pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Eleições 2014: A emoção em números

Qual o peso do fator "emoção" numa eleição? Como seria possível que, numa eleição de altíssima responsabilidade como a que se aproxima em Outubro, o emocional pudesse ser capaz de provocar um tsunami no quadro eleitoral? É o que está ocorrendo, a julgar pelos resultados mais recentes das pesquisas de intenção de votos divulgadas pelo Instituto IBOPE. O terreno é pantanoso, mas, a série histórica de eventos do gênero no Brasil indicam que tal fator pode exercer, sim, uma forte influência nas eleições. Já afirmamos aqui em outra oportunidade que o perfil de Marina Silva é o ideal para galvanizar os votos da emoção, sem querer entrar no mérito das propostas ou sobre o que a candidata representa. 

Brasil:
Dilma 34%
Marina 29%
Aécio 19%

Na eventualidade de um segundo turno: Dilma 38%
Marina 45%

Tijolinho do Jolugue: Neca Setúbal, André Lara Resende, Eduardo Giannetti. Marina apresenta seu time ao mercado.




Uma das maiores preocupações dos candidatos à Presidência da República é tornarem-se "confiáveis" ao mercado. Antes de falecer, Eduardo Campos já havia feito barba, cabelo e bigode, recebendo rasgados elogios de semanários conservadores como o The Economist. Na primeira eleição de Lula, o PT lançou uma carta de princípios e ainda trouxe para compor a chapa, na condição e vice, alguém do ramo, um empresário, o José de Alencar. As pesquisas oficiais devem sair apenas na Quarta-Feira, mas, em todos os trackings realizados até o momento, é inegável o avanço da candidata Marina Silva, abrindo considerável distância do candidato do PSDB, Aécio Neves, e aproximando-se perigosamente da presidente Dilma Rousseff, que tenta a reeleição. Tanto o PT quanto o PSDB estão na tocaia. Nenhum deles ainda decidiram "bater" na acriana. Acredito que por cautela. O fato é que, em meio às turbulências envolvendo as explicações necessárias sobre os jatos utilizados na campanha, Marina monta o seu time. A única certeza que se sabe sobre Marina é que ela é evangélica. Nos demais quesitos, as dúvidas são evidentes. Agora, do ponto de vista de transmitir essa tal confiança ao mercado,a acriana já montou o seu time, formado por Neca Setúbal, André Lara Resende e Eduardo Giannetti da Fonseca. Um timaço! diria a direita conservadora. Neca é acionista da holding Itaú, André Lara Resende é um economista arrolado no escândalo do "confisco da poupança" da Era Collor, e Eduardo Giannetti, um economista de orientação ultra-liberal. Precisa mais vaselina?

IBOPE: Marina tecnicamente empatada com Dilma Rousseff.

O jornalista Lauro Jardim, do Radar da Veja, entecipa a tão aguardada pesquisa IBOPE, que deverá ser divulgada logo mais, no Jornal Nacional da Rede Globo. Marina Silva já aparece tecnicamente empatada com a candidata a reeleição, Dilma Rousseff. Pelas informações do jornalista, Dilma teria entre 31% e 32%, Marina Silva entre 27% e 28%, Aécio Neves 18% e 20%. Num eventual segundo turno, Marina põe dois pontos percentuais de diferença sobre Dilma.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Tijolinho do Jolugue: Neca: "Dilma é muito masculina para a política do século XX"

Já havia antecipado aqui sobre os riscos do empobrecimento dos debates das eleições presidenciais deste ano. Duas questões resumem isso: Uma delas é do professor Michel Zaidan, que em artigo no nosso blog, resumiu as posições políticas de Marina numa expressão: Ela é evangélica. Talvez seja essa a única convicção que temos sobre esta candidata. Imaginem a "Guerra Santa" que vem por aí. Numa outra declaração, Neca do Itaú teria declarado que Dilma é muito masculina para a política do século XXI. Profundamente infeliz a declaração da senhora. Nas últimas décadas, foram os Governos Petistas que mais avançaram na questão de gênero.

Foto: "Dilma é muito masculina para a política século XXI"

Já havia antecipado aqui sobre os riscos do empobrecimento dos debates das eleições presidenciais deste ano. Duas questões resumem isso: Uma delas é do professor Michel Zaidan, que em artigo no nosso blog, resumiu as posições políticas de Marina numa expressão: Ela é evangélica. Talvez seja essa a única convicção sobre esta candidata. Imaginem a "Guerra Santa" que vem por aí. Numa outra declaração, Neca do Itaú teria declarado que Dilma é muito masculina para a política do século XXI. Profundamente infeliz a declaração da senhora. Nas últimas décadas, foram os Governos Petistas que mais avançaram na questão de gênero.

Tijolinho do Jolugue: Flávio Dino na TV dos Sarney.

