pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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terça-feira, 6 de outubro de 2015

Crônicas do cotidiano: Pelas terras de quilombos do Maranhão, na garupa de uma moto.



Quando, em 2003, um dos equipamentos da Fundação Joaquim Nabuco passou por um processo de requalificação física e conceitual, foi nos incumbidos que ficássemos num grupo de trabalho relativo à escravidão negra na região Nordeste; as revoltas e lutas anti-escravocratas; bem como a situação atual dos grupos remanescentes de quilombos. Isso nos contingenciou a uma viagem ao Estado do Maranhão, onde tivemos contato com várias entidades representativas dessas comunidades - também tratadas por lá de federações - inclusive uma ligada à defesa das comunidades atingidas pela implantação da Base de Lançamento de Foguetes de Alcântara, com a qual até hoje mantemos contatos frequentes.

Montado na garupa de uma moto, visitei várias comunidades quilombolas da região, onde fizemos registros fotográficos e entrevistas com várias lideranças locais. Já, então, mantínhamos um certo interesse sobre o assunto, em razão das visitas frequentes que fazíamos com os alunos à comunidade quilombola de São Lourenço, localizada no distrito de mesmo nome, em Goiana, cidade da Mata Norte do Estado. Isso nos facultou a oportunidade de estabelecermos contatos com os mais bem reconhecidos estudiosos sobre este assunto, no campo acadêmico, sobretudo concentrados nas universidades federais da Bahia e Rio de Janeiro. Não sei como se encontra esta situação hoje, mas, à época, eram esses centros acadêmicos que abrigavam os maiores especialistas no assunto. 

Talvez hoje tenha havido mudanças nesse eixo de estudos e pesquisas sobre o assunto. Na própria UFMA,  há várias linhas de pesquisa  na pós-graduação envolvendo os grupos remanescentes de quilombos. Alfredo Wagner Almeida, uma das maiores autoridades acadêmicas sobre este assunto, chegou a passar um período como professor visitante daquela universidade.Por essa época, ainda eram realizados os tais laudos antropológicos, uma condição legalmente exigida para a concessão do título de terra de quilombos. A pressão dos grupos quilombolas organizados permitiu avanços importantes na legislação, sobretudo a partir do Governo Lula. Auxiliado por alguns estudos e entrevistas, chegamos a elaborar um painel, com a impressão desses estudiosos, sobre os reflexos desses 365 anos de regime escravocrata sobre o país. Infelizmente, não se tornou possível a sua publicação. 

Embora do ponto de vista conceitual a exposição tenha avançado bastante - no sentido de construir uma unidade imagético-discursiva mais consistente sobre o assunto - ainda não foi possível superar as resistências a essa "dizibilidade", para usarmos um conceito de Gilles Deleuze, no seu circuito expositivo.Guardo essas entrevistas e anotações até os dias de hoje. Não sei se podemos atribuir unicamente a Joaquim Nabuco a antevisão ou a preocupação de constituição de um projeto para os (ex)escravos, oriundos das lavouras de cana-de-açúcar, analfabetos, sem formação profissional, sem terra, sem teto, sem nenhum amparo social do Estado. As nossas leituras dizem que não, embora a "estratégia de consagração" criada em torno do abolicionista pernambucano nos desmintam sistematicamente. Por outro lado, é profundo o nosso reconhecimento sobre essa sua preocupação, das mais atinentes. Por ali, criamos uma sociedade tão hierarquizada como a nossa. 

O fato concreto é que, cento e cinquenta anos depois, a população negra deste país continua , em certa medida, ainda sendo vítimas preferenciais das injustiças sociais, da discriminação, do preconceito, da ausência de oportunidades, da intolerância.Quando são divulgados os dados dos indicadores sociais ou mesmo nos casos cada vez mais frequentes de intolerância, isso não nos permitem qualquer dúvida. Perfil do analfabeto brasileiro: mulher, negra, velha e pobre. Perfil dos menores em situação de vulnerabilidade social: negro, fora da escola, sem inserção produtiva. Entre os índices de assassinatos no país, em 2012, 77% são de jovens negros. No Rio de Janeiro, esse escore chega a 79%. Para vocês que gostam de estatísticas, um bom exercício seria verificar quantos desse percentual foram mortos em ações da Polícia Militar - a que mais mata no mundo - ou mesmo vítimas de grupos de extermínio.

Emblematicamente, no Estado do Maranhão, um jovem de 27 anos, acusado de assalto, foi amarrado em um poste - cumprindo a tradição de nosso passado escravocrata - e brutalmente espancado até a morte. O fato alcançou repercussão internacional. Depois da sanha vingativa, com mais calma, um jornalista resolveu checar a vida de crimes do rapaz. Nada foi encontrado. Nenhuma passagem pela polícia. Nunca respondeu a nenhum processo, muito menos por esse delito. Certamente, ninguém será responsabilizado por sua morte. 

Até recentemente, alguém teve o cuidado de postar nas redes sociais a "galeria" recente desses linchamentos: Curiosamente, não aparecem brancos. Curiosamente, também, num dado recente sobre a morte de adolescentes no Brasil, o Estado de Alagoas aparece como o Estado mais vulnerável para esses jovens, sobretudo naquela região conhecida como terra de quilombos, na zona da Mata do Estado, onde esses jovens, com idade que varia entre 18 e 22 anos, estão sendo dizimados. Chacinas envolvendo jovens negros são muito comuns naquela região. Quem tiver a preocupação de realizar uma pesquisa no Google sobre estas cidades, antes de visitá-las, pode desistir de conhecê-las.

Os chargistas tem uma imaginação muito fértil para traduzir a nossa realidade. Um deles, possivelmente o Renato Machado - não tenho certeza sobre o autor, em razão de não encontrar mais a charge - em meio ao clamor em torno das mortes por "justiçamento", concebeu um desenho magnífico: numa rua da cidade, havia as vagas para os carros, um bicicletário e uma espécie de local destinado exclusivamente para esses "justiçamentos", muito bem sinalizado inclusive. A serem mantidos os índices atuais de intolerância, não estranharia que esse cartunista apenas tenha se antecipado aos fatos. Práticas fascistas foram verificadas nas mobilizações pró-impeachment de agosto, e até mais recentemente, durante o velório de Luiz Eduardo Dutra, do PT. Parece mesmo que as coisas não mudaram muito desde então.

Tijolinho do Jolugue: O Dilma Bolada era uma bola furada




Há uma polêmica muito grande tem torno do financiamento dos blogs. Alguns blogs são financiados por bancos estatais, outros recebem ajuda das empresas de comunicação que prestam serviços ao Governo; outros são auto-financiados, ou seja, os próprios leitores os mantém; alguns, em casos mais raros, recebem a contribuição de anunciantes; outros, ainda, trabalham e defendem bandeiras sem receber nenhum centavo de ninguém. Nos enquadramos neste último caso. Há todo um lobby da blogosfera no sentido de que parte das verbas federais - bastavam as migalhas que caem da mesa da mídia golpista, financiada pela publicidade estatal - fossem destinadas à blogosfera. 

Aqui, certamente, vamos ter uma longa batalha pela frente. Mas, o que provocou esse nosso post é a mudança de atitude do senhor Jeferson Monteiro, responsável pelo grande sucesso do Dilma Bolada. Este cidadão, através das redes sociais, defendeu durante muito tempo - e de forma ardorosa - o Governo da presidente Dilma Rousseff contra os seus algozes. O sucesso do Dilma Bolada era tão grande que ele chegou a ser "cortejado", segundo dizem, pelo pessoal ligado ao senador Aécio Neves. Especulações também dão conta de que o Dilma Bolada recebia uma bolada de R$ 20 mil reais por mês, através de uma empresa de mídia que presta serviços ao Planalto nessa área de mídias sociais. 

Há rumores de que, diante das circunstâncias nada favoráveis, essa verba deixaria de ser repassada para o Dilma Bolada. Durante a reforma ministerial, Jeferson teria aproveitado a "deixa" para "romper" o namoro com Dilma Rousseff, argumentando o ciúme pelo PMDB. Pelo andar da carruagem política, percebe-se aqui que o rapaz não seria movido por nenhum ideal ou convicção política, mas prestava apenas um serviço remunerado. Quando o serviço deixou de ser remunerado, ele deixou de prestá-lo. Simples assim. Não estranha, portanto, que possamos ter a novidade, nos próximos dias, de um Aécio Bolado. Com o rapaz, entretanto, aconselha-se aquela máxima aplicada aos homens que se envolvem com mulheres que traem: Se ela fez com ele vai fazer comigo.

