pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Editorial: Mais um "erro de procedimento" da Polícia Militar de São Paulo



Circula nas redes sociais mais um daqules vídeos que logo será censurado pela própria plataforma, sob o argumento de conteúdo sensível, onde um servente de pedreiro de São Paulo, Matias Menezes Caviquiole, de 24 anos de idade, é morto depois de alvejado no peito por um agente da Polícia Militar de São Paulo. Logo em seguida, a Assessoria de Comunicação da Polícia Militar de São Paulo deve soltar uma nota, lamentando o fato e informando que estará instaurando algum inquérito interno para apurar as circunstâncias da ocorrência. Em termos de segurança pública, estamos vivendo um momento bastante delicado no país. Segundo alguns observadores, já poderíamos perfeitamente mencionar o termo "crise' ao se referir ao assunto. 

O cidadão aludido acima era pai de uma criança de dois anos, de quem tomava conta sozinho, e estava com as mãos para o alto, desarmado, completamente dominado. No jargão policial, rendido. A reação do policial, neste caso, teria sido desproporcional e desnecesária, uma vez que a situação estava sob controle. Ressalto aqui três questões preocupantes. Os altos índices de letalidade na atuação das corporações policiais militares por todo o país. Outro dia um professor de Ciência Política observou que tal fato ocorre, até mesmo, em estados controlados por forças do campo popular, de esquerda, como é o caso do estado da Bahia, de onde se conclui que as teses alardeadas de respeito aos direitos humanos não encontram ressonância na realidade obervada; Paralelamente a este fato, ocorre, igualmente, um aumento sensível do índice de policiais com problemas psicológicos, em alguns casos cometendo suicídio; outro fator preocupante, sobretudo sob a égide do bolsonarismo, foi a instrumentalização política das polícias militares nos últimos anos. 

A narrativa do "bandido bom é bandido morto" deve ter produzido um efeito extremamente danoso à tropa, sobretudo em alguns estados controlados por atores políticos ligados ao bolsonarismo, onde o lema é reproduzido por agentes públicos que teriam obrigações mais importantes a zelar. É bom que se diga que tal lema não se reproduz apenas nas "bravatas', mas, por exemplo, quando se criam dificuldades para o uso das câmaras que filmam as operações desses policiais em serviço. Desde o primeiro Governo Lula que foi elaborado um grande projeto de segurança pública para o país. Por alguma razão, tal projeto ainda se encontra engavetado.    

Editorial: O Globo publica infográfico sobre a situação do Partido Liberal nas capitais.



Ontem, dia 05, o jornal carioca O Globo publicou uma espécie de infográfico sobre a situção do Partido Liberal nas capitais brasileiras. Os projetos da sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro são ambiciosos, mas, como aconselha as raposas políticas, numa democracia representativa, para que qualquer projeto político tenha êxito, antes é preciso combinar com o eleitorado. Não é prematuro afirmar que, hoje, as condições da oposição ao Governo Lula não são das piores, sobretudo se considerarmos as dificuldades políticas e econômicas que o Governo Lula enfrenta. 

Os problemas poderão vir a ser superados até outubro de 2024? Sim e não. Há quem sugira que o Governo Lula está metido numa espiral complicada, de difícil equacionamento, o que favorecerá, ainda mais, a renhida oposição nas eleições municipais do próximo ano. Talvez possamos admitir como possível alguma solução para o problema do déficit público até as eleições. É difícil, mas não de todo improvável, sobretudo se Lula resolver deixar de gastar mais do que arrecada e ouvir mais o seu Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo alguns interlocutores, neste caso, Lula tem dado mais ouvido ao seu Ministro da Casa Civil, Rui Costa. 

Há aqui um grande dilema, uma vez que fechar as torneiras, embora seja uma medida prudente, também fragiliza politicamente o Governo nas eleições municipais. Do ponto de vista político, mesmo com as inúmeras articulações perpetradas, o governo Lula não terá trégua da oposição. Mesmo com alguns parlamentares e indicados, pragmaticamente, ocupando espaços na máquina, as lideranças de legendas como Progresssitas, Republicanos e União Brasil desejam manter uma distância regulamentar do Governo Lula. O senador Ciro Nogueira, por exemplo, chegou a apostar que o PT não faz um únio prefeito de capital nas próximas eleições. 

O que mais nos chama a atenção nesse infográfico é uma tendência do bolsonarimso à radicalização. Em alguns momentos, a associação orgânica ao nome de Bolsonaro poderia sugerir uma eventual rejeição do eleitorado. Pelos nomes da bolsa de apostas que lideram as indicações pelo país afora, tal premissa está descartada: Alexandre Ramagem, General Girão, Abílio Brunini, Gustavo Gayer, Marcelo Queiroga, Gilson Machado Neto. Um timaço de bolsonaristas roxos. O jornal não traz nenhum informação sobre a performance desses bolsonaristas em suas respectivas praças. Salvo melhor juízo, também deixaram de trazer informações sobre a capital do Ceará, Fortaleza, onde o também bolsonarista raiz, André Fernandes, é candidatíssimo. 

Confirmando ainda mais este alinhamento incondicional ao "mito", segundo pesquisas do Instituto Paraná Pesquisas, a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro  pode escolher o estado por onde deseja ser senadora da República. Em São Paulo, o próprio jornal especula que os caciques da legenda estariam negociando uma eventual composição de chapa com o atual gestor, Ricardo Nunes, onde a Secretária da Mulher, do Governo Tarcísio de Freitas, Sonaira Fernandes, poderia ser indicada como vice. A ideia é fortalecer ainda mais o identitarismo bolsonarista. Sonaira é aquela mesmo que afirmou que feminismo mata.  

