Parece não haver dúvidas de que o jornalismo neste país vive um momento muito ruim, principalmente quando nos referimos à imprensa escrita. São demissões, enxugamentos, falências. Mas, o problema maior não está aqui, embora, em certa medida, esta questão econômica, em última análise, seja um dos fatores determinantes. No dia de ontem, a Folha de São Paulo demitiu 25 jornalista. Entre eles, uma festejada colunista política com forte identificação com os tucanos, o que levou petistas a comemoram a sua saída daquele órgão. Há aqui um certo exagero. Não se comemora demissão de ninguém. Uma conhecida revista de circulação nacional preparou uma capa sob medida, com o objetivo explícito de prejudicar a candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Tornou-se um panfleto, muito utilizado pela militância do candidato Aécio Neves, que a reproduziu e realizou farta distribuição entre os eleitores. Acionada, a justiça ainda tentou evitar sua circulação, mas já era tarde demais. Ainda bem que, um eleitorado já acostumado à essas manobras - aliado às redes sociais - se conseguiu minimizar os danos.Essa revista integra as publicações de um grande grupo editorial. Em décadas passadas penso ser um sonho de qualquer profissional de jornalismo fazer um estágio numa de suas publicações. O que dizer disso hoje, onde suas instalações são depredadas por manifestantes insatisfeitos com sua postura antijornalística, vinculado aos interesses mais vil do conservadorismo político brasileiro? Um leitor mais atento vai nos avisar que eles sempre representaram esses interesses. Até estiveram envolvidos com os golpistas de 1964. É verdade. Nenhum reparo. Mas penso, entretanto, que eles preservavam um mínimo de profissionalismo. Hoje nos parece que até esse aspecto está comprometido. O mais grave é que esse quadro parece se repetir em todo o país. Pernambuco, Paraíba e Ceará são alguns dos Estados da região que tivemos o cuidado de acompanhar como os grandes jornais locais se comportaram nas últimas eleições para o Governo do Estado. Na Paraíba, se a credibilidade desses órgãos já era pequena, desta vez elas ficaram mais baixa do que poleiro de pato. Conta-se que um nobre senador tucano, candidato ao Governo daquele Estado nas últimas eleições encontrou-se com um magnata da imprensa local num elevador. Disse para ele que seria governador do Estado a partir de 2015 e que ele ficasse atento ao tratamento que estava sendo dispensado ao governador Ricardo Coutinho(PSB), então candidato à reeleição. O que se sucedeu a isso é algo escabroso. Partiram feito urubus na carniça para cima do "Mago". Um massacre apenas superado graças ao empenho incomum da militância dos girassóis, aliada às obras que o "Mago" tinha para mostrar à população. Durante o seu discurso de agradecimento à militância, Ricardo carregou na fala ao se referir ao assunto. quando do seu pronunciamento junto ao busto de Tamandaré, em Cabo Branco. Enfatizo a questão dos jornais escritos, mas isso também vem ocorrendo em relação à TV e à rádio. Naquele Estado, a rádio que toca notícia tornou-se a rádio que toca fuxico, nas palavras do amigo blogueiro Tião Lucena.
Dilma ainda não escolheu o seu ministério. Sequer tem uma ideia concreta sobre como vai se virar em relação à pasta da Fazenda, um ministério cuja importância envolve uma ampla negociação, inclusive com o mercado. Se dependesse apenas de uma decisão pessoal, seria mantido na pasta o secretário-executivo do órgão, um procedimento que passou a ser adotado na gestão da máquina pública desde algum tempo, o que permite uma transição sem sobressalto, em alguns casos, aproveitando, de forma republicana, funcionários de carreira. Mas, nessa pasta em particular, há um componente político que talvez esse procedimento não atenda. Daí a enorme dificuldade. Todos observaram as movimentações do mercado no sentido de "indicar" ou "impor" um nome para a pasta. Por falar em ministérios, especula-se que Lula terá uma participação mais efetiva nesse segundo mandato. Dilma não poderá errar, entre outras razões, porque ele pretende voltar em 2018. Lula já mandou seu recado para o PT - no sentido de se reaproximar mais dos movimentos sociais e da juventude -; vai fazer o meio de campo da relação de Dilma com os partidos da base aliada e pretende participar diretamente das negociações para a indicação de três ministérios, de acordo com a edição de hoje da Folha de São Paulo: Fazenda, Educação e Cidades. Dilma, hoje, parece mais sensível à participação mais direta de Lula no seu Governo. Isso é bom porque Dilma não tem o traquejo político de Lula e, nesse segundo mandato, o Legislativo está de armas em punhos. Para a Casa Civil, ninguém tira a indicação de Aloísio Mercadante, no momento um dos petistas mais prestigiados no Planalto. Para as Relações Institucionais - cujas indicações nunca foram muito felizes - penso que Lula também irá exercer sua influência.
Muita tinta já foi gasta com essa birra de menino mimado do senador Aécio Neves, inconformado com o fato de ter perdido a disputa nas eleições presidenciais de 2014. Há vários aspectos a serem considerados nessa atitude, nenhum deles positivo para a saúde de nossas instituições democráticas, a rigor, sempre combalida. Se pudéssemos resumir porque Dilma Rousseff venceu aquelas eleições, poderíamos concluir que, em síntese, apesar da contraposição da elite e de setores da classe média, no geral, a população optou pela manutenção e os avanços sociais conquistados nos últimos governos de coalizão petista. Concretamente falando, o PSDB pretendia estrangular esses avanços, fazendo coro com aqueles que nos últimos quinhentos anos mantiveram a sociedade brasileira ostentando índices acachapantes de justiça social. O PSDB nunca teve resposta para essa questão. Nem quando foi governo, durante 08 anos de mandato do senhor Fernando Henrique Cardoso. Evidentemente que existem uma série de outros fatores conjunturais a serem considerados, mas, a rigor, não há qualquer dúvida de que isso foi o divisor de água desses eleições. O PSDB perdeu dentro das regras do jogo democrático. Embora a democracia representativa burguesa tenha lá seus vieses, é o que temos no momento e todos os partidos institucionalizados, em tese, se propuseram a respeitá-la, como é o caso do PSDB, que já participou do rodízio do poder, inclusive no plano federal. A princípio e a julgar pela entrega de faixa presidencial entre FHC e Lula, não de pode concluir que os tucanos sejam, necessariamente, mal perdedores. Essas últimas eleições, no entanto, acirraram muito os ânimos do eleitorado, que ficou bastante dividido. Isso permitiu aflorar manifestações de preconceito, agressões e ódio. Em alguns casos, com o endosso de postulantes, que se comportaram muito mal nesse aspecto. Alguém já disse para os tucanos se afastarem dos radicais de direita. Isso vem fazendo muito mal ao partido. O partido já não é lá essas coisas. Com essas mas companhia, então. Essa ideia fixa de tirar o PT do poder não pode conduzir o país ao caminho da normalidade democrática. Muito ao contrário, pululam por todo o país atitudes que dizem exatamente o contrário, como a marcha daqueles inconsequentes que pediam a volta dos militares ao poder. Dilma venceu as eleições, mas