Tijolinho do Jolugue: Luciano Agra foi o melhor prefeito de João Pessoa.



Um ano antes das próximas eleições municipais já começam a pipocar as pesquisas de opinião no Estado da Paraíba. São tantos os problemas envolvendo esses institutos de pesquisa que fica difícil até mesmo enumerá-los para os nossos leitores. Com isso, entretanto, não queremos dizer que não haja institutos de pesquisas sérios naquele Estado. Mas é que os esquemas envolvendo alguns desses institutos são tão grotescos, que colocaram no limbo o pouco de credibilidade dos demais, aqui incluso os institutos sérios. Portanto, quando surgem algumas pesquisas naquele Estado, logo nos vem à mente as inúmeras falcatruas e manipulações recentes. 

Um colega, jornalista e blogueiro daquele Estado, nos aconselhou a ficar atento apenas às pesquisas realizadas 03 meses antes das eleições. Nesta fase, os institutos deixariam de "inflar" determinados nomes blindados pelo poder econômico e pela mídia, com medo de perder sua própria credibilidade. Ou o pouco que resta dela, melhor dizendo. Em meio ao embate que deverá ser travado, mais uma vez, entre os ricardistas e os cassistas pelo controle da Prefeitura de João Pessoa, nas próximas eleições municipais de 2016, surge uma pesquisa apontando que o ex-prefeito Ricardo Coutinho(PSB) - hoje governador - é considerado, para 70% da população pessoense, como aquele que mais fez pela cidade.

Não desconsidero que ele tenha realizado uma boa gestão. Chegamos até mesmo a escrever sobre o assunto, em artigo. Por outro lado, não se pode desprezar os dois anos e meio da gestão de Luciano Agra, na época, seu aliado - que ficou na prefeitura quando ele, Ricardo, candidatou-se ao Palácio da Redenção. Ouso discordar dos ricardistas, informando que a melhor gestão da cidade de João Pessoa foi realizada pelo saudoso homem público Luciano Agra, que morreu até recentemente, vítima de um AVC. Uma pena que as injunções políticas e as ingratidões o tenham afastado da vida pública. Penso que Agra morreu de desgosto.

Quanto ao desgaste do atual gestor, Luciano Cartaxo - eleito com o apoio decisivo de Agra - já seria esperado. Primeiro, porque os eleitores não perdoam traidores. Depois, para completar o enredo, sua justificativa para afastar-se da legenda não convenceu a ninguém. Seu argumento de que estava saindo em razão dos problemas de corrupção da legenda soaram absolutamente falso. Sua saída já envolveriam articulações em torno das eleições municipais de 2016. Especula-se que ele deverá receber o apoio do senador Cássio Cunha Lima. Não preciso dizer mais nada. 


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Petista bom é petista morto?



Os índices de intolerância no país passaram de todos os limites. Pessoas inocentes estão sendo trucidadas nas ruas, amarradas em tronco, para não fugirmos à tradição do nosso passado escravocrata nebuloso. Creio que 100% das pessoas que foram "justiçadas" até recentemente - acusadas de roubo e outros delitos - eram inocentes.Quem não lembra daquela jovem, no Rio de Janeiro, morta por pauladas e apedrejamento, acusada de sequestrar uma criança para rituais de magia negra? E aquele jovem, no Maranhão, amarrado num tronco, espancada até a morte? Já perdi a conta de quantos homossexuais foram vítimas fatais, movidos pelo mais atroz preconceito. O último caso ocorreu na periferia de Salvador, quando dois jovens gêmeos caminhavam de mãos dadas e foram confundidos como homossexuais. 

No Estado do Rio de Janeiro está ocorrendo o fenômeno da criminalização da pobreza, ou seja, jovens negros da periferia estão sendo proibidos de frequentaram as praias dos bacanas, que residem em Copacabana. A Polícia Militar monta barreiras e os reembarcam de volta aos seus bairros de origem.Já ocorreram até alguns incidentes, quando jovens sarados da classe média agrediram adolescentes negros ainda dentro dos coletivos. A vítima mais recentes desse ódio sem controle foi o ex-dirigente da Petrobrás, ex-presidente nacional do PT e ex-senador, Luiz Eduardo Dutra, que morreu no dia ontem. Hoje, 05/10, quando amigos e familiares se despediam do companheiro, um carro passou pelo local e atirou alguns panfletos com os dizeres: Petista bom é petista morto. Trata-se de uma falta de respeito inominável. Falta-nos adjetivos para qualificar o ato. Talvez uma era das trevas, do obscurantismo. 

Eu tento imaginar aonde nós vamos parar. Uma sociedade dilacerada socialmente - este é um dado histórico - e hoje desenvolvendo hostilidades de parte a parte, com consequências funestas. A presidente Dilma Rousseff já não governa mais. Tornou-se uma espécie de rainha da Inglaterra. Entregou os anéis e os dedos a essa gente. Áreas estratégicas? não mais existem. Programas sociais? praticamente todos estão comprometidos. Logo a curva ascendente da diminuição da extrema pobreza no país estará estacionada, com a perspectiva de declinar, realimentando os bolsões de miséria que os governos de coalizão petista tentaram combater. 

Já estamos vivendo sob o signo do fascismo, da barbárie, do segregacionismo, ampliado pelos contingenciamentos políticos, pelas dificuldades da economia, e uma ajudinha de uma mídia irresponsável. A máquina pública, nas suas três esferas, perde gradativamente sua capacidade de financiamento. Questionado a respeito das ações da Polícia Militar no Estado do Rio de Janeiro, o Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, informou não ver nenhum problema nas ações da PM. No Rio Grande do Sul e no Ceará, membros graduados da PM pediram a "ajuda" da população no combate à violência. É aquela "ajuda" que vocês estão pensando mesmo.  


domingo, 4 de outubro de 2015

Editorial: Renato Janine: De como não fui ministro



Há um texto de Machado de Assis - creio ser as As Memórias Póstumas de Brás Cubas - onde um capítulo completo é dedicado às agruras do personagem Brás Cubas, no campo político. O capítulo tem o sugestivo título: De como não fui ministro. Eis aqui uma situação que pode ser muito bem aplicada à pasta da educação, nesses 10 meses de Governo Dilma - perdão pelas formalidades -, onde três ministros já ocuparam o cargo. Quero me deter mais no nome do filósofo e professor de Ética, da USP, Renato Janine Ribeiro, o último a deixar a cadeira de ministro. Como não sou hipócrita, fiz poucos amigos ao longo dessas cinco décadas. No circuito acadêmico, então - e por razões óbvias - esse número é ainda mais reduzido. 

Mas, Renato e eu temos um amigo em comum, na Fundação Getúlio Vargas. Hoje ele é uma estrela de projeção nacional, mas nossa amizade começou no tempo das vacas magras, das dificuldades de condução de um curso de mestrado. Ele na USP e nós aqui pela província, na gloriosa UFPE. Ambos estudávamos o Partido dos Trabalhadores e trocávamos muitas ideias.  Mais tarde, o reencontro também se daria pelas redes sociais. Por vezes, o nosso diálogo girou em torno do que seria a gestão de Renato Janine no Ministério da Educação. Na realidade, para sermos sincero, não deu nem para sentirmos esse gostinho. Havia uma grande expectativa em torno de sua gestão à frente daquele ministério. Ele emprestaria ao Governo Dilma não apenas o verniz acadêmico e ético, mas uma proposta de gestão que poderia mudar a face da educação do país. Assim se pensava.

Não dava, entretanto, para fazer muita coisa por ali mesmo.Constrangimentos políticos e econômicos tiraram o status de área estratégica que aquela pasta sempre ocupou nos governos de coalizão petista.Não há recursos, não existem condições políticas favoráveis. Na realidade, a saída de Renato pode ser entendida, tão somente, dentro de uma perspectiva de "acomodação" do senhor Aloizio Mercadante, que perdeu a Casa Civil. A despeito da resistência de Lula, da base "aliada", de setores do PT ao seu nome, Mercadante era um dos homens do núcleo duro da presidente Dilma. Uma espécie de "cota" pessoal. Nunca representou o PT no Governo. 

Nos poucos meses em que esteve à frente daquela pasta, Renato Janine limitou-se a anunciar cortes; dar explicações sobre uma série de problemas relacionados ao financiamento de alguns programas; enfrentar greves e ameaças de greve nas universidades públicas e coisas assim. Recebemos um esboço do que poderia ser o seu programa à frente daquele ministério. Renato Janine, entre outras coisas, pretendia enfrentar o gargalo dos problemas de formação do professorado brasileiro - com o concurso das IFES - uma questão que reflete diretamente sobre os resultados alcançados pelo alunado. Lamento profundamente dizer isto, mas a "turma boa" está entregando o boné: Marcelo Neri, um dos atores mais identificados com as políticas de inclusão social da Era Lula/Dilma, entregou o cargo logo no início do Governo, antes mesmo da extinção da Secretaria de Assuntos Estratégicos. 

