quinta-feira, 11 de novembro de 2021
Tijolinho: O destino de Anderson Ferreira
Quando foi anunciado que o presidente da República, Jair Bolsonaro(PL) iria filiar-se ao Partido Liberal, uma das razões apresentadas seria as facilidades que este partido teria no sentido dirimir questões estaduais que se apresentassem contraditórias ao projeto de reeleição do presidente. A situação do PP, por exemplo, seria bem mais complexa, uma vez que integrantes da legenda já teriam aventado, inclusive, engrossar as fileiras de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP). Tudo é possível neste nosso universo partidário, conforme já invocamos por aqui em mais de uma ocasião.
Estamos aqui tratando dos arranjos aliancistas estaduais que, não necessariamente, coincidem com os arranjos nacionais. Aqui em Pernambuco, por exemplo, as negociações deste partido caminhava para a formação de uma coalizão de forças que apoiariam o nome de Raquel Lyra(PSDB) para o Governo do Estado. Por enquanto Jair Bolsonaro(PL) não tem um palanque definido aqui no Estado. Esta coalizão de forças é formada pelo PL, pelo PSL, Cidadania e PSDB.
Ainda ontem, tivemos a primeira baixa. A Deputada Estadual Priscila Krause deixou o União Brasil e já recebeu convite para filiar-se ao Cidadania. Será vice na chapa encabeçada por Raquel Lyra(PSDB-PE), quando o seu antigo partido deve encampar a candidatura própria do prefeito de Petrolina, Miguel Coelho(União Brasil-PE). Agora é a vez do prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, afivelar as malas para tomar novos rumos partidários. Pelo andar da carruagem política, o presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, deseja que o partido, nos Estados, sigam a orientação nacional, o que significa compor o conjunjo de forças que somariam esforços para apoiar o projeto de reeleição de Jair Bolsonaro. Por enquanto, nenhuma pista sobre o destino do voo, mas deve ser complicado para o prefeito, que já teria milhas acumuladas naquela legenda.
Editorial: Os "estragos" da candidatura de Sérgio Moro.
terça-feira, 9 de novembro de 2021
Editorial: Os conselhos de Gilberto Freyre
segunda-feira, 8 de novembro de 2021
Tijolinho: Priscila Krause deixa o União Brasil para acompanhar Raquel Lyra, do PSDB.
Fim de tarde bastante movimentado no campo político. Tanto aqui na província quanto na capital federal.De Brasília, somos informados sobre os possíveis panos mornos colocados entre o Presidente da Câmara Federal, Arthur Lira(PP-AL) e o Presidente do Supremo Tribunal Federal,quem sabe, pondo um fim na contenda entre a Câmara Federal e o STF. Não fosse o bastante, o presidente Jair Bolsonaro(PL), depois de algumas ponderações, resolveu filiar-se ao PL, pondo fim a um suspense que já demorava algum tempo. A aliança com o Centrão continua firme e caberá ao PP indicar o candidato que concorrerá a vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022, sem mágoas ou ressentimentos.
Aqui na província, algo que não seria uma grande surpresa, o anúncio de que a Deputada Estadual, Priscila Krause, deve desligar-se do União Brasil para filiar-se ao PSDB, acompanhando a amiga Raquel Lyra na disputa pelo Governo do Estado, na condição de candidata a vice. Assim, a chapa da oposição - pelo menos uma delas - parece definida. Raquel como candidata ao Governo, Priscila como vice e o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira(PL) - mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro - como postulante a vaga que se abre para o Senado Federal.
Era visível o desconforto da deputada Priscila Krause com a fusão do PSL ao Democratas, formando o União Brasil. Por outro lado, suas relações com a prefeita de Caruaru sempre foram bastante cordiais e republicanas. Não faz muito tempo, ao questionarmos, pelas redes sociais, sobre a possibilidade de uma chapa formada por duas mulheres. Habilmente, ela tergiversou sobre o assunto, que agora se confirma. Essa menina, para usarmos uma expressão muito utilizada por uma companheira de trabalho quando queria se referir a uma profissional ativa e competente, é uma "danadinha'como parlamentar. Nunca foi testada no Executivo. Se a chapa sair exitosa nas próximas eleições, vamos conhecê-la.
Tijolinho: Martelo batido, Jair Bolsonaro deve mesmo filiar-se ao PL.
Aqui na província, os acordos políticos deste partido com o PSDB da prefeita Raquel Lyra, que deverá disputar o Palácio do Campo das Princesas nas próximas eleições, também estão em níveis bastante avançados, sendo reservada ao prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira(PL), pelo andar da carruagem política, a disputa da vaga ao Senado Federal. Antes de o presidente tomar esta decisão, os integrantes da legenda no Estado mantiveram uma conversa com o presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto. Difícil dizer o que eles conversaram, mas, certamente, o imbróglio da situação pernambucana deve ter entrado no cardápio das conversas.
Editorial: A pandemia e os vértices decisivos das eleições presidenciais de 2022
domingo, 7 de novembro de 2021
Tijolinho: Enquanto os socialistas viajam à Europa, a oposição percorre o interior do Estado.
Tanto o governador Paulo Câmara(PSB-PE) quanto o prefeito João Campos(PSB-PE) estão de viagem pela Europa, na cidade de Glasgow, na Escócia, onde cumprem agenda na Cop 26. Coincidência ou não, a oposição aproveitou o bom momento para percorrer as zona da Mata Sul e Norte do Estado, através do movimento Levanta Pernambuco, que reúne os partidos PSDB, PSC, PL e Cidadania, que apóiam o nome da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), como candidata ao Governo do Estado. Problemas não faltam nessas microrregiões, conforme constataram essas lideranças políticas, como a questão da violência em Catende, assim como as dificuldades de abastecimento de água em cidades da Mata Norte.
