pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Proibir a exibição de filmes na Fundaj não é censura, segundo jurista


José Paulo Cacalcanti comentou a decisão tomada pela Fundação Joaquim Nabuco, que decidiu não exibir obras dos diretores Cláudio Assis e Lírio Ferreira durante um ano

Viver/Diario - Diario de Pernambuco
Publicação: 02/09/2015 19:17 Atualização: 02/09/2015 19:36

Cinema do Museu não exibirá Big Jato nos próximos 12 meses. Foto: Ricardo Fernandes/ DP/ D.A.Press
Cinema do Museu não exibirá Big Jato nos próximos 12 meses. Foto: Ricardo Fernandes/ DP/ D.A.Press
 
Proibir a exibição de filmes dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira na Fundação Joaquim Nabuco não é censura e não é ilegal, segundo o advogado e jurista José Paulo Cavalcante Filho. Os dois artistas foram punidos pela instituição por causa da maneira como eles comportaram-se no último sábado durante um debate realizado no Cinema do Museu com Anna Muylaert, diretora de Que horas ela volta?.

Por causa da punição, o filme Big Jato, de Cláudio Assis, previsto para entrar em cartaz nos próximos meses, não poderá ser exibido no Cinema da Fundação (Derby) e nem no Cinema do Museu (Casa Forte). A punição, divulgada na segunda-feira, valerá durante um ano.

A decisão da Fundação foi questionada nas redes sociais, já que atinge não só os cineastas, mas também a equipe de produção dos filmes e os espectadores que desejam vê-los nesses cinemas.

Veja a opinião de José Paulo Cavalcante Filho, em depoimento cedido ao Viver:

"Nem toda proibição é censura. Democracia hora é informar, hora é não informar. Tanto é democrático permitir quanto é democrático proibir. Não há conceito absoluto, é de caso a caso. Eu acho que está absolutamente dentro do conjunto de poderes da Fundação tomar qualquer decisão. Se a decisão for proibir a presença física deles, estou de acordo. Se for pra proibir a obra, estou de acordo. Se for proibir a presença e a obra, estou de acordo. Se for permitir a presença e a obra, estou de acordo também. Qualquer que seja a decisão, é um problema da Fundação. Eu sou a favor que faça isso, como estaria a favor se ela decidisse não fazer nada. A democracia não está em jogo nisso. Qualquer solução está na relação entre a instituição e seu público. A tendência das instituições é fazer o que a maioria do público quer que ela faça. Proibir a obra é desagradável, mas acontece. Não vejo problema nisso"

Leia a nota divulgada pela Fundação Joaquim Nabuco

"A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) informa que, diante do comportamento lamentável dos cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira no Cinema do Museu, no último sábado (29), não permitirá qualquer evento envolvendo os dois realizadores, e suas respectivas produções, em qualquer espaço da Fundaj. A punição tem validade por um ano.

Em respeito ao público e prezando pela promoção da Educação e da Cultura, de forma democrática, a Fundaj reafirma seu compromisso com a qualidade e o respeito aos seus diversos públicos."

José Paulo Cavalcanti Filho é advogado, jurista, escritor, ex-ministro da Justiça e ex- presidente do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, além de consultor da Unesco e do Banco Mundial.

A que horas ela volta?



A que horas ela volta?

PUBLICADO EM 01/09/2015 ÀS 14:04 POR  EM NOTÍCIAS

Por José Luiz Gomes
(cientista político)
A sociedade brasileira nunca foi muito tolerante mesmo. Isso é histórico. Mas, nos últimos anos, observa-se um índice insuportável de práticas de intolerância – dirigidas a alguns grupos sociais específicos – notadamente aos políticos ligados ao PT, aos homossexuais, aos negros, às mulheres e aos mais fragilizados socialmente, que não contam com aquela blindagem dos bem-nascidos. As práticas de “justiçamento” nas ruas, por exemplo, acentuaram-se nos últimos meses, tornando o país campeão mundial nessa “modalidade” de justiça com as próprias mãos. Ex- ministros como Guido Mantega, Alexandre Padilha e, mais recentemente, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram vítimas de hostilidades. Eduardo Cardozo, em passeio pela Avenida Paulista, não contava com um grupo de manifestantes contra o Governo Dilma, que o identificou no outro lado da rua, e passou a agredi-lo.
Grosso modo, ao invés de diminuir, nossos padrões intolerância vem aumentando sensivelmente. No noite de sábado, no Cinema do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, recentemente inaugurado no bairro de Casa Forte, ocorreu a exibição do filme A Que Horas Ela Volta, seguido de um debate com a sua idealizadora, a cineasta Ana Muylaert. Não acompanhei o filme, mas os comentários indicam que se trata de uma película que se contrapõe ao machismo, colocando a mulher como protagonista. Depois da exibição, mediado pelo Luiz Joaquim, curador do Cinema do Museu, seguiu-se um debate. Eis que estavam no auditório, dois conhecidos cineastas pernambucanos, Cláudio Assis e Lírio Ferreira. Segundo dizem, sob o efeito de álcool, os dois cineastas teriam dirigidos ofensas e grosserias à diretora do filme, além de outros comentários desabonadores. Sobrou até para o maquiador, tratado como uma “bichona”.
O ser humano é realmente muito contraditório. Gosto muito dos filmes de Cláudio Assis. Assisti Amarelo Manga, Baixio das Bestas, Febre do Rato. Temas como a homossexualidade, a prostituição, a exclusão social são muito bem abordados em seu trabalho. Não conhecemos o outro jovem cineasta, Lírio Ferreira. A nós, de certa forma, a julgar pelos seus filmes, surpreende as atitudes de Cláudio Assis, visivelmente contraditórias. De imediato, a postura dos dois cineastas foi repudiada pela plateia presente ao debate. Depois, pelas redes sociais, o tema alcançou uma enorme repercussão. Em sua esmagadora maioria, o público condenou veementemente a atitude dos dois cineastas, típica de um comportamento eminentemente machista, de caráter preconceituoso. Quem tiver a curiosidade de observar o perfil de Cláudio Assis na rede Facebook, irá observar que a diretora ofendida é a roteirista do seu próximo filme.
Há coisas que não tem mais como consertar. A justificativa de Lírio Ferreira, de que estava sob efeito do álcool, pedindo desculpas à cineasta, longe de arrefecerem os ânimos, apenas colocaram mais lenha na fogueira dessa discussão. A Fundação Joaquim Nabuco, por sua vez, em duas notas, repudia o ocorrido; reitera seu respeito ao público presente à exibição do filme e ao debate que se seguiu; informa sobre os seu caráter plural, democrático e tolerante; e aplica uma punição aos dois cineastas, excluindo-os, durante um ano, da exibição de filmes e outros eventos dos dois cineastas em seus equipamentos.
A polêmica, no entanto, não se encerra por aqui. Longe disso. Continuam, pelas redes sociais, as discussões em torno do tema, agora relacionados ao caráter da punição aplicada aos dois cineastas. Não vou entrar aqui nos “fuxicos”, que apontam para a reincidências dessas atitudes, em outras ocasiões. Pelas postagens das redes sociais, parece convergir um consenso em torno da reprovação da atitude dos dois cineastas e o apoio das medidas da Instituição em relação ao caso. Houve quem observasse, no que concerne à proibição da exibição dos filmes, uma espécie de retorno aos tempos obscurantistas do regime militar, onde obras de arte eram solenemente censuradas pelo governo. Mas, como a medida é temporária e circunscrita aos equipamentos da Instituição, logo se percebeu que havia um certo exagero aqui. Quanto à punição pessoal, parece haver mesmo um consenso sobre o assunto, conforme observamos.
Como bem observava o filósofo francês, Pierre Bourdieu, ao contrário do que dizem os antropólogos, pouquíssimas coisas em nossa sociedade são “naturais”. Ensina-se o preconceito, aprende-se a ser machista. Uma das possibilidade de coibir esse círculo vicioso é através da educação, de medidas pedagógicas, que punam ou inibam esses comportamentos. No final, o que houve ali foi uma tentativa de inibir um discurso emancipatório feminino, proferido por atores que até trabalham muito bem esses temas em suas películas, mas, como seres humanos de uma sociedade patriarcal, aqui e ali – ali pelo menos estão interditados durante um ano – acabam externando atitudes preconceituosas, sob ou sem o efeito do álcool. O álcool não é machista. Eles são. Precisam reavaliarem as suas posições. Medidas pedagógicas como as tomadas pela Fundação Joaquim Nabuco ajudam bastante.
(Publicado originalmente no blog do Jamildo)