Nossa expectativa sobre o que poderá ocorrer daqui para frente com aquela pasta não é muito boa não. 

A charge que ilustra esse post é do chargista Renato Aroeira.

sábado, 3 de outubro de 2015

Michel Zaidan Filho: Falácia tributária

 



A  chamada "obrigação tributária"  é uma decorrência da atividade financeira dos entes públicos. Para não ser arbitrária e provocar revolta nos contribuintes, ela deve estar sujeita a determinadas condições. Três são as finalidades da imposição tributária: a função arrecadatória; a função parafiscal; e a função extrafiscal. Dessas, só a primeira tem como objetivo financiar a administração pública, tornar possível o funcionamento da máquina pública (folha de pagamento dos servidores públicos, a dívida pública, as políticas sociais). As duas últimas não têm finalidade arrecadatória. Uma  visa regular a atividade econômica e a outra, objetivos sociais.

O recente pacote de aumento de impostos enviado à Assembléia Legislativa de Pernambuco pelo senhor Paulo Saraiva Câmara, o atual governador do Estado, sob a alegação de ajuste das contas públicas, depois de sucessivos cortes no orçamento estadual, contingeciamento financeiro e inúmeros casos de inadimplência com fornecedores e prestadores de serviço, não tem finalidades para ou extrafiscais. Seu objetivo é eminentemente arrecadatório. Mas é preciso dizer que a carga tributária - destinada a aumentar a receita estadual - recai fortemente sobre as costas da maioria da população. 

Os que dependem de salário e que são inevitavelmente alcançados pelos impostos indiretos, como o ICMS, o imposto sobre as telecomunicações, o imposto sobre os combustíveis, sobre as "cinquentinhas" etc. É, portanto, uma falácia tributária das mais simplórias dizer, como os áulicos da Assembléia Legislativa, que "o governador foi taxar os que ganham mais" com essas medidas, para aumentar a arrecadação estadual. Essa carga tributária é eminentemente regressiva e tende a aumentar a injustiça tributária brasileira.

Não se discute a necessidade do ajuste das contas públicas, depois da grande mentira que foi o mandato do governo anterior e o anúncio (surpreendente) pelo atual de um rombo de 8 bilhões no orçamento estadual! Mas que a conta desse ajuste recaia sobre a população de menor renda e que já paga muito imposto, através dos tributos indiretos, como esses que foram anunciados, aí já não é aceitável de forma nenhuma, sobretudo em vista do nenhum retorno social que essa carga representa para os contribuintes pernambucanos.
 
Pior é o cinismo ou a ingenuidade de afirmar que esses tributos têm o objetivo de arrecadar dinheiro para financiar a saúde, sobretudo os acidentados  de moto no Estado, que custariam milhões aos cofres do Estado. Esse é um descaramento que não tem limites! As mesmas empresas incentivadas pelo governo do Estado, com isenções tributárias, para encherem as ruas de carros e motos, são apontadas como responsáveis pelos acidentes e o aumento da despesa médica gasta com esses acidentados. Isso é um absurdo. Se o governo estadual melhorasse o transporte público, criasse ciclovias, estimulasse o uso de transportes alternativos, garantisse o respeito ao uso exclusivo das faixas de ônibus, bicicletas e até mesmo as faixas de pedestres, naturalmente não precisaria agora estar lamentando os gastos com o tratamento dos trabalhadores acidentados. 

O modelo de mobilidade adotado é,em si mesmo, gerador de altos riscos, principalmente com motoristas  mal educados, prepotentes e dotados de incivilidade de espírito de urbanidade. O principal objetivo desse arrocho fiscal é de natureza arrecadatória, destinada a engordar os cofres públicos - só isso - e vai aumentar a sobrecarga, o fardo da imposição tributária sobre a maioria da população de Pernambuco. O resto é conversa fiada, fumaça  jogada nos olhos dos contribuintes para que eles não se revoltem contra essa administração incompetente, perdulária e escorchante, incapaz de fazer o seu dever de casa.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: Jarbas e Priscila: Será?






José Luiz Gomes

Um ano antes das eleições, já é possível observar uma movimentação expressiva nos partidos, naquilo que poderia ser classificado como "dança das cadeiras". Estamos atentos a essas movimentações, com uma concentração mais efetiva no que se refere ao Partido dos Trabalhadores. No momento, essas movimentações assumem um objetivo maior de procura de acomodações de espaços, visando as próximas eleições municipais de 2016. Pelo andar da carruagem política, percebo que a Rede, de Marina Silva, finalmente consolidada, vem alcançando sucesso em suas pescarias por todo o Brasil. 

De passagem pelas águas do Capibaribe, conseguiu arrastar o vereador do PT, Luiz Eustáquio, que deixou a legenda para filiar-se à Rede, de certa forma, desfalcando a oposição ao prefeito Geraldo Júlio. Há quem assegure que a saída do vereador Luiz Eustáquio não surpreendeu a muita gente dentro do PT. Ele já vinha mantendo uma linha de atuação mais independente, não necessariamente convergente com as diretrizes da legenda. Sem um partido para chamar de seu, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, caminhou sob o guarda-chuva dos socialistas, engajando-se no projeto presidencial do ex-governador Eduardo Campos, uma aliança para lá de contraditória, uma relação entre tapas e beijos. 

O ambientalismo de Marina, embora com algumas clivagens intrínsecas, contrastava com o descaso dos socialistas com as questões ambientais. Aliás, os socialistas mantém essa contradição até hoje, embora estejam bastante afinados com os verdes na gestão do Recife e do Estado de Pernambuco. Curioso isso, não? É algo que nos suscita, no mínimo, a necessidade de um aprofundamento. Lá pelos idos da década de 80, os verdes brasileiros eram os aliados preferenciais da política de alianças do Partido dos Trabalhadores. Em certo sentido, os verdes brasileiros mantinham alguma identidade programática com o Partido Verde alemão, então seus inspiradores. 

Ao longo dos anos, entretanto, os "verdes" deixaram de ser uma "unidade" até mesmo no que concerne à defesa do meio ambiente, conceitualmente falando, sem falar nas outras querelas internas, que abriram várias dissidências entre eles. Hoje eles estão bastante descaracterizados, alinhavando-se com partidos políticos de todos os quadrantes ideológicos, preferencialmente os situados no no centro para a direita do espectro político. Compromissos ambientais? Isso parece não orientar os verdes em seu processo de composição de alianças políticas. Aqui me Pernambuco, por exemplo, o secretário do Meio Ambiente é um cidadão conhecido como Sérgio Xavier(Rede), que disputou as eleições para o Governo do Estado, concorrendo com o então governador, Eduardo Campos, que disputava o seu segundo mandato.

Durante a campanha, levantou inúmeros problemas de descaso com o meio ambiente no Governo do Estado. Terminada as eleições, Eduardo Campos eleito para mais um mandato, eis que Sérgio Xavier é convidado para assumir a pasta do meio ambiente. Há um professor da Universidade Federal que, sistematicamente, cobra das autoridades estaduais maior responsabilidade com a condução das políticas de preservação e respeito com o meio ambiente. Há uma contradição tremenda nesse aspecto, com a aprovação de projetos de impactos ambientais extremamente danosos, cuja Secretaria de Meio Ambiente não se interpõe. 

Realmente não sei o que contou nessa aliança entre verdes e os socialistas locais. Talvez eles tenham se enfeitiçado com aqueles olhos verdes do ex-governador. É uma hipótese. Porque, do ponto de vista mais racional, não entendo essa simbiose. Na realidade, esses alinhamentos programáticos, de fato, não significam muita coisa na nossa engrenagem política.Vamos mudar um pouco de assunto, porque isso pode estar cansando os nossos poucos, queridos leitores. Se nós formos às vias de fato no sentido de destrinchar as reais motivações dessas alianças, essa gente nos ameaça com processos, algo que se tornou rotina num Estado onde os gestores da res pública dão respostas sobre a condução da máquina através desses expedientes. Parece até que eles não têm nada mais importante para fazer, num momento, inclusive, bastante delicado da nossa política e da nossa economia. 