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 5 de novembro de 2023

Editorial: Escola do Ceará ganha título de melhor do mundo

 


Já faz algum tempo que o estado do Ceará vem se destacando no campo educacional. Possui o melhor ensino médio do país e os seus alunos recebem medalhas em olimpíadas educacionais internacionais. Arrisco a dizer que talvez seja o ente federado com o maior número de escolas em tempo integral. Até recentemente, se constatou que o estado tem sido um dos que conseguem o melhor desempenho dos exames de um dos vestibulares mais concorridos do país, o do ITA, Instituto Tecnológico da Aeronáutica. O êxito no certame tem sido tão efetivo que, como prêmio, o estado deverá ganhar uma filial do instituto. O anúncio oficial deverá ser comunicado em breve, contando até mesmo com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Em suas redes sociais, o presidente garantiu que só aguarda o retorno de suas novas viagens ao exterior para comunicar oficialmente a decisão. Como já comentamos em outras postagens, os bons resultados colhidos agora integram uma longa jornada em investimentos precisos na educação do estado, período que coincide com a chegada ao poder de um grupo político que reunia, até recentemente, partidos como o PT e o PDT. O grupo controlou o Palácio Redenção por alguns mandatos, criando as condições ideais para a implementação de tais mudanças estruturais nas políticas públicas de educação do estado. 

Agora, vem a cereja do bolo. A Escola de Ensino Médio de Tempo Integral Joaquim Bastos Gonçalves, da cidade de Carnaubal, que fica a 346 km de Fortaleza, ganhou o prêmo de Melhor Escola do Mundo, com o programa "Adote um Estudante", que consisti em atender psicologicamente os estudantes no período pos-pandemia. A iniciativa partiu de um professor de educação física, que percebeu o desconforto psicológico entre os estudantes, impondo-se a necessidade de adoção de alguma medida. Tais estudantes passaram a receber acompanhamento voluntário de psicólogos de todo o país. Parabéns à direção da escola, ao corpo de funcionários e professores e, em particular, ao professor Guilherme Barroso.  

Charge1 Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 4 de novembro de 2023

Editorial: O aulão de Lula para os candidatos ao ENEM.



O mundo enfrenta uma tragédia huminitária e este fato não deixa de produzir suas consequências. Hoje, repercute bastante uma declaração infeliz de um repórter da emissora do plim plim aprovando atrocidades como as que estão ocorrendo no Oriente Médio, onde a população civil sofre os horrores de uma carnificina provocada pelos bombardeios constantes a alvos civis, atingindo, inclusive, hospitais. Já existe até campanha ensinando como cancelar a assinatura da TV. Em meio a tal turbilhão, a notícia boa é que escolas brasileiras estão fazendo bonito num concurso internacial que escolhe as escolas que se destacam am alguma atividade inovadora no ensino, assim como de expressivo alcance social. 

Não é surpresa que uma escola do estado do Ceará já foi contemplado, o que deve deixar muito feliz o Ministro da Educação, Camilo Santana, assim como sua Secretaria-Executiva, Izolda Cela. Não se colhem resulados na educação da noite para o dia. A grande aliança política naquele estado, que unia PDT e PT, ao longo de gestões bem-sucedidas, foi a grande responsável por mudanças substantivas no processo educacional do estado. Uma pena que filigranas políticas internas - que poderiam ser superadas - estão pondo um fim a tal projeto, abrindo o flanco para o avanço de projetos políticos exóticos, antirrepublicanos, que vicejam no estado desde algum tempo. 

Para descontrair, só mesmo o aulão sobre a jaca, ministrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que encontrou a fruta numa dessas andanças pelos jardins do Palácio do Alvorada. Amanhã, milhares de estudantes estarão se submetendo aos exames do ENEM. O presidente aproveitou a oportunidade para desejar boa sorte a esses estudantes. Encejamos os mesmos votos através do blog.   

Editorial: Uma pontual declaração anti-humanitária.


Qual o lado certo da História em relação ao conflito no Oriente Médio, envolvendo o Estado de Israel e o grupo radical Hamas? Possivelmente, alguém que está lendo esta postagem já pode está nos criticando por não termos adejetivado o grupo Hamas como um grupo terrorista, assim como o Governo Lula vem sendo duramente criticado pelos bolsonaristas pelas mesmas razões. Há até quem insinue que tal posicinamento do Governo Brasileiro esteja prejudicando a expatriação de brasileiros das zonas de conflito. De fato, o Hamas é um grupo terrorista e não representa, necessariamente, o melhor do interesse da causas palestina na região. A Autoridade Palestina, do ponto de vista diplomático, neste caso, é um interlocutor em melhores condições.  

Conforme já antecipamos em outras postagens, existe, claramente, uma guerra de narrativas em torno do conflito. Há, inclusive, um index com os jornalistas "queimados' por um lado ou pelo outro. Se tais discussões se mantém dentro de níveis civilizados - embora isso nem sempre seja possível - são sempre bem-vindas. O complicado é quando essas posições se configuram como algo que pode perfeitamente ser enquadrado como postura anticivilizada e anti-humanitária, como vem procedendo um conhecido jornalista da emissora do plim plim. Não é a primeira vez que o tal jornalista sobe ao topo dos trending topics twitter por divulgar coisas insanas. 

