domingo, 21 de abril de 2013
O inchaço da máquina pública na esfera federal e estadual.
Vira e mexe esse assunto volta às manchetes dos jornais. O Jornal do Commércio deste domingo traz uma matéria sobre a composição ministerial do Governo Dilma Rousseff, que soma 39 ministérios, agregando-se as secretarias com status de ministério. Presidente da Câmara de Gestão do Governo Federal, o empresário Jorge Gerdau - hoje muito próximo a Eduardo Campos - já externou sua opinião a respeito, tratando a situação do Governo Federal como inadministrável. Quando falo nesse assunto remeto-me sempre ao governador Eduardo Campos em razão de que, no seu primeiro governo, não sei se ingenuamente, ele falava em "mudar os costumes" da política brasileira, onde as velhas oligarquias praticamente se apropriavam do Estado consoante os seus interesses paroquiais. Até deu alguns bons exemplos, como a escolha de gestores através do expediente da meritocracia, sobretudo no Ministério da Ciência e Tecnologia, um reduto do PSB na Era Lula. Aqui no Estado, entretanto, a despeito desse discurso, a inchaço da máquina o contradiz acintosamente. São 29 secretarias para acomodar a sua ampla base de apoio, inclusive algumas (03) ocupadas por petistas, que esperam, tão somente, o desfecho de sua relação com Dilma para tomarem uma decisão. Eduardo Campos, em pleno processo de articulação com os marajás da res publica nem toca no assunto de mudar os "costumes políticos".
Um "discurso" para Eduardo Campos, por favor.
O sociólogo Antonio Lavareda, através da sua MCI, já estaria trabalhando a pleno vapor para o candidato Eduardo Campos. Saiu da fornalha sua primeira leva de pesquisas, onde se conclui que nas regiões Sul e Sudeste do país é maior o sentimento da população sobre o "é preciso mudar". Em rigiões como o Norte e Nordeste, historicamente mais empobrecidas, esse sentimento não é tão evidente. Gradativamente, Lavareda vai fornecendo a Diego Brandy as informações fundamentais para ele elaborar a estratégia de campanha de Eduardo Campos. Apesar de enfrentar um "Triângulo das Bermudas" difícil de ser superado em sua investida rumo ao Planalto, interlocutores mais próximo do governador confirmam suas convicções sobre o assunto, argumentanto que ele tem afirmado que irá para um segundo turno com Dilma Rousseff e ganhará as eleições. Governador nordestino, de um partido relativamente forte na região, "aliado" de um Governo que trouxe benefícios enormes para a população mais empobrecida da região - talvez por isso o sentimento de continuísmo - por aqui, também, o seu discurso fica "esvaziado". Ele vai propor o "posso fazer mais" para as eleitores de regiões que não o conhece? Não sei não...
Fernando Bezerra Coelho em rota de colisão com Eduardo Campos
Não fosse suficiente os problemas causados pela prolongada estiagem que castiga a região Nordeste, agora surge também uma disputa interna entre o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sobre quem faz mais pela região. Segundo comentários da coluna do jornalista Cláudio Humberto, no dia de hoje, os dois dusputam palmo a palmo as obras de combate a estiagem, criando algumas situações ridículas, como a construção de novas cisternas em locais onde elas já existem. O Planalto evita um enfrentamento mais contundente à candidatura presidencial de Eduardo Campos, apostando em duas hipóteses: um recuo, algo hoje tido como pouco provável, e o apoio do governador pernambucano num eventual segundo turno das eleições de 2014. Esse jogo esconde algumas escaramuças, como a preparação de alguns peças do tabuleiro para serem usadas consoante as circusntâncias políticas exigirem. É este papel reservado, segundo dizem, ao Ministro da Integração, pelo Planalto. Por outro lado, se analisarmos a questão estritamente do ponto de vista funcional, Fernando Bezerra é a peça chave nas ações do Governo Federal no combate à estiagem na região, o que o coloca em rota de colisão frequente com o candidato e padrinho político Eduardo Campos, que tenta mostrar serviço para projetar-se. É bastante delicada a situação de FBC.
sábado, 20 de abril de 2013
Paulista: A Mata do Frio pede socorro. Estamos de olho.
Durante as últimas eleições municipais, criamos um grupo que se
propunha a discutir as propostas dos candidatos para o município de
Paulista. Adicionamos ao grupo desde o cidadão comum, àqueles
atores que teriam um interesse, em tese, mais objetivo de transmitir
aos eleitores as suas propostas, ou seja, vereadores, secretários
municipais, candidatos ao Executivo Municipal etc. Não avançamos muito
nesse sentido, dada a desmobilização da população municipal e,
sobretudo, às práticas já arraigadas de "fazer" política, que não
resiste a um debate mais consistente e consequente. Agora, por ocasião
da mudança dos secretários de Educação e Meio Ambiente - além das
escaramuças e manobras dentro do PT - é interessante observar os
critérios definidos para que este ou aquele cidadão assuma tal
secretaria, todos, indistintamente, visando atender, tão somente, os
componentes políticos. Chegou-se até a falar em currículo, mas apenas
para dourar a pílula. Um professor vai para a Secretaria de Educação e
um biólogo vai para a Secretaria de Meio Ambiente. Faz tempo que
Paulista vem "patinando" nos indicadores do IDEB, entre os municípios
com mais de 200 mil habitantes. Duas gestões socialistas não foram
suficiente para mudar esse quadro. Exatamente por não haver compromisso
com essas mudanças, acomodando pessoas na gestão da máquina apenas para
atender às conveniências de plantão. Na área de meio ambiente, apenas
para ficar num exemplo, acompanha-se a anos, o desmatamento acintoso da
Mata do Frio, uma espécie de pulmão da cidade, juntamente com alguns
outros remanescentes da Mata Atlântica.