Digno de registro nessa semana, uma notinha do ex-prefeito João Paulo, informando que ele não tem nada a ver com as maracutaias encontradas pela Polícia Federal no leilão do terreno do Cais José Estelita, que pertencia a Rede Ferroviária Federal, arrematado pelo Consórcio Novo Recife, em condições bastante duvidosas, com prejuízos evidentes para o erário. A nota explica, inclusive, porque a a Prefeitura da Cidade do Recife, à época, se recusaria em adquirir o terreno. A PCR teria prioridade sobre a aquisição do terreno.A notinha foi interpretada por alguns como um recado do tipo: Estamos no jogo. Uma entrevista concedida pelo senador Humberto Costa a uma rádio local também externaram indícios claro de que o partido concorrerá à Prefeitura da Cidade do Recife, em 2016. E, neste caso, evidentemente, o nome do ex-prefeito João Paulo aparece como um dos mais cotados. 

Normalmente, este artigo de monitoramento das próximas eleições municipais são sempre publicados às quintas-feiras. Ter esperado para publicá-lo na sexta-feira, nos permitiu acompanhar uma movimentação curiosa. Curiosa, até certo ponto. Se Jarbas privilegiar sua atuação na província, há que anteveja a possibilidade do lançamento de uma candidatura à Prefeitura da Cidade do Recife, provavelmente, num arco de alianças que lembrariam a reedição de nova União por Pernambuco. Vale aqui o registro de que a primeira União por Pernambuco foi celebrada na Fazenda do Mendonção, uma velha raposa política do Agreste, ligada ao PFL, hoje DEM, partido da vereadora Priscila Krause. Alguns blogs já antecipam a chapa: Jarbas na cabeça e Priscila na vice. Vamos aguardar mais um pouco. 

Um outro acontecimento político que não poderia ficar ausente de nossos comentários foi a filiação do ex-governador e ex-prefeito do Recife, Joaquim Francisco, ao PSDB. Uma filiação bastante prestigiada pelos tucanos de todas as plumagens - inclusive um de plumagem meio esverdeada, o deputado estadual, Daniel Coelho. Até recentemente, se especulava bastante sobre a eventualidade de uma candidatura de Joaquim Francisco à Prefeitura da Cidade do Recife, em 2016. Ultimamente, entretanto, segundo alguns blogs divulgaram, ele poderia cumprir o mesmo papel que o também ex-governador, Gustava Krause, desempenhou no passado, ou seja, constituir-se como um puxador de votos no ninho tucano, disputando uma vaga de vereador pelo partido na Casa de José Mariano.Aparentemente, ele não vê nenhum problema.



  


  

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Crônicas do cotidiano: Os melhores dias da vida de Orson Welles




José Luiz Gomes

Era o ano de 1941. Em pleno Estado-Novo, quatro jangadeiros cearenses realizaram um reide do Ceará ao Rio de Janeiro a bordo da jangada São Pedro, assim batizada em homenagem ao padroeiro dos pescadores. Guiados pela determinação, a esperança e as estrelas - sem bússola ou carta náutica, -Raimundo Correia Lima(Tatá),Manuel Pereira da Silva(Mané Preto), Jerônimo André de Souza(Mestre Jerônimo) e Manuel Olímpio Meira(Jacaré), o líder do grupo, realizaram um feito que entrou para a história da navegação, para a história da luta dos trabalhadores do mar e para a história do cinema, tornando-se uma película do cineasta americano, Orson Welles, somente finalizada oito anos após sua morte.


Integrantes da Colônia Z-1, da praia do Peixe, hoje Iracema, os jangadeiros desejavam denunciar para o país e para o Estado-Novo, corporificado na figura do ditador Getúlio Vargas, a situação de abandono em que viviam aproximadamente 35 mil pescadores do Ceará. O objetivo do reide era, portanto, indubitavelmente, político. O processo crescente de precarização da condição de vida dos trabalhadores do mar precisava ser exposto de alguma forma, e o reide cumpriria esse papel em todos os aspectos, inclusive no tocante à publicidade da repercussão do feito.


Os jangadeiros se indignavam, sobretudo, com a injusta apropriação indevida do resultado do seu trabalho. Os donos das jangadas ficavam com a metade do que eles pescavam. Moravam em toscas palhoças e não eram alcançados pelo instituto da previdência social. Os benefícios sociais, então obtidos pelos trabalhadores no Governo de Getúlio Vargas, não chegavam à classe de pescadores. No entendimento dos jangadeiros, o presidente da República, precisava tomar conhecimento desta situação. A qualquer custo.

Num “bom nordeste”, de uma manhã de 14 de setembro de 1941, os jangadeiros partiram da antiga praia do Peixe, chegando ao Rio de Janeiro dois meses depois. Foram muito bem acolhidos pela população carioca, num reconhecimento explícito pela bravura da odisseia, e, em 16 de novembro, foram recebidos no Palácio do Catete por Getúlio Vargas. Comenta-se que Getúlio teria dito para Jacaré, o líder do grupo, “Conte tudo. Não esconda nada”. Depois de ouvir as reivindicações dos pescadores, Vargas, bem ao estilo populista, teria concluído: “Voltem tranquilos. O Governo saberá ampará-los e dar-lhes justiça.”

Embora Vargas tenha cumprido as promessas formais assumidas – estendendo os direitos trabalhistas à classe de pescadores - Desde então, a situação dos trabalhadores do mar, que se dedicam à pesca artesanal no país, por inúmeros fatores, permanece enfrentado uma série de problemas, como a concorrência desleal com a pesca industrial, agravados pela escassez do pescado, como resultado da destruição dos manguezais, da pesca predatória, da não observância aos períodos de defeso das espécies.

O caso das “meninas marisqueiras” nos oferece uma situação emblemática, identificadora de que o “estado de abandono”, criticados pelos pescadores à época, ainda não foi superado. Em todas as regiões do país, mas, sobretudo, no litoral nordestino, essas meninas enfrentam um grande dilema: precisam optar entre frequentar uma escola com regularidade ou ir à pesca do crustáceo, fundamental para a sua sobrevivência. Não é preciso ser nenhum especialista em educação para concluir que, nessas circunstâncias, é grande o índice de abandono das salas de aula nas regiões litorâneas, onde esse crustáceo ajuda a movimentar a economia local, além de ser fonte de subsistência dessa população.

Na mesma década do reide dos pescadores cearenses, o sociólogo pernambucano Josué de Castro, através dos seus livros, denunciava as precárias condições de vida dos moradores dos mangues do Recife, imprimindo à questão da fome um status político, fruto das engrenagens sociais perversas. Segundo Josué, esses moradores viviam como caranguejos, atolados na lama, numa verdadeira cumplicidade com o mangue. “Ali, tudo é, foi ou será caranguejo”.

Há alguns outros fatos históricos que relacionam, de uma maneira mais orgânica, o Estado do Ceará às jangadas. Além do reide de Jacaré e seus companheiros; os romances de José de Alencar; e um fato emblemático relacionado à libertação dos escravos. Antecipando-se à assinatura da Lei Áurea, o Ceará torna-se a primeira província brasileira a abolir a escravidão. Também possui seus heróis e um desses heróis era um líder jangadeiro, Francisco José do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde, um pardo e humilde trabalhador do mar, que se recusou a embarcar, através de sua jangada, escravos para navios negreiros que estavam ancorados no Ceará e tinha como destino o Rio de Janeiro.Levado para a Corte, Chico da Matilde, foi ovacionado pelo povo e rebatizado de Dragão do Mar. Hoje, no Ceará, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura é uma homenagem a este jangadeiro que, numa atitude de muita dignidade, contribuiu para, formalmente, agilizar o processo de libertação dos escravos.

As jangadas são embarcações de madeira flutuante, utilizadas por pescadores artesanais para a pesca em alto mar, sobretudo na costa litorânea do Nordeste brasileiro. Trata-se de um barco movido à vela, que incorpora uma série de experiências no campo da navegação, exigindo de seu comandante, destreza, habilidade, perícia e sensibilidade para acompanhar o movimento dos ventos, tábua de marés. As jangadas tradicionais são construídas sem o emprego de metais, ou seja, toda a sua estrutura é montada através de encaixes e amarradas com cordas de fibras selvagens, neste aspecto, incorporando a experiência indígena. Segundo o folclorista potiguar Luiz da Câmara Cascudo, em trabalho encomendado pela propaganda getulista, denominado Jangadeiros, a tradição de fazer jangadas com essas características vem se perdendo ao longo dos anos. Poucas colônias de pescadores da região ainda preservam tal tradição.

