pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tijolinho do Jolugue: Uma relação perigosa entre o Governo do Estado e o TCE




Já comentamos sobre isso aqui antes, mas torna-se inevitável voltarmos ao assunto. A relação entre os neo-socialistas locais e o Tribunal de Contas do Estado é algo que me incomoda e possivelmente deve incomodar a muita gente. Em artigo analisando o Governo do Estado, o professor Michel Zaidan, com muita propriedade, informa que esse fato caracteriza o próprio perfil da gestão pública pernambucana nos governos neo-socialistas. É, antes de tudo, uma prática de corte nada republicano. Vários técnicos daquele órgão integram a gestão estadual, assim como a gestão da capital, a começar pelo próprio Geraldo Júlio, que chegou a cometer aquela lambança de acumular os dois salários, a partir de um precedente na legislação municipal. Podia ser até legal, mas saltava aos olhos a imoralidade. Tanto é assim que ele acabou por renunciar aos seus proventos de técnico daquele órgão. Não faz muito tempo, as contas da Secretaria Municipal de Educação do Recife foram rejeitadas por aquele e órgão. Como era previsível, isso causou um enorme transtorno junto ao alunado, com a impossibilidade de recebimento, inclusive, do fardamento. Logo em seguida, um técnico do TCE passou a gerir aquela secretaria. Curioso, não? Ninguém, em sua sã consciência, poderia imaginar que a gestão do senhor Paulo Câmara - que se inicia no próximo ano - pudesse trazer alguma novidade em relação aos governos anteriores, do seu padrinho político. Longe disso. Por outro lado, essa relação entre o Governo do Estado e o TCE não nos parece algo, digamos assim, suficientemente transparente. O danado é que, quando postamos algo a esse respeito, alguém se antecipou em informar que a "recíproca é verdadeira", ou seja, há alguns nomes do staff neo-socialista estadual naquele órgão de fiscalização das contas públicas e não são aqueles nomes já conhecidos, figuras de proa do neo-socialismo tupiniquim. Pois bem. Não se poderia esperar de Paulo Câmara, ele mesmo um técnico do TCE, produzisse mudanças significativas na condução do Governo Estadual. Não foi eleito para isso. É o homem da continuidade. Mas seria bastante razoável que ele ponderasse sobre possíveis equívocos na condução da máquina pública estadual, minimizando as fontes de arestas e desgastes com a população. Poderia ser uma marca pessoal de sua gestão, já que ele se encontra engessado por alguns constrangimentos. Hoje, ao ler os jornais locais, para nosso espanto, somos informados de que o futuro governador seguirá os mesmos critérios na escolha do seu secretariado, inclusive, ampliando essa parceria com servidores daquele órgão. Governador, isso não fica bem.

domingo, 14 de dezembro de 2014

No Maranhão, Flávio Dino terá rádio pública e internet para enfrentar reação dos Sarney à perda de provilégios

publicado em 12 de dezembro de 2014 às 23:15

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por Luiz Carlos Azenha
Em primeiro de janeiro um jovem de apenas 46 anos de idade, ex-juiz federal, ex-deputado e ex-presidente da Embratur, assume o governo do Maranhão com o compromisso de proclamar a República no Estado.
Trata-se de Flávio Dino, o primeiro governador eleito na história do Partido Comunista do Brasil.
As expectativas em torno de seu governo são imensas: depois de quase 50 anos de controle do Maranhão pela oligarquia do senador José Sarney — com breves interrupções aqui e ali –, metade da população maranhense não dispõe de saneamento básico. É um dado que diz tudo.
Mas há outros: embora esteja em décimo sexto lugar em Produto Interno Bruto, o Maranhão tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da federação, o que reflete uma desigualdade ainda maior que a do restante do país.
Flávio Dino defende o diálogo com todas as forças políticas a partir de convicções claras.
Diz que não vai fazer um governo de revanchismo contra os Sarney e seus associados.
Porém, sabe que ao implantar a impessoalidade nos negócios do Estado vai acabar atacando os privilégios da oligarquia, que se projetou nacionalmente justamente para preservar o completo domínio sobre os negócios locais.
Um domínio expresso muito além das rodovias, escolas, ruas, cidades, prédios públicos e monumentos que levam “Sarney” no nome. Um domínio que só se tornou possível graças a ferramentas como uma poderosa rede de comunicação que inclui a retransmissora da TV Globo e suas afiliadas, o maior jornal de São Luís, portal na internet e dezenas de emissoras de rádio.
Durante a campanha, esta rede foi usada descaradamente. A TV Difusora de Imperatriz, afiliada do SBT que pertence à família Lobão, subalterna dos Sarney na oligarquia, chegou a produzir uma série de cinco reportagens sobre o comunismo para sugerir aos telespectadores, em um importante colégio eleitoral do Estado, que Flávio Dino comeria criancinhas no café da manhã — conforme denunciou Renata Mielli em O Escandaloso antijornalismo dos Sarney.
Na entrevista dos candidatos ao governo na TV Mirante, retransmissora da Globo controlada pelos Sarney, quando foi a vez de Dino o apresentador parecia crente de que o candidato implantaria o comunismo expropriando as igrejas católicas.
A ironia é que, eleito em primeiro turno com mais de 63% dos votos, Flávio Dino diz que seu republicanismo será equivalente a uma “revolução burguesa”, a um “choque de capitalismo” no Maranhão.
Na entrevista exclusiva que concedeu ao Viomundo, na sede do PCdoB no centro de São Paulo, o governador eleito explicou como vai enfrentar o PIG local — PIG, Partido da Imprensa Golpista, na feliz definição do deputado Fernando Ferro para a mídia que se acredita dona de mandato divino para governar.
Também explicou o motivo pelo qual não buscará diálogo com os Sarney.
Veja abaixo os dois trechos iniciais de nossa entrevista. No pé do post, reprodução completa da conversa. No áudio, Dino começa avaliando a decisão da governadora Roseana Sarney de renunciar nos últimos dias do mandato, deixando assim de participar da transmissão do cargo ao comunista.