Aliás, tal emissora contribui com um número expressivo de jornalistas que podem ser enquadrados com este perfil. Alguém defender, em cadeia nacional, o bomabardeio perpetrado pelo Exército de Israel contra um comboio de ambulâncias que transportavam doentes para serem tratados num hospital no Egito é um pouco demais. Está feia a coisa porque já circula a informação de que o Governo de Israel teria conhecimento de que integrantes do Hamas estariam ocupando, como quartel-general, um hospital na Faixa de Gaza. Nem os civis doentes e internados escapam dessa carnificina humana. Que horror!  

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Editorial: Pacheco suspende indicação de nomes para o Superior Tribunal de Justiça.




As rusgas entre os Três Poderes da República estão longe de uma trégua. Mesmo depois de aprovados, o Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, suspendeu o envio dos nomes dos indicados para homologação ao STJ, por suspeita de favorecimento de Daniele Teixeira. O presidente da Casa também instituiu uma comissão para investigar tais suspeitas de favorecimento perpetrada pelo Governo Luiz Inácio Lula da Silva. Neste momento, o Legislativo impõe um torniquete ao Executivo, criando embaraços para destravar pautas e até mesmo quando se trata de simples indicações de nomes para a ocupação de espaço na burocracia de Estado. 

Em tais circunstâncias, como afirmamos antes, se as coisas se mantiverem em tal diapasão, talvez Lula tenha que pedir uma indicação do Centrão para o STF. Um nome que não seja palatável pela Casa - como é o caso do Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino - teria poucas chances de passar pela sabatina. Um momento delicado para o Governo Lula, porque, associado ao problema institucional, os problemas de natureza econômica já estão bastante evidentes, até mesmo entre os pares do Executivo, que não se entendem sobre o cumprimento da meta fiscal. 

É visível o desconforto do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao tratar deste assunto. Embora pessimista, do ponto de vista político, talvez tivesse sido mais prudente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva endossasse a tese do seu pupilo sobre zerar o déficit em 2024. Setores da imprensa, sobretudo aqueles que não coadunam com o Governo, apreveitaram a deixa para alardear que que Lula gosta mesmo é de estuporar, como se diz aqui no Nordeste, quando o indivíduo gasta sem preocupações com o dia de amanhã. 
 

Charge! Jaguar via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Editorial: Buraco negro é um termo racista? Ou o excesso de identitarismo.



Repercute bastante uma afirmação da Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, classificando o termo "buraco negro' como sendo um termo com conotaççoes racistas. Nada contra o identitarismo, mas todo o excesso não é bem-vindo. Tomamos um cuidado enorme aqui pelo blog para não incorrer no politicamente incorreto e tornar-se alvo dos inevitáveis patrulhamentos. Há um amigo que afirma que estamos ficando  parecidos com robôs, perdendo completamente a espontaneidade, numa busca frenética pelos termos mais corretos para se referir a determinadas situações do cotidiano. Este amigo, numa reunião de condomínio foi enxotado por utilizar o termo "samba do crioulo doido', ao se referir aos constantes problemas relativos ao elevador do prédio onde reside. 

Usar o termo "esclarecer" também não fica bem, ao sugerir que tudo que não está bem claro é remetido à raça negra. O índex dos termos politicamente incorretos é grande e só tende a aumentar, engrossando o dicionário das ofensas que poderiam ser enquedradas como de cunho racista. O termo "meia tigeja', utilizado quando desejávamos nos referir à meia pataca ou algo sem muita importância, entrou no index porque tem sua origem etimológica relacionada às minas de exploração de ouro de Vila Rica e, por conseguinte, à raça negra. Os escravos tinham uma meta de recolhimento de ouro a cumprir. Quanto não conseguiam atingir a meta, também não recebiam a refeição completa, tendo que se contentar com a meia-tigela. Neste caso, até os dicionários Aurélios precisam ser revistos.  

Outro dia precisamos fazer uma alteração num texto de um romance - que já estava no prelo - por recomendação dos editores. Não usamos o adjetivo "gordo", o que poderia ser enquadrado como  gordofobia, mas, numa digressão livre da literatura, informamos que o cidadão precisava usar os dois assentos do coletivo que utilizava. Até autores consagrados da nossa literatura estão sendo submetidos a tais intervenções em suas obras, nessa onda de um identitarismo exacerbado, que só contribui para desacreditar seus objetivos nobres iniciais.  

Editorial: As entranhas milicianas que chegaram à capital federal.



Está se tornando bastante complicado viver num país como o Brasil, onde as práticas criminosas ou delituosas estão adentrando, perigosamente, as entranhas do aparelho de Estado, em alguns casos, mancumunadas com os próprios agentes públicos. Em tais circunstâncias, os indivíduos perdem os seus referências republicanos, tornando o senso de justiça um conceito bastante abstrato. Soubemos recentemente que as Forças Armadas está empreendendo um grande esforço de investigação para entender o mecanismo que envolveu aquelas 25 metralhadoras roubadas do seu arsenal, uma operação de logística extremamente complexa. De antemão, pode-se antecipar que há algo de muito errado, que depõe contra a segurança do aparelho de Estado.  

