em nossa região?


Quem nos salvará, não do mosquito ou da microcefalia, mas da incúria governamental, da incapacidade administrativa, da demagogia vazia e cara dos filmetes exibidos nos meios de comunicação, a peso de ouro? - Precisamos urgentemente de um protocolo de cidadania, de republicanismo, de respeito ao erário público. A nossa miséria e o nosso sofrimento não podem continuar alimentando a doença moral, política, administrativa em que se tornou o Estado brasileiro.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Editorial: Deputado pede anulação da votação contra Cunha no Conselho de Ética.








O Brasil tem umas coisas engraçadas e trágicas ao mesmo tempo. Os chargistas, possivelmente, são os profissionais que melhor traduzem essa nossa realidade, através dos seus traços. Já publicamos por aqui algumas charges fantásticas sobre os conselhos e comissões de ética formados no Brasil, não raro, constituídos por atores pinçados de um universo naturalmente comprometido, com um currículo mais sujo do que pau de galinheiro. Depois, em função das contingências, exige-se o improvável desses atores: que eles ajam consoante princípios éticos, movidos pela isenção de julgamento e pautados pelo espírito público. Que nos perdoem os leitores, mas estamos aqui diante de uma missão impossível. 

No dia de hoje, havíamos programado tratar da accountability de um determinado partido que governa o Estado de Pernambuco e que já estamos enojados de acompanhar, quase que diariamente, denúncias de malversação de recursos públicos por parte dos seus membros. É algo que impressiona a engrenagem montada por essa agremiação política com o propósito de gerir o bem público com objetivos de auferir vantagens pessoais para os seus membros. A imoralidade salta aos olhos. Como é que um gestor público pode ser sócio de uma empresa que tem negócios com a máquina pública? Como é possível que os órgãos de fiscalização permitam uma excrescência dessas? Outros tantos, através de emendas parlamentares, realizam shows particulares em suas fazendas com recursos da EMPETUR? Vejam o estágio a que chegamos aqui na província. Não faltarão oportunidade de voltarmos a tratar deste assunto.

Por enquanto, vocês foram salvos pelo Eduardo Cunha. Agradeçam a ele. Por falar em salvação, parece ser esta a missão dos companheiros do deputado na Câmara Federal ou, mais precisamente, a dos seus operadores no Conselho de Ética daquela Casa. Desta vez a manobra é no sentido de anular a votação que pede o afastamento do Deputado Federal Eduardo Cunha(PMDB), sob o argumento de que o ilustre parlamentar teria sido "traído" por aliados. É um dos argumentos mais estapafúrdios que já ouvi. Demonstra um absoluto desprezo pelas "regras do jogo", o que não seria surpresa quando se trata dessa trupe que o acompanha. Já se disse aqui que o Eduardo Cunha já teria cumprido o seu papel nessa engrenagem do golpe institucional estando, portanto, na condição de "descarte".

O problema é como descartá-lo, posto que se trata de um ator com informações privilegiadíssimas sobre toda a engrenagem e os atores envolvidos. O medo ao cara é tanto que até as portas do Palácio Jaburu foram abertas para recebê-lo secretamente, altas horas da noite. Logo em seguida, manobras na Câmara dos Deputados deram a entender que o establishment ainda tentaria salvar seu pescoço, temendo por sua reação quando se encontrasse abandonado. Volto a fazer uma pergunta que já fiz aqui pelo blog: não sei como eles vão se "ajeitar" com o Deputado Eduardo Cunha. Trata-se um ator político com um padrão de rejeição popular tão acentuado que não interessa nem aos golpistas, mas sabe muito e pode criar vários problemas para o núcleo duro da engrenagem. 

Há uma forte reação dos parlamentares em não aceitar mais essa manobra perpetrada com o propósito de protelar, mais uma vez, o afastamento do senhor Eduardo Cunha do parlamento. Vamos torcer que, nesta correlação de forças, os parlamentares que se opõem às manobras possam reverter mais este ardil. 
  

