pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : julho 2024
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quarta-feira, 31 de julho de 2024

Editorial: 47% aprovam o Governo Lula.



Pesquisa realizada pelo PoderData, divulgada no dia de hoje, 31, aponta que 47% dos brasileiros aprovam o Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto 43% desaprovam. Embora esses índices indiquem um empate técnico, pelo menos numericamente, o Planalto pode comemorar uma tendência de queda de popularidade que estava sendo observada nos últimos meses. Alguns analistas sugerem que não haveria motivos para grandes festejos. Tais oscilações se dariam por inúmeros fatores, alguns dos quais inconsistente ao longo do tempo. 

Há problemas na condução da política econômica, na articulação política, no meio ambiente, na segurança pública e, mais recentemente, no campo da política externa, onde o PT tem uma opinião que, pelo menos publicamente, não seria um posicionamento endossado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos referimos aqui às eleições recentes na Venezuela, eivada de dúvidas sobre a sua lisura, mas já endossadas por setores da legenda. Recentemente, o presidente Lula fez um pronunciamento em cadeia nacional sobre uma espécie de prestação de conta de um ano e meio de governo. Apresentou alguns indicadores pouco convincentes sobre o avanço civilizatório em relação ao Governo anterior. 

Neste caso, para confirmar ou não tal tendência de melhoria em seus índices de popularidade é necessário aguardamos novas pesquisas daqui para a frente. O Instituto Quaest já havia verificado que os evangélicos estariam mais tolerantes com o presidente Lula. Afinal, as Sagradas Escrituras recomendam o perdão. Aqui bastaria uma fala infeliz para o presidente ser condenado novamente a arder nas labaredas do inferno. 

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Editorial: Polícia Federal pede afastamento do governador Cláudio Castro por suspeita de corrupção.

 


No dia de ontem, 30, a Polícia Federal indiciou o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, por suspeita de corrupção passiva e peculato. Hoje, 31, a mesma Polícia Federal recomendou o seu afastamento do cargo. A máquina pública do Estado do Rio de Janeiro, ao longo dos anos, entrou num estágio irreversível de corrupção, de onde sugere que não mais sairá. Trata-se de uma máquina bichada, onde o ator político só entra se fizer alguns acordos prévios, comprometendo irremediavelmente a lisura na condução dos negócios públicos. Sugere-se que talvez não haja mais solução para o problema, a julgar pelo andar da carruagem política. O Rio de Janeiro já vive um processo de mexicanização. 

A ladroagem tornou-se a regra, independentemente das ideologias políticas. É um Estado que precisa ser reconstruído, republicanizado. Não é uma tarefa simples, como se sabe. 60% do território da capital já é controlado por grupos de traficantes ou milicianos, inviabilizando o fazer política sem a intersecção, de alguma forma, com esses grupos que atuam no Estado. Recentemente fomos informados de que os neotraficantes evangélicos estariam proibindo a realização de missas da Igreja Católica em suas áreas de atuação. No dia de ontem, o Jornal Nacional exibiu as velhas cenas das malas ou mochilas cheias de dinheiro. 

Não sei se os leitores já observaram, mas as malas ou mochilas carregadas de dinheiro de propina, como já ocorreu no passado recente, não provam absolutamente nada. É impressionante. O rapaz entra num recinto com uma mochila praticamente vazia e sai com uma mochila abarrotada de grana. Em Salvador encontraram um apartamento com malas cheias de dinheiro em espécie e o proprietário do imóvel escapou ileso. Imaginem se algum dia isso ocorresse na residência de um pobre mortal, de um cidadão comum.  

Editorial: Se Lula não vê nada de mais, nós vemos de menos.



Se Lula não vê nada de mais nas eleições da Venezuela, nós vemos de menos. A História nos ensinou sobre a necessidade de tomar alguns cuidados com as ações da oposição na Venezuela, quase sempre insufladas pelos interesses geopolíticos do Tio Sam no continente.  Desta vez, no entanto, é preciso admitir que as mobilizações de rua que estão ocorrendo naquele país são reflexos de uma grande insatisfação da sociedade venezuelana contra o governo de Nicolás Maduro. É o ápice de uma crise política e econômica que se instaurou no país há algum tempo. Não existe democracia onde o outro lado não pode vencer uma eleição. É mais ou menos o que pode estar ocorrendo naquele país. 

Há menos transparência do que o necessário acerca do resultado das eleições presidenciais do último domingo. Muitas instituições públicas daquele país já estão contaminada pelo chavismo, o que somente ampliam as dúvidas sobre a lisura do pleito. Deixaram de ser instituições de Estado já faz algum tempo. Aliás, o Estado ali é o chavismo. O Governo do PT faz um contorcionismo diplomático dos diabos para se posicionar em relação às eleições naquele país. Celso Amorim, Assessor Especial da Presidência para Assuntos Internacionais, pondera que é necessário aguardar a divulgação das atas, prometidas até a sexta-feira. 

Por outro lado, dirigentes da legenda e do MST já se manifestaram em apoio a Nicolás Maduro, produzindo um frisson entre setores do partido e do Governo Lula. No dia de ontem, Lula manteve uma conversa com o presidente Norte-Americano, Joe Biden, onde trataram da situação naquele país, literalmente conflagrado. Sugere-se que o chavismo tenha chegado a um fim melancólico, a julgar pelas mobilizações de rua, que estão longe de arrefecer. Há um impasse político de consequências preocupantes para a população. 

Charge! Leandro Assis e Triscila Oliveira via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 30 de julho de 2024

Editorial: Venezuela conflagrada.

 



Infelizmente, o que está ocorrendo na Venezuela seria perfeitamente previsível. A oposição denuncia um suposto sequestro de um dos líderes da oposição ao presidente Nicolás Maduro, Freddy Superlano. Já foram registradas as mortes de quatro pessoas que participavam dos protestos contra as eleições de domingo. O Governo Lula, por razões óbvias, se mostra prudente em relação ao assunto, mas dirigentes do PT e de movimentos sociais como o MST já demonstraram acatamento do resultado de um pleito eivado de questionamentos. A oposição já empurra o Governo Lula entre aqueles que endossam a suposta vitória de Nicolás Maduro nas urnas, com aqueles ingredientes conhecidos. Dirigentes do PT já forneceram a munição que eles desejavam. 

Nicolás Maduro já recomendou aos países que não reconhecem o resultado da eleição para retirarem suas representações diplomáticas do país. Infelizmente, a Venezuela entrou numa espiral perigosa, onde, certamente, os protestos tendem a se ampliarem, assim como a repressão a tais movimentos, intensificando a atuação das forças policiais do Estado. Para completar o enredo, Nicolás Maduro já recebeu o apoio dos seus principais apoiadores, inclusive no campo militar, como é o caso da Rússia, do Irã, da China. É uma encrenca das pesadas, daí se entender as conversas entre Lula e Joe Biden. 

No caso da Venezuela, ou se é a favor ou se é contra, assumindo o ônus político daí decorrente. Ou o Brasil assume uma posição em defesa da democracia e se coloca contra o que está ocorrendo naquele país ou endossa o suposto resultado das urnas, que apontou a vitória de Nicolás Maduro. Não há meio termo. A ginástica diplomática do Governo Lula não irá produzir bons resultados, como, aliás, já está cabalmente demonstrado. 

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Editorial: Governo e oposição agendam mobilizações de rua para o mesmo dia na Venezuela.