Há uma série de publicações tratando sobre como se deu a ascensão das milícias, desde a zona leste do Rio de Janeiro até à capital federal, no bojo de um ex-governo sabidamente ligado ao crime organizado. O bolsonarismo quarda uma relação orgânica com grupos milicianos, principalmente em seu berço político, o estado do Rio de Janeiro. Há alguns anos,a revista Piauí publicou uma longa matária abordando a origem das milícias naquele estado da federação. Algo que começou como uma simples associação de moradores transformou-se num monstro que ameaça a própria estrutura do aparelho de Estado. No estado do Rio de Janeiro, o poder não está com um cidadão eleito pelo sufrágio do voto popular, mas nas mãos do crime organizado, o que se constitui numa aberração republicana. 

A carteira de negócios desses milicianos é extensa e, a cada dia, nos surpreendem mais. Além de água, aluguel, transporte, serviços de internet, surgiu a informação - ainda não confirmada, mas nada improvável - de que eles também controlam os quiosques da Barra da Tijuca, onde os médicos foram assassinados num erro de execução. A expressão: "Pague e não haverá violência"  é o exemplo mais acabado da falência das instituições em enfrentar o problema. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já havia informado que não editaria uma GLO, acabou voltando atrás diante das contingências impostas. Está autorizando a atuação das Forças Armadas junto a portos e aeroportos do Rio de Janeiro. Com maior ou menor proporção já se pode dizer que tais milicias estão espalhadas por todo o país, envolvendo agentes públicos que vendem, irregularmente, serviços a comerciantes entre outros clientes. Pior: na condiççao de agentes públicos, o que é mais grave, pois põem a estrutura do aparelho de estado à serviço não da sociedade, mas daqueles que poem pagar pelos seus serviços. 

A ABIN paralea talvez seja, no momento, o exemplo mais bem acabado do que signicaria a consolidação de tal projeto miliciano no âmbito federal, numa metástase que, inexoravelmente, deve ter se espalhado para outras instituições federais. Como se diz aqui no Nordeste, estamos num mato sem cachorro. Para assegurar um mínimo de governabilidade, o Governo Lula abre espaço na máquina para agentes sem espírito público, em alguns casos comprometidos até a medula com o ancien regime. Isso tem um preço: o comprometimento de políticas públicas numa ponta. Na outra, eventuais malversações de recursos públicos. 

Por outro lado, a irresponsabilidade fiscal já está produzindo seus efeitos danosos, comprometendo políticas públicas essenciais, fortalecendo o Estado em ações que realmente poderiam minimizar a violência e assegurar o respeito aos direitos humanos. É emblemático como se se observam cortes de verbas para as pesquisas, políticas em defesa de comunidades indígenas e quilombolas, recomposição salarial de servidores e afins. Para o Estado ainda resta a alternativa, não muito aconselhável, da emissão de moedas e aumento de impostos. Para o cidadão comum, o efeito disso é mais nefasto. Mais uma liderança quilombola foi assassinada, desta vez no estado do Maranhão.       

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Editorial: Braga Netto fica inelegível por 08 anos e o bolsonarismo aposta em Ramagem no Rio de Janeiro.


Depois do próprio Bolsonaro, agora é a vez do seu vice, Braga Netto, ficar inelegível pelos próximos oito anos. Vamos ser francos por aqui. A direita bolsonarista continua com o seu capital político preservado, algo que poderá ser inferido nas eleições municipais de 2024, onde eles estão preprando seus concorrentes às prefeituras de todo o país. Em São Paulo, deve sair com Ricardo Salles, em Fortaleza, com André Fernandes, no Recife com o ex-Ministro do Turismo, Gilson Machado, que obteve uma excelente votação para o Senado Federal nas eleições passadas. O bolsonarismo é forte em Pernambuco, mas derrotar o atual prefeito, João Campos(PSB-PE), não será tarefa fácil para ninguém. O filho do ex-governador Eduardo Campos, como se diz aqui no Nordeste, tomou gosto pela coisa. É fortíssimo candidato à reeleição.  

Para o Rio de Janeiro, um dos redutos mais emplumados do bolsonarismo, o objetivo inicial seria o nome do ex-candidato a vice na chapa presidencial governista de 2022, o general Braga Netto. No dia de ontem, o STE jogou uma pá de cal em tais aspirações, decretando a inelegilidade de Braga Netto por oito anos. Em tais circunstâncias, as coxias indicam que o staff bolsonarista estaria trabalhando o nome do Deputado Federal Alexandre Ramagem, um bolsonarista raiz. Diferentemente de São Paulo, onde o PT já bateu o martelo sobre a candidatura de Guilherme Boulos, são poucas as informações sobre o cenário governista no Rio de Janeiro. Os problemas do partido naquela praça são de longas datas. 

E, por falar em pré-candidaturas, a informação dos bastiodres de Brasília é que há setores do PT bastante preocupados com as movimentações políticas do vice, Geraldo Alckmin(PSB-SP). Dez meses depois, já seria possível cogitarmos aqui o fim da lua de mel entre o neosocialista e o PT? Não seria de todo improvável. O PSB não digeriu muito bem a minirreforma ministerial, onde o companheiro Márcio França foi apeado do Ministério de Portos e Aeroportos.    

Editorial: Ainda os grampos ilegais da ABIN paralela.



