pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Editorial: O que revela a nova pesquisa IPESPE?

 


Li, com muita atenção, a análise do cientista político pernambucano Antonio Lavareda sobre a nova pesquisa de intenção de voto realizada pelo IPESPE, divulgada nesta quinta-feira. Ao longo de sua carreira acadêmica, Lavareda tornou-se um dos maiores especialistas brasileiros em pesquisas de intenção de voto, tornando-se uma referência mundial no assunto, daí se entender a atenção deste humilde editor em adentrar nas entrelinhas ou nuances dessa nova rodada de pesquisa, guiado pela lupa do guru. 

No geral, a pesquisa não traz grandes novidades, exceto pelos indicadores que podem provocar urticárias no staff de campanha do presidente Jair Bolsonaro(PL), como, por exemplo, o quadro inalterado da percepção da economia depois de dois meses de pagamento do Auxílio Brasil, uma das apostas do governo para reverter a situação desfavorável nas pesquisas, principalmente entre os estratos menos favorecidos, geograficamente localizados nas regiões Norte e Nordeste do país.

O favoritismo do pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva permanece inalterado, cravando 44% das intenções de voto, ao passo em que o presidente Jair Bolsonaro crava os seus 24%. Uma outra novidade é o empate entre o ex-juiz Sérgio Moro(Podemos) e o ex-ministro Ciro Gomes(PDT-CE),ambos com 8% das intenções de voto, o que representa uma alento para o cearense, que trava uma briga feroz com o ex-ministro Sérgio Moro para assegurar essa terceira posição, que ele vinha mantendo antes do ex-juiz entrar no jogo.

Pelo andar da carruagem política, entretanto, a polarização ainda não emite sinais de que será quebrada, ou seja, a terceira via ainda não disse a que veio. Os índices de avaliação do Governo continuam ruins, o que se constitui num grande obstáculo num processo de se tentar uma reeleição, conforme já informamos por aqui. Salvo melhor juízo, em outro momento, o próprio Lavareda observa que mandatários com índices de desaprovação acima de 40% dificilmente conseguem se reeleger. Ainda temos muito chão para percorrer até outubro de 2022. Por enquanto, esta é a radiografia do momento, o que não significa dizer que não podemos ter mudanças deste cenário até lá. 

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: O avanço da Ômicron impõe a adoção de novas medidas preventivas

 


É bastante preocupante o avanço dessa nova variante da Covid-19, denominada de Ômicron, responsável pelo aumento sensível de novos casos no Brasil e no mundo. No país, em nove dias seguidos, registrou-se a evolução do índice de contaminações e de mortes, a despeito da curva ascendente do número de vacinados, assim como a adoção de medidas protocolares para evitar o contágio, como a exigência do passaporte de vacinação em alguns estabelecimentos. No shopping center Manaíra, em João Pessoa, a atendente da praça de alimentação o exigiu, mas para apenas uma das pessoas. Estávamos em quatro. 

É correto afirmar que a vacinação vem cumprindo um papel importantíssimo neste processo, evitando que os vacinados evoluam para quadros mais graves da doença quando contaminados. Mesmo assim, como os índices de contaminação estão nas alturas, os leitos de UTIs dos hospitais estão abarrotados, em alguns casos, na iminência de um colapso. Hoje, pelo andar da carruagem sanitária, seria precipitado concluir pela menor gravidade dessa nova variável. 

Registro aqui uma advertência do médico Miguel Nicolelis de que não se poderia negligenciar quanto à gravidade da ômicron, sempre apresentada como de menor poder ofensivo em relação à variante Delta. Para o especialista, este é o pior momento da pandemia.Há vários Estados da federação com mais de 80% dos leitos de UTIs ocupados, em alguns casos, como afirmamos, em vias de estrangulamento. Ontem o mapa apresentado pelo consórcio de imprensa estava todo em vermelho, com duas honrosas exceções de estabilidade e redução.Nem nos piores momentos da primeira onda tivemos tantos contaminados diariamente. Ontem, dia 26, superamos os 200 mil.  

Diante de tais circunstâncias, torna-se urgente a retomada de protocolos preventivos adotados no início da pandemia,sob pena de repetimos aqui, aquelas cenas pavorosas dos EUA, cujos contágios atingiam cifras aterradoras de milhões de pessoas num único dia. Algumas prefeituras já estão adotando a medida de adiar as aulas presenciais do início do ano letivo, o que parece-nos bastante sensato. Órgãos públicos como o STF, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal pretendem retomar as atividades remotas. Pernambuco é um desses Estados que se encontram em estabilidade, mas já seria o caso de se pensar, com a prudência necessária, em torno deste assunto.  

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Editorial: Os movimentos nada radicais de Lula


Raposa política curtida nas adversidades, Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), aos poucos e de forma estratégica, realiza os movimentos necessários para viabilizar seu projeto de voltar a ocupar a cadeira de presidente do Palácio do Planalto pela terceira vez. Matreiramente, anuncia que ainda não se decidiu se será candidato ou não, mas as suas movimentações o desmente cabalmente. Trata-se apenas de uma observância de se chegar ao timing certo para o anúncio oficial.Sabe que precisa preparar os escudos que sejam capazes de suportar os petardos que deverão ser dirigidos a ele durante a campanha, sobretudo num momento político delicado vivido pelo país, onde a mentira tem sido utilizada como arma política preferencial por alguns dos seus concorrentes. 

Em entrevista recente, o morubixaba petista informou que não pretende ser o candidato do PT, mas de um conjunto de forças políticas, ou, para ser mais preciso, de um "movimento". A rigor, a bem da verdade, Lula nunca foi um candidato genuinamente do PT. No Brasil, como observa os analistas da política nacional, para viabilizar-se como candidato, o sujeito precisa ter um pé no Beco da Fome e outro na Rua Oscar Freire. Sem acordos com a elite econômica e política, nada feito. Outro dia um membro do Centrão fez algumas advertâncias dirigidas a Lula sobre o controle do "orçamento' - algo que deve estar entre as preocupações de qualquer mandatário - antes mesmo de ele ser eleito, como sugeram as pesquisas de intenção de voto realizadas até este momento, quem sabe até no primeiro turno. 