Sérgio Leite foi vítima de uma rasteira em Paulista?
Pelo que se pode ler na crônica política pernambucana no dia de hoje, o deputado Sérgio Leite, uma das maiores lideranças políticas do PT no município de Paulista, pode ter levado uma "rasteira" dos companheiros de agremiação nas recentes negociações entabuladas para o partido compor com o Governo do socialista Júnior Matuto. Pelo acordo, o vereador Fábio Barros assumiria a Secretaria de Meio Ambiente, abrindo uma suplência para Aluísio Camilo, também do PT. Também avaliei como muita estranha a celeridade dessas negociações, sobretudo em razão do clima de animosidade entre as duas legendas nas últimas eleições. Parece fazer sentido as especulações em torno de uma escaramuça montada sem o conhecimento de atores importantes da legenda. Sérgio declarou-se surpreso com o fato, falando, inclusive, em expulsão do vereador. Por falar em Paulista, não posso deixar de comentar aqui um dos requisitos para a indicação do verador Tonico para a Secretaria de Educação: trânsito entre os professores. Ele não deveria ser indicado a partir de suas propostas, ou a partir de sua capacidade de realizar os planos de Governo para o setor? É por essa e outras razões que se conclui que essa gestão não será muito bem-sucedida.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Vereador Fábio Barros assume Secretaria de Meio Ambiente de Paulista.
Quando o prefeito Júnior Matuto assumiu a
prefeitura de Paulista, externamos nossa descrença sobre a sua gestão do
município. Fala-se, agora, numa minireforma administrativa cujo
propósito seria o de incorporar o PT ao Governo Municipal. Até
certo ponto, isso implica numa acomodação de forças, algo natural,
inerente ao nosso sistema político. O que nos preocupa é essa mudança
das peças do tabuleiro sem nenhum compromisso programático que pudesse
trazer benefícios aos cidadãos daquele município. Haverá mudanças de
nomes na Secretaria de Meio Ambiente. Assume aquela secretaria o
vereador Fábio Barros(PT), abrindo a vaga de suplência para outro nome
petista, o futuro vereador Aluísio Camilo. A questão que se coloca é:
será que Júnior Matuto trocou essas peças preocupado com o desmatamento
acintoso da Mata do Frio, de nossas saudosas peladas de final de tarde?
Evidentemente que não. Atendeu tão somente aos "arranjos políticos". Sem
tirar a caneta do papel, aproveita a oportunidade para mexer também na
Secretaria de Educação. Apesar de nosso município ostentar um dos piores
indicadores do IDEB entre os municípios com mais de 200 mil habitantes,
também, aqui, o pleito atende, sobretudo, às insatisfações do
Presidente do Legislativo local, vereador Tinoco.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Vai pela direita, Eduardo Campos?
Tem sido
cada dia mais complicado fazer uma clivagem ideológica das tribos
políticas de Brasília. Agora mesmo, por ocasião da fundação do partido Mobiliação Democrática - uma fusão do PPS e PMN - juntaram-se aos
pós-comunistas os senadores do grupo
autêntico do PDT, entre os quais Cristovam Buarque e Pedro Taques, o
touro indomável. Voltou-se a especular, inclusive, sobre a possibilidade
do senador pernambucano compor a chapa de Eduardo na condição de vice,
embora ele mesmo admita que não soma muito. Melhor seria, como sugere,
encontrar um nome de São Paulo, Rio Janeiro ou Rio Grande dos Sul. No
caso específico de Cristovam e Taques pode-se argumentar suas
dificuldades de convivência com os pupilos comandados por Lupi no PDT. O
preocupante é esse alinhamento conservador em torno da candidatura de
Eduardo Campos. O Ciro Gomes, sem papas na língua, já questionou se ele
iria pela direita, não sem alguma propriedade, basta dar uma olhada na
lista de presença dos comes e bebes oferecidos ao governador pelas suas andanças na capital federal. O partido PSB já havia
se tornado num partido catch all, sobretudo depois que Eduardo passou a
manter essa idéia fixa de ser presidente da República. Agora, o seu
líder maior, é que anda pegando as sobras dos descontentes com a gestão
de Dilma Rousseff, sem a mínima preocupação com as suas credenciais
ideológicas.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Eduardo Campos já estaria montando seu quartel-general em Brasília.
Ontem, publicamos aqui uma informação que saiu na coluna do jornalista Cláudio Humberto, onde este informava que, em off, diregentes petistas asseguravam que a candidatura de Eduardo Campos seria uma jogada de Lula para isolar o mineiro Aécio Neves quem, de fato, poderia ameaçar o projeto de reeleição de Dilma Rousseff. A escaramuça consistiria em chamar a atenção para a birra de ambos, desviando o foco do real oponente de Dilma em 2014. A rigor, ninguém levou muito a sério essa informação. O avanço da estratégia que vem sendo montada pelo pernambucano, aumentando o tom das críticas, além de sua personalidade, logo colocaram por terra essa possibilidade. Por falar em estrutura, o comentário é que Eduardo Campos já estaria montando o seu quartel-general em Brasília, auxiliado por jornalistas do Estado e, principalmente, pelo guru Diego Brandy, que o acompanha desde 2006.
