pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O famoso licor de pitangas de Gilberto Freyre

Gilberto Freyre era um homem de muitas amizades. Costumava recebê-las no Solar de Apipucos e brindá-las com um tradicional licor de pitangas, preparado por ele mesmo, com frutas colhidas no próprio quintal da propriedade. Por ali passaram grandes personalidades do mundo acadêmico e político, que vinham se "consultar" com o autor de Casa Grande & Senzala. Edson Nery da Fonseca, uma espécie de biógrafo oficial do escritor, afirma que para todos os questionamentos, ele sempre apontava sua obra-prima como sendo uma fonte de consulta para as respostas. Seu maior amigo, possivelmente, foi o escrito paraibano, José Lins do Rêgo, com quem deve ter degustado muito licores. O escritor teria levado para o túmulo o segredo do seu licor. Sem nenhuma dúvida, o ex-presidente Jânio Quadros foi o responsável pelos episódios mais engraçados do folclore político brasileiro. De passagem pelo Recife, logo cedinho, resolveu fazer uma visita ao sociólogo Gilberto Freyre, em sua residência do tradicional bairro de Apipucos. Quando aproximou-se do sociólogo, agachou-se, numa atitude de reverência, balbuciando rasgados elogios, o que deixaria o autor de Casa Grande & Senzala desconcertado. Assim que o cerimonial encerrou-se, Gilberto Freyre teria feitos alguns comentários, desaprovando a atitude esquisita de Jânio. Possivelmente, não atreveu-se a oferecer a Jânio o tradicional licor de pitanga que costumava servir a todos os visitantes do Solar de Apipucos. Concluiu que o ex-presidente, apesar do horário, já teria ingerido bebida alcoólica suficiente. O licor de Gilberto, preparado com os frutos das frondosas pitangueiras dos arredores do sítio, ficaria famoso, sempre muito elogiado pelas pessoas que o experimentaram. Depois da morte do sociólogo, que teve sua residência transformada em Casa Museu, a tradição teria sido mantida pela família. Há de se estranhar, portanto, as declarações do jornalista Joel Silveira, num documentário realizado pelo repórter Geneton Moraes Neto, afirmando ser este hábito o mais esquisito já presenciado por ele, além do seu desconhecimento sobre a pitanga, uma fruta saborosíssima, muito utilizada em sucos, sorvetes e licores. Amanhã tem mais historietas sobre Gilberto. 

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O intimismo à sombra do poder - Michel Zaidan Filho.

  

Essa expressão, cunhada pelo filósofo húngaro Georg Lucaks, foi usada para designar aqueles casos onde os intelectuais se beneficiam profissionalmente de sua proximidade física ou política junto ao Poder. No caso brasileiro, esse fenômeno é mais complicado, porque - além das benesses materiais e culturais - há também o chamado "tráfico de influências", sobretudo quando se é parente em primeiro grau do governante de turno.
Como se não bastasse a imensa pletora de familiares que ocupam cargos na administração estadual (e municipal), temos o agravante daqueles que utilizam vínculos de parentesco para obterem vantagens profissionais. É o caso de um conhecido advogado, dublê de escritor, poeta e promotor cultural, que se vale do parentesco com o mandatario estadual para se apresentar como patrono ou mecenas das letras e das artes em Pernambuco, mobilizando os meios de comunicação de massa, contratando figurinhas carimbadas nos meios literários e editorais oficiais e organizando feiras, tertúlias e convescotes literários.
Se essas atividades fôssem promovidas no âmbito privado, com recursos privados e destinados ao mercado, não haveria nada a comentar sobre o assunto. Intitularia-se "Showbusses", industria cultural, mercado cultural ou coisa do gênero. No entanto, o problema começa com a estreita proximidade desses negócios culturais com o Poder Público e isso numa época em que se fala tanto de "transparência", "acontability", "prestação de contas" da gestão etc. De nada adianta fazer propaganda da gestão, quando esse "intimismo" compromete a essência republicana e democrática da administração. É como se fôsse um cosmético ou uma simples maquiagem, destinada a ocultar os outros negócios e atividades que grassam à sombra do Poder, sem nenhum controle ou fiscalização.
Ninguém, em são consciência pode ser contra o patronato privado de atividades culturais, pagas e destinadas a um público pagante. No entanto, quando este patronato é bafejado pelo influxo da sempre generosa proteção estatal, aí a coisa muda de figura. Esse arranjo é bem conhecido: o estado investe, constrói, gasta recursos públicos, e o particular se beneficia, às vezes cobrando dos usuários e espectadores ingressos ou pedágios exorbitantes.
É preciso submeter esse modelo de financiamento público-privado da cultura, das letras e das artes a uma séria, isenta e equilibrada auditoria pública, para que isto não se configure, mais uma vez, num modo de privatização de lucros e socialização de prejuízos ou na reedição do velho e conhecido patrimonialismo familiar no estado de Pernambuco.
Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Tijolaço do Jolugue: As polêmicas posições políticas de Gilberto Freyre


Prometi que durante toda a semana, em comemoração aos 80 anos de Casa Grande & Senzala, faríamos algumas considerações sobre o escritor Gilberto Freyre. Muitos fatos pitorescos sobre o sociólogo são conhecidos, outros nem tanto. No dia de hoje, gostaríamos de comentar sobre as posições políticas de Gilberto Freyre. Em determinado artigo, chegamos a considerar que as posições políticas de Gilberto Freyre constituíam-se numa verdadeira gangorra ideológica, tais as oscilações que sempre a caracterizaram. Depois, reavaliando essa posição, chegamos a fazer uma auto-crítica, considerando que as posições do escritor, de um modo mais constante, seguem uma alinhamento de corte conservador. Filho de pai evangélico, na adolescência, Gilberto costumava frequentar algumas favelas do Recife e realizar as suas pregações. Não se sabe muito bem se o teor dessas pregações ultrapassavam o caráter religioso e enveredava por outras vertentes. Em todo caso, uma conhecida personalidade da esquerda pernambucana - que nos deixou até recentemente - costumava elogiar essa postura, tendo escrito um artigo num jornal local, com o título "Volta ao púpito, pregador". O artigo, como ele nos confidenciou, lhes rendeu algumas dores de cabeça e a perda de uma bolsa de mestrado por sua esposa, mas isso já é uma outra história. Na década de 40, Gilberto compunha o grupo que formava a "Nova Esquerda". Mantinha na Faculdade de Direito do Recife uma espécie de trincheira contra o Estado Novo, representado em Pernambuco por Agamenon Sérgio de Godói Magalhães. Em 47 foi eleito Deputado Constituinte com o apoio maciço dos estudantes daquela faculdade, que organizaram uma passeata do Recife até o Solar de Apipucos em apoio ao seu nome. O Nordeste de Gilberto, como todos sabem, é o Nordeste da cana-de-açúcar. Até em suas representações - caso do Museu do Homem do Nordeste - isso ficou bastante evidente desde a sua primeira exposição permanente, inaugurada em 1979, concebida a quatro mãos, pelo próprio Gilberto e pelo museólogo Aécio de Oliveira. Politicamente, era também com essa aristocracia açucareira que ele mantinha vínculos orgânicos. Foi chefe-de-gabinete de Estácio Coimbra, um representante dessas oligarquias. Reconhecemos o mérito de sua contraposição ao Estado Novo, sobretudo no que concerne à defesa de liberdade religiosa em relação aos cultos de origem afro-brasileiros, violentamente perseguidos no Governo de Agamenon Magalhães. Com o afastamento de Estácio Coimbra, precisou amargar um exílio, foi preso, vítima de atentado. Mas, a rigor, no nosso entendimento, sua indisposição com Agamenon Magalhães não seriam movidas por ideais republicanos, mas, sim, por uma briga de oligarquias.Uma prova insofismável do que estamos falando era boa relação de Gilberto Freyre com Getúlio Vargas. Gilberto frequentava o Catete e Getúlio teria feito gestões para tirá-lo da cadeia. Agamenon era do sertão de Serra Talhada, um ilustre representante das aligarquias pecuaristas e algodoeiras. Pontualmente, divergiam sobre o destino dos mocambos do Recife - que o sociólogo considerava uma experiência de arquitetura interessante - ao passo que o outro preferia adotar uma política higienista, propondo que seus moradores fossem abrigados para lá dos macacos, uma região geográfica próximo à cidade de Camaragibe. Com a valorização do metro quadrado naquela área, em função da Arena da Copa, até que hoje eles estariam muito bem. Bricandeira, gente. Em certa medida, as soluções urbanas que os atuais gestores estão propondo sobre a ocupação dos espaços de favelas do Recife, parecem ter inspiração em Agamenon. . Em 1964, ocorreu o Golpe Militar. Gilberto foi um dos primeiros intelectuais a manifestar apoio ao regime. Salvo algum engano, isso está registrado no documentário de Eduardo Coutinho, Cabra Marcado para Morrer. Existia entre Gilberto e os militares uma relação de muita cumplicidade, inclusive teórica. Gilberto, por encomenda, chegou a escrever uma opúsculo sobre a Reforma Agrária. Certamente, essa foi uma das decisões mais polêmicas do escritor. Além dessas "afinidades" que se revelariam inerentes, até hoje se especula sobre os motivos, digamos assim, pragmáticos dessa decisão. Arrisco um palpite: Gilberto desejava ser indicado como governador de Pernambuco pelos militares. Não conseguiu a indicação. Também não aceitou o convite para o Ministério da Educação. Os militares consideravam o escritor muito vaidoso. Amanhã tem mais.