É um jogo perverso este do nosso presidencialismo de coalizão, para não usarmos outras expressões mais duras, embora não menos adequadas ou apropriadas. Daí se entender porque uma reforma política profunda se torna tão imprescindível. Qualquer presidente, em tais circunstâncias,  torna-se refém dessa gente, tendo que  liberar bilhões em emendas parlamentares e inchar a máquina com seus apaniguados, apenas para reunir as condições mínimas de governabilidade. Hoje, através de uma postagem nas redes sociais, Lula emite mais um indicador de que o ex-governador Geraldo Alckmin(Sem Partido) poderá mesmo compor a sua chapa na condição de vice. 

Nos Estados, realiza as costuras políticas necessárias para assegurar o apoio de setores oligárquicos regionais do velho MDB, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do país. Renan Calheiros, Jáder Barbalho, José Sarney estão entre esses representantes ilustres. No Maranhão, apesar do apoio ostensivo do governador Flávio Dino(PSB-MA), aguarda as sinalizações da família do ex-presidente José Sarney. Almoça com Dino e janta na ilha dos Sarney, para desespero dos petistas raízes.      

Editorial: O Brasil sem a saúde democrática suficiente para entrar na OCDE

 


Início de ano é sempre um período fértil para a divulgação de relatórios de instituições que acompanham o estágio da democracia, do respeito aos direitos humanos e do grau de corrupção dos países pelo mundo. Infelizmente, o Brasil não aparece bem nesses indicadores, confirmando rankings anteriores, que apontam descaminhos no tocante à preservação das instituições da democracia, assim como em relação às leis e medidas de proteção ao meio ambiente. Na realidade, hoje, somos a democracia mais ameaçada do mundo, a julgar pelos indicadores apontados. Em tais circunstâncias, torna-se utópico sonhar com o nosso ingresso na OCDE( Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que congrega países de democracias consolidadas, inclusive no que diz respeito à democracia substantiva ou econômica. 

Indicadores de educação da população, renda per capita e inclusão social entram nesta continha. Há alguns anos atrás, escrevemos um longo - e não menos polêmico - artigo tratando dos indicadores de desenvolvimento da nossa educação básica, tomando como referência os índices do IDEB, diante das exigências de nota mínima para ingressar naquele seleto grupo de países. Pelos índices obtidos até o momento em que escrevia aquele artigo, dificilmente atingiríamos a nota exigida, ou seja, 6,0. Não tenho informações sobre se a OCDE já teria alterado este índice. 

De qualquer forma, pelo andar da carruagem política, sobretudo em razão dos estragos provocados pela pandemia, nossos índices educacionais - que nunca foram bons - devem ter piorado bastante, atingindo de forma mais efetiva, como sempre, os estratos sociais mais fragilizados. Trata-se de um problema histórico, que nunca foi devidamente enfrentado, em razão da torpeza de nossas elites, forjadas no regime escravagista, que não reconhecem os direitos legítmos do andar da baixo da pirâmide social. 

É curioso observar que, em tais relatórios - que este editor coleciona com muito carinho - as convergências entre essas instituições acerca dos problemas enfrentados por nossa democracia nos últimos anos, principalmente a partir de 2013, quando começaram as manobras para sucumbi-las, com o agravamento de 2016, quando ocorreu o golpe de um novo tipo, ou golpe institucional. Enfim, se não melhorarmos nossa saúde democrática pelos próximos anos, não teremos a menor chance de ingressar neste seleto clube, a despeito do convite formulado por aquela instituição e do otimismo do ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou que "falta pouco".     

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

O sentido das repetições históricas

 

O sentido das repetições históricas
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A potencialidade de um acontecimento está necessariamente vinculada à sua capacidade de fazer ressoar dinâmicas históricas que, mesmo cortadas, continuam sempre em latência. Freud costumava dizer que a voz da razão pode ser baixa, mas ela nunca se cala. Isso vale para dinâmicas históricas de transformação estrutural que foram, por um período, paralisadas.

É necessário dizer isso porque nada do que ocorreu no Chile nos últimos anos é compreensível sem que retornemos à experiência do governo de Salvador Allende, entre 1970 e 1973. Pois tal experiência funciona como um campo de latências para o presente, como um corpo espectral que intervém e influencia a ação dos vivos.

Enquanto o resto do continente procurava abrir seu horizonte progressista através de pactos e alianças próprias do populismo de esquerda, acreditando em associações possíveis entre setores das burguesias nacionais e demandas populares, integrando camadas populares ao processo político através da preservação paradoxal de interesses de oligarquias descontentes, o Chile procurava outra via, algo que foi conhecido à época como “a via chilena para o socialismo”. Essa via tinha três características principais e ela quebrava a dicotomia que havia se estabelecido, desde o fim do século 19, entre dinâmica revolucionária e pacto reformista.

Primeiro, a via chilena se fundava na recusa clara de militarizar processos revolucionários. A conquista de poder se dará através de processos eleitorais e a organização que articularia tal vitória, a Unidad Popular, desconhecia centralismo democrático, tendência convergente de partido único e comando de cúpula. Ela era uma frente, mas uma frente composta por estruturas de esquerdas (socialistas, comunistas, radicais, social-democratas, democratas-cristão disssidentes, MIR, MAPU) e movimentos populares. O século 20 havia visto muitos processos revolucionários que se degradavam em sociedades militarizadas, processos que recompõem a lógica social a partir da temática de guerras infinitas. A via chilena foi a mais significativa procura em tentar outro caminho.

Segundo, tratava-se de operar progressivamente com mudanças claras na ordem econômica. Estamos a falar de um governo que estatizou o sistema bancário, estatizou o principal setor da economia chilena de então, as minas de cobre, que impulsionou a autogestão das fábricas através da criação de 61 “cordões industriais”. Ou seja, a lógica em operação não era aquela que conhecemos em coalizações populistas de esquerda e que consiste em “ganhar tempo”, em procurar integrar economicamente parcelas pobres da população sem a modificação das relações de produção. Tratava-se, ao contrário, de implementar um claro programa econômico marxista através de uma dinâmica de conquista gradual.