O reide do jangadeiro Jacaré e de seus companheiros obteve repercussão internacional. O cineasta Orson Welles tomou conhecimento da proeza através de uma edição da revista Time, que chegou em suas mãos quando ele estava a trabalho, no México. Ao ler a matéria, Orson não teve nenhuma dúvida: estava ali o segundo episódio brasileiro de um trabalho, que estava realizando para o Studio RKO, que integrava as políticas diplomáticas de boa vizinhança, do presidente Roosevelt, para o continente latino-americano.

A presença de Orson Welles no Brasil, e em particular no Ceará, as filmagens de It’s All True – título do filme que incorporava a saga dos pescadores cearenses e o carnaval carioca – a exploração política do episódio pelo do Estado Novo e a morte trágica de Jacaré durante as filmagens – num acidente sob suspeição -, culminou com a interrupção dos trabalhos, o que levou Orson Welles de volta ao Ceará, sem nenhum recurso, para retomar as filmagens, em situação extremamente complicada. Esses constrangimentos até hoje geram muitas especulações e algum folclore.

Determinado a concluir as filmagens sobre a saga dos jangadeiros, Orson Welles, como já afirmamos, voltou ao Ceará com a ideia na cabeça e uma câmara que sequer permitia a gravação de áudio. Convivendo diretamente com os jangadeiros cearenses, Welles, arriscamos a dizer, viveu os melhores dias de sua vida, a despeito das dificuldades: Filmava mesmo nessas condições adversas, um ofício que era sua grande paixão; saia para pescar com os pescadores cearenses; comeu muita cioba fresca com uma cervejinha gelada, nas caiçaras, no final de tarde; contemplava o pôr-do-sol do alto das dunas; dormia em rede; por vezes estirado na esteira de vime, como diria o poeta. Certamente namorava - provavelmente alguma cearense "avermelhada" - e ainda ouvia as conversas de pescadores, naquele bate-papo descontraído. Se, como dizem os seus biógrafos, foram os piores dias de sua vida, afirmaríamos serem os piores melhores dias.

Aqui, no litoral nordestino, um verdadeiro paraíso tropical, Welles teve a oportunidade de livrar-se do tedioso modo de vida americano, a exemplo do escritor Ernest Hemingway, que passou um período de sua vida em Cuba, pescando, escrevendo e observando o cotidiano dos trabalhadores do mar, o que resultaria no romance O Velho e o Mar. Neste período, Orson teria aproveitado o momento para realizar uma viagem ao Recife. Orson, todos sabem, tinha fama de mulherengo e fanfarrão. Hospedou-se no Grande Hotel e, numa noite de farra, teria tomado um porre “daqueles”, perdido o equilíbrio, e caído nas águas turvas do  Rio Capibaribe, completamente "mamado". Uma espécie de batismo recifense do cineasta americano. It’s All True!

Há, também, uma teoria conspiratória sobre o acidente com a lancha que vitimou Jacaré, na enseada de Ipanema. Há quem assegure que o Estado Novo, que havia determinado ao DOPS que seguisse os passos dos pescadores para não permitir sua aproximação com a esquerda, poderia ter tramado a morte dos jangadeiros. Apenas Jacaré faleceu no acidente. Seu corpo nunca foi encontrado. O Estado Novo também estaria incomodado com tantos pobres, negros e favelas nas tomadas de Orson Welles no Rio de Janeiro e teria feito gestões junto ao Governo Americano no sentido de interromper as filmagens. 

Especulação ou verdade, o fato é que o Studio RKO, logo em seguida, deixou Orson à míngua, conforme já informamos. Antes do reide, os jangadeiros cearenses, por sua vez, esperaram por muito tempo, um sinal verde da Marinha Mercante liberando-os para a viagem. Incomodado com o fato, o jornalista Austregésilo de Atayde escreveu um artigo apaixonado intitulado: “Deixem vir os Jangadeiros”. Por ocasião do encontro com Getúlio Vargas, um dos seus assessores queria saber quem havia escrito o diário de bordo, relatando toda a odisseia. Ao que Jacaré teria respondido: eu mesmo escrevi o diário. Espantado, o assessor teria dito: É um novo Pero Vaz de Caminha! Jacaré, então, retrucou: Este não veio!

Embora Orson Welles seja um pouco fantasioso ao apresentar os pescadores como sujeitos praticamente vivendo longe da civilização – conforme afirma Beatriz Abreu, que escreveu uma tese de doutorado sobre o reide dos jangadeiros cearenses e sua “apropriação” política pelo Estado Novo, como peça de propaganda – o fato é que, já naquela época, a especulação imobiliária naquela área estaria empurrando os pescadores morro à cima. Beatriz Abreu enfatiza, sobretudo, os “ganhos simbólicos” do trabalhismo de Getúlio com o episódio, numa análise que merece ser lida, porque, apesar das críticas, reconhece a dignidade da ação dos jangadeiros.

O cinema nacional dedicaria outros trabalhos envolvendo a temática dos jangadeiros. Em 1926, no Recife, num movimento que ficou conhecido como “Ciclo do Recife”, marco da cinematografia brasileira, com roteiro de Luís Maranhão, Tito Severo e Jota Soares e direção de Gentil Roiz e Ary Severo foi realizado o filme mudo “Aitaré da Praia”, que conta a história de Aitaré, jangadeiro que namorava Cora e se envolve numa série de problemas depois de salvar o rico coronel Felipe e sua filha.

Sobre a presença de Orson Welles no Ceará, Firmino Holanda realizou um excelente documentário. It’s All True seria retomado mais tarde, com o filho de Jacaré, assumindo o papel principal. Depois desse episódio, outros reides foram realizados, embora sem o mesmo glamour e repercussão do reide realizado em 1941, pelos jangadeiros cearenses. Em 1974, quatro outros jangadeiros empreenderam a mesma travessia, quase sempre focadas na exposição das condições sociais dos pescadores. 

Em plena ditadura militar, no seu período mais crítico, a repercussão dessa segunda viagem foi bastante suprimida. A jangada dessa travessia de 1974, no entanto, que pertenceu ao jangadeiro José de Lima Verde, e esteve sob os cuidados do Museu Histórico Nacional, tornou-se acervo permanente do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, exposta para visitação pública no seu pátio externo.

Crédito da foto: Firmino Holanda

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Polícia Federal encontra irregularidades envolvendo o leilão que vendeu o terreno do Cais José Estelita




A Polícia Federal realiza uma operação de busca e apreensão na sede da empresa Novo Recife Empreendimentos Ltda. A operação ocorre em razão da suspeita de fraude no leilão de arrematação do terreno do Cais José Estelita, que pertencia à Rede Ferroviária Federal. É bom que se diga que sempre especulou-se bastante sobre as irregularidades nesse leilão. Além dos valores pagos - 10 milhões abaixo do valor de mercado do terreno - há a suspeita de informações privilegiadas, favorecimento de grupos, quiçá envolvendo alguns agentes públicos. 

Há alguns equívocos graves com as políticas de intervenções urbanos no Recife, independentemente dos partidos que passaram pelo Palácio Antonio Farias. Essas políticas de intervenções urbanas - tratadas por alguns como de caráter higienista - talvez tenham sido plantadas lá pela década de 40, em plena vigência do Estado Novo, quando o então interventor, Agamenon Magalhães, manifestava sua indisposição como os mocambos e palafitas dos bairros alagados do Recife. Isso é apenas uma suposição, merecedora de uma fundamentação científica, mas vale a linha de investigação. 

Já se discutiu bastante aqui sobre o caráter segregacionista dessas intervenções, colocando a cidade como um espaço limitado apenas a alguns grupos sociais privilegiados, isolando outros da possibilidade de usufruir dele. Se confirmadas as suspeitas da Polícia Federal sobre as supostas irregularidades envolvendo o leilão daquele terreno, estamos diante de uma assombrosa conspiração do capital - que já dita as regras de intervenções urbanas no Recife - e, pelo visto, não o faz, sequer, de forma lícita, consoante as leis vigentes. 

Tijolinho do Jolugue: Reforma Ministerial: Governo de coalizão peemedebista




A articulação política do Governo Dilma Rousseff sempre representou uma grande dor de cabeça para os seus aliados. Um dos atores políticos mais preocupados com o assunto é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, recentemente, teve uma longa conversa com ela, tratando dessa questão. Um pouco do resultado dessa longa conversa tivemos hoje, com o anúncio dos novos nomes da reforma ministerial. Em certo sentido, essa reforma ministerial é uma grande roubada. Na realidade, o PMDB "ocupou" o Governo. Depois, seus caciques se reunirão e vão pensar se vale a pena ou não tomá-lo de uma vez, através de um possível pedido de impeachment, como bem informou o jornalista Josias de Sousa. 