Até o momento, Raquel Lyra lidera as primeiras pesquisas de intenção de voto para o Governo do Estado. Há um acordo entre ela e Anderson Ferreira(PL-PE), prefeito de Jabotão dos Guararapes, acerca dessa questão. O prefeito de Petrolina, Miguel Coelho(União Brasil) emite todos os sinais de que deverá seguir mesmo em raia própria. Não é todo improvável que possamos ter algumas surpresas por aqui, tanto do lado da situação quanto do lado da oposição. Isso faz parte do jogo político. Fiel escudeiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), o senador Humberto Costa(PT-PE), por exemplo, tem um bom trânsito político junto aos socialistas locais e conta com as bençãos do morubixaba petista.
Editorial: Simone Tebet, a vice dos sonhos.
Não raro,alguns movimentos políticos em Brasília nos deixam confusos. Salvo raríssimas exceções - ou momentos históricos específicos - o MDB sempre se constituiu numa federação de interesses particulares, controlados por oligarquias políticas locais. Em razão de sua enorme capilaridade política -continua sendo o partido com o maior número de prefeitos no país - é sempre cortejado por atores ou grupos políticos com ambições de ocupar o Palácio do Planalto. Em relação às eleições presidenciais de 2022, essa lógica permanece. Da "esquerda' à direita do expectro político, todos os postulantes gostariam de contar com o seu concurso nas próximas eleições presidenciais.
Mas, pelo andar da carruagem política na capital federal, desta vez, o partido pretende lançar um nome para concorrer à Presidência da República, no próximo ano. Como o nome a ser lançado entra na conformação daquilo que se convenciou chamar de terceira via, a cautela torna-se necessária, porque, até o momento, dentre os nomes deste pelotão, nenhum deles conseguiu cair no agrado do eleitorado. Embora o ex-presidente Michel Temer(MDB-SP) tenha ficado animado com essa possibilidade, a preferência do partido recai pelo nome da senadora Simone Tebet(MDB-MS), que se projetou nacionalmente depois do excelente trabalho realizado por ocasião da realização da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19.
Como afirmamos no início deste editorial, alguns movimentos políticos em Brasília nos deixam confusos. A senadora Simone Tebet(MDB-MS) tornou-se uma espécie de vice dos sonhos de, pelo menos, dois postulantes ao cargo. Um deles, o Rodrigo Pacheco(PSD_MG), até considero razoável, tem uma boa relação com a senadora, preside o Senado Federal, é um político ponderado e equilibrado, considerado de centro. O que surpreende é o ex-juiz Sérgio Moro(Podemos) considerar, igualmente, que ela também seria a sua vice dos sonhos, argumentando o ex-juiz, por supostas afinidades ideológicas e acadêmicas. Concretamente? Não consigo enxergar essas possíveis afinidades entre ambos.Este editor gostaria muito de ouvir a opinião da senadora Simone Tebet a este respeito. Quem sabe durante a semana ela se pronuncie.
Uma vez viabilizada sua candidatura, Sérgio Moro, possivelmente, deverá tentar construir uma identidade discursiva antibolsonarista junto ao eleitorado. Eles bebem na mesma "fonte', o que não deixará de ser um problema para ambos. Embora a Lava-Jato tenha assumido contornos nitidamente políticos, convém nunca esquecer do empurrão do presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido) para alçá-lo ao campo político, convidando-o para assumir o Minitério da Justiça em seu Governo, dizem, com projeto de indicá-lo para uma vaga no STF, não fossem as rusgas que surgiram durante a jornada.
sábado, 6 de novembro de 2021
Ensaio: Sobre homens medíocres e violência
Desde a década de 1970 — pelo menos de forma mais sistematizada na universidade e nas críticas literária e de cinema —, pesquisadoras feministas buscam pensar escritas e olhares que estejam fora da lógica hegemônica, esta que foi boa parte construída pela figura intelectual masculina e branca. Em 1975, no ensaio Quando da morte acordamos: A escrita como re-visão,[nota 1] a estadunidense Adrienne Rich (1929-2012) aponta que o “ato de olhar para trás, de ver com um novo olhar, de entrar em um texto a partir de uma nova direção crítica” é uma questão de sobrevivência para quem se identifica como mulher. Portanto, o substantivo modificado re-visão seria uma ferramenta para não apenas compreender as pressuposições enraizadas sobre uma ideia de feminino ao longo do tempo, mas também de encontrar novas formas de existência, principalmente pela via da linguagem.
Seguindo com Rich e sua ideia de crítica que pensa obras como um indício de como vivemos em todos os tempos verbais, percebo vários “pontos em chama” de escritoras trabalhando com a violência na linguagem. Digo em chama pensando na argentina Mariana Enriquez e no (último) conto que dá título ao livro As coisas que perdemos no fogo (Intrínseca, tradução de José Geraldo Couto). Colocar o corpo em chama como forma de sobrevivência seria uma boa metáfora para a busca empreendida por muitas mulheres de re-visar as formas de escrever a violência em sua amplitude de significados. Seja de forma experimental ou trocando as chaves da construção narrativa tradicional, a literatura de gênero — que abarca desde o terror, suspense, fantasia até ficção científica e/ou especulativa — tem sido um dos lugares mais interessantes para colocar em funcionamento a prática proposta por Rich, justamente por serem marcadas por tropos pré-determinados.