Ministério do Trabalho: Raposas de volta ao galinheiro
Curioso esse nosso arremedo de república. Recentemente, contingenciada pelo seu projeto de reeleição em 2014, Dilma precisou distribuir carne com as hienas. São as contingências do presidencialismo de coalizão. Defenestrou Leonel Brizola Neto do Ministério do Trabalho, um duro golpe para alguém que vinha realizando uma gestão austera, removendo os expediente de desvios de recursos públicos naquele órgão. Ser honesto, não foi o suficiente para segurar o seu cargo. Ele precisava de uma capilaridade política que nunca reuniu no PDT. Foi demitido antes mesmo da convenção do partido, numa atitude, além de tudo, deselegante. Agora, as raposas voltam a galinheiro...ops... ao Ministério do Trabalho. Carlos Lupi, o mandachuva da agremiação, conseguiu emplacar nada menos do que o secretário-executivo do órgão. Prevendo eventuais problemas, a presidente Dilma Rousseff escalou Gilberto Carvalho, o "gilbertinho" para ficar de olho nos movimentos de Carlos Lupi no órgão.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Paulista: Azeda relação entre socialistas.
Parecem
ter azedado de vez as relações entre o prefeito de Paulista, Júnior
Matuto, e o ex-prefeito Ives Ribeiro, ambos do PSB. Matuto não era o
nome da preferência de Ives para sucedê-lo. Muito próximo dos Arraes,
Eduardo Campos impôs o seu nome, jogando
seu prestígio pessoal em sua eleição. Foi à minha terra para pedir
votos para o jovem socialista, eleito sem muitas dificuldades. Quem nos
acompanha, conhece nossa opinião a respeito. Recentemente, fizemos
alguns comentários sobre a educação no município, por ocasião do
indicativo de greve dos professores. Paulista vem sendo,
sistematicamente, reprovada no IDEB. Apesar de duas gestões socialistas,
pouca coisa foi feita no setor. Nenhuma inovação, nenhuma criatividade,
nenhum projeto estruturador. Apenas uma gestão burocrática, consoante
arranjos políticos de corte republicano duvidoso. Sabíamos de algumas
dificuldades que o Júnior enfrentaria. A questão é saber se ele reúne
condições para superá-las. Diante desse quadro de dificuldades, a
relação entre ambos, prefeito e ex-prefeito, que já não eram boas,
apenas pioraram nos últimos dias. Há quem assegure que a ruptura é
iminente. O curioso é observar qual seria o caminho a ser seguido por
Ives Ribeiro. As bolsas de apostas garantem que seria o PSDB. Uma
escolha infeliz para um político que sempre prezou a ideologia como um
dos seus balizadores, construindo uma imagem pública de socialista, da
tradicionalíssima Escola Política do Dr. Miguel Arraes. Pay Attention,
Ives!
domingo, 14 de abril de 2013
Planalto avalia candidatura de Eduardo Campos
Curiosa essa avaliação do Planalto sobre a eventual candidatura
presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos: Basicamente,
os analistas da presidência apontam as seguintes dificuldades:
a) a ambiguidade do discurso, ou seja, o governador, certamente,
encontraria muita dificuldade em construir um discurso de contraposição
ao Governo Dilma, na condição de avalista do Governo, além de não
assumir uma condição oposicionista, mas de continuísta. É difícil
entender como o eleitorado interpretaria essa situação. b) As eleições
de 2014, como antecipou o governador gaúcho, Tarso Genro, ainda
permaneceriam polarizadas entre tucanos e petistas, inviabilizando a
construção de uma terceira via. c) Fragilizado em Estados de regiões
estratégicas, o PSB do governador encontraria enormes dificuldades em
compor alianças. d) Diante dessas circunstâncias, Eduardo Campos
recuaria. Neste caso, justifica-se uma atitude ponderada do Governo
Dilma, que deseja contar com o seu apoio no embate político de 2014.
Independentemente dessas ponderações, o Governo Dilma, de acordo com a
colunista Dora Kramer, do Estadão, irá tratá-lo com mão de ferro e luvas
de veludo, permitindo-se escaramuças, como a que ocorreu durante a
inauguração de trecho da Adutora do Pajeú, em Serra Talhada, onde o
ghost writer do Planalto preparou um discurso sob medida para a ocasião,
lembrando ao "Moleque" dos jardins da Fundação Joaquim Nabuco que o seu
governo não iria muito longe sem a injeção de recursos do Governo
Federal. A avaliação do Planalto faz sentido. Por outro lado, Eduardo,
mesmo diante de circunstâncias adversas, se movimenta como pode,
celebrando alianças inusitadas nos Estados onde não existe uma tradição
forte dos socialistas, cooptando insatisfeitos da base governista,
participando de encontros com empresários, BID, líderes religiosos,
aparecendo na propaganda partidária como, efetivamente candidato, enfim,
enviando seu recado para o eleitorado. Isso teria volta? seria apenas
para se cacificar para 2018? Há quem pense que não. Qual, afinal, é o
prazo de validade dessa avaliação do Planalto?
Dilma e Eduardo Campos: Inimigos cordiais
Dora Kramer, O Estado de São Paulo.
