pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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domingo, 23 de abril de 2017

Drops político para reflexão: O direito ao dissenso



"Mas isso não é o mais importante para os brasileiros. Ditaduras piores sobreviveram ao desprezo da comunidade política internacional. Quero tratar aqui de um problema mais sério: a falta de segurança jurídica, em nosso país, para o exercício de contraditório. Seja no âmbito local ou no nacional. Ou seja, o direito de fiscalizar e opor reparos à indicação e a própria gestão das autoridades escolhidas, sabe-se lá por que meios e com que interesses. Não se pode mais criticar o perfil administrativo e o histórico político de terminados gestores, sem o risco de uma interpelação judicial. Quando se trata de acusações e reportagens veiculadas pelos grandes meios de comunicação, o tratamento é um. Quando se trata de cidadãos e cidadãs, individualmente, o tratamento é outro. Pelo visto, o clima de impunidade e ilegalidade que se abriu com o “golpe parlamentar” alimentou a disposição autoritária, intransigente de certos políticos em relação aos críticos. Ora é um direito de qualquer um discordar das medidas tomadas em relação à educação, à saúde, à previdência, ao direito do trabalho, quando acha que essas medidas atingem direitos, expectativas de direitos ou conquistas sociais e trabalhistas há muito consolidada. Mais ainda, quando se dão ao talante de gestores – mal preparados para as pastas que atuam, muitas vezes, como meros prepostos de empresários, grupos econômicos ou lobbies. Como cidadão, educador ou contribuinte e eleitor, cada um(a) tem o direito de discordar, sem sofrer constrangimento legal ou assédio de oficiais de justiça, na porta de suas casas. Medidas que assumem o caráter de intimidação política diante do descalabro administrativo que tomou conta do país."

(Michel Zaidan Filho, professor titular da UFPE, em artigo publicado aqui no blog)

Political Drops for reflection: A Middling Political Environment in the Countryside



One of the great reforms that can not be made feasible in the country is the agrarian reform, demanded by abolitionists like Joaquim Nabuco and André Rebouças, from the time of the formal liberation of the slaves through an institutional act signed by Princess Isabel. Not even in the governments of the PT coalition, despite the sensitivity to the problem, we have managed to advance sufficiently in this field, possibly due to the constraints imposed by the infamous "class conciliation" that allowed the rise to power of Luiz Inácio Lula da Silva, But imposed some agreements. The picture now tends to aggravate as we find among the articulators of the recent institutional coup that occurred in the country, two strong nuclei, identified with the latifundio, as the benches of the bull and the berlinda or slavery.

(José Luiz Gomes, political scientist, in an editorial published here on the blog)

Drops político para reflexão: Um ambiente político abafado no campo



Uma das grandes reformas que não se consegue viabilizar no país é a reforma agrária, reclamadas por abolicionistas como Joaquim Nabuco e André Rebouças, desde à época em que houve a libertação formal dos escravos, através de um ato institucional assinado pela Princesa Isabel.  Nem mesmo nos governos da coalizão petista, a despeito da sensibilidade para o problema, conseguimos avançar o suficiente nesse terreno, possivelmente em razão dos constrangimento impostos pela famigerada "conciliação de classes", que permitiu a ascensão ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva(PT), mas impôs alguns acordos. O quadro agora tende a agravar-se em razão de encontrarmos, entre os articuladores do golpe institucional recente ocorrido no país, dois núcleos fortes, identificados com o latifúndio, como as bancadas do boi e da berlinda ou da escravidão. 

(José Luiz Gomes, cientista político, em editorial publicado aqui no blog)

A família contra o Estado, ou a antipolítica


A família contra o Estado, ou da antipolítica
Lula e Emílio Odebrecht (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Na mistura entre família e política, os condenados nunca são os empresários ou as famílias. Como se a corrupção nascesse da própria política