Por fim, esse processo fora impulsionado por uma efetiva cultura de combate. Não por outro razão uma das figuras mais emblemáticas da violência contrarrevolucionária foi o assassinato do cantor Victor Jara, que teve suas mãos cortadas no Estádio Nacional enquanto militares colocaram um violão a sua frente e disseram-lhe: “Agora, toca”.

Essa história, por mais que tenha sido silenciada, nunca efetivamente passou. Em cada revolta que o Chile conheceu a partir de 2006 (e elas foram muitas) retornavam as palavras de ordem, as imagens, as canções. Isso não era simplesmente uma citação, mas era a consciência clara de que toda dinâmica de transformação é uma repetição.

Pode parece paradoxal associar transformação e repetição, mas o paradoxo inexiste. Para que transformações sejam possíveis é necessário, inicialmente, liberar o passado de seu exílio, liberar os corpos da melancolia. Isso significa reencenar as derrotas e fazer delas vitórias. Já se falou que o tempo histórico não é uma sucessão de instantes. Entender isso é fundamental para compreender de onde vem essa força indescritível quando populações decidem não sair das ruas mesmo quando elas estão sob tiros e tanques. A força vem da incorporação das lutas passadas, vem da encarnação em um corpo político de largo espectro temporal. A força vem da compreensão de que estamos, mais uma vez, a encenar batalhas que ocorreram e que novamente se abriram.

Essa projeção em direção ao futuro mesmo no momento da derrota não é simples “messianismo”. Ela é a última astúcia da inteligência política que usa da projeção temporal para abalar um presente que se fecha. A mesma inteligência que Allende mostrou quando terminou seu último discurso, em pleno golpe, lembrando que: “mais cedo do que tarde de novo se abrirão as grandes alamedas”.

Um processo aberto

Há um documentário sobre o Chile que se chama Chicago boys (2015, Carola Fuentes e Rafael Valdeavellano). Nele, vemos a formação do grupo de economistas que, pela primeira vez, implementará o neoliberalismo no mundo. Em certo momento, quando os entrevistadores perguntam ao futuro ministro da economia de Pinochet, o sr. Sergio de Castro, sobre o que sentiu quando viu o Palácio de La Moneda bombardeado por aviões militares até a morte de Allende, ele diz, sem ocultar suas verdadeiras emoções: “uma alegria imensa. Sabia que isso era o que devia ser feito”.

Essa imagem volta quando, em 2019, o mesmo sr. de Castro é entrevistado pelo jornal La Tercera. Diante de uma insurreição popular contra as consequência do modelo que ele ajudara a implementar, o jornalista lhe pergunta: “Você, que é conhecido como um dos pais do modelo econômico chileno, como o denomina?”. Resposta: “Diria que foi a aplicação racional da teoria econômica”. A resposta era efetivamente muito boa. Ela nos lembrava que a dita aplicação racional da teoria econômica era inseparável da destruição violenta da política e de suas dinâmicas de conflito. Ela era inseparável da insensibilidade absoluta em relação ao sofrimento social que populações em fúria testemunhavam. O que colocava uma equação política maior : “nenhuma felicidade social seria possível sem a destruição dessa ‘racionalidade econômica’”. E destruir tal racionalidade não seria feito através de ajustes, promessas de integração e portas abertas para alguns representantes de populações massacradas que agora encontram lugar à mesa das benesses. Ela seria feita através da modificação estrutural da ordem jurídica. Como se fosse o caso de colocar em marcha um singular “institucionalismo insurrecional”.

Algo dessa natureza já tinha sido tentado em outro país que conhecera uma insurreição popular contra a “racionalidade econômica”, a saber, a Islândia. Essa ilha glacial fora o primeiro país a entrar em bancarrota na crise de 2008 e o único a entender que sair da crise implicava colocar banqueiros na cadeia e mudar a ordem constitucional. No entanto, sua tentativa de criar uma constituição popular acabou por ser barrada. O mesmo caminho seria agora tentado no Chile.

Nesse caso, o processo tem mais possibilidades de ser bem sucedido porque ele é uma repetição. Ele é o aprofundamento da mesma via chilena de cinquenta anos atrás. Mas ao invés da produção de modificações paulatinas do quadro institucional, trata-se de operar por uma refundação nacional. Esse processo, com novos atores sociais, foi um dos principais eixos da vitória eleitoral dos últimos dias.

É claro que riscos existem. A capacidade de transformação social da Frente Ampla não é clara. Esses anos serão de dureza extrema. Pois, como no início dos anos 1970, se a experiência chilena for bem sucedida, ela terá aberto uma via que recolocará a imaginação política mundial em movimento. No entanto, ela é a primeira experiência, no século 21, de uma insurreição popular que conquista o poder com uma votação eleitoral surpreendente (a maior votação da história chilena), que o conquista no meio de um processo de refundação nacional. Ela tem ainda a seu favor a força das repetições históricas. Uma configuração de forças como essa é algo que nós nunca havíamos visto.

Vladimir Safatle é professor titular do departamento de filosofia e do instituto de psicologia da USP

(Publicado originalmente no site da revista Cult)

Tijolinho: Danilo Cabral. Será que é ele?

 


Quando o ex-governador Eduardo Campos era vivo, sua liderança era inconteste em relação aos socialistas locais. Quando ele batia o martelo em relação a determinadas questões, o martelo estava batido. Aos poucos, na quadra política pernambucana, tal liderança foi se ampliando, tornando-se hegemônica, criando uma espécie de eduardismo. O PT, que teria a oportunidade de criar uma alternativa política no Estado, optou por seguir sua liderança e orientações, tornando-se refém de suas decisões. 

Hoje, o partido continua a reboque dos socialistas no Estado, ora por não reunir as condições efetivas de se contrapor - condições perdida por decisões políticas no passado - ora em razão dos acordos celebrados entre os dois partidos no plano nacional. Curiosamente, o distanciamento entre as duas legendas estava sendo criado pelo próprio Eduardo Campos, antes de morrer de forma trágica, em razão do seu projeto presidencial. O noticiário político local informa que o Deputado Federal Danilo Cabral seria o ungido pelo PSB para disputar o Governo do Estado nas eleições de 2022. Há, ainda, muitas controvérsias em torno do assunto, uma vez que Danilo Cabral ainda não seria unanimidade no contexto da família Campos,herdeira política do espólio do ex-governador. 