Sei que os petistas o abominam - ele também não deixa por menos - mas, noves fora sua linha anti-petista, neste caso em particular, faz algum sentido as suas observações. São 07 ministérios a serem ocupados pelo partido, inclusive o Ministério da Saúde, uma pasta que sempre foi motivo da cobiça daqueles vestais. "Aquele" Governo Dilma descaracterizou-se completamente, em razão das injunções políticas e econômicas. Essa é uma dura realidade, mas é a realidade. Faz pouco tempo, um cara com a inteligência de Roberto Mangabeira Unger entregou o cargo de ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que ficaria responsável pelo programa Brasil, Pátria Educadora. 

Agora vem a notícia de que o filósofo Renato Janine Ribeiro, que atualmente responde pelo Ministério da Educação, deverá deixar a pasta, que poderá ser reassumida por Aloizio Mercadante, que se despede da Casa Civil. É preciso avaliar um pouco melhor isso, mas Aloizio Mercadante estava se transformando num grande embaraço dentro do Governo Dilma. Lula pedia a sua cabeça já fazia algum tempo. Está sendo indicado para a articulação política o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, homem de confiança do ex-presidente Lula. 

Dizem que um bom nome para a articulação, um grande gargalo do Governo Dilma. Jacques deixa a pasta da Defesa, que deverá ser ocupado pelo "comunista" Aldo Rebelo. Noutros tempos, um comunista na pasta da Defesa poderia suscitar um grande debate. Hoje, no entanto, com os comunistas que nós temos, isso não significa muita coisa. Dilma também convidou ao Planalto os três governadores do PSB. Embora seus dirigentes tenham dado indicações de que apoiariam um possível pedido de impeachment da presidente, os governadores da legenda pediram moderação sobre o assunto. A presidente pretende oferecer a pasta da Ciência e Tecnologia aos socialistas, que ficou vaga com a saída de Aldo Rebelo.

Tijolinho do Jolugue: Por que eles estão deixando o PT?

 
 
Alguém já abordou este assunto aqui pelas redes sociais, mas penso que ele pode ser melhor explorado. Para nós, movidos por uma preocupação científica, estamos tentando esquadrinhar as reais motivações dessa revoada de quadros da legenda, sem, contudo, embarcar em argumentações frágeis ou inconsistentes daqueles que saem, tampouco os amuos daqueles que ficam. O primeiro fato curioso é que o partido tem um histórico de expulsão e não de auto exclusão. Por decisão tomada pelas instâncias partidárias, até mesmo Tendências já foram expulsas da agremiação, por defenderem posições que iam de encontro ao processo de institucionalização da legenda, que permitiu ao partido chegar ao Palácio do Planalto. 

A Convergência Socialista, por seu turno, fundou uma nova agremiação partidária, o PSTU, até hoje um partido pouco afeito às políticas de alianças. Com a saída do vereador do Recife, Luiz Eustáquio​, para filiar-se à Rede, já são quatro o número de integrantes do partido que largaram a legenda: Luciano Cartaxo, prefeito de João Pessoa, que filiou-se ao PSD; a ex-ministra da Cultura, Marta Suplicy, que no último domingo filiou-se ao PMDB e o Deputado Federal, Alessandro Malon, figura de proa da legenda no Rio de Janeiro, que ocupava uma das vice-lideranças do partido na Câmara Federal. 

Aqui pela província, dizem, a desfiliação do vereador Luiz Eustáquio não teria surpreendido muita gente dentro do partido. É como se ele já se sentisse desconfortável com a legenda. Sobre Marta e Cartaxo, já comentamos o assuntos em diversos momentos, traduzindo, em última análise, uma observação do dirigente Rui Falcão, argumentando que, quem deixa o partido, o faz por puro oportunismo. O caso de Luiz Eustáquio é recente, nos aconselhando a uma moderação sobre o assunto, mas, no caso de Marta e Cartaxo, faz sentido a observação de Rui Falcão. 

Desse grupo, o único que nos suscitou uma certa preocupação com os argumentos foi Alessandro Malon. Malon lembra as teses defendidas pelo partido no seu 5º Congresso, realizados em Salvador, além de uma política de subordinação da legenda ao PMDB, o que vem contribuindo para a erosão programática e de imagem do partido. Malon fala isso no plano nacional, mas, segundo dizem, no caso do Rio de Janeiro, o quadro é ainda mais grave. o PT tornou-se uma sublegenda do PMDB. Em alguns casos, seria mesmo salutar que alguns membros deixassem a legenda. Certamente não fariam falta. Em outros casos, quando os argumentos são consistentes, merecem um aprofundamento sobre as causas que estão levando alguns integrantes a largarem a legenda. Salvo algumas exceções, os quadros que estão saindo ainda não nos remetem a uma investigação do fenômeno. Vamos aguardar mais um pouco. 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Michel Zaidan Filho: A doença, o doente e o termômetro.


 
Uma das inversões patológicas mais conhecidas é aquela onde o doente - muito enfermo - se vinga da doença, quebrando o termômetro ou investindo contra o diagnóstico ou o médico. Naturalmente o médico, o termômetro ou o diagnóstico não pode ser responsabilizado pela enfermidade do doente. Mas ele se ilude (ou pretende iludir a outros) de que não está doente, tão mal assim, e que é tudo culpa da Medicina, de seus profissionais ou dos exames clínicos. Esse desvio de percepção parece caracterizar a atitude de certos gestores, quando recebem críticas à sua gestão. Ao invés de ter a humildade de reconhecer as dificuldades, os problemas e procurar consertá-los, na medida do possível, investe contra o diagnóstico de sua gestão, com medidas administrativas ou judiciais. 
É o caso de uma curiosa inversão: a autoridade pública, escolhida para gerir recursos públicos tendo em vista atender as inúmeras carências da sociedade, conforme promessas feitas em praça pública durante a campanha eleitoral, acha que não deve mais nenhuma satisfação  aos seus eleitores e concidadãos. Sua comunicação com a sociedade é a propaganda institucional ou os sofismas,a que se entrega, quando tem de responder a perguntas incômodas feitas pela imprensa.
Melhor fariam esses gestores se, ao invés de quererem intimidar seus críticos com pedidos de interpelação judicial sobre as críticas a eles destinadas, atacassem os inúmeros problemas que afligem à população. Exemplo: pagar o aluguel dos imóveis onde funcionam as escolas públicas. Pagar a fabulosa dívida com os fornecedores e prestadores de serviço ao Estado, que inviabiliza a Saúde Pública, o funcionamento dos hospitais, postos de saúde etc. Resolver o problema das merendas escolares do Ginásio Pernambucano. Cuidar dos cadáveres abandonados na IML. Remunerar condignamente os professores e servidores da educação estadual. 
Estancar o processo de demissão dos médicos nas UPAs , por falta de pagamento e condições de trabalho. E explicar convincentemente na Corte interamericana da OEA a mortandade e as rebeliões no sistema penitenciário que leva, aliás, o nome do santo. Isso sim seria a atitude mais responsável, madura e correta de um gestor que se elegeu pela mão do outro e a primeira medida que tomou foi anunciar, candidamente, um rombo de 8 bilhões nas contas publicas!
Será que ninguém disse a esses gestores que déficit público não se resolve com aumento de impostos, corte de salários  e falta de investimentos? - Num contexto de retração econômica, alta de juros, desemprego e queda da renda do trabalho, mais impostos só aumentam a recessão e a queda da arrecadação? - O problema do déficit público só se resolve com cortes na própria carne (andar de avião, por exemplo) e com o aumento da atividade econômica. Não se aumenta a arrecadação apenas com aumento de impostos, mais inflação e mais recessão. Aumenta-se o confisco, a expropriação da limitada capacidade contributiva do cidadão e da cidadã. Esse fundamentalismo fiscal - aprovado com pequenas ressalvas pela bovina maioria governista - só impõe mais sacrifícios à população e não vai resolver o problema de caixa do governo.
Ao invés de combater os sintomas da doença, o governo do senhor Paulo Saraiva Câmara devia fazer uma" mea culpa" dos inúmeros erros cometidos, ao invés de investir contra os críticos de sua administração.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

Tijolinho do Jolugue: Caruaru volta a ser palco de disputas renhidas entre Lyras e Queiroz.