Nesta semana fez um ano que o pedido de impeachment de Dilma Rousseff foi aprovado pela Câmara dos Deputados. Ainda não era a conclusão do processo, já que o mesmo deveria passar ainda pelo Senado (que viria a concluir o processo em 31 de agosto de 2016), mas, de certo modo, naquela noite de 17 de abril de 2016, algo muito poderoso veio à tona e se tornou visível como nunca ou, talvez, como só agora, com as delações dos executivos da Odebrecht. Para muitos, o 17 de abril se tornou a verdadeira data do golpe.
Os discursos dos deputados favoráveis ao impeachment da presidente, feitos naquela noite e transmitidos ao vivo pela televisão, chocaram grande parte da população. Dentre todos os aspectos dos discursos que provocaram repulsa, um sem dúvida chamou a atenção de todos: a referência insistente à família e aos membros da família desses deputados (muitas vezes nomeando individualmente mulheres, maridos, filhos, netos) nos breves discursos que faziam antes de anunciarem seus votos.
A cena trouxe mal-estar até mesmo para aqueles que defendiam o impeachment. O que ela trazia de surpreendente é que esses deputados apareciam ali como representantes das suas famílias e não das suas cidades ou Estados. Pareciam estar ali como indivíduos privados e não como homens públicos. Esse fenômeno, embora tenha causado desconforto na época e dado ensejo a muitas críticas, não mereceu maior análise. Ele é, todavia, a chave de toda a crise que nós vivemos não só no Brasil, mas também em muitos outros países do mundo. Talvez no Brasil ela seja um pouco mais grave porque tem origens que remontam até o nosso período colonial. Mas os recentes escândalos envolvendo o candidato dos Republicanos na França, François Fillon, a vitória de Trump nos Estados Unidos e até mesmo o conflito na Síria, governada pela família de Bashar al-Assad há décadas, são fenômenos que só podem ser entendidos a partir do confronto entre a família e a cidade ou, para usar termos gregos, entre a economia e a política, pois era isso que estava escancarado no discurso daqueles deputados: o fato de que sua posição favorável ao impeachment tinha razões puramente econômicas, ou seja, familiares.
Podemos dizer que, naquela noite de 17 de abril de 2016, foi a economia que venceu a política, foi a família que venceu o Estado, ao se aprovar o impeachment de Dilma Rousseff, do mesmo modo como, em 1964, foi a economia que venceu a política, foi a família que venceu o Estado e instaurou um golpe de Estado no Brasil, ou seja, instaurou o fim da política no Brasil. Isso que chamamos de ditadura militar não é senão a experiência de uma sociedade sem política. Não por acaso, o nome comum das manifestações públicas ocorridas entre 19 de março e 8 de junho de 1964 no Brasil em resposta a uma suposta ameaça comunista representada pelo então presidente João Goulart era “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. É preciso que nós deixemos de considerar o golpe de 1964 um golpe militar. Como se a sociedade brasileira como um todo tivesse sido vítima dos militares. O golpe de 1964, assim como o de 2016, foi um golpe familiar. E é isso o que eles têm em comum.

Marcha da Família com Deus pela Liberdade (Foto: Reprodução)
Marcha da Família com Deus pela Liberdade, 1964 (Foto: Reprodução)