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Michel Zaidan Filho: PATRIMONIALISMO





O conceito de "Patrimonialismo" possui uma longa história nos manuais de administração pública e formas de dominação política. Oriundo das monarquias absolutistas europeias, que surgiram na transição da Idade Média para a Idade Moderna, caracterizava aquelas formas de administração real que fundia a titularidade das terras, colheitas e animais existentes no reino com a fazenda real. Ou seja, o rei dispunha, quando lhe conviesse, de tudo que existia em seu reino, independentemente se fosse dos súditos ou dele mesmo. Toda a luta dos parlamentos e da chamada sociedade civil contra o rei foi no sentido de separar a propriedade real (depois, pública) da propriedade privada (dos súditos), de forma que esta não estivesse subordinada aos interesses e necessidades da Coroa. 

Até hoje se discute se o modelo da monarquia portuguesa foi ou não patrimonialista. 0 principal estudioso dessa herança maldita foi o ex-presidente da OAB, Raimundo Faoro, num livro clássico intitulado: "Os Donos do Poder". São mais de 500 páginas destinadas a provar que a história da administração pública no Brasil só reproduz a herança patrimonialista da monarquia lusitana, passando por autores consagrados como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Roberto da Matta etc. Afinal, conservamos ou não - ainda hoje - esse estilo de administração pública, elevado à categoria de  um "tipo de dominação" na famosa tipologia do sociólogo alemão  Max Weber?

Essa é a história do Brasil: os esforços para implantar entre nós um regime republicano e uma administração moderna, submetida à Constituição. A nossa carta maior de 1988 aprovou pela primeira vez um capítulo sobre a administração pública, tipificando os crimes contra o interesse e o erário público. E o ex-ministro Bresser Pereira chegou a falar em "Direitos Republicanos", uma quarta geração de direitos, ligados à boa gestão dos negócios públicos. Infelizmente, como diria Oliveira Viana, existe o Brasil ideal e o Brasil real. Entre eles medra uma enorme distância que, segundo o sociólogo, só podia ser enfrentada com uma modalidade de "autoritarismo instrumental", não através das leis e dos bons costumes. 0 fato é que apesar dos inegáveis avanços no trato da coisa pública e da publicização das boas práticas de gestão pública no Brasil, persiste o vezo, o costume, o hábito de tratar a ação administrativa do município ou do Estado "como coisa sua", da "sua família" ou do seu "grupo político", ao arrepio das leis e dos avanços conquistados.

É o caso de Pernambuco. Abro o computador e sou obrigado, como cidadão, a me deparar com a notícia que uma vez por mês alguma obra, serviço, equipamento, logradouro, aeroporto, viaduto, ponte etc. ganha o nome de um ex-governador recentemente desaparecido. É de se perguntar como uma geração de aprendizes da política recrutada nos Tribunais de Conta do Estado não aprenderam nada em sua atividade de auditores e fiscais das contas públicas, sobre o conceito de patrimonialismo e republicanismo. A administração pública é impessoal, legal e da ética republicana, diz a Constituição cidadã. Essa turma não leu ou não respeita os mandamentos constitucionais e se submete, antes, a algum dever de lealdade dominicana ao chefe ou a quem os elegeu, ou à família do chefe? É, por acaso, o Estado de Pernambuco uma capitania hereditária de algum feudo ou oligarquia familiar? - Qual o sentido dessa administração familista? Perpetuar a memória do falecido, através dessas homenagem com o dinheiro público, para que seus descendentes e correligionários possam usá-las politicamente, nas próximas eleições?

A cidade, como o Estado, pertence aos cidadãos e cidadãs de Pernambuco. Não podem ser usadas discricionariamente pelos seus governantes para fins ou objetivos pouco republicanos. O patrimonialismo na gestão pública é crime de lesa-república e merece ser ajuizado pelo Ministério Público, para que tenhamos uma gestão que faça jus aos brios político do povo pernambucano.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE. 

Precisa ler também:

O sentimento de náusea do mundo político pernambucano 

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Tijolinho do Jolugue: Incidente com dois cineastas em exibição do filme: Que Horas Ela Volta?






A sociedade brasileira nunca foi muito tolerante mesmo. Mas, nos últimos anos, observa-se um crescente insuportável de práticas de intolerância - dirigidas a alguns grupos sociais específicos - notadamente aos políticos ligados ao PT, aos homossexuais, aos negros, às mulheres e aos mais fragilizados socialmente, que não contam com aquela blindagem dos bem-nascidos. As práticas de "justiçamento" nas ruas, por exemplo, acentuaram-se nos últimos meses, tornando o país campeão mundial nessa "modalidade" de justiça com as próprias mãos. Ex- ministros como Guido Mantega, Alexandre Padilha e, mais recentemente, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foram vítimas de hostilidades. Eduardo Cardozo, em passeio pela Avenida Paulista, não contava com um grupo de manifestantes contra o Governo Dilma, que o identificou no outro lado da rua, e passou a agredi-lo.

Grosso modo, ao invés de diminuir, nossa intolerância vem aumentando sensivelmente. Na noite do sábado,dia 29/08, no Cinema do Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, recentemente inaugurado, no bairro de Casa Forte, ocorreu a exibição do filme A Que Horas Ela Volta, seguido de um debate com a sua idealizadora, a cineasta Ana Muylaert. Não acompanhei o filme, mas os comentários indicam que se trata de uma película que se contrapõe ao machismo, colocando a mulher como protagonista. Depois da exibição, mediado pelo Luiz Joaquim, curador do Cinema do Museu, seguiu-se um debate. Eis que estavam no auditório, dois conhecidos cineastas pernambucanos, Cláudio Assis e Lírio Ferreira. Segundo dizem, sob o efeito de álcool, os dois cineastas teriam dirigidos ofensas e grosserias à diretora do filme, além de outros comentários desabonadores. Sobrou até para o maquiador, tratado como uma "bichona".

O ser humano é realmente muito contraditório. Gosto muito dos filmes de Cláudio Assis. Assisti Amarelo Manga, Baixio das Bestas, Febre do Rato. Temas como a homossexualidade, a prostituição, a exclusão social são muito bem abordados em seu trabalho. Não conheço o outro jovem cineasta, Lírio Ferreira. A nós, de certa forma, a julgar pelos seus filmes, surpreende as atitudes de Cláudio Assis, visivelmente contraditórias. De imediato, a postura dos dois cineastas foi repudiada pela plateia presente ao debate. Depois, pelas redes sociais, o tema alcançou uma enorme repercussão. Em sua esmagadora maioria, o público condenou veementemente a atitude dos dois cineastas, típica de um comportamento eminentemente machista, de caráter preconceituoso.