Manter um rígido controle sobre os sistemas de bisbilhotagem dos indivíduos, mesmo num regime de governo ainda democrático, numa sociedade como a nossa, é bastante complicado. Conforme vaticinava o ex-Deputado Federal Pedro Aleixo, durante os dias sombrios do AI-5, é preciso tomar bastante cuidado com o guarda da esquina, que, investido de uma farda ou de uma função sai por ai cometendo inúmeros desmandos ou infringindo normas específicas, inerentes ao cargo que ocupa, por vezes, sob a complacência dos seus superiores. No momento ainda estranha que apenas os peixes miúdos tenham sido atingidos, sendo exonerados imeditamente pela Casa Civil da Presidência da República. Ao que se sabe, a exoneração saiu de forma imediato porque, a rigor, os agentes já poderiam ter sido demitidos desde março, consoante inquérito administrativo que estava em andamento. 

Os peixes graúdos, conforme se noticia hoje pela imprensa, ocupavam o topo da hierarquia do órgão. Um deles é delegado da Polícia Federal, hoje no parlamento, ligadíssimo ao bolsonarismo. O digníssimo chegou a ser indicado à Presidência do órgão, sendo vetado pelo Supremo Tribunal Federal, alimentando as rusgas, então já existentes, entre o Executivo e o Judiciário durante o Governo Bolsonaro. Pelo andar da carruagem política, os grampos ilegais atingiram uma proporção gigantesca. Haviam milhares de pessoas grampeadas, consoantes os critérios estabelecidos pelos arapongas, bem ao estilo daquele infiltrado nos movimentos sociais de 2013, que recomendou tomar cuidado com um tal de Karl Marx, indivíduo bastante perigoso. Olha o perigo que representa esses "guardas da esquina', conforme advertia Pedro Aleixo. 

Os desdobramento virão por aí, uma vez que havia muita gente sendo grampeada, inclusive membros da Suprema Corte. Vamos aguardar os rumos das investigações encetadas pela Polícia Federal, que está responsável pelo caso. Os tentáculos de um modelo de Estado de exceção já havia atingidos vários órgãos da República. Afirmamos isso por entender, desde algum tempo, que havia algum objetivo subjetivo em ampliar a rede de instituições que passaram a compor o sistema de informações do país. Durante o Governo Bolsoanro o número desses órgãos foi ampliado sensivelmente. Fica de olho, PT.     

Charge! Leandro Assis e Triscila Oliveira

 


terça-feira, 31 de outubro de 2023

Editorial: Como zerar um déficit de 93 bilhões nas contas públicas do país?



A julgar pelos desentendimentos em torno do assunto, é fácil concluir que o próprio Governo não formou um consenso em torno do assunto. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sempre tão sereno, acabou perdendo a esportiva com uma repórter recentemente, depois de uma pergunta nada discreta em torno do assunto. A temperatura no Planalto está em combustão quando o assunto é zerar o déficit público. Aqui, alguns questõe precisam ser ditas: a) Ninguém é mágico e não é com alquimias que se resolve o problema. Quem gasta acima do que recebe sabe o que isso significa, como advertia a economista Tânia Bacelar, há muito anos atrás, durante uma palestra na Fundação Joaquim Nabuco; b) De boas intenções, assim como no inferno, o Planalto está cheio; c) A irresponsabilidade fiscal, infelizmente, tornou-se um expediente absolutamente necessário para manter alguns programas sociais. Fernando Haddad está corretíssimo quando acena para a necessidade de se conter tal sangria, tranquilizando o mercado. Está no seu papel.  

Por outro lado, o presidente Lula está certo ao concluir que o otimismo do seu pupilo é exagerado, diante das dificuldades de se resolver o problema em tão curto prazo. Não pe tão simples assim. Para completar o enredo nebuloso, no próximo ano teremos eleições municipais e o Centrão já está de pires na mão cobrando mais liberações de verbas para os comandados do senhor Arthur Lira. Lira trabalha para manter o controle de sua sucessão e assegurar que seus apoiadores adubem suas bases políticas nos estados. 

Há quem acredite, como é o caso do ex-candidato à presidência Ciro Gomes(PDT-CE), que será difícil fechar essa conta. É uma opinião abalizada, que não pode ser desprezada. 

Editorial: A cada novo depoimento, Mauro Cid complica a vida de Bolsonaro.



Há quem observe que o acordo firmado entre o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, Mauro Cid, não pode ser configurado como uma delação, mas uma colaboração premiada. Independentemente das designações, o fato é que o ex-ajudante de ordens está colaborando enormemente com a Polícia Federal. Não se sabe qual será o fim desse enredo, uma vez que a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, sequer, tem se pronunciado em torno do assunto. A cada novo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, no entanto, a situaççao apenas se complica ainda mais para o ex-presidente. Como se diz aqui no Nordeste, tudo indica que o rolo é grande. Vai desde as bijouterias das Arábias até participação em tentativa de golpe de Estado, passando pela falsificação de cartões de visita. 

A última informação envolvendo esta coloboração premiada diz respeito ao fato de o ex-presidente, segundo o ajudante de ordens, ter recomendado acobertar no Palácio do Alvorado, pessoas ligadas a ele, procuradas pela Polícia Federal, como o blogueiro Osvaldo  Eustáquio. Se juntar as peças das investigações conduzidas pela Polícia Federal com as conclusões do relatório produzido pela CPMI dos Atos Antidemocráticos do 08 de janeiro, aí sim, as coisas parecem se complicar bastante para o ex-Presidente da República. Já existe, inclusive, uma deliberação do STF no sentido de juntar o relatório da CPMI às peças dos inquéritos que correm na Suprema Corte.