As últimas informações dão conta de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve um diálogo recente com o presidente norte-americano, Joe Biden, onde esteve em pauta a situação da Venezuela. Alguns países já reconheceram o resultado do pleito, divulgado pelas autoridades eleitorais daquele país, mas pairam inúmeras dúvidas sobre o resultado anunciado, uma vez que se fala em sabotagem, as atas não são divulgadas e coisas assim. A oposição não tem dúvidas, mas a certeza de que venceram as eleições e estão sendo garfados. 

Os países que reconheceram a vitória de Nicolás Maduro são ditaduras republiquetas ou democracias iliberais, a exemplo da Rússia. Relações econômicas e militares estão entre os incentivos para reconhecimento da suposta vitória de Nicolás Maduro. A Venezuela entrou num círculo perigosíssimo. O país está mergulhado numa crise política e econômica sem precedentes. Para completar o enredo, tanto o governo quanto a oposição agendaram manifestações de rua para o dia de hoje, 30. Sabe-se lá o que poderá ocorrer, num clima de acirradas indisposições entre ambos os lados. 

Num país cindido, de profunda instabilidade política, qualquer que fosse o resultado das urnas, teríamos sérios problemas pela frente. O Brasil não é, necessariamente, um grande exemplo para aquele país. Por aqui até golpe de Estado foi tentado recentemente, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro perdeu as últimas eleições presidenciais. Felizmente tal círculo autoritário, pelo menos temporariamente, foi interrompido no país.  

Editorial: Pesquisa Quaest mostra empate técnico entre Nunes, Boulos e Datena.



São Paulo promete uma das disputas mais acirradas dessas próximas eleições municipais. A última pesquisa do Instituto Quaest, encomendada pelo Genial Investimentos, naquela praça mostra um empate técnico entre os candidatos Ricardo Nunes(MDB), atual gestor que concorre à reeleição, Guilherme Boulos(PSOL), que conta com o apoio do Palácio do Planalto, e  José Luiz Datena, recentemente oficializado como candidato tucano ao pleito. Apesar das indisposições internas com alguns setores do partido na capital, José Luiz Datena se constitui, hoje, na grande aposta dos tucanos para retomarem o controle sobre o seu ninho mais emplumado. 

Nesta última pesquisa o empate é quase numérico mesmo, uma vez que Nunes pontua com 20% das intenções de voto, enquanto Datena e Boulos aparecem com 19% das intenções de voto. É curioso fazer essas continhas, pois, numa pesquisa recente, surgiram hipóteses sobre como as escolhas dos vices podem favorecer ou não os titulares. Marta Suplicy, por exemplo, poderia contribuir para ampliar os votos de Guilherme Boulos em algumas zonas eleitorais da capital. Por outro lado, o coronel Mello, vice de Ricardo Nunes, contaria com resistências em algumas áreas da periferia da capital, possivelmente em razão de sua identificação com forças militares. 

Os pesquisadores do Instituto Quaest entrevistaram 1002 pessoas entre os dias 25 e 28 de julho. A pesquisa está registrada sob o número: TSE\SP 06142\2024. Eis os escores: 

Ricardo Nunes( MDB) - 20%

Guilherme Boulos(PSOL) - 19%

José Luiz Datena(PSDB) - 19%

Pablo Marçal (PRTB) - 12%

Tabata Amaral(PSB) - 12%

Kim Kataguiri(UB) - 3%

Marina Helena (Novo) - 3%

Altino(PSTU) - 1%

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 29 de julho de 2024

Editorial: As incongruências do discurso de Lula.



Não vamos aqui entrar nas nuances, mas ocorreram algumas incongruências no discurso proferido no dia de ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há controvérsias acerca do número de pessoas que passam fome no país, assim como os indicadores econômicos, passando pelas ações ambientais, que, até o momento, deixam a desejar. Pelo andar da carruagem política, além das contradições internas, o discurso ainda soou eleitoreiro, conforme sugere os tucanos, que estão entrando com uma ação contra o discurso do presidente no TSE. 

A despeito das fragilidades, os tucanos pleiteiam o lançamento de uma candidatura presidencial em 2026. As preferencias recaem sobre o ex-senador Aécio Neves(PSDB-MG). Sugere-se, neste caso, que o presidente apenas tenha lido o discurso preparado por seu assessores. Aliás, esses ghost writers já foram mais criteriosos no passado. Até quando não fala de improviso, o presidente Lula tem cometidos algumas derrapagens, neste caso, em particular, por imprecisões. É preciso muita calma nessas horas. 

O assessor do Ministério das Relações Exteriores, Celso Amorim, por exemplo, preferiu aguardar um pouco mais antes de se pronunciar ou reconhecer a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela. Sabe-se que aquelas eleições estão eivadas de dúvidas sobre o resultado final apresentado.  Por enquanto, apenas o MST e algumas ditaduras latino-americanas já reconheceram o resultado das eleições de ontem. 

Editorial: A batalha da Princesa do Agreste.



Os pesquisadores do Instituto Simplex\CBN estiveram em Caruaru, conhecida como Princesa do Agreste, para aferir as tendências de voto dos munícipes em relação às próximas eleições municipais de outubro. Reduto político da atual governadora do Estado, Raquel Lyra(PSDB-PE), aquela cidade do Agreste tornou-se sensivelmente estratégica para os seus projetos políticos. É praticamente certo que ela se candidate à reeleição nas eleições estaduais de 2026. Neste caso, poderá bater chapa com o jovem prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), caso o seu caminho político esteja devidamente pavimentado como agora, onde ele desponta em condições de liquidar a fatura pela reeleição à Prefeitura do Recife ainda no primeiro turno. 

Caso isso ocorra, sugere-se que ele entre de sola nas eleições da cidade de Caruaru, em apoio ao seu candidato, o ex-prefeito José Queiroz(PDT). O candidato apoiado pelo Palácio do Campo das Princesas, Rodrigo Pinheiro, do PSDB, lidera a pesquisa realizada pelo Instituto Simplex\CBN, mas empatado dentro da margem de erro do Instituto, que é de 4,55 p.p. O Instituto ouviu 400 pessoas, no dia 22 de julho. No Estado, já ocorre uma espécie de eleição dentro de outra, ou seja, em 2024 estão sendo dadas as cartas do que poderá ocorrer em 2026. Tanto o Palácio do Campo das Princesas quanto o Palácio Capibaribe, neste sentido, intensificam as suas articulações pelas diversas regiões e microrregiões do estado. 

Aduba-se as bases agora para colher os resultados em 2026. A pesquisa do Instituto Simplex\CBN está registrada sob o número TSE PE-04026\2024. Eis os números: 

Rodrigo Pinheiro(PSDB-PE)  21,6%

José Queiroz(PDT-PE)  15,8%

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo.

 


Editorial: Impasse nas eleições presidenciais da Venezuela.


A Venezuela passa por um momento de grande impasse político, principalmente depois das eleições presidenciais do último domingo. A vitória do presidente Nicolás Maduro está sendo divulgada pelos organizadores daquelas eleições, sob protestos velados dos opositores, que lançam dúvidas sobre a lisura do pleito. Edmundo Gonzáles e Maria Corina Machado afirmam abertamente que não concordam com o resultado das urnas. Na realidade, o dilema político, institucional e econômico da Venezuela já se prolonga há algum tempo. A tendência é o agravamento desta situação, seja qual for o resultado desta última eleição, quando se sabe que nenhum dos lados aceitará o resultado do jogo. 