Muito curiosa a série de "entrevistas" que estão sendo realizadas pelas emissoras de TV com os candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais.Conhecido jornalista da Rede Plim Plim, por exemplo, fez uma ligeira confusão entre um jornalismo agressivo com deselegância, agressividade e grosseria.Quem escreveu muito bem sobre o seu comportamento foi o jornalista Luiz Carlos Azenha, embora a desaprovação à sua conduta tenha sido generalizada, o que o levou a publicar uma notinha tentando se explicar. No Paraná, recentemente, num programa semelhante, da mesma afiliada da emissora do Plim Plim, um repórter tentou "emparedar" ou constranger o candidato Roberto Requião(PMDB). Mexeu com a pessoa errada. Requião não apenas o "enquadrou" como encerrou abruptamente a entrevista, afirmando se sentir desrespeitado. Mas, nada comparável ao que ocorreu no Maranhão, onde a mesma afiliada tentou uma "arapuca" para o candidato do Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, Flávio Dino. Dino é o maior inimigo dos Sarney naquele Estado. O clã vive um mal momento e tudo indica que seria quebrada uma hegemonia que eles exercem a 50 anos no poder. Acuados, eles não relutam em utilizar os mais nefastos expedientes. Andam espalhando um verdadeiro "terror" contra o candidato comunista, afirmando, inclusive - isso mesmo - que ele "come criancinhas". Pois bem. O repórter apelou para os velhos e surrados clichês da direita contra os comunistas, quando qualquer criancinha sabe que o que restou das velhas tradições do antigos comunistas foram assimiladas nas regras impostas pela democracia representativa burguesa. O PCdoB, hoje, em nada lembra as convicções de um Cristiano Cordeiro, Gregório Bezerra, Luiz Carlos Prestes. Quem, em sã consciência, poderia imaginar que, se eleito, Flávio tentaria implantar uma 
espécie de República Comunista do Maranhão. O candidato se saiu muito bem, inclusive lembrando ao repórter que não haveria contradição entre ser cristão e comunista. Ele se preparou bem para a "entrevista"

https://www.youtube.com/watch?v=zkwZ-0Mj4wg

Michel Zaidan: Marina. Que candidata é esta?






Estava em São Luiz, do Maranhão, fazendo palestras sobre a reforma

política, quando soube da mudança do coordenador de Campanha de Marina
Silva. Depois vieram as notícias sobre a deserção da base aliada, os
agro-exportadores e industriais, por não concordar com a agenda e ou
discurso da candidata neo-pentecostal. Afinal de contas, que candidata é
essa?

Convém lembrar que Marina Silva rompeu com o PT exatamente por conta das
contradições da política ambiental. A enfase do "desenvolvimentismo"
prejudicava as políticas de proteção do meio-ambiente. E que o
ex-governador falecido teve a prudência de colocá-la na vice, e não na
cabeça de chapa do PSB, prevendo as inúmeras resistências de sua base
aliada. Na verdade, uma  coisa seria usá-la, num acordo de mútua
conveniência, como cabo eleitoral qualificado para a eleição do
ex-governador do Estado. Outra coisa - muito diferente - seria colocá-la
como a candidata à Presidencia da República, pelo PSB. E isto porque a
ex-senadora do Acre não tem nada a ver com a agenda do PSB, nem na forma
nem no conteúdo. Não é e nunca foi socialista, ela é evangélica. Segundo, a
agenda do PSB está mais para o Estado regulatório, gerencial do que com a
agenda ambiental, de Marina Silva,

Era previsível que a tentativa da família do falecido em manter o controle
da chapa, através do nome de Marina Silva, iria - como está ocorrendo
agora- suscitar muitas questões da antiga base aliada, que se juntou ao
projeto sucessório em nome de outras idéias, outro discurso e outro
candidato. A mudança de nome não seria um mera formalidade, em se tratando de uma pessoa, como a líder do partido "Rede-sustentabilidade". O que ocorre é a presença de um partido dentro de outro partido, por mera
conveniência político-eleitoral.


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

Nota do Editor: A charge é do impagável Aroeira, publicada no Jornal O Dia.

domingo, 24 de agosto de 2014

Tijolinho do Jolugue: Mostra o DARF, Neca. São 18,7 bilhões em impostos devidos à Viúva.

Deus e o Diabo na Terra do Sol. Ontem Marina esteve em campanha no país de Casa Amarela, para usarmos uma expressão do padre Reginaldo, saudoso pároco do Morro da Conceição. Penso que tenho tratado muito o assunto Marina em nossas postagens, mas nos permitam apenas uma referência ao seu desentendimento nas hostes do comando de campanha PSB/Rede e, ligeiramente, tentar entender esse apoio irrestrito do grupo Itaú à candidata. O pivô da indisposição interna, entre outros fatores, diz respeito à indicação, por parte de Marina, de Walter Feldman para a coordenação de campanha, indicação que não foi aceita por Carlos Siqueira. Feldman acabou ficando na vice-coordenação, tendo Erundina como coordenadora. Feldman é um político ligado a José Serra, o que explica as simpatias de Marina Silva por sua candidatura ao Senado, por São Paulo. O caso do Itaú é um pepino de uma dívida de 18,7 bilhões de impostos devidos à Viúva, que a Receita Federal resolveu cobrar. Ontem o Paulo Henrique Amorim já estava exigindo: Mostra o DARF, Neca.

Foto: Mostra o DARF, Neca. São 18,7 bilhões em impostos devidos à Viúva. 