Quando escrevemos família e cidade, de um lado, e economia e política, do outro, não reconhecemos imediatamente, em português, como esses dois pares de opostos se correspondem e se equivalem, mas, em grego, essa correspondência é evidente, uma vez que o termo oikonomía (origem do nosso termo “economia”) vem de oîkos, “família”, e o termo politiké (origem do nosso termo “política”) vem de pólis, “cidade”. A oposição entre oikonomía e politiké, enquanto dois saberes pertinentes a dois âmbitos distintos da realidade, o primeiro relativo à família, o oîkos, o segundo relativo à cidade, a pólis, baseia-se, portanto, numa oposição mais fundamental entre duas instituições bastante distintas: a família e a cidade. A oposição entre economia e política, nesse sentido, não é senão a consequência da oposição que já existe entre a família e a cidade. Essa oposição era tão sensível aos gregos que Aristóteles parte dela no livro I da sua Política. Em outubro do ano passado, vim para a França fazer um pós-doutorado sobre esse tema, o que envolverá uma nova tradução para o português do Livro I da Política de Aristóteles, mas também a escrita de um ensaio que mostre como e por que o livro I da Política de Aristóteles se tornou surpreendentemente atual em nosso tempo, desde as especulações de Karl Marx até os nosso dias, passando por Hannah Arendt, Foucault, Lacan, Agamben, dentre outros.
O que me empurrou para esse tema foi a sua urgência. No último semestre de aulas que dei na Universidade Federal Fluminense antes de vir para a França, ofereci um curso sobre o Livro I da Política de Aristóteles para os alunos do curso de graduação em filosofia daquela universidade no mesmo momento em que o processo de impeachment de Dilma Rousseff tramitava no Congresso Nacional. Lembro de ter dado aula no dia seguinte à votação pela aceitação do processo na Câmara dos Deputados e de ter interpretado, à luz de Aristóteles, os acontecimentos daquela noite. Um dos alunos do curso, Pedro Portelli, inspirado pelas aulas, me enviou depois, mensagem pelo Facebook, algumas passagens de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, sobretudo do capítulo 3, “Herança Rural”, que mostram claramente como essa predominância da economia sobre a política, da família sobre a cidade, do privado sobre o público, sempre foram determinantes da sociedade brasileira.
Eis algumas das passagens que ele me enviou:
A propósito dessa singular autarquia dos domínios rurais brasileiros, conservou-nos frei Vicente do Salvador a curiosa anedota onde entra certo bispo de Tucumã, da Ordem de São Domingos, que por aqui passou em demanda da corte dos Filipes. Grande canonista, homem de bom entendimento e prudência, esse prelado notou que, quando mandava comprar um frangão, quatro ovos e um peixe para comer, nada lhe traziam, porque não se achavam dessas coisas na praça, nem no açougue, e que, quando as pedia às casas particulares, logo lhas mandavam. “Então disse o bispo: verdadeiramente que nesta terra andam as coisas trocadas, porque toda ela não é república, sendo-o cada casa.”
Nos domínios rurais é o tipo de família organizada segundo normas clássicas do velho direito romano-canônico, mantidas na península Ibérica através de inúmeras gerações, que prevalece como base e centro de toda organização. Os escravos das plantações e das casas, e não somente escravos, como os agregados, dilatam o círculo familiar e, com ele, a autoridade imensa do pater-famílias. Esse núcleo bem característico em tudo se comporta como seu modelo da Antiguidade, em que a própria palavra “família”, derivada de famulus, se acha estreitamente vinculada à idéia de escravidão, em que mesmo os filhos são apenas os membros livres do vasto corpo, inteiramente subordinado ao patriarca, os liberi.
Nesse ambiente, o pátrio poder é virtualmente ilimitado e poucos freios existem para sua tirania. Não são raros os casos como o de um Bernardo Vieira de Melo, que, suspeitando a nora de adultério, condena-a à morte em conselho de família e manda executar a sentença, sem que a Justiça dê um único passo no sentido de impedir o homicídio ou de castigar o culpado, a despeito de toda a publicidade que deu ao fato o próprio criminoso.
O quadro familiar torna-se, assim, tão poderoso e exigente, que sua sombra persegue os indivíduos mesmo fora do recinto doméstico. A entidade privada precede sempre, neles, a entidade pública. A nostalgia dessa organização compacta, única e intransferível, onde prevalecem necessariamente as preferências fundadas em laços afetivos, não podia deixar de marcar nossa sociedade, nossa vida pública, todas as nossas atividades. Representando, como já se notou acima, o único setor onde o princípio de autoridade é indisputado, a família colonial fornecia a idéia mais normal do poder, da respeitabilidade, da obediência e da coesão entre os homens. O resultado era predominarem, em toda a vida social, sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente particularista e antipolítica, uma invasão do público pelo privado, do Estado pela família.
Ao ler essas passagens, que Pedro Portelli gentilmente me tinha enviado, tive um sentimento profundo de confirmação da pertinência das minhas aproximações entre Aristóteles e a situação brasileira. Era com instrumentos conceituais idênticos aos de Aristóteles que Sérgio Buarque de Holanda tentava pensar os impasses do Brasil, esta terra onde, como diz o bispo dominicano da história contada pelo Frei Vicente do Salvador,“andam as coisas trocadas, porque toda ela não é república, sendo-o cada casa”. Um país inteiro sem república onde, por outro lado, a república se encontra em cada casa. Ao ler essa frase do bispo dominicano, me lembro da ameaça de Emilio Odebrecht de fazer cair a república caso seu filho, Marcelo, fosse preso na Operação Lava Jato. Caberia perguntar: qual República? Há uma coisa pública no Brasil? Ou, como mostram todos esses escândalos de corrupção, toda coisa pública no Brasil já não sempre foi, desde a sua fundação, uma coisa privada? A conclusão, ultra aristotélica ou arendtiana de Sérgio Buarque de Holanda, continua válida até hoje: “O resultado era predominarem, em toda a vida social, sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente particularista e antipolítica, uma invasão do público pelo privado, do Estado pela família.” Sérgio Buarque de Holanda não poderia ter sido mais preciso: a família sempre representou, em todos os tempos, a antipolítica.
As famílias que apareceram nos discursos dos deputados na noite que aprovou na Câmara Federal o impeachment da presidenta Dilma Rousseff são as mesmas famílias que apareceram nas delações premiadas da Odebrecht, sejam essas famílias as dos empresários corruptores, sejam as dos políticos corrompidos. Enquanto houver famílias no poder, não haverá cidade, não haverá Estado, não haverá política. Todo o discurso atual contra a política surge exatamente da mistura entre família e política. A política parece a todos de tal modo dominada por motivos econômico-familiares que ela se tornou um sinônimo desses motivos e perdeu qualquer propriedade intrínseca. O que é impressionante é que nessa mistura é a política que sai condenada e não a família. Como se a corrupção surgisse da própria política em si, e não da família. Ou seja, em toda essa operação quem sai condenado são os políticos, não os empresários, não as famílias. Do mesmo modo como nos estupros, são as mulheres que saem condenadas e não os estupradores. Daí a eleição de Trump nos Estados Unidos e a de Dória em São Paulo. Assim como a grande chance de Emmanuel Macron ganhar na França. Os políticos não são confiáveis, os empresários sim. As mulheres não devem usar saias curtas, os homens têm o direito de estuprar, caso sejam provocados. É natural que os empresários tentem corromper o poder público, são os políticos que não devem se deixar corromper. Como se os eleitores, ao tentar separar o remédio do veneno, ficassem só com o veneno e jogassem fora o remédio. Como se o fim da corrupção dos políticos pelos empresários só pudesse terminar quando os empresários se tornassem políticos. Digamos que o político nessa história surge como um atravessador a ser eliminado. No lugar do político-filósofo de Platão, o político-empresário. No lugar da política, a oikonomía, a administração do país como se fosse uma empresa, uma casa. No fim da política, a família.

Publisher: A new massacre of rural workers in Colniza. Until when?


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One of the great reforms that can not be made feasible in the country is the agrarian reform, demanded by abolitionists like Joaquim Nabuco and André Rebouças, from the time when the slaves were formally liberated. Not even in the governments of the PT coalition, despite the sensitivity to the problem, we have managed to advance sufficiently in this field, possibly due to the constraints imposed by the infamous "class conciliation" that allowed the rise to power of Luiz Inácio Lula da Silva. The picture now tends to be aggravated by the fact that we find among the articulators of the institutional coup two strong nuclei, identified with the latifundia, such as the ox and berlinda benches or slavery.