Há coisas que não tem mais como consertar. A justificativa de Lírio Ferreira, de que estava sob efeito do álcool, pedindo desculpas à cineasta, longe de arrefecerem os ânimos, apenas colocaram mais lenha na fogueira dessa discussão. A Fundação Joaquim Nabuco, por sua vez, em duas notas, repudia o ocorrido; reitera seu respeito ao público presente à exibição do filme e ao debate que se seguiu; informa sobre os seu caráter plural, democrático e tolerante; e aplica uma punição aos dois cineastas, excluindo-os, durante um ano, da exibição de filmes e outros eventos dos dois cineastas em seus equipamentos.

A polêmica, no entanto, não se encerra por aqui. Longe disso. Continuam, pelas redes sociais, as discussões em torno do tema, agora relacionados ao caráter da punição aplicada aos dois cineastas. Não vou entrar aqui nos "fuxicos", que apontam para a reincidências dessas atitudes, em outras ocasiões, envolvendo os atores citados. Pelas postagens das redes sociais, parece convergir um consenso em torno da reprovação da atitude dos dois cineastas e o apoio das medidas da Instituição em relação ao caso. Houve quem observasse, no que concerne à proibição de exibição dos filmes, uma espécie de retorno aos tempos obscurantistas do regime militar, onde obras de arte eram solenemente censuradas pelo governo. Mas, como a medida é temporária e circunscrita aos equipamentos da Instituição, logo se percebeu que havia um certo exagero aqui. Quanto à punição pessoal, parece haver mesmo um consenso sobre o assunto, conforme observamos.

Como bem observava o filósofo francês, Pierre Bourdieu, ao contrário do que dizem os antropólogos, pouquíssimas coisas em nossa sociedade são "naturais". Ensina-se o preconceito, aprende-se a ser machista. Uma das possibilidade de coibir esse círculo vicioso é através da educação, de medidas pedagógicas, que punam ou inibam esses comportamentos. No final, o que houve ali foi uma tentativa de inibir um discurso emancipatório feminino, proferido por atores que até trabalham muito bem esses temas em suas películas, mas, como seres humanos de uma sociedade patriarcal, aqui e ali - ali pelo menos estão interditados durante um ano - acabam externando atitudes preconceituosas, sob ou sem o efeito do álcool. O álcool não é machista. Eles são. Precisam reavaliarem as suas posições. Medidas pedagógicas como as tomadas pela Fundação Joaquim Nabuco ajudam bastante.




Tijolinho do Jolugue: Polícia do Rio de Janeiro oficializa o apartheid

O sociólogo Gilberto Freyre sempre enfatizou que o nosso colonialismo, diferente do que ocorreu com alguns países africanos colonizados pelos ingleses - caso da África do Sul - não tinha um caráter segregacionista. Para alguns autores, ele fazia uma espécie de apologia do colonialismo português que, a despeito de seu caráter não segregacionista, também tinha suas mazelas. Essa leitura não foi feita apenas por pesquisadores brasileiros - que o interditaram em alguns centros acadêmicos - mas, igualmente, pelo governo português, que financiou viagens do mestre de Apipucos às suas colônias nos continentes africano e asiático, com o propósito de fazer uma espécie de propaganda do modelo de colonização português, quiçá, inibindo as guerras de libertação que, então, já começavam a acontecer nas suas colônias. Isso em pleno período salazarista, o que evidencia o perfil conservador do sociólogo. 

Apesar de ter enfatizado bastante essas "trocas" entre colonizados e colonizadores, um misto de atração e "domação", outro dia, lendo um texto do antropólogo Roberto DaMatta, ele afirma que, num dos seus textos - possivelmente na sua obra clássica - Gilberto observa que esse modelo polarizado de construção de uma nação - profundamente hierarquizado na Casa Grande & Senzala - iria plasmar as nossas relações sociais pelos próximos séculos. Nisso, ele não deixa de ter razão.

É atribuído a Gilberto Freyre a expressão "Democracia Racial", mas, segundo Fátima Quintas, Presidente da Academia Pernambucana de Letras, uma estudiosa da obra do autor, nunca viu isso registrado em nenhuma de seus livros. Isso pode ter sido capturado de uma de suas falas ou mesmo uma adjetivação imposta por alguma autor ao conjunto de sua obra, em certa medida adocicada, ao tratar dessa questão. O fato concreto é que, no Brasil, o andar de cima - salvo em algumas situações bem particulares, onde essa relação se dá num contexto de submissão - nunca se entendeu muito bem com o andar de baixo da pirâmide social. Nossa elite é prepotente, insensível, arrogante, racista e segregacionista. 

O ódio nutrido contra o PT não está relacionado aos possíveis casos de corrupção envolvendo alguns membros daquele partido, mas, sobretudo, em razão de o PT ser o patrocinador de um conjunto de políticas públicas que favoreceram sensivelmente o andar de baixo nas últimos anos. Se a indignação tivesse ralação com a corrupção ela, certamente, não seria tão seletiva. Pois muito bem. A Polícia do Rio de Janeiro, através da Operação Verão, praticamente, oficializou uma espécie de apartheid, sistematicamente impedindo que jovens negros da periferia possam ter acesso às praias dos banacas cariocas. Nos finais de semana, eles entram nos coletivos, retiram os jovens negros, revistam suas bagagens  os impedem de ter acesso àquelas praias. Como diria uma colega de trabalho, essa situação realmente não pode continuar.


domingo, 30 de agosto de 2015

Tijolinho do Jolugue: O caos na segurança pública no Estado de Pernambuco.

Carro no qual cabo da Polícia Militar foi alvejado passou por perícia neste domingo (Foto: Danielle Fonseca / TV Globo)

Acabei de ler uma matéria, no Jornal do Commércio de hoje, 30 de agosto, sobre a crise na segurança pública do Estado. Os jornais de hoje foram muito felizes - quando é possível elogiar a gente elogia - numa espécie de encadeamento de matérias que nos ajudam a entender e dimensionar os problemas econômicos e políticos que atravessam a administração pública brasileira. O tradicional Diário de Pernambuco traz uma matéria sobre os repasses do Governo Federal para o Estado, que minguarem até o limite. No ano de 2015, praticamente, nenhum recurso de emendas teriam sido liberados, o que explica o montante de obras paradas no Estado. Há de se dá um desconto aqui à veracidade dessa informação, algo que precisa se melhor checado.

Por outro lado, não se pode, simplesmente, negar que os problemas existem. O próprio Governo Federal vem fazendo algumas tentativas de ajustes na máquina, embora essas medidas não sejam assim tão eficientes. Cortou ministérios, fundiu outros, mas, no final, a economia foi insignificante. Em termos de DAS, por exemplo, foram apenas 1000 cargos, de um quantitativo 22 mil, além de uma série de outros penduricalhos, como as funções gratificadas. A rigor, se considerarmos as demandas da população, proporcionalmente, o quadro de servidores públicos no Brasil ainda é insuficiente, sobretudo em áreas estratégicas, onde já se observa um contingenciamento de recursos. Em entrevista ao JC, o Secretário de Planejamento do Estado, Danilo Cabral, acerta na mosca: a crise econômica está afetando sensivelmente a gestão da máquina pública. Aqui na província só se fala em cortes na máquina. 

A Polícia Civil do Estado adotou uma espécie de "Operação Padrão", o que vem contribuindo sensivelmente para o "emperramento" de suas ações. O quadro de servidores da Polícia Civil já é deficitário e, com essa Operação Padrão, as ações ficam ainda mais comprometidas. Considero que é preciso muita criatividade para enfrentar esses problemas. Uma greve, agora, não seria nada recomendável. As ações do Estado seriam no sentido de punir os grevistas e a Justiça decretaria, de imediato, a ilegalidade, aplicando multas pesadas ao sindicato da categoria. O diálogo com a população sobre os problemas da corporação e de segurança pública do Estado - como já presenciei em alguns momentos - talvez seja mesmo uma medida pedagógica e suficiente nas condições atuais. 