A amabilidade que a
presidente Dilma Rousseff confere no trato a Eduardo Campos em sua rota
de dissidência para uma possível candidatura presidencial em 2014,
dissimula o clima de tensão pré-eleitoral que o governo e o PT criam em
torno dele.
É possível detectar a
mesma dualidade no governador de Pernambuco: reafirma sua aliança com o
Planalto e ao mesmo tempo tensiona a relação com um discurso crítico.
Mas aqui vamos tratar de Eduardo Campos apenas da perspectiva do
governo, como é vista a possibilidade de candidatura, se ameaça a
reeleição de Dilma, se haverá retaliação ou se ainda há espaço para um
"meia volta, volver".
Atuar com mãos de ferro
calçadas em luvas de veludo é um conceito difundido por Napoleão
Bonaparte sobre a eficácia da combinação de gestos cordiais com atos
firmes na política, que define bem o espírito da estratégia governista
enunciada no primeiro parágrafo.
O governo não vai brigar -
a não ser quando, e se, a luta for necessária - com Eduardo Campos, mas
também não vai deixar de fazer suas escaramuças para dificultar-lhe a
trajetória em direção à candidatura.
A mais explícita, e
exemplar dó que virá adiante, aconteceu em recente visita da presidente a
Pernambuco, onde fez discurso cobrando lealdade de aliados e
ressaltando que o crescimento do Estado deve-se aos inúmeros e vultosos
(R$ 60 bilhões, segundo dados do Planalto) investimentos federais.
Com isso, atua no campo seguro - por ora o único - do possível desafiante com sua fórmula "dois em um": Dilma e Lula.
O governo tenta limitar
seu discurso de eficácia administrativa a Pernambuco e também esvaziá-lo
transferindo o êxito para a esfera federal, vale dizer, o PT.
O jogo talvez não sei a
assim tão combinado, mas fato é que parte do PT alimenta a tensão
cobrando que o governo o trate desde já como adversário e outro grupo
faz o papel moderado para manter a porta aberta para o caso de recuo.
E por que Eduardo Campos
recuaria depois de avançar tantas casas, mais não seja para acumular
forças para disputa futura (2018) da Presidência?
Na visão do governo, por
causa das enormes dificuldades práticas que terá de enfrentar. Uma
delas, a ambiguidade do discurso, forçosamente de oposição e
pragmaticamente de situação. "Haverá o momento em que terá de se definir
e aí é que começarão as pressões dos governadores, dos deputados e dos
ocupantes de cargos federais", argumenta um ministro do PT.
Ele vislumbra obstáculos
intransponíveis na formação de alianças regionais, na fragilidade da
máquina do PSB em comparação às estruturas do PT, PMDB, do PSDB; e na
disputa por uma vaga no segundo turno com o tucano Aécio Neves.
Outro ministro do PT,
como o citado acima com ótimo acesso à presidente, considera que na hora
das definições ainda prevalecerá a tradicional disputa de petistas
contra tucanos. E acrescenta: "Nos últimos anos quem tentou ser terceira
via saiu das eleições menor do que entrou: Anthony Garotinho, Ciro
Gomes, Heloisa Helena, Marina Silva e Cristovam Buarque".
“Na opinião dele, por
mais que digam que a disputa entre PT e PSDB cansou o eleitorado, a
alternativa não tem sido um espaço político consistente”.
Ambos apostam (torcem?)
que Eduardo Campos pensará melhor e concluirá pelo benefício do passo
atrás. Acreditam que, na hipótese de um segundo turno entre Aécio e
Dilma - nesse momento, no governo, a palavra de ordem é dizer que o
mineiro tem anos luz de vantagem sobre o pernambucano - o governador
ficaria necessariamente com a presidente.
Apontam dois motivos. Um:
porque a disputa da vaga do segundo lugar definirá o nome mais forte da
oposição em 2018. Outro: se Aécio ganhar teria a vantagem da reeleição,
em tese adiando os planos de Eduardo Campos para 2022.
Brasil, brasil, Roberto da Damatta
Brasil, brasil
Roberto Damatta - O Estado de S.Paulo
Escrevi um livro chamado O Que Faz o brasil, Brasil? e
descobri que muita gente lia o seu bizarro título como O Que Faz do
Brasil, Brasil?. Nele, eu confrontava um "brasil" como espaço geográfico
e um "Brasil", um coletivo que legisla sobre si mesmo. Num nível mais
complexo, eu queria confrontar - num momento difícil, pois o livro veio à
luz em 1984 - práticas sociais seculares tidas como inocentes (amizade,
comida, festas, trabalho, religiosidades) mais do que as instituições
recorrentes nas conceituações do Brasil, as quais teimavam em reduzi-lo a
Estado e a "governos" propondo, nas entrelinhas, um regime ideal a ser
um dia milenariamente realizado.
Daí, talvez, o tema da conspiração, o qual, ao lado da comida, do
futebol, do fuxico, da "versão verdadeira", do compadrio e do carnaval, é
um dos traços mais constantes das representações do Brasil. Dela surge a
crença na inveja, no "mau-olhado", como provam as pulseirinhas usadas
pela presidente Dilma, que, suponho, deve ser materialista.
Cresci ouvindo conspirações. A primeira era a do Diabo contra a
castidade. O erotismo nas suas formas mais banais revelava a presença do
Demo em nossos pobres banheiros que só tinham água fria. O Diabo
deturpava nossos pensamentos e, tal como a presidente Dilma disse para
os jornalistas, manipulava os nossos sentimentos. De fato, na hora de
dormir, pensávamos na Gabriela e, em vez dela surgir no seu vestido
rendado, ela aparecia nua, denunciando o pecador oculto dentro do
rapazinho inocente.