Under the influence of these groups, the setback is visible. The dirty list of slave labor - an instrument through which civil society and social movements could become aware of farms that used slave labor in their activities - by a Government's determination was suspended or postponed under the argument of protecting individuality Of the owners, in a flagrant revelation of inversion of priorities. The lobby is also strong in the sense of a possible "loosening" of legislation on slave labor, following the logic of deregulation or demeaning workers' rights, whether urban or rural.

As noted by the MST leaders, the Colniza massacre in Mato Grosso, where 9 people were shot and stabbed in the last 20 days, was a kind of tragedy announced, since it is an extremely vulnerable area , Where the unwellness between landless and farmers are constant. According to Pastoral da Terra, other deaths would have already occurred at the site, known as Taquaraçu do Norte. The curious thing is that this massacre occurs precisely in the week in which it celebrates 21 years of the Massacre of Eldorado dos Carajás, in Pará, where 19 rural workers were killed.

If we consider this political and institutional environment "muffled" in which we are living, the slaughter of Colniza is added to a rigorous siege of the capital on the land titles of indigenous communities and quilombolas. There is an attempt that the concessions of these lands be revised. In the opinion of the grileiros and their minions with seat of the parliament, there is much land for little Indian. A huge setback, but understood in the context of a political atmosphere of a coup character, in collusion with a well-known neoliberal agenda, as opposed to the welfare state.

Editorial: Um novo massacre de trabalhadores rurais em Colniza. Até quando?

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Uma das grandes reformas que não se consegue viabilizar no país é a reforma agrária, reclamadas por abolicionistas como Joaquim Nabuco e André Rebouças, desde a época em que houve a libertação formal dos escravos. Nem mesmo nos governos da coalizão petista, a despeito da sensibilidade para o problema, conseguimos avançar o suficiente nesse terreno, possivelmente em razão dos constrangimento impostos pela famigerada "conciliação de classe", que permitiu a ascensão ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva. O quadro agora tende a agravar-se em razão de encontrarmos entre os articuladores do golpe institucional dois núcleos fortes, identificados com o latifúndio, como as bancadas do boi e da berlinda ou da escravidão. 

Sob a influência desses grupos, o retrocesso é visível. A lista suja do trabalho escravo - um instrumento através do qual a sociedade civil e os movimentos sociais poderiam tomar conhecimento das fazendas que utilizavam o trabalho escravo em suas atividades - por uma determinação do Governo foi suspensa ou adiada, sob o argumento de proteger a individualidade dos proprietários, numa flagrante revelação de inversão de prioridades. O lobby também é forte no sentido de um possível "afrouxamento" da legislação a respeito do trabalho escravo, seguindo a lógica da desregulamentação ou do  aviltamento dos direitos dos trabalhadores, sejam urbanos ou rurais. 

Como bem observou as lideranças do MST, a chacina de Colniza, no Mato Grosso, onde foram mortos 09 pessoas, com tiros e facadas, no último dia 20, era um espécie de tragédia anunciada, uma vez que se trata de uma área extremamente vulnerável, onde as indisposição entre sem-terra e fazendeiros são constantes. De acordo com a Pastoral da Terra, outras mortes já teriam ocorridas no local, conhecido como Taquaraçu do Norte. O curioso é que este massacre ocorre justamente na semana em que se comemora 21 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, onde foram mortos 19 trabalhadores rurais. 

Se considerarmos esse ambiente político e institucional "abafado" em que estamos vivendo, a chacina de Colniza vem se somar a um assédio rigoroso do capital sobre os títulos de propriedade de terras de comunidades indígenas e quilombolas. Há uma tentativa de que as concessões dessas terras sejam revistas. Na opinião dos grileiros e seus asseclas com assento do parlamento, há muita terra para pouco índio. Um retrocesso descomunal, mas entendido no contexto de uma atmosfera política de caráter golpista, em coluio com uma agenda neoliberal conhecida, em contraposição ao Estado de bem-estar social. 

Charge!Benett

sábado, 22 de abril de 2017

Publisher: The PIG massacre against Lula

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Honestly, in the face of these award-winning donations from the Odebrecht contractors' heirs, executives and former executives, it is very difficult to separate the tares from wheat in this scorched earth scenario. I believe this is the feeling of all the Brazilian citizen, those who wake up early, work, pay their taxes and walk within the law. As we stated in a recent editorial, here is a kind of "trivialization" of corruption. I do not know if you paid any attention to this, but I did not notice the slightest embarrassment on the part of the Odebrecht Company informers when they revealed the details in the maracutaias in which they participated, involving public agents. So was Adolf Eichmann, the Nazi in charge of transporting thousands of Jews to death during World War II. Asked in this regard, he stated that he performed only one "job", in the best possible way, without any ethical cleavage. He only wanted recognition from the boss for doing a good job.

A minimally informed observer has already realized that the circus has already been set up in the sense of a conviction of former President Luiz Inacio Lula da Silva. The "movement" of the PIG is absolutely predictable, in the sense of creating the "climate" necessary for the dispatch of a certain judge, who should listen to the former president on May 3. Everything very well concatenated, everything very well orchestrated, obeying a schedule previously agreed upon. Regardless of the readers who are reading this text - among those who consider Lula guilty and those who believe in his innocence - I do not think there is any doubt about this "integrated action" involving the "big newspapers" of the print media, Plim plim and, of course, that magazine with the highest weekly circulation, which stamps on its cover this week a kind of anticipation of the verdict. I mean, guilty or innocent, Lula will be condemned. The editorial of the newspaper of the Marinho family treats him like head of gang.