Ao ler Nada vai acontecer com você (2021, Companhia das Letras), de Simone Campos (foto), me senti instigada a mobilizar algumas leituras e apontamentos sobre lógicas de violência em narrativas. O enredo geral do livro trata de uma série de mistérios pessoais, desvendados entre duas irmãs, Lucinda e Viviana, a partir do momento em que a segunda é sequestrada por um homem com quem saiu algumas vezes. Em um primeiro momento, as duas personagens não são muito diferentes de estereótipos da literatura contemporânea brasileira de classe média: moradoras do Rio de Janeiro, nascidas nos anos de 1980, preenchidas no texto por várias referências das décadas de 1990 e 2000, vivendo crises com seus corpos, sexualidades, afetividades etc. Apesar de tenderem a ser achatadas pela sua classe, ambas não são mulheres padrão e, conforme os capítulos se desenvolvem — recebem o nome de cada uma das irmãs —, vão surgindo vários elementos que as complexificam e que ajudam a criar uma lógica ficcional de aproximação com quem lê.
Contudo, a operação de re-visão mais interessante na leitura do livro acontece quando o olhar muda para um punctum diferente de cenas consideradas clássicas na literatura de gênero. Acostumada a lidar com a figura quase que sedutora do abusador (inteligente e ardiloso se pensarmos, por exemplo, em Hannibal Lecter, criado pelo escritor Thomas Harris e raramente visto como aquele que abusa), aqui encontrei um capítulo inteiro dedicado à vítima, de um sequestro — Viviana, uma mulher lésbica, prostituta e neurodivergente — estabelecendo um jogo mental com um homem jovem e tolo, um agroboy muito confiante de ser o cara certo para salvar uma mulher que tem tudo para ser o seu par perfeito.
Se alargarmos a ideia de indício, proposta por Adrienne Rich, e considerarmos as técnicas narrativas como parte formativa desses vestígios, é possível pensar Davi, o sequestrador, como indício de violência. Mesmo que ele próprio não seja quem sequestra, amarra e grita com a vítima: ele é quem manda e faz parte de uma genealogia de mandantes, assim como ele também é o dispositivo para o recorte da história das duas irmãs, seus segredos e o suspense que se desenrola. Porém, não mais com o foco no abusador como o Barba Azul do conto de fadas homônimo: agora mais como em A câmera sangrenta (TAG, tradução de Adriana Lisboa), na reescrita do conto de fadas feita por Angela Carter (1940–1992). Na construção de Simone Campos, a vítima não precisa apenas achar meios de sobreviver, mas também de não perder chances de analisar (e nos entregar) o retrato de um homem medíocre quando jovem.
Nada vai acontecer com você é dividido em quatros partes, sendo que a segunda é dedicada à narração, em primeira pessoa, de Viviana em cativeiro. A oportunidade de conhecer Davi pela visão dela também é um indício deixado pela autora para quem lê: um dos mais banais dos homens, em uma história que parece corriqueira sobre obsessão e desejo, é um potencial estuprador e assassino. Neste capítulo, rapidamente ele se torna um clássico irritante, mergulhado em uma banheira de tentativas clichês de se mostrar um homem que acredita ser “progressista” porque possui capital cultural. Davi não mede esforços para provar que é interessante, porém apenas reforça a certeza de que é um abusador e não tem nada de fascinante. Pelo contrário, damos gargalhadas às custas desse homem que se esforça tanto para ser o ideal. Por exemplo, há um momento em que ele lê a Odisseia, de Homero — no meio de um sequestro — na tradução considerada feminista feita pela inglesa Emily Wilson (que não é exatamente mencionada), tentando deixar claro que ele não é simplório e sim uma espécie de aliado. Essas piscadelas de Viviana, assim como as referências utilizadas pela autora ao longo da obra e compreendidas por diferentes leitoras pela via da familiaridade, também são formas de brincar com a mesma prática usada por escritores homens a fim de revelar personagens eruditos e, consequentemente, narcisistas.
Sobre homens medíocres e narcisistas, pode-se pensar na obra On violence and on violence against women (2021), da acadêmica inglesa Jacqueline Rose, que se vale de um trecho de discurso proferido pelo atual presidente brasileiro, em março de 2020, para compor uma das duas epígrafes da obra. No trecho, o dirigente afirma que a população deve enfrentar a crise desencadeada pela covid-19 como “homens e não como moleques”. Na introdução do livro, a autora vai lançar mão várias vezes às falas dele e de outros chefes de Estado para tratar da violência do discurso. Para ela, apoiada em Freud, esses homens que têm algum tipo de poder — de classe, posição política e afins — são narcisistas porque acreditam que o “mundo inteiro está a seus pés” e a agressividade é o resultado da percepção de que a violência é um direito deles, já que de forma alguma estão abertos ao diálogo. Para finalizar, a autora cita Hannah Arendt, em As origens do totalitarismo (1951), afirmando que homens que não conseguem agir e mudar, têm uma tendência distinta à destruição.
Pode parecer exagerado comparar atitudes de um homem jovem medíocre, personagem de um livro, com as de fascistas reconhecidos. Porém, a formação de todos passa pelas mesmas cartilhas da heteronormatividade e masculinidade hegemônica. Rose também cita o trabalho do fotógrafo Andrew Moisey com as fraternidades universitárias nos Estados Unidos, que coloca fotos escatológicas de festas e rituais de passagem, repletas de rostos ainda anônimos, ao lado de retratos de presidentes daquele país que passaram por esses grupos ao longo da História. Não há como definir um abusador ou figura violenta, por isso boa parte das narrativas policiais gosta de brincar sobre quem poderia ter matado determinada personagem e sua capacidade de camuflagem; porém o corpo da vítima é sempre um, facilmente identificado.