Deus e o Diabo na Terra do Sol. Ontem Marina esteve em campanha no país de Casa Amarela, para usarmos uma expressão do padre Reginaldo, saudoso pároco do Morro da Conceição. Penso que tenho tratado muito o assunto Marina em nossas postagens, mas nos permitam apenas uma referência ao seu desentendimento nas hostes do comando de campanha PSB/Rede e, ligeiramente, tentar entender esse apoio irrestrito do grupo Itaú à candidata. O pivô da indisposição interna, entre outros fatores, diz respeito à indicação, por parte de Marina, de Walter Feldman para a coordenação de campanha, indicação que não foi aceita por Carlos Siqueira. Feldman acabou ficando na vice-coordenação, tendo Erundina como coordenadora. Feldman é um político ligado a José Serra, o que explica as simpatias de Marina Silva por sua candidatura ao Senado, por São Paulo. O caso do Itaú é um pepino de uma dívida de 18,7 bilhões de impostos devidos à Viúva, que a Receita Federal resolveu cobrar. Ontem o Paulo Henrique Amorim já estava exigindo: Mostra o DARF, Neca.

Tijolinho do Jolugue: Apertem o cinto. O piloto sumiu.

Que enredo curioso esse envolvendo a procedência do jato que transportava o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, recentemente falecido. É um enredo de fazer inveja aos melhores romancistas policiais. Não entro no mérito das investigações em torno das verdadeiras causas do acidente, o que tem suscitado inúmeras teorias conspiratórias, mas nas questões legais envolvendo a aeronave. Quanto mais se aprofunda no assunto, surgem elementos suspeitos, reveladoras de uma engrenagem de possíveis ilícitos. Como morto não pode dar explicações, o ânus está sendo creditado aos atores em franca ascendência na aliança entre a Rede e o PSB, caso de Beto Albuquerque e Marina Silva. Em evento de campanha, o candidato Aécio Neves exigiu que os adversários dessem uma explicação convincente sobre o assunto. Logo ele, que se encontra em pane. Numa coletiva, um repórter foi duramente criticado - e vaiado de "petista" - por insistir que a candidata Marina Silva se pronunciasse sobre o assunto.

Foto: Apertem o cinto. O piloto sumiu. 

Que enredo curioso esse envolvendo a procedência do jato que transportava o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, recentemente falecido. É um enredo de fazer inveja aos melhores romancistas policiais. Não entro no mérito das investigações em torno das verdadeiras causas do acidente, o que tem suscitado inúmeras teorias conspiratórias, mas nas questões legais envolvendo a aeronave. Quanto mais se aprofunda no assunto, surgem elementos suspeitos, reveladoras de uma engrenagem de possíveis ilícitos. Como morto não pode dar explicações, o ânus está sendo creditado aos atores em franca ascendência na aliança entre a Rede e o PSB, caso de Beto Albuquerque e Marina Silva. Em evento de campanha, o candidato Aécio Neves exigiu que os adversários dessem uma explicação convincente sobre o assunto. Logo ele, que se encontra em pane. Numa coletiva, um repórter foi duramente criticado - e vaiado de "petista" - por insistir que a candidata Marina Silva se pronunciasse sobre o assunto.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Tijolinho do Jolugue: Eduardo Campos ainda "escolhia" as raposas. Marina...

Curioso esse rearranjo de forças que está se desenhando na coordenação de campanha da candidata Marina Silva(Rede/PSB). O que nos parece é que, deliberadamente, Marina afasta da coordenação os nomes mais ligados ao ex-governador pernambucano, Eduardo Campos, recentemente falecido. Expõe-se as fraturas exposta de uma relação difícil, que a figura pública do ex-governador ainda tentava manter sob controle. Saíram Carlos Siqueira e Milton Coelho, enquanto Luíza Erundina assume como coordenadora de campanha. O curioso nessa arrumação é que a ex-prefeita de São Paulo, Erundina, guarda sérias divergências com a irmã Marina, o que prenuncia um relacionamento bastante complicado. Erundina não se cansa de afirmar que Marina "nega" a política. Quando em campanha, Eduardo ainda escolhia as "raposas". Marina, pelo andar da carruagem política, se chegar, vai governar sozinha.

Tijolinho do Jolugue: "Da Marina quero distância"

Quem conhece bem Carlos Siqueira, que até recentemente coordenava a campanha presidencial do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, recentemente falecido, afirma tratar-se de uma pessoa centrada, equilibrada, polida e calma. Não resistiu aos primeiros entreveros com a nova cabeça de chapa da aliança PSB/Rede, a irmã Marina Silva. Carlos Siqueira saiu atirando. Afirma que ela foi grosseira, quer mandar no PSB, e tem um temperamento difícil. A previsão é que os problemas de relação apenas começaram. Há alguns anos atrás escrevi um longo artigo sobre Marina Silva. Confesso que admirava sua trajetória de vida, envolvida com a defesa do meio-ambiente, mulher curtida pelas adversidades da vida, alfabetizada apenas aos 16 anos de idade. Confesso que, ao longo dos anos, passei a rever alguns desses conceitos.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Marina Silva: Um debate limitado aos temas religiosos nas eleições de 2014







Não é muito comum acompanharmos o programa Conexão Manhattan, transmitido pela Globo News, mas, em razão da presença do cientista político José Álvaro Moisés, resolvi acompanhar o programa de ontem, dia 18. A linha editorial do Programa todos conhecem, embora algumas situações fujam ao controle, como entrevistados com um grau de altivez e independência que costumam embaraçar os repórteres. Atualmente, José Álvaro Moisés é professor da USP e foi, durante um período de sua vida, muito ligado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Salvo algum engano, participou de sua assessoria. 