Strictly speaking, the siege is closed against former President Lula. If there was already a "predisposition" to condemn it, the circumstances worsened after the compromising statements of the owner of the OAS Construction Company, Léo Pinheiro. Léo was a kind of friend of the ex-President Lula's chest. Avenged in the course of Operation Lava's work, they said, he would have made a "tailor-made" statement to incriminate the former president, including giving ammunition to such a judge even to seek a pre-trial detention of the former president for obstruction of justice , Understood as true statements by Léo Pinheiro, which ensures that the former president would have asked for compromising evidence to be destroyed. Like the former president's lawyers, we do not believe that Léo can "prove" his claims, but a climate of institutional and legal insecurity makes it all possible.

This is not a good time for former President Lula. The psychological damage of this systematic persecution is inevitable. There are those who report that he has taken exaggerated care of his safety by being sure to be tracked by his executioners. No cell phones think. They are strictly forbidden in their conversations with friends and interlocutors. The polls indicate that the candidate who appears best positioned, and his rejection rate is also high, above 50% of the electorate. In a crazy race of candidates who have never been tested in the polls of a presidential election - as is the case of Bolsonaro, Doria, Luciano Hulk - the unpredictability of the election is evident, especially in this moment of ascendancy of candidates with a conservative profile.

Editorial: O massacre do PIG contra Lula


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Sinceramente, diante dessas delações premiadas dos herdeiros, executivos e ex-executivos da empreiteira Odebrecht, fica muito difícil separar o joio do trigo nesse cenário de terra arrasada. Creio ser este o sentimento de todo o cidadão brasileiro, aqueles que acordam cedo, trabalham, pagam seus impostos e andam dentro da lei. Como afirmamos num editorial recente, ocorre aqui uma espécie de "banalização" da corrupção. Não sei se vocês prestaram atenção nisso, mas não percebi o menor constrangimento por parte dos delatores da Construtora Odebrecht ao revelarem os detalhes nas maracutaias das quais participavam, envolvendo agentes públicos. Assim como Adolf Eichmann, o nazista encarregado de transportar para a morte milhares de judeus durante a segunda guerra mundial. Questionado a esse respeito, ele afirmou que realizava apenas um "trabalho", da melhor maneira possível, sem qualquer clivagem de ordem ética. Desejava apenas o reconhecimento do chefe pela realização de um bom "trabalho". 

Um observador minimamente informado já percebeu que o circo já foi todo montado no sentido de uma condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A "movimentação" do PIG é absolutamente previsível, no sentido de criar o "clima" necessário para o despacho de um determinado juiz, que deverá ouvir o ex-presidente no próximo dia 03 de maio. Tudo muito bem concatenado, tudo muito bem orquestrado, obedecendo um cronograma previamente acordado. Independentemente dos leitores que estão lendo este texto - entre aqueles que consideram Lula culpado e aqueles que acreditam em sua inocência - creio não haver alguma dúvida sobre essa "ação integrada", envolvendo os "grandes jornais" da mídia impressa, os telejornais da emissora do plim plim e, naturalmente, aquela revista que possui a maior circulação semanal, que estampa na sua capa desta semana uma espécie de antecipação do veredicto. Quer dizer, culpado ou inocente, Lula será condenado. O editorial do jornal da família Marinho o trata como chefe de quadrilha. 

A rigor, o cerco se fecha contra o ex-presidente Lula. Se já havia uma "predisposição" no sentido de condená-lo, as circunstâncias se agravaram depois das declarações comprometedoras do dono da Construtora OAS, Léo Pinheiro. Léo era um espécie de amigo do peito do ex-presidente Lula. Encrencado no curso dos trabalhos da Operação Lava jato, segundo dizem, teria feito uma  declaração "sob medida" para incriminar o ex-presidente, inclusive dando munição ao tal juiz até mesmo para pedir uma prisão preventiva do ex-presidente, por obstrução da justiça, entendida como verdadeiras as declarações de Léo Pinheiro, que assegura que o ex-presidente teria pedido para que provas comprometedoras fossem destruídas. Assim como os advogados do ex-presidente, não acreditamos que o Léo tenha como "provar" as suas afirmações, mas, um clima de tanta insegurança institucional e jurídica, tudo torna-se possível. 

Este não é um momento nada bom para o ex-presidente Lula. O dano psicológico dessa perseguição sistemática é inevitável. Há quem informe que ele passou a ter um cuidado exagerado com a sua segurança, por ter a certeza de ser rastreado por seus algozes. Telefones celulares nem pensar. São terminantemente proibidos em suas conversas com amigos e interlocutores. As pesquisas de intenção de voto o aponta como o candidato que a aparece melhor posicionado, ma sua taxa de rejeição também é alta, acima dos 50% do eleitorado. Como ele mesmo informou, em razão dessa enrascada toda, "se deixarem" ele poderá ser candidato em 2018. Numa corrida maluca de candidatos que nunca foram testados nas urnas de uma eleição presidencial - como é o caso de Bolsonaro, Dória, Luciano Hulk - a imprevisibilidade do pleito é evidente, sobretudo neste momento de ascendência de candidatos com um perfil conservador. 