todos sabem que não navegamos em céu de brigadeiros. Há problemas, alguns deles de ordem estrutural, que precisam serem enfrentados, como a regulamentação democrática da mídia, a reforma política, o aperfeiçoamento dos instrumentos de combate à corrupção na máquina. Soma-se a isso as questões conjunturais da economia, que já atinge o cidadão em sua parte mais sensível, como diria o economista Roberto Campos. A postura revanchista do PSDB indica que teremos sérios problemas pela frente. No apogeu da ascendência de Aécio Neves nas pesquisas, segundo fomos informados, os caciques da legenda e aliados chegaram a fazer reuniões para dividir o latifúndio governista entre eles. Estavam certos da vitória. Veio a reação petista e eles perderam as eleições. Não baixaram as armas. Insinuaram que iriam pedir uma auditoria na contagem dos votos, mas voltaram atrás. A proposta de diálogo e conciliação encampada por Dilma foi rechaçada de forma agressiva por um tucano de bico fino, que, no passado, foi motorista de um conhecido guerrilheiro. Dizem que apagaram isso de sua biografia. De fato, não combina com os tucanos. Depois foi prometido um discurso contundente do senador Aécio Neves na sua volta ao Senado Federal. Pelas crônicas políticas que li a esse respeito, o discurso foi uma colcha de retalhos muito mal organizado. O texto não guardava muita coerência linguística e o teor também não foi dos melhores. Pelo andar da carruagem política, possivelmente, Dilma terá muitos problemas pela frente. Não pode errar na escolha do homem que vai fazer este meio de campo com o Legislativo. Ainda não se sabe quem será o ministro das relações institucionais, mas Dilma nunca foi muito feliz nessas escolhas. Desta vez, repito, não pode errar. Terá que lidar com um legislativo hostil, refratário e revanchista. Eles não farão uma oposição democrática e propositiva, contribuindo melhorar a condução do governo, apontando seus possíveis equívocos. Vão apostar no quanto pior, melhor. Justamente num momento crucial, onde a sociedade clama por reformas importantes para o país. Mas, pelo andar da carruagem política, Lula entra em campo para limpar a área política para a presidente Dilma Rousseff. Hoje, o nome mais cotado para a Fazenda é o de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, um nome digerível pelo mercado.
Diz a tradição que não se deve falar em corda na casa dos enforcados. Foi um pouco o que aconteceu com os primeiros discursos da Presidente Dilma Rousseff, depois das eleições. 0 emprego retórico da palavra "unidade", "diálogo", "negociação" parece que gerou o efeito contrário da "desunião", "contradição" e "conflito". Paira no ar, um sentimento de vingança, de revanchismo e retaliação por parte das hostes derrotadas e de seus aliados (de ocasião). 0 que se viu e se escutou nos últimos dias do candidato derrotado e do vice também derrotado, no Congresso Nacional, deixa muita dúvida se há, de fato, um clima para o entendimento e a concórdia, seja lá em torno do que for. A presidenta reeleita pelo visto vai precisar de algo mais do que o apelo retórico em favor da unidade. Isto, numa conjuntura de muitas dificuldades na frente econômica e o encaminhamento da chamada "Reforma Política". É difícil encaminhar qualquer reforma digna desse nome, num ambiente de guerra e de ressentimentos. A política racional de produção de consensos democráticos em torno de uma agenda reformista (tributária, federativa, fiscal, política) só se dá entre interlocutores de boa-fé, verazes e interessados em chegar a um acordo. Não é o que se está observando por enquanto no cenário político brasileiro. Os ânimos não se acalmaram.
As armas retóricas da campanha não foram ensarilhadas. E o "animus bellum" é o que preside as relações parlamentares e interinstitucionais entre o Legislativo e o Executivo. Reformas que ora dependem do apoio e a boa vontade dos governadores, ora dos nobres parlamentares, ora das classes abastadas da população, que podem estar comprometidas pela ausência de clima e de vontade política entre as partes. E a presidenta vai precisar muito do apoio do Congresso ou de sua maioria congressual para aprovar os projetos de sua agenda política. Neste sentido, ela deveria acionar o seu vice para pacificar as bancadas peemedebistas no Parlamento. E nomear um ministro das relações interinstitcuionais com um trânsito entre os políticos e os partidos, pois está fazendo muito falta quem faça isso em seu governo.
Outro aspecto crítico dessa nova gestão são as manifestações da classe média tradicional pedindo a volta da Ditadura Militar, para evitar uma "cubanização" do país. Alguma semelhança com o clima pré-1964? - Aonde estava essa mesma classe média, naquele momento? Nas cruzadas do Padre Payton em favor da família, da Igreja e da Propriedade?- 0 que há com estes setores, que toda vez que se sentem ameaçados pelo avanço dos mais pobres e miseráveis correm em busca dos quartéis? São democratas instrumentais? de conveniência? Não incorporaram os valores éticos e culturais da democracia em nosso país? Ou são escravocratas enrustidos, envernizados com a tinta rala dos ritos formais do regime democrático?
A esse respeito, seria da máxima importância que a oposição legal e constituída dissesse que não patrocinam nem comungam com esse pensamento golpista. O silêncio, a leniência com esse alarido da direita e dos seus inocentes úteis cheiram a conivência ou aceitação tácita do revanchismo e da retaliação. Oposição democrática é aquela que reconhece a derrota, aceita as regras do jogo, não compactua com o golpismo e vai exercer legitimamente o seu papel constitucional nas casas legislativas do país. Ficar fazendo ameaças, bravatas retaliativas, chantagear o partido vencedor não é o que se espera de uma oposição consequente e responsável.
Para esse tipo golpista de oposição, vale o conhecido dito popular: "quem semeia ventos, colhe tempestades".
Michel Zaidan Filho é cientista político, historiador, filósofo e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
As coisas não serão nada fácil para Dilma Rousseff nesse segundo mandato. Penso que nessas últimas eleições, não deu nem para 'limpar o meio de campo", como Lula tentou na primeira eleição de Dilma, quiçá, permitindo que ela governasse sem o assédio dos urubus voando de costa. Não é surpresa para ninguém que teremos um Legislativo hostil e conservador. Como o PMDB sempre fez jogo duplo - assim como as Dianas de Pastoril - caso Aécio Neves fosse eleito, as chances de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ser eleito presidente da Câmara dos Deputados era tida como favas contadas. Como os arranjos por ali são complexos e, considerando-se que o PMDB saiu fortalecido, suas chances continuam boas. Não preciso dizer que ele não será um bom nome para conduzir aquela Casa. As razões são inúmeras, a começar por sua longa ficha de acusações de atitudes duvidosas como parlamentar. Soma-se a esse fato, uma indisposições de longas datas entre ambos. Dilma não suporta Eduardo Cunha. A recíproca também é verdadeira. Uma equação política difícil de ser resolvida, posto que não se pode desprezar seu grau de articulação dentro da máquina peemedebista e as escolhas de "Sofia" do vice-presidente Michel Temer.