(Publicado originalmente no site Viomundo)


[A produção de conteúdo exclusivo como este é bancada pelos assinantes do Viomundo. Torne-se um deles]

Leia também:

Tijolinho do Jolugue: Maranhão: o comunista entrou no "jogo"?





A renúncia da governadora do Estado do Maranhão, Roseana Sarney, foi marcada por alguns simbolismos e muitas espertezas, além de um contingenciamento político que, hoje, nos parece ser sintomático da fragilidade de nosso sistema político/partidário. Precisou-se de muita diplomacia para viabilizar um jantar que o futuro governador, Arnaldo Melo, ofereceu a 300 convidados, na sede do Governo do Estado, O Palácio dos Leões. A transição não está sendo muito bem-conduzida. Flávio se queixa da ausência de informações, dos graves problemas com as finanças do Estado e, naturalmente, da incapacidade de o Governo de Roseana entender a natureza republicana da passagem de cargo. 

Com a manobra, o grupo já começa a criar os primeiros embaraços para o futuro governo. Como o vice de Roseana, Washington Luiz, também renunciou para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas do Estado, quem assume o cargo é o presidente da Assembléia Legislativa, Arnaldo Melo(PMDB). Naquele Estado, como de resto por todo o país, reproduz-se aquela máxima de Sérgio Buarque de Holanda sobre as nossas elites. Eles consideram a esfera pública apenas como uma extensão do seu quintal. A Constituição do Estado, feita sob medida para atender aos interesses do clã, prevê pensão vitalícia de ex-governador para quem assumir o cargo. Fica sub judice, portanto, os argumentos de que a senhora Roseana não desejava passar a faixa apenas por uma questão de birra ou até mesmo que a motivação para a renúncia tem algo a ver com a sua saúde fragilizada.

Talvez em nenhum outro Estado da federação se possa afirmar com tanta convicção que os problemas sociais estão diretamente relacionados ao obscurantismo político do grupo Sarney. O Maranhão é uma terra governada com mão de ferro, apenas para atender aos interesses do clã e dos seus asseclas. Mas, o mais engraçado ainda estava por vir. No seu discurso de despedida - com muito chororô dos apaniguados - Roseana comparou-se a um sol que se põe para o surgimento das trevas trazidas pela noite, numa analogia direta ao Governo do futuro sucessor, Flávio Dino.

Outro gravíssimo problema é o "fenômeno do PRI", que tende a se reproduzir naquele Estado, quiçá pela ausência de quadros que conheçam o azeite da máquina e pelos tentáculos construídos pelo clã nessas cinco décadas de hegemonia do controle político do Estado. Explico. O Partido Revolucionário Institucionalista passou 70 anos de poder no México. Quando, finalmente, foi desbancado, pelo PAN, do então ex-executivo da Coca-Cola, Vicente Fox, ao anunciar o seu "futuro" Governo, uma surpresa: tinha mais gente do "PRI" do que do PAN, o partido de Fox. 

A julgar pelos primeiros nomes cotados para assumir o secretariado do comunista Flávio Dino, o fenômeno tende a se reproduzir naquele Estado da Federação. Muitos desses nomes, conforme um amigo, dormiam com os Sarney ou participavam da cerimônia de beija mão do grupo. Esse fato vem começando a alimentar a descrença da população sobre o futuro governo.  

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Tijolinho do Jolugue: A SUDENE agora é em Cabo Branco, João Pessoa, PB.

O editor do blog recebeu um convite para participar da cerimônia de abertura do Centro de Convenções da Paraíba. Reeditando os antigos grandes encontros dos Governadores da Região Nordeste – que a antiga SUDENE realizava com regularidade – o Governo da Paraíba deu o pontapé inicial nas atividades daquele centro, um dos orgulhos da administração de Ricardo Coutinho. O Centro de Convenções da Paraíba foi projetado pela arquiteta mineira, Isabel Caminha - após vencer licitação pública - fica localizado no bairro de Cabo Branco, nos arredores da capital João Pessoa, um pouco depois do Planetário, um colosso que ainda marca as últimas digitais do arquiteto Oscar Niemeyer. Fica no meio de uma reserva florestal preservada. Mata densa, exuberante, com inúmeras nascentes, cortada pelo rodovia PB-008, que nos conduz ao litoral sul do Estado, onde estão suas mais belas praias. De fato, um equipamento que contribuirá bastante para alavancar o turismo no Estado, dotando-o de uma infraestrutura semelhante aos Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte. O auditório tem capacidade para receber 2.500 pessoas. Em quase tudo o evento se assemelha aos famosos encontros de governadores do Nordeste. Talvez pudéssemos notar ali a ausência do governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho(PP), sempre convidado para os encontros da SUDENE nessas ocasiões, sobretudo em razão do "Nordeste Mineiro", uma microrregião que a SUDENE considerava que guardava algumas semelhanças com a região Nordeste, sobretudo por integrar o polígono da seca. Outro fato digno de registro foi a ausência de grandes lideranças políticas, com a envergadura e o carisma de um Dr. Miguel Arraes. O novo governador do Estado fica bem aquém dessa estatura. Como sempre acontece nessas reuniões, os interesses das políticas regionais estiveram na pauta, discutindo-se como os governadores da região iriam se portar diante da conjuntura política/econômica do país. Valeu, "Mago".

Tijolinho do Jolugue: O adeus ao ex-prefeito de Joâo Pessoa, Luciano Agra.