A grande questão posta era a última pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, realizada antes mesmo do funeral do ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República, Eduardo Campos. Em analogia às pesquisas de boca de urna, essa pesquisa ficou popularmente conhecida como pesquisa de boca de cova, merecedora de muitas críticas por parte da imprensa. A pesquisa tentou aferir como o eleitorado iria se comportar diante da morte do ex-governador. Quem herdaria o seu espólio político, sobretudo com a sinalização clara de que Marina Silva(Rede) poderia substituí-lo na cabeça de chapa? Como ficariam Aécio Neves e Dilma Rousseff diante desse novo contexto? Apesar de Marina Silva aparecer bem na fita - com percentual que a coloca acima de Aécio Neves - o cientista político Álvaro Moisés sugere algumas ponderações. Há, de fato, uma grande comoção popular com a morte do ex-governador e isso, no Brasil, é um dado que costuma interferir nas eleições. Lembra o professor que o Golpe Civil-Militar no Brasil foi adiado por 10 anos, em razão da morte trágica do ex-presidente Getúlio Vargas. Foram os mesmos militares que derrubaram o ex-presidente João Goulart. 


Outro aspecto é que o perfil de Marina Silva reúne as condições de galvanizar essa comoção, sobretudo por sua figura aparentemente frágil, de olhos de ressaca, mansa, franzina, franciscana, possivelmente à lá dona Sebastiana. Soma-se a isso o caráter de religiosidade que sempre esteve afeito à sua figura. Por outro lado, existem uma série de outras questões embaraçosas que a candidata precisa enfrentar nessas eleições, o que pode determinar sua boa performance ou não. Exige-se, portanto, ponderação sobre a sua situação aparentemente confortável na pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha. Vamos aos fatos: a) Eduardo Campos era o grande articulador político da aliança PSB/Rede. Em vários momentos, nas quadras regionais, precisou aparar algumas arestas internas com a sua companheira de chapa, sempre com o propósito de costurar alianças locais. Como ficariam essas divergências regionais – em colégios eleitorais importantes – uma vez que ela assume a cabeça de chapa? b)A ortodoxia religiosa de Marina Silva também se constitui num grande entrave com segmentos sociais importantes, como os grupos LGBT e com grupos feministas; c)As posições ambientalistas de Marina Silva chocam-se frontalmente com setores econômicos como o agronegócio, que vive de birra com a irmão desde a época em que ela ocupava o Ministério do Meio-Ambiente, no Governo Lula. Marina, portanto, tem uma série de arestas a serem aparadas daqui para frente. Por seu temperamento, não costuma ceder em suas posições, o que, pragmaticamente, constitui-se num entrave. Muita cautela, portanto, com essa “onde” que está sendo inflada por setores sabidamente conservadores do eleitorado. Em artigo publicado aqui no blog, o professor Michel Zaidan observa que poderemos ter um embate eleitoral centrado na religiosidade, o que empobrece a discussão sobre as questões que realmente importam ao país. 

Michel Zaidan Filho: O Estado não é um prolongamento da família




Seguindo as lições de Hegel, Weber e o nosso brasileiríssimo Sérgio Buarque de Holanda - o pai de Chico Buarque de Holanda - a matriz formadora do estado brasileiro é a moral da família, ou a ética de Antígona, onde os deveres e as lealdades de sangue se sobrepõe  as do Estado republicano. Diz o historiador paulista que o patrimonialismo é a marca registrada das nossas instituições políticas locais e nacionais. Os chefes políticos e oligarcas pensam que o Estado é um mero prolongamento da organização familiar. E agem, segundo o famoso dito popular: "amigos e parentes, tudo. Aos inimigos, os rigores da lei". Nada mais contrário ao espírito do Estado Moderno (também chamado de racional-legal ou burocrático) do que a ética da família, dos irmãos, dos filhos, dos maridos ou dos avôs. O Estado não pode e não deve ser gerido como uma "Casa Grande", segundo a vontade e  as conveniências do chefe ou dono da organização de parentela, como diz a Maria Isaura Pereira de Queiroz.
             Uma família, por mais ilustre e importante que ela julgue ser, não pode se arrogar decidir os rumos de uma campanha presidencial. Muito menos os parentes de uma família. 0 Estado republicano é maior do que uma oligarquia familiar, seja o nome que ela carregue. O Estado é público, a oligarquia é da família e dos amigos e apaniguados. Os negócios do Estado são públicos, de todos os cidadãos. Os negócios da oligarquia dizem respeito aos interesses da família. A condução do processo sucessório da chapa do PSB e o tratamento dado a esse processo pela mídia e as instituições competentes em legislação eleitoral no Brasil e Pernambuco  não podem fechar os olhos para essa "ação entre familiares e amigos" que tem sido a questão sucessória do falecido candidato. Ou existe partido, instituição pública, com estatuto, comando e diretório, ou uma sociedade conjugal ou familiar se sobrepõe à organização partidária e decide como vai ser a disputa e eleitoral.  O luto de ninguém autoriza tal aberração institucional. Afinal, há leis ou tudo é permitido na República brasileira.
             A escolha de uma militante pentecostal, vinculada por votos de fé à Igreja evangélica Assembléia de Deus, por decisão do irmão e da esposa do falecido, reduz à disputa sucessória a quem acredita em Deus, no criacionismo, na Bíblia, no casamento heterossexual etc. E em quem não acredita ou aceita esses dogmas religiosos. A esfera pública-eleitoral dessas próximas eleições não pode se reduzir a um debate pobre, fundamentalista, conservador como esse, enquanto os problemas econômicos, administrativos, sociais e de infra-estrutura aguardam pacientemente por uma solução. Há um casamento do obscurantismo com o familismo amoral nessa saída. Nem um nem outro é salutar para a sociedade brasileira. Aqueles que defendem um estado laico, republicano e socialista têm que se manifestar diante de uma tal retrocesso nas conquistas democráticas do povo brasileiro.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Michel Zaidan Filho: Meu caro Jamildo