Tollat qui non noverit, artigo de Michel Zaidan Filho.

   

Essa é uma expressão latina que significa literalmente "quem não te conhece, que te erga", que traduzimos em bom português como "quem não te conhece, que te compre". Esta é a advertência que se deve colar na embalagem da candidatura do atual governador de Pernambuco, filho do escritor Maximiano de Campos e da ministra e deputada Ana Arraes. Muita gente indaga da procedência do governador. outros o acham diferente, por esse ou aquele aspecto Gostaria de fazer essa discussão por outro lado, outro aspecto: o político, o ideológico e o administrativo. Nesse artigo, me interessa sobretudo a metamorfose política do governador. 
Quem escreve essas linhas teve a oportunidade de acompanhar reuniões do PSB, ainda quando o avò era vivo, de participar de debates programáticos do PSB (o da juventude) e de acompanhar de perto a montagem da equipe administrativa do atual mandat� �io, na condição de cientista político, não de filiado ou confrade político. Aliás, frise-se, sempre fui um crítico muito duro dos dois mandatos de Miguel Arraes em Pernambuco. Achei que o neto poderia encarnar um projeto político diferente daquele do ex-governador do estado, hoje seu aliado. Naturalmente, me enganei como vários pernambucanos, pensando que o governandor seria o paladino na luta contra a guerra fiscal, em favor de um novo pacto federativo e a regionalização do Orçamento da União, como forma de combate às desigualdades regionais. Ledo engano. A raposa se travestiu de cordeiro e aprofundou a política criminosa de lesa-federação do seu antecessor. Quem não te conhece, que te compre, como diz a sabedoria popular.
A chamada política de "polos de desenvolvimento" posta em prática pelo atual governador (Arena de Pernambuco, Suape, Polo petroquímico etc.) tem um antecedente em inglês: traduz como "region-state". É uma política de fragmentação geo-economico do território, através da formação de "ninchos de competitividade" (clusters) diretamente associados ao mercado internacional. Essa política de "desenvolvimento" produz verdadeiros enclaves autonomos, com jurisdição própria, nos munícipios onde estão localizados. O entorno ou a periferia desses enclaves não é automaticamente beneficiada pela suposta produção e circulação dessa riqueza, mas recebe todos os malefícios de uma população trabalhadora sanzonal, transplantada sem família, sem lazer, sem assistência médica adequada e, as vezes, sem os devidos direitos trabalhistas.
Seriam, os ninchos, plataforma de lanç amentos ou zonas de processamento, como na China, em Taiwan, na India, no Paquistão ou no resto do Brasil mesmo. No lugar de um projeto nacional de desenvolvimento regional integrado, com recursos do Orçamento da União, o que se tem é a "caixa preta" da renúncia fiscal bilionária e a desregulamentação selavagem do mercado de trabalho e a depredação das zonas de preservação ambiental, entre outros favores governamentais. Findo o empreendimento, auferidas as vantagens, os empregados são entregues a própria sorte e os governos municipais que se danem para administrar as consequências sociais e ambientais, sem terem provado do "bem bom", da riqueza prometida pelos arautos do "hobbesianismo municipal e estadual". Esse é o portfólio desenvolvimentista do atual governador de Pernambuco. Quem não te conhece, que te compre.
Contrasta vivamente com essa generosidade governamental o que vem se fazendo com a oferta e o financiamento dos bens de utilidade pública: saude, educação, cultura, saneamento público etc. Aí, o que deveria ser considerado a produção do "antivalor", como contrapartida da lógica privatista do mercado - focado na obtenção desenfreada do lucro pelas empresas e agentes individuais - o mandatário estadual entregou de "mãos beijadas" a gestão e operação de hospitais, centros, núcleos, escolas a fundações privadas - que cobram por seus serviços - como faz o Imip através da Faculdade Pernambucana de Saude - provocando uma lesgetimação do SUS, que já enfrenta o preconceito e a rejeição da classe média. A educação foi confiada à fundações empresariais "desinteressadas", "Altruisticas", "sem fins lucrativos", é o que dizem. Além da perda da aut onomia científica e pedagógica, a educação é "publicizada", as custos do erário público e contribue para a agregação de valor a marcas como a Fundação Roberto marinho, o Instituto Airton Senna etc., fartamente beneficados com renúncia fiscal.
No quesito fomento à cultura e ao lazer, permanece o tão condenado patronato estatal, com seus artístas e produtores culturais-funcionários do estado, com uma cultura a serviço dos interesses estratégicos (eleitorais) da gestão. Nunca o governante foi tão hostil à liberdade de criação cultural, como o atual governador: ele não proibe nem censura. Ele compra, coopta, alicia os produtores culturais, através de esquemas clientelísticos, familiares, típicos da política do amigo e do inimigo. Se é possível pensar uma forma de colonização perversa pela lógicado estado e do mercado da cultura de Pernambuco, essa é a da atual mandatário estadual. Cultura dos compadres e das comandres, vestindo a camisa da administração pública.
Não podia encerrar essa operação de desmistificação da fraude política sem deixar de mencionar o trabalho do aparelho policial em Pernambuco, chefiado por um membro graduado da Polícia Federal.
Ao invés de oferecer proteção e serviços de utilidade pública à sociedade civil (como aliás foi sugerido ao governador, a propósito da refuncionalização da Polícia Civil) vai assediar cidadaos de bem dentro dos ônibus, com a revista ilegal de bolsas e sacolas e no próprio corpo das pessoas, durante as noites de domingo ou os estudantes e militantes sociais que protestam contra a gestão do governador. Por que não faz isso como os condutores de automóveis de luxo, que andam desbaratadamente por aí? Polícia de classe, preconceituosa e arbitrária. Estado de exceção? Quem não te conhece, que te compre.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Tijolaço do Jolugue: Contra o "escudo popular" dos Governos Petistas, não adianta "berrar".