Temer revela meandros do golpe, mas Jornal Nacional só fala em Lula


João Filho
EM SETEMBRO DO ANO PASSADO, The Intercept Brasil publicou uma confissão de Michel Temer durante sua passagem por Nova York. O presidente não eleito revelou que os motivos que levaram ao impeachment não seriam as pedalas fiscais de Dilma, mas o fato de ela ter se recusado a adotar o plano de governo neoliberal dos tucanos, rejeitado nas urnas. Apesar da gravidade, ninguém na imprensa ficou escandalizado. Lembremos a confissão:

À época, a grande mídia brasileira fingiu que a declaração não existiu. Pior: teve uma jornalista do Estadão insinuando que The Intercept Brasil teria adulterado o vídeo acima. Para ela, Temer seria incapaz de dizer uma bobagem dessas, já que “ele é professor de Direito Constitucional”. Deve ser mesmo muito duro passar meses defendendo a legalidade do impeachment, debochando da “narrativa do golpe”, e depois ver um dos seus principais articuladores confessando, mesmo que indiretamente, que foi golpe, sim, e que as pedaladas fiscais foram um mero pretexto legal.
Nessa semana, Temer esteve muito à vontade em uma entrevista para seus colegas da Band e deixou escapar uma nova confissão. Dessa vez, o motivo para o impeachment seria outro:
“Em uma ocasião, ele (Eduardo Cunha) foi me procurar dizendo ‘hoje vou arquivar todos os pedidos de impeachment da presidente, porque prometeram-me os três votos do PT no Conselho de Ética’. Eu disse ‘ah, que bom! Muito bom! Porque assim acaba com essa história de que você estava na oposição. (…) naquele dia eu disse a ela (Dilma) ‘presidente, pode ficar tranquila, porque o Eduardo Cunha me disse que vai arquivar todos os processos de impedimento’. Ela ficou muito contente e foi bem tranquila para a reunião.
 No dia seguinte, eu vejo logo o noticiário dizendo que o presidente do PT e os três membros do partido se insurgiram contra aquela fala e votariam contra (Cunha no Conselho de Ética). Mais tarde, ele me ligou e disse ‘tudo aquilo que eu disse, não vale, vou chamar a imprensa e vou dar início ao processo de impedimento’.
Então veja que coisa curiosa! Se o PT tivesse votado nele naquele comitê de ética, seria muito provável que a senhora presidente continuasse.”
Sim, foi isso mesmo o que ele disse. Segundo Temer, quem derrubou Dilma não foi o cometimento de um crime de responsabilidade, mas a recusa dela em não ceder à chantagem de Cunha, cujo único objetivo era se livrar da cassação no Conselho de Ética. A história contada pelo não eleito é, aliás, a confirmação da versão de Dilma para a sua derrubada. Em sua defesa no processo de impeachment no Senado, a então presidenta disse aos senadores:
“A aceitação de meu pedido de impeachment tratava-se de uma chantagem explícita do senhor Eduardo Cunha, com a qual infelizmente vocês se aliaram. (…) As provas deixam claro que as acusações contra mim dirigidas não passam de pretextos, embasados por frágil retórica jurídica. Contrariei interesses. Por isso, paguei e pago um elevado preço pessoal pela postura que tive. Arquitetaram minha destituição, independentemente da existência de fatos que pudessem justificá-la perante a nossa Constituição.”
Ou seja, o atual presidente do país, atolado nas mais graves delações da Lava Jato, confessa em rede nacional que a presidenta anterior só foi derrubada por não ceder às chantagens do seu principal aliado político – um criminoso cujo único objetivo era manter o foro privilegiado para evitar a cadeia. Sem nem corar, o usurpador confirma a tese do golpe defendida por Dilma. E isso, meus amigos, não é a grande notícia do país dessa semana! Os jornalistas da Band aceitaram com tranquilidade, e a repercussão nos dias seguintes foi mínima, irrelevante, para não dizer inexistente.
Faltou espaço para esse escândalo, mas não para Lula no telejornal de maior audiência do país. Mais uma vez, o Jornal Nacional fez o seu recorte sapeca ao noticiar as intermináveis delações da Odebrecht. Na terça-feira (11/04), o dia em que a Lista de Fachin foi divulgada, a edição do jornal surpreendeu e me pareceu bastante equilibrada. Mas, no decorrer da semana, o jornal voltou para a sua programação normal. Enquanto Temer enfrenta uma das mais graves acusações da Lava Jato, quem foi apresentado como o grande vilão do país foi, claro, Lula – o único nome da esquerda com capital eleitoral e que lidera as pesquisas de intenções de voto para 2018.
O site Poder360 analisou o tempo dedicado pelo Jornal Nacional a cada citado na delação durante a semana da divulgação da lista:
Juntos, Dilma e Lula somaram 51 minutos de exposição, enquanto todos os outros somados chegaram a 54 minutos. Mesmo sem estar exercendo nenhum mandato há 7 anos, o Jornal Nacional falou mais tempo sobre Lula do que sobre todos os principais tucanos somados que ocupam cargos públicos importantes – dois senadores e o governador do estado mais rico do país. Mesmo com toda essa pesada artilharia, a rejeição de Lula despencou nas últimas semanas e ele lidera isoladamente as pesquisas.
Não se trata de separar bandidos e mocinhos, culpados e inocentes, mas de apontar de qual lado estão os oligopólios de mídia e quais são os escolhidos para apanhar mais no horário nobre. Não que houvesse dúvidas, mas nunca é demais registrar.
Podem confessar mais mil vezes. Cunha e Temer podem vir a público e assumir textualmente que comandaram um golpe parlamentar que nada irá acontecer.
O colunismo não irá se indignar, o Jornal Nacional não vai dedicar meia hora para o assunto, o Estadão não vai noticiar na capa. Até porque, assim como foram em 64, todos eles são coautores do golpe de 16. Com bem disse o ex-presidente da Câmara –  e atual presidiário – durante a leitura do seu voto a favor do impeachment, “que Deus tenha misericórdia dessa nação”.
(Publicado originalmente no site do Intercept Brasil)