Percebo que a questão de a figura do abusador (com todos os nomes que pode levar: estuprador, serial killer, feminicida) ser um tropo corriqueiro na literatura e no audiovisual é um dos pontos em que escritoras têm exercitado a subversão. Há, por exemplo, alguns diálogos entre o livro de Simone Campos e os outros dois da estadunidense Carmen Maria Machado, publicados no Brasil, principalmente no exercício da construção da violência pela via da linguagem. Além de serem da mesma geração, ambas trazem para a ficção várias referências da cultura de séries, filmes, jogos e música que acabam se embrenhando no senso comum, normalizando situações de abuso, assédio e violência, por exemplo. No conto Especialmente hediondas, do livro O corpo dela e outras farras (Planeta, 2018; tradução de Gabriel Oliva Brum), a estadunidense recria sinopses da série policial popular Law and order SVU — uma variante dedicada aos crimes sexuais — a fim de ressaltar e ressignificar a espetacularização do corpo violentado em cena como dispositivo de narrativa.
Entre a fantasia, o fragmento e a violência hiperreal, Carmen arrasta quem lê pelo conto mais longo do livro, e justamente por isso duas possibilidades se abrem: ou se foge do conto pela dificuldade da leitura, longa e experimental, ou se torna obcecada em conseguir juntar suas peças — a indiferença não é uma opção. Jacqueline Rose dedica um ensaio inteiro de On violence and on violence against women para pensar a fragmentação de discursos de violência em textos escritos por mulheres desde o modernismo europeu. Para ela, há uma relação entre o experimento da linguagem e a violência no mundo contemporâneo: qual é a diferença entre uma frase truncada e uma vida truncada?
Pesquisadoras de vários campos veem na experimentação uma ferramenta interessante para escrever em situação de crise e violência. A própria Carmem Maria Machado é um dos exemplos mais interessantes, não apenas por esse conto, mas também pelo seu livro mais recente traduzido para o português brasileiro. Na casa dos sonhos (Companhia das Letras, 2021; tradução de Ana Guadalupe) a autora tenta elaborar as memórias de um relacionamento abusivo com uma ex-namorada, construindo de forma que não seja apenas um relato, mas também uma série de indícios sobre violência e abuso doméstico vividos por casais LGBTQI+. O livro faz uso de diversos gêneros literários e é dividido em dezenas de fragmentos. Em um dos primeiros Carmen diz que “histórias impossíveis” só podem ser narradas no subjuntivo, justamente porque podem gerar dúvidas e possibilidades em relação à memória e ao testemunho. É interessante pensar que esse mesmo subjuntivo é usado contra o discurso de depoimento dado por uma mulher vítima de violência, algo que também está presente no último capítulo de Nada vai acontecer com você.
Estes são alguns pontos que mostram um frescor — que não foge de uma espécie de genealogia — na literatura contemporânea escrita por mulheres e que buscam escrever de dentro das crises. No mais, nem a linguagem e nem o mundo estão a salvo, diria Jacqueline Rose. Trocar de lugar as chaves narrativas, usar a fantasia, experimentação textual e tirar a pessoa que lê do seu lugar de conforto é colocar foco sobre determinados indícios e isso é um bom começo para re-visar e sobreviver.
NOTAS
[nota 1] Ensaio traduzido por Susana Bornéo Funck e que faz parte da publicação Traduções da Cultura: Perspectivas feministas (1970–2010) (Editora Mulheres /EdUFSC /EdUFAL, 2017), que já se encontra esgotado.
(Publicado originalmente no site do Jornal Literário Pernambuco, editado pela Companhia Editora de Pernambuco)
Tijolinho: Raquel Lyra pé na estrada
Os correligionários da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), estavam ansiosos para que ela,enfim, assumisse que é candidata ao Governo do Estado nas eleições do próximo ano. As primeiras pesquisas de intenção de voto a colocaram numa situação bastante confortável - liderando a corrida - o que, talvez, a tenha estimulado a assumir essa condição, dando a largada do seu projeto político.
Nos últimos dias, sempre acompanhada por atores políticos vinculados aos partidos que deverão formar uma aliança com o objetivo de disputar aquelas eleições, a prefeita tem se movimentado bastante, ancorada no movimento Levanta Pernambuco. Assim, ela cumpre o "dever de casa", ou seja, conversa, estreita relações com lideranças locais, conhece projetos bem-sucedidos e inovadores, assume compromissos com as comunidades locais, recolhe subsídios para compor o seu programa de governo,de forma a contemporizar as necessidades de intervenções do poder público nas diversas regiões do Estado.
O que achamos curioso nessas movimentações - mas não nos surpreende, em razão das fragilidades de nossas agremiações partidárias - são os atores políticos que estão participando dessas conversas, alguns deles, inclusive, pelo menos em tese, de forças opostas ao projeto da prefeita Raquel Lyra. Fidelidade partidária é um utopia num país com as fraquezas do nosso sistema partidário. Nas eleições presidenciais de 2018,por exemplo, quando foram checar as alianças celebradas nas quadras municipais, encontraram petistas aliados com bolsonaristas. Essas sopinhas de letras não dizem muita coisa.
Editorial: O lavajatismo
No Brasil, não é incomum a criação de neologismos políticos, embora alguns deles venham revestidos de profundos simbolismos, como este relacionado à operação Lava-Jato, que se apresentou, a princípio, como uma operação com o propósito de punir infratores envolvidos com práticas de caráter pouco republicanos na condução dos negócios públicos, mas que, ao final,utilizou-se de métodos pouco convencionais - em alguns casos, extrapolando as regras do jogo estipulado pela arena legal - e conduziu seus trabalhos orientado por um viés demasiadamente político. Não por caso, o sociólogo Jessé de Souza, ao tratar deste assunto, cunhou a expressão: o partido político da Lava-Jato.