Um dia, conversando sério com um amigo, pensamos em amputar nossas
mãos. Ele havia feito a tentativa de paralisá-las, mas o resultado
promoveu um pecado ainda mais delicioso, porque "minha mão parecia ser
de outra pessoa!", disse num lamento.
Mais tarde, já frequentando um curso de História que, diziam, não
levava a coisa alguma e era destinado a incapazes e mocinhas, um colega
mais politizado - um realista - me ensinou como os Estados Unidos tinham
um plano conspiratório contra o Brasil, o qual era encabeçado por Gene
Kelly, Donald O'Connor e Debbie Reynolds por meio de um manifesto
chamado Cantando na Chuva.
O mundo não era o que eu via, era um lugar de conspirações e
deturpações. De lutas veladas do Bem contra o Mal em suas mais diversas
encarnações, e somente o confronto no espelho da "conscientização" nos
livraria de uma inocência útil.
Passei, pois, de pobre pecador solitário a inocente útil coletivo,
aliado inconsciente do grande Demônio chamado Estados Unidos que todos
nós, inclusive os meus mentores, consumíamos em filmes, moda e livros,
desbragadamente.
Ainda hoje um lado meu diz que tudo conspira. De uma certa
perspectiva, o filme é um mero musical, mas do ponto de vista da tela
trata-se de uma maldita conspiração. Mude-se o ponto de vista e o mundo
muda de figura: a música que canta o amor eterno vira ideologia. O mesmo
com a pintura de Victor Meirelles, Parreiras, Pedro Américo e de Amoedo
(apreciada pelo meu avô Raul) e com os livros de Machado de Assis, um
dos meus mentores ideológicos que considerava um alienado porque ele não
fora capaz de denunciar a "luta de classes" existente no Brasil.
Esse era um mundo de verdades e mentiras no qual víamos os problemas
políticos e sociais como doenças e imposições das quais podíamos nos
livrar tomando os remédios e as medidas apropriadas. Nele não havia
contradição de valores, mal-entendidos, má-fé nem consequências não
previstas de falas e comportamentos. Você, diziam, tem direito de fazer o
que quiser, porque é livre, mas não pode casar com uma negra; não há
nada de mais em adotar políticas opostas para um mesmo problema, como
nada impede que o Congresso Nacional coloque na Presidência de uma
Comissão de Ética um homofóbico fundamentalista. Deus só fazia o bem e o
Diabo, o mal. Não se suspeitava do seu nível de interdependência,
aliás, sabia Santo Agostinho.
Vivi um Brasil que desconhecia a força das pequenas coisas - das
comidas, da saudade e das festas de aniversário: dos favores e dos
amores. Um Brasil crente que as "criadas", as "amas" e as "aias" eram
parte da família.
Saudosismo? Nada disso. Quero, isso sim, ajudar a ver o Brasil
"inocente" cara à cara com o das conspirações. Um Brasil que, pelo que
vejo, ainda se pensa que pode resolver tudo pela lei e pelo decreto.
Repercutiu nas redes sociais
É do cartunista Angeli o mais eloquente documento contra a redução da maioridade penal.
Um recado perfeito para quem esquece da necessidade de um grande projeto de educação.
E para políticos oportunistas.
Um recado perfeito para quem esquece da necessidade de um grande projeto de educação.
E para políticos oportunistas.
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- Clistenes Nascimento, Sidnei Pires e outras 2 pessoas curtiram isso.
- Fernando Spanghero · 23 amigos em comumO grande problema é que há sempre um idiota que imbeciliza um assunto sério. Não dá mais para ver assassinos de 17 anos matando a torto e a direito, sob o amparo de uma legislação arcaica, anacronica, injusta e sem consonancia com a realidade do país e do mundo. Se pode casar, dirigir, votar, fumar maconha, matar e asaltar, pode pagar pelos seus crimes perante a lei e a sociedader.
- José Luiz Silva O Brasil possui uma das legislação mais avançadas sobre esse assunto. Independentemente dos humores de conveniência ou as indignações em relação a delitos cometidos por menores, a questão fundamental é se a redução teria alguma eficácia no que concerne aos crimes cometidos por eles. Parece-nos que não.
- Fernando Spanghero · 23 amigos em comumClaro que tem Sidnei. Os menores hoje matam em razão da impunidade, além da questão da facilitação. Qualquer bando de aloprados tem um menor no meio, exatamente para que os maiores cometam os crimes e eles assumam a responsabilidade. Em razão da inimputabilidade saem logo das Febems e Funasas da vida e voltam a delinquir.
- Fernando Spanghero · 23 amigos em comumQuanto ao José Luiz, é verdadeiro que o Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo nese campo. Contudo é absolutamente ineficaz, por sua impraticabilidade. Não adianta avança na legislação se a realidade factual do País não lhe permite aplicá-la. A grande questão a se discutir não é a existencia ou não de uma legislação avançada. É, em verdade, se esta legislação vai ser realmente e rigorosamente cumprida pelo ordenamenteo juridico do País. A legislação feita para os menores é impraticavel de ser aplicada em razão da nossa realidade sócio econômica, dentro de nossa realidade jurídica, e, sobretudo em razão de nossa realidade poilítica/social. Fazer leis para não serem cumpridas é nãolegislar. Países de situação social amplamente superiores a nossa não fazem este tipo de lei, por nção poderem cumpri-la. Imagine-se um lugar feito o Brasil, onde lei e justiçã não caminham em paralelo, e, em geral os delinquentes tem mais direito do que os cidadãos de correta conduta. Lei boa é a que se pode cumprir, e esta, não se cumpre. Faz o que, continua deixando matar ???!!