O resultado disso é que o Pacto pela Vida está sofrendo refregas pesadas. Os índices de violência estão pipocando no Estado. Apenas para ficarmos no campo policial, de ontem para hoje, dois policiais foram mortos em condições inusitadas. Uma policial civil, morta quando se deslocava no seu carro, nas imediações da cidade de Abreu e Lima. Teria reagido a uma tentativa de assalto, baleado o assaltante, mas foi alvejada por diversos disparos e não resistiu aos ferimentos. Hoje, no bairro de Apipucos, um soldado atirou num Cabo, dentro da viatura, depois de, supostamente, uma discussão envolvendo a questão de cotas. 

A coisa está feia mesmo. Aqui em Olinda, a população vem realizando vários encontros com a Polícia Militar, nos sentido de minimizar os altos índices de assaltos, em todos os bairros. Penso que isso até ajuda, uma vez que segurança pública exige a participação dos diversos atores. Mas é preciso enfatizar que o Estado precisa fazer a sua parte e, a rigor, diante das circunstâncias, isso não vem ocorrendo. Como falamos no início, um encadeamento bastante preocupante, refletindo até no stress dentro das próprias viaturas.  

sábado, 29 de agosto de 2015

Tijolinho do Jolugue: As previsões pessimistas de Marcelo Neri



Admiro bastante as pessoas que assumem posições, independentemente das consequências. Assumir posições tem algumas implicações conhecidas, seja no aspecto positivo, seja no negativo. As pessoas passam as nos odiar ou a nos admirar. Não dá para ser indiferente com quem assume posições. Há um economista da Fundação Getúlio Vargas que realiza(ou) uma brilhante carreira acadêmica. Sua polêmica tese de doutoramento - depois de muito criticada pelas igrejinhas do campo acadêmico - foi solenemente aplaudida e premiada pela ANPOCS - a prestigiada associação de classe do pessoal das Ciências Sociais. Por tratar do tema das desigualdades sociais no país, muitas de suas conclusões foram debatidas em sala de aula com nossos alunos. 

Aliás, esse economista tornou-se uma referência nacional nos estudos sobre as desigualdades sociais no país. Sem exagero, a maior dela. Suas ligações com o também economista (petista) Márcio Pocchmann, o levaram à burocracia do Estado, onde presidiu o IPEA e ocupou a cadeira de ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Como burocrata do Estado, foi uma das peças chaves na engrenagem das políticas públicas dos governos de coalizão petista, responsável por avanços significativos no combate às desigualdades sociais e de renda no Brasil. 

No segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, eis que fomos surpreendidos com a sua saída do governo. Ele foi substituído pelo professor Roberto Mangabeira Unger, a quem ficou incumbida a responsabilidade de elaboração do plano Brasil, Pátria Educadora. Até hoje ninguém entendeu muito bem porque aquela pasta e não o Ministério da Educação ficou responsável pelo plano. O pior é que o diálogo entre os dois ministros não é dos melhores. Como escrevemos numa outra oportunidade, o perfil dos atores é um fato importante para conhecermos as reais intenções dos governantes. 

Quando foi anunciada a sua saída daquela pasta, prevíamos problemas com as políticas estratégicas que sempre estiveram associadas aos governos da coalizão petista. O professor voltou a dar aulas e a escrever seus artigos acadêmicos. Recentemente concedeu uma entrevista a um grande jornal, onde fica patente um elemento para entendermos melhor a sua saída daquela pasta. Um tanto quanto pessimista, ele afirmou que os avanços sociais conquistados nos últimos anos correm um sério risco de estancar. Ou o Governo Dilma muda os rumos, ou a curva volta a ser descendente, desfavorável ao andar de baixo da pirâmide social. Estamos falando do economista Marcelo Neri.

Somos Todos Manú Thomaziello


Política é feita de gestos ou alguns símbolos emblemáticos, que atingem uma repercussão, por vezes e não raro, muito maior do que alguns discursos. Muita coisa, por exemplo foi escrita para tratar daquele boneco inflável de Lula, que apareceu em Brasília, durante os protestos contra o Governo Dilma, no último dia 16 de agosto. O boneco trazia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com roupa de presidiário, com o número inscrito: 13 - 171 , numa alusão ao número do PT - esse correto - e as ilações ao suposto delito, inscrito no código penal como 171. Ontem, o boneco foi destruído por uma militante da União da Juventude Socialista, que, simplesmente, furou o boneco. 

Um ato simples, mas, como afirmamos, carregado de simbolismo. Com o ato ,Somos Todos Manú Thomaziello​ tornou-se uma heroína para os progressistas, e uma pervertida e perigosa comunista para os patrocinadores daquela infâmia dirigida ao ex-presidente. Depois do ato, se seguiram alguns fatos curiosos, como uma prestação de queixa dos patrocinadores. Na delegacia, o agente tomou o cuidado de solicitar a nota fiscal do boneco, que não foi apresentada. Um outro fato é que a seu perfil da rede Facebook, relevada pelo jornal Folha de São Paulo, foi invadida por uma leva de mau-caráter, que lhes dirigiram todo tipo de xingamentos. Somos Todos Manú Thomaziello.


Tijolinho do Jolugue: Os descaso da política cultural socialista no Estado.




Com raras exceções - talvez os bancos que sempre anunciam lucros exorbitantes, mesmo no contexto dos governos de coalizão petista - passamos por um momento bastante delicado na economia. Nas três esferas de governo os problemas se multiplicam. Professores e servidores administrativos de algumas universidades estão parados, enfrentado um verdadeiro impasse nas negociações com o Governo Federal, que não abre mão da proposta de 21% divididos em 04 anos. Quando o caboclo "recebe", o percentual já foi engolido pelo processo inflacionário. Soube que algumas categorias terceirizadas da Prefeitura da Cidade do Recife estão com os seus salários atrasados. A Polícia Civil do Estado resolveu adotar uma prática bastante pedagógica para protestar contra a precarização do trabalho pela qual estão sendo vítimas. Estão fazendo campanha nas ruas denunciando o descaso do Governo Estadual com a segurança pública.  

Nos últimos dias, a palavra mais pronunciada pelo governador Paulo Câmara(PSB) foi, sem dúvida, "cortes". A situação, volto a repetir, não está boa para ninguém, com honrosas exceções. Ontem li e reli uma carta-protesto escrita pelo escritor Cristiano Ramos, onde ele explicava porque estaria deixando de fazer uma mediação no Festival A Leta e a Voz, em homenagem a Ariano Suassuna, promovido pelo Secretaria de Cultura do Governo do Estado. A área de cultura, que sempre foi muito castigada, foi uma das mais atingidas pelos cortes anunciados pelo Governo do Estado. 

A gestão cultural do Estado passou a ser uma temeridade nos governos neo-socialistas do PSB, tanto no plano estadual quanto no plano municipal. O Teatro do Parque completará seu centenário fechado ao público. Recentemente, o Governo Estadual também anunciou o cancelamento do Festival Internacional de Poesia. O que transparece no discurso do escritor Cristiano Ramos não são apenas as contingências pontuais, mas, igualmente, os problemas estruturais de contingenciamento de recursos para área, além de uma gestão que tem se mostrado pouco eficaz no tratamento desses recursos escassos. Ocupa aquela secretaria hoje, como titular, o senhor Marcelino Granja, ligado ao PCdoB, o que, per si, já pode nos fornecer alguns indicadores sobre esta gestão.