 

Caruaru integra o chamado "Triângulo das Bermudas" do Estado, ou seja, um conjunto de cidades que podem definir o rumo de uma eleição, dada a sua condição estratégica, como a "capital" de uma região, o Agreste. Inclusive as eleições nacionais passam por essas cidades, contando sempre com a presença dos candidatos, assim como tornam-se fulcro das preocupações dos estrategistas de campanha. Já faz algum tempo, uma velha raposa política local, acredito que Drayton Nejaim,para definir o embate que mantinha em lados opostos as famílias Lyra e Queiroz, dizia que ali ou se era charque ou se era carne-de-sol. Na realidade, salvo melhor juízo, esses dois grupos políticos são "descendentes" do grupo liderado por Drayton Nejaim.

Hoje, o cardápio já está bastante variado, com forças políticas adversárias esquecendo suas diferenças, optando por um filé de bode no Alto do Moura, com a presença dos Lacerdas, dos Gomes e outros troncos familiares ascendentes. As famílias que polarizaram no passado as disputas políticas locais já estiveram juntas em algumas eleições, festejando seus êxitos na Fazenda Macambira, um verdadeiro termômetro político do Estado, nos festejos juninos. Pois muito bem. As eleições de 2016, entretanto, prometem ser uma das mais renhidas no município, possivelmente colocando em lados opostos os dois grupos políticos rivais, além de outras forças políticas emergentes. 

José Queiroz(PDT), prefeito do município, mantém ótimas relações com o Palácio do Campo das Princesas - porque não dizê-lo, leia-se família Campos. É uma relação antiga. Queiroz emprestou apoio irrestrito ao ex-governador Eduardo Campos e deste recebeu tratamento vip até quando ele ocupava o Palácio do Campo das Princesas. Nas últimas eleições para o Governo do Estado, Paulo Câmara e Fernando Bezerra Coelho obtiveram aproximadamente 76% dos votos no município. A relação com João Lyra Neto, entretanto, não foi das melhores. Segundo comenta-se nos bastidores, vários pleitos do município não foram atendidos. 

Os Lyras, por sua vez, desejam que a deputada estadual, Raquel Lyra seja candidata a prefeita do município, de preferência com o apoio do atual prefeito. No momento em que José Queiroz entabula conversas com o atual governador do Estado, João Câmara, João Lyra Neto, segundo dizem, estaria mantendo conversações com os tucanos. João não abre mão da candidatura da filha, o que significa dizer que o impasse está posto, uma vez que José Queiroz não cogita em apoiar o nome indicado pelos Lyras. Segundo informações que nos chegam agora, os Lyras estão praticamente fechados com o PSDB.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: No país do hímen complacente, Marta Suplicy se esforça para superar Jânio Quadros.





Parece são haver dúvidas de que o ex-presidente Jânio Quadros foi o responsável pelas maiores contribuições ao folclore político brasileiro. Impagáveis as suas tiradas; suas respostas contundentes aos adversários, durante debates memoráveis; seus discursos demolidores; seus símbolos, como os paletós cheios de "caspas", a vassoura para varrer a corrupção do país, assim como a chuteira pendurada na porta do gabinete, anunciando o outono de sua carreira política, quando ainda era prefeito de São Paulo. Penso que ninguém tira esse título de Jânio,mas, por outro lado, não se pode negar que a ex-ministra da Cultura, Marta Suplicy, vem se esforçando bastante para isso. 

Num único ato de filiação partidária - Marta filiou-se ao PMDB - a senhora protagonizou algumas cenas hilariantes. As suas declarações também não ficaram atrás. É preciso tomar alguns cuidados com esta cidadã porque ela perdeu completamente o "eixo". Juntou-se à escória política do país, argumentando que não mais suportava o suposto envolvimento do PT nos casos de corrupção. Não vamos citar nomes, mas os leitores que acompanharam as fotos publicadas no ato de sua filiação, certamente, sabe quem estava ali presente, de mãos dadas com a nova filiada. Não eram os vestais da política nacional. 

Marta venceu muitos embates internos dentro do PT.Sua postulação à candidata à prefeita de São Paulo, nas eleições municipais de 2012, era tida como certa. Lula é que deu uma carteirada oligárquica e impôs o nome de Fernando Haddad. Sinceramente, não acho que Marta poderia fazer uma gestão melhor do que a que está sendo realizada pelo prefeito Fernando Haddad. Em todo caso, entendemos seus ressentimentos com a cúpula paulista da legenda, que aceitou pacificamente que a senhora Marta Suplicy fosse rifada naquela ocasião. É certo, entretanto, que a democracia petista, ao longo dos seus anos de militância, também lhes facultou inúmeras vitória em alguns pleitos. Sem falar na força da militância partidária, fundamental para ela vencer alguns embates nas urnas.

Entendo que os mecanismos de consultas internas do PT estão se deteriorando ao longo dos anos, mas alguns setores do partido ainda o mantém vivo. O PMDB, Marta, não possui esses expedientes de democracia interna. Realmente não sei de onde você tirou essa sandice de que o PMDB é um partido democrático. O que esse partido conhece bem, dona Marta, é de fisiologismo, de barganhas, de chantagens e coisas afins. Nesse ritmo, não duvido que você possa superar o ex-presidente Jânio Quadros, que dizia que o Brasil era um hímen complacente. Como ele tinha razão, Marta. Você jogou toda uma biografia política pela janela, em nome do oportunismo de uma candidatura que ainda precisa ser decidida pelos caciques da legenda. Não sei se você deixou cair alguma máscara. Talvez você sempre tenha sido isso mesmo e conseguiu disfarçar muito bem. Uma outra coisa, diferente do que ocorre com o hímen da Jânio, os leitores não costumam ser complacentes com traidores.   

Tijolinho do Jolugue: Paulo Câmara como vice de Aécio Neves? Não sei não...


Está repercutindo bastante aqui pelas redes sociais uma notícia publicada originalmente pela coluna do jornalista Cláudio Humberto, reproduzida pelo Jornal do Commércio, informando sobre a articulação de uma chapa presidencial, encabeçada pelo tucano Aécio Neves(PSDB), tendo como vice o governador de pernambuco, Paulo Câmara(PSB). Esse é o tipo de notícia que precisa ser muito bem analisada. Embora seja um cidadão muito bem-informado, a credibilidade do senhor Cláudio Humberto já esteve melhor. A articulação entre PSDB/PSB não causa estranheza a ninguém. 

Este link, aberto pelo ex-governador Eduardo Campos, vem se aprofundando ao longo dos anos. Nas eleições presidenciais passadas, caso ainda estivesse vivo, havia algumas dúvidas sobre quem o ex-governador apoiaria num segundo turno entre Aécio Neves(PSDB) e Dilma Rousseff(PT). A recepção dada ao senador mineiro aqui na província, pelos dirigentes do PSB e pela família de Eduardo Campos, dissiparam todas as dúvidas. Aqui no Estado, sobretudo em relação às eleições municipais de 2016, no Recife, existem algumas arestas pontuais, mas, num contexto mais amplo, a relação entre os dois grêmios partidários é a melhor possível. A pombinha do PSB, definitivamente, cresceu o bico. A decisão dos socialistas em apoiarem um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma não permitem dúvidas sobre o assunto.

Agora, se considerarmos os atores políticos em campo, as coisas mudam substantivamente de configuração. Primeiro porque a prevalência de Aécio Neves no sentido de disputar as próximas eleições presidenciais não é prego batido e ponta virada no ninho tucano. Há setores do partido que, inclusive, advogam a manutenção das regras do jogo democrático exatamente prevendo dar uma rasteira interna no candidato nas próximas eleições presidenciais. 

Depois, não vejo como o nosso governador, Paulo Câmara, possua a capilaridade política suficiente para um pleito dessa natureza. Quem estaria "bancando" essa indicação? a esposa do ex-governador? o escritor Antonio Campos? a direção nacional da legenda socialista, cujas relações com os socialistas da província não são das melhores? São questões que precisam ser respondidas, antes de admitirmos como procedente essa informação. A notícia está parecendo mais uma barriga de segunda-feira.   

domingo, 27 de setembro de 2015

Por que a nova estratégia política de Marta vai dar errado.