A incerteza é inerente ao processo democrático. Certeza absoluta geralmente é coisa de ditador. Não colocamos em dúvidas a lisura do pleito, longe disso, mas, a julgar pelas movimentações de rua em prol da oposição, pairam algumas dúvidas sobre o resultado, embora bastante equilibrado. Já houve um tempo que os Estados Unidos levantavam a bola de opositores ao chavismo na Venezuela. Eram opositores que, de fato, não inspiravam confiança. A pessoa se elege por um processo democrático e as primeiras providências seriam no sentido de desconstruí-lo. Isso também ocorreu no Brasil, depois do afastamento da presidente Dilma Rousseff. O golpe de Estado estava entre as hipóteses pensados pelos yankees para afastar o desafeto político no continente.  

Isso, longe de se constituir numa solução, produziria um dano irreversível às instituições democráticas daquele país. Se os Estados Unidos davam suporte a esses grupos, já seria suficiente para desconfiar dos reais interesses  que estavam em jogo. Gonzáles e Corina Machado, a princípio, não se enquadram em tal figurino e seria de bom alvitre que o comandante Nicolás Maduro, em respeito às instituições daquele país, aceitasse os resultados das eleições. Maduro fez várias ilações sobre as eleições noutros países, inclusive no Brasil, criando um mal-estar com o STF.  

domingo, 28 de julho de 2024

Editorial: Nada pacificado sobre o SUS da segurança pública.



Para os leitores que nos dão a honra de acompanhar este blog, nenhuma surpresa. Será muito difícil, se não improvável, construir um consenso entre Governo e Oposição em torno do tema da segurança pública. Isso chega a ser mais grave do que os próprios problemas enfrentados nesta área, uma vez que as divergências entre o Governo Federal e os entes federados não poderiam construir um bom encaminhamento de eventuais soluções para os greves problemas enfrentados. Agora fica mais claro porque este tal de SUSP, tratado como o SUS da segurança pública, não decola. 

O Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, por razões naturais, é um entusiasta do SUSP, por vezes apresentado como algo sobre o qual estaria se construindo algum consenso em torno do assunto. O andar da carruagem política indica exatamente o contrário, desde questão simples, como as recomendações para a utilização de câmaras nos uniformes de policiais em operação, até em relação às questões de natureza mais complexa. A agenda do Governo é uma agenda distinta da Oposição. 

Essa questão é tão séria que, mesmo numa eleição municipal, como a programada para 6 outubro, onde os assuntos do cotidiano do cidadão é que acaba ditando o seu voto, há uma penca de candidatos com propostas de armar a guarda municipal. Na Bahia, por exemplo, o segundo Estado mais violento do país, o candidato apoiado pelo PT, Geraldo Júnior, propõe criar uma Secretaria de Segurança Pública Municipal.  Curioso, uma vez que ele é o vice governador de um estado que não conseguiu encontrar uma solução para o problema, ostentando altíssimos índices de violência. No mínimo contraditório. 

Editorial: Lessa demonstra arrependimento depois da delação premiada.



O ex-militar Ronnie Lessa, preso pelo assassinato de Marielle Franco, confessou recentemente que se encontra arrependido de ter feito um acordo de deleção premiada. Sugere-se que o arrependimento se dá muito mais em relação a acordos que não estariam, segundo suas avaliações, sendo cumpridos. A cabeça e o corpo do ex-militar não estão bem, segundo ele mesmo confessa numa carta dirigida ao cunhado. Lessa foi transferido de presídio, conforme previa o acordo, mas existiria uma série de outros itens que não estariam sendo observados, como a transferência de sua família para São Paulo, assim como a permissão para encontros com a sua esposa. 

Em suas ponderações, a família dele não está segura. Lessa já se encontra naquela fase de balanço de vida. Certamente, o acordo fechado teve muito mais a ver com uma decisão do próprio ex-militar, movido pelos encargos de consciência pesada, como que para se livrar de um peso. Haveria, naturalmente, alguns ajustes relativos às condições sob as quais ele está cumprindo sua pena, sobretudo se considerarmos as circunstâncias do sistema prisional brasileiro. Lessa confessa o desejo de fazer um curso superior, dedicar-se à criação de peixes, coisas assim. É curioso como o teor de uma carta dirigida ao cunhado chegou ao conhecimento da imprensa. 

Há alguns limites inerentes a esses acordos de delação premiada. Possivelmente, se ouvirmos as considerações do outro lado, encontraríamos as eventuais divergências de posicionamentos sobre o assunto. A justiça sabe que se impõe todo o rigor republicano na punição dos executores e mandantes deste vil assassinato, conduzido por motivos  torpes. Não é bem o caso de Ronnie Lessa que confessa participação no crime, mas em relação aos eventuais mandantes, ninguém se conhece, ninguém tem nada a ver com o caso. 

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 26 de julho de 2024

Editorial: Cúpula tucana confirma candidatura de Datena antes da convenção partidária.



As alianças políticas celebradas neste momento da campanha das próximas eleições municipais estão dando o que falar. Pelo andar da carruagem política, é o sujo falando do mal lavado, pois ninguém fala com aquela convicção de quem pode cobrar alguma coisa do outro, muito menos pureza ou coerência ideológica. No momento, a cobrança da vez diz respeito à participação do ex-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes, que andou participando de eventos com atores políticos ligados ao bolsonarismo, no Ceará, o seu reduto político. Em resposta, ele observou a participação de membros do União Brasil no Governo do PT. 

Em São Paulo, a confusão no ninho tucano não seria por razões ideológicas, mas fisiológicas. Os vereadores da legenda se sentiriam mais à vontade em apoiar o projeto de reeleição do atual gestor, Ricardo Nunes. Assim, talvez o partido reunisse melhores condições de reconduzir ou ampliar sua participação na Câmara Municipal. Não podemos tratá-los aqui como cucos no ninho tucano, porque o danado do pássaro parasita só põe um ovo, mas, a rigor, é basicamente isso o que está ocorrendo. Se dependesse desse grupo de vereadores, o apresentador tucano sequer seria admitido na legenda, muito menos homologado como candidato do partido. 

Estava sendo prevista uma rebelião durante a convenção, mas as raposas do partido, curtidas de décadas no exercício das manhas, inclusive na terra das Alterosas, apagaram o incêndio ou esvaziaram o recinto antes que ele ocorresse. Bateram o martelo sobre o assunto e o apresentador José Luiz Datena apresenta-se às urnas nas eleições de outubro como candidato do PSDB.   

Editorial: Uma aliança inusitada entre bolsonaristas e petistas em Olinda?



Os chamados partidos de esquerda no Brasil sofreram uma decomposição ideológica imensa nos últimos anos. Exceção apenas para o Partido da Causa Operária e talvez o PSTU, que ainda continua resistente ao processo de institucionalização política em alguns estados, mas já se apresenta com candidaturas disputando pleitos em diversas praças do país.  Um fenômeno eleitoral curioso é que esses partidos de extrema-esquerda estão ampliando seus coeficientes eleitorais nos últimos anos, o que se constitui em mais um incentivo para serem engolidos pela bacia semântica. Existe um deles que se apresenta como radical, mas, a rigor, seus críticos tem alguma razão quando apontam sua origem na esquerda caviar do Leblon. 