Lamentei profundamente quando o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad deixou o Ministério da Educação. Razão muito simples. Vinha fazendo uma excelente gestão naquele Ministério, inclusive com alguns projetos estratégicos para a educação básica, o nosso maior gargalo na educação. Mas Haddad estava naquela núcleo de renovação do PT pensado por Lula. Estrategicamente, Lula pensou esse grupo para atuar na grande São Paulo e seu cinturão. Penso que o objetivo do líder petista seria minar a resistência tucana no seu ninho mais emplumado, assim como o mingau quente pelas beiradas, sem se lambuzar. A julgar pelos resultados do último pleito estadual, essa é uma meta ainda distante de ser alcançada. O PSDB é, sobretudo, um partido da plutocracia paulista, como costuma informar o sociólogo Francisco de Oliveira. Apesar dos tropeços em Campinas - com o economista Márcio Pochmann, ex-IPEA - Haddad foi eleito para prefeito de São Paulo. Deu o esperado. Se o Brasil perdeu um bom Ministro da Educação, São Paulo ganhou um excelente gestor, capaz de inovar na gestão pública, sobretudo ao lidar com as minorias secularmente desprezadas pelo poder público. A sua política para recuperação dos viciados em crack, por exemplo, é algo bastante inovador e humano. Ao tratar os desiguais de forma diferenciada, deu um ótimo exemplo também ao eleger entre as prioridades dos beneficiários do programa Minha Casa, Minha Vida, a rapaziada do LGBT. Outra decisão que alcançou aplausos foi sua política de aumentos do IPTU municipal cobrando, de fato, de quem pode pagar mais em benefício da coletividade. Ao receber uma poupada quantia de um banco que devia ao município, vai reverter os recursos para a ampliação do programa de creches. Por essa e outras medidas, foi bastante aplaudido durante as comemorações da vitória de Dilma em São Paulo. É comum encontrar nas redes sociais manifestações de recifenses pedindo para que ele se candidate a prefeito de nossa cidade. Este, aliás, é um fenômeno que se repete também em relação a outras cidades. Petismo à parte, Haddad é um dos melhores quadros da administração pública brasileira. Há quem advogue que Lula poderia tentar voltar ao Planalto em 2018. Uma possibilidade sempre especulada. Mas, na impossibilidade de Lula disputar aquelas eleições, possivelmente, o nome de Haddad está entre os mais cotados nas hostes petistas. Haddad também surge como alternativa para tentar desbancar a hegemonia tucana em São Paulo. Aqui, no entanto, a conversa é outra, sobretudo se considerarmos o fato de estarmos diante de um eleitorado majoritariamente conservador e anti-petista. Morrem de sede votando nos tucanos.
O Jornal do Commércio do dia de ontem dedicou praticamente um caderno completo sobre a sucessão na Prefeitura do Recife, em 2016. Como diria um colega professor da UFPE, são várias unidades de análise, onde convém separá-la devidamente, sob pena de mais confundir do que esclarecer o leitor. a) A gestão do PSB prometeu muito e cumpriu muito pouco do que foi prometido. Já começa a enfrentar um certo desgaste junto à opinião pública. Na realidade, os neo-socialistas abusam da parafernália midiática, por vezes, camuflando a realidade cotidiana. A gestão do Governo do Estado, por exemplo, sempre foi apresentada como um grande modelo de gestão pública no país. Antes mesmo da posse, Paulo Câmara descobre que o Governo do Estado está falido, com um rombo de 30 bilhões nas contas. A briga interna entre os neo-socialistas sobre como deve ser a sucessão de 2016 está mais propensa a produzir divisões do que consensos. Há quem informe que os herdeiros políticos diretos do clã dos Campos desejam entrar no jogo já naquelas eleições. Acho cede, mas...;b) Na realidade, o PT continua amargando um longo e tenebroso inverno no Estado, motivado por alguns erros de avaliação cometidos num passado ainda recente. É trabalhar bastante para afirmar uma posição, recuperando o terreno perdido. O esforço final da militância nas eleições presidenciais de 2014, em nada, modifica o quadro. Tratou-se de uma ato espontâneo, sequer estimulado pelo partido, que permaneceu inerte no seu bunker da rua do Príncipe. O partido precisa ser reinventado no Estado. É um exercício de especulação imaginar como o partido estará em 2016. Capacidade de recuperação e soerguimento o partido tem de sobra. Vamos esperar que esse capital seja bem utilizado, contribuindo para a sua renovação, e ele chegue em 2016 com um bom padrão de competitividade. Como se trata de uma eleição municipal, pouco provável que Dona Dilma possa socorrê-lo; c) De um modo mais geral, o PSDB mostrou um sobre fôlego na reta final da disputa presidencial de 2014, salvo melhor juízo. Aqui em Pernambuco, onde atuam como linha auxiliar dos neo-socialistas, no entanto, eles foram humilhantemente derrotados, num quadro que ainda requer algumas explicações. Aqui no Estado eles possuem alguns quadros que podem disputar as eleições municipais de 2016 com alguma possibilidade. Bruno Araújo e Daniel Coelho são nomes especulados. O PSDB local constitui-se num núcleo político que não pode ser desprezado, apesar do pífio resultado obtido pelo candidato presidencial Aécio Neves no Estado; d) Existe uma grande expectativa sobre o mandato popular de Edilson Silva(PSOL) na ALEPE e há, também, quem sinta nos horizontes de suas aspirações o Palácio Antonio Farias. Já para 2016; Acho precipitado. Precisa esquentar a cadeira legislativa e ampliar sua capilaridade política no município; e) E Priscila Krause, em?
Como disse criticamente uma doutora em Educação: “Um mal-estar assombra a Academia: o mal-estar provocado pelo fetiche do conhecimento-mercadoria e o seu canto de sereia – o produtivismo.” Impera um fenômeno nacionalmente onde o conhecimento está sendo convertido de valor de uso em valor de troca. E nos programas de Pós-graduação Brasileiros, aferrados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), instrumento cientométrico por excelência, a produtividade têm níveis, aliás, têm Qualisficações, no mercado universitário, aplicados aos artigos publicados em periódicos, modalidade prioritária segundo a capes – os livros perdem seu valor, se comparados aos artigos.
Engendra-se uma espécie de periodicocracia do conhecimento na academia, ou em tom mais geral a norma produtivismo, que como regra “prescreve padrões aos quais indivíduos e instituições devem adequar-se, acarretando formas de normação que preveem recompensas e punições” . Ao invés de incentivar serve antes a um controle que tolhe e traumatiza. O que ocorre é uma acefalia onde o conhecimento não mais vale pelo seu conteúdo mesmo, mas sim onde foi publicado, vista a classificação da Qualis. É o processo de acumulação de capital curricular, vigente há muito no Brasil, refletido no endeusamento patente do Curriculum Lattes.
Como bem coloca Eunice Trein e José Rodrigues , não podemos, e nós da área de Humanas em particular, concordar com a continuidade desse modo de produção de conhecimento que conduz a sociedade brasileira ao télos de uma economia competitiva, que homogeneíza todas as áreas do conhecimento e obscurece o fato que a decisão de investimento em dada área é antes de tudo política.