Pelos acordos na Frente Popular, caberia ao PT a indicação do nome que deverá disputar a vaga de senador da República. Neste caso, competeria ao morubixaba petista local, o senador Humberto Costa, a indicação de tal nome, que poderá racair sobre o Deputado Federal Carlos Vera, um fiel escudeiro de longas datas. Um jornalista especulou sobre a possibilidade da indicação da Deputada Federal Marília Arraes, que, de fato, possui maior densidade eleitoral, mas é pouco provável que ela consiga transpor os obstáculos da burocracia interna do PT, assim como aparar as arestas no contexto da Frente Popular, uma frente ampla, com partidos, inclusive, afinados ao bolsonarismo.   

Editorial: Uma CPI contra Sérgio Moro?

 


A candidatura presidencial do ex-juiz da LavaJato, Sérgio Moro(Podemos), é uma dessas candidaturas capazes de produzir alguns "estragos", conforme informamos em editorial por aqui. Trata-se de uma cria dissidente do bolsonarismo; já colocou na cadeia o principal concorrente ao pleito de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; e, de quebra, ainda desponta como um dos postulantes mais competitivos da chamada terceira via, criando arestas com uma penca de candidatos, principalmente o ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes(PDT-CE), que o desafia para  debates constantemente. 

Aparece com dois dígitos nas principais pesquisas de intenção de voto realizadas até o momento, mas não passa disso, por enquanto, não ameaçando ninguém,exceto, talvez, o candidato Ciro Gomes, que liderava o terceiro lugar na disputa até então. O Podemos, que encampa a sua candidatura, não tem capilaridade política nacional, o que dificulta os acordos nos Estados. Há quem especule que ele até pretende mudar de partido antes do fim da janela partidária, criando as condições para tornar-se mais competitivo. Mesmo diante de tantas dificuldades, o Podemos assegura que possui pesquisas internas que apontam para um provável crecimento de sua candidatura, embora o mote do "combate à corrupção" esteja sendo substituído pelos graves problemas econômicos que o país enfrenta, problema para o qual ele não tem muita coisa a dizer. 

Portanto, não se constitui necessariamente uma surpresa que, agora, forças políticas antagônicas tenham se unido num projeto em comum: Apoiar uma CPI contra o ex-juiz, em razão de sua atuação na iniciativa privada, depois que deixou a toga e a condição de ministro da Justiça e Segurança Pública do Governo Jair Bolsonaro(PL). Há várias especulações em torno deste assunto, apontando possíveis irregularidade - algo que pecisa ser devidamente esclarecido, mas daí a propor uma CPI vai um certo exagero que, esbarra, incluive, em algumas interdições jurídicas. 

Pela união de forças que se conjugam em favor de tal CPI, ela seria, certamente, aprovada. Por motivações confessáveis, PT, a base bolsonatista e o Centrão estão unidos em torno deste assunto, cuja viabilidade jurídica, coforme informamos, mostra-se precária. Por enquando, o ex-ministro mantém sua rotina de pré-candidato, percorrendo o país, em busca de votos e apoios que possam consolidar o seu projeto político. Prospecta a base bolsonarista insatisfeita, pisando em ovos, para não ficar parecendo assim tão anti-bolsonarista, o que a afungentaria.      

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Editorial: O céu de brigadeiro de Luiz Inácio Lula da Silva


Havia até bons motivos para comentarmos aqui sobre o ex-juiz Sérgio Moro, que cogita mudar de partido para viabilizar seu projeto de tornar-se, de fato, candidato à Presidência da República nas próximas eleições de Outubro. Segundo especula-se nos bastidores da política nacional, ele estaria insatisfeito com a estrutura do Podemos - partido ao qual filiou-se até recentemente - que não consegue fechar acordos nos Estados. O ex-juiz da LavaJato estaria de namoro com a noiva mais cobiçada de Brasília, o União Brasil, que possui grandes dotes, tempo de televisão e capilaridade política nacional. 

A postura do ex-juiz tem sido bastante criticada pelos membros do Podemos - que o acolheram com bastante entusiasmo - com o propósito de viabilizar seu projeto pessoal. A mudança, se ocorrer, não seria assim tão inusitada, pois o ex-juiz, a rigor, se manteria naquele mesmo conjunto de forças conservadoras que tentam emplacar uma candidatura presidencial pela terceira via, ou seja, uma coalizão já denominada por alguns como uma Nova UDN. O União Brasil, como se sabe, inclusive, ainda não teria um candidato presidencial para chamar de seu, mas estabelece amplas negociações políticas com os diversos pré-candidatos. Existem algumas questões de ordem ética nesta discussão, mas isso já seria uma outra conversa, sobretudo neste campo, meu caro Pierre Bourdieu.  

Por outro lado, o principal concorrente às eleições presidenciais de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), diferente do ex-juiz que ainda não encontrou um partido que lhes ofereça as condições efetivas de viabilizar-se como candidato, encontra-se numa espécie de céu de brigadeiro. Terminou o ano de 2021 liderando todas as pesquisas de intenção de voto e começa 2022 mantendo a mesma performance, em alguns casos, abrindo uma média de 17 pontos em relação ao seu principal oponente, podendo liquidar a fatura ainda no primeiro turno, caso as nuvens negras não apareçam no céu. 

Geralmente, um candidato nesta condição, enfrenta dois problemas: Torna-se o alvo principal dos oponentes, tendo que suportar a série de ataques a ele desferidas pelos adversários, e a desmobilização da militância, dentro do espírito do "já ganhou". Pela espertise adquirida nas diversas disputas presidenciais que participou, o PT, certamamente, já sabe lidar com esses problemas, pontuando a conduta adequada para a aterrissagem em Outubro de 2022, de preferência, como deseja seus eleitores e militância, na rampa do Palácio do Planalto.  

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Editorial: Lula e as eleições estaduais em Pernambuco.