Como as coisas estão muito complicadas neste país, melhor nunca apostar completamente nas tomadas de decisões da PGR no sentido ratificar o indiciamento de alguns atores envolvidos nas tessituras que culminaram com os atos antidemocráticos do dia 08 de janeiro, principalmente depois que foi divulgada a informação de que setores militares estariam fazendo gestões para atenuar a participação de alguns membros da tropa naqueles episódios.   

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Editorial: Onde Arthur Lira e Ciro Nogueira divergem sobre o Governo Lula?



É preciso, realmente, fazer uma esforço maior para entender onde, de fato, o Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira(PP-AL), e o senador Ciro Nogueira(PP-PI), Presidente Nacional do Progressistas, divergem sobre o Governo Lula. Se tentarmos a via ideológica, não chegaremos a lugar algum. Estaremos irremediavelmente perdidos. Enfatiza-se bastante o fato de o senador Ciro Nogueira resistir ao processo de cooptação de parlamentares ora implantado pelo staff de articulação do Governo Lula, enquanto Lira parece acenar positivamente, como quem diz: Me coopte, meu filho!. 

Na realidade, as coisas não funcionam bem assim. Quanto mais o Governo Lula cede, mas o Centrão amplia seu apetite por cargos e verbas, o que não se traduz, necessariamente, num compromisso de apoio efetivo ao Governo. Apesar dos espaços ocupados, estamos longe de afirmar que o Presidente da Câmara dos Deputados apoia o Governo Lula. Em alguns momentos, ele mesmo faz questão de deixar isso bem claro. Ciro está onde sempre esteve, afirmando que só deseja conversa com o petista em 2026, por ocasião das eleições presidenciais. 

A rigor, nenhum deles está com o Governo Lula, como poderia sugerir o canal de diálogo entre o Governo e o Presidente da Câmara dos Deputados. O que ocorre é que os arranjos políticos internos à Câmara dos Deputados impõem demandas bem mais complexas ao senhor Arthur Lira. Apostar numa oposição cerrada ao Governo Lula, por outro lado, cacifica Ciro Nogueira junto aos pares, no momento, de punhos fechados contra o Governo. Até bem pouco tempo, as únicas preocupações de Lula com a indicação do nome para o STF dizia respeito às questões de gênero e coisas assim. Hoje, ele precisa considerar a possibilidade de uma rejeição do nome pelo Centrão. Flávio Dino, por exemplo, não sobrevive à sabatina do Senado Federal. Se continuarmos assim, logo Lula irá pedir ao Centrão sugestão sobre  o nome a ser indicado para o STF.  

Editorial: O racha do PDT no estado do Ceará.

 


Está bastante complicada a situação do PDT no estado do Ceará. No plano estadual, o senador Cid Gomes(PDT-CE), juntamente com o seu grupo político, propõe um realinhamento com o PT local, do governador Elmano de Freitas(PT-CE), que passa pelo comando do diretório da legenda no estado, já de olho nas proximas eleições municipais. A manobra precisaria contar, no entanto, com o aval da ala do partido controlado pelo seu irmão, Ciro Gomes(PDT-CE). Um poço até aqui de mágoas com o PT, Ciro Gomes, candidato à Presidência da República, nas eleições presidenciais passadas, não suporta nem ouvir falar em tal hipótese. 

No último encontro promovido pela legenda no estado, os Ferreira Gomes quase foram às vias de fato, segundo divulgado pela imprensa. Foram salvos pelo gongo da turma do deixa disso. A bem da verdade, as ranhuras não são recentes. Elas se arrastam desde as eleições estaduais passadas,quando, contrariando as expectativas, o PDT lançou o nome de Roberto Cláudio para concorrer com Elmano de Freitas. A aliança entre as legendas poderiam ter sido mantidas se o PDT endossasse a candidadura de Izolda Cela, então filiada ao PDT, que contava com o sinal verde do grupo hegemônico do PT local. Cela era vice de Camilo Santana, que havia renunciado para habilitar-se como candidato ao Senado Federal. Ambos, hoje, estão abrigados no MEC. 

Ciro, literalmente, chutou o pau da barraca, inviabilizando as articulações em curso. Ao lado do capital político de Camilo Santana, com uma gestão muito bem-avaliada, a eleição de Izolda Cela era favas contadas. Diante dos novos fatos, Izolda desligou-se do PDT e o PT precisou se arranjar com o nome do então Deputado Estadual Elmano Freitas, que encontrou enormes dificuldades de se afirmar no início da campanha. Reverteu a situaççao muito em função do prestígio de Camilo Santana, que arregaçou as mangas da camisa e entrou de corpo e alma na campanha.  

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 29 de outubro de 2023

Editorial: Geraldo Alckmin declara apoio a Tabata Amaral na disputa pela Prefeitura de São Paulo.



Entre os dias 17 e 18 deste mês, o Instituto Orbis colocou seus pesquisadores em campo para aferir como anda as expectativas dos eleitores paulistas em relação às próximas eleições municipais. 23,1% declararam que estão dispostos a votarem no candidato do PSOL, o Deputado Federal Guilherme Boulos, enquanto Ricardo Salles, Deputado Federal pelo PL, crava 15,4% das intenções de voto. O atual gestor, Ricardo Nunes, do MDB, que deve tentar renovar o contrato de locação com o Edifício Matarazzo, aparece com 11% das intenções de voto. O quadro apresenta-se um pouco embolado quando se descobre, por exemplo, a partir dos números apresentatos pelo próprio Instituto Orbis, que os principais concorrentes, Guilherme Boulos e Ricardo Salles, aparecem empatados na rejeição do eleitorado, cada qual com 30%. 