Ontem, dia 10, vítima de complicações provocadas por um AVC hemorrágico, faleceu num hospital privado da capital, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra. Agra estava internado desde o dia 04, com um estado de saúde que oscilava, mas não indicava melhoras significativas. Natural de Campina Grande, Agra era formado em arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco e tinha mestrado em Engenharia Urbana, pela UFPB. Como vice de Ricardo Coutinho, assumiu a Prefeitura de João Pessoa quando este saiu para disputar o Governo do Estado. Passou um pouco mais de dois anos como prefeito, mas deixou um legado de realizações que jamais serão esquecidas pelos pessoenses. Técnico por natureza, político por força das circunstâncias, Agra foi mais um daqueles nomes do Coletivo Ricardo Coutinho que ficaram pelo caminho. Em 2012 tentou a vaga de candidato a prefeito da capital pela legenda do PSB. Mesmo com um currículo invejável de gestor público, foi preterido em nome de Estelizabel Bezerra, esta, então, creio, mais confiável aos planos de Ricardo Coutinho. Agra nunca mais se refez da manobra, embora tenha dado o troco ao "Mago", aliando-se a Luciano Cartaxo(PT), que venceu aquelas eleições. Há quem diga, não sei se com algum exagero, que João Pessoa perdeu seu melhor prefeito de todos os tempos.Colegas nossas costumam fazer essa afirmação, elencando o conjunto de grandes obras que ele deixou na cidade. A essas horas, Agra já deve estar lá por cima, degustando uma cioba fresca, pescada na praia de Tambaú, com alguns pescadores que também já desencarnaram. Quando estou lá por aquelas bandas, nunca deixo de visitar aquela peixaria. Quando Agra assumiu, existia uma grande polêmica sobre esse comércio de peixes mantidos pela colônia de pescadores daquela praia. Como representante do poder público, Agra emprestou total apoio e solidariedade à colônia de pescadores. Eles são eternamente gratos ao ex-prefeito.

Tijolinho do Jolugue: Dilma chora ao ler relatório final da Comissão da Verdade.

Ontem a presidente Dilma Rousseff recebeu o relatório final da Comissão da Verdade. Como ex-guerrilheira, em sua fala, emocionou-se bastante. Já afirmei e volto a afirmar que, num país da cultura da conciliação, onde tudo se resolve com uns tapinhas nas costa, torna-se muito difícil o enfrentamento das atrocidades cometidas durante o regime militar. Países que passaram pelo mesmo drama da ditaduras militares conseguiram avanços bem mais significativos no sentido de responsabilização e punição aos envolvidos com tortura, mortes e desaparecimentos de militantes. Aqui a coisa não anda. Documentos são "desaparecidos", militares são proibidos de dar declarações pelos seus superiores, manifestos com esperneios começam a circular pelos quartéis, os chefes civis do Ministério da Defesa endossam as posições dos militares. São evidências, como dizem os cientistas políticos, de uma democracia tutelada ou semidemocracia. Nesse contexto, torna-se muito difícil que trabalhos como o realizado pela Comissão da Verdade possam resultar, efetivamente, volto a repetir, na punição de militares envolvidos com atrocidades cometidas durante o regime militar. Em todo caso, para os otimistas, algumas notícias são alvissareiras. Dos 377 nomes de responsáveis por graves violações dos direitos humanos, apontados pelo relatório, 23 deles já são réus em processos. Outro fato importante é o entendimento de que os crimes da Ditadura, pelo contexto e pela prática sistemática, são imprescritíveis, portanto, fora do escopo da Lei da Anistia. Esse aspecto vem produzindo um grande debates entre os juristas. Salvo algum engano, o jurista pernambucano Paulo Cavalcanti, homem forte do Ministério da Justiça quando Fernando Lyra era titular daquela pasta, manifestou uma posição reticente em relação ao caso, dando a entender que os militares não seriam alcançados, segundo entendimento do próprio STF. Vamos ver. Na semana passada, em decisão inédita, a Justiça Federal de São Paulo reverteu uma decisão de primeira instância contra o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, por ocultação de cadáver de um militante morto por tortura.

A charge é de Renato Aroeira, publicada no Jornal O Dia. 


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Fronteira do Pensamento: Entrevista com Zygmunt Bauman.


“Hoje, os jovens que não perderam a ambição com as amargas experiências de trabalho sonham em ir para o Vale do Silício. É a meca das ambições de todo jovem, a ponta da lança da inovação, do progresso. Sabe qual é a média de um trabalhador em uma empresa do Vale do Silício? Oito meses.” - Zygmunt Bauman