Aqui em Pernambuco, conforme comentamos no dia de ontem, existe uma espécie de esquerda pé na jaca, ou seja, um agrupamento de classe média vinculados a agremiações políticas de esquerda apenas para atenderem às suas conveniências de manterem suas boquinhas na máquina quando esses partidos estão no poder. Quando é a direita que ocupa esses espaços de poder, por razões de uma identificação social e de classe, eles também não perdem a boquinha. A clivagem aqui não é ideológica, mas orientada pela condição social que o indivíduo ocupa na pirâmide social, reproduzindo-se uma hierarquização histórica  e o controle do espaço público por nucleações familiares conhecidas e seus agregados, confirmando a tese do historiador Sérgio Buarque de Holanda, sobre a indistinção entre o público e o privado. Há até um grupo que se congrega em torno das pautas educativas, que reúne de macielistas a paulofreirianos, passando por aqueles que lutaram contra a ditadura militar no país.   

Esses atores, embora professem, por vezes, narrativas discursivas de uma preocupação social como bandeira, estão, na realidade, muito mais preocupados em atenderem suas demandas individuais. Esta aqui uma das causas da degradação de uma conhecida agremiação política pernambucana, onde apenas uma burocracia partidária dita as regras, consoante tais interesses, abdicando dos projetos coletivos, que são mantidos apenas nas falácias discursivas.  Neste sentido, não chega a ser uma surpresa o que está ocorrendo em Olinda, quando o candidato do PT, Vinícius Castello, celebra uma aliança com o empresário bolsonarista Celso Muniz para concorrer à Prefeitura da Marim dos Caetés.  A cereja do bolo é que o empresário foi indicado pelo PCdoB. 

Editorial: Morreu o xilogravurista J. Borges.



Morreu, no dia de hoje, 26, o xilogravurista pernambucano J. Borges. Um momento de tristeza para os pernambucanos. Perdemos um artista de múltiplos talentos, com reconhecimento internacional de sua obra. Natural de Bezerros, Agreste do Estado, J. Borges teve uma infância de dificuldades, pouca instrução formal, com um começo simples, como vendedor de literatura de cordel nas feiras nordestinas. O talento para a xilogravura só viria algum tempo depois, em razão das dificuldades de encontrar alguém que pudesse ilustrar os seus cordéis. Fez alguns testes com tinta, deu certo. Ariano Suassuna se interessou pelo seu trabalho, projetando-o nacionalmente como o maior xilogravurista do país. 

Em visita ao Brasil, o escritor uruguaio, Eduardo Galeano, autor de As Veias Abertas da América Latina, numa exposição no Rio de Janeiro, se deparou com as obras do artista pernambucano e decidiu que o procuraria para ilustrar seu novo livro, As Palavras Andantes. Desde então, ambos estabeleceram uma profícua amizade, culminando com a presença do escritor ao seu ateliê, sempre repleto de estudantes. Não era raro encontrá-lo por ali, momento em que sempre se dispunha a atender os visitantes, em conversas que se prolongavam por horas.  Algumas de suas obras estão expostas em países como México e Estados Unidos. 

Os filhos de J.Borges acabaram seguindo o mesmo ofício do pai. Este editor chegou a visitar o ateliê do artistas por duas ocasiões, em ambas tendo o privilégio de ouvi-lo falar sobre a sua trajetória artística. J. Borges produziu mais de 300 livretos de literatura de cordel, sempre tratando de temas do imaginário social nordestino. Entre esses livretos, salvo melhor juízo, aquele de maior sucesso é A Chegada da Prostituta ao Céu. Em Pernambuco, suas obras se encontram expostas em museus como o Museu do Estado e o Museu do Homem do Nordeste, que possui também um expressivo acervo do artista em reserva técnica. 

Charge! Jaguar via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 25 de julho de 2024

Editorial: A polêmica em torno da demissão de um museólogo.



Há algum tempo este editor perdeu as ilusões em torno desta questão de "afinidades" ideológicas. Setores expressivos e influentes do PT, por exemplo, já estão à direita da esquerda brasileira. Aqui em Pernambuco, Recife em particular, existe uma espécie de esquerda pé na jaca, para quem os projetos pessoais  e os quinhões foram assegurados na burocracia da máquina pública e era isso apenas o que interessava. A picanha e o Whisky deles estão assegurados e isso é o quanto importa. Alguns deles continuaram servindo ao bolsonarismo em passado recente, sem quaisquer encargo de consciência ideológica pesado. Há um grupo ligado à área de educação que reúne desde macielistas renhidos até pseudo paulofreirianos, que se utilizam do nome do honrado educador pernambucano como escudo ético para se protegerem.   

Causa estranheza, portanto, uma série de manifestações em torno da demissão de um museólogo do cargo de confiança que ocupava, sob a alegação de ausência de afinidades políticas com o atual governo. Este museólogo é um dos atores mais respeitados em seu campo de atuação, atingindo, quem sabe, o topo da legitimação em sua área, para usarmos um raciocínio a a partir do sociólogo francês, Pierre Bourdieu. Méritos acadêmicos não lhes faltam. Inclusive, do ponto de vista pessoal, trata-se de um exemplo de superação e determinação. Afastá-lo sob o argumento de ausência de afinidades ideológicas, portanto, soa estranho, sobretudo se entendermos que, se adotássemos tal critério, cabeças bolsonaristas rolariam em Brasília. O Secretário-Executivo de um dos 39 ministérios foi Ministro Interino do Desenvolvimento Regional do Governo Bolsonaro. 

Pesa a seu favor o fato de ter ocupado cargo relevante em Brasília, por ocasião de um dos governos petistas, numa gestão que foi considerada uma verdadeira divisão de águas na área, ainda sob a batuta do cantor Gilberto Gil como Ministro da Cultura. Diante dos exemplos expostos acima, o que, afinal, significa essa tal de afinidades ideológicas ou políticas? Sugere-se que se fizermos alguma clivagem por aqui pode-se incorrer na possibilidade do cometimento de injustiças, que é o que parece que pode estar ocorrendo. 

Editorial: O périplo de Bolsonaro em Pernambuco.



Os bolsonaristas pernambucanos aguardam, com grande expectativa, a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro em Pernambuco. A agenda é extensa, começando por Petrolina e finalizando com uma motociata, com concentração marcada para a Padaria Boa Viagem, uma espécie de quartel-general das manifestações  bolsonaristas no Recife. Gilson Machado, ex-Ministro do Turismo do Governo Bolsonaro, que disputa a Prefeitura do Recife, tem convenção marcada para o dia 4 de agosto, ocasião em que deverá ser anunciado o nome de uma mulher que integrará a sua chapa na condição de vice. 

Segundo o próprio Gilson Machado, a escolha envolve uma consulta prévia ao casal Bolsonaro. Neste caso, a escolha deverá recair sobre um nome que agregue valor à sua candidatura, ou seja, alguém que tenha identificação com nichos eleitorais e capilaridade política. Pelo andar da carruagem política, não seria improvável a escolha de uma mulher evangélica. O candidato considera que o eleitor recifense ainda não sabe que o Recife tem um candidato bolsonarista que disputa o Palácio Capibaribe. Não se sabe se ele chega a tais conclusões a partir de pesquisas realizadas ou apenas intuitivamente. 