Na última pesquisa do Datafolha, tanto Marina quanto Eduardo Campos caíram alguns pontinhos, sendo mais evidente a queda de Eduardo Campos, em torno de 04 pontos em relação à ultima pesquisa do Instituto, um índice superior a margem de erro. Aliás, todos caírem, apenas Dilma subiu ( de 42% para 47%). Com o Barbosa na simulação, embora ele possa embaralhar o meio de campo, Dilma venceria de 48% a 15%. Agora vamos ler nas entrelinhas ou nos "ventos" que, segundo Eduardo Campos, indicam que Dilma perderia as eleições. De antemão, gostaria de afirmar que não sou nenhum especialista em pesquisas. Aliás, segundo a imprensa, o Campo das Princesas possui bons especialistas no assunto. Um deles, o mais festejado, registrou o seu Instituto como Campus, dadas as afinidades entre ambos. Imagino que os ventos aos quais o governador se refere talvez seja o percentual de eleitores que desejam mudanças, algo em torno de 2/3 dos entrevistados pelo Instituto. Tenho a ligeira impressão que é nesse vácuo que ele pretende estabelecer suas estratégias. Se aprofundássemos essa questão, possivelmente, apesar das ponderações, o eleitorado creditaria maior possibilidade de que essas mudanças possam ser viabilizadas pela coalizão petista. O PSDB não teria essas credenciais e, muito menos, o governador de Pernambuco, cujo Governo é marcado por profundas contradições, inclusive caracterizado pelo desrespeito ambiental e pouca sensibilidade social. Agora, se os seus marqueteiros expusessem quais são esses "ventos", talvez pudéssemos debater com mais clareza. Apesar dos problemas, a coalizão petista possui um "escudo popular", governador, que garantirá um segundo mandato para Dilma Rousseff. Não adianta "berrar" como sugeriu FHC em artigo recente. Aliás, como bom nordestino, Vossa Excelência deve saber que cabrito bom não berra. 

Tijolaço do Jolugue: 80 anos de Casa Grande & Senzala


Neste final de semana, o jornal Diário de Pernambuco trouxe uma longa matéria sobre os 80 anos do livro Casa Grande & Senzala, escrito em primeiro de dezembro de 1933. Preparem as suas emoções, porque, ao longo da semana publicaremos uma série de historietas envolvendo o livro e seu autor. Gilberto publicou 67 livros, entre os quais Casa Grande & Senzala, o mais festejado deles. O livro, na realidade, é fruto das adversidades enfrentadas pelo sociólogo. Exilado em Portugal e passando por dificuldades econômicas, Gilberto lecionava e escrevia para sobreviver. Casa Grande & Senzala, uma das mais importantes interpretações sociais do país, portanto, é resultado das adversidades do seu autor. O jornal também promete uma série de reportagens sobre o livro, num espaço de tempo que vai deste Domingo até Quinta-Feira. Pela natureza de suas análises e por suas posições políticas, polêmicas sempre existirão sobre o mestre de Apipucos. jornal tomou o cuidado de convidar, até o momento, pessoas que guardam alguma afinidade com as teses defendidas pelo autor, como a escritora Fátima Quintas, que recentemente organizou um livro com as melhores frases de Casa Grande & Senzala. Fátima é o que se poderia chamar de uma "gilbertóloga", um grupo de estudiosos que gravitam em torno das ideias do escritor e sociólogo. O grupo é extenso. Gilberto tinha por hábito orientar seus "pupilos", indicando as linhas de investigações que eles deveriam seguir. Um dos mais conhecidos deles, sem dúvida, foi o escritor paraibano, José Lins do Rego, a quem aconselhou a romancear o ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste brasileiro. Em toda a sua obra, percebe-se a influência de Gilberto Freyre. No livro "Usina", por exemplo, é possível  perceber a afinidades entre ambos, quando Carlinhos, personagem de José Lins, lamenta profundamente que a arquitetura das edificações das usinas estavam afastando o espaço de convivência entre senhores e escravos. Essa convivência harmoniosa, aliás, é uma das grandes polêmicas do livro "Casa Grande & Senzala", ao afirmar indiretamente, que tivemos uma espécie de colonialismo açucarado, diferentemente do que ocorrera com a experiência colonial inglesa, marcada pelo segregacionismo. "A presença da negra no âmbito familiar, como ressalta Fátima Quintas, amenizou as asperezas do dia-a-dia patriarcal da Casa Grande" Será? Em que condições a elite permitiu sua presença nesse recinto, minha estimada senhora?

domingo, 1 de dezembro de 2013

Tijolaço do Jolugue: Dilma venceria no primeiro turno. Que venha Brabosa.

Como informa o jornalista Josias de Souza, do Portal UOL, se as eleições presidenciais fossem hoje, de acordo com Instituto Datafolha, Dilma Rousseff seria reeleita por WO. Antes dele, num artigo seminal, publicado alguns meses atrás, o cientista político Marcos Coimbra, do Vox Populi, também já havia comentado que essas seriam as eleições mais definidas da história recente do país. Tudo leva a crer que iremos nesse diapasão até outubro de 2014, conforme já comentamos. Enquanto Dilma cresce, seus opositores perdem espaço. Aécio Neves continua morgado e insosso. Ao invés de cuidar de sua campanha, esboça um chilique em defesa dos companheiros tucanos envolvidos nas denúncias do propinoduto. Saiu de 21% pela última Datafolha, para 19%, uma oscilação que ainda se enquadra na margem de erro, mas começa a incomodar os tucanos de bico longo. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, perdeu 4 pontos percentuais desde a última pesquisa. Oscilou de 15% para 11%. Esse casamento de jacaré com cobra d'água não vem dando muito certo não. Eles só conseguem consenso entre os banqueiros paulista. A expectativa de que Barbosa poderia entrar na simulação do Datafolha também seria confirmada. Neste cenário, Dilma dá uma lapada de 44% a 15%. Que venha Barbosa. Ele está sendo muito estimulado a entrar no jogo. Diante das circunstâncias, é bem provável que esse "chamamento" continue crescendo, entre os setores conhecidos da sociedade brasileira.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Tijolaço do Jolugue: PMDB do cozido e PMDB do bode agendam encontro.


Neste final de semana, o PMDB pernambucano deverá se reunir, possivelmente, em Vitória de Santo Antão, numa faculdade conhecida. Dividido e fragilizado, suas alternativas são escassas. Na realidade, há poucos dias, cunhamos uma expressão bem típica para definir o atual momento da agremiação peemedebista: o PMDB do cozido e o PMDB do bode. O primeiro grupo gravita em torno do nome de Jarbas Vasconcelos, que deve apoiar o nome que o governador Eduardo Campos indicar para concorrer à sua sucessão. Até bem pouco tempo, o apoio do governador à sua reeleição ao Senado Federal era tido como certo. Política, entretanto, como afirma uma raposa mineira, muda como as nuvens. Ambos já passaram da fase do só vou se você for. Neste intervalo, melhorou bastante o diálogo entre Jarbas e o senador Armando Monteiro. Nunca se sabe. Um tucano emplumado anda conversando sob a sombra do baobá da praça do Campo das Princesas. O segundo grupo gravita em torno do prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio, uma estrela ascendente, prestigiado nacionalmente pela agremiação. É tido como certo o seu apoio ao nome do senador Armando Monteiro(PTB) ao Governo do Estado, em 2014. Já convidaram Dilma para saborear uma autêntica chã de bode lá no Bodódromo, com direito a uma sobremesa de sorvete de rapadura. Uma delícia.