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João Filhojoao.filho@​theintercept.com@jornalismowando

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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Todos estão surdos - de uma orelha

J.P. Cuenca
Nas peças de Shakespeare, o vilão costuma quebrar a quarta-parede e dirigir-se ao público, revelando seus reais planos e motivações por trás das mentiras. Por convenção, assumimos duas coisas: esses solilóquios são naturalmente sinceros e jamais são percebidos pelos personagens em cena. Ainda que tudo seja ouvido pela platéia, o que Macbeth fala em “aside” jamais é escutado pelos outros atores, o que sempre parece meio absurdo – e tem o efeito ambíguo de sublinhar a artificialidade da representação ao mesmo tempo em que nos faz mergulhar nela.  
Não é apenas no teatro elisabetano que encontramos apartes do tipo, mas também em seriados como “House of Cards”, óperas de Bellini, autos de Gil Vicente, filmes de Woody Allen, peças de Molière e, claro, quando Ferris Bueller fala com a câmera em “Curtindo a vida adoidado”. Sim, imagino que os leitores já estejam pensando no ilegítimo e suas confissões sobre o golpe registradas em câmera, mas antes de chegar na deplorável caricatura que é Michel Temer, preciso falar sobre… o Lobo Mau.
Qualquer platéia de crianças, ignorando as convenções do aparte teatral, sempre grita alertando Chapeuzinho Vermelho.
A cena é bastante comum aos que já se aventuraram no submundo pantanoso do teatro infantil: qualquer platéia de crianças, ignorando as convenções do aparte teatral, sempre grita alertando Chapeuzinho Vermelho em cena quando o Lobo em roupas de vovozinha revela seus planos para o público. A depender da encenação, ele fará o mesmo com os porquinhos, que também não escutam jamais. É claro: eles estão no mundo da representação e o único a quebrar a quarta parede é o Lobo. Mas as crianças não desistem. Parte da graça – e a justificativa para o extenso uso do recurso no teatro infantil – é essa.
Ultimamente, viver no Brasil é um pouco como ser essa criança que assiste à peça infantil e grita para os personagens.
Ultimamente, viver no Brasil é um pouco como ser essa criança que assiste à peça infantil e grita para os personagens. O problema é que metade do país parece surda para o que a outra metade está escutando. O fato de que as extensas delações da Odebretch sejam lidas e editadas ao bel prazer das simpatias e acordos dos grandes donos da notícia não ajuda. No perfil do facebook do MBL (ou mesmo na boca de algum opinionista da Globonews) a delação parece ser apenas sobre Lula. Em sites de esquerda, vai parecer que é sobre Temer ou Aécio. Nesse ambiente de verdades tão ostensivamente seletivas, talvez a melhor forma de esconder alguma coisa seja deixá-la a vista de todos.
Michel Temer, um canastrão de si mesmo, parece ser um especialista em apartes do gênero.
Ele já confessou duas vezes que o impedimento de Dilma nada teve a ver com pedaladas fiscais– a primeira numa fala em Nova Iorque, descoberta aqui no Intercept, pelo Inacio Vieira, e ignorada com solenidade pelos jornalões brasileiros, a segunda na entrevista para a Bandeirantes dada no último sábado, dia em que se malha o judas. Não é surpreendente que Temer minimize essas falas, e sim que o país e a imprensa o deixem sair ileso.  
O que une alguns desses vilões da ficção, como Iago, João Doria e Ricardo III, não é apenas o hábito de monologar com sinceridade para a platéia, mas o fato de que, ao longo da peça, eles não mudam. Terminam o espetáculo tão inescrupulosos e desgraçados quanto começaram. 
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Há uma entrada no “Diário do Hospício” de Lima Barreto em que ele escreve:
“Um maluco vendo-me passar com um livro debaixo do braço, quando ia para o refeitório, disse: – Isto aqui está virando colégio.”
Antes estivesse.  
(Publicado originalmente no site do Intercept Brasil)

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J.P. Cuencajpcuenca@​gmail.com@jpcuenca

Com documentário, grupo quer dar visibilidade a casos extremos de lesbofobia


Com documentário, grupo quer dar visibilidade a casos extremos de lesbofobia
Cenas do documentário 'Eu sou a próxima', da Coletiva Luana Barbosa (Foto: Reprodução/Facebook)

Além de denunciar a violência contra lésbicas, Eu sou a próxima dá voz para que mulheres negras, lésbicas e periféricas falem ‘em primeira pessoa’