Luis Fux ainda no olho do furacão.
Ainda repercute nas redes sociais a conduta do Ministro do Supremo
Tribunal Federal, Luis Fux, no sentido de garantir sua indicação para o
STF. Wálter Maierovitch, colunista da revista Carta Capital, relembrando
a cerimônia do beija-mão, comenta que a lista dos nomes procurados pelo
então membro do STJ é imensa. Vai desde membros do MST a Paulo Maluf, o
que indica que os critérios ideológicos nunca estiveram nos horizontes
de Fux. A princípio, fazer lobby, conforme comentamos, não é crime. O
enredo desses diálogos impertinentes, no entanto, envolvem algumas
questões no mínimo questionáveis sob o crivo da ética, sobretudo
partindo de alguém que pleiteava a indicação para a Suprema Corte do
país. Segundo comenta-se, essa seria a terceira tentativa de Fux em
entrar naquela Corte. Morubixabas petistas asseguram que ele teria
prometido "matar a bola do Mensalão no peito", caso fosse o indicado. No
olho do furação, o ministo recusou-se a comparecer a um desses
"cozidos" oferecidos a ele recentemente.
"Diálogos pelo Maranhão" alavanca candidatura de Flávio Dino.
Através
dos seus "Diálogos pelo Maranhão", o grupo que se reúne em torno da
candidatura de Flávio Dino(PCdoB) ao Governo daquele Estado, começa a
discutir suas proposta com a população.
Preterido pelo PT no pleito passado, o presidente da Embratur, desta
vez, articula com a direção nacional da agremiação o apoio à sua
candidatura, com o aval do Planalto. Trata-se de uma obra de engenharia
política complexa, uma vez a família Sarney(PMDB) é aliada de longas
datas do PT. O apoio dos petistas à então candidata Roseana Sarney, nas
últimas eleições, provocou uma tremenda saia-justa entre a Executiva
Nacional da legenda e o diretório do partido naquele Estado. Saia-justa,
na realidade, é um eufemismo. Tratou-se de estupro ideológico, obrigar
militantes históricos como o líder componês Manuel da Conceição a apoiar
a candidatura de uma Sarney. Houve até greve de fome e outros protestos
na Câmara Federal, conforme os registros fotográficos. A candidatura de
Flávio está dentro das prioridades do PCdoB. O pleito do partido foi
posto na mesa de Dilma para 2014. Dilma, pessoalmente, nutre uma grande
admiração por Flávio Dino. Seu sotaque de militante identifica-se
bastante com o companheiro que representa a maior oposição aos Sarney
naquele Estado. Manuel da Conceição, para quem não se lembra, foi o
primeiro candidato ao Governo do Estado de Pernambuco pelo PT. Daqueles
tempos em que o partido se reunia no Sindicato das Empregadas
Domésticas.
sábado, 13 de abril de 2013
O que é democracia: Uma ideia tantas vezes subvertida
O que é democracia: Uma ideia tantas vezes subvertida
A ideia de um governo da maioria é frequentemente
subvertida para se prestar aos mais variados interesses. Numa época em
que é cada vez mais intenso o debate sobre os direitos das minorias,
estas considerações da historiadora indiana Romila Thapar são bastante
importantes
11 de Abril de 2013 às 15:16
Por Romila Thapar - Por solicitação da Unesco
Em O Fim da História, o pensador norte-americano Francis Fukuyama
dizia que, com o colapso do comunismo, a democracia e o capitalismo se
firmaram como os grandes vitoriosos entre todos os sistemas e ideologias
existentes. Mas democracia é um conceito esquivo, como se tem visto
muito recentemente.
O Ato Patriótico, assinado pelo ex-presidente norte-americano George
W. Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001, por exemplo, ia
contra uma série de direitos civis. Há dúvidas consideráveis a respeito
de os atuais regimes da Venezuela e do Irã poderem ser considerados
democracias. A historiadora indiana Romila Thapar, professora emérita da
Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Delhi, analisa a seguir os
vários aspectos que cercam a ideia de democracia.
Democracia: dois lobos e um cordeiro escolhem o prato do jantar. Liberdade: Um cordeiro bem armado contesta a escolha dos lobos.
Nas cidades-estado gregas, os escravos eram a maioria
O ideal democrático nunca foi totalmente traduzido na prática. Muitas
das chamadas sociedades democráticas do passado foram sequestradas e
tornaram-se oligarquias em que a retórica democrática era usada para
preservar a ficção de que o grupo dominante representava a maioria.
As cidades-estado gregas, por exemplo, são frequentemente citadas
como as primeiras democracias, mas é convenientemente esquecido que,
nelas, o número de cidadãos livres era superado pelo de escravos e estes
não eram representados nem tinham qualquer direito. À luz da
experiência histórica, como a democracia pode ser adaptada às
circunstâncias atuais?