O sociólogo polônes Zygmunt Bauman, em entrevista à MGMagazine, fala, aos 89 anos, sobre o mundo atual e como entende os efeitos da modernidade sobre as pessoas. “As consequências são a austeridade, o aumento do desemprego e, sobretudo, a devastação emocional e mental de muitos jovens que entram agora no mercado de trabalho e sentem que não são bem-vindos, que não podem adicionar nada ao bem-estar da sociedade, porque são uma carga”, diz.
Veja também:
- Entrevista, em vídeo, concedida a Fernando Schüler e Mário Mazzilli na Inglaterra: Diálogos com Zygmunt Bauman
Entrevista com Zygmunt Bauman: "É muito difícil encontrar uma pessoa feliz entre os ricos"
Entrevista Zygmunt Bauman: vivemos o fim do futuro
MGMagazine: O senhor imaginou que poderia se tornar uma estrela midiática em nível global?
Zygmunt Bauman:
 Certamente não. Mas não sou uma estrela. Quando eu morrer, o que provavelmente acontecerá logo, com certeza morrerei como uma pessoa insatisfeita, que não alcançou seu objetivo.
MGMagazine: Por quê?
Zygmunt Bauman: Porque tratei de transmitir certas ideias durante toda a minha vida, que tem sido muito longa. E quando olho pra trás, existe toda uma montanha cinza de esperanças e expectativas que morreram ao nascer ou faleceram muito jovens. Não tenho nada para me gabar. Tento juntar palavras para dizer às pessoas quais são os problemas, de onde eles vêm, onde se escondem, como encontrar ajuda para resolvê-los se for possível. Mas são palavras. E não nego que são poderosas, porque a nossa realidade, o que nós pensamos que é o mundo, esta sala, nossa vida, nossas lembranças, são palavras. Mas, apesar de ter vivido tantos anos, não consegui resolver o problema de transformar as palavras em carne. Hoje, existe uma enorme quantidade de pessoas que querem a transformação, que têm ideias de como tornar o mundo melhor não somente para eles, mas também para os outros, mais hospitaleiro. Mas na sociedade contemporânea, na qual somos mais livres do que nunca, ao mesmo tempo somos também mais impotentes do que em qualquer outro momento da história. Todos sentimos a desagradável experiência de ser incapazes de mudar qualquer coisa. Somos um conjunto de indivíduos com boas intenções, mas entre as intenções e os projetos e a realidade tem muita distância. Todos sofremos agora mais do que em qualquer outro momento pela falta total de agentes, de instituições coletivas capazes de atuar efetivamente.
MGMagazine: O que mudou?
Zygmunt Bauman: Quando eu era jovem, todos os meus contemporâneos, de esquerda, direita ou centro, coincidiam em um ponto: se chegamos ao governo ou fazemos uma revolução, sabemos o que fazer e como fazer através do poder do Estado. Agora, ninguém acredita que o governo pode fazer algo. Os governos são vistos como instituições que nunca cumprem suas promessas. É um grave problema. Porque significa que, embora saibamos como criar uma sociedade mais humana – e no momento abandonamos a esperança de poder projetá-la–, a grande pergunta, para a qual não tenho resposta, é quem vai transformá-la em realidade.
MGMagazine: Viver em um mundo líquido, o que isso significa exatamente?
Zygmunt Bauman: Modernidade significa modernização obsessiva, viciante, compulsiva. Modernização significa não aceitar as coisas como elas são, e sim transformá-las em algo que consideramos que é melhor. Modernizamos tudo. Você pega as suas regulações, seus objetos, e trata de modernizá-los. Não duram muito tempo. Isso é o mundo líquido. Nada tem uma forma definida que dure muito tempo. Deve-se dizer que fundir o que é sólido, transformá-lo em líquido e moldá-lo de novo era uma preocupação da modernidade desde o princípio, mas o objetivo era outro. Arbitrariamente, mas acredito que de forma útil, situo o início da modernidade no ano de 1.775 no terremoto de Lisboa, seguido de um incêndio que destruiu o que restava e em seguida umtsunami que levou consigo tudo para o mar.
MGMagazine: Por que nesse terremoto?
Zygmunt Bauman: Foi uma catástrofe, não só material, mas também intelectual. As pessoas pensavam, até então, que Deus tinha criado tudo, que tinha criado a natureza e disposto leis. Mas, de repente, veem que a natureza é cega, indiferente, hostil com os humanos. Não se pode confiar nela. O mundo tem que estar sob direção humana. Substituir o que existe pelo que se pode projetar. Assim, Rousseau, Voltaire ou Holbach viram que o antigo regime não funcionava e decidiram que tinham de fundi-lo e refazê-lo de novo no molde da racionalidade. A diferença em relação ao mundo de hoje é que não o faziam porque não gostavam do que era sólido, e sim, pelo contrário, porque acreditavam que o regime que existia não era suficientemente sólido. Queriam construir algo resistente para sempre que substituísse o oxidado. Era a época da modernidade sólida. A época das grandes fábricas empregando milhares de trabalhadores em enormes edifícios de tijolos, fortalezas que iam durar tanto quanto as catedrais góticas. No entanto, a história decidiu um caminho muito diferente.
MGMagazine: Tornou-se líquida?
Zygmunt Bauman: Sim. Hoje a maior preocupação da nossa vida social e individual é como prevenir que as coisas sejam fixas, que sejam tão sólidas que não possam mudar o futuro. Não acreditamos que existam soluções definitivas, e não é só isso: não gostamos delas. Por exemplo: a crise que muitos homens têm ao fazer 40 anos. Ficam paralisados pelo medo de que as coisas já não sejam como antes. E o que mais lhes dá medo é ter uma identidade aferrada a eles. Uma imagem que não se pode tirar. Estamos acostumados com um tempo veloz, certos de que as coisas não vão durar muito, de que vão aparecer novas oportunidades que vão desvalorizar as existentes. E isso acontece em todos os aspectos da vida. Há duas semanas, as pessoas faziam filas durante a noite pelo iPhone 5 e agora mesmo estão fazendo pelo 6. Posso garantir que em dois anos aparecerá o 7 e milhões de iPhones 6 serão jogados no lixo. E isso dos objetos materiais funciona da mesma forma com as relações pessoais e com a própria relação que temos conosco mesmos, como nos avaliamos, que imagem temos de nossa pessoa, que ambição permitimos que nos guie. Tudo muda de um momento a outro, somos conscientes de que somos transformáveis e, portanto, temos medo de fixar qualquer coisa para sempre. Provavelmente, seu governo, como o do Reino Unido, convoca seus cidadãos a serem flexíveis.
MGMagazine: Sim, convoca.