Como já afirmamos por aqui em outras oportunidades, o STF, com a morte do ministro Teori Zavascki, perdeu uma enorme oportunidade de frear os desvios,excessos e equívocos da República de Curitiba. Zavascki seria o relator da Operação Lava-Jato junto ao STF. Diante de sua seriedade e espertise jurídica, lamentavelmente, não tivemos acesso ao seu relatório, muito provavelmente demolidor. Áudios vazados e outras evidências, porém, deixariam muito claro as suas fragilidades jurídicas ao longo de todo o processo. Há suspeitas de que até delações premiadas chegaram a ser forjadas, construídas por pessoas que teriam o dever legal da "isenção" na condução dos processos envolvendo agentes públicos e privados, o que oportuinizaria a possibilidade de julgamentos mais justos.
Como mais uma evidência de seus contornos políticos, desta vez, proeminentes atores que estiveram relacionados a esta operação, anunciam que tentarão a sorte na política, disputando cargos eletivos nas próximas eleições, em alguns casos, possivelmente em busca das prerrogativas legais a quem exerce um mandato parlamentar. O ex-juiz Sérgio Moro apresenta-se ao eleitorado já com um start de 10% do eleitorado, de acordo com a última pesquisa de intenção de voto, realizada pelo XP-IPESPE. Não deixa de ser um escore de partida razoável, mas ele se encontra entre aqueles que tentam conquistar o eleitorado da terceira via, que tem se mostrado bastante reticente aos nomes até agora apresentados. Pelo menos 10 nomes estão aqui "embolados".
Embora os dirigentes do Podemos assegurem que possuem pesquisas internas favoráveis ao ex-ministro, que poderia crescer na esteira da tese do paladino da justiça, aquele que, de fato, enfrentou o problema da corrupção no país e colocou gente graúda na cadeia, difícil saber se ele poderia superar as denúncias de irregularidades na condução dos trabalhos daquela operação - que macularam sua imagem junto a um eleitorado minimamente mais consciente - assim como as rusgas deixadas por sua passagem no Ministério da Justiça, onde enfrentou diversos embates com o presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido).
sexta-feira, 5 de novembro de 2021
Caso Alec Baldwin: precarização e morte na indústria cultural
Semana passada um grave acidente com arma de fogo durante as gravações de um filme nos Estados Unidos pôs a nu a precarização das condições de trabalho na indústria cultural.
O acidente envolveu o ator Alec Baldwin, que disparou por engano uma arma de fogo no set de um filme de ação. O disparo atingiu a diretora de fotografia do filme, Halyna Hutchins, que faleceu instantes depois.
A princípio, tudo pareceu mero acidente. Mas revelações feitas pela imprensa de Los Angeles mostram que o caso é só a ponta de um incômodo iceberg: a degradação das condições de trabalho dos empregados na indústria do entretenimento.
As chamadas indústrias criativas movimentam hoje grande parcela da produção de bens e serviços. Como afirma o professor titular da Universidade Federal da Bahia, Albino Rubim:
O imbricamento crescente entre cultura e economia […] tem destinado à cultura uma centralidade na nova conformação econômica do século 21. Tal articulação – retida por meio de noções como: indústrias culturais, indústrias criativas e outras – tem mobilizado um conjunto não desprezível de problemas a serem enfrentados (Políticas culturais e novos desafios. Matrizes, 2(2), 2009. p. 110-11).
Em meados da década passada a economia da cultura já movimentava 7% do PIB mundial e era responsável por 6% dos empregos formais, como informa a obra Cultura pela palavra: coletânea de artigos, discursos e entrevistas dos ministros da Cultura 2003-2010. Muitos desses empregos estão ligados à produção cinematográfica.
O cinema foi a primeira arte eminentemente industrial. Podemos perceber isso, desde logo, prestando atenção aos letreiros de um filme. Surge ali um verdadeiro batalhão de profissionais que inclui cenógrafos, figurinistas, iluminadores, fotógrafos, câmeras, continuístas, designers gráficos, assistentes de gravação e direção e uma série de outras funções. Eles são os operários da indústria cultural.
Como vivem essas pessoas? Quais suas reais condições de vida e de trabalho? Muitas vezes isso permanece oculto à maioria de nós, espectadores dos produtos dessa indústria. Mas o acidente ocorrido nas gravações do filme Rust lança luz sobre a realidade do trabalho na indústria cultural.
Esse filme era gravado em um set de filmagens no estado norte-americano do Novo México. Ali tem florescido, desde o início dos anos 2000, um polo cinematográfico significativo, porém mais modesto do que o do distrito de Hollywood, na cidade de Los Angeles.
Esse polo do Novo México emprega trabalhadores residentes na região, principalmente nas cidades de Albuquerque e Santa Fé. Os filmes que lá se produzem são, em geral, as chamadas “produções de baixo orçamento”. Os empregados nessas produções trabalham em turnos punitivos. Essa situação tem motivado muitas greves e protestos pela melhoria das condições de trabalho.
Vale lembrar que esse setor também foi profundamente atingido pela pandemia. Um fato que, aliás, aconteceu também aqui no Brasil, levando à aprovação – após muita luta – da Lei Aldir Blanc, que instituiu um auxílio emergencial destinado aos trabalhadores da cultura.
Vale lembrar que o Novo México, embora tenha uma população pequena, possui uma das maiores taxas de pobreza dos Estados Unidos. Isso faz com que a população local, mesmo quando não trabalha diretamente no setor, valorize muito a indústria de filmes que vem crescendo, e que é uma alternativa de emprego.
Foi nesse cenário que, na última quinta-feira (21/10), uma tragédia aconteceu durante as gravações do filme Rust, que se passa num cenário de faroeste. De acordo com a polícia da cidade de Santa Fé, um assistente de direção do filme pegou uma das três armas disponíveis para as filmagens e a entregou ao ator Alec Baldwin, avisando que a arma estava descarregada. Pouco depois, Baldwin apertaria o gatilho.