Longe de arrefecer, o capitão tem intensificado a sua participação nessas manifestações de rua em apoio aos seus aliados nos estados. Em matéria no Jornal do Commércio, Gilson Machado pondera sobre o fato de o atual gestor, uma vez se desincompatibilizando do cargo, uma vez reeleito, entregar a prefeitura ao seu vice, Victor Marques, um comunista. Além dessa questão ideológica se encontrar bastante relativizada, a filiação de Victor ao PCdoB sugere ser meramente circunstancial. Ele está longe de ter o perfil de um Renildo Calheiros e ou de uma Luciana Santos, desde muito tempo envolvidos com o movimento estudantil. 


Editorial: A rebelião tucana contra a candidatura de Datena.



Ontem tratamos deste assunto por aqui, mas não imaginávamos que o fato fosse tão grave. Integrantes do PSDB paulista, que são contra a candidatura do apresentador José Luiz Datena à Prefeitura de São Paulo, poderiam tentar tumultuar a convenção que homologará o nome do apresentador como candidato à Prefeitura da Cidade de São Paulo. O grupo é liderado por Fernando Alfredo, que já foi presidente municipal da legenda e apoia o projeto de reeleição do prefeito Ricardo Nunes. Desde o início desse processo já se sabia que a esmagadora maioria dos vereadores da legenda endossavam o projeto de reeleição do prefeito. 

A necessidade de tirar a legenda do limbo político no plano nacional é que motivou seus dirigentes a tentarem um esforço para manter sua presença naquele que já foi o seu ninho mais emplumado: São Paulo. Filiado ao PSDB, Datena poderia ter sido o vice na chapa da socialista Tabata Amaral, mas as negociações não prosperaram. Sua boa performance nas primeiras pesquisas de intenção de voto sacramentaram a tendência de lançá-lo como candidato do partido. A resistências locais foram vencidas depois de uma intervenção no diretório municipal. Vencidas em termos, pelo que se presume.  

Apesar de contar com o apoio da cúpula da legenda, o apresentar emite indícios de insatisfação com a situação, considerando, inclusive a possibilidade de, mais uma vez, desistir de entrar na política. Acreditamos que ele será legitimado como candidato do partido, apesar da rebelião, mas não se espere o apoio desses vereadores ao seu projeto de tornar-se prefeito da cidade. 

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Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 24 de julho de 2024

Editorial: Chefe do Serviço Secreto Americano pede demissão do cargo.



Serviço Secreto é coisa muito séria. Todo cuidado é pouco. Que o diga Kimberly Cheatle, que acabou pedindo afastamento do cargo de chefe do Serviço Secreto Americano depois do episódio do atentado contra o candidato republicano Donald Trump, considerado o maior fracasso do Serviço Secreto Americano nos últimos anos. Na década de 70, informações fornecidas por um agente do FBI a dois jornalistas do The Washington Post culminaram com a renúncia do presidente Richard Nixon. Era a renúncia ou um impeachment humilhante. 

Dificilmente os jovens repórteres do jornal reuniriam as informações comprometedoras sem o auxílio do "Garganta Profunda", cuja identidade só foi revelada muito anos depois. Recentemente uma revista de circulação nacional aventou a hipótese de confecções de dossiês contra o Diretor-Geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Não raro, surgem na imprensa denúncias de eventuais medidas de retaliações nesses órgãos. A imprensa já se acostumou a tratar nossos órgãos de informações como a Abin de Bolsonaro ou a Abin de Lula, o que, convenhamos, não faz bem para os propósitos republicanos. 

Não vale mais a pena nos aprofundarmos neste assunto, uma vez que a equação é simples. No governo anterior foi feito o que não poderia ter sido feito, no governo atual deixou de ser feito aquilo que seria necessário ser feito. Nos Estados Unidos, a própria chefe do serviço secreto entendeu que ocorreram falhas na segurança do candidato Trump e pediu exoneração do cargo. O rapaz conseguiu burlar a segurança e Trump apenas não morreu por questão de sorte. Virou a cabeça no momento exato do disparo. 

Editorial: Nova pesquisa confirma liderança de Paes no Rio. Ramagem ainda não ameaça.



Convém sempre tomar alguns cuidados quando se analisa as tendências de intenção de voto do eleitorado carioca. Em passado recente, tivemos algumas surpresas que impõem essas precauções. No momento, o prefeito Eduardo Paes(PSD-RJ) lidera, com folga, todas as pesquisas de intenções de voto. Paes reúne a seu favor uma séries de fatores: Pilota a máquina, tem uma boa aprovação junto à população e, não menos importante, celebra alianças ousadas, digamos assim, sem as amarras impostas pelas clivagens ideológicas. Assim, habilmente, ele vai costurando a sua liderança em todas as pesquisas até este momento, até mesmo com possibilidade de vencer as eleições ainda no primeiro turno. 

Já discutimos por aqui que o eleitorado, neste momento, demonstra uma tendência em votar em candidatos que já exercem o cargo, desde que bem avaliados. A última pesquisa do Instituto Quaest, divulgada no dia de ontem, 23, indica que 49% do eleitorado carioca sufragariam o nome de Eduardo Paes, enquanto 13% preferem o candidato do bolsonarismo, Alexandre Ramagem, do PL. Não se pode associar o bom posicionamento de Paes a este momento difícil enfrentado pelo candidato Alexandre Ramagem. Paes já vem bem desde o inicio da largada.  

O que se poderia supor é se tais encrencas não estariam interditando o avanço do candidato bolsonarista nas pesquisas de intenção de voto. Em meio ao tsunami produzido pelos áudios da Abin paralela - ou ignorando completamente tais fatos -  ambos intensificaram a campanha nas últimas semanas.  Em artigo recente, uma analista político considera a possibilidade de o ex-presidente apostar exatamente no tribunal das ruas para se contrapor aos embaraços jurídicos que está enfrentando. Isso explica, ao menos, a intensificação dessas movimentações de rua. 

Editorial: O frisson diplomático entre Brasil e Venezuela.



O presidente Lula já carrega um fardo bastante pesado, junto a setores da oposição, em razão dessa aproximação com o Governo da Venezuela. Mais recentemente, passou a se indispor com o próprio Nicolás Maduro, depois de declarações sobre as eleições naquele país. O que está ocorrendo na Venezuela, de fato, é algo para ser duramente criticado e repelido, pois fere de morte o respeito à democracia e suas instituições. Ao ameaçar com um banho de sangue caso venha a perder as eleições, o presidente Nicolás Maduro deu uma demonstração de que só acatará o resultado das urnas se ele for o vencedor. 

Como presidente do país, ele jogou na lata de lixo a incerteza inerente ao processo democrático. Neste jogo, parafraseando o cientista politico polonês Adam Przeworski, quem não ama a incerteza não é um democrata. O chá de camomila aqui é o de menos. O presidente foi mais além ao levantar suspeição sobre o processo eleitoral no Brasil, algo inadmissível, alegando, sem conhecimento de causa, que as nossas eleições não são auditáveis. Vamos ser sinceros por aqui. Maduro passou a ser uma péssima companhia para o presidente Lula. Lula já se perdeu na defesa do processo democrático naquele país, tendo que pedir desculpas posteriores à candidata da oposição.  Assim como se perde agora, ao criticar as declarações de Maduro, mesmo num contexto de posicionamento correto.  