Zygmunt Bauman: O que significa ser flexível? Significa que você não está comprometido com nada para sempre, mas sim pronto para mudar a sintonia, a mente, em qualquer momento no qual seja requisitado. Isso cria uma situação líquida. Como um líquido em um copo, no qual o mais leve empurrão muda a forma da água. E isso está em todos os lugares.
MGMagazine: Quais o senhor acredita que são os efeitos desta nova situação nas pessoas?
Zygmunt Bauman: Há alguns anos, os jovens iam trabalhar para a Ford ou a Fiat como aprendizes e podiam acabar ficando ali pelos próximos 40 anos se não se embebedavam ou morriam antes. Hoje, os jovens que não perderam a ambição depois de ter amargas experiências de trabalho sonham em ir ao Vale do Silício. É a meca das ambições de todo homem jovem, a ponta da lança da inovação, do progresso. Você sabe qual é a média de um trabalhador de uma empresa do Vale do Silício? Oito meses. O sociólogo Richard Sennet calculou, há uns anos, que o trabalhador médio mudaria de empresa onze vezes durante a sua vida. Hoje, essa quantidade é inclusive maior. As gerações que emergem das universidades em grandes quantidades estão ainda buscando emprego. E se encontram, não tem nada a ver com suas habilidades e expectativas. Estão empregados em trabalhos precários, temporários, sem segurança, sem carreira. Então, a principal maneira pela qual nos conectamos com o mundo, que é a nossa profissão, nosso trabalho, é fluida, líquida. Estamos conectados apenas pela água. E não se pode estar conectado por isso, ocorrem inundações, fugas...
MGMagazine: Por isso você diz que passamos do proletariado ao precariado?
Zygmunt Bauman: Há não muito tempo o precariado era a condição de vagabundos, sem-teto, mendigos. Agora, marca a natureza da vida de pessoas que há 50 anos estavam bem instaladas. Pessoas de classe média. Com exceção do 1% que está acima de tudo, ninguém pode se sentir seguro hoje. Todos podem perder as conquistas alcançadas durante sua vida sem aviso prévio. Não faz tantos anos, seis, o crédito e os bancos entraram em colapso e as pessoas começaram a ser despejadas de suas casas e seus trabalhos. Antes disso, os otimistas falavam de orgia de consumo, as pessoas pensavam que podiam gastar dinheiro que não tinham porque as coisas seriam cada vez melhores, assim como seus rendimentos, mas tudo isso desabou. As consequências são hoje os cortes, a austeridade, o alto nível de desemprego e, sobretudo, a devastação emocional e mental de muitos jovens que entram agora no mercado de trabalho e sentem que não são bem-vindos, que não podem acrescentar nada ao bem-estar da sociedade, que são um peso.
MGMagazine: Aumenta o que o senhor chama de vidas desperdiçadas.
Zygmunt Bauman: Cada vez há mais. Mas é que, além disso, as pessoas que têm emprego experimentam a forte sensação de que existem altas possibilidades de que também virem resíduos. E, mesmo conhecendo a ameaça, são incapazes de preveni-la. É uma combinação de ignorância e impotência. Não sabem o que vai acontecer, mas nem mesmo sabendo seriam capazes de preveni-lo. Ser o resto, um resíduo, é uma condição ainda de uma minoria. No entanto, impacta não somente os empobrecidos, mas também setores cada vez maiores das classes médias, que são a base de nossas sociedades democráticas modernas. Estão atribuladas.
MGMagazine: As classes médias vão desaparecer?
Zygmunt Bauman: Estamos em um interregno. A palavra foi usada pela primeira vez na história da Roma Antiga. O primeiro rei lendário foi Rômulo, que reinou por 38 anos. Essa era a expectativa de vida das pessoas, então, quando ele morreu, pouca gente lembrava do mundo sem ele. As pessoas estavam confusas. O que fazer? Rômulo lhes dizia o que fazer. E se houvesse outro, ninguém sabia o que ele lhes pediria. Gramsci atualizou a ideia de interregno para definir uma situação na qual as antigas formas de fazer as coisas já não funcionam, mas as formas de resolver os problemas de uma nova maneira efetiva ainda não existem ou não as conhecemos. E nós estamos assim. Os governos vivem presos entre duas pressões impossíveis de reconciliar: a do eleitorado e a dos mercados. Eles têm medo de que, se não agem como as bolsas e o capital móvel querem, as bolsas quebrarão e o dinheiro irá a outro país. Não se trata apenas de que possa haver corrupção e estupidez entre os nossos políticos, mas sim que essas situações os deixam impotentes. E, por isso, as pessoas buscam desesperadamente novas formas de fazer política.
MGMagazine: Como os indignados?
Zygmunt Bauman: É um bom exemplo. Se o governo não cumpre, vamos à praça pública. Mas é uma boa tentativa que não traz muito resultado. Estamos tentando. Tentando criar alternativas praticáveis para atender às necessidades coletivas. O interregno por definição é transitório. Eu acredito que não viverei para ver o novo arranjo, mas sua vida estará repleta de buscas por essas alternativas. Porque este período de suspensão, no qual muitas coisas vão mal e temos poucas ideias para resolvê-las, não é eternamente concebível.
MGMagazine: Será que já não estamos líquidos demais?
Zygmunt Bauman: As mudanças vêm e vão. Muita gente está hoje convencida de que já existem alternativas, mas que são invisíveis porque ainda estão muito dispersas. Jeremy Rifkin fala da utilidade pública colaborativa. Benjamin Barber publicou o livro Se os prefeitos governassem o mundo, no qual diz que os estados estão acabados, que foram uma boa ferramenta para a separação, a independência e a autonomia, mas que em nossos tempos de interdependência devem ser substituídos. Que as instituições locais são capazes de enfrentar os problemas muito melhor, têm a dimensão adequada para ver e experimentar sua coletividade como uma totalidade. Podem levar adiante lutas muito mais efetivas para melhorar as escolas, a saúde, o emprego, a paisagem. Pede um tipo de Parlamento mundial de prefeitos das grandes cidades. Um Parlamento onde as pessoas falem e compartilhem experiências que são altamente parecidas. E as mudanças podem já estar aqui. Minha tese, quando eu estudava, foi sobre os movimentos operários na Grã Bretanha. Pesquisei nos arquivos do século XIX e nos jornais. Para minha surpresa, descobri que até 1875 não se mencionava que estava acontecendo uma revolução industrial, havia apenas informações dispersas. Que alguém tinha construído uma fábrica, que o teto de uma fábrica desabou... Para nós, é óbvio que estavam no coração de uma revolução, para eles, não. É possível que, quando você for entrevistar alguém dentro de 20 anos, essa pessoa lhe diga: “Quando você entrevistou o Bauman em Leeds, vocês estavam no meio de uma revolução e o senhor perguntava a ele sobre mudanças”.