Tijolaço do Jolugue: Lóssio: "Querem cassar a oposição em Pernambuco".



Alguns livros já nascem clássicos, como "Coronelismo, Enxada e Voto", de Victor Nunes Leal, escrito no final da década de 40, mas profundamente perene para analisarmos as categorias do coronelismo até os dias de hoje. Comenta-se muito numa espécie de neo-coronelismo, mas, a rigor, trocando em miúdos, mudaram apenas os métodos - com o suporte dos avanços da tecnologia de comunicação midiática - mas permaneceram as mesmas práticas de sempre, caracterizadas pela perseguição aos inimigos políticos, o mandonismo, o familismo e outros "ismos", tão bem conhecidos dos nossos leitores. Pernambuco já foi governador por um coronel do Sertão, filho de Serra Talhada, que teria deixado para a história política do Estado - além de muita truculência - uma frase célebre sobre o perfil dos governantes que incorporam esse perfil: "Aos amigos, tudo. Aos inimigos, os rigores da lei". Acrescentaríamos que até fora da lei, se depender dos áulicos, que não veem limites para agradar os chefetes de plantão. Outro dia comentávamos aqui a "crise" vivida pelo clã Sarney no Maranhão. Sem herdeiro diretos e amargando uma rejeição incomum, o grupo encontra dificuldades de manter a hegemonia política no Estado, que já perdura por quase cinco décadas. Uma notícia alvissareira, porque seria mais uma oligarquia que denota sinais de enfraquecimento, no contexto de nossa frágil democracia, onde a res publica foi praticamente loteada entre esses senhores. Eis que, curiosamente, um jovem governador, herdeiro político de um homem de inegáveis convicções democráticas e sensibilidade social, parece-nos desejar enveredar por uma trilha caracterizada pela prepotência, pela imposição de sua vontade, pela utilização do aparelho de Estado consoante seus interesses e o interesse dos seus asseclas, numa clara violação de direitos constitucionais e dos princípios que devem reger a convivência democrática. O cidadão iniciou a vida pública com humildade, encontrou muitas dificuldades para se eleger governador, mas, logo em seguida, movido por uma ambição desmedida, passou a ampliar seus tentáculos e parece ter tomado gosto por impor sua vontade, independentemente das opiniões contrárias. Esses tentáculos envolvem um controle do Legislativo, influência sobre o judiciário e "direcionamento" das ações dos órgãos de fiscalização do estado. Pois bem. Depois de sofrer duas derrotas nas urnas e uma no tapetão para o prefeito Júlio Lóssio, de Petrolina, ontem foi anunciada uma auditoria especial do TCE nas contas daquela prefeitura do Sertão do São Francisco. Não há como não ficar configurada uma espécie de perseguição ao prefeito do PMDB do bode, que vem dando uma dor de cabeça aos palacianos. Afinal, quantas prefeituras do Estado estariam com suas contas sob suspeita de malversação? Por que justamente Petrolina foi a "escolhida'? Eles, que num passado recente criticavam tanto o "cozido" passaram a apreciar a iguaria. Gostaria de informar aos palacianos que bode não é indigesto. O que nos parece indigesta é essa geração, curtida no movimento social e estudantil, convivendo com atores políticos da envergadura moral de um Dr. Arraes, se permitir a essas práticas persecutórias, absolutamente incompatíveis com o estado democrático de direito. Que sandice é essa, gente? tem razão o jovem prefeito petrolinense ao afirmar que "Querem cassar a oposição em Pernambuco".

Tijolaço do Jolugue: Prisão e multa de 30 mil para quem ofender políticos pelas redes sociais.

 


Este país, de fato, não pode ser levado muito a sério. Um conhecido senador da República, de um Estado vizinho ao nosso, recentemente cometeu, digamos, assim, uma indelicadeza com o erário: torrou R$ 7,7 mil num jantar na rede de restaurantes O Porcão. A conta foi encaminhada ao Senado Federal. Confesso que andei pensando como é que alguém consome tudo isso apenas num jantar. Apenas para se ter ideia, uma família de 04 pessoas almoça muito bem, num dos melhores restaurantes de comidas regionais de João Pessoa, o Mangai, com direito a sobremesa e uma jarra de suco de seriguela - pode ser outra, mas eu prefiro essa -, numa comanda que não ultrapassa R$ 250,00. Confesso que não frequento com assiduidade esses restaurantes "chico", como diria Maria Luísa, minha caçulinha. Ainda prefiro um bom boteco. Homem de raízes, prefiro um ensopado de bode guizado ou guiné, com cuscuz, na beira da estrada, logo cedinho, com um bom café quentinho, de preferência preparado por uma mulata, que vem com o sabor de suas ancas, como diria Gilberto Freyre. Quando o colesterol permitia, nada melhor do que um pirão de rabada com uma cajuína geladinha, no Mercado da Boa Vista, aqui no Recife. Com vinte contos a gente resolvia essas paradas. Depois dessas postagens, recebi um e-mail de alguém perguntando se eu tinha alguma ligação com o Mangai. Quero informar que apenas conheço o pessoal e gosto do restaurante, onde divido a mesa com amigos jornalistas e blogueiros daquele Estado. Peço perdão pela simplicidade do meu repertório gastronômico, mas, até mesmo quem frequenta bons restaurantes consideraram a quantia de R$ 7,7 mil exorbitante para ser consumida apenas num jantar. Isso repercutiu muito mal para o senador. Em nosso blog, pelo menos três postagens trataram do assunto. Pois bem. O cidadão, um dos principais  articuladores da candidatura de Aécio Neves à presidência da República, agora está apresentando um projeto de lei no sentido de estabelecer prisão de um ano e multa de R$ 30 mil para quem fizer postagens ofensivas aos políticos. Fico sem entender o que ele insinua como "postagens ofensivas". Ofensivo mesmo, senador, é torrar o dinheiro do contribuinte da forma como o senhor fez. O fato curioso é que os tucanos agora deram para armar um circo em defesa de interesses corporativos. Não gostaram nenhum pouco do envio das denúncias de corrupção envolvendo alguns emplumados do ninho para a Polícia Federal, onde se configura, concretamente, a possibilidade de recebimentos de propinas, de acordo com o denunciante. Também ficaram profundamente zangados com as brincadeiras dos fakes da rede Facebook. O que está acontecendo com os tucanos, afinal? Tão pródigos e festivos com a prisão de alguns petistas?

Ilustração com charge de Aroeira via Aroeira.

Jango, JFK e Globo

 

Dois acontecimentos de densidade histórica, como a exumação dos restos de Jango e sua recepção em Brasília foram relegados à parte inferior de O Globo.


@DarioPignotti Arquivo
São Borja e Brasília - Para ler o jornal O Globo em São Borja “geralmente temos que esperar até o meio-dia quando ele vem pelos ônibus que chegam de Porto Alegre”, diz um taxista que me leva até o centro da cidade, na praça 15 de Novembro, em frente à Igreja Matriz, onde o presidente João Goulart foi velado com o caixão aberto em dezembro de 1976. Naquela noite os saoborjenses desafiaram a ditadura lotando a igreja para dar um adeus (não sabiam que era só o primeiro) ao seu líder, apesar de as autoridades do III Exército terem ordenado que ele fosse enterrado imediatamente após chegar da Argentina, onde faleceu no dia 6 de dezembro de causas até hoje não esclarecidas.