Nos tempos modernos, a democracia tem sido frequentemente associada
ao Estado-nação. Mas talvez não devêssemos esquecer a experiência das
unidades políticas e sociais menores que, no passado, foram governadas
adotando programas semidemocráticos.
Aqueles que buscaram dotar o Estado-nação de uma identidade,
associando-o à classe média ou a um grupo regional, linguístico, étnico
ou mesmo religioso, afirmaram estar fazendo isso em nome da democracia.
Às vezes, tem-se argumentado, essas comunidades eram fictícias e sua
identidade ostensiva camuflava aspirações ocultas.
Ao equiparar-se a identidade do grupo ao nacionalismo, as causas
democráticas e nacionais se uniram. Mas, nesses Estados-nações, o
funcionamento da democracia era limitado pelo nacionalismo ao qual
estavam ligados. Agora que o Estado-nação está sendo cada vez mais
questionado, devemos também questionar a democracia - ou certos tipos de
democracia?
Uma questão que poderia ser feita é se a democracia pressupõe o
secularismo. Em muitas partes do mundo, a religião está sendo manipulada
politicamente numa escala sem precedentes. Ao dizer isto, não estou
contestando o direito de as pessoas praticarem sua fé, mas a maneira
como vários políticos e fundamentalistas distorceram esse direito. Se
questionar a função pública da religião leva necessariamente ao
secularismo, então isso poderia incentivar a promoção de outra abordagem
para a democracia, especialmente em sociedades nas quais várias
religiões existem lado a lado.
As minorias já sabem que não podem ser excluídas
A democracia implica representação e decisões baseadas nas opiniões
da maioria. Mas o que constitui uma maioria? Se é simplesmente uma
questão de número de votos nas eleições, isso abre caminho para fraudes
eleitorais ou para a mobilização de apoio da massa por ideologias que
parecem abraçar uma variedade de causas, mas que, na realidade, não são
mais do que um mecanismo para atrair e controlar um grande número de
pessoas.
Penso aqui sobre o tipo de populismo reacionário baseado em raça ou
religião que repetidamente causou tensões e violência em muitas partes
do mundo. Nos interesses de uma verdadeira democracia, valeria a pena
considerar como tais movimentos podem ser impedidos de impor sua
definição de governo da maioria, especialmente quando as comunidades
religiosas são exploradas politicamente, como parte de uma agenda
supranacional oculta.
O moderno Estado-nação também enfrenta o problema de acomodar as
culturas minoritárias, as quais estão cada vez mais conscientes de que
não podem ser excluídas da maioria democrática. Esse problema poderá se
tornar especialmente agudo nos países industrializados, onde grupos
nitidamente diferentes têm sido reunidos à força por meio de conexões
coloniais passadas e necessidades econômicas presentes, e onde uma
maioria numérica é, por vezes, reduzida à condição de uma minoria
política. Nas ex-colônias, onde tais conflitos também são conhecidos, os
grupos divergentes pelo menos compartilham normalmente alguma herança e
história comuns.
Se a maioria é simplesmente uma questão de número de votos nas
eleições, o processo abre caminho para fraudes eleitorais. Segundo
analistas políticos ocidentais, isso teria ocorrido nas últimas eleições
iranianas, nas quais o candidato governista Mahmud Ahmadinejad foi
reconduzido ao cargo.
A melhor maneira de entender a correlação entre cultura e democracia é
examinar a maneira pela qual os indivíduos ou grupos escolhem sua
identidade e percebem a diferença entre eles e os outros. Em parte, esse
é o resultado da socialização precoce. Também pode nascer de tensões e
conflitos, que aguçam a percepção das pessoas sobre sua identidade.
Por que, aliás, o Estado-nação deve insistir em uma única identidade?
Afinal, as pessoas têm identidades múltiplas. A esterilidade de uma
identidade única poderia ser substituída por uma multifacetada,
envolvendo padrões sociais e culturais mais complexos. A democracia
multifacetada também seria mais difícil de controlar politicamente.
A democracia representativa muitas vezes acaba com o poder removido e
distante do cidadão. Agora que o cinema, a televisão e a publicidade
entraram todos em ação, os supostos representantes do povo se veem
dirigindo-se a audiências que não podem sequer ver.
A verdadeira representatividade deve ser baseada em alguma referência
lastreada nos eleitores, que também devem manter o direito de cassar
seus representantes, se assim o desejarem. Esses direitos aparentemente
negativos podem fornecer um corretivo essencial para a tendência de os
representantes se transformarem em personalidades influentes.
O mercado livre tem suas qualidades, mas pode também prestar-se a outros tipos de demandas ditatoriais, como a do consumismo.
O colapso de algumas economias socialistas levou os povos desses
países a uma esperança desesperada de que o mercado livre iria
protegê-los do ressurgimento de regimes totalitários. Mas a experiência
de outros países mostra que o mercado não pode fazer isso. Infelizmente,
ele pode prestar-se igualmente bem a outros tipos de demandas
ditatoriais - do consumismo, da indústria de armamentos, das corporações
multinacionais e de outros interesses.
Tais demandas, que corroem a igualdade de oportunidades e a justiça
social, só podem ser combatidas por um sistema econômico justo e um
sistema jurídico que seja acessível a todos os cidadãos e impeça a
erosão dos direitos humanos e a anulação da dignidade humana.
No entanto, qualquer sistema pode ser prejudicado, maltratado ou
anulado se aqueles que o controlam não puder em ser contestados.