Apesar de reconhecermos ser imprescindível - a critério de prestação de contas para a academia e sociedade em geral - avaliar de alguma maneira os resultados, sobretudo quando se trata de recursos públicos, mas não do modo como está sendo realizado: Um modelo que preza primeiro o quantitativo e a qualidade é elemento subsidiário. E, nesse ínterim, pelo meio publicizado (periódico), o acesso ao povo dos resultados das pesquisas ainda é uma quimera - a linguagem truncada e técnico-especifista impõe rígidos limites à majoritária da população.
Lamentavelmente, o discurso sofismático de uma dita excelência do professor ou do Programa de Pós-Graduação, ambas medidas por essa perversa lógica de quantificação intransigente é o canto da sereia que ainda encanta a muitos, os quais para atingir seu objetivo de estarem no topo do Pódium do produtivismo se valem de expedientes os mais escusos, inclusive a expulsão de colegas de trabalho – os “improdutivos”, para majorar a nota na CAPES.
E o Programa de Pós-graduação em História da UFPE, que há pouco teve sua nota rebaixada, trará uma crítica em forma de denúncia numa postura contra-hegemônica ou então endossará esse sistema de controle e punição, compactuando com essa lógica nefasta e que em nada contribui para o povo Brasileiro, convertendo-nos, pesquisadores da História, em desumanos das Humanas? Apesar dos indícios apontarem no sentido contrário, torcemos na adoção de uma postura crítica, necessariamente à contrapelo da aristocracia acadêmica dominante. Ainda que frustrada essa expectativa, iremos à luta para apontar os equívocos e por em primeiro plano o compromisso social pelo qual a Universidade Brasileira deve pautar-se, que indubitavelmente não é o do mero produtivismo.
Diretório Acadêmico de História Francisco Julião (DAHISFJ).
Quando se diz que, entre nós, a democracia sempre foi um grande mal-entendido, as pessoas pensam que a gente exagera. Mas como é possível participar de uma campanha eleitoral, em dois turnos, com a propaganda eleitoral obrigatória, debates entre os os candidatos, além da distribuição de farto material de publicidade das candidaturas, e, proclamados os resultados das urnas eleitorais, questionar a vitória do vencedor?
É preciso ressuscitar Norberto Bobbio para ensinar a essa gente que democracia é uma regra (a da maioria) e que se não se aceita ou acata a regra, não é democrata. Ou Adam Przeworski para dizer que a democracia é o regime da incerteza eleitoral e não um jogo de cartas marcadas, onde já se sabe quem vai ganhar. Será que a democracia que nos convém é aquela que nos garante sempre a vitória, a qualquer custo: ganho ganho, ela é boa. Quando perco, ela é viciada. Razão assiste ao filósofo brasileiro Leandro Konder quando afirma que a tradição política brasileira é o golpismo, a virada de mesa, a conspiração, e não a democracia, o respeito às regras do jogo. Democracia à brasileira é aquela onde a gente sempre vence, custe o que custar.
É isso que estamos vendo com a tentativa de uma "3º turno" nas eleições deste ano feita pela oposição derrotada no último pleito para Presidente da República. Depois de uma renhida disputa eleitoral, que manteve o resultado na indefinição (segundo os principais institutos de pesquisas do país), o partido dos derrotados vai se queixar na Justiça de fraude, de vício, de corrupção da verdade eleitoral. Pergunta: por que participou (e legitimou a eleição), por que esperou acabar o 2o turno das eleições, para entrar com um pedido de impedimento da Presidente Dilma, que nem sequer tomou posse do seu segundo mandato.
Afinal, qual é o papel constitucional da oposição? - É derrubar ou conspirar ou torcer para que a gestão do vencedor dê errado? - Ou se capacitar para fiscalizar, propor leis de interesse público, realizar críticas construtivas em benefício da República brasileira? - Uma oposição democrática e republicana sabe que, mesmo perdendo a eleição, tem muito a ensinar aos vencedores de turno. Uma oposição programática, que apresente teses, princípios e orientações pode e deve dialogar com o governo, com os representantes do governo no Parlamento, pois o principal beneficiado com o debate de idéias é a nação, é o povo brasileiro. Se tem idéias diferentes sobre a política econômica, sobre câmbio, juros, contas públicas, política industrial, comércio exterior etc. Que diga, que apresente ou discuta no Congresso. Um governo sensato tem de se abrir ao debate à saudável troca de idéias, quando vem em prol da população brasileira. Um governo não governa apenas para os seus (como parece ser a oligarquia pernambucana), nem a oposição deixa de ter razão, por que perdeu a eleição. Tem de haver um meio termo onde uns e outros possam dialogar em benefício do país.
Apostar, em toda linha, no caos, na ingovernabilidade, na crise institucional (e bater nas portas dos quartéis) é o oposto de uma cultura política democrática. É golpismo, puro golpismo. Para esses, vale o adjetivo: democratas de ocasião.
Michel Zaidan é filósofo, historiador, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
A direita parece não se conformar com o fato de ter perdido as últimas eleições presidenciais. Ontem especulou-se que o PSDB pode solicitar uma auditoria na contagem dos votos. Não se diz claramente qual seria a motivação específica, mas todos os pedidos de recontagem carregam, em si, uma suspeição sobre a lisura do pleito. Confesso que não sei de ondem os tucanos tiraram essa ideia. Pelo menos em alguns casos específicos - que conheço bem porque acompanhei de perto - foram eles os flagrados em caminhonetes com a mala cheia de dinheiro para distribuir com os eleitores. O caso do Estado da Paraíba, por exemplo, é emblemático. Há registro de alguns casos pontuais, de secções eleitorais onde as urnas não funcionaram a contento. Mas, repito, situações pontuais, tudo dentro da normalidade. Vejo com muita preocupação essa atitude dos tucanos. Eles perderam a eleição e pronto. Antes de mais nada, muita sensatez do eleitorado. Num país com as desigualdades históricas como o nosso, seria imprudente interromper governos que estão tentando equilibrar o jogo entre o andar de baixo e o topo da pirâmide. "Equilibrar o jogo' talvez fosse um pouco de otimismo de nossa parte. Ao menos - e isso seria mais plausível - oportunizando melhores condições de educação, saúde, crédito, moradia ao andar de baixo. Precisamos avançar muito nesse aspecto e, certamente, não seria escolhendo os tucanos, representante, sobretudo de uma plutocracia paulista. Eles ão gostam de pobre. Num país como o nosso, os governantes precisam ter sensibilidade quanto às questões sociais e não embarcar na manutenção de privilégios de alguns e exclusão de muitos. Até mesmo a votação que Dilma Rousseff obteve aqui no Nordeste eles tentaram desqualificar, numa atitude, até certo ponto preconceituosa. Endossada, inclusive, pelo grão-mestre do grupo, o senhor FHC. Há alguns segmentos sociais que se identificam com esse grupo. O candidato Aécio Neves passou a representar tudo que há de mais retrógrado e atrasado nesse país. Mesmo sem água, os paulistas elegeram Geraldo Alckmin ainda no primeiro turno. As análises que diziam que os tucanos estavam a caminho do fim, parece que foram desmentidas pela realidade mostrada pelas urnas. Vão fortalecidos para fazer oposição a Dilma Rousseff. Só não entendo agora o porquê desse erro político. Desse tiro no pé. Atitudes que apenas estimulam a discórdia, o ódio, a intolerância. Isso num momento em que os eleitos estão acenando com diálogo e conciliação. Vamos abaixar as armas, playboy.