“Eu me lembro do velório de Jango, quando o povo quis ir se despedir do presidente. Ele era muito querido aqui, havia uma multidão de gente na Igreja”, recorda outro taxista, coincidentemente apelidado de Jango, que veste uma camiseta colorada do Internacional enquanto me conduz até o Cemitério Jardim da Paz onde os restos do ex-mandatário foram exumados na madrugada de 14 de novembro para, horas mais tarde, serem recebidos pela presidenta Dilma em Brasília com honras de Estado.

Na cidade de São Borja a memória da ditadura continua tão viva que impregna a vida cotidiana: as suspeitas sobre o envenenamento de Jango são compartilhadas pelo ancião com bombachas e chapéu de gaúcho parado em frente ao cemitério e pelos estudantes de Ciências Políticas da Universidade Federal participantes da audiência pública onde se exigiu do governo federal que seus restos sejam devolvidos logo depois dos estudos que se realizam em Brasília.

O país visto desde São Borja, onde Goulart é uma espécie de Camelot mitológico, é diferente do narrado no jornal O Globo e outros veículos de propriedade dos herdeiros de Roberto Marinho.

A exumação do presidente morto no exílio quando estava na mira do Plano Condor, responsável pelos assassinatos (alguns por envenenamento) de vários líderes da região, possivelmente seja o acontecimento mais consistente ocorrido no Brasil no caminha na direção do resgate da memória e da verdade sobre o que ocorreu sob a ditadura, a menos investigada da América Latina.

Fatos similares, como a exumação sob a supervisão de especialistas internacionais (como ocorreu com Goulart) do ex-presidente Salvador Allende e, posteriormente, do prêmio Nobel Pablo Neruda, no Chile, absorveram a atenção pública e o interesse da imprensa por semanas. Aqui não foi assim.

Dois acontecimentos de densidade histórica, como a exumação dos restos de Jango e sua recepção em Brasília por Dilma, Lula e outros ex-presidentes, foram relegados à terça parte inferior da capa do jornal O Globo, no dia 15 de novembro. A parte superior foi dedicada à notícia da possibilidade de que o ministro Joaquim Barbosa ordenasse a detenção dos condenados pelo mensalão. A Folha de S.Paulo adotou uma perspectiva similar. Para a empresa de Frias Filho, o fato de maior destaque foi o engarrafamento de 309 quilômetros ocorrido em São Paulo, publicado como manchete com uma generosa foto, muito acima do retorno de Goulart a Brasília, 37 anos depois de sua morte e 49 do golpe de Estado que o destituiu para estabelecer uma “ditabranda”.

Nada se fará até 2029

Os crimes de Estado, de Júlio César até John Fitzgerald Kennedy, foram perpetrados por uma teia de interesses nunca revelados por completo, disse o procurador norte-americano Jim Garrison em sua intervenção perante uma corte de Nova Orleans em 1969, quando apresentou vasta informação sobre a participação de agentes da CIA combinados com mafiosos anticastristas no assassinato do presidente dos EUA, no dia 22 de novembro de 1963. A grande imprensa, denunciou Garrison em sua batalha solitária, foi cúmplice do encobrimento excitando o público com mentiras sonoras, campanhas patrióticas e outras artimanhas de desinformação, para desviar a atenção da verdadeira trama escondida debaixo dos disparos que destroçaram o crânio do presidente a bordo do Lincoln preto na sulista e racista Dallas.

A autópsia de Kennedy foi manipulada por peritos militares, testemunhas incômodas e cúmplices suspeitos da conspiração morreram em circunstâncias estranhas. Uma comissão tutelada pela Casa Branca concluiu que o magnicídio havia sido urdido e executado por um mitômano Lee Oswald, caracterizado como um sujeito antissocial e pervertido pelo ideário comunista da União Soviética. Uma tese tão discutível como a que assegura que foram naturais as causas da morte de João Goulart e ridiculariza a suspeita de um plano para envenená-lo, como denunciou o ex-agente dos serviços uruguaios Mario Neira Barreiro, preso na penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul.

Questiona-se, e é correto fazê-lo, a credibilidade de alguém como Neira Barreiro que foi parte da organização terrorista Condor e confessa ter participado na morte de Goulart e no plano para eliminá-lo.

Os anais dos crimes políticos estão repletos de personagens como Neira Barreiro, cujas confissões (se verdadeiras) são chave para descerrar o véu da mentira. Um exemplo é o colaborador da CIA, David Ferrie, membro da organização que teria matado Kennedy, que, ao ver-se cercado por seus companheiros, aceitou colaborar com o promotor Garrison. Antes de depor perante o júri, o anticastrista e anti-Kennedy Ferrie apareceu morto em seu apartamento. Derrotado na corte e ridicularizado pela indústria midiática, Garrison se limitou a dizer que essa derrota jurídica era o primeiro passo para uma vitória política que chegaria em 2029, quando serão liberados os arquivos da Casa Branca.

O glamour do golpista

Em São Borja já se fala do segundo enterro de Jango previsto para 6 de dezembro (37 anos depois do primeiro) quando seus restos retornaram ao jazigo familiar do Cemitério Jardim da Paz depois de terem sido analisados no Instituto de Criminalística de Brasília e suas mostras enviadas a laboratórios estrangeiros onde se procurará, se ainda for possível, determinar a causa de sua morte.

Em uma audiência pública realizada no centro de tradições gaúchas, a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e seu colega da Justiça, José Eduardo Cardozo, firmaram, ante a comunidade de São Borja, uma ata de compromisso que garante o retorno do corpo de Jango a sua terra. Surpreende o contraste entre a memória ainda viva do povo de São Borja e a imprensa que ainda domina, com menos hegemonia que outrora, as estruturas de formação da opinião de massas.

Aguardei sem sucesso durante dois finais de semana a publicação de grandes suplementos históricos sobre a saga de Goulart, de volta à vida política 36 anos depois do enterro. Supus que seriam editados extensos cadernos com reportagens investigativas e ensaios sobre o líder democrático das reformas de base deposto, de modo similar ao que ocorreu na imprensa do Chile em setembro deste ano por ocasião dos 40 anos do golpe e da morte de Salvador Allende, ou na imprensa dos EUA, nos 50 anos do assassinato de Dallas.

Nada ou quase nada foi publicado nos grandes jornais do eixo Rio-São Paulo, no formato de caderno especial, sobre João Goulart reposto em sua condição de presidente em Brasília. Por outro lado foram editadas páginas especiais dedicadas a John Fitzgerald Kennedy.

O ápice do despropósito editorial, além de condenar Goulart à morte noticiosa, foi ter tratado o mandatário norte-americano como um personagem fascinante ou, para citar O Globo de 22 de novembro, “Presidente Celebridade”. Em rigor, para os brasileiros, Kennedy foi algo muito distinto ao galante democrata de acordo com o olhar do diário da família Marinho, provincianamente fascinado com o mito de Camelot.