Até recentemente, o presidente da Argentina, Javier Milei, cometeu alguns deslizes verbais contra o presidente Lula. Na realidade, diplomaticamente, usamos o termo "deslizes", mas, na realidade, poderíamos traduzi-los como ofensas. Estranhamento, Lula amorteceu a pelota e tirou de letras, como se diz no jargão esportivo. Milei até veio ao país para participar de um encontro da direita em Santa Catarina. Pelo andar da carruagem das relações diplomáticas, sugere-se que o incidente com Maduro possa assumir outras proporções. O resumo da ópera é que Maduro é uma daquelas amizades que devem ser evitadas. 

Charge! Leandro Assis e Triscila Oliveira via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 23 de julho de 2024

Editorial: Datena ainda demonstra desconforto no ninho tucano.



Depois de longas negociações, finalmente, no dia de ontem, 22, o MDB fechou um acordo com o União Brasil, onde o apoio deste partido ao candidato Ricardo Nunes, aparentemente, está sacramentado. As negociações, segundo foi divulgado, envolvem até mesmo uma costura política nacional, ou seja, em troca o MDB apoiaria o nome do deputado federal baiano, Elmar Nascimento  para a Presidência da Câmara Federal. A relação entre as duas legendas chegou a um estágio de "péssima", conforme as palavras de Milton Leite, mandachuva do União Brasil no município. Em princípio, a expectativa é que o deputado federal Kim Kataguiri(UB-SP), retire a sua candidatura. É o que se imagina pelo andar da carruagem política. 

Naquela quadra - talvez possamos generalizar tais conclusões - os tucanos enfrentam grandes dilemas. Os vereadores do partido desejavam apoiar o nome do prefeito Ricardo Nunes, com o que os dirigentes do partido não concordaram. Ainda negociaram uma vice, mas Nunes não aceitou. As negociações com Tabata Amaral(PSB-SP) também não foram bem-sucedidas. Era desejo da candidata que o apresentador José Luiz Datena integrasse a sua chapa na condição de vice. Pesquisas de intenção de voto, no entanto, animaram bastante os tucanos, que resolveram lançar o apresentador como candidato à prefeitura da cidade. 

Hoje surgiram novas informação sobre um certo desconforto do apresentador no ninho tucano. O partido estaria entabulando conversas sobre as quais ele não teria conhecimento. É como se o apresentador pedisse transparências sobre essas entabulações. No final, talvez brincando, ele afirmou que uma desistência não estaria completamente fora dos propósitos. Afinal, se até o Biden renunciou...

Editorial: As boas perspectivas eleitorais do União Brasil para as próximas eleições municipais.

 


A despeito das contendas internas, o União Brasil costura um projeto de poder bastante ambicioso, o que inclui, naturalmente, as próximas eleições municipais de outubro. Levantamento recente, publicado pelo site Poder360, aponta que o partido desponta como franco favorito em formar o maior contingente de prefeitos em cidades com um perfil superior a 200 mil eleitores. Hoje o partido tem candidato competitivo disputando o Senado Federal e a Câmara dos Deputados. Como aspirante à Presidência da República a grande estrela da legenda é o governador Ronaldo Caiado, de Goiás. 

É curioso como ele se apresenta como um candidato em potencial, com o respaldo dos caciques da legenda. Num momento em que a segurança pública aparece entre as maiores preocupação dos eleitores, o lema do combate à violência no estado governado por Ronaldo Caiado é: ali bandido não se cria. Ele se esgueira num eleitorado de perfil conservador, de centro- direita e até extrema-direita, embora o bolsonarismo mais radical tenha outras alternativas neste momento. Por alguma razão, ele prefere flertar com cautela em relação ao eleitorado bolsonarista mais radical. 

Segundo levantamento publicado pela revista Veja, hoje há uma tendência eleitoral favorável à candidatos do centro para a direita do espectro ideológico, o que explica, em parte, o bom momento vivido pelos candidatos do União Brasil. Até recentemente eles fecharam uma aliança com o candidato do MDB à prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes, um dos favoritos na corrida eleitoral dessas eleições municipais. Se deixarem, o partido poderá fazer barba, cabelo e bigode. Apesar das brigas internas. 

Artigo: A grande ilusão

 




Disse o psicanalista Jacques Lacan que o amor é uma fricção entre dois corpos, mediado por uma fantasia. E que nós amamos uma projeção de nós mesmos no outro, que necessariamente não corresponde à realidade do outro. De toda maneira, é muito difícil amar, se apaixonar por alguém sem uma fantasia. Faz parte da vida amorosa e emocional - sobretudo no começo de uma relação- se apegar a uma idealização do objeto do desejo ou do amor. Há sempre um atrativo, um aspecto, uma qualidade que chama atenção e propicia a aproximação entre duas pessoas. A depender do gosto, pode ser o dote físico ou estético, a capacidade intelectual, o caráter terno e gentil ou mesmo a fortuna, os bens materiais.

Esse elemento impulsiona, move, torna possível a paixão. 0corre que nenhuma fantasia é igual á realidade, senão não seria fantasia. 0 tempo se encarrega de esmaecer, borrar a fantasia original e tornar a companhia mais real e verdadeira. Aqui, ao contrário da tese que diz ser o tempo o meio de poetizar a existência nos mais velhos, o tempo se encarrega de retirar a fantasia e impor a dura realidade, a dor, o sofrimento, o desamor, a doença, a decadência física e mental é até as posses materiais. Amar, apaixonar-se, desejar o outro, depois dessa epifania da vida cotidiana é o grande desafio para a vida amorosa.

Amar o jovem, belo, rico, inteligente, saudável e afortunado é mais fácil do que se apegar ao velho, doente, pobre e desconhecido. Parece haver uma atração natural pelos mais bem sucedidos e saudáveis. Poucos ou ninguém amam os perdedores, esquecidos e despossuídos. Essa condição afasta as pessoas. Elas querem o reflexo do sucesso e da sorte, não o anátema da senectude e decadência . É o mal da nossa civilização performática e excitada uma corrida incansável para o pódio, estar ao lado dos vencedores, ser como eles, compartilhar sua glória. Lógica de difícil reversão essa. Sociedade da aparência, do simulacro, onde o que menos importa é a relação de alteridade.


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político e professor titular da Universidade Federal de Pernambuco.

Editorial: A autocrítica do PT pernambucano.

 


Não deixa de ser interessante, sobretudo em razão do que isso possa representar, alguns comentários de atores políticos relevantes do PT local acerca da força eleitoral da agremiação na quadra política pernambucana. Isto ocorreu exatamente quando se estava em jogo a decisão do prefeito João Campos(PSB-PE) acerca da definição do nome do seu assessor, Victor Marques(PCdoB-PE) para compor sua chapa de reeleição, na condição de candidato a vice-prefeito. O movimento, além de inútil como se verificou, sugere-se que teria sido um recado no sentido de assegurar o espaço do partido no conjunto de forças que apoiam o atual gestor do Recife. 

É sempre arriscado fazermos aqui quaisquer projeções para as eleições estaduais de 2026, mas a principal liderança do partido no estado, o senador Humberto Costa, precisará renovar seu mandato. Pelo capilaridade política assumida pelo senador, o Planalto jamais deixaria de endossar seus projetos aqui na província. Desde a época da eduardolização da política pernambucana sempre se afirmou que o PT perdeu uma ótima oportunidade de se constituir numa força política relevante no tabuleiro da política pernambucana. Talvez até um pouco antes desse projeto hegemônico do ex-governador, guiado por um pragmatismo político avassalador, capaz de integrar, até mesmo grandes desafetos do passado, a exemplo do ex-governador Jarbas Vasconcelos. 