 


Discretamente, como recomenda os bons manuais de Ciência Política,Lula parece ter percebido que já chegou o momento de se colocar de forma mais incisiva sobre a quadra política nacional. Outro dia, jogou um petardo contra o ex-juiz Sérgio Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência da República. A resposta veio de forma imediata e contundente, abaixo da linha da cintura, antecipando o clima de campanha que teremos pela frente. Conforme antecipamos por aqui, esta será uma das campanhas políticas mais acirradas, o que está levando algumas instituições a anteciparem medidas preventivas, sob pena de perderem o controle da situação. Uma dessas instituições é o Exército, que deixará a tropa de prontidão e estabeleceu regras de conduta que deverão ser seguidas pelos seus membros, como a absoluta isenção em relação às famigeradas fake news.

Por vezes, Lula passa a impressão de não conhecer, em sua inteireza, a realidade da quadra política pernambucana, mas isso pode ser apenas uma dessas manhas políticas do morubixaba petista. Pronunciando-se sobre este assunto, aventou a possibilidade de os socialistas pernambucanos consideraram a possibilidade de colocar as alternativas petistas como cabeça de chapa, citando, nominalmente, os nomes do senador Humberto Costa e da Deputada Federal Marília Arraes. 

Não está em discussão as razões de Lula - uma vez que o PSB vem batendo cabeça em relação a este assunto e não existe vácuo de poder, ou seja, o que não falta são pretendentes para ocupá-lo, seja de que partido for - mas alguns aspectos da conjuntura política do Estado, sob o rígido controle de uma oligarquia política familiar que,em nenhuma hipótese, irá abdicar de indicar um nome para disputar a sucessão estadual, que está sob o comando dos socialistas há 16 anos. Logo eles irão bater o martelo sobre esta questão, definindo um nome, que deverá ter o aval do governador Paulo Câmara e o sinal verde da família Campos, herdeira do espólio político do ex-governador Eduardo Campos. 

Em nome dos chamados acordos nacionais, o PT já perdeu grandes chances de construir uma capilaridade política que o colocasse como uma força política alternativa e competitiva aqui na província. Curioso que o Lula, de alguma forma, coadunou-se com essas tecituras, interditando projetos políticos de alguns compaheiros _ ou seria companheiras? - pernambucanos. Raposa política bem cevada, ele deve saber qual será o desfecho desse imbróglio socialista aqui no Estado, mas aproveita o impasse para defender os pleitos dos companheiros locais, aparecendo bem na fita.

Pelo andar da carruagem política, parece mesmo que o candidato "natural', o ex-prefeito Geraldo Júlio(PSB), por inúmeras razões, inclusive,dizem, por uma decisão pessoal de não habilitar-se à disputa, estaria fora do páreo. Restariam, nas hostes socialistas, os nomes dos deputados Danilo Cabral, Tadeu Alencar e o Secretário da Casa Civil, José Neto, que desenvolvem intensas movimentações pela indicação, cada qual com o seus cacifes. Sobretudo pela proximidade com a família Campos, Danilo Cabral, hoje, seria o mais cotado. Segundo dizem, anda subindo morros com o prefeito João Campos(PSB-PE), o que não deixa de ser um grande indicador.  

Charge! Via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Editorial: Sérgio Moro: Vamos salvar o Brasil dos "pelegos e milicianos".



Como se diz por aqui, o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), já prepara o espinhaço para as chibatadas que deverá sofrer daqui para frente. Não há hipótese, nas tais circunstâncias que enfrentamos neste momento, de termos uma campanha presidencial civilizada em 2022. A corda está bastante esticada e os ânimos estão exaltados. Como disse por aqui, tal eleição representará um grande trabalho para o Superior Tribunal Eleitoral, que tem a difícil missão de assegurar que tudo ocorra na legalidade, dentro das regras definidas e consoante os princípios que regem uma democracia política.

O ministro do STF, Alexandre de Moraes, já alertou que não seria tolerante com as violações dessas regras. Liderando com folga todas as pesquisas de intenção de voto realizadas até este momento, Lula será o alvo principal, aquele a ser batido. A experiência política informa que os ataques podem ter um efeito contrário, ou seja, assim como um bumerangue, voltar e atingir quem lançou o petardo. Couraça para suportar as chibatadas o candidato do PT já demonstrou possuir. Se vier o sal grosso também, pois ele vem do pelourinho profundo. Adversidade não é uma palavra dos dicionários de língua portuguesa de sua estante, mas de sua vida. 

O time de Jair Bolsonaro(PL) ainda não entrou em "campo", mas o do ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), já iniciou a campanha de ataques mais incisivos, atirando para os dois polos principais da contenda, disputando o seu lugar ao sol, ou seja, algum "deslocamento". Sérgio Moro vem assumindo um discurso "salvacionista", populista, do tipo que vai livrar o Brasil de duas grandes pragas - como se dizia antigamente - os "pelegos" e os "milicianos". Faço aqui o registro de que os termos usados são do próprio pré-candidato Sérgio Moro, que iniciou seu périplo pelo Nordeste, em viagem ao Estado da Paraíba. 

Ele tem contas a ajustar com os dois lados e, no momento certo, receberá a resposta por tais afirmações.Isso se ele resolver acatar as regras do jogo, comparecendo aos debates, concedendo entrevistas, conforme recomenda os bons manuais da democracia. Em alguns momentos ele parece esquecer que já foi integrante do Governo, exercendo o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública. O eleitor já demonstrou que não tem memória curta. Eles ainda sabem o que vocês fizeram no verão passado.   

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


Editorial: Os ajustes políticos antes da receita para sair da crise econômica



A rigor, diferentemente das receitas de bolo, não existe uma receita pronta e definitiva para superar uma crise econômica da dimensão desta que estamos vivendo no país. O que se aplica  a uma determinada realidade, pode não se aplicar a outra,em razão de algumas variáveis sobre as quais pode-se não se ter o controle absoluto. Até mesmo as receitas de bolo - tudo certinho e muito bem anotadas por nossas avós - podem sofrer variações em função da qualidade de alguns ingredientes, do gosto do freguês ou das variações climáticas. Nunca esqueço de um comerciante americano, radicado no Nordeste brasileiro, que informava que, se o nosso bolo de leite fosse produzido no seu Estado de origem nos Estados Unidos, ele poderia ficar rico. Ocorre que lá, ele não chegaria ao "ponto' em função de questões ambientais ou climáticas. 