O projétil atingiu a diretora de fotografia Halyna Hutchins, atravessou seu corpo e acertou também o diretor Joel Souza. Halyna veio a óbito.
Nesse tipo de produção se costumam usar armas de verdade, por conta do realismo que elas proporcionam. Isso apesar de muitos técnicos em efeitos visuais dizerem que os benefícios das armas reais não compensam tanto, e que se poderiam usar armas com balas de borracha ou com tiros de festim.
Durante as gravações, quem cuida das armas é um profissional chamado “armeiro”. Nesse caso havia uma armeira: uma jovem de 24 anos, filha de um profissional experiente, que também trabalhou como armeiro em outras produções.
Os protocolos de segurança indicam que uma arma carregada não devia ter sido entregue ao ator. Portanto, à primeira vista o acidente pode ter resultado de negligência por parte da armeira, ou por parte do assistente de direção, ou por parte dos dois.
Segundo o jornal Los Angeles Times, diversos depoimentos afirmam que o assistente de produção, Dave Halls, era um profissional experiente e focado. Uma de suas funções era checar a segurança das armas. Após o acidente, ele disse que não sabia que a arma estava carregada com cinco tiros. Revelações dos últimos dias dão conta de que ele já havia se envolvido em outro acidentes, durante trabalhos anteriores.
Quanto à jovem armeira, Hannah Reed, ela era inexperiente, estava em seu segundo trabalho. Num podcast feito cerca de um mês antes do acidente, ela disse que não tinha certeza se estava preparada para a função, pois não sabia carregar armas muito bem. Nesse caso, fica a pergunta: por que foi contratada para a função?
Alguns outros detalhes dessa história podem ajudar a responder essa pergunta. Primeiro fato importante: cinco dias antes do acidente um dublê de Alec Baldwin já tinha disparado acidentalmente dois tiros depois de ser informado que a arma não estava carregada.
Esse fato deveria ter sido suficiente para interromper as gravações pelo menos até que uma sindicância fosse concluída. Mas isso não foi feito, embora a equipe do filme tenha chegado a enviar mensagens preocupadas à produção, levantando a questão da segurança das armas no set.
O que fica claro é que a inspeção das armas e outros protocolos de segurança – que são de praxe nesse tipo de indústria – não eram seguidos pelos produtores. Um membro da equipe de câmeras relatou ao jornal Los Angeles Times que “não havia reuniões sobre segurança. Não havia a certeza sobre se isso poderia ocorrer novamente. Tudo o que eles queriam fazer era correr, correr, correr [com as gravações]” (Rust camera crew walked off set before fatal shooting).
Além disso, problemas já vinham se acumulando há vários dias no set de filmagem. Apenas seis horas antes do acidente fatal, meia dúzia de operadores de câmera e seus assistentes tinham cruzado os braços para protestar contra as condições de trabalho em um filme considerado de “baixo orçamento”.
As reclamações da equipe eram sobre o excesso de horas de trabalho, longos trajetos a serem percorridos e atrasos nos contracheques. Um dos membros declarou que o grupo também estava preocupado com a segurança no set.
Mas a questão que mais pesava era a distância do set de filmagens. A equipe queria pernoitar em hotéis em Santa Fé, a cidade mais próxima. A produção a princípio se comprometeu com essa demanda, mas depois recuou.
Com isso, boa parte dos trabalhadores, residentes na cidade de Albuquerque – mais distante do set – tinham que viajar 160 km todos os dias (80 de ida, 80 de volta). Isso irritou os trabalhadores da produção. Eles estavam preocupados que pudesse haver um acidente em um deslocamento tão longo, depois de ficarem de 12 a 13 horas trabalhando nas filmagens.
A diretora de fotografia Halyna Hutchins, que terminaria atingida pelo disparo acidental, vinha defendendo condições mais seguras e chegou a chorar quando a equipe de filmagem decidiu parar as gravações reivindicando melhores condições de trabalho.
Os operadores de câmera que cruzaram os braços eram todos sindicalizados na International Alliance of Theatrical Stage employees (IATSE). Este é o forte sindicato dos trabalhadores na indústria teatral e cinematográfica norte-americana.
Quando eles decidiram cruzar os braços, vários membros da equipe que não eram sindicalizados apareceram para substituí-los. Com isso, um dos produtores solicitou aos trabalhadores filiados ao sindicato que deixassem o set e ameaçou chamar a segurança para tirá-los de lá. Os tiros ocorreram apenas seis horas depois que os câmeras deixaram o local.
O irônico é que tudo isso aconteceu poucos dias depois que o sindicato fechou um acordo com os estúdios para evitar uma greve da categoria. Um dos itens colocados na pauta de negociações dizia respeito às condições de trabalho. O acordo foi feito mas, pelo visto, a produção do filme não se adequou a ele.
Agora, a tendência é que a responsabilidade pelo acidente termine recaindo sobre a armeira, ou sobre o assistente de produção, ou sobre os dois. Claro que eles podem ter parcela de responsabilidade.
Mas, quando analisamos as condições e o contexto do acidente, fica claro que houve uma cadeia de erros, ocasionados pela tentativa dos produtores de diminuir custos, seja reduzindo o tempo no set de produção (o que leva a atropelos e negligência), seja contratando trabalhadores de menor qualificação, pagando-os mal e fazendo-os trabalhar mais.
Assim, aquilo que parece mero acidente ou, no limite, resultado de erros individuais revela-se, na verdade, uma tragédia evitável, determinada pelas condições precárias em que o trabalho como um todo vinha sendo realizado.