Assim como Casa Civil, Relações Institucionais, Secom, o Ministério da
Cultura também contribui bastante para identificar o perfil de um
Governo. Dilma deve ter aprendido bastante nessas eleições, seja com
aliados e adversarsários. Vai descansar na Bahia - um descanso mais do
que merecido - e depois volta para o batente, diposta a governar por
mais 04 anos. Apesar dos ânimos ainda acirrados, as palavras de ordem
tem sido diálogo e conciliação. Ontem
vazou uma informação - certamente furada - de que o novo Ministro da
Cultura seria ninguém menos do que José Sarney. O PMDB saiu fortalecido
dessas eleições, Sarney continua como um aliado do Governo, mas seria
inimaginável que Dilma Rousseff o nomeasse para o Ministério da Cultura,
dentro da parte que cabe ao PMDB no latifúndio governista. O desgaste
deste cidadão junto à opinião pública é muito grande. O nome Sarney
identifica-se com tudo quanto não presta neste país: patrimonialismo,
regimes autoritários, corrupção na máquina pública, nepotismo, tráfico
de influência e uma série de outras mazelas. Só pode, portanto, ser uma
brincadeira. Justamente no momento em que o oligarca foi derrotado no
seu Estado, o Maranhão. A falsa "notícia" foi festejada pelos
adversários de Dilma Rousseff, dando margem a todo tipo de chacota pelas
redes sociais. Para completar o enredo, também andou circulando um
vídeo onde o velho oligarca aparece, de acordo com o autor - é bom
considerar a possibilidade de fraudes - votando no candidato Aécio Neves
no segundo turno das eleições.
Alexandre Porto é um colega dos nossos bons tempos do microblog
Twitter. Residente em Niterói, tem uma visão bastante aguçada das
questões polítiticas, sempre fazendo comentários muito pertinentes. Hoje
ele comentou sobre essa aproximação entre o PSOL e o PT. Em linhas
gerais, praticamente, o PSOL é uma dissidência do PT, assim como foi o
PSTU, quase todo formado pela tendência Convergência Socialista, então
expulsa da agremiação. O namoro, até o
momento, vai de vento em popa e as razões para isso são inúmeras. Há
quem esteja até sugerindo um casamento imediato e uma lua-de-mel na
Esplanada dos Ministérios. Como bem colocou Luciana Genro num dos
debates, o PSOL não aceita dedo em riste, não se constitui como
linha-auxiliar do PT, tampouco abdica de alguns pontos do seu programa.
No mais, há, sim, a possibilidade de entabular algumas propostas e
linhas de ação em conjunto. Como informa Alex, o PSOL deixou de ver o PT
como um inimigo a ser derrotado, a despeito de seus possíveis
equívocos. Uma das necessidades impostas a Dilma Rousseff pelas atuais
circunstâncias políticas é o fortalecimento de suas alianças à esquerda.
A contingência se impõe por uma série de motivos, inclusive pelo perfil
do novo congresso, onde houve um fortalecimento da representação
conservadora. Se já cobrávamos isso de Dilma em momentos anteriores.
Agora, então...Motiva o PSOL uma perspectiva real de poder. A turma do
PSOL que deixou o PT nos parece ser mais "pragmática" ou ter uma visão
mais consequente da política. Uma posição, nos parece, bem distinta
daquela externada pela pessoal do PSTU. Apesar das divergências com o
PT, enxergam o que nos aproxima estrategicamente. Isso é um dado
alvissarreiro porque antecipa em anos a tal bacia semântica do
antropólogo Gilbert Durand, além de forçar o PT a abraçar algumas teses
que os setores conservadores da coalizão interditam.
A presidenta Dilma Rousseff definiu quais são as prioridades do seu segundo mandato: ajuste fiscal e reforma política. Ajuste fiscal por conta do descontrole das contas públicas, sobretudo no ambiente de baixo crescimento da economia, inflação alta, déficits na balança de pagamento e na relação despesa e receita. Reforma política em função do recado das jornadas de junho e das denúncias do propinoduto da Petrobras. Poderia acrescentar a reforma tributária e/ou um novo pacto federativo no Brasil, com o fim da guerra fiscal. Mas a principal questão é se ela terá força suficiente para realizar essas reformas com o perfil do próximo congresso: fragmentação da representação parlamentar, a redução das bancadas governistas e a nova configuração da geografia do poder com a eleição dos novos governadores.
Há uma pressuposição de que é de coalizões centralizadoras que são feitas as grandes reformas no Brasil. As vezes, sem o funcionamento normal do Poder Legislativo. E muitos temem a adoção do regime parlamentarista entre nós, com o receio das bancadas conservadoras e fisiológicas, produzidas pelo concurso de partidos fantasmagóricos que são verdadeiras legendas de aluguel. E olhe que esses partidos só aumentaram de número no país. Ou seja, entregar a esses partidos e a seus parlamentares a prerrogativa de fazer reformas é o mesmo que admitir que essas jamais serão feitas no Brasil. E que se forem, depois de um alto custo, serão pífias e insignificantes.
A presidenta reeleita deve estar ciente dessa situação. Deve procurar melhorar suas relações com o Congresso, os partidos políticos e os líderes das bancadas partidárias nas casas legislativas. Para isso, deve nomear um ministro com o dom e a capacidade de negociação. Coisa que ela não teve até agora. Um bom ministro das Relações Institucionais ou da Casa Civil, que possa ir ao Congresso e conversar com os ilustres parlamentares sobre as prioridades da agenda política da nossa presidenta. A questão é que o método da conversação passa inevitavelmente pela única linguagem que esses políticos entendem: contrapartida do Poder executivo, cargos, nomeações, recursos públicos, obras etc. É aí onde se chocam os objetivos reformizantes da nossa dirigente nacional e aqueles incumbidos de aprovar a reforma - com ou sem o apoio popular. Ou se garante a tão almejada governabilidade (leia-se maiorias no parlamento) ou se faz a reforma política. As duas tarefas, no momento, são inconciliáveis. Até porque a reforma política que sair dessa legislatura será feita "a la carte", de modo a não prejudicar os interesses dos próprios parlamentares.