Hoje, dia 29, surgiram alguns fatos novos, como o apoio do vice-Presidente da República, Geraldo Alckmin, ao nome da Deputada Federal Tabata Amaral(PSB-SP), que deve concorrer ao cargo pelo PSB. Alguns pessoas estão concluindo que tal apoio de Alckmin à candidatura da Tabata Amaral deve-se ao fato de a relação entre o PSB e o PT, hoje, sobretudo depois da minirreforma ministerial para acomodar o Centrão, não ter atendido às expectativas da agremiação socialista. Afinal, o ministério entregue a Márcio França ainda não passa de uma ficção burocrática. Há outros ingredientes em jogo, que depois compartilharemos por aqui. 

Do lado da direita, crescem as expectativas em torno da consolidação de uma candidatua do ex-Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desta vez com o apoio explícito do capitão Jair Bolsonaro, que ele reclamava tanto. Em evento recente, o ex-presidente declaou apoio ao nome do ex-ministro, abandonando Ricardo Nunes, a quem o PL já havia manifestado o interesse em apoiar. Depois de um certo momento, por algum motivo, a relação do PL com o atual gestor se complicou bastante.      

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sábado, 28 de outubro de 2023

Editorial: As marmitas do MST ganham prêmio da ONU.


Em meio a esta turbulência institucional que o país, enfrenta, talvez possamos entender as razões pelas quais a premiação recebida pelo MST por seu programa de combate à fome não tenha alcançado a repercussão necessária. O prêmio foi concedido ao movimento pela ONU, em reconhecimento às 1,6 milhões de marmitas fornecidas à população de pernambuco durante os dias amargos da pandemia da Covid-19. Salvo melhor juízo, preocupada apenas com as ocupações de terra, eis aqui um assunto que igualmente não foi tratado durante as sessões da CPI do MST. 

Em meio ao ciclone que atingiu recentemente algumas cidades do Estado do Rio Grande do Sul, as ações desenvolvidas pelo movimento, que igualmente distribuiu milhões de marmitas à população desabrigada, fez uma enorme diferença humanitária, merecendo o reconhecimento do governador Eduardo Leite, um notório adversário do Governo Federal. Como se sabe, existe uma identidade do movimento com o Partido dos Trabalhadores. O programa de combate à fome desenvolvido pelo Movimento dos Sem Terra precisa ser melhor conhecido pela população. O movimento mantém tal programa de forma regular, não apenas nas catástrofes ou pandemia. Aliado a outros movimentos e a setores progressistas da Igreja Católica, sopas são distribuídas a moradores de rua em diversas praças do país.   

Curioso que, por algum motivo - desta vez possivelmente não relacionado às turbulências políticas às quais nos referimos no início - embora a premiação se devesse a um trabalho do movimento na província pernambucana, a noticia também não repertiu na imprensa local. Havia um professor na UFPE, já falecido, que costumava enfatizar sempre que não conhecia, no país, uma imprensa tão atrelada ao interesse econômico ou oligárquico como a pernambucana. A História da imprensa no estado - embora com honrosas exceções - mostram, nitidamente, a vinculação de grupos econômicos ou políticos com os jornais locais. 

Durante a ditadura do Estado Novo, por exemplo, Agamenon Magalhães tinha o seu Folha de Manhã, um órgão de imprensa vinculado à defesa das diretrizes políticas da ditadura. Por essa época, o tradicional Diário de Pernambuco fazia forte oposição à ditadura do Estado Novo, mas não se pode negar, igualmente, seus vínculos com a aristocracia açucareira da Zona da Mata do Estado, com a qual Gilberto Freyre mantinha afinidades. De rabo preso apenas com os leitores, apenas a Folha do Povo, que tinha como editor à época o cronista Rubem Braga, que precisou deixar a província pernambucana para não ser preso.     

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Editorial: Governo Lula se complica de vez com o Legislativo.

Crédito da Foto: Wilton Júnior. 

Depois de esboçar uma certa resistência - certamente em razão das gestões do seu núcleo duro - Lula acabou entregando a Caixa Econômica Federal, de porteira fechada, ao Centrão. Além das questões econômicas, políticas, há, até mesmo, um componente de gênero nesta transação nebulosa, conforme observa o jornalista Josias de Souza, do Portal UOL. Além do preposto Carlos Fernandes, coringa do seu staff de confiança, que assumirá a presidência do banco estatal, Arthur Lira deverá indicar 12 vice-presidências da Caixa Econômica, das quais a metade estavam sob o comando de mulheres, na gestão de Rita Serrano. Ou seja, o estrago em termos de representação feminina no Governo ainda é maior do que se pensava, uma vez que sugere-se existir um  DNA misógino entre os integrantes daquele agrupamento político. É esperar pouco tempo para saber se estamos certos, pois as nomeações não tardarão.  