Essa é uma realidade não apenas da indústria cultural norte-americana, mas de uma série de empreendimentos do mesmo tipo em vários lugares do mundo. Isso inclui nosso país, que também já experimentou tragédias em locais de cultura e lazer, sendo o caso da boate Kiss, no Rio Grande do Sul, apenas mais um lamentável exemplo.
Fábio Palácio é jornalista, doutor em Ciências da Comunicação (ECA-USP). Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão.
(Publicado originalmente no site da Revista Cult)
quinta-feira, 4 de novembro de 2021
Editorial: Ciro suspende pré-candidatura em razão da PEC dos precatórios.
Pelas redes sociais, somos informados que o candidato Ciro
Gomes(PDT-CE) resolveu suspender sua pré- candidatura presidencial, depois que
o seu partido votou a favor da PEC dos precatórios - ou seria do calote? - que suspende o pagamento de precatórios já homologados,
gerando caixa para alguns projetos do Governo Federal, inclusive o Auxílio Brasil, estipulado em R$ 400,00, que será pago durante um ano, uma espécie de substituto do Bolsa Família. Ocorreram 25 votos da oposição, 15 dos quais do PDT. Ciro, naturalmente, era
contra a proposta, embora o seu partido tenha resolvido dar uma força ao
Governo de Jair Bolsonaro(Sem Partido). A vitória foi muito comemorada por Arthur Lyra(PP-AL), argumentando que, agora, seria possível socorrer os mais pobres, combatendo a fome, que já atinge 20 milhões de compatriotas. Sabe-se que o entusiasmo do Presidente da Câmara dos Deputados não está relacionado aos 30 milhões que serão gastos com o pagamento do Auxílio Brasil, mas em relação aos 60 milhões que serão distribuídos com a base aliada. Coerentemente, Ciro advoga que, para pagar o benefício, não seria necessário recorrer a esse extremo, pernicioso às finanças públicas.
Motivação mais justa não teria, quando se pensa nos milhões de desamparados, em alguns casos decorrentes dos reflexos da pandemia que assolou o país. Só que jamais poderia ser obtida através desse artifício, que trará consequências desastrosas para as contas públicas, além de não resolver os problemas dos famintos, cujos benefícios serão corroídos pela inflação alta, custo de vida elevado, desenvolvimento econômico precário, insegurança dos investidores, desemprego e perdas significativas de renda. Essa irresponsabilidade fiscal, se, de fato, aprovada, ficará muito cara.
Como ainda haverá uma segunda votação e apreciação no Senado Federal, Ciro Gomes espera que até lá a bancada pedetista repense sua posição, reestabelecendo o diálogo com o candidato. Esta é a quarta tentativa do ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes tornar-se um candidato competitivo na corrida pelo Palácio do Planalto. Diferentemenete de outros momentos, desta vez ele vem tentando fazer tudo certinho, procedendo ajustes aqui e ali, sempre com o propósito de superar seu teto de eleitores que sempre esteve ali na casa dos 10% e 12%. Insuficiente, portanto,para viabilizar seu projeto de tornar-se inquilino do Palácio do Planalto. Seria curioso entender porque, ao longo três candidaturas, ele nunca conseguiu furar esse teto.Inteligente, preparado e comedido em termos de finanças públicas, ele não endossou a proposta de furar o tetos dos gastos. Mas, o teto da "densidade eleitoral', este sim ele até gostaria de furar.
Há uma estabilização do seu eleitorado. E ele sabe que precisa superar essa barreira eleitoral. Esforços do candidato neste sentido não faltam. Internamente, o seu staff de campanha pondo em prática algumas estratégias de comunicação inovadoras, com este propósito, depois que o publicitário baiano, João Santana, assumiu o seu comando. O candidato tem explorado bastante as mídias sociais, apropriando-se de sua linguagem, estabelecendo um link permanente - e mais orgânico - com o eleitorado que o acompanha. Embora seja perceptível alguns acertos dessas novas estratégias, este fato ainda não se reflete nas pesquisas de intenção de voto mais recentes, onde ele ainda continua amargando seus patamares históricos.
Na última delas, a divulgada recentemente pelo XP-IPESPE, ele crava 11% das intenções de voto. A turma do Nem Nem, ou seja, aquele contingente de eleitores que não pretendem votar nem em Lula nem em Jair Bolsonaro, soma 30% do eleitorado. O curioso é que esse contingente está, para usarmos uma expressão rocorrente, nas “nuvens”. E talvez continue onde está, pois pode ser que não se viabilize um nome pela raia da terceira via. Há, pelo menos, 10 pretendentes a este posto, mas, como observou um articulista da revista Veja recentemente, quem tem 10 não tem nenhum. Há, evidentemente, um problema de comunicação entre esses eleitores e os candidatos que aí estão. Nesta categoria se inclui, inclusive, o Ciro Gomes(PDT-CE) que, embora tenha maior tempo de estrada e espertise, ainda não conseguiu preencher essa orfandade. Na realidade, não há cara nem programa que aproxime esses eleitores de um candidato, como discutimos em editorial recente.
Pesquisas qualitiativas - sem querer ensinar o Pai Nosso ao vigário - meu caro João Santana - poderiam lançar luzes sobre os dilemas enfrentados pelo candidato. Há quem sugira que seu passado lulista o condenaria junto aos eleitores que tem ojeriza ao ex-presidente.Por outro lado, os lulistas roxos( ou seria vermelho?) também não se inclinariam a votar nele de jeito nenhum, depois daquela viagem a Paris por ocasião do segundo turno das eleições presidenciais de 2018. Execrado por viajar a Paris não deve ser nada agradável.