Os partidos de esquerda sempre mantiveram uma relação melhor com as políticas culturais. Ocorre que já faz algum tempo que o PCdoB deixou de ser de esquerda. Está entranhado nas malhas da burocracia da máquina pública brasileira com práticas de fazer corar o mais ilustre direitista. Não há, na realidade, políticas culturais de corte republicano, mas um jogo movido por puro pragmatismo, orientado pelo compadrio, um enredo de interesses nebulosos. 


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Michel Zaidan Filho: Pau que dá em Chico, dá em Francisco








O Procurador-Geral da República, senhor Rodrigo Janot, em sabatina na comissão do Senado Federal para a recondução de um novo mandato de mais dois anos, saiu-se com uma frase destinada a fazer história: "Pau que dá em Chico, dá em Francisco". Tradução: todos são iguais perante a lei. Ninguém tem privilégios, salvo-conduto ou imunidade diante da Constituição e as leis penais do Brasil. Só é possível avaliar a extensão desse principio republicano, entre nós, quem conhece a história das oligarquias regionais. A frase, com que ele concluiu as suas respostas na extensa sabatina a qual foi submetido, foi dirigida a um dos representantes da oligarquia mais reacionária do país: a alagoana. Precisamente, ao senhor Fernando Afonso de Mello, recém-denunciado no esquema da Lava Jato, pela Procuradoria-Geral da República, a partir das informações colhidas pelo juiz Sérgio Moro, em Curitiba. O ex-presidente esperneou como pode, mas ficou sozinho, em sua arenga contra Janot.

A enunciação do princípio republicano da isonomia ou a igualdade de tratamento necessariamente dispensado a todos, em face da lei, serve de parâmetro para analisar os crimes cometidos pela oligarquia pernambucana. Naturalmente que não será apenas o ex-deputado do PP, Pedro Correia, acusado de receber 50 milhões de reais de propina, que será julgado e condenado pelas contravenções cometidas. A lista do Procurador da República é mais extensa e inclui vários outros políticos de Pernambuco, entre os quais estão, no reino dos vivos, o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) e o deputado Eduardo da Fonte (PP). 

No reino dos mortos, encantados e desaparecidos estão: o valente (e muito rico) ex-senador Sérgio Guerra (PSDB) e o ex-governador de Pernambuco (PSB). Há um outro inquérito aberto pela Polícia Federal (Operação Fair Play) que apura denúncias de superfaturamento no processo de desapropriação do terreno da Arena Pernambuco e sobre a concorrência que beneficiou a Construtora Odebrecht na construção da referida obra. Há também suspeitas de que o dono da construtora, o senhor Marcelo Odebrecht (preso nas dependências da PF em Curitiba) tenha procurado interferir no TCU para que não fossem fiscalizadas as obras da Refinaria Abreu e Lima, objeto de inúmeras denúncias de superfaturamento e desvio de recursos.

Todo esse quadro contrasta vivamente com o domínio da oligarquia da família Campos em nosso Estado.É como se Pernambuco estivesse fora do Brasil e, portanto, imune as consequências penais e civis decorrentes das ações praticadas pelo ex-governador e seus prepostos e paus mandados que, apesar do descalabro administrativo que toma conta do Estado, mantêm uma fidelidade canina ao chefe desaparecido e à sua família. Os jornais evitam - como podem - falar sobre o assunto. Os partidos que eram de oposição, calaram-se depois de comerem na mão generosa do PSB. A acusação assacada contra o ex-governador é que a propina (20.000.000 de reais) teria sido utilizada para a reeleição do mandatário estadual e seus correligionários. Mesmo supondo que o processo se extingue com a morte do acusado, há muitos beneficiários vivos do desvio de recursos públicos. Estes são portanto perfeitamente passíveis de serem acusados e processados na forma da lei. 

Como disse Rodrigo Janot não há nenhum futuro viável para o país e a democracia, quando não se cumpre a lei e não se combate corrupção. Nenhum cidadão, seja de que família ou oligarquia for, está imune ao braço pesado da Justiça. Silenciar e alimentar o quadro de impunidade que ora se vislumbra em nosso Estado é ser cúmplice dos eventuais crimes e delitos praticados contra o interesse público.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

Crônicas do cotidiano: Uma aula de Kierkergaad para os milicos



José Luiz Gomes


Chegamos à UFPE com um grande entusiasmo, no início da década de 80. Nosso circuito envolvia o Centro de Artes e Comunicação, o Centro de Filosofia e Ciências Humanas, o Centro de Educação, O Núcleo de Educação Física, o prédio de Engenharia e o de Ciências Sociais Aplicadas. Cada qual com suas histórias e particularidades. Na quadra de Educação Física, por exemplo, as "peladas" com a turma de Exatas, quando o professor dividia as turmas entre Humanas e Exatas. Disputas renhidas, quase sempre decididas em favor das Humanas, formada por um pessoal mais afeito às manhas e malandragens futebolísticas. Afinal, futebol nunca foi coisa muito exata mesmo. Nem dentro nem fora de campo. Já não éramos o mesmo peladeiro dos campos da Mata do Frio, em Paulista, mas ainda aprontamos algumas, como uma bola tomada no meio de campo, um drible desconcertante em três adversários e um chute indefensável, à lá Didi, caindo como uma folha seca nas redes do adversário. Um golaço. 3x2 para Humanas. 59 minutos do segundo tempo. Nada mais poderia ser feito. Como diria os narradores esportivos, a plateia veio abaixo. 

Tínhamos uma namorada no Centro de Educação, o que nos contingenciava a buscar aquele aconchego, um dia sim e outro também. No prédio de Engenharia, apenas os contatos com Renildo Calheiros e Luciana Santos, então apenas dois militantes estudantis do PCdoB. Por essa época, nada nos indicavam que abandonariam a utopia comunista. No CAC, além do curso de Letras, as famosas aulas espetáculo do escritor e teatrólogo que nos deixou até recentemente, Ariano Suassuna. Não era incomum encontrar aquela figura esguia e bem-humorada nas proximidades do CAC, sempre muito atencioso com os alunos. O CFCH sempre realizava seminários importantes, trazendo algumas estrelas do campo acadêmico, como Sartre e Simone de Beauvoir. Por essa época, sua cantina, ali no térreo, era administrada por um cidadão conhecido como Daniel. Havia um prato, conhecido como Tropical, que era o nosso preferido. Várias frutas, queijo e presunto e umas fatias de pão. Uma delícia. 

Eventualmente, pagávamos algumas disciplinas isoladas no Centro de Ciências Sociais Aplicadas, atraídos pela busca do conhecimento ou mesmo motivado por outros fatores, como alguma aproximação e identidade com os seus professores. Um desses professores era Pessoa de Moraes, que publicava, com regularidade, seus artigos no Diário de Pernambuco. A identificação com os seus escritos nos motivaram a procurá-lo, por diversas vezes, com o intuito de aprofundar os assuntos comentados nos artigos. Passamos a frequentar as suas aulas e a sua famosa biblioteca, com os livros que ele nos fornecia. Pessoa de Moraes era um professor olhado com reservas pelos militares. Até recentemente, mantínhamos um pasta com todos os seus artigos religiosamente arquivados. Vocês não podem imaginar a tristeza de ter que se desfazer desse material.  

Existia também um tipo esquisito, conhecido como professor Wandick, de quem também nos aproximamos. Boa gente, inteligentíssimo, mas de uma personalidade que fugia um pouco aos padrões estabelecidos, o que levava algumas pessoas a considerarem-no estranho. Ai de quem ousasse enfrentar o professor Wandick num debate. Normalmente ele começava suas explanações informando que tinha 300, 400 ou 5000 anos de história, a depender dos temas abordados. Os desavisados que ousavam enfrentá-lo, eram solenemente convidados a trocarem as fraudas primeiro. Nunca o vi perder um desses embates. 