Drops político para reflexão: Para George Sanguinetti, morte de Paulo César Morato foi queima de arquivo







Contribuição ao esclarecimento da morte de Paulo Cesar Morato. Elementos que fundamentam o homicídio, a queima de arquivo.
Observo o levantamento fotográfico, parte da perícia de local, realizada no quarto do motel Tititi, em Olinda, PE, onde o corpo foi encontrado. Há dois copos, encontrados no banheiro e uma garrafa de água. Como houve " falha de comunicação" do Delegado com o setor de Perícia e os peritos papiloscopistas não foram convocados, para realizar a coleta das digitais; foram impedidos de colher estes vestígios, tão importantes para afirmar e identificar pessoa ou pessoas presentes,quando da morte..

Agora o inacreditável: o acondicionamento dos copos e da garrafa, transportado para o setor de Perícia, foi feito de modo irregular, relapso, envolvidos em sacos plástico; não permitiu, segundo divulgado, que fosse identificado digitais, traços ou fragmentos. Como justificativa ou desculpa, o fato de haver sido acondicionado em sacos plásticos. 
Tem conhecimento, os Peritos que a metodologia da coleta, acondicionamento e armazenamento de vestígios, determina preservar a integridade do material que será examinado, utilizando caixas de papelão, armações de madeira para acondicionamento de garrafas, copos, vidros em geral. Agora o mais importante: no nosso laboratório, pedimos a colaboradores, que segurassem copos e garrafas; em seguida agimos, como reprodução simulada, envolvemos todos com sacos plásticos e algumas horas após, examinamos em busca de digitais. Encontramos impressões digitais latentes, traços, fragmentos, com técnica simples em todos os copos e garrafas. 
Volto a afirmar o manuseio do cadáver. A ausência de secreções hemorrágicas em redor da boca e nariz, de vômitos na fronha, roupa de cama, o facies, a posição, a limpeza cirúrgica indicam que o cadáver foi manuseado, preparado para ser encontrado.
Investiguem o homicídio. A queima de arquivo.

 Médico legista George Sanguinett, em sua timiline da rede Facebook.