Há quem sugira que, em alguns momentos, ele ficaria muito parecido com um Bolsonaro de centro ou de esquerda. Isso explica porque ele vem batendo forte nesses dois candidatos, buscando estabelecer o seu espaço entre ambos. Ainda não conseguiu, sabe-se lá se conseguirá. Ainda teremos um longo percurso até as eleições presidenciais de 2022,mas, há, também, muitos arranjos pela frente. Todos os dias surgem especulações sobre quem poderia ser o vice de Lula. Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, passou a compor a bolsa de apostas.
quarta-feira, 3 de novembro de 2021
Editorial: O bloco dos nem nem
Há um ano das próximas eleições e já começam os questionamentos acerca da lisura ou acerto das pesquisas de intenção de voto.Reparem que,por motivos óbvios, esses questionamentos surgem sempre do lado dos perdedores, ou seja, daqueles que amargam posições desfavoráveis nessas pesquisas. Ao longo do tempo, os próprios institutos, por vezes, reconheceram os possíveis equívocos ou erros cometidos, geralmente motivados por um algum "fato novo" ou alguma variável que fugiu ao controle dos planejadores da pesquisa, no momento de sua realização. Geralmente, há uma margem de erro, anunciada por esses institutos, que varia entre 2% a 6% por cento, dependendo da metodologia do órgão, do universo pesquisado,entre outros fatores. Quando os levantamentos de pesquisas de intenção de voto quebram esse "teto' é porque, de fato, pode ter ocorrido algum problema. No limite extremo, fraudes com o propósito de prejudicar este ou aquele candidato também chegaram a ser comprovadas, como aquela que atingiu o então candidato ao Governo do Rio de Janeiro, Leonel de Moura Brizola, há alguns anos atrás. Esta, então, ficaria famosa.
Em todo caso, cabalmente, os institutos de pesquisas possuem níveis de acertos bem superiores aos eventuais equívocos cometidos,o que lhes facultam uma enorme credibilidade. Os grandes institutos tiveram, no passado, enormes problemas com as terceirizações de suas pesquisas, entregues aos institutos locais, alguns dos quais sem a esperise necessária no assunto. Por convicção e por dever de ofício, nunca briguei com os números apresentados pelos institutos de pesquisa. Agora surgiu a notícia de que os números favoráveis ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) na corrida presidencial de 2022 poderiam ter sido deliberadamente inflados. Os números recentes, que diminuem essa diferença em 10 pontos percentuais seriam uma tentativa de "ajustes" dos próprios institutos, como forma se atingir uma média ponderada, evitando, assim, os possíveis questionamentos. Não endossamos essa tese, posto que, como disse antes, sempre surge entre aqueles grupos que, geralmente, costumam "brigar" com os números, sobretudo quando estes lhes são desfavoráveis.
Mas, o assunto que gostaria de tratar aqui com vocês, neste editorial, diz respeito ao bloco dos "Nem Nem", ou seja, um conjunto de mais de 10 candidatos que tentam viabilizarem-se como alternativa dos eleitores da terceira via. O articulista Thomas Traumann, em artigo publicado no site da revista Veja, chama a nossa atenção para um grave problema, comum a essa turma do "Nem Nem": Até o momento, nenhum deles apresentou uma proposta concreta para o eleitor médio, aqueles que precisam de comida na mesa, emprego, inflação sob controle, oportunidades para educar os filhos, assistência médica, entre outras coisas. Em alguns casos - o que não deixa de ser grave - isso, ainda segundo o articulista, ocorre em razão do despreparo de alguns candidatos que aí estão, que hora se apresentam como alternativas a Lula(PT-SP) ou Jair Bolsonaro(Sem Partido).
A plataforma política dos "Nem Nem"são plataformas limitadas, circunscritas e,em alguns casos, até corporativas como a que deve ser apresentada pelo ex-ministro da Lava- Jato, Sérgio Moro, que já anunciou sua filiação ao Podemos para concorrer à Presidência da República nas eleições de 2022. No caso de Sérgio Moro, seria, possivelmente, uma prestação de conta do seu trabalho à população, algo que não "empolgaria" mais do que um eleitoraro bastante identificado com ele, talvez insuficiente para alçá-lo à condição de um candidato efetivamente competitivo. Ele precisa ter uma fala - eu diria que mais do que fala, um programa - para muito além dos órfãos" da Lava-Jato
A despeito das mudanças subtantivas em sua estratégia de comunicação, Ciro Gomes(PDT-CE), também não consegue um diálogo efetivo com este eleitor. Os tucanos, que sempre estiveram em cima do muro, parecem pouco dispostos a largar essa zona de conforto. Até o momento, estão às turras com os problemas internos decorrentes das prévias que deverá escolher o nome apresentado pela legenda para a disputa presidencial de 2022. Agora mesmo, resolveram corrigir as "irregularidades' de 92 inscrições de prefeitos, no Estado de São Paulo, que participariam das prévias, em razão de inscrições realizadas depois dos prazos legais determinados. O artifício, neste caso, foi o expediente de usar datas retroativas nessas inscrições.
Nas coxias, comenta-se que o MDB também sonha com uma candidatura própria nas eleições presidenciais do próximo ano. A senadora Simone Tebet(MDB-MS) - que seria a vice dos sonhos do presidente do Senado Federal- Rodrigo Pacheco(PSD-MG), seria a mais cotada, por ser mulher e em razão do trabalho bastante elogiado, realizado por ocasião da CPI da Covid-19. Disciplinada, aplicada e organizada,fica aqui a torcida que, neste caso, a senadora, se topar a empreitada, já esteja debruçada sobre livros e relatórios, estudando o país. É assim que se constrói um programa de governo para ser discutido com o eleitorado.