Tijolinho do Jolugue: Garotinho para uma das diretorias do Banco do Brasil.


Política tem algumas coisas engraçadas, para não dizer trágicas. Com um feeling político bastante apurado, Miguel Arraes sempre estabeleceu alianças com segmentos políticos conservadores da política pernambucana. Presidiu o IAA e, já em 47 foi eleito deputado pelo antigo PSD, um partido não necessariamente do campo progressista. Por outro lado, sempre manteve suas convicções em torno dos valores da democracia, abraçou a defesa dos interesses nacionais e mantinha uma sensibilidade social como poucos políticos de sua geração. Quando foi deposto em 64, tinha como vice o político Paulo Guerra, oriundo da aristocracia açucareira do Estado. Portanto, um nome confiável aos militares. Tanto é assim que, enquanto o titular foi deposto e preso, Paulo foi mantido no cargo, salvo melhor juízo, sem muitas delongas. Como afirmamos outro dia, essas raposas sempre nos deixam algumas lições de política... para o bem ou para o mal. É atribuída a ele uma expressão conhecida da política, sempre lembrada nesses momentos bicudos: Em política não existem nunca nem jamais. Nas coxias, percebe-se o esforço que a presidente Dilma vem fazendo em Brasília para garantir essa tal governabilidade e a saúde de nossas instituições democráticas. O assédio dos Carlos Lacerda é grande. Há uma tecitura malévola contra o PT em andamento. Dilma, se atingida, será por tabela. Vem mantendo os conspiradores sob vigilância cerrada, mantendo os por perto. Para alguns, perto demais: na Esplanada dos Ministérios. Levy, Kátia Abreu e hoje surgiu a especulação em torno do nome do ex-governador Anthony Garotinho para ocupar uma vice-diretoria do Banco do Brasil. No Maranhão, quem esperava uma ampla renovação dos quadros da administração pública com a ascensão de um comunista ao poder, pode acautelar-se. Dos nomes cotados até o momento, boa parte participava da cerimônia de beija-mão dos Sarney. Mas, como diria o velho Dr. Arraes, vamos aguardar o jornal que, de fato, conta: O Diário Oficial.

A charge é do genial Renato Aroeira. 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Tijolinho do Jolugue: Contas de campanha. A direita trama o impeachment de Dilma?





Gostaria muito de entender porque este assunto não está tendo a repercussão que se esperava. Não sei se as pessoas consideram que se trata de uma fantasia, sem muita chance de materializar-se, ou se há outras razões para a negligência com o tema. O jornalista que levantou essa questão goza de muita credibilidade. Trata-se do blogueiro Luis Nassif. Neste caso em particular, no entanto, ele vem sendo apontado como um mero ficcionista. O assunto é a urdidura em torno de um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff. Dilma seria atingida por tabela. O alvo mesmo seria o PT. Tudo teria sido articulado com o objetivo de que fosse Gilmar Mendes o homem que avaliaria as contas de campanha de Dilma Rousseff. Sabe-se que Gilmar tem algumas indisposições com o PT. Nos estertores da política, também é de conhecimento que não seria novidade encontrar irregularidades nessas contas, sobretudo depois que chegou ao domínio público a informação de que parte da propina da Petrobras abastecia os comitês eleitorais. Gilmar pediu informações à Receita Federal e ao Banco Central sobre essas movimentações. Está examinando as contas com uma lupa. Um empenho incomum. A rejeição das contas de Dilma seria o primeiro passo para dar início a um processo de impeachment, algo que pouca gente tem levado a sério até o momento. Ainda nesta semana ele deve anunciar suas conclusões sobre o assunto. 

Tijolinho do Jolugue: Os prazeres da vida sem TV, sem trânsito engarrafado e sem Wi-Fi


Há alguns anos atrás, a notícia de que poderíamos nos hospedar num antigo engenho do século XVI, do período do apogeu do ciclo econômico da cana-de-açúcar, confesso, nos causou um grande entusiasmo. Com raízes bem fincadas na zona rural, o fato, certamente, não espantaria a ninguém. O antigo engenho proporciona tudo o que a vida no campo oferece: riachos para pescaria, piscinas naturais, gastronomia regional feita no fogão à lenha, trilhas pelas matas, o canto dos cardeais e rouxinóis, o friozinho da Serra da Borborema. Por vezes, penso que nós precisamos um pouco desse sossego. Um pouco é pouco. Precisamos muito. Outro dia li os posts de dois  colegas  professores sobre as agruras da vida nas metrópoles. Um deles é pernambucano, aqui de Olinda, e o outro é da  Paraíba, precisamente do Bairro de Cabo Branco, João Pessoa. Um deles desabafou que dirigir no Recife estava se tornando um negócio para corno. O outro, inconformado, alegava que estava sendo "interditado" de chegar à sua residência, todas as vezes em que ocorriam eventos no Bairro de Cabo Branco. Ao se despedir temporariamente do Facebook, Roberto Numeriano escreveu uma bela crônica sobre os contatos estéreis proporcionados pelos celulares. As pessoas se sentavam na mesa de um bar mas, cada qual com seus celulares, pareciam desprovidas de afeto, jogando ou falando constantemente com pessoas longe daquele círculo restrito. Estavam naquele espaço, mas absortos, apenas fisicamente. Pois bem. Outro dia, examinando os comentários das pessoas sobre as avaliações de hotéis - a pesquisa foi no site de viagem TripAdviser - observei uma coisa curiosa. Um bom sinal de Wi-Fi, hoje, pode ser mais importante do que uma ducha quente, a limpeza dos quartos, a troca das toalhas, o atendimento, se o ar-condicionado funciona. Como informa Numeriano, convém repensarmos algumas atitudes, alguns comportamentos. Essa fixação nesses aparelhinhos está virando uma verdadeira nóia, comprometendo alguns aspectos importantes da vida. Essa pousada, até recentemente, não possuía sequer televisão nos quartos. Frequentei-a quando ela ainda era virgem. Não sei se os proprietários já cederam às imposições da vida moderna. A pousada Engenho Laranjeiras fica na cidade de Serraria, na microrregião do Brejo Paraibano.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Tijolinho do Jolugue: Ciro Gomes para o Ministério da Educação