Era uma pessoa muito querida no circuito acadêmico. Quando faleceu provocou uma comoção entre os alunos e o pessoal administrativo. Entre os professores, apenas aqueles mais próximos e leais, posto que as igrejinhas, desde sempre, impõe suas regras rígidas e cristalizadas, docemente incorporadas por alguns atores. Eles simplesmente surfam na "onda". Uns cagões sem opinião própria. Dá nojo isso. Muitos chegavam para mim para externarem suas opiniões sobre Wandick sem sequer o conhecerem. Não sei o que Pierre Bourdieu disse sobre isso, mas, parece-nos que esse comportamento independe das leituras, instrução ou grau de conhecimento do indivíduo. Não duvidaríamos que, quando maior a formação, maior a capacidade dessas "igrejinhas" isolarem seus "desafetos" ou "desajustados". Tanto independe que os "serpentários" existem dentro das instituições acadêmicas, com seus Phdeuses e coisas assim. Esquerda, ali, trata-se, tão somente, com raras exceções, de uma "linha de pesquisa". Quem quiser que se engane.   

Não sei muito bem onde li isso, mas conta-se um caso curioso envolvendo o professor Pessoa de Moraes.  Por suas posições políticas, após o Golpe Militar de 1964,  foi “convidado” para interrogatório pelos militares. Primeiro, seu inquisidor pediu que ele falasse sobre a teoria marxista, levando o professor a explanar sobre o assunto durante uma hora. Depois foi incitado a pronunciar-se sobre outro autor, consumindo, então, mais meia hora. Logo em seguida, começou a explanar sobre a filosofia de Kierkegaard, levando seu interrogador a desistir do interrogatório, recomendando a sua liberação.

O xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife: Um Geraldo Júlio já na retranca?:






José Luiz Gomes


Tivemos uma semana movimentada no tabuleiro do xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife. Alguns lances dignos de um xeque-mate, e um "cozidão" indigesto e azedado para alguns atores políticos importantes, diretamente envolvidos nessas disputas. O escritor Antonio Campos, provável candidato às próximas eleições municipais de Olinda, manteve uma longa conversa com o pessoal do Partido Verde, possivelmente tratando da plataforma de sua possível candidatura à Prefeitura da Marim dos Caetés. Começaria por Olinda sua inserção efetiva na política partidária e eleitoral, saindo dos bastidores e assumindo, de uma vez, a condição de herdeiro do espólio político do ex-governador Eduardo Campos. 

O quadro dos arranjos partidários e aliancistas para ele, em Olinda, tende a não ser nada facilitado. Talvez seja por isso que uma fonte ligada a uma ex-prefeita do município tenha dito que ele se encontra "isolado". A aliança PCdoB e PT, naquele cidade, sempre foi uma relação entre tapas e beijos, mas, no final, em nome dos interesses dos dois grêmios, eles acabam construindo um consenso, isolando as pretensões petistas de lançar uma candidatura própria. Nada nos sugere que, desta vez, poderia ser diferente, embora a deputada Teresa Leitão(PT), continue mantendo a condição de eterna postulante.

O PMDB deverá vir com o nome do deputado estadual, Ricardo Costa(PMDB), como candidato, possivelmente com o aval do padrinho Jarbas Vasconcelos. Augusto estava todo sorridente no último cozido oferecido pelo deputado - como bem observou a blogueira Noélia Brito​ - um momento onde estiveram reunidos possíveis nomes da agremiação peemedebista nas eleições municipais de 2016.Talvez possamos concluir, como faz a blogueira, que, de fato, talvez tenha sido esse o critério adotado por Jarbas para a escolha dos convidados.

Em Olinda fala-se também numa costura aliancista envolvendo partidos do espectro político mais à esquerda, como o PCB, PSTU e PSOL. As conversas estão sendo mantidas e não surpreenderia se esses partidos lançassem uma candidatura própria. É neste aspecto que cabe a pergunta: como o escritor Antonio Campos irá se arranjar em suas costuras aliancistas? Apenas com o apoio do PSB local? Pelo que sabemos, os socialistas ocupam alguns cargos na Prefeitura de Olinda. Teriam que se afastar desses cargos e se engajarem na aventura incerta de uma candidatura de um neófito na política. Talvez reste apenas ao socialista aquilo que nossos avós classificavam como a sobra do tacho, ou seja, um conjunto de pequenos partidos, sem expressão eleitoral, dispostos a se engajarem em sua candidatura. 

O poder de fogo do escritor, no contexto circunscrito ao grupo socialista no Estado, no entanto, não pode ser desprezado. Um episódio recente dá a dimensão do que estamos falando. O prefeito do Recife, Geraldo Júlio, recentemente, esboçou alguns amuos em relação ao fato de perder o apoio do PCdoB, no Recife, em razão dos problemas provocados por uma eventual apoio à candidatura de Antonio Campos à Prefeitura de Olinda. Esses amuos duraram muito pouco tempo. Segundo a imprensa noticiou, o próprio Antonio Campos teria "emparedado" Geraldo, exigindo dele uma posição no prazo de 15 dias, caso contrário, iria à procura de uma nova legenda, que pudesse viabilizar sua candidatura. Logo em seguida, alguns membros da família Campos vieram em sua solidariedade, reafirmando o desejo de que ele seja mesmo candidato a prefeito da Marim dos Caetés. 

Sejam quais forem as consequências para o projeto de reeleição de Geraldo Júlio, as contingências políticas indicam que o PSB deverá mesmo apoiar o nome de Antonio Campos como concorrente à Prefeitura de Olinda, nas próximas eleições municipais. Os problemas em torno do projeto de reeleição de Geraldo Júlio apenas se avolumam. Quem transita pela Rua do Espinheiro, como nós, já deve ter observado uma placa enorme, posta pelos moradores da rua, em protesto contra a administração municipal. Vocês já pensaram se essa moda pega? sobretudo em se tratando de uma eleição municipal, onde os problemas cotidianos da população produzem um efeito avassalador? A gestão de Geraldo Júlio passou a ser criticada até mesmo entre os outrora aliados, como é o caso do Deputado Federal Jarbas Vasconcelos(PMDB). 

Comenta-se, à boca miúda que, na descontração daquela orgia gastronômica Jarbas Vasconcelos teria esboçado algumas críticas à gestão do senhor Geraldo Júlio. Embora isso esteja no plano das especulações, passou-se a cogitar uma eventual candidatura de Jarbas às eleições municipais de 2016, no Recife. Como uma raposa criada, ele não diz nem que sim nem que não. Sabedoria ensinada por Maquiavel, esperando pacientemente para dar o bote certeiro, sem chances ao adversário. Geraldo, por sua vez, deve estar torcendo para que ele se "arranje" no plano nacional, como um eventual candidato a substituir o atual presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha(PMDB), hoje quase um defunto. 

Política tem algumas coisas engraçadas. Geraldo Júlio não foi convidado para o último "cozido" oferecido na residência de praia do senhor Jarbas Vasconcelos. Um gesto cheio de implicações. Paulo Câmara, no entanto, estava entre os convivas. Se há criticas sobre a gestão de Geraldo Júlio, elas também se aplicam à gestão de Paulo Câmara, gentilmente poupado pelo senhor Jarbas Vasconcelos. Segundo comenta-se, Geraldo Júlio teria esboçado interesse na poltrona que fica no Palácio do Campo das Princesas, já em 2018, o que poderia ter criado uma rusga entre ambos. Num desses momentos de inconfidências, Paulo Câmara teria declarado que vê com bons olhos uma sucessão em família, em 2018, talvez puxando para a arena política o filho do ex-governador Eduardo Campos, Pedro Campos. 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Por que a direita saiu do armário?