Le Monde Diplomatique: Bancadas da cidadania


Claudius
por Silvio Caccia Bava
Houve um tempo em que se definia a democracia como o governo do povo, pelo povo e para o povo. Os tempos mudaram e a globalização impôs uma nova realidade: as grandes corporações, especialmente as financeiras, controlam as decisões de governo. Elas escrevem as leis e pagam os políticos para que eles façam o que elas querem. Temos assim uma democracia das grandes corporações, pelas grandes corporações, para as grandes corporações.¹
O fato de as decisões públicas estarem cada vez mais alinhadas com os interesses econômicos, e não com as expectativas da população, gera um descrédito crescente, praticamente em todos os países ocidentais, com relação aos partidos políticos, aos parlamentos e aos poderes de maneira geral. 
Dados da Transparência Internacional apontam que o povo vê os partidos políticos como as instituições em que menos acreditam, identificando-os como corruptos ou extremamente corruptos. É a opinião de 70% da população da França, 80% da Espanha, 90% da Grécia. 
As pessoas se sentem excluídas. Os cidadãos perderam o sentimento de que participam dos governos. Reduziu-se a democracia a eleições que, de quatro em quatro anos, passam um cheque em branco para candidatos que, em sua ampla maioria, não representam seus interesses. 
Esse cenário internacional também se expressa no Brasil. As mais recentes pesquisas de opinião sobre esse tema revelam que 78% da população está com a confiança abalada em relação aos políticos em geral; 77%, em relação aos partidos políticos; e 60%, em relação ao Congresso Nacional.² O prestígio dos partidos políticos despencou para 5%; o do Congresso Nacional, para 22%.³ É o sistema político como um todo que entra em colapso. 
Não podemos aceitar esse controle da democracia pelas grandes corporações, que criminaliza os atos de resistência democrática e restringe as liberdades cada vez mais. E as pesquisas demonstram que os partidos políticos, todos eles, não estão merecendo a confiança do eleitor. É nesse cenário que irão ocorrer as eleições municipais deste ano. 
Quais opções então se colocam para o cidadão e a cidadã que defendem a democracia e os direitos sociais? Muitos estão propensos a se abster, a não votar. Se uma abstenção, por exemplo, de 40% deixasse vagas 40% das cadeiras da Câmara Municipal, esse protesto teria seu peso. Mas não é assim. O resultado dessa abstenção é piorar ainda mais o parlamento municipal, que irá de toda forma eleger os mais votados. 
A crise política nacional afeta de muitas maneiras a atual conjuntura. Um de seus efeitos é praticamente ignorar as eleições municipais, que terão lugar em menos de noventa dias. Com o foco no impeachment e na Lava Jato, a grande imprensa ignora tudo o mais. Mas é preciso destacar que esta será a primeira eleição do século XXI em que as empresas estão proibidas de financiar seus candidatos. As campanhas terão de ser feitas nas ruas e dependerão muito das associações, coletivos, movimentos e sindicatos, que articulam a sociedade civil. 
Trata-se de uma oportunidade para que a cidadania se reaproprie do espaço da política e venha a constituir, independentemente dos partidos políticos, suas bancadas de vereadores alinhadas com a defesa dos direitos e da democracia. 
Enquanto não se realiza uma constituinte independente pela reforma política, é preciso pensar em outras estratégias para enfrentar estas eleições. Uma possibilidade é deixar de considerar os partidos políticos e votar em candidatos e candidatas que tenham uma história de compromissos com os direitos sociais, com os coletivos de defesa da cidadania, com os movimentos sociais, com a democracia. E, assim como existem as bancadas de interesses corporativos no Congresso Nacional – do agronegócio, dos bancos, da bala etc., distribuídas por vários partidos políticos –, teremos as bancadas da cidadania recrutando também vereadores eleitos por vários partidos. 
As bancadas da cidadania são importantes nesta conjuntura porque as eleições se dão em um momento em que o governo federal golpista se propõe a cortar profundamente o orçamento das políticas sociais e a facilitar a transferência para o mercado de muitas das políticas públicas a cargo das prefeituras. É o caso do Sistema Único de Saúde, o SUS, que se mantém até hoje como o maior sistema público de atendimento do mundo porque é a população mobilizada nos municípios que o defende. É o caso do serviço público de água e esgoto, um dos alvos prediletos da privatização. 
O povo não aguenta mais a mercantilização da vida, a transformação de todos os serviços e equipamentos de que necessita para viver nas cidades em mercadorias. Junho de 2013 foi uma manifestação contra essa mercantilização dos serviços e contra a prática de preços abusivos. 

O direito à cidade é cada vez mais importante para garantir o bem-estar da população. As bancadas da cidadania poderão ser uma inovação de grande impacto. Elas serão a expressão parlamentar local, articuladas aos movimentos sociais, da luta pelos direitos e pela democracia.
 


Silvio Caccia Bava
Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil

terça-feira, 5 de julho de 2016

Editorial: Em vídeo, Marilena Chauí afirma que Moro foi treinado pelo FBI





Uma das notícias que mais repercutem no dia de hoje é a divulgação de um vídeo da filósofa Marilena Chauí, que denuncia uma espécie de complô, onde um dos principais atores envolvido é o juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato. Neste vídeo, Marilena afirma que Moro recebeu um treinamento que é característico do que o FBI fez no Macarthismo ( política de perseguição anticomunista adotada pelos EUA nos anos 50), centrado na intimidação e delação, com o propósito de desestabilizar politicamente o país, para obter a hegemonia americana sobre o pré-sal. A Lava Jato é o prelúdio da destruição da soberania brasileira para o século 21 e 22. Antes de mais nada, se os leitores nos permitem a divagação, depois da morte misteriosa do 5º elemento da Operação Turbulência, aqui no Recife, juntamente com as observações da filósofa, roteiros para bons filmes ou romances policiais no Brasil é o que não faltam.