Por que a nova estratégia política de Marta vai dar errado

Por adminsetembro 27, 2015 12:05
Por que a nova estratégia política de Marta vai dar errado
martapmdb
Política tem lógica, a despeito de alguns acharem, como alguns boleiros, que é “uma caixinha de surpresas”. Isso não significa que vez por outra aconteça algo muito surpreendente. Mas é raro, raríssimo.
Marta Suplicy saiu do PT atirando no partido como poucos.
Marta Suplicy saiu esculhambando seus ex-companheiros como poucos.
A senadora imagina que com isso pode vir a conquistar uma fatia cada vez maior de anti-petistas paulistanos.
E com isso empinar sua candidatura para prefeita de São Paulo.
Mas isso é tão difícil de acontecer como Eduardo Cunha desembarcar do golpe.
E só vai fazer com que Marta jogue fora boa parte do seu capital político.
Marta fez um grande governo em São Paulo. E não foi reeleita muito menos por conta do PT e muito mais por conta da sua alta rejeição pessoal e de suas opções táticas.
Naqueles tempos, Marta não elogiava Sarney e Eduardo Cunha. E se negou a fazer uma coligação com o PMDB que exigia ter o cargo de vice na sua chapa da reeleição. Preferiu sair em chapa pura, com o atual presidente do PT, Rui Falcão, de vice. Porque mirava ser candidata a governadora no meio do mandato.
Marta abriu mão do tempo que o PMDB lhe daria porque considerava o partido fisiológico. E isso foi um dos motivos que lhe levaram a perder a eleição.
Marta dos tempos do PT não abria mão de fazer investimentos na periferia e confrontava sua classe social, batendo boca em vários lugares com aqueles que a criticavam por fazer CEUs, por exemplo.
Até por isso, pessoalmente Marta foi muito mais rejeitada do que Haddad pela classe média paulistana nos seus tempos de prefeita.
Essas pessoas não vão votar em Marta de novo. Nem elas e nem seus filhos.
Esses paulistanos vão escolher no primeiro turno qualquer outro candidato. Não vão votar nela e muito dificilmente votarão em Haddad.
E na periferia Marta vai ter que convencer seus antigos eleitores que não mudou. Que continua a mesma que fez um grande governo. E que defendia a periferia.
A questão é que a ex-prefeita terá milhares de pessoas que hoje consideram Marta uma traidora com t maiúsculo e que farão o que for necessário para dar o troco a ela.
E sem lideranças para reverberar suas mensagens na periferia, Marta será uma candidata com pés de barro. Não com os pés no barro.
Ou seja, quando foi candidata à reeleição Marta errou por esbanjar o PMDB e deu de barato que não precisava daquele partidinho (sim, Marta despreza o PMDB) para derrotar Serra.
Agora, ela vai para o PMDB, chama Sarney de grande líder, afaga Eduardo Cunha, defende o impeachment de Dilma e dá de barato que não precisará nunca mais do PT e dos seus eleitores.
Não tem como dar certo.
Marta vai ficar no primeiro turno.
E na próxima eleição este blogueiro não se surpreenderá se ao invés de disputar o Senado ela vier se conformar com uma candidatura para deputada federal.
O povo aceita que as pessoas mudem de partido, mas não costuma perdoar quem muda de lado.

(Publicado originalmente no blog do Rovai, Revista Fórum)

Editorial: Em tempos de crise, o descontrole das ações do aparelho de segurança do Estado.




Estamos bastante preocupado com os rumos dos acontecimentos no país. Crescem as atitudes de arbítrio e intolerância, algumas delas com o concurso do próprio aparelho de Estado. No Rio de Janeiro, por exemplo, vem ocorrendo uma espécie de criminalização da pobreza. Os negros pobres da periferia estão proibidos de frequentarem as praias dos bacanas. Rio de Janeiro e Pernambuco, aliás, se tornaram fulcro de nossas preocupações quando o assunto é violência. Durante as chamadas "Jornadas de Junho' esses dois Estados se notabilizaram pelos "excessos" no enfrentamento das manifestações de rua. Desde então, passamos a monitorar o que ocorre em termos de violência nesses Estados. 

Na semana passada, a leniência - quiçá conivência fosse o termo mais adequado - proporcionou cenas de barbárie, quando jovens da classe média passaram a agredir adolescentes negros que se dirigiam às praias cariocas. As ações da polícia carioca simplesmente interditam esse acesso, numa atitude que fere os direitos constitucionais do cidadão, inclusive no que concerne à presunção do ilícito, algo, definitivamente, incorporado às ações da polícia do Estado do Rio de Janeiro. 

Ontem, uma declaração de um comandante da Polícia Militar do Estado do Ceará, reproduzida pelo jornal O Povo, foi, no mínimo, muito infeliz. Que a população civil pode contribuir para evitar os altos índices de violência é algo admissível e até salutar, uma vez, neste caso, todos os agentes sociais devem estar envolvidos. O problema foi sua infeliz declaração sobre esse pedido de "ajuda", numa espécie de salvo conduto para os "justiçamentos". Vocês podem imaginar as consequências disso? Por falar em justiçamentos, eles continuam ocorrendo em todo o Brasil, assim como atos violentos movidos por preconceitos, atingindo, sobremaneira, os estratos populacionais não blindados, a exemplo de negros, gays, prostitutas e similares. Ainda ontem duas jovens dadas como desaparecidas, no Estado do Pará, foram encontradas mortas, com requintes de crueldades. Ambas mantinham uma relação homoafetiva. 

O pior é que, diante da crise de financiamento do Estado, não se vislumbra soluções para o problema a curto prazo. O Estado de Pernambuco é um bom exemplo disso. Uma polícia judiciária desaparelhada; com seus membros desmotivados; com carência de quadros; sem perspectivas de recomposição do seu efetivo - em razão da inviabilidade de novos concursos - e com os salários bastante defasados. Mas esse quadro não é privilégio do nosso Estado. Com menor ou maior agravante, isso se repete em todo o país. Enquanto isso, eles batem cabeça, adotando medidas punitivas radicais a quem se insurge contra esses desmandos, como ocorreu recentemente com o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de PE.   

Tijolinho do Jolugue: O que sabe Pedro Correia Neto?


É quase certo que as negociações de um acordo de delação premiada proposto pelo ex-deputado Pedro Correia Neto seja aceito pela Justiça. Há uma grande expectativa sobre o assunto, com alguns veículos de comunicação conhecidos já antecipando o provável teor desse depoimento, sugerindo que ele envolveria o presidente o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff na Operação Lava Jato. Não há a menor dúvida de que Pedro Correia deve conhecer, com riqueza de detalhes, os esquemas de corrupção da República. Era um homem da linha de frente, um articulador privilegiado. 

Médico por formação, Pedro é oriundo de uma família tradicional e rica aqui do Estado de Pernambuco. Membro de um partido eminentemente fisiologista, o PP, não se conhece um grande escândalo nacional, com ramificação em Pernambuco, onde o seu nome não esteja envolvido. A prisão, com a sua idade avançada, deve estar causando um profundo mal-estar a ele e à sua família. Num dos últimos depoimentos à Justiça do Paraná, ele isentou os familiares em qualquer envolvimento nos casos em que estão sendo acusados, assumindo para si todas as responsabilidades sobre os possíveis delitos. A tendência é que ele, de fato, abra o jogo sobre o que sabe. E, como já afirmamos, deve saber de muita coisa, dada a sua condição de um ator privilegiado dos estertores da política nacional. Vamos aguardar. 

sábado, 26 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Melhore seus argumentos, senhora Marta Suplicy




Existem alguns adjetivos que poderíamos ser usados em relação à ex-ministra Marta Suplicy, sem corrermos o risco de sofrermos um processo judicial, posto que as últimas instâncias de nossa justiça já teriam julgado tais adjetivos como de caráter não ofensivo. Mas não vamos fazer uso desses adjetivos, em razão deles não se adequarem à nossa linha editorial. Para o comum dos mortais, uma das piores coisas é o cidadão perder o "eixo". Para os políticos, então, uma verdadeira tragédia.É esta a situação em que se encontra a ex-ministra da Cultura, Marta Suplicy. Com a sua candidatura à Prefeitura de São Paulo, em 2012, rifada pelos caciques do PT, Marta nunca mais assimilou a legenda. 

Quando deixou o Governo Dilma, já saiu atirando, através de uma carta de demissão que parecia mais um manifesto anti-PT. Sua guinada conservadora, possivelmente, não surpreende a muita gente. O que talvez surpreenda mesmo seja as razões alegadas pela ex-ministra para deixar a legenda e procurar abrigo justamente no PMDB. Marta alega que está cansada das denúncias de envolvimento do partido com os casos de corrupção. Até parece que o pessoal do PMDB está fora disso. Um outro argumento da ex-ministra é que o PMDB é um partido democrático. Será, Dona Marta? Garanto a você que mais do que o PT - a despeito de todos os problemas - ele não é. É comum as pessoas se desligaram do partido com esses argumentos inconsistentes e depois se arrependerem. Neste caso, senhora Marta Suplicy, seria mais interessante melhorar os seus argumentos.