Mais problemático é a reforma tributária e o ajuste fiscal, depois de uma eleição tão disputada como essa. A primeira passa por um amplo acordo dos governos estatuais, que temem perder receitas para União, em qualquer hipótese. Mesmo que seja para combater a guerra fiscal. A base da autonomia política e financeira dos entes federativos é a cobrança de impostos estaduais e a transferência constitucional de parte dos impostos federais. Para os mais cínicos ou realistas, o que se chama "reforma tributária" é um jogo de soma zero - tipo: " eu diminuo o meu e tu aumentas o teu". naturalmente ninguém quer renunciar receitas, nem mesmo em nome de um novo pacto federativo. Os governadores temem perder o certo pelo duvidoso, diante da fome tributária federal (que já abocanha parte de 60% dos tributos e contribuições). Muitos dos efeitos extra e parafiscais de algumas contribuições foram parar sem cerimônia no caixa comum do Tesouro Nacional. A reforma tributária é o calcanhar de Aquiles da Federação Brasileira. Por isso ela é tão difícil de ser aprovada.
Já o chamado ajuste fiscal, que se traduz pela adequação das receitas e as despesas do Governo Federal, num ambiente econômico desfavorável, é mais difícil de ser implementada, pois significa cortar investimentos e financiamentos de políticas sociais - o carro chefe do Governo Petista. Manter ou ampliar esses investimentos num contexto de déficit primário e da necessidade do reajuste das contas públicas, significa contrariar expectativas de direitos ou ampliação de direitos daqueles que são o público-alvo das políticas sociais no Brasil.
A presidente Dilma falou em mudança da economia. Mas não disse quais são. Acredito que nesses dias de descanso ela fará muitas reflexões sobre que rumo irá imprimir ao seu segundo mandato, considerando de um lado as promessas de campanha ao seu eleitorado tradicional, e do outro as críticas e reparos dos adversários, sobretudo no terreno da política fiscal, tributária, cambial e financeira. Como se costuma dizer, governar é eleger prioridades e administrar as consequências dessa escolha. Sobretudo, aquelas vindas dos setores prejudicados por elas.
Michel Zaidan Filho é cientista político, filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Com a morte do ex-governador Eduardo Campos, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, assume a condição de uma das maiores lideranças dos neo-socialistas na província. Geraldo integra o núcleo duro daqueles que orbitam e exercem forte influência sobre a viúva do ex-governador, Renata Campos. Um dos grandes trunfos dos neo-socialistas locais foi emplacá-lo como Secretário Nacional do Partido Socialista Brasileiro. Não sei o que este partido ainda preserva do socialismo, mas, enfim, o nome ainda está mantido. Apesar da eleição de Paulo Câmara para o Governo do Estado e Fernando Bezerra Coelho para o Senado Federal, quando do segundo turno das eleições presidenciais, os neo-socialista sofreram uma grande derrota no Estado. Pernambuco deu mais de 70% dos votos a Dilma Rousseff, algo que ainda está a dever uma avaliação mais consistente. Em qualquer hipótese, no entanto, não resta dúvida de que eles foram derrotados, sobretudo em sua empáfia, arrogância e prepotência. Grupos ou pessoas que agregam em torno si esses adjetivos já estão, de antemão, derrotados. Uma grande dúvida é como eles se relacionarão com o Governo Dilma Rousseff, já que não conseguiram tirar essa mulher do governo, como bradava em praça pública um mais entusiasmados expoentes do grupo. As informações são contraditórias a respeito do assunto. Uns afirmam que eles tentariam uma reconciliação com o Governo Dilma. Em nome dos bons tempos, possivelmente não seria. O mais provável seria que tal aproximação se desse em torno dos convênios e repasses do Governo Federal para o Estado e o município do Recife. Acabei de ver uma entrevista com Geraldo Júlio onde ele afirma que o grupo vai se manter na oposição. Está confuso.
Sérgio Amadeu é doutor em Ciências Políticas pela USP. O título não é nenhuma "carteirada" acadêmica, mas apenas para informar o leitor de que ele, possivelmente, sobe do que está falando. Nas últimas horas do pleito presidencial de 2014, as forças conservadoras da política brasileira lançaram a sua última "bala de prata". Numa urdidura muito bem montada, a uma revista de circulação nacional trouxe uma denúncia "bombástica" contra Lula e Dilma Rousseff. Mesmo sem prova alguma, insinuaram que eles sabiam do escândalo de corrupção na Petrobras. O Planalto agiu rápido, tomou providências judiciais contra a revista, mas o estrago já estava feito. A capa veio sob medida para impressão. Partidários de Aécio Neves(PSDB) exibiam em praça pública suas cópias. Mais tarde teríamos o último debate entre os candidatos e, no meio, uma nova edição do Jornal Nacional. Todos esperavam uma grande repercussão no JN. Não houve. Eles acionaram o gatilho na edição de sábado. O estrago à candidatura de Dilma Rousseff poderia ser maior. Assim como ocorrera em 1989 e nas eleições subsequentes, o objetivo era claro: derrotar o candidato do campo progressista e eleger alguém de maior confiança do establishment, a quem essa mídia está consorciada. Em 1989 a manobra deu certo. Em 2014, não. O que teria ocorrido, então? De acordo com Sérgio Amadeu, o eleitorado - sobretudo um segmento específico - já tinha amadurecido o bastante para compreender que se tratava de uma armação com propósitos bem específicos. Outro fator determinante é que em 1989 nós não tínhamos internet. Em 2014 ela foi decisiva para que a "bomba" fosse desarmada em tempo hábil. Depois dessa refrega, postamos por aqui alguns comentários indicando que Dilma deixaria de ser reticente ao tema da democratização da mídia. Pelo menos por enquanto, parece que suas prioridades é a reforma política e os ajustes fiscais. Vamos ver quem ela indica para a SECOM é aí saberemos quais os tendências.
Ao apagar das luzes da última campanha presidencial veio à tona uma informação que ficou ofuscada diante do calor da campanha. Ninguém deu muita importância, mas o negócio é muito sério. Esse problema de corrupção da Petrobras se insere dentro daquele contexto de "vazamento seletivo', ou seja, uma informação passada à imprensa num momento específico, com a evidente motivação de favorecer um dos candidatos da disputa. A delação premiada, por sua vez, também sugere o mesmo expediente. Não vou entrar nos detalhes, mas alguns blogs já relataram toda a urdidura em torno do assunto. Em razão desses fatos, a corrupção tornou-se um dos temas mais quentes da campanha presidencial de 2014. Acossada - em razão dos casos que, de fato, existem no Governo - a presidente Dilma Rousseff, numa de suas primeiras falas, prometeu endurecer o jogo contra os gatunos da Viúva. Como sugerimos aqui mesmo no blog, uma série de medidas precisam ser tomadas, como o fortalecimento dos instrumentos de controle e fiscalização de Estado; medidas mais severas contra os corruptos; maior profissionalização e aperfeiçoamento dos agentes de Estado envolvidos com essa questão. O problema da corrupção no Brasil é grave, precisa ser enfrentado, mas não pode ser reduzido à indução deste ou daquele governo ou partido. Nesses últimos 500 anos, ela não é primazia de ninguém. A nossa máquina pública está podre. Essa indignação contra os possíveis desmandos de corrupção na coalizão de governo petista, na realidade, traduzia outras motivações inconfessáveis. Trata-se de um problema endêmico, complexo. O caso da Petrobras é bem ilustrativo. Feita as contas do tal propinoduto na estatal, de acordo com o delator, o montante maior de propinas pagas foi aos tucanos de alta plumagem. Vejam só! Aqui em Pernambuco, uma dessas aves de rapina achacou a estatal em 10 milhões para esvaziar uma CPI. Raposa rica. Felpuda. Andava com sapatos de cromo alemão.