No Governo de Sarney, os pecuaristas - insatisfeito com os preços da carne no mercado - esconderam o boi no pasto, provocando grandes transtornos à população, sabotando, portanto, ações do próprio Estado. Isso vem a propósito de um oportuno debate que está sendo promovido pelo jornal Folha de São Paulo, com o propósito de publicar artigos dos assessores econômicos dos pré-candidatos presidenciais. Este assunto tornou-se tão premente que os pré-candidatos, quando lançam suas plataformas, de imediato, apresentam seus assossores econômicos, antecipando as políticas - e possíveis nomes - que deverão adotar para aquela área nevrálgica. Claro que, em sua maioria, eles estão mais preocupados com as reações do mercado do que com o sofrimento do povo, infelizmente. 

O pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva indicou o seu ex-homem forte da economia, o econimista Guido Mantega, para escrever o seu artigo, mas há quem esteja sugerindo que não se pode concluir que ele seria prestigiado num eventual terceiro mandato do petista. No geral, Lula, neste momento,estaria mais preocupado com as costuras políticas de sua candidatura, enfrentando um cenário bem mais complexo do que o das eleições anteriores. Somete para se ter uma ideia desses complicadores, Pernambuco aparece como uma situação onde os ajustes já estariam consolidados. 

Ou há algum equívoco aqui, ou estamos muito mal informados, pois o PSB continua indefinido no tocante à escolha do candidato que disputará as eleições ao  Governo do Estado e que deverá contar com o apoio do petista, um cabo eleitoral de grande prestígio. O governador Paulo Câmara(PSB-PE), que deverá comandar o processo sucessório, teria preferência por um nome, enquanto os familiares do ex-governador Eduardo Campos e a cúpula política da legenda sugerem um outro nome, escudeiro fiel do eduardismo desde longas datas.      

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Tijolinho: Prefeitura do Recife anuncia que não haverá carnaval.

 


A Prefeitura da Cidade do Recife, finalmente, anuncia que não teremos os festejos de Carnaval deste ano. Havia uma grande expectativa em torno do assunto, uma vez que o prefeito, João Campos (PSB-PE), como todo jovem, demonstrava interesse em que as festividades pudessem ocorrer. Infelizmente, as circunstâncias sanitárias recomendam o contrário e prevaleceu o consenso de que,neste momento, não seria prudente realizar uma festa que provoca tantas aglomerações, em meio a um surto de gripe e um recrudescimento da Covid-19, através da cepa Ômicron, que já preocupa sensivelmente os países europeus, os Estados Unidos e a China. 

Num único dia, os americanos registraram um milhão e oitenta mil casos de infecção pela Ômicron. É uma cepa menos danosa e menos letal, mas não deixa de trazer suas preocupações. Um especialista, comentando o assunto, observou que sua capacidade de contágio só é comparável ao sarampo. O mais prudente é evitar as possibilidades de transmissão deste vírus, que tem um grande potencial de contaminação. Quando se pensa nesta crise pandêmica, o ano de 2022 não sugere que será um ano de tranquilidade, a despeito do grande avanço da imunização da população, através das campanhas de vacinação. 

Vivemos situações delicados, ainda, no campo político, social, econômico e sanitário. Este é um momento de cautela, para criarmos as condições necessárias de um grande pacto político em 2022, para que possamos,juntos, encontrarmos os caminhos de saída dessa crise. Cautela e canja de galinha (mesmo com pescoço e pés) não fazem mal a ninguém, conforme afirmamos,em editorial, no dia de ontem, por aqui. Nesta conjuntura, o mais importante é preservar a saúde e a vida das pessoas. Aguarda-se, agora, as medidas que a Prefeitura do Recife pretende tomar em relação à cadeia produtiva da cultura, assim como em relação aos pequenos comerciantes e aqueles trabalhadores que vivem de recolher material reciclável. 

Editorial: O debate dos economistas para tirar o país do fundo do poço.

 


A economia do país encontra-se bastante fragilizada e,qualquer que seja o resultado das eleições de 2022, o próximo presidente terá um longo trabalho pela frente para superar tais adversidades e retirá-la dos escombros. Além de boa vontade política, a tarefa exige estudos do tema, assim como um amplo diálogo com os especialistas no assunto. Um dos fatores que pesam bastante na reeleição de um presidente é a sua avaliação junto à população e, certamente, quando os indicadores econômicos estão no limbo, isso se reflete diretamente nos índices de sua aprovação. 

É sabido que o país não se encontra num bom momento. E aqui nos concentramos apenas no campo econômico, aquele mais sensível, segundo o economista Roberto Campos, porque se reflete diretamente no bolso. Num país com desigualdades históricas e estruturais, como observamos no editorial de ontem, isso acaba pesando e tornando-se ainda mais "sensível' àqueles estratos sociais marginalizados, como pobres, negros, mulheres. O país, forjado no trabalho escravo, sempre teve essas características. O Brasil ainda possui milhões de analfabetos, em sua maioria mulheres, negras e nordestinas, evidenciando tal DNA do pelourinho profundo - como dizia Anísio Teixeira - o que significa dizer que políticas compensatórias e redistributivas de renda também devem estar na agenda dos nossos governantes. 

Não vamos aqui mencionar os indicadores econômicos de desemprego, inflação de dois dígitos, índices pífios de crescimento econômico, o número de brasileiros que se encontram no estágio de insegurança alimentar, disputando víveres com os garis nos carros de lixo ou nas filas dos açougues à procura de ossos. São coisas que a gente sente na pele - ou nas ruas - onde surgem, a cada dia, novas famílias abandonadas, mendigando ajuda nos sinais de trânsito. O estrago foi grande. É necessário um esforço descomunal para encontrarmos a saída e iniciarmos o percurso que pode nos retirar do fundo do poço. 