Escrevo esta carta para agradecer a gentileza da publicação do meu modesto comentário sobre o velório e o funeral do ex-governador de Pernambuco, a quem conheci de perto e fui várias vezes convidado por ele e seus assessores graduados para colaborar com o PSB e seu programa, tendo, inclusive,participado de evento (sobre a juventude) de campanha. Como você sabe (assim espero) sempre fui um duro crítico da família Arraes, do ex-governador Jarbas Vasconcelos (que me processou  por duas vezes, por críticas a sua gestão) e do falecido.Acredito que o Estado de Pernambuco não é mais uma capitania hereditária governada por um Cavalcanti. A Constituição brasileira garante o direito de crítica, a liberdade de expressão e o direito ao contraditório, mais ainda quando se trata da administração republicana. A gestão pública não é um negócio particular, de família, de uma oligarquia familiar ou partidária que pode fazer o que quer da fazenda pública e não dá satisfação a ninguém. Existem tipos penais, no direito administrativo e eleitoral, sobre o mau uso dos recursos públicos, a intransparência da gestão pública, a renúncia fiscal, contratos e licitações lesivos ao interesse público, o nepotismo etc.
                         Lamento muito que a imprensa de Pernambuco não tenha (ou não tenha se dado) a liberdade de fiscalizar e denunciar os crimes contra a administração pública, por interesses ou por medo. Para o seu conhecimento, foram os correspondentes dos Jornais do Sul e Sudeste (Veja, Folha de São Paulo, Piauí, Globo e Estado de São Paulo), que tiveram a liberdade de ler o   livro crítico sobre a obra administrativa do ex-governador e fazer perguntas e indagações sobre ele. Fora do aconchego jornalístico de Pernambuco, a mídia não sabe quem é o personagem, desconhece o seu perfil e sua ação político. Por isso que procuram os críticos independentes, que não recebem jetons ou contracheque, nem tem parentes e apaniguados no governo do Estado. Você não faz ideia do que os correspondentes dizem quanto a transparência e a liberdade de acesso e de crítica ao ex-governador. Ouvi coisas em que não acreditei!
                          A sua iniciativa de publicar, com erros - pois tinha lhe enviado outro texto corrigido- o meu modesto comentário sobre necrofilia política ou o banquete totêmico que terminou sendo um ato fúnebre - com o apoio do governo estadual - que é do mesmo partido- transformou o funeral em espetáculo, com carros de som na rua chamando o povo a participar da cerimônia, prometendo água mineral a quem fosse, toldos para proteger da chuva, a interdição de ruas e do próprio cemitério,de Sto. Amaro!  Você há de convir que quem transforma sua dor e seu luto em "luta política"  faz do funeral um ato político-eleitoral, aproveitando-se das circunstâncias, e está sujeito a críticas de todo tipo. Não há necessidade de pedir licença para publicar uma crítica ao despudor e a discrição.
                           Pergunto eu a você: por que a família de ex-governador não respeitou a minha dor, quando perdi o meu querido pai, e enviou insistentemente mensageiros a minha casa, para eu ajudá-lo na montagem de sua equipe e de seu  programa. Não respeitou sequer a missa de sétimo dia do falecimento do meu genitor. Tive que dizer que não permaneceria com ele e seus assessores, pois tinha que prestar essa homenagem ao meu pai.
                           Pior ainda foi a morte do meu sogro, num hospital administrado pelo IMIP, que leva o nome de Miguel Arraes. Imperícia médica, negligência, falta de equipamentos adequados na UTI,  foi isso que o coitado encontrou no hospital. E no entanto, nem sequer o Secretário de Saúde se dignou a procurar saber o que tinha havido.
                            De dor, perda e luto em família, eu entendo e respeito. Mas tem famílias que não sabem sentir essa dor, em silêncio, com discrição. Fazem da dor um trampolim para os interesses políticos do seu grupo ou da sua oligarquia. Como ateu e materialista, me solidarizo com a morte do ex-governador. Mas como ser humano, não posso aprovar essa necrofilia política, que espetaculariza a morte de parentes, com o objetivos de extrair vantagens para si e os seus.
                           Peço sua compreensão por esse desabafo, que não vai se encerrar aqui. Todos que me entrevistarem sobre o ex-governador ouvirão as minhas críticas e minha desaprovação: deslealdade e ambição, defeitos difícil de serem perdoados.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.