Ontem, uma colega de jornada informou que estava deixando de atuar nas redes sociais. Já estava saturada com a onda de ódio que circula por aqui. E ela tem lá suas razões. O clima está ficando irrespirável. São ofensas e agressões contra negros, pobres, nordestinos, homossexuais, eleitores de Dilma Rousseff, petistas. Este gatilho foi acionada por uma série de circunstâncias envolvendo essa última campanha presidencial, como informa em artigo publicado no nosso blog o professor Michel Zaidan Filho. Pegou combustão, assim como fósforo aceso em palha de bananeira seca. Até a onda separatista voltou a ocupar o "debate". O pior é que existem alguns jornalistas irresponsáveis que, ao invés de cumprirem o seu ofício com responsabilidade e ética, acabam, com suas declarações, contribuindo, na verdade, para insuflar ainda mais o ódio. Não preciso aqui citar nomes, mas os leitores, certamente, sabem de quem estamos falando. Jabor, Mainardi estão entre eles. De acordo com Michel, a entrada da irmã Marina na campanha presidencial contribuiu bastante para estabelecer essa "polarização", possivelmente em razão de sua identificação com os evangélicos. Vem daqui aquelas discussões sobre ser contra ou a favor de casamento entre pessoas do mesmo sexo; contra ou a favor do aborto; liberalização do uso da maconha; criminalização dos atos de caráter homofóbicos etc. O segundo turno, por assim dizer, trouxe alguns ingredientes novos, como a divisão entre os eleitores de Aécio Neves e Dilma Roussef. Os de Aécio Neves, mais identificados com a elite paulista, os de Dilma mais identificados com a região Nordeste. Isso também reacendeu a indisposição de setores da elite e da classe média tradicional com as políticas de distribuição de renda da Era Lula/Dilma, que favoreceu os estratos sociais mais fragilizados. Todos os ingredientes parecem que estão dados. Cumpre agora a adoção de atitudes que possam não alimentar essa onda, mas dilui-la, minimizando seus efeitos nefastos. Aqui, pelas redes sociais, vou excluir marcações que contenham essa pregação ou mesmo aquelas que as refutem com o mesmo expediente. Façam o mesmo. O Brasil é um país que precisa construir pontes, e não muros. É exatamente essa apartação construída durante décadas que estão fomentando esses problemas.
A assessoria do governador eleito do Maranhão, Flávio Dino, nos informou que ele deverá conceder uma entrevista ao nosso blog, mas somente a partir de novembro. Já faz algum tempo que acompanhamos a trajetória político de Flávio Dino, sobretudo em função de sua cruzada republicana no sentido de apear do poder daquele Estado a oligarquia Sarney. Como nos recomenda alguns colegas, não se pode comemorar muito ainda, mas o primeiro passo já foi dado, ou seja, Flávio derrotou o candidato do clã nas últimas eleições para o Governo do Estado, Lobão Filho. O câncer patrimonialista se espalhou como uma metástase por todas as instituições do Estado. Não será tarefa fácil extirpá-lo. Sempre haverá um núcleo residual, alguns enclaves, a atravancar o processo, impedindo que a máquina funciona de forma republicana, consoante os interesses comuns, pendendo mais para os desfavorecidos e esquecidos durante décadas. Em todo caso, é grande a nossa expectativa. Por ter recebido o apoio do PSDB durante o primeiro turno das eleições maranhenses, Flávio assumiu uma postura de neutralidade no segundo turno das eleições presidenciais. Flávio mantém uma relação pessoal de muita cordialidade com a presidente Dilma Rousseff, daí concluirmos que ele subiria em seu palanque nessa reta final da campanha, a despeito dos equívocos do PT em relação à sua candidatura. Não podemos condená-lo. Por duas vezes, o PT o negou. Mesmo nessas circunstâncias, Dilma Rousseff obteve mais de 72% dos votos naquela Estado, no segundo turno. A cidade de Belágua deu a maior votação proporcional a Dilma. Ali, 92% da população votou na candidata do PT. Já preparamos uma série de perguntas para o candidato, todas relacionadas ao processo inicial de desconstrução dessa oligarquia carcomida, bem como sua relação com o PT no Estado e no plano federal, além das políticas sociais redistributivas que ele pretende implementar no Maranhão, que ostenta indicadores sociais caóticos e vergonhosos. Promete. Aguardem!
27 de outubro de 2014 | 12:38 Autor: Fernando Brito
Será que alguma hora, certas pessoas vão se dar conta ao papel ridículo a que estão sendo levadas?
Será que é possível que uma pessoa que vive numa das mais belas paisagens do mundo, num bairro onde não falta nada – nem mesmo segurança, porque dentro das precariedades do Brasil e do Rio de Janeiro, ela ali é das melhores – que tem escolas, empregadas, babás para seus filhos, que vive num padrão semelhante aos das melhores cidades dos EUA ou a Europa, se digam oprimidas, reprimidas, perseguidas?
Sinceramente, não lhes tenho ódio, nem quero que se vão embora daqui.
Tenho amigos queridos que votaram no Aécio e não deixam de ser queridos e amigos por isso, até porque aceitam os resultados e a vontade da maioria, que não os oprime.
Em plena ditadura, éramos muito mais fraternos… O colega mais “bem-de-vida” dos tempos de faculdade, o saudoso Robertão, tinha um sobrenome aristocrático, um Puma e um barraco no Morro do Salgueiro, devidamente decorado com um escudo do Botafogo, sua paixão…
Vivemos tempos de intolerância, agora e é direito do povo brasileiro saber que sentimentos se está provocando em alguns grupos que perderam completamente a capacidade de olharem para si mesmos e se considerarem seres humanos especiais, enquanto o resto do país é desprezível.
Nem eles sabem, mas é um transtorno mental assim que serve de incubadora do ovo da serpente do totalitarismo.
Infelizmente, a direita brasileira deu ao nosso país milhares e milhares de pessoas assim, incapazes de ver nos pobres não as vítimas de um modelo econômico, mas os culpados por se pretenderem tão seres humanos e tão cidadãos quanto eles.
Imaginem se os mais pobres os odiassem assim como eles odeiam?
É verdade que estes núcleos sempre existiram, mas se multiplicaram e desde junho passado, foram legitimados para xingar, agredir e serem intolerantes.
Isso faz mal ao convívio humano e a única forma de reduzi-los aos grupinhos que sempre foram é não lhes responder com mais ódio.
O ódio é tratar o diferente como inimigo e acabar com a capacidade de convívio.
Peço, portanto, que leiam sem ódio a reportagem de Lucas Vetorazzo, na Folha.
Sem ódio e com a piedade que merecem seres humanos transtornados.
É isso o que precisamos desafazer, embora não reste muita esperança de que gente que chegou a este ponto venha a retomar a razão com rapidez.