Longe dessa leitura forjada pela Globo, a realidade histórica brasileira, materializada no golpe de 1964, ensina que JFK, na verdade, foi um anticomunista primário, um conspirador que avaliou desde o Salão Oval da Casa Branca, durante um encontro com o embaixador Lincoln Gordon, a progressão da desestabilização contra Jango, como ficou refletido no notável documentário “O Dia que durou 21 anos”.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

Viomundo: Amauri Teixeira: PSDB faz até "showzinho" para abafar propinoduto tucano

publicado em 29 de novembro de 2013 às 13:11

José Anibal, Carlos Sampaio, Aécio Neves e Aloysio Nunes. Foto: George Gianni/site do PSDB
por Amauri Teixeira, especial para o Viomundo

O PSDB, encabeçado pelo senador Aécio Neves (MG), mostra mais uma vez que está sem rumo e  que gosta de se fazer de vítima quando é denunciado por envolvimento em esquemas de corrupção.  Os tucanos gostam de um showzinho para desviar o assunto, mas não conseguem explicar a enxurrada de denúncias que vêm da Justiça da Suiça e que se confirmam em documentos de ex-executivos das multinacionais Alston e Siemens sobre um megaescândalo de corrupção em São Paulo,  envolvendo direcionamento nas licitações para aquisição e reformas de trens, construção e extensão de linhas metroferroviárias no estado. Como sempre, tentam abafar o caso com a ajuda da mídia amiga.
É quase surreal, flagrados, com provas documentais de que há algo muito sério no mundo tucano paulista, agora querem culpar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por ter encaminhado documentos à Polícia Federal para que haja apuração do caso, conforme determina a lei. Tucanos de todas as plumagens estrilam, tentam confundir e não explicam nada à sociedade brasileira, pois há vinte anos, por manobras, abafam CPIs, na Assembleia Legislativa de São Paulo, que poderiam desvendar redes criminosas que operam nos subterrâneos do governo paulista.
A prova maior de como procede o PSDB está no fato de  nenhum deputado estadual desse partido ter assinado o pedido de CPI do Cartel da Corrupção no Metrô. A função do Legislativo é fiscalizar o Executivo. Mas, na Assembleia Legislativa de São Paulo, quem  fala mais alto é  o rolo compressor dos  governos do PSDB.  Essa intolerância à apuração da verdade caracteriza o modus operandi do tucanato, bem diferente da maneira petista de se relacionar com o patrimônio e o interesse  públicos .
O PSDB  gosta de CPIs…em Brasília
 Os governos dos tucanos Geraldo  Alckmin e José Serra,  em São Paulo, são marcados  pela política do “abafa” a exemplo do que ocorreu nos dois mandatos de FHC, que não enfrentou nenhuma CPI, ao contrário do presidente  Lula, que enfrentou várias em  seus oito anos de  mandato , sendo que três delas foram simultâneas, o que rendeu uma saraivada de acusações contra seu governo e também contra o Partido dos Trabalhadores.
O caso atual, dos tucanos atacando o ministro da Justiça, merece reflexões, pois mostra as diferenças nítidas entre o PT e o PSDB no cuidado com o patrimônio público e no tratamento de denúncias relativas a corrupção. Esse  escandaloso  desvio de recursos públicos do metrô de São Paulo faz ressuscitar   um personagem de triste memória de nossa história recente: o  procurador-geral da República do governo FHC, Geraldo Brindeiro,  fartamente criticado por sua falta de apetite de colocar corruptos e corruptores na cadeia, durante o período  em que permaneceu à frente daquele órgão, nos anos de 1995 a 2002.
Vamos aos números: de 626 inquéritos criminais que recebeu, Brindeiro engavetou 242 e arquivou outros 217. Somente 60 denúncias foram aceitas. As acusações recaíam sobre 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros e quatro sobre o próprio presidente FHC. Por conta disso, Brindeiro recebeu o certeiro apelido de“engavetador-geral da República”. Entre as denúncias que engavetou está a de compra de votos para aprovação da emenda constitucional que aprovou a reeleição para presidente, beneficiando o então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Só o comportamento do procurador-geral da República na era tucana serve para ilustrar a  diferença abissal que separa o governo FHC e o modo petista de conduzir os assuntos da Nação brasileira.  Esse contraste é acentuado na forma de se acolher e apurar denúncias contra o Erário e a República. Enquanto o procurador-geral Brindeiro agia de forma facciosa, os governos dos presidentes Lula e Dilma agem de forma republicana, em obediência estrita aos mandamentos de nossa Constituição Cidadã.
Interferência
 Não se tem notícias de qualquer interferência governamental, de 2003 para cá, em qualquer investigação ou acolhimento de denúncia em órgão direta ou indiretamente ligado ao presidente ou a seus ministros.  O exemplo mais patente é o da Ação Penal 470, que julgou e condenou injustamente diversos companheiros do Partido dos Trabalhadores.
Discordamos frontalmente dos métodos  empregados e do conteúdo dessas sentenças, mas até os mais ferrenhos adversários reconhecem que não houve nenhum traço de interferência oficial para o livre desenrolar dessas ações. Não há registro de nenhuma conversa reservada de integrante do alto escalão petista com membros de outros poderes para mitigar, ou mesmo frear, o curso das investigações e o andamento processual da AP 470.
Esse é, em síntese, o modo petista de se portar à frente dos governos. Qualquer que seja sua esfera: municipal, estadual ou federal.  Não à toa, os governos petistas, em números absolutos e relativos, são os que mais observam a Lei de Responsabilidade Fiscal e os que menos têm administradores investigados e condenados por atos contra a Administração Pública.
Agora, diante da tentativa do PSDB de tentar desviar o foco da denúncias  sobre o propinoduto em São Paulo, que prosperou durante os quase vinte anos de governos do PSDB naquele estado,  o  próprio Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reafirmou a continuidade dessa linha de atuação. Disse ele que a  “época do engavetador-geral da República já acabou, e que não tem nada de disputa política a investigação da Polícia Federal envolvendo as graves denúncias sobre um grande esquema de propina na compra de equipamentos para o metrô de São Paulo”.
E acrescentou ainda o ministro da Justiça: “ É meu dever ético e jurídico encaminhar à Polícia Federal e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) qualquer denúncia que chegue até mim, não importa contra quem quer que seja, o ministro tem que pedir investigação. Senão é prevaricação”.
O ministro Cardozo é movido pelo senso de justiça que sempre o caracterizou. No caso de São Paulo, três pontos são inquestionáveis. Senão, vejamos: O primeiro é que a multinacional Siemens confessou ter atuado em um cartel entre 1998 e 2008 com o objetivo de partilhar obras e elevar o preço das concorrências em São Paulo. Gigantes como a Alstom, a Bombardier, a CAF e a Mitsui teriam integrado o esquema;  o segundo é a condenação, na Suíça, de um ex-diretor da CPTM acusado de lavar dinheiro de corrupção; por fim, uma conta atribuída a Robson Marinho, que foi chefe da Casa Civil de Covas, foi bloqueada no mesmo país por suspeita de ter recebido propina.
As investigações do caso Alstom e Siemens  começaram em 2004 na Suíça. Com o acúmulo de provas, a partir de 2008, a Liderança do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo  entrou com mais de 15 representações nos ministérios públicos estadual e federal, que denunciavam direcionamento nas licitações para aquisição e reformas de trens, construção e extensão de linhas metroferroviárias no estado de São Paulo. Denunciou prática de corrupção, formação de cartel, lavagem de dinheiro,  pagamento de propinas a autoridades públicas e prorrogações ilegais de contratos. O Ministério Público alemão condenou a Siemens e apontou pagamento de  propinas de R$ 24,4 milhões para funcionários de alto escalão do governo do PSDB.
É falacioso dizer, como fez o senador Aécio Neves (PSDB-MG) , que tudo não passa de uma reedição do episódio dos “aloprados”, quando petistas foram presos com dinheiro que seria supostamente usado para comprar um dossiê contra Serra.
A atuação das bancadas estadual e federal se pauta dentro das prerrogativas do trabalho parlamentar, entre as quais se inclui a função de fiscalizar as ações do Executivo, diferente de como age o governador tucano Geraldo Alckmin que, ciente das denúncias que apresentam fatos relevantes e robustos sobre a existência de cartel, desconsiderou o Ministério Público e criou uma Comissão de Notáveis que, até o momento, não apresentou nenhum resultado.
Foi ótimo os deputados do PSDB se pronunciarem sobre as tentativas do PT de politizar as denúncias do propinoduto do metrô de São Paulo. Os fatos, por si sós, estão agora desmentindo mais claramente todos os discursos que os tucanos vêm fazendo aqui e em São Paulo. Os órgãos de investigação de São Paulo e os de nível federal já têm provas suficientes para fazer o elo entre as empresas corruptoras e os altos escalões do tucanato.
As justiças da Suiça e da Alemanha vão na mesma linha. As falas dos tucanos só podem ser justificadas por uma questão de desespero, pois eles sabem que é questão de tempo o esclarecimento das perigosas e danosas relações do PSDB paulista com o refinado esquema de corrupção que está vindo à tona.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