Essas manifestações são a prova mais eloquente que os governos do PT não amaciaram a luta de classes, mas a acirraram.

por Emir Sader em 23/08/2015 às 07:46







Emir Sader
Quando se usa essa expressão, não se está querendo dizer que ela estivesse escondida até recentemente. A direita, na era neoliberal, no Brasil, é representada pelos tucanos e seus aliados e sempre esteve ocupando o campo político como alternativa aos governos do PT.
 
O que há de novo é a consolidação de um setor de extrema direita na classe média, que teria colocado recentemente as manguinhas pra fora, constituindo-se no fator novo no cenário politico nacional. E que parece que veio para ficar.
 
Sem discutir a tese da Marilena Chauí – que esse setor insiste em confirmar – de que a classe média seria fascista, é inegável que pelo menos um setor dela assume teses fascistas e o faz da maneira mais escancarada, quase como um clichê, pelos slogans que exibe, pela atitude agressiva e discriminatória, pelo racismo, pelo antiesquerdismo, pelo anticomunismo.
 
Mas por que agora, há 12 anos do começo dos governos do PT, essa ultra direita sai do armário? Onde estava ela? Por que resolveu sair agora do armário?
 
Essas manifestações são a prova mais eloquente que os governos do PT não amaciaram a luta de classes, mas a acirraram. Caso os governos do PT fossem apenas uma variante do neoliberalismo – como algumas atitudes sectárias, que não conhecem o país e não sabem das profundas transformações operadas no Brasil desde 2003 – a direita só poderia estar satisfeita, teria que estar comemorando a cooptação de um PT tão expressivo do campo popular – o mais importante de toda a trajetória da esquerda brasileira -, para o seu campo. Menos ainda teria por que se empenhar com todas suas forças para tirar o PT do governo e tentar desqualificar o Lula, para inviabilizar seu retorno à presidência.
 
Só mesmo porque sentiram que seus interesses estavam sendo afetados, que já não dispunham do governo a seu bel prazer e correm o risco de ver este período se estender muito mais, com uma eventual volta do Lula à presidência, é que a direita saiu do armário e passou a exibir sua cara de ultra direita. 
 
De que forma esses interesses foram afetados? Em primeiro lugar, na prioridade das políticas sociais e na extensão do mercado interno de consumo de massas, com a distribuição de renda que acompanhou a retomada do desenvolvimento econômico. Se interrompeu a política econômica implantada por Collor e continuada por FHC. Seu fracasso abriu os espaços para governos que romperam com eixos fundamentais do neoliberalismo, em primeiro lugar, a prioridade dos ajustes fiscais e a centralidade do mercado.
 
Em segundo lugar, pela ruptura com o projeto da Área de Livre Comércio das Américas – ALCA -, levado a cabo pelos EUA, em complacência com o governo de FHC, que deu lugar ao fortalecimento dos processos de integração regional, do Mercosul à Celac, passando pela Unasul. Um processo que inclui os estratégicos projetos dos Brics, em que o Brasil tem papel chave, e que desenha um mundo multipolar na contramão dos projetos norteamericanos.
 
Em terceiro lugar, porque a centralidade do mercado deu lugar a espaços para a recuperação da capacidade de ação do Estado, tanto como indutor do crescimento econômico, como da afirmação dos direitos sociais e como ator nos processos de soberania externa.
 
A já clássica frase de que “os aeroportos estão virando rodoviárias” segue sendo a mais significativa da reação de setores da classe média à ascensão de amplos setores populares. Afora exacerbada, desde a Copa do Mundo, em que a vaia à Dilma foi como que a abertura da porteira da falta de qualquer respeito por parte de setores da direita.
 
A campanha eleitoral do ano passado foi um aquecimento em relação ao que se vive agora. Tanto Aécio quanto a mídia, exacerbaram sua linguagem e suas formas de atacar o governo, gerando a ideia de que tudo tinha se tornada insuportável, não apenas a situação das classes privilegiadas, mas o próprio país, pela corrupção e pela suposta incompetência do governo. Pela primeira vez na história do país um candidato a presidente triunfou nas eleições contra praticamente a totalidade do grande empresariado – confirmando como estes consideram que seus interesses fundamentais são afetados profundamente pelos govenos do PT.
 
Para os que nunca aceitaram que os governos do PT tenham sido qualitativamente diferentes dos governos neoliberais, tudo isso é incompreensível. Na sua incapacidade de apreender a realidade concreta, tem que culpar o PT por tudo. Até pela direita ter saído do armário, usado por alguns para atribuir também aí a culpa ao PT.
 
Por isso a ultra esquerda não conseguiu, ao longo destes 12 anos – nem no Brasil, nem nos países com governos posneoliberais na América Latina -, construir uma alternativa e esta está sempre situada à direita dos governos do PT. Porque acredita que o os governos do PT são neoliberais, a ultra esquerda não compreende a realidade do Brasil hoje e não consegue construir raízes no seio do povo.
 
O PT é responsável pela saída da direita – e da ultra direita – do armário, porque afetou profundamente os seus interesses.

Tijolinho do Jolugue: Senador Fernando Collor destrata Rodrigo Janot em sabatina.



O senador Fernando Collor de Mello foi à sabatina de Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República, já muito mal intencionado. Sentou-se na primeira fila, em local estratégico, e, no momento de sua fala, dirigiu vários impropérios contra o Procurador da República. Chamou-o de calhorda, filho da puta, fascista, sujeitinho à toa e coisas do gênero. O senador alagoano não esconde sua empáfia, sua arrogância, sua prepotência de ninguém. Isso é antigo. Talvez devêssemos acrescentar, entre esses atributos, a deselegância e o pouco apreço pelo decoro parlamentar. Collor não suporta Janot. Aliás, muito figurões da República não o suportam, sobretudo em razão de suas denúncias ao STF, do envolvimento dessas pessoas em escândalos recentes, como na operação Lava Jato. De uma leva só, Rodrigo Janot denunciou Fernando Collor, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, ao STF. A operação da Polícia Federal, em Maceió, onde foram apreendidos os "brinquedinhos" do senador, teria sido a gota d'água para as indisposições entre ambos.  Como parlamentar, Collor goza de algumas prerrogativas, que lhes faculta usar o dicionário do palavrão naquela Casa sem ser molestado. Mas não custava nada, senador, poupar os ouvidos mais sensíveis da população brasileira desses impropérios. Enquanto isso não ocorre, durante as suas falas, convém retirar as crianças da sala.

Tijolinho do Jolugue: A blindagem de Aécio Neves pela imprensa.




Já não se constitui nenhuma novidade afirmar que os tucanos estão blindados pela justiça e pela imprensa. Isto já virou piada. Alguém já disse que a melhor maneira de escapar da malha da justiça é filiar-se ao PSDB. No dia de ontem, em depoimento na CPI da Operação Lava Jato, o banqueiro Yousseff afirmou que o senador Aécio Neves(PSDB) havia recebido dinheiro irregular das maracutaias envolvendo a estatal Furnas. Os tucanos estão envolvidos até a medula em casos rumorosos de corrupção no país, mas, por alguma razão, não são alcançados pela mão da justiça. Permanecem livres, sorridentes, tramando contra o Governo da Presidente Dilma Rousseff. 

Até recentemente, ficamos sabendo de uma reunião - mais uma - dessas raposas com o objetivo de conspirar a favor da queda da presidente Dilma Rousseff. Possivelmente em razão desses fatos novos, a reunião foi cancelada. Havia uma grande expectativa no dia de hoje em saber como o envolvimento de Aécio Neves nesse escândalo seria tratado pela imprensa. Todas as expectativas dos setores mais progressistas se confirmaram. Quando eles querem, sempre dão um jeito. Generalizam, colocam uma notinha dentro do caderno de economia ou, solenemente, ignoram. Um desses casos mais emblemáticos é o do portal UOL. Chamou uma matéria onde constava o nome do senador e, uma hora depois, a notícia deu lugar a uma generalização envolvendo os tucanos, de acordo com as declarações do delator. 