Prevendo a possibilidade de voltar ao Palácio do Planalto em 2018, Lula pretende ter uma influência mais efetiva no segundo Governo Dilma Rousseff. Neste momento, então - de turbulência política - sua experiência e traquejo político poderia ser mesmo fundamental para garantir a governabilidade. A coisa anda feia por Brasília. A oposição passou a adotar um discurso golpista e beligerante. Segundo alguns órgãos de imprensa, o ex-presidente gostaria de participar da definição de nomes para três pastas consideradas fundamentais para o seu projeto: Educação, Casa Civil e Cidades. Hoje passou-se a especular sobre a possibilidade do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Cid Gomes, ocupar a pasta da Educação. Não há arestas do Planalto com a família Ferreira Gomes. Essas arestas foram devidamente aparadas muito antes das eleições, quando os Ferreira Gomes abriram uma dissidência entre os neo-socialistas. Sempre defenderam o projeto de reeleição de Dilma Rousseff, mesmo com a postulação do ex-governador Eduardo Campos. Acabaram por se afastar do grêmio partidário neo-socialista. Ciro é um cara polêmico e explosivo. Muito inteligente, preparado, mas de pavio curtíssimo. Colaborando com o Governo do irmão, Cid Gomes, por diversas vezes entrou em rota de colisão com os servidores do Estado do Ceará. Em momentos de fúria, chegou a tomar cartazes dos manifestantes e rasgá-los. Confesso que não conheço suas ideias sobre o tema educação. Se é que ele as tem. Há de se entender que também se trata de uma especulação. Há alguns grandes desafios para pasta, sobretudo no que se refere à melhoria dos índices do IDEB. Até 2020 precisamos atingir a média 6,0, que caracteriza uma meta dos países desenvolvidos da OCDE. Outra meta permanente é o enfrentamento dos problema das desigualdades de oportunidades educacionais no país. Dados mais recentes revelam que apenas 20% dos jovens de famílias empobrecidas conseguem terminar o ensino médio na faixa etária recomendada, ou seja, 19 anos. Esse índice chega a mais de 80% quanto se trata de jovens de estratos sociais mais privilegiados.Vamos aguardar aquele jornal que, segundo o ex-governador Miguel Arraes, de fato, conta: O Diário Oficial da União.
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sábado, 6 de dezembro de 2014

Antonio Lassance: Aécio entra para a galeria dos personagens obtusos

Antonio Lassance
Na Carta Maior
O Senador Aécio Neves terá que engolir sua afirmação de que foi derrotado por uma organização criminosa.
Grande parte dos políticos corruptos que receberam propina do esquema que saqueou a Petrobrás, citados por um dos delatores, apoiou sua campanha, desde o primeiro turno.
Ainda conforme os próprios delatores, o envolvimento de cada um deles com essa organização criminosa data do governo do presidente Fernando Henrique.
Já basta desse lenga-lenga de Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Roberto Duque.
Os brasileiros querem saber os nomes dos políticos que receberam dinheiro de propina do esquema que assaltou a Petrobrás.
O que se espera agora é que as informações já vazadas sejam confirmadas no inquérito da Polícia Federal, se os delegados fizerem o trabalho de delegados e não de cabos eleitorais de distintivo.
O que se quer é que todos sejam imediatamente julgados pelo STF ou fujam logo de seus mandatos para serem processados em primeira instância, como fizeram os acusados Eduardo Azeredo e Clésio Andrade, mensaleiros amigos de Aécio Neves.
Quando os nomes ligados a Aécio nas eleições de 2014 e que constam da delação premiada forem qualificados como parte do esquema, Aécio terá uma organização criminosa para chamar de sua.
No PP, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), ao que consta, um dos citados na delação, organizou o apoio de todo o Diretório do Partido Progressista do Rio de Janeiro ao presidenciável tucano.
Outro citado, João Pizzolatti, presidente do PP de Santa Catarina, articulou o apoio desse diretório a Aécio e ao chapão em aliança com o PSDB no estado, incluindo o apoio à candidatura do tucano Paulo Bauer, a governador, e de Paulo Bornhausen ao Senado, pelo PSB - também apoiador de Aécio.
Mesmo no PMDB, muitos dos nomes citados estiveram oficialmente associados à oposição, como o atual presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o senador Romero Jucá, de Roraima, e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A recomendação ética de Aécio aos membros prediletos dessa que acusa de ser uma organização criminosa foi: "suguem mais um pouquinho e depois venham para o nosso lado".
A consequência da baixaria do senador e presidente do PSDB é que ele próprio, ao nivelar por baixo o debate político, ao invés de agir como líder da oposição, incorporou o discurso e vestiu a camisa de chefe de um bando desqualificado de extrema direita que pretende levar a disputa política para as vias de fato.
A partir de agora, Aécio torna-se responsável direto por qualquer ato que fuja do controle do processo democrático e revele a face não apenas golpista e autoritária, mas violenta desse bando.
O que se viu nas galerias do Congresso (terça, dia 2) é apenas o começo de algo que, na República, sempre teve um fim triste e personagens obtusos.
Aécio acaba de entrar para a essa galeria de personagens obtusos.
Antonio Lassance é cientista político.
(Do blog do Luis Nassif)

Tijolinho do Jolugue: A pregação golpista de Aécio Neves

Quem tiver curiosidade em pesquisar no Google sobre a célebre frase de Carlos Lacerda sobre Getúlio Vargas, o site de busca irá remetê-lo ao Twitter do Deputado José Aníbal, do PSDB. Guardada as devidas proporções, estamos vivendo aquele mesmo clima político que antecedeu o suicídio de Getúlio Vargas, pressionado pelos militares, depois do atentado da Rua Tonelero, dezenove dias depois. Em alguns aspecto, penso ser um equívoco comparar Carlos Lacerda a Aécio Neves. Mas, no tocante à pregação golpista, os dois estão se parecendo. O senador mineiro parece decidido a criar todos os embaraços possíveis ao segundo governo da presidente Dilma Rousseff. Outro dia, em entrevista, afirmou que perdeu as eleições para uma quadrilha criminosa. Na realidade, perdeu as eleições para um partido político legalmente constituído, integrante de uma coalizão que já governa o país há 12 anos, respaldo pelo voto dos eleitores. Os jornais hoje estampam suas declarações recentes, de corte marcadamente golpista. Seus pronunciamentos no Congresso traduzem o estado de descontrole emocional ao qual foi acometido. Olhando o cenário da conjuntura política com mais calma, isso talvez explique a grande obra de engenharia política que está em jogo em Brasília, com o propósito de garantir a "governabilidade". Lacerda era um golpista incorrigível. Ao que nos consta, esse comportamento do senador mineiro é recente, mas, naturalmente, igualmente pernicioso para a saúde de nossas instituições democráticas. Na juventude, Lacerda foi um militante comunista, antes de enveredar pela direita golpista da UDN. Lia bastante, fundou uma editora, tinha uma verve apuradíssima. A semelhança com o mineiro - além da conjuntura política em que ambos estiveram envolvidos - parece ser mesmo - e tão somente - na pregação golpista.