A opinião pública tratada como gado.

 

O documentado condomínio entre o PSDB, cartéis e a prática sistêmica de sobrepreço nas licitações do metrô paulista era do conhecimento da mídia desde 2009.

 

  
Arquivo

A régua seletiva da emissão conservadora vive mais uma quadra de exibição pedagógica.

Vísceras, troncos e membros do grupo proprietário do Hotel Saint Peter, em Brasília, no qual trabalhará o ex-ministro José Dirceu, por apreciáveis R$ 20 mil, diga-se  – se fossem R$ 5 mil ou R$ 10 mil as suspeitas seriam menores?--  estão sendo trazidos a público em cortes sugestivos.

Chegam desossados e moídos.

Salgados e pré-cozidos, basta engolir, sendo facilmente digeríveis em sua linearidade.

Sem guarnição, recomenda o chef.

Assim costuma ser, em geral, com as informações que formam o cardápio de  fatos ou acusações relacionados ao PT.

Uma farofa seca de areia com arame farpado.

E assim será com o exercício do regime semiaberto facultado ao ex-ministro.

A lente da suspeição equivale desde já a um segundo julgamento.

Com as mesmas características do primeiro.

Recorde-se o jornalismo associado ao crime organizado que  não hesitou em invadir o quarto de hotel do ex-ministro, em Brasília, para instalar aparelhos de escuta, espionar gente e conversas no afã de adicionar chibatadas ao pelourinho da AP 470.

O cenário esquadrejado em menos de uma semana  –o emprego foi contratado na última 6ª feira— diz que não será diferente agora.

O dono do hotel é filiado a partido da base do governo (PTN), revela a Folha. Tem negócios na área da comunicação. Uma de suas emissoras, a Top TV, com sede em Francisco Morato (SP), conquistou recentemente o direito de transferir a antena para a Avenida  Paulista.

Suspeita.

A Anatel informa que não, a licença foi antecedida de audiência pública. Sim, mas a Folha desta 5ª feira argui tecnicalidades, cogita riscos de interferência em outros canais etc

Não só.

Dono também de rádios, o empregador de Dirceu operou irregularmente uma antena instalada em terraço do Saint Peter, diz o jornal  ainda sem mencionar o andar.

Deve ser o 13º.

A mesma Folha investiga ainda encontros do empresário --membro de partido da base aliada--  com o ministro Paulo Bernardo. Da Comunicação. A esposa do ministro é pré-candidata ao governo do Paraná..

Vai por aí a coisa.

Alguém com o domínio de suas faculdades mentais imaginaria que o ex-ministro José Dirceu, um talismã eleitoral lixiviado há mais de cinco anos no cinzel conservador, obteria um emprego em qualquer latitude do planeta sem a ajuda de aliados ou amigos?

O ponto a reter é outro.

Avulta dessa  blitzkrieg  uma desconcertante contrapartida de omissão: quando se trata de cercar pratos compostos de personagens e enredos até mais explosivos, extração diversa, impera a inapetência investigativa.

O braço financeiro da confiança de José Serra, Mauro Ricardo, seria um desses casos de inconcebível omissão se as suas credenciais circulassem na órbita do PT?

A isso se denomina jornalismo de rabo preso com o leitor?

Tido como personalidade arestosa, algo soberba, Mauro Ricardo reúne predicados e rastros que o credenciariam a ser um ‘prato cheio’ do jornalismo investigativo.

O economista acompanha Serra desde quando o tucano foi ministro do Planejamento (1995/96); seguiu-o na pasta da Saúde (1998/2002), sendo seu homem na Funasa, de cujos funcionários demitidos Serra ganharia então o sonoro apelido de ‘Presidengue’, na desastrosa derrota presidencial de 2002.

Nem por isso Mauro Ricardo perdeu a confiança do chefe, sendo requisitado por Serra quando este assumiu a prefeitura de São Paulo, em 2004/2006, ademais de acompanha-lo, a seguir, no governo do Estado.

Quando o tucano foi derrotado  pela 2ª vez  nas eleições presidenciais de 2010, Mauro Ricardo voltou ao controle do caixa da prefeitura, sob a gestão Kassab.

Esse, o trajeto da caneta que mandou arquivar as investigações contra aquilo que se revelaria depois a maior lambança da história da administração pública brasileira: o desvio de R$ 500 milhões do ISS de São Paulo, drenados ao longo do ciclo Serra/Kassab por uma máfia de fiscais sob a jurisdição de Mauro Ricardo.

O que mais se sabe sobre esse centurião?

Muito pouco.

Seus vínculos, eventuais negócios ou sócios, círculos de relacionamento e histórias da parceria carnal com o candidato de estimação da mídia conservadora nunca mobilizaram esforço investigativo equivalente ao requisitado na descoberta de uma antena irregular  num terraço do Hotel Saint Peter, em Brasília.

Evidencia-se a  régua seletiva.

Que faculta ao tucano Aécio –e assemelhados-  exercitar xiliques de indignação ante as evidências de uma fusão estrutural entre o tucanato de SP,  cartéis multinacionais e a prática sistêmica de sobrepreço  nas compras do metrô paulista - desde o governo Covas.

Dados minuciosos do longevo,  profícuo matrimônio,  são conhecidos e circulam nos bastidores da mídia, de forma documentada, desde 2009.

Quem  confessa é o jornal Folha de SP desta 5ª feira.

Repita-se, o repórter Mario Cesar Carvalho admite, na página 11, da edição de 28/11/2003 do jornal, que se sabia desde 2009  da denúncia liberada agora pelo ‘Estadão’ –cujo limbo financeiro pode explicar a tentativa de expandir o universo leitor com algum farelo de isenção.

Por que em 2009 esse paiol não mereceu um empenho investigativo ao menos equivalente ao que se destina aos futuros empregadores de José Dirceu?

O calendário político da Folha responde.

Em 2010 havia eleições presidenciais; o jornal preferiu investir na ficha falsa da Dilma a seguir os trilhos do caixa 2 tucano em SP.

No seu conjunto, a mídia tocava o concerto do ‘mensalão petista’. Dissonâncias não eram, nem são bem-vindas.

Transita-se, portanto, em algo além do simples desequilíbrio editorial.

Temas ou versões conflitantes com a demonização petista mereceram, ao longo de todos esses anos, o destino que lhes reserva a prática dos  elegantes manuais de redação: ouvir o outro lado, sem nunca permitir que erga a cabeça acima da  linha da irrelevância.