Mas as dores de cabeça de Lula - as do quadril, felizmente, estão sanadas depois da cirurgia - não páram por aqui. Como já se sabe, o apetite do Centrão por verbas e cargos é insaciável. Hoje, um dia seguinte à entrega do banco, o cacique do grupo, Arthur Lira, deixa claro para o morubixaba petista que tal gesto não seria suficiente, principalmente em ano eleitoral, onde a demanda é ainda maior. O resumo da ópera é que o Centrão, para variar, não está satisfeito. Já discutimos isso por aqui e voltamos a assunto. Está se tornando complicado esses arranjos políticos do Governo Lula com a velha guarda da mangueira do governo anterior, de métodos bastante conhecidos, todos perniciosos, rejeitado nas urnas, mas mantendo seu quinhão através de expedientes como a chantagem política. Até ministro pego de calças curtas deixou de ser afastado em nome desses acordos. 

No Sanado Federal, as coisas estão no mesmo diapasão ou talvez ainda mais complicadas, produzindo refregas, como a rejeição da indicação do nome de Igor Roberto Roque para a Defensoria Pública da União. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, sempre tido como um conciliador nato, está com um comportamento muito diferente de alguns anos atrás. Por algum motivo - são inúmeras as especulações em torno dessa mudança de comportamento - Rodrigo parece ter se alinhado aos pares no enfrentamento dos demais Poderes da República. Há quem assegure que, internamente, ele teria interesse em exercer influência sobre o seu sucessor na Casa, além de ser indicado pra uma vaga no Tribunal de Contas da União. Para isso, precisa cativar a base. A bancada de senadores da oposição é bastante expressiva. 

A derrota da indicação do nome de Igor Roberto, por outro lado, traz alguns complicadores no que concerne à indicação de Lula sobre o nome que deverá ocupar a vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal. Antes de indicar um nome, Lula deve considerar especialmente essa nova conjuntura política. A indicação do nome de Flávio Dino, atual Ministro da Justiça e Segurança Pública, neste momento, por razões óbvias, deve ser solenemente descartada. Neste momento, a oposição está com a faca nos dentes e o Governo Lula acuado. Infelizmente.   

Charge: Cláudio Mor via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Editorial: Um périplo pela democracia.

 


A senadora Eliziane Gama(PSD-MA), relatora da CPMI dos Atos Antidemocráticos do 08 de janeiro, está fazendo um périplo por Brasília, apresetando às instituições republicanas o resultado do seu trabalho. A CPMI não pode indiciar - prerrogativa da PGR - mas pode sugerir nomes para o indiciamento, consoante as conclusões do trabalho. Neste caso, se a PGR acatar as recomendações do relatório produzido por aquela CPMI, teremos uma penca de indiciados, todos envolvidos em inúmeros crimes contra as instituições democráticas do país. 

Os indicadores são bons. Salvo melhor juízo, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, já teria autorizado anexar as conclusões do relatório da comissão aos inquéritos que correm na Suprema Corte envolvendo os implicados naqueles atos. É chumbo-grosso contra golpistas. Se eles tivesssem logrado êxito no intentona golpista, não se iludam os leitores, as consequências seriam trágicas para o país. Como diria o mestre florentino, o "mal" - que, neste caso, é bastante relativo, o seu significado - deve ser feito de uma só vez. É preciso cortar as azinhas golpistas dessa gente, principalmente num país como o nosso, constantemente submetido às intempéries de natureza autoritária. 

Esperamos que não ocorra com esta comissão o mesmo que ocorreu com a CPI da Covid, que, depois de exaustivos trabalhos dos parlamentares, liderados pelo grande senador Omar Aziz, parece não ter chegado a bom termo, frustrando as expectativas da sociedade brasileira. O mesmo pode ser dito em relação à CPI do MST, que, sequer, aprovou o relatório de suas conclusões.  

Editorial: Indicado de Lira deve assumir a Caixa Econômica Federal.


O travamento de pautas no Legislativo é um santo remédio para a agilizar as assinaturas de portarias de nomeações pelo Planalto. As raposas políticas do Centrão conhecem muito bem tal expediente. Hoje, o Diário Oficial da União deve trazer as portarias com a exoneração de Rita Serrano da presidência da Caixa Econômica Federal, assim como a nomeação do economista Carlos Fernandes, que assume a presidência do Banco Estatal. O resto é conversa para boi dormir como se diz aqui no Nordeste. Nas entrelinhas, fala-se sobre uma exposição organizada pelo banco, onde Arthur Lira não aparece bem na fita, mas isso não tem qualquer relação com o afastamento de Rita Serrano do cargo que ocupava até ontem.  

A conversa de Lula com Rita Serrano foi rápida, até porque não haveria mesmo como ser uma conversa prolongada. Os argumentos para o afastamento da ex-gestora são de natureza exclusivamente política. O número sugere-se não ser preciso, mas especula-se que outras 11 vice-presidências - cada qual com seu DAS recheado - deverão ser entregues aos indicados de partidos de oposição, como o PP e o União Brasil. Não vamos aqui entrar nos detalhes, mas o que vem por aí é bastante previsível. 

Os leitores já devem ter visto este filme antes. Segundo comenta-se nos bastidores da política, Lula teria resistido a entregar o banco ao pessoal do Centrão. Comendo o mingau quente pelas beiradas, o Centrão vai chegando ao núcleo duro do Governo do PT. O pior é que os caras assumem os cargos cedidos e o Governo continua enfrendo problemas na relação com o Legislativo. Há uma intenção clara no sentido de desgastar o Governo. Lula já deve ter acusado o tranco, mas não enxerga alternativas ao problema.