Primeiro, gostaria de informar que sempre levei muito a sério a professora Marilena Chauí e jamais embarcaríamos nessa onda orquestrada pela direita coxinha no sentido de "desacreditá-la", tratando suas declarações como fantasiosas, inconsequentes, movidas pelo entusiasmo de militante petista, sem qualquer fundamentação na realidade. Quem desejar saber mais sobre o que andam afirmando sobre ela é só dá uma olhadinha no trend do Microblog Twitter onde ela ocupa um lugar de destaque, em franca ascendência. Não fosse por uma juventude que ocupa aquele espaço para extravasar suas emoções diversas, a filósofa, certamente, ocuparia o topo da lista. 

O que os seus críticas afirmam é que Marilena Chauí estaria delirando, fazendo afirmações descabidas e fantasiosas. Não creio. Primeiro pela responsabilidade intelectual da professora de filosofia da USP, uma persona que ocupa talvez o maior capital simbólico no campo da filosofia no Brasil. Ela não colocaria esse capital simbólico em jogo apenas para, como ocorre com alguns Olavos e Vilas, ocupar um espaço na mídia, que ela teria como obtê-lo de outra forma. Suas ligações com o PT também são conhecidas, mas isso também não a levaria a turvar seu pensamento, movida pela ideologia ou identificação partidária. E, por outro lado, mesmo correndo o risco de também ser tratado aqui como louco, devo dizer a vocês que concordo com ela.  

Na década de 50, o escritor americano Ernest Hemingway, depois de uma passagem por Cuba, passou a ser vigiado constantemente pelo aparelho de segurança dos Estados Unidos, embora, nesse período, tenha abastecido os americanos com informações importantes. Mesmo assim, os americanos não confiavam muito nele, em razão de suas confessáveis simpatias pelo comunismo. Quando comentava a esse respeito, as pessoas diziam que ele estava com alguma paranoia, típica de pessoas com distúrbios mentais. Ernest morreu, os anos se passaram e, logo depois, através de fontes do próprio serviço secreto, veio a confirmação de que, de fato, Ernest foi alvo das investigações do macarthismo, pelas razões expostas acima. Paranoicos mesmos eram os partidários do senador Joseph McCarthy, que perseguiram e puniram pessoas inocentes pela simples razão de pensarem diferente. Muitas atrocidades foram cometidas no período. Bastava eles desconfiarem de alguém e este alguém estava com a imagem destruída e os canais de trabalho obstruídos, como ocorreu com muitos atores e atrizes americanos.  

O que Marilena destrincha são alguns aspectos bem conhecidos da engrenagem golpistas em curso no Brasil, apontando alguns dos seus agentes e possíveis interesses em jogo. Alguém tem alguma dúvida sobre seus "patrocinadores"? Que a "banca internacional" está por trás disso? Sobre a identidade dos seus cumpinchas ou operadores locais? Seu propósito de privatizar o patrimônio e a soberania nacional? Essa engrenagem golpista mói de uma maneira muito bem urdida. A "cruzada contra a corrupção" constitui-se apenas num "apelo popular", além de ser descaradamente "seletiva" - bem ao estilo do macartismo, como afirma a filósofa - atingindo atores políticos notadamente do Partido dos Trabalhadores. 

A questão é de natureza política. Nem mesmo com a perícia de técnicos do Senado Federal confirmando que Dilma Rousseff não poderia ser responsabilizada pelas decantadas "pedaladas fiscais", o ânimo dos operadores não diminuiu nenhum pouco. A cabeça da presidente Dilma Rousseff, muito provavelmente, será entregue pelo Câmara Alta. Quem afirma que Marilena está louca ou é inconsequente ou deveria reavaliar suas posições. 


George Sanguinettti entra no caso da morte da menina Beatriz.




Hoje o editor do blog recebeu a informação de que o médico legista alagoano, George Sanguinetti, deverá, oficialmente, entrar no caso da morte da menina Beatriz Angélica Mota, de apenas 07 anos de idade, assassinada com requintes de crueldade, durante uma festa realizada no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, na cidade de Petrolina, Sertão do São Francisco. Beatriz foi encontrada morta com 42 facadas, numa sala de material esportivo desativada daquela unidade de ensino. Decorridos 06 meses depois, o crime permanece não solucionado, envolvido em inúmeras polêmicas e suscitando muita inquietação da população local, que chegou a organizar inúmeros protestos pedindo a sua elucidação e punição dos culpados pela barbárie. 