Instituições que supostamente agiriam como vigilantes muitas vezes
acabam por favorecer os abusos que deveriam evitar.
A articulação da discordância e do protesto
é imperativa para os sistemas democráticos. Mesmo nas sociedades
democráticas, quando se ensinam às crianças seus direitos e deveres,
raramente se dá atenção a seu direito de discordar. A conformidade é um
prêmio, e a discordância é desaprovada ou ignorada. O sujeito submisso,
em vez do indivíduo autônomo, é considerado o cidadão ideal.
Em defesa do caso do indivíduo autônomo, não estou defendendo uma
sociedade anárquica. Indivíduos autônomos não se estabelecem para
destruir a sociedade; eles estão preocupados em mudá-la por meio de
maneiras criativas. Eles não necessariamente fazem parte da estrutura do
poder em si, mas comentam sobre isso e, se for necessário, protestam
contra ações específicas tomadas pelos detentores do poder. Enquanto se
aceitar que há espaço para a autoridade moral, bem como a autoridade
política e social na gestão da sociedade, essas pessoas sempre terão um
lugar no processo democrático.
(Publicado originalmente na Revista Oásis)
O equilíbrio instável de Fernando Bezerra Coelho
Fernando Bezerra Coelho, que possui uma grande
capacidade de trabalho, vem demonstrando também uma grande capacidade
de equilibrista. Espremido entre o Campo das Princesas e o Palácio do
Planalto, FBC precisa fazer um contorcionismo enorme para
manter-se fiel ao seu padrinho político no Estado, o governador Eduardo
Campos, e à sua chefe imediata, a presidente Dilma Rousseff. Suas
declarações são extremamente ponderadas para não ferir
susceptibilidades. O ministro vive, no jargão da Ciência Política, uma
situação de equilíbrio instável. Não raro, surgem alguns oportunistas
tentando inflamar o clima já tenso entre o ministro e o governador
Eduardo Campos. Diplomaticamente, considera a possibilidade de Eduardo
Campos não sair da base aliada e encampar o apoio ao projeto de
reeleição de Dilma Rousseff. Mais solto, sem a presença de gente do
Governo Federal, derramou-se em elogios ao chefe do Executivo Estadual
em encontro recente no sertão do Estado, argumentando que o "Moleque"
dos jardins da Fundação Joaquim Nabuco não é apenas um homem de pedra e
cal, mas um grande formador de equipes.
Carrocinha de pipoca, uma crônica de Luis Fernando Veríssimo.
Luis Fernando Veríssimo - O Estado de S.Paulo
Eu sei que a coisa é séria. Se o Kim Jong-un disparar
mesmo os foguetes que está ameaçando disparar contra bases americanas na
Ásia, teremos uma guerra nuclear com dimensões e consequências
imprevisíveis. Mas lendo sobre o perigo iminente não pude deixar de
pensar na história do homem que foi atropelado por uma carrocinha de
pipoca. Era um homem cauteloso que olhava para os dois lados antes de
atravessar a rua e só atravessava no sinal, e que dificilmente um carro
pegaria. Mas que um dia não viu que vinha uma carrocinha de pipoca, e
paft. Já no ambulatório do hospital, onde lhe deram uns pontos no braço,
o homem disse que tinha sido atropelado por um motoboy. Em casa, contou
que tinha sido atropelado por um carro e só por sorte escapara da
morte. Naquela noite, para os amigos que souberam do acidente e foram
visitá-lo, especificou: tinha sido atropelado por um BMW. No dia
seguinte disse aos colegas de trabalho que tinha sido atropelado por um
caminhão e não sofrera mais do que um corte no braço por milagre. E
quando um dos colegas de trabalho comentou que tinha visto o acidente e
vira o homem ser atropelado por uma carrocinha de pipoca, gritou:
"Calúnia!".
Por que me lembrei do homem que tinha vergonha de ter sido atropelado
por uma carrocinha de pipoca? Desde o fim da Guerra Fria a
possibilidade de um confronto nuclear entre duas potências, os Estados
Unidos e a Rússia, diminuiu, mas os estoques de armas nucleares
continuaram e sua proliferação também. Israel se segura para não usar
seus foguetes para destruir as bombas nucleares que o Irã está ou não
está construindo, Índia e Paquistão vivem comparando seus respectivos
arsenais nucleares como guris comparando seus pipis, a França e a
Inglaterra têm a bomba... Enfim, ainda se vive num frágil equilíbrio de
terror possível, exigindo de todos os nucleares um cuidado extremo, um
cuidado de atravessar a rua sem serem atropelados pelo imprevisto. E aí
aparece o Kim Jong-un empurrando uma carrocinha de pipoca em alta
velocidade...
Thatcher. Margaret Thatcher, aquela que encantou tantos com sua
sentença de que sociedade não existe, lutou duas grandes guerras: uma
contra o sindicato dos mineiros ingleses e outra contra os argentinos
para que as ilhas Malvinas continuassem Falklands. Esta última teve mais
mortos mas foi mais fácil. Sua vitória sobre os mineiros arrasou com os
sindicatos e lhe deu forças para arrasar com o sistema de bem-estar
social da Inglaterra e sua vitória sobre os generais de opereta da
Argentina lhe rendeu glória e votos. No seu prontuário, além dos mortos
para conservar um cisco do império no Atlântico Sul estão presos
irlandeses em greve de fome que ela deixou morrer e todas as vítimas do
neoliberalismo triunfante.
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