Nota do Editor: Nossa integral e absoluta solidariedade, professor. 

Michel Zaidan Filho: Quando a morte é uma festa



                                Esse é o título do livro  escrito pelo historiador baiano João José Reis, falando dos velórios realizados no interior do Brasil. Para não fugir à tradição, o velório e o funeral do ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República pelo PSB tem tudo para se transformar num mega-espetáculo, inclusive com carros de som convocando a população do Recife para o evento fúnebre, a ser realizar - aliás - no Palácio do Governo. A festa tem a cara de uma ato político-eleitoral, com a anuência da família do falecido. Nem bem ainda o IML tinha realizado o exame de DNA para a identificação dos despojos que corresponderiam ao corpo do ex-governador, o irmão- literato  usou de suas habilidades intelectuais para redigir uma carta aberta propondo a substituição do irmão morto pela irmã (de fé?) Marina Silva na cabeça da chapa majoritária do PSB. Não deixa de ter seu valor de curiosidade etnológica essa mistura - tipicamente nordestina e brasileira - entre negócios e luto. A morte também pode ser um grande negócio. Haja vista a venda de flores pelas floriculturas do Recife. Muitas lucram com a morte trágica e o sentimento de luto da família do ex-governador. Daí a preocupação com o funeral que deve contar com honras de Estado. Lembrem-se do suicídio de Getúlio Vargas, a morte de Tancredo Neves, a morte de Miguel Arraes e agora, a do seu neto e herdeiro político. Muita gente quer tirar proveito desse funeral. Até os adversários e ex-adversários políticos do ex-governador. Um evento desse tipo pode ser facilmente transformado - com o auxílio inestimável da mídia e do governo estadual - numa comoção popular semelhante à perda do pai primordial, do deus ancestral, das divindades totêmicas que velam pela sorte dos vivos. Não será a primeira vez  na história política brasileira. O primeiro  desaparecido ilustre que encabeça a lista é o rei D. Sebastião Diniz, morto na batalha de Al Kacequibir, na Africa, em sua cruzada contra os mouros. A espera messiânica de D. Sebastião - romanceada por Ariano Suassuna -  alimenta até hoje o imaginário político brasileiro, que vive aguardando o retorno do encantado. A transformação do messianismo religioso em messianismo político para, hoje em dia, obra de assessores de campanha política a serviço da esperteza de parentes do falecido (lembrar a carta aberta do irmão- literato)
                              Não vai ser tarefa fácil. Um líder religioso ou profano não surge assim da noite para o dia, por obra e graças de um desastre aéreo, por mais investimento simbólico-propagandístico que venha a receber. A tragédia desses líderes precisa corresponder- de verdade - a uma vida de sacrifício, de dedicação ao interesses da população, martírio, exílio e morte. Como dizia Hegel, os verdadeiros líderes históricos não passaram de caixeiros viajantes do espírito absoluto: uma vez cumprida a sua tarefa, são abandonados à sua própria e infeliz sorte. Não é bem este o caso do neto de Arraes. Nem na vida, nem na morte se vê indício de sacrifício ou abnegação por uma grande causa humanitária. Quem se lembra da foto, divulgada pela imprensa, o ex-governador tomando champagne  em seu jatinho, enquanto a população de Pernambuco sofria com a greve dos policiais do seu "Pacto pela Vida", não pode concordar   com o seu ingresso no Panteão dos deuses. A rigor esse exercício de santificação é mais da responsabilidade dos que estão vivos (bem vivos) do que do morto.
                             Em primeiro lugar, da família, que não quer perder o controle da sucessão do cabeça de chapa do PSB na disputa  presidencial. Daí a carta-aberta do irmão literato. Segundo, da ex-senadora Marina Silva, de olho em sua indicação oficial, na próxima quarta-feira, como sucessora de Campos. Do próprio PSB, em encontrar  um nome a altura de substituir o nome do ex-governador na chapa majoritária. E da coligação política local em garantir a eleição do preposto para o governo estadual. No fundo, a morte é um bom negócio. De um cenário pouco estimulante, pode se fazer uma mudança eleitoral que beneficie a candidata e a coligação estadual do PSB. Como diziam os filósofos, a morte é sempre um problema para os vivos. Eles é quem tem de ressignificar a tragédia para dar um novo sentido às suas vidas e ambições. E assim, quando o cortejo fúnebre passar pelas ruas do Recife, com o esquife dos mortos, na  triste   caminhada, onde estarão o coração, a mente, os sentimentos de muitos daqueles, que na frente das câmaras, se desesperam e choram como as antigas carpideiras,  contratadas para se  lamentar nos velórios das cidades do interior do País.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

sábado, 16 de agosto de 2014

Marina pode atropelar os tucanos?