Há indicadores que comprometem uma possível solução do crime. Pouco tempo depois, a cena do crime ficaria totalmente comprometida. Os trabalhos periciais também não puderam ser realizados em condições propícias, uma vez que a Polícia Civil precisou recorrer a um perito do Recife, posto que não havia aquele profissional atuando na delegacia local. 05 funcionários ouvidos pelo delegado entraram em contradição, mas é só isso. Não há elementos para apontá-los como possíveis participantes do homicídio. Antes do crime, 03 chaves haviam sumido, mas nenhuma dela era do depósito onde foi encontrada a menina Beatriz. Há um promotor que sugere que o crime poderia ser de natureza religiosa, dadas as condições da morte, e pela festa, realizada numa instituição católica. Há a suspeita de que o crime teria sido milimetricamente premeditado, o que pode dificultar o seu esclarecimento.

Ocorreram muitos apelos pelas redes sociais para que o médico legista alagoano Goerge Sanguinetti entrasse neste caso. A Polícia Civil do Estado mostrava-se reticente ao apelo de sua participação no caso. Finalmente cederam e ele entra oficialmente nas investigações da morte de Beatriz, de forma discreta, evitando as polêmicas que sempre o acompanharam, depois de suas conclusões sobre a morte de PC Farias. Decorrido mais de seis meses do assassinato - e com o comprometimento dos trabalhos técnicos - acredita-se que será muito difícil que ele possa apresentar algum fato novo sobre a morte daquela criança. Em todo o caso, vamos aguardar, pois trata-se de um excelente profissional. Acreditamos muito no trabalho dele. Ficamos por aqui torcendo que ele seja bem-sucedido porque é um absurdo que os autores desse homicídio fiquem impunes. 


P.S.: Do Realpolik: Como amigo -ainda que virtual - do médico legista George Sanguinetti, observei em sua timiline as suas primeiras considerações sobre o assunto. Se ele autorizar, publicaremos por aqui. 

Beatriz morta por vingança. Querer atribuir que foi para magia negra é uma fantasia. O brutal assassinato era direcionado para Beatriz. Foi premeditado. Não foi confundida com outra criança que deveria ser morta. Por que o autor ou autores tem ganho da Polícia, que anda em círculos? Polícia deficiente ou crime perfeito? E mais retrato falado, este após seis meses. O Colégio também foi vítima.

E querem imputar o Colégio como responsável? Por que fez reformas posteriores ao crime hediondo, mas a Polícia não havia interditado o local e cercanias, após remoção do cadáver. Não proibiu ou orientou ao Colégio para não realizar reformas. O que tem haver problema fiscal , de impostos do Colégio com a morte? Tirar licença, comunicar as autoridades que vai fazer um evento escolar, interno, não é exigência legal. Usar senhas ou não, nada contribui ou contribuiu para a morte de Beatriz. Interditar uma ponte de grande fluxo de veículos, que liga duas importantes cidades, em nada vai contribuir para o esclarecimento. O Colégio também foi vítima. Uma instituição respeitada, com muito serviço prestado a Petrolina e adjacências, foi atingido por um assassinato no seu interior. E a força-tarefa do Ministério Público? Vem sanar as tarefas não realizadas pela Polícia? Aguardo com confiança ação do Ministério Público.
Em Criminalística, os processos técnicos empregados pela Polícia devem permitir responder as célebres indagações fundamentais do heptâmetro de Quintiliano; onde ocorreu o fato, quando ocorreu; qual foi o meio empregado; de que forma este meio foi utilizado; qual a arma utilizada e por quem? 
As respostas mais importantes não foram encontradas pela autoridade policial. Onde ocorreu o fato? No início teria sido morta do quarto desativado de guarda de material esportivo. De repente, divulga a autoridade que foi morta em outro local e o corpo conduzido para onde foi encontrado. Só não encontrou em que outro local ocorreu o crime hediondo. Não responde também, por quem? Tempo teve, são decorridos mais de seis meses. E trabalham dia e noite, conforme noticiado. 