Aqui na província, todos os dias são confirmados os nomes de velhas raposas políticas envolvidas nessas safadezas, sempre atreladas a nomes que já não contam com o nosso convívio, o que se constitui em mais um fator determinante para que essas denúncias não sejam devidamente apuradas e os envolvidos punidos. Ocorre, como sempre lembra o professor Michel Zaidan, que existem nomes vivos entre os envolvidos. Aliás, vivíssimos e impunes.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Tijolinho do Jolugue: Só Jesus na causa, Michele Collins!





Se nos permitem a expressão, a cultura machista do brasileiro é algo "medonho". Tenho por princípio jamais ofender as pessoas ou fazer alguma acusação que não seja cabalmente provada. O direito de livre expressão usamos para valer, goste quem gostar. Gostaria muito que as pessoas também se orientassem por esse princípio quando se dirigissem a minha pessoa. Infelizmente, cada dia fico mais convencido que a recíproca não é necessariamente verdadeira. Li muitas postagens contundentes - para usarmos um eufemismo - no dia hoje, sobre a vereadora Michele Collins, do PP, depois de suas declarações contra o homossexualismo e a submissão da mulher ao homem. 

Ela não pode ser apedrejada pelos homossexuais nem pelas feministas em razão de suas declarações. Essas declarações refletem, sobretudo, o quanto ela também é vítima de uma construção histórica que atende pelo nome de machismo. Não precisa ser nenhum especialista em Pierre Bourdieu ou Michel Foucault para entender essas relações de poder em nossa sociedade. Muito mais para o mal, nos fomos ensinados a sermos machistas. Vejam que é uma mulher quem fez essas afirmações, o que implica dizer que esse imaginário, não raro, está mais impregnado no próprio sexo feminino, vítima maior de suas consequências. Há mulheres que não "gostam" de emitir suas opiniões. Preferem aqueles homens que batem com a 'peia" na mesa e decidem. Até mesmo entre casais homossexuais femininos já acompanhei cenas explícitas de "dominação" de uma parceira sobre a outra, em certa medida, reproduzindo as relações heterossexuais marcadas pela verticalidade. 

Esses padrões de relações sociais são marcados por muita violência, sobretudo onde eles se tornam mais "perenes", em regiões menos urbanizadas.Aqui vale a ressalva de que se trata apenas de uma suposição. Qualquer coisa vão se queixar ao Sebastião Vila Nova. A violência contra a mulher, por vezes induzidas por tais padrões de relacionamentos socialmente construídos, talvez não escolha mesmo região geográfica, nem classe social ou coisas assim. Mais uma vez, não custa nada lembrar isso aqui, até recentemente mantinha uma foto com uma mulher com o rosto desfigurado pela inscrição "mulher gaieira", marcada como animal - pelo próprio marido. 

Já tentei fazer buscas na internet sobre esta foto, mas não foram bem-sucedidas. Encontrei até foto do filósofo Michel Foucault, no Brasil, de calça boca-sino, descontraidamente numa praia. Mas, a tal mulher, não encontrei. Os filhinhos da classe média - quase que cotidianamente - agridem empregadas domésticas e prostitutas, sob o argumento de sua "inferioridade social", plasmado pelo "machismo" ensinado pelos pais. Claro que uma atitude como a da vereadora Michele Collins merece nossa reprovação, repúdio, mas elas apenas refletem um bom momento para repensarmos nossas condutas e insistirmos na construção - via educação - de uma sociedade mais horizontalizada, tolerante, não machista. Eu sempre digo que lá em casa quem manda é a mulher. Deus nos livre de um(a) machista ouvir isso. Amanhã podemos ser vítimas de hostilidades.  

Tijolinho do Jolugue: Dilma afia a tesoura no Serviço Público



O Governo Federal anunciou a redução de 10 ministérios, o que significou corte de 1000 cargos comissionados. País de cultura patrimonialista, aqui proliferam esses cargos comissionados na máquina pública, quase sempre com o propósito de "acomodação" de interesses políticos. São através desses cargos que os governos sustentam suas bases de apoio, em todas as esferas, seja na federal, na estadual e na municipal.Está última esfera ainda mais vulnerável, em razão das precárias condições dos municípios brasileiros. Um gravíssimo problema para os interesses republicanos. Não apenas porque esses cargos oneram as finanças públicas, mas, sobretudo porque, em alguns casos, eles são preenchidos sob medida, para viabilizar negócios escusos dentro da máquina pública. 

Os exemplos saltam aos olhos. E os políticos, que indicam esses cargos, por vezes, não tem sequer o pudor de esconder suas reais intenções. Lembro agora de um embate entre dois grandes políticos de projeção nacional, por ocasião do estouro do Escândalo do Mensalão, onde ficava explícito que a ocupação de uma determinada estatal previa, igualmente, passe livre para a roubalheira, "conforme o combinado". Por razões óbvias, não posso citar os nomes nessa postagem.É como se o Estado fosse loteado entre eles, com permissividade à essas manobras escusas com o dinheiro público. Pelos nossos dados, o Governo Federal deve ter algo em torno de 22 mil cargos comissionados. Numa análise macro, o número de servidores públicos no Brasil é relativamente pouco, quando se consideram as demandas da população. 

Gradativamente, o Estado brasileiro vem criando mecanismos pelos quais a ocupação desses cargos comissionados fiquem circunscrita entre os servidores concursados, do quadro efetivo, escolhidos a dedo, registre-se, entre aqueles que se submetem às circunstâncias de ocasião. Não pensem que aqui pesam apenas os critérios "técnicos"ou republicanos. Já existem até percentuais estipulados neste sentido. 

Na medida em que anuncia esse corte, o Governo acena com a autorização de alguns concursos que estavam previstos. Já fui um defensor bastante enfático da "meritocracia", mas percebi que ela esconde muitos problemas. Os concursos públicos legitimam, na realidade, numa perspectiva bourdieusiana, as diferenças. Passam aqueles que tiveram as melhores "oportunidades" de preparação e aqueles que tiveram melhores "oportunidades" de preparação, são, por sua vez, são oriundos dos estratos sociais mais aquinhoados, colocando por terra a questão do mérito. É neste sentido que os Governos de Coalizão Petista passaram a pensar também nas "cotas" dos concursos públicos, destinadas aos segmentos sociais secularmente desoportunizados. Em todo caso, com alguns ajustes, o concurso público ainda é o melhor mecanismos de seleção de servidores para a máquina estatal. 

Nesses DAS tem de tudo. Amantes, ex-amantes, viúvas, fantasmas, mortos, em trânsito, todos sustentados pelo erário. Outro dia se descobriu que o Senado Federal pagava - e muito bem - a uma leva de servidores que se encontravam viajando pelas Europa. Qualquer semelhança, não é mera coincidência. Conheço uma Instituição onde esses cargos passavam de pai para filho, como numa capitania hereditária. Aqui em Pernambuco, um certo governador dos olhos verdes, bradava que quando chegasse lá iria acabar com esse velho costume de nossas elites políticas. 

Não dava um bom exemplo na província, que ampliou sensivelmente os cargos de confiança quando ele foi governador. Existiam umas assessorias especiais com o nítido propósito de acomodar na máquina aliados políticos derrotados nas eleições. Talvez alertado pelo blog dessa contradição, já no final do governo ele começou a usar a tesoura, mas mesmo assim timidamente. Deixou o abacaxi para o sucessor descascar.