Marina pode atropelar os tucanos?

publicada sexta-feira, 15/08/2014 às 13:42 e atualizada sexta-feira, 15/08/2014 às 13:42
O sonho dos tucanos (leia aqui) é que Marina Silva apareça forte na próxima pesquisa, mas que depois seja desidratada para abrir passagem a Aécio Neves. Falta combinar com os eleitores.
por Rodrigo Vianna
Com o olhar compungido, Marina Silva surge numa sala apertada, para o primeiro pronunciamento depois da morte de Eduardo Campos. Não fala de temas eleitorais, oferece “apenas” conforto à família do candidato morto. Não tem pompa nem pose, não quer parecer uma “estadista”…
Assisto à cena na Redação. Uma colega, menos afeita aos temas da política, pergunta: “quando será que ela começa a campanha pra valer? Precisa esperar uns dias, né?”.
Outro jornalista, mais experiente, responde rápido: “a campanha dela já começou; isso aí que você tá assistindo é o primeiro pronunciamento de campanha”.
Poucas horas depois, converso com outro colega – raposa velha em coberturas eleitorais: “o que você achou da fala da Marina?”. E ele: “importa pouco o que ela disse; importa muito mais a maneira como aquilo foi dito”.  
Marina Silva não precisa falar de política pra fazer política. Essa é a grande força da candidatura dela. Não sei se Marina surgirá na faixa dos 15%, ou acima dos 20% na próxima pesquisa DataFolha (que será divulgada entre domingo e segunda-feira). Mas sei que ela tem uma boa chance de encampar o discurso da “não-política”. Um discurso que é – claro – tudo menos “não-político”.
Eduardo Campos enfrentava enorme dificuldade para conquistar esse eleitor desesperado por algo “novo”. Aécio, então, nem se diga…
Esse era o grande nó da campanha em 2014. Um terço dos eleitores está fechado com Dilma; outra parcela (bastante barulhenta, mas que reúne pouco menos de um terço do total) se dispõe a votar em qualquer um contra o PT; só que há ainda 30% dos eleitores que não querem PT mas também não topam PSDB. Esse é o eleitor desiludido “com tudo que está aí”.
Em 1960, esse clima de “mar de lama” terminou em Janio. Em 1989, a desilusão terminou em Collor.
Em 2014, Eduardo achou que poderia ser a terceira via, com um discurso moderado, a meio caminho entre PT e PSDB. Não entendeu, talvez, que esse terço “desiludido” dos eleitores não quer meio-termo, não quer meio do caminho. Quer alguém que seja (ou pareça) outro caminho.

(Publicado originalmente no site O Escrevinhador, do Jornalista Rodrigo Vianna)

Michel Zaidan: A Herança política de Eduardo Henrique de Accioly Campos







É muito cedo para fazer a autópsia da obra administrativa e política do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Henrique de Accioly Campos. Mas uma coisa pode se dizer: ela não se compara com a do avô, nem em qualidade nem em extensão. Neste caso, o mero sobrenome da família Arraes não garante a continuidade da obra do velho Miguel Arraes de Alencar. As obras são dessemelhantes e de duração muito diferente. Além, é claro, da história de vida de cada um. Arraes era um político da geração pós-45, banhado no nacional-desenvolvimentismo, injustamente classificado como "populista". O neto é da era da globalização e dos gerentes do mercado, políticos ironicamente designados como "salesmen", vendedores de ativos públicos, receitas, reservas ambientais e vantagens locacionais a empresas estrangeiras. O velho Arraes nunca foi a favor da guerra fiscal e da desrregionalização da economia brasileira. Pelo contrário, sempre defendeu as políticas de desenvolvimento regional integrado e reforma agrária. Causa espanto a aproximação do neto com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso e caterva. Porque o seu avô foi hostilizado até o fim pelo governo tucano e seus aliados em Pernambuco (Marco Maciel, Jarbas Vasconcelos, Sérgio Guerra etc.) Se herdou alguma coisa do velho certamente não foi o sentimento do mundo e as duas mãos, como ele disse uma vez. Foi o caráter oligárquico, autoritário, centralizador e familista do avô.
                      A propósito, a repórter do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, perguntou o que eu achava da continuidade desse legado pelas mãos do filho mais velho de Eduardo Campos, João Henrique. Sinceramente, a se confirmar a informação, seria o carimbo decisivo da reprodução de mais uma oligarquia familiar em Pernambuco: do avô para o neto: do neto para o filho. Ocorre que o herdeiro de Eduardo Campos é um ilustre desconhecido. Não sei, se como o pai, fez política estudantil. Mas sei que por imposição paterna ia se transformando em presidente da juventude socialista-familiar. O que provocou uma rebelião da prima: Marília Arraes, que chamou o tio de "coronel". Coronel?
                       De toda maneira, se o filho de ex-governador vai mesmo seguir a carreira política do pai;, "carregando a sua bandeira" e "os ideais político" do seu ilustre genitor, deveria prestar atenção em alguns conceitos muito importantes da ciência política: "familismo amoral", "nepotismo", "publicização das políticas sociais", "socialização das perdas" e "privatização dos lucros", "propaganda enganosa", "Estado de exceção episódico", "transferência de responsabilidades para a sociedade civil", "terceiro setor", "guerra fiscal ou a destruição do pacto federativo", "entropia" e "parceria-público-privado" ou "capitalismo sem risco". Ia acrescentar "ambição política" e "deslealdade", com disse a repórter da TV Globo.
                        Em resumidas contas, o rapaz é jovem, tem muito tempo de aprendizagem pela frente, e pode aperfeiçoar a sua formação política. Espírito público e tirocínio político não são transmitidos geneticamente. Aprende-se com a boa educação republicana, com os bons exemplos, com oportunidades e a punição exemplar de condutas não recomendáveis. E são muito ajudados por instituições sólidas e boas. O Brasil precisa muito de renovação política. Mas esta não se confunde com renovação da faixa etária, de membros de uma mesma família no poder. A juventude é uma promessa, não é um destino ou condenação. Vamos apostar nela.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Michel Zaidan: A morte de Eduardo Accioly Campos