Na realidade, o país precisa de uma grande conciliação política, com o propósito de construir os consensos necessários para voltarmos a respirar ares mais civilizados  e humanitários. Mas, no tocante à economia, o jornal Folha de São Paulo deverá estar dando início a uma série de entrevistas com os assessores econômicos dos candidatos às eleições presidenciais de 2022. Uma boa iniciativa, que deve ser acompanhada com muita atenção.  

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O maior segredo de Gilberto Freyre

Editorial: Cautela e canja de galinha (mesmo com pés e pescoços) não fazem mal ao eleitorado brasileiro nas próximas eleições.


Numa entrevista recente ao jornal O Estado de São Paulo, o cientista político pernambucano, Antonio Lavareda, faz algumas considerações acerca das próximas eleições presidenciais e, sem querer - posto que se trata de um analista político bastante comedido e ponderado - acaba sugerindo um possível desfecho dos resultados das eleições presidenciais de 2022 no Brasil, ao fazer uma analogia com os acontecimentos recentes no Chile. Naquele país, um candidato de centro-esquerda, Gabriel Boric, venceu as últimas eleiçoes presidenciais, depois de celebrar acordos com o centro político, com o propósito de derrotar a ultradireita representada pelo candidato José Antonio Kast. 

Depois das eleições, Boric - diplomaticamente e seguindo uma linha moderada - abre-se às conversas e negociações com o propósito de construir um consenso em torno do enfrentamento dos graves problemas que aquele pais enfrenta. Lavareda observa que, diferentemente das eleições de 2018, onde houve uma espécie de impulsão da cruzada contra a corrupção, estimulada por alguns atores identificados com essas práticas na condução dos negócios públicos, as eleições de 2022 serão caracterizadas pela ponderação e cautela por parte dos eleitores, possivelmente ressabriados pelos acontecimentos políticos e econômicos( e também de saúde pública), refletidos na avaliação do Governo do presidente Jair Bolsonaro(PL). 

Essas reflexões do cientista político pernambucano ajuda a entender, igualmente, o porquê da "cautela" de aproximadamente 30% do eleitorado brasileiro, aquele que ainda não se definiu por este ou aquele candidato do escopo polarizado, tampouco se enclinou por algum dos tantos candidatos da chamada terceira via, que, a rigor, talvez não vingue, conforme já afirmamos por aqui. O país não se encontra num bom momento e a referência acima aos pés e pescoços de galinha é bastante pertinente, pois reflete nossos problemas econômicos, com recessão, alta nos preços de alguns produtos - o café talvez seja a referência mais recente - e o número preocupante de desempregados, que, curiosamente, traz, no seu bojo, um componente de gênero e raça. A maioria são mulheres e negras.

Depois dessas eleições, um grande acordo de conciliação nacional se torna absolutamente necessário, para estancar essa sangria anticivilizatória, desumana, antidemocrática e intolerante em que o país mergulhou nos últimos anos. Não teremos uma eleição tranquila, em razão dos níveis de acirramento que estamos vivendo. O Poder Judiciário terá um grande trabalho pela frente, para permitir que as regras do jogo sejam rigorosamente respeitadas, não permitindo o linchamento de pessoas e instituições. Nos primeiros dias do ano abordamos este tema por aqui.     

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Uma primeira semana bem agitada

 


Esta primeira semana do ano começa bem agitada. O presidente Jair Bolsonaro(PL) teve que interromper suas férias em razão de problemas de saúde, possivelmente ainda decorrentes da facada sofrida durante aqueles dias tumultuados das aleições de 2018. Pode vir a sofrer uma outra intervenção cirúrgica, com o propósito de desobstruir o intestino. Em encontro recente para ouvir o mercado sobre a economia brasileira, integrantes das legendas DEM e PSL - que objetivam uma fusão - já sabem que não poderão contar nos seus quadros com 30 parlamentares, que deverão migrar para uma outra legenda, em apoio ao presidente. São fiéis escudeiros do bolsonarismo. 

Curiosa foi a expressão utlizada por Júnior Bosselli, diretor da legenda, ao se referir ao assunto, informando tratar-se, na realidade, de um livramento, uma expressão muito utilizada pelos evangélicos. Na realidade, o União Brasil vive de fazer beicinho, pois sabe tratar-se da noiva mais cobiçada da capital federal. Tem levado todo mundo para a namoradeira, mas se recusa, até o momento, a assumir acordos formais. No momento, o pretendente com maiores chances é o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), notadamente por ser aquele que desponta em melhores condições na terceira via. 

Pelas redes sociais, o pré-candidato presidencial do PDT, Ciro Gomes, desafia o pré-candidato do Podemos, Sérgio Moro, para um debate sobre economia. Evidente que o Sérgio Moro não irá para esse debate, pois, como já afirmamos por aqui, ele ainda não está preparado para debater o Brasi, exceto, talvez, no tocante à sua área específica de atuação: o combate à corrupção. Precisa entender urgentemente que candidato de uma nota só não se viabiliza e que também não vale a pena dar palpites sobre assuntos que não conhece, pois o eleitor mais atento percebe as fragilidades ou superficialidades, abrindo os flancos para candidatos bem-preparados como o Ciro Gomes. 

O candidato do PDT é um estudante aplicado dos problemas brasileiros. Certamente não é este o seu problema com as pesquisas de intenção de voto que o coloca, hoje, numa posição difícil. Desvendar essas reticências dos eleitores, isso fica a cargo dos seus estrategistas de campanha. Aqui em Pernambuco,permanece o impasse no tocante à escolha do nome do candidato situacionista do PSB ao Governo do Estado. Esta complicado bater esse martelo porque o o governador Paulo Câmara(PSB-PE) teria preferência por um nome não muito bem aceito pela cúpula política da legenda.O argumento de que o candidato do governador não seria um socialista raiz é mais furado do que uma tábua de pirulitos. 

Crédito da foto: Antonio Barbosa da Silva.  

domingo, 2 de janeiro de 2022

Editorial: A cruzada do ministro Alexandre de Moraes contra as fake news nas eleições de 2022.