Médico legista George Sanguinetti 




segunda-feira, 4 de julho de 2016

Editorial: A saia-justa de Fernando Henrique Cardoso na entrevista concedida à TV Al Jazzera




Os adversários do PT estão fazendo a festa pelas redes sociais, depois de mais uma fase da Operação Lava Jato, denominada de Operação Abismo, onde um dos principais envolvidos é um ex-tesoureiro da agremiação, Paulo Ferreira. Por princípio, não defendo quem se envolve em malversação de recursos públicos, mas não deixa de ser interessante essa espécie de investigações ou  indignação "seletiva", uma vez que o nosso ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha(PMDB), pelo números de provas acumulados contra ele, já deveria estar preso, cumprindo pena. Creio que, até o final da tarde, a Operação Abismo deve estar ocupando o primeiro lugar na Trend do microblog twitter, estimulada pelos coxinhas. 

Mas, gostaria de comentar com vocês, hoje, um outro assunto. Trata-se de uma entrevista concedida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a um repórter da TV Al Jazeera, onde, por mais de uma vez, o jornalista o colocou contra a parede ao tratar de assuntos emblemáticos do país, como o golpe institucional orquestrado contra a presidente afastada Dilma Rousseff. Esses caras estão sempre se metendo em saias-justas quando precisam se posicionar sobre o tema. Afinal, a manobra urdida contra a presidente afastada Dilma Rousseff, foi movida por interesses políticos e ideológicas, sem base jurídica e liderada por corruptos que convenceram os incautos a acompanhá-los nessa aventura que mergulhou o país num grande impasse institucional, de consequências imprevisíveis, posto que é muito difícil construir algum pacto - mesmo que em defesa da democracia - nessas circunstâncias. 

O danado é que a entrevista da TV Al Jazeera versava exatamente sobre o golpe ocorrido no país, uma vez que a mídia internacional já formou sua opinião a este respeito. Num dado momento, o repórter questionou a "motivação" das pedaladas fiscais, uma vez que perícias realizadas isentavam a presidente dessa responsabilidade. A esse respeito, Fernando Henrique Cardoso saiu-se com o argumento de que a presidente Dilma Rousseff teria cometido uma manipulação do orçamento fiscal. O repórter retomou a conversa observando que, neste caso, ele teria cometido o mesmo equívoco quando governou o país. Um contra-argumento que ficou sem resposta. 

A coisa esquentou mais ainda quando o repórter entrou no mérito do pau de galinheiro dos golpistas, notadamente os nomes do PMDB envolvidos nos rumorosos casos de corrupção da máquina pública. Neste caso, FHC foi até sincero, admitindo que os caros se aproveitaram de um apelo popular - o suposto combate à corrupção - para tomarem o poder. É preciso que se diga, entretanto, que os tucanos fizeram parte dessa engrenagem, apoiando essas urdiduras desde o começo, dando o sinal verde para os peemedebistas e integrando o governo interino. Não é a primeira vez que, quando emparedado, o senhor FHC entra nessas contradições. 

E, assim, de contradição em contradição, de manifestações de repúdio e manifestações de repúdio, de desaprovação e desaprovação, os golpistas vão se segurando - não se sabe até quando - nessa corda bamba. Estão caindo no ridículo por todo o Brasil, quando não partindo para as agressões, como o daquela senhora que foi violentamente agredida por partidários do Deputado Federal Jair Bolsonaro, em Brasília, até recentemente. O lamentável de tudo isso é que chegamos a um estágio de muita intolerância, praticamente polarizando a sociedade entre dois grandes grupos: os golpistas e os legalistas. Infelizmente, essa era uma das possibilidades possíveis.   

Quem matou Paulo Cesar Morato? Chamem o Francis Ford Coppola.