Em Pernambuco, a disputa pelos votos de Miguel Arraes.

publicado em 15 de agosto de 2014 às 12:03

eduardo_arraes
por Luiz Carlos Azenha, de Recife
Resumindo conversas com gente de Pernambuco, disseram-me algo assim: “Fora daqui, ninguém imagina os ecos da existência do Miguel Arraes. Nem os que reconhecem a imensa contribuição dele à política nacional”.
O que queriam me explicar, obviamente, era a ousadia de Eduardo Campos ao romper uma aliança razoavelmente estável com o PT, eleger o prefeito do Recife e sair candidato ao Planalto pelo PSB, partido no qual ingressou junto com o avô, em 1990.
Dizem os petistas, nas redes sociais, que foi “trairagem”. Que Campos surfou nos investimentos maciços feitos no estado por outro pernambucano, o ex-presidente Lula.
Os três, aliás, se conheceram quando Arraes retornou de quase 15 anos de exílio na Argélia, em 1979. Lula estava lá. Campos, em uma foto, aparece bem atrás do avô.
Arraes teve oito filhos. A filha Ana, hoje no TCU, foi eleita deputada federal duas vezes. Mas ninguém teve o sucesso do neto, que aprendeu todos os macetes da política com o avô.
Estamos aqui no campo da tradicional política brasileira: personalista e baseada em clãs.
A fortíssima devoção dos pernambucanos a Arraes, aliás, “Doutor Arraes”, tem relação com benefícios diretos concedidos a eles num tempo em que os latifundiários reinavam absolutos no estado. Brincou um amigo: o Arraes inventou o Fome Zero, era o programa Chapéu de Palha, de benefício aos sertanejos. No imaginário popular, foi um “pai” — e pai a gente nunca esquece.
Antes de fazer toda sorte de concessão aos grandes negócios, Eduardo Campos tratou de retomar na prática a trilha do avô. Os adversários atribuem à marquetagem, mas o fato concreto é que alguns bairros simbólicos do Recife, como a ilha de Deus, foram tirados da miséria por ele.
Quanto às concessões, apoiadores de Campos apontam as que foram feitas por Lula a banqueiros e empreiteiras. Jogo empatado?
Campos provavelmente venceria a eleição presidencial em Pernambuco por boa margem. O jovem ambicioso — um “trator” nos bastidores, dizem — queria fazer o que o avô nunca conseguiu. Para os apoiadores, percebeu a guinada à direita do PSDB e antevia a demolição do Centrão de Sarney. Decidiu marcar posição como alternativa “moderna” ao PT.
Embora o avô Arraes, por propaganda da direita, tenha entrado na História como um vilão radical, contam-me que só foi eleito pela primeira vez governador de Pernambuco por saber costurar alianças, uma característica que o neto teria herdado.
O fato concreto é que, quando Eduardo Campos for sepultado, no mesmo jazigo do avô, o ciclo político de uma dinastia terá sido encerrado em Pernambuco, pelo menos no curto prazo.
Marina Silva, embora apoiada por familiares de Campos, tem menos chances de vencer Dilma em Pernambuco que o candidato do PSB. Do ponto-de-vista meramente eleitoral, a disputa agora é pelo espólio político de Miguel Arraes e o ex-presidente Lula obviamente será a chave para o PT reconquistar uma parcela dele. Não duvido que o PT, a essa altura, esteja tentando atrair o PSB ou parcelas do PSB de volta à coalizão governista.
Por outro lado, como já escrevi anteriormente, por motivos reais ou imaginários há um profundo desencanto com a política, parte do qual pode ser atribuído à campanha diuturna da mídia corporativa para promover o antipetismo, especialmente durante o julgamento do mensalão.
Minhas observações pessoais, não estatísticas, indicam que o antipetismo chegou aos grotões e contaminou parcela considerável dos que se beneficiaram da ascensão social despolitizada promovida pelos governos Lula-Dilma. Disso deriva o risco real e concreto de um segundo turno muito difícil para Dilma Rousseff.
Vamos ver se o horário eleitoral gratuito, com Lula comandando o canhão, tem o poder de evitar isso.

(Publicado originalmente no site Viomundo)