As calçadas e os bares do Leblon já foram frequentados por gente, como o Tom Jobim, que amava a paz, o mundo, as pessoas.
Terão virado terra de selvagens?
No Leblon, eleitores de Aécio falam em deixar o país
Lucas Vetorazzo, da Folha
Faltavam oito minutos para as 20h, hora em que se acreditava que o nome do novo presidente da República seria conhecido, e uma chuva fina caía no Leblon, o bairro com o metro quadrado mais caro do Rio.
Nada que esmorecesse o ânimo dos eleitores de Aécio Neves (PSDB) que assistiam à apuração no Botequim Informal, na rua Conde de Bernadote, tradicional ponto de encontro da classe média alta carioca.
“P… que pariu, o Aécio é presidente do Brasil”, passou cantando um eleitor, causando frisson no bar. As pessoas se abraçavam e comemoravam meio incrédulas. Rapidamente se soube que não passava de farra, pois o resultado ainda tardaria para ser divulgado.
O artista plástico Zeca Albuquerque, 48, morador do bairro nobre da zona sul do Rio, disparou que “se a Dilma ganhar, eu vou deixar o país. Vou morar em Miami”, enquanto comia um pastel de carne e bebia um chope tirado na hora.
O motivo se sua possível mudança para os EUA seria para fugir “dos vinte anos de ditadura do PT”, colocando na conta mais quatro anos, além dos 16 que o partido completará ao final do mandato de Dilma Rousseff, que mais tarde seria confirmada para o comando do Planalto pela segunda vez.
Questionado se mesmo com eleições regulares ele mantinha a crença de que viva em uma ditadura, ele afirmou que o aparelhamento da máquina pública perpetuava uma lógica ditatorial no país.
“É o aparelhamento do estado. Sai um, entra outro. Não há liberdade de expressão nesse país”, respondeu. O fato de criticar a presidente em público não é prova da liberdade de expressão?
“Eu só estou falando isso porque ela não está aqui atrás de mim, senão ela me dava um tapa, essa horrorosa. Minha vontade é raspar o cabelo dela”, disse.
A TV sintonizada na Globonews estava no mudo. Àquela altura, as 20h já tinham chegado e o resultado ainda não estava fechado. Dilmavencia por pouco. Os ânimos se acirravam no bar majoritariamente aecista.
Tão exaltada quanto estava Ana Silvia Castignani Alves da Silva, 37. Ela era uma das que dizia em voz alta que deixaria o país para morar na Itália, já que ela e seu filho pequeno têm dupla cidadania. Moradora do Leblon e formada em turismo, a gerente de vendas disse que o principal motivo para deixar o país é o alto custo de vida da classe média alta brasileira. Ela se disse uma “sobrevivente” desse cenário, que seria, em sua opinião, culpa do PT.
“Eu tenho a graça de ter dupla cidadania. Porque lá na Europa o meu filho tem educação e saúde grátis e de qualidade. Para que eu pago R$ 2 mil de colégio? Para essa mulher ganhar?”, disse ela, que continuou elencando suas “dificuldades”, pedindo desculpa de quando em quando pelos palavrões e pela “sinceridade”.
Entre as dificuldades, destacou a necessidade de morar de aluguel no Leblon “porque trabalha em um hotel no bairro e o custo de transporte ficaria muito alto se morasse em outro lugar” e porque tem a necessidade de pagar uma empregada para cuidar do seu filho enquanto ela trabalha doze horas por dia– “no Brasil a gente é obrigado e ter empregada doméstica para criar os nossos filhos enquanto a gente trabalha”.
“Na época dos meus pais, a classe média tinha o melhor apartamento, o melhor carro. Hoje eu sobrevivo. Eu vou sair do país por isso. A minha vida é essa, eu não vivo”, lamentava com um copo de chope pela metade.
Assim como ela, Alexandre Pereira Lukine, 40, gerente de tecnologia da informação da Tata Consultance Service, multinacional indiana instalada no Brasil, dizia que acreditava que a saída para classe média alta à eleição de Dilma seria o Galeão, o aeroporto internacional do Rio. Ele, que afirmou ser formado na Seattle Pacific University, nos EUA, disse que já nesta segunda começará a mandar currículo para fora do país.
Para ele, o governo do PT estimula que as pessoas tenham baixa formação, e os mais escolarizados pagam impostos para sustentar “os vagabundos em idade laboral que recebem bolsa isso e bolsa aquilo”, o que ele classificou não como um programa social, mas como “propina eleitoral”.
“As cabeças pensantes estão indo embora. Se eu ficar aqui eu vou virar o que? Vou ser guardador de carro? Quanto mais eu estudo, menos eu ganho. Pode escrever isso aí”, bradou.
A socióloga e historiadora Silvia Pantoja, 65, assistia à apuração com um grupo de amigos e dizia estar revoltada. Disse que deixaria o país, sem saber ainda pra onde iria. Ela, que disse ter militado no movimento estudantil durante o governo militar, comparou os 16 anos do PT com os 21 anos de ditadura militar.
Ela criticou a luta armada que Dilma empreendeu junto com outros militantes durante a ditadura, mas deixou escapar uma fantasia oculta de, por suas próprias mãos, mudar a situação atual do país.
“Se não fosse pela minha filha, eu dava uma de kamikaze e metralhava ela [Dilma]. Isso aqui é uma ditadura, eu não tenho mais o menor respeito por ela, que matou várias pessoas na luta armada fazendo terrorismo. Tinha que acabar a reeleição no Brasil”, disse.
A empresária Antonia la Porta, 32, estava “indignada”. Queria beber “muita cerveja” para afogar as mágoas. Ela estava na Europa e adiantou a passagem de avião só para votar em Aécio Neves. Agora, é “impeachment na certa”.
Sua amiga, a advogada Roberta Passomides, 32, acha que Dilma Rousseff ilude “os mais ignorantes” com o tanto de “bolsa” que anda distribuindo por aí. Se conhece alguém que votou na petista, “é porteiro, é garçom”. “Eles não sabem o que é Pasadena. O que interesse é ganhar o Bolsa Família”, diz, em referência a um dos escândalos na Petrobras.
Com a vitória de Dilma, o dólar vai subir 20%, lamenta Antonia, que diz ter conversado com economistas.
No mesmo bar do Leblon, o também empresário Alexandre Medrado, 26, acha que “não existem cervejas suficientes no mundo” para curar sua fossa eleitoral. Filiado ao PSDB, ele diz que o PT fez “terrorismo eleitoral” e criou “uma luta de classes desnecessária”.
Com uma longneck na mão, Alexandre também rejeita a “diplomacia esquerdista” do governo Dilma.
A gestora de RH Fernanda Fernandes, 31, é “totalmente contra o PT”, partido impregnado de “espírito de pobre”.
Com um adesivo de Aécio no peito, ela opinou: o PT ” pensa pequeno” e está “se ferrando para a classe média”. Em vez de valoriza-la, diz, prefere “dar condição para uma classe” que não alcançará o mesmo patamar.