A questão é simples. O partido passou a adotar um procedimento mais individual do que coletivo, conduzido por setores burocráticos\oligárquicos, muito mais preocupados com seus projetos pessoais. Foi exatamente este grupo que alinhavou alianças com os socialistas, barrou as aspirações dos grupos mais orgânicos, satisfazendo seus interesses ao ocupar espaços na burocracia estadual, num primeiro momento, e na máquina municipal mais recentemente. É essa tendência que decide os rumos do partido no Estado. Nesta última aliança com João Campos, procede, por exemplo, a preocupação sobre como a militância autêntica da agremiação irá se comportar em relação ao candidato que a burocracia da agremiação resolveu apoiar. 

Até a assessoria do prefeito já fez este cálculo político, entendendo que tais eleitores possam  migrar para a candidatura de Dani Portela, do PSOL. Caso a fatura não seja liquidada ainda no primeiro turno, como se presume,  a princípio se prevê que tanto a candidata quanto os seus eleitores acompanhem a reeleição de João Campos. O espaço aqui é insuficiente para fazermos toda uma avaliação dessa autocrítica do PT pernambucano. Mas, gradativamente, vamos deixando nossos comentários por aqui. 

Editorial: União Brasil fecha acordo no plano nacional para apoiar Nunes em São Paulo.



No dia de ontem, 22, o jornal O Globo chamou uma matéria para tratar deste assunto, considerando inusitado um acordo fechado entre o MDB e o União Brasil, em São Paulo, mas costurado com acordos nacionais. O União Brasil apoia o projeto de reeleição de Ricardo Nunes(MDB-SP) e o MDB apoiará o projeto de eleição de Elmar Nascimento, do União Brasil da Bahia, para a Presidência da Câmara dos Deputados. Não sabemos se era bem isso o que estava nos planos do vereador Milton Leite, o comandante do União Brasil no município de São Paulo, mas, em todo o caso, ele foi dobrado pelo acordo fechado no plano nacional. 

Segundo estimativas divulgadas na coluna do jornalista Cláudio Humberto, são 44 votos de parlamentares emedebistas que podem ajudar bastante no sentido de o União Brasil viabilizar o seu postulante como presidente da Câmara Federal. Elmar Nascimento é o nome da preferência do atual Presidente da Casa, o deputado federal alagoano, Arthur Lira. O Planalto cerca-se de todos os cuidados possíveis para não parecer que pode estar criando algum embaraço para impedir que Lira faça o seu sucessor. Conhece as consequências. Lira, por outro lado, também não entrega todo o jogo. Trabalha nos bastidores para fazer o sucessor, mas, até o momento, oficialmente, não declarou quem seria o seu candidato. Oficialmente, registre-se.  

No plano municipal, segundo especula-se nos bastidores, o União Brasil teria requisitado duas secretarias num eventual futuro governo Nunes. O outro impasse diz respeito a uma eventual candidatura do deputado federal Kim Kataguiri(UB-SP), que não decola e, a partir de agora, com o acordo fechado no plano nacional, tornar-se ainda mais complicada mantê-la. 

Charge Banett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 22 de julho de 2024

Editorial: Victor Marques oficializado como vice de João Campos.

Crédito da Foto: Blog do Magno Martins. 


Grandes nomes da federação que dá sustentação política ao prefeito do Recife, João Campos, já se encontra no local onde será confirmado o nome de Victor Marques, ex-chefe-de-gabinete da Prefeitura do Recife, que será anunciado como o candidato a vice na chapa de reeleição do socialista. Em texto recente, este editor talvez tenha cometido uma impropriedade. Enfatizamos  muito o aspecto técnico da escolha, quando, na realidade, Victor Marques, sempre ocupou um cargo eminentemente político ao lado do prefeito. Este mesmo cargo foi ocupado por João Campos na gestão de Paulo Câmara, quando estava em processo sua inserção no mundo político, como herdeiro do espólio político\eleitoral da família Campos\Arraes. 

É curioso como nos últimos textos da imprensa nacional abordando a condição segura de João Campos nas pesquisas de intenção de voto passou-se a dar ênfase nessa linhagem política familiar do prefeito, apresentando-a, quiçá, como um dos fatores de alavancagem de sua popularidade. É o tipo da coisa difícil de mensurar, uma vez que isso também apresenta um aspecto negativo, o da reprodutibilidade dessas oligarquias políticas no Estado. Determinante mesmo para essa performance do prefeito são as entregas. João Campos está entregando e, conforme enfatizamos mais cedo, este é um fator crucial na avaliação do eleitor.  

Existem algumas insatisfações no PT, mas, a rigor, João Campos costurou essa decisão com as alas que realmente controlam a agremiação hoje, seja em Pernambuco, seja no plano nacional. Por mais  que se afaste de sua essência, o PT sempre terá esses grupos mais autênticos e ideologicamente orientados. É a forma como as cartas foram jogadas em 10 de fevereiro de 1980, na famosa reunião do colégio Sion. 

Editorial: PT tenta uma reaproximação com os evangélicos através de uma agenda social e econômica.

Crédito da Foto: Thiago Coelho\PT


Pelo menos isso o PT entendeu. A identificação dos evangélicos com o o bolsonarismo se dá, sobretudo, através da agenda de costumes. Por aqui o PT jamais construiria uma ponte de reaproximação como esses grupos neopentecostais. A adoção de uma agenda de políticas públicas na área social e econômica, por outro lado, poderia, sim, quebrar, em parte, a resistência desses grupos em relação ao partido. Jamais apostaríamos aqui numa nova lua de mel, como já se verificou num passado distante. A última pesquisa de avaliação do Governo Lula 3, por outro lado, realizada pelo Instituto Quaest\Genial, sugere que as resistências estão sendo quebradas. 

Trata-se de um mingau quente que precisa ser comido pelas beiradas e talvez só fique mesmo nas beiradas. A extrema direita sugere oferecer melhores condições políticas para esses grupos neopentecostais. É como se estivéssemos tratando aqui de um alinhamento natural. Um projeto de poder que não se coaduna-se com o Partido dos Trabalhadores, mas casa como uma luva com o ideário da extrema direita. Daí se entender que tal reconciliação absoluta seria algo impensável.   Até uma pessoa com grande expertise na área, pois é evangélica, a deputada federal Benedita da Silva, desde as últimas eleições, deu este conselho aos dirigentes da legenda. 

Do ponto de vista da área econômica, a trincheira tem sido o Banco Central, apontado pelos líderes da legenda como um órgão que atravanca, deliberadamente, os projetos do partido. Campos Neto deve deixar o cargo, mas já existe quem esteja sugerindo uma devassa da devassa no órgão. Do contrário o partido continuará sofrendo refregas, como esta última do Copom, onde até indicados pela legenda votaram contra as resoluções do Planalto. 


Editorial: As duas tendências eleitorais já verificadas para as eleições municipais de 2024.