Luana Barbosa tinha 34 anos quando, em um dia qualquer, saiu de casa para levar o filho ao curso de informática e não voltou mais. Lésbica, negra e periférica, Luana foi abordada por seis policiais militares que queriam revista-la. Quando ela negou, sabendo que tinha o direito de ser revistada apenas por mulheres, foi espancada e morreu cinco dias depois, com traumatismo craniano. Apesar da violência extrema, o caso de Luana foi arquivado pelo Ministério Público – assim como os de tantas outras mulheres em situação semelhante à dela.
Foi a história de Luana que inspirou o documentário Eu sou a próxima, que reúne relatos de agressões e mortes de mulheres lésbicas, principalmente negras, e que estreia nesta quinta (13) em São Paulo e no sábado (15) no Rio de Janeiro. Produzido sem nenhum incentivo governamental ou privado, o longa é um esforço da Coletiva Luana Barbosa – assim mesmo, no feminino -, um grupo de mulheres negras de vários bairros periféricos de São Paulo, que decidiu não se calar diante da violência em relação à Luana.
O grupo é composto por nove mulheres: Márcia Fábia, Jheniffer Santini, Lê Nor, Ariane Oliveira, Micheli Moreira, Liz Delon, Nanda Gomes, Re Alves e Ane Sarinara. Todas são negras e periféricas, lésbicas (ou bissexuais) e duas são mães. Há cerca de um ano, elas se uniram para ajudar na organização da Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo – um evento anual para a visibilidade deste grupo – e desde então seguem juntas, realizando ações para trazer mais representatividade e visibilidade para mulheres como elas: rodas de conversa, eventos feministas, festas exclusivas para mulheres (como a “Sarrada no Brejo”), e até uma espécie de creche para que as mães possam deixar seus filhos e se divertir, o “Brejinho do Pijama”. Todos os ganhos da coletiva são revertidos em ajuda para mulheres desempregadas, em situação de rua ou endividadas.


Intervenção do grupo Levante Mulher em memória de Luana Barbosa durante Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais em 2016 (Foto: Coletivo Indigesto)

Falar em primeira pessoa
Foi só depois da morte de Luana que o grupo tomou forma de coletiva. “Foi um acontecimento que chocou muito a gente. Luana era como nós: negra, periférica, mãe, não performava feminilidade. Foi um massacre”, lembra Liz Delon, uma das integrantes do grupo. Em maio, um mês depois do assassinato, as nove organizaram uma manifestação para que a morte de Luana não fosse invisibilizada, como acontece com muitas outras. O protesto deu frutos: o caso foi desarquivado e pode ir a Júri Popular.
Com essa pequena vitória, a coletiva ganhou ainda mais força, e começou a pensar em formas de espalhar essa história na internet. “Juntamos, ao longo de um ano, todas as notícias de morte por lesbofobia que encontrávamos. A ideia era criar uma campanha com a hashtag #EuSouAPróxima, mas a coisa foi crescendo até virar um documentário”, conta Ane Sarinara, outra participante da coletiva.
O filme, feito sem incentivos do governo ou de empresas, foi um trabalho coletivo: dentro da produção, cada integrante da Luana tinha um papel, e todas se ajudavam. “Mas a gente não teria conseguido sem a incrível Taynara  Bruni, fotógrafa e nossa futura cineasta, que editou, filmou e cedeu sua casa e seu tempo para a gente”, conta Ane.
O título do filme, Eu sou a próxima, já é um soco no estômago. “Se você é lésbica, negra, mãe solo, sem voz política, sem visibilidade, você pode ser a próxima. Sua amiga pode ser a próxima. Sua companheira, sua mãe, qualquer uma que tenha esse perfil. O medo é constante”, explica Ane. Apesar do medo, a coletiva reforça que é difícil os casos de lesbofobia aparecerem na mídia. Ainda segundo Ane, essas mortes não chegam a virar estatística, porque frequentemente estão condensadas a todas as mortes de homossexuais. “Quando assassinam uma mulher lésbica, não dizem a palavra ‘lésbica’. Dizem ‘mulher gay’, ‘mulher homossexual’. Parece que a mídia tem medo de dizer a palavra ‘lésbica’. Afirmar essa palavra para a gente é muito importante”, reforça Liz.
Importante, também, é ter lésbicas falando sobre lesbianidade e lesbofobia, porque o espaço para este grupo ainda é muito pequeno. Um dos objetivos do filme, além de denunciar a existência da violência específica contra lésbicas, é justamente dar voz a elas, como conta Ane: “Essa é uma das raras vezes em que nós não somos coadjuvantes da nossa própria história. Queremos falar em primeira pessoa, quebrar estereótipos e achismos e incentivar outras mulheres a fazer o mesmo”.
E por falar em contar a própria história, as integrantes afirmam que outro trunfo do filme é manter a memória dos casos de lesbofobia vivos, e que ganhem a justiça que merecem. “Espero que esse documentário possa chegar em todo canto, em todas as mulheres, em todo mundo”, diz Fernanda. E conclui: “que as nossas mães e todas as mulheres de nossas vidas possam ter acesso a esse documento tão importante para entender o quanto é difícil viver sendo lésbica”. 
Lançamento Eu sou a próximaDia 13/04, às 18h, na Ação Educativa; r. General Jardim, 660. Ingressos distribuídos 1 hora antes em troca de 1kg de alimento não perecível
(Publicado originalmente no site da Revista Cult)