Assim foi, assim é.

Só agora – picados e salgados os alvos em praça pública--  o pressuroso STF lembrou-se de acionar o Banco do Brasil para cobrar o suposto assalto aos ‘cofres públicos’ da AP 470.

Pedra angular das toneladas de saliva com as quais se untou os autos do maior julgamento-palanque da história brasileira, só agora,  encerrado o banquete, cogita-se do prato principal de R$ 70 milhões esquecido na cozinha?

O esquecimento serviu a uma lógica.

Até segunda ordem, perícia rigorosa providenciada pelo BB ofereceu uma radiografia minuciosa de recibos e provas materiais dando conta do uso efetivo do dinheiro nas finalidades de patrocínio e publicidade contratadas.

O documento capaz de trincar a abóboda da grande narrativa conservadora, nunca mereceu espaço à altura de seus decibéis no libreto dominante.

Ao mesmo tempo, o que a Folha admite agora, como se isso mitigasse o escândalo do metrô (‘Papéis que acusam o PSDB circulam há mais de quatro anos’) corrobora a percepção de que estamos diante de uma linha de coerência superlativa.

Ela traz a marca de ferro do que de pior pode ostentar quem se evoca a prerrogativa da informação isenta.

‘Cumplicidade’ diz o baixo relevo inscrito nas páginas e na pele daqueles que ironicamente, destinaram à  opinião pública, durante todos estes anos, o livre discernimento que se dispensa ao gado na seringa do abate.

(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Tijolaço do Jolugue: A guerra do Maranhão.



O comitê de reeleição de Dilma Rousseff deverá se reunir no Planalto, neste sábado. Sobre a mesa, um mapeamento detalhado em relação à situação da coalizão governista em cada Estado da Federação. Mais uma vez, a cúpula do PMDB vai exigir de Dilma apoio ao nome que a família Sarney indicar para disputar o Governo do Estado do Maranhão. Aquele Estado proporcionará uma das disputas mais renhidas das eleições de 2014. São quase cinco décadas de uma hegemonia política que poderão ser quebrados, caso a oposição assuma o comando político do Estado, desbancando o clã Sarney. Eles estão acuados. As manifestações de rua que ocorreram em São Luiz, entre outras coisas, propuseram o fim dessa hegemonia política que penaliza um dos Estados mais pobres da Federação. Neste vácuo, ganharam força as candidatura de opositores como Flávio Dino(PCdoB) e Eliziane Gama(PPS). Até o momento, Flávio lidera todas as pesquisas de opinião, mas os arranjos políticos são complicados na terra dos Sarney. O PCdoB gostaria muito que o Planalto apoiasse o nome de Flávio, uma hipótese pouco provável, diante das contigências impostas pelo PMDB, que já ameaçou o Planalto de retaliações caso isso ocorra. Está em curso até um plano "B" com objetivo de viabilizar o nome da atual governadora, Roseana Sarney, para o Senado Federal. Roseana seria uma espécie de fiscal da oposição, criando embaraços políticos para o governador. O PSB do governador Eduardo Campos esboçou apoio ao nome de Flávio Dino, mas, depois de reatar o diálogo com o PPS de Roberto Freire, há, concretamente, a possibilidade de o partido retirar o apoio a Dino e apoiar o nome de Eliziane Gama(PPS), uma jovem liderança política surgida em Imperatriz, que também vem representando uma dor de cabeça para os Sarney. O clã Sarney ainda estuda a possibilidade de lançar o nome do Ministro das Minas e Energia, Édson Lobão, fiel escudeiro da família, mas esse não se sente muito motivado. As primeiras pesquisas de intenção de voto apontam a liderança de Flávio Dino (PCdoB), com 60%. O Maranhão, portanto, promete uma das disputas mais acirradas do pleito de 2014. Vamos acompanhar de perto o que ocorre por ali.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Tijolaço do Jolugue: PPS na iminência de fechar um acordo com o PSB


Permanecem as costuras entre o PPS e o PSB. Ainda neste final se semana, possivelmente, o líder do PPS, o pernambucano Roberto Freire, deverá ter um encontro com o governador Eduardo Campos com o objetivo de fechar alguns acordos, mesmo diante das dificuldades de construir um consenso na legenda pós-comunista, que sempre gravitou em torno dos tucanos. Basicamente, os pós-comunistas se dividem em três posições: uma candidatura própria; a permanência na esfera de influência tucana, emprestando apoio ao candidato Aécio Neves; e uma ala que pode seguir a orientação do seu líder no sentido de apoiar o nome do governador Eduardo Campos. Caso o acordo seja fechado, Roberto exigirá de Campos algumas contrapartidas. Entre elas, o apoio do PSB ao nome de Eliziane Gama, uma jovem liderança política do Maranhão que, assim como Flávio Dino, está trazendo algumas dores de cabeça para o clã Sarney. Mesmo com uma agenda apertada, Eliziane encontrou um tempinho para dar uma passadinha no último encontro do PSB naquele Estado. Muda um pouco a correlação de forças naquela quadra, uma vez que o PSB estava praticamente fechado com a candidatura de Flávio Dino, do PCdoB.

Tijolaço do Jolugue: Vicente Matheus: "Quem sai na chuva é para se queimar", governador.



Vicente Matheus foi um folclórico dirigente do Corinthians. Talvez o seu dirigente mais fanático. Assim como o ex-presidente, Jânio Quadros, responsável pelas tiradas mais engraçadas do folclore político brasileiro. Vicente costumava dizer que "Quem sai na chuva é para se queimar". Isso vem a propósito de uma recusa do governador Eduardo Campos em participar de um programa de entrevistas, o Cidade Viva, mantido por uma empresa de comunicação local. Até entendo que a agenda do governador está "apertada", mas, a sua condição de homem público, que deve satisfações aos seus eleitores e à sociedade como um todo, não lhes facultaria esse disparate. Como se trata de um programa onde não seria possível combinar com antecedência as perguntas dos cidadãos, certamente, temendo alguns questionamentos embaraçosos, sua assessoria resolveu aconselhá-lo a não se expor demasiadamente. Já existiam mais de 200 perguntas dirigidas ao governador. Sua participação no Programa do Jô foi muito comedida, conforme comentamos. Algumas "regras" desses programas apenas contribuem para "engessar" os participantes, tornando tudo tão previsível que é melhor mudar de canal. O formato do "Cidade Viva", pelo que nos parece, nos proporcionaria uma debate mais substantitivo. Ultimamente, com o bloco na rua, o governador vem recebendo uma saraivada de críticas ao seu Governo. Até mesmo a área de segurança pública - a menina dos olhos verdes - começou a ser chamuscada diante uma possível postura autoritária assumida com relação aos manifestantes dos protestos de rua. A caixa-preta do Governo Estadual já foi aberta. Uma longa matéria do Jornal Valor Econômico, por exemplo, evidencia que no Estado adotou-se um modelo de crescimento onde as questões ambientais e sociais foram relegadas a um segundo plano. O IDH do Estado, segundo essa mesma publicação, estacionou ou apresentou curva descendente nos últimos anos. Pouca coisa mudou em relação ao IDEB. Não entendo muito bem de economia, mas os altos índices do PIB estadual foram obtidos através de um modelo que não privilegiou os empregos locais, além da adoção de uma política de renúncia fiscal não necesariamente salutar aos interesses da população como um todo. Há algum tempo venho observando que na UFPE está surgindo um grupo de reflexões críticas ao Governo de Eduardo Campos. Talvez não fosse um bom momento para ele se recusar a defender o seu Governo.