Charge de Renato Aroeira, publicado no Brasil Econômico

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Ciclo de Debates Políticas Públicas e Educação

Conflitos Urbanos na Metrópole e Resistência Popular pelo Direito à Cidade

Tijolinho do Jolugue: Flávio Dino: Não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato.



A situação no Maranhão anda um pouco indefinida. Um colega daquele Estado, afirmam - com razão - que os Sarney perderam o Governo, mas não o poder. Continuarão, como sempre fizeram, criando embaraços para os seus opositores, utilizando-se de métodos conhecidos. O último deles, Jackson Lago, caiu em função de uma forte influência que a dinastia Sarney exercia no poder judiciário, capilaridade obtida nessas cinco décadas de poder. Mas, o que causa um certo espanto é a descrença - ainda muito cedo - que começa a rondar as expectativas do que seria o Governo do comunista Flávio Dino naquele Estado. Começa pela ampla coalizão de forças montada por Flávio para "desbancar" a dinastia, o que envolve setores políticos não necessariamente progressistas. Alguns nomes cotados para assumirem secretarias de governo - assim como ocorre no plano nacional - estão suscitando algumas controvérsias. Outra motivações das preocupações é a desenvoltura com que o (ex)comunista fala sobre um possível choque de capitalismo no Estado ou de como pretende fazer uma revolução burguesa na província do Maranhão. Outro dia, nos confidenciou um colega, em entrevista a um jornal local, Flávio assumiu algumas posições que negava sintomaticamente algumas teses caras ao pensamento político comunista. Não se poderia esperar de Flávio que ele viesse a propor uma república comunista do Maranhão, uma utopia, por inúmeras razões, de improvável materialização. Também não se poderia esperar dele uma postura genuinamente contrária ao capital e às liberdades democráticas. De um modo geral, o apetite pelo pragmatismo político, aliás, tem sido a característica mais perceptível dos antigos militantes do PCdoB, depois de um longo processo de decomposição ideológica. Agora, não se poderia esperar de um militante comunista renhido como ele, por exemplo, que desconhecesse algumas teses caras ao pensamento político comunista. foi mais ou menos isso o que ocorreu numa entrevista recente a um jornal local. Isso já é demais. Afinal, como dizia Eric Hobsbawn, a ideia é boa. Penso que a tentativa dos Sarney em demonizá-lo por sua identificação com o comunismo provocou um efeito nefasto no Flávio Dino.  É necessário que o camarada (ops) tome os cuidados necessários para não ser mais do mesmo num Estado que ostenta níveis de justiça social acachapantes. Nesse ritmo, ou os Sarney retomam logo o comando político do Estado ou, pior, teremos a formação de uma nova oligarquia, assim como ocorreu quando Sarney chegou ao poder. 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

"Vai para Cuba!" é um grito que escorre como bílis pelos lábios dos neorreacionários de plantão

Postado em 28 nov 2014
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Havana
Foi o Facebook, como nenhuma outra rede social da internet, que iniciou um processo inédito e ainda não dimensionado de histeria ideológica que, ao menos no Brasil, foi cristalizado sob um complexo manto de silêncio.
Digo complexo porque, até surgir uma plataforma tecnológica capaz de lhe dar cor, forma e conteúdo, esse manto foi sendo lentamente consolidado por diferentes processos de acomodação moral, política e social, sobretudo a partir das gerações subsequentes ao golpe militar de 1964.
Até então, ninguém sabia ao certo quais eram as consequências de cinco décadas de construção conservadora dentro de uma sociedade naturalmente autoritária como a brasileira, nascida e moldada na cultura do escravagismo, do fisiologismo, da separação de classe e da carteirada.
Com a internet e, especificamente, com o Facebook, tornou-se possível entender como a overdose de doutrina anticomunista rasteira, aliada a uma visão de mundo ditada por interesses ligeiros, acabou por gerar essa multidão de idiotas que se aglomeram no espectro ideológico da direita nacional.
Essas pessoas que travestiram de piquenique cívico as manifestações de rua nas quais, em plena democracia, foram pedir intervenção militar. Uma multidão raivosa, mentecapta, de faixas na mão, cevada por uma mídia mais irresponsável do que, propriamente, conservadora.
Essa mistura explosiva de ressentimento político com déficit educacional fez explodir nas redes sociais jovens comentaristas com discurso roubado de velhas apostilas da Escola Superior de Guerra dos tempos dos generais.
“Vai pra Cuba!”
Ir para Cuba.
Onde, exatamente, erramos ao ponto de ter permitido o surgimento de mais de uma geração cujo insulto essencial é mandar alguém ir morar em Cuba?
Desconfio, que no centro dessa questão habita, feroz, a tese de que é preciso viver em pobreza franciscana para ser de esquerda. Essa visão macarthista do socialismo impregnada no imaginário da classe média brasileira e absorvida, provavelmente por falta de leitura, de forma acrítica por grande parte da sociedade.
“Vai pra Cuba!”, aliás, na boca torta da direita brasileira, não é apenas um insulto, mas uma praga horrenda, um desejo de morte lenta, um pelourinho necessário e elogiável, como bem cabe a traidores de classe.
“Vai pra Cuba!” é um grito que escorre como bílis negra pelo canto dos lábios do neorreacionários brasileiro.
De minha parte, não vou a lugar nenhum, enquanto esse tipo de gente ainda estiver por aqui.
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Leandro Fortes
Sobre o Autor
Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor. Trabalhou para o Jornal do Brasil, O Globo, Correio Braziliense, Estadão, Revista Época e Carta Capital.

(Publicado originalmente no Diário do Centro do Mundo)