O corpo do senhor Paulo César Morato, o PC pernambucano, finalmente foi liberado pelo IML aos seus familiares, que realizaram seu funeral no dia de ontem, na cidade de Barreiros, zona da Mata Sul do Estado. Neste sábado, dia 02, a delegada encarregada de elucidar o caso, Gleide Ângelo, juntamento com um corpo técnico de peritos, realizaram uma última perícia no local de sua morte - o Motel Tititi, em Olinda - com o objetivo de descartaram completamente qualquer outra possibilidade como causa de sua morte que não o suicídio. Fizeram uma espécie de perícia topográfica do local, observando dimensões físicas, posicionamento das câmaras de segurança, altura dos muros etc. Tudo isso com o propósito de descartar a presença de mais alguém no quarto onde ocorreu a morte de Paulo César. 

Tenho acompanhado este caso aqui pela blogosfera, pela imprensa e pelas redes sociais. Pelas redes sociais, abrimos um link muito importante, um espaço que congrega médicos legistas, delegados e peritos, o que nos proporcionou lúcidos esclarecimentos sobre este caso. Louve-se o trabalho dos profissionais da Polícia de Pernambuco no sentido de elucidar este caso, mas, infelizmente, ocorreram falhas durante todo o processo o que, em última análise, vão deixar margem para as teorias conspiratórias em torno da morte do 5º elemento da Operação Turbulência. Certamente vão alegar que haveria outras tantas possibilidades de alguém adentrar aquele quarto, sem ser flagrado pelas câmaras de segurança ou até mesmo com a conivência de terceiros. Um suposto assassino poderia ter entrado antes, tranquilamente, ao lado de uma garota de programa, por exemplo, sem levantar qualquer suspeição, combinando encontrá-lo ali.

De acordo com informações publicadas nas redes sociais, a perícia nos copos onde supostamente estava o veneno ingerido por Paulo César ficaram comprometidas em razão de seu armazenamento inadequado. A perícia no Jeep também não foi realizada, creio que em razão da ordem para interromper os trabalhos, uma determinação que sempre levantou enormes polêmicas neste caso. O fato é que, em razão de uma série de "falhas", o caso Paulo César Morato irá suscitar, sempre, muitas dúvidas na opinião pública. Paulo César Morato sabia demais. Era um arquivo vivo - se desejarem um HD - com todos os dados da engrenagem da Operação Turbulência, que envolve muitos peixes graúdos da cena política e empresarial pernambucana. Como disse antes, "falhas' não seriam permitidas num caso como este. 

Este caso também contribuiu para evidenciar alguns problemas concretos no aparato de segurança pública do Estado. As notas publicadas pelo Sinpol e pela Adeppe dão a dimensão do problema. A impressão que se passa é que ninguém se entende por ali. Até mesmo a existência de uma Secretaria de Defesa Social chegou a ser questionada, em nota, pela Associação dos Delegados de Polícia de Pernambuco. Há brigas de egos, de espaço, corporativas, de toda ordem, o que, no final, acaba se refletindo na condução dos trabalhos e nos resultados alcançados. O grau de divisão está bastante acentuado. Até mesmo no interior da Polícia Científica parece haver alguma divisão. Algo precisa ser feito.

Se, em momentos anteriores, poder-se-ia convidar o médico legista George Sanguinetti para acompanhar os trabalhos periciais deste caso, hoje, talvez seja o caso de convidar o cineasta americano Francis Ford Coppola, diretor de O Poderoso Chefão, uma vez que o caso daria um bom roteiro de um filme policial. Possui todos os ingredientes - alguns até cômicos, como os humildes pescadores-empresários das praias do litoral sul do Estado, mostrados pelo jornal Folha de Pernambuco - até o corpinho muito bem arrumado de Paulo César Morato, algo incompatível com quem ingere chumbinho, que, naturalmente, se contorce em função das convulsões, hemorragias e dores horríveis provocados pelos seus efeitos. Até onde se sabe, não haveria - nos lençóis e nos travesseiros - evidências de uma morte por chumbinho. Mesmo um dos peritos tendo recomendado que os "pombinhos" não poderiam usar aquele espaço para sem-vergonhices, a recomendação não teria sido acatada, tendo-se limpo e aberto o quarto para as "rapidinhas" que, nestes tempos de crise, devem estar em alta. 

Para entender mais sobre o caso, não deixe de ler:

Ainda sobre a morte de Paulo César Morato, o PC pernambucano