O estatuto da "verdade", meu caríssimo filósofo Michel Foucault, sempre foi algo indutor de grandes controvérsias. Joseph Goebbels, o todo-poderoso Ministro da Propaganda Nazista, costumava afirmar que uma mentira repetida mil vez assume status de verdade absoluta. Li, até recentemente, uma excelente matéria sobre as fake news, onde o autor enfatizava, do ponto de vista da psicanálise lakaniana, as razões pelas quais as pessoas tendem a dar credibilidade a essas informações falsas, sem qualquer fundamentação, consistência ou lastro na realidade. 

Uma das razões é que algumas pessoas gostariam que aquela informação fosse verdade, seja por inveja, seja pela inimizade ou indisposição com o indivíduo, seja por sua condição de adversário político ou, quem sabe, por outras motivações inconscientes, que somente algumas sessões com um bom psicanalista ou psicólogo poderiam desvendar. Se eu não gosto do sujeito, então as calúnias, injúrias e difamações que se dizem contra ele, então devem ser verdade. O assunto  tornou-se tão atual e interessante, que produzimos uma "Separata" sobre o mesmo, texto que pretendemos publicar por aqui, depois de alguns ajustes, abrindo uma nova secção neste blog. 

Pelo andar da carruagem política, teremos uma eleição bastante polarizada em 2022. As forças do atraso e do obscurantismo parecem apostar nesse caos, um terreno onde eles se sentem mais à vontade para atuarem. As eleições de 2018 já ocorreram um pouco neste clima, mas a tendência é que o problema seja agravado nas próximas eleições, sobretudo em razão desse processo de radicalização e polarização política. Fazemos aqui referência ao expediente de utilização da mentira como arma política, que se tornou recorrente nas eleições daquele ano, inspirado no modelo criado por um americano que anda às turras com a justiça. Trata-se de um processo pernicioso, de vulgarização da política. Ao invés de discutirem programas ou plataformas de governo, os adversários passam o tempo todo tentando se explicar sobre as mentiras inventadas e disseminadas através das redes sociais, dos robôs, dos disparos de zaps. Terminam as eleições e eles continuam "devendo" explicações à sociedade.

Teremos alguns meses pela frente até Outubro, mas a tendência será mesmo esta polarização, uma vez que uma terceira via competitiva - que poderia contribuir, quem sabe, para diluir tal acirramento - ainda não passa de uma utopia. Lado a lado, com honrosas exceções dos atores mais ponderados, o cabo de guerra está esticado. O ministro Alexandre de Moraes, relator no STF do inquérito das fake news, já afirmou que não permitirá que tais procedimentos sejam utilizados nas próximas eleições. Cassaria a chapa que se utilizasse desses mecanismos, que atentam acintosamente contra a democracia. 

Não tenho dúvidas sobre as boas intenções do ministro Alexandre de Moraes - que tornou-se uma espécie de guardião dos princípios democráticos no país - mas reconheco que ele terá muito trabalho pela frente, sobretudo num país como o nosso, onde a experiência de democracia é frágil e os padrões de relações não são nada republicanos no que concerne à esfera pública. Escrevemos por aqui um editorial, onde tratamos deste assunto, ou seja, abordando as dificuldades de se aplicar os rigores da lei num país como o nosso, historicamente permissivo. A cruzada democrática e republicana do ministro Alexanadre de Moraes, por outro lado, merece aqui todo o nosso respeito, embora conheçamos as dificuldades que ele deverá enfrentar. 

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 





quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Editorial: Ah! como gostaríamos de trazer notícias boas para os nossos leitores e leitoras em 2022



Infelizmente, pelo andar da carruagem política, não há como trazer notícias boas para os nossos estimados leitores e leitoras em relação ao ano que se aproxima. Tivemos um ano difícil em 2021 e todos os indicadores apontam para um ano igualmente ruim em 2022. Embora o país apresente uma queda significativa no contágio e morte pela Covid-19, a onda recrudesce nos países europeus e nos Estados Unidos, desta vez pela disseminação da cepa conhecida como Ômicron, que contaminou um milhão e meio de pessoas num único dia. É menos letal, a população está relativamente imunizada, mas os hospitais estão abarrotados de casos e medidas emergenciais de restrições tiveram que ser retomadas. Na França, o primeiro-ministro interrompeu as férias, quando o serviço de saúde pública anunciou mais de 100 mil novos casos num único dia. Isso lá na França. 

Há poucos elementos para concluirmos que a economia emitirá sinais de recuperação em 2022. Isso significa recessão, desemprego e inflação alta corroendo salários, penalizando, sobretudo, aqueles estratos sociais mais fragilizados,que já se encontram no limbo, perseguindo carros de transporte de lixo, à procura de alguma coisa para comer. A elite do serviço público prepara uma possível greve para o próximo ano, insatisfeita com o atendimento de recomposição salarial para apenas a categoria dos policiais federais, quando há anos outras categorias civis não são contemporizadas. E olha que estamos nos referindo à elite do serviço público, formada por auditores, técnicos do Banco Central, servidores do judiciário, entre outros. 

O terreno político continua minado e viciado, com seus tais orçamentos secretos - as chamadas emendas do relator - através das quais se distribuem milhões aos deputados sem que seja exigido o mínimo de prestação de conta. Certa estava a ministra do STF, Rosa Weber, quando alertou que tal procedimento, em última análise, é um acinte à própria democracia. Aqui na província pernambucana, na melhor das hipóteses, em 2022, talvez possamos trocar uma oligarquia familiar por outra. Essas oligarquias familiares continuam hegemônicas na condução dos negócios "públicos" do Estado, desde a colonização, interditando padrões de relacionamentos de natureza democrática e republicana entre entes públicos e cidadãos e cidadãs.  

No mais, mesmo em tais circunstâncias, desejamos aos nossos leitores e leitoras que possamos superar tais adversidades em 2022, desejando a todos e a todas o discernimento necessário para fazermos as escolhas políticas corretas; conduzirmos nossas vidas com solidariedade aos nossos irmãos e irmãs; repelirmos de forma veemenente práticas fascistas de intolerância e assédios morais, que se tornaram recorrentes, em razão dos momentos de retrocesso e obscurantismo que passamos a viver. Um forte abraço do editor, com os agradecimentos pela convivência de 2021. Esperamos vocês em 2022! 
    

Charge! Via Folha de São Paulo