O site da revista Veja traz uma matéria bastante interessante sobre a tendência eleitoral das próximas eleições municipais de 2024. Nesta matéria, muito bem elaborada por sinal, inclusive contando a com consulta a especialistas da área de Ciência Política, aponta-se duas tendências de voto já verificadas neste momento. A primeira delas diz respeito a uma provável reeleição de alguns prefeitos que já conduzem a máquina, como é o caso de João Campos(PSB-PE), em Recife, Bruno Reis(UB-BA), em Salvador, Eduardo Paes(PSD-RJ), no Rio de Janeiro, João Henrique Caldas(PL-AL),em Maceió. Trata-se, neste caso, de uma tendência motivada muito mais por uma questão de avaliação de gestão, independentemente de ideologia, o que significa dizer que a renitente polarização política no plano nacional talvez não seja assim um fator indutor do voto do eleitor. De alguma forma, as eleições municipais sempre guardam alguma reserva em relação às contendas da capital federal. 

Esta característica, aliás, é um dos fatores determinantes nas eleições municipais, onde o eleitor vota a partir de uma experiência cotidiana, ou seja, até que ponto a gestão do prefeito esta contribuindo para a melhoria das condições de infraestrutura do seu bairro, da opção de lazer dos rebentos, de como ele está chegando ao trabalho. Dizem que saúde e segurança também passaram a integrar essa pauta, mas são políticas públicas em relação às quais o gestor municipal não conta com absoluta autonomia. Mesmo assim, dito pelo não dito, os principais concorrentes à Prefeitura do Recife já assumiram o compromisso de armar a guarda municipal. 

A outra tendência de voto diz respeito à opção do eleitorado por candidatos de centro-direita do espectro político. Isso ainda poderia preocupar partidos como o PSOL ou PSTU. Para o PT, por exemplo, isso já não seria mais um problema porque o partido já se encontra à direita de nossa esquerda. Essa premissa vale aqui para o Recife, onde o partido apoia a reeleição do atual gestor, João Campos. Essa conformação ideológica é tão interessante que há quem diga que os petistas mais - ou ainda - orientados ideologicamente talvez optem em votar na candidata do PSOL, Dani Portela. 

A ala mais pragmática e burocrática já entrou de sola na bacia semântica, como diria Gilbert Durand. E, por falar em PT, dizem que a estratégia que está sendo priorizada nessas eleições municipais, já de olho no cenário politico de 2026, seria a de formar um exército de vereadores, que interferem diretamente na formação de uma boa bancada de deputados, o que poderia facilitar a conjuntura de governabilidade num eventual quarto mandato de Lula. É a mesma estratégia que está sendo pensada pelos estrategistas do PL, de Waldemar da Costa Neto. O propósito é o de eleger mais de mil prefeitos, um batalhão de vereadores, sempre com o propósito de eleger um número expressivo de senadores e tomar a Bastilha do Senador Federal, de onde poderiam enfrentar o Poder Judiciário e criar as condições de uma anistia para o capitão. 

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 21 de julho de 2024

Editorial: As narrativas sobre a violência contra as mulheres.



Nas décadas de 20\30 do século passado, o escritor alagoano Graciliano Ramos, muito tempo antes de consolidar-se como um dos grandes escritores regionalistas brasileiro, dedicava-se ao ofício de publicar suas crônicas em jornais do Estado. Posteriormente, essas crônicas foram reunidas no livro Linhas Tortas, que traz, mesmo que ainda incipientemente, algumas observações e conselhos do alagoano sobre o hábito de escrever. O texto chegou a ser utilizado pelo escritor pernambucano, Raimundo Carrero em uma de suas oficinas de escrita criativa. O livro deve ter sido publicado depois da morte de Graciliano. Em vida, exigente como ele era com a escrita, jamais permitiria que o texto fosse publicado. 

Graciliano morreu sem nunca ter aceito o seu primeiro romance, Caetés, que ele considerava uma obra muito aquém do seu talento, a despeito da boa receptividade da crítica literária, inclusive do insuspeito Antonio Candido. Haveria um outra razão para o escritor rejeitar Linhas Tortas. Numa dessas crônicas, Graciliano, num momento de infelicidade, externa um comportamento de caráter misógino ou machista, ao afirmar que O Quinze, da amiga Rachel de Queiroz não poderia ter sido escrito por uma mulher. Ambos participavam de um círculo literário que se reunia no Bar Central, em Maceió, ao lado de Jorge Amado, Gilberto Freyre, José Lins do Rego, Gilberto Amado, Olívio Montenegro, Aurélio Buarque de Holanda. 

É preciso tomar muito cuidado com as falas neste sentido.  Na escrita, então, até alguns verbos estão sendo abolidos, como é o caso de "Esclarecer", tido como racista. Preocupa esse radicalismo proposto pelo identitarismo neoliberal, mas não se pode negligenciar suas implicações, sobretudo quando se considera os lugares de fala. O nosso presidente, por exemplo, foi muito infeliz ao perdoar os corinthianos recentemente, quando se referiu à violência contra as mulheres. Nesses tempos bicudos de lacrações pelas redes sociais, todo o cuidado ainda é insuficiente. 

Charge! Jean Galvçao via Folha de São Paulo

 


Editorial: Ciro Gomes bolsonarista?



A militância petista tem uma grande indisposição com o ex-ministro Ciro Gomes. Daí não ser surpresa que ele esteja sendo malhado como Judas neste domingo, depois de aparecer ao lado do bolsonarista Carmelo Neto, na convenção que apoia a reeleição de Gleidson Bezerra para prefeito de Juazeiro do Norte. Apesar de polêmico, Ciro tem algumas características que são raras nos homens públicos brasileiros, como espírito público e honestidade na condução dos negócios de Estado. Não se conhece maracutaias de Ciro Gomes nos diversos cargos públicos que o cearense ocupou. Ciro sempre fez o dever de casa. Nesta última campanha presidencial era o postulante mais bem-preparado entre todos que disputavam a vaga ao Palácio do Planalto. Possivelmente o único que preparou um programa de governo consistente para enfrentar as enormes dificuldades que o país apresenta em diversas áreas. 

Atuou numa raia que se tornou inviável na política brasileira, tentando, inutilmente, cavar um espaço ali pelo centro, em contraponto a Lula e Bolsonaro. Continua ativo, emitindo suas opiniões sobre a política brasileira, mas já afirmou que não mais pretende concorrer novamente a algum cargo público. Muitos dos problemas que o Governo Lula 3 enfrenta neste momento foram antecipados por Ciro muito antes, numa demonstração de clarividência política ímpar. A questão do Ceará, conforme já antecipamos por aqui em inúmeras ocasiões, tornou-se bastante complicada. O racha no campo das forças progressistas, inevitavelmente fortalece as forças de direita que atuam naquela quadra. 

Aliás, o campo conservador sempre foi muito forte naquele Estado. Elmano de Freitas(PT-CE) foi eleito governador  com o apoio decisivo de Camilo Santana, hoje no Ministério da Educação, que concorreu à época ao Senado Federal. Há dúvidas sobre se ele conseguiria a mesma performance na capital Fortaleza, onde o candidato do PT, Evandro Leitão, não aparece bem nas primeiras pesquisas de intenção de voto. Naquela quadra, aliás, a direita também está dividida. Capitão Wagner(UB-CE), que lidera a disputa neste momento, também não se bica com o deputado federal André Fernandes(PL-CE). Brigado com o PT, as movimentações políticas de Ciro Gomes no Estado, inevitavelmente, o contingenciaria às alianças táticas com forças políticas que se contrapõem ao projeto hegemônico do PT. É o que está ocorrendo. Isso não significa dizer que ele se tornou bolsonarista. Perguntem ao Bolsonaro.