pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Roberto Mangabeira Unger: Porque votar em Dilma

Roberto Mangabeira Unger
 O povo brasileiro escolherá em 26 de outubro entre dois caminhos.
As duas candidaturas compartilham três compromissos fundamentais, além do compromisso maior com a democracia: estabilidade macroeconômica, inclusão social e combate à corrupção. Diferem na maneira de entender os fins e os meios. Diz-se que a candidatura Aécio privilegia estabilidade macroeconômica sobre inclusão social e que a candidatura Dilma faz o inverso. Esta leitura trivializa a diferença.
Duas circunstâncias definem o quadro em que se dá o embate. A primeira circunstância é o esgotamento do modelo de crescimento econômico no país. Este modelo está baseado em dois pilares: a ampliação de acesso aos bens de consumo em massa e a produção e exportação de bens agropecuários e minerais, pouco transformados. Os dois pilares estão ligados: a popularização do consumo foi facilitada pela apreciação cambial, por sua vez possibilitada pela alta no preço daqueles bens. Tomo por dado que o Brasil não pode mais avançar deste jeito.
A segunda circunstância é a exigência, por milhões que alcançaram padrões mais altos de consumo, de serviços públicos necessários a uma vida decente e fecunda. Quantidade não basta; exige-se qualidade.
As duas circunstâncias estão ligadas reciprocamente. Sem crescimento econômico, fica difícil prover serviços públicos de qualidade. Sem capacitar as pessoas, por meio do acesso a bens públicos, fica difícil organizar novo padrão de crescimento.
O país tem de escolher entre duas maneiras de reagir. Descrevo-as sumariamente interpretando as mensagens abafadas pelos ruídos da campanha. Ficará claro onde está o interesse das maiorias. O contraste que traço é complicado demais para servir de arma eleitoral. Não importa: a democracia ensina o cidadão a perceber quem está do lado de quem.
1. Crescimento econômico. Realismo fiscal e manutenção do sacrifício consequente são pontos compartilhados pelas duas propostas. Aécio: Ganhar a confiança dos investidores nacionais e estrangeiros. Restringir subsídios. Encolher o Estado. Só trará o crescimento de volta quando houver nova onda de dinheiro fácil no mundo. Dilma: Induzir queda dos juros e do câmbio, contra os interesses dos financistas e rentistas, sem, contudo, render-se ao populismo cambial. Usar o investimento público para abrir caminho ao investimento privado em época de desconfiança e endividamento. Apostar mais no efeito do investimento sobre a demanda do que no efeito da demanda sobre o investimento.
Construir canais para canalizar a poupança de longo prazo ao investimento de longo prazo. Fortalecer o poder estratégico do Estado para ampliar o acesso das pequenas e médias empresas às práticas, às tecnologias e aos conhecimentos avançados. Dar primazia aos interesses da produção e do trabalho. Se há parte do Brasil onde este compromisso deve calar fundo, é São Paulo.
2. Capital e trabalho. Aécio: Flexibilizar as relações de trabalho para tornar mais fácil demitir e contratar. Dilma: Criar regime jurídico para proteger a maioria precarizada, cada vez mais em situações de trabalho temporário ou terceirizado. Imprensado entre economias de trabalho barato e economias de produtividade alta, o Brasil precisa sair por escalada de produtividade. Não prosperará como uma China com menos gente.
3. Serviços públicos. Aécio: Focar o investimento em serviços públicos nos mais pobres e obrigar a classe média, em nome da justiça e da eficiência, a arcar com parte do que ela custa ao Estado. Dilma: Insistir na universalidade dos serviços, sobretudo de educação e saúde, e fazer com que os trabalhadores e a classe média se juntem na defesa deles. Na saúde, fazer do SUS uma rede de especialistas e de especialidades, não apenas de serviço básico. E impedir que a minoria que está nos planos seja subsidiada pela maioria que está no SUS. Na segurança, unir as polícias entre si e com as comunidades. Crime desaba com presença policial e organização comunitária. A partir daí, encontrar maneiras para engajar a população, junto do Estado, na qualificação dos serviços de saúde, educação e segurança.
4. Educação. Aécio: Adotar práticas empresariais para melhorar, pouco a pouco, o desempenho das escolas, medido pelas provas internacionais, com o objetivo de formar força de trabalho mais capaz.Dilma: A onda da universalização do ensino terá de ser seguida pela onda da qualificação. Acesso e qualidade só valem juntos. Prática empresarial, porém, tem horizonte curto e não resolve. Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia indicam o caminho: substituir decoreba por ensino analítico. E juntar o ensino geral ao ensino profissionalizante em vez de separá-los. Construir, do fundamental ao superior, escolas de referência. A partir delas, trabalhar com Estados e municípios para mudar a maneira de aprender e ensinar.
5. Política regional. Aécio: Política para região atrasada é resquício do nacional-desenvolvimentismo. Tudo o que se pode fazer é conceder incentivos às regiões atrasadas. Dilma: Política regional é onde a nova estratégia nacional de desenvolvimento toca o chão. Não é para compensar o atraso; é para construir vanguardas. Projeto de empreendedorismo emergente para o Nordeste e de desenvolvimento sustentável para a Amazônia representam experimentos com o futuro nacional.
6. Política exterior. Aécio: Conduzir política exterior de resultados, quer dizer, de vantagem comerciais. E evitar brigar com quem manda. Dilma: Unir a América do Sul. Lutar para tornar a ordem mundial de segurança e de comércio mais hospitaleira às alternativas de desenvolvimento nacional. E, num movimento em sentido contrário, entender-nos com os EUA, inclusive porque temos interesse comum em nos resguardar contra o poderio crescente da China. Política exterior é ramo da política, não do comércio. Poder conta mais do que dinheiro.
7. Forças Armadas. Aécio: O Brasil não precisa armar-se porque não tem inimigos. Só precisa deixar os militares contentes e calmos. Dilma: O Brasil tem de armar-se para abrir seu caminho e poder dizer não. Não queremos viver em mundo onde os beligerantes estão armados e os meigos indefesos.
8. O público e o privado. Aécio: Independência do Banco Central e das agências reguladoras assegura previsibilidade aos investidores e despolitiza a política econômica. Dilma: A maneira de desprivatizar o Estado não é colocar o poder em mãos de tecnocratas que frequentam os grandes negócios. É construir carreiras de Estado para substituir a maior parte dos cargos de indicação política. E recusar-se a alienar aos comissários do capital o poder democrático para decidir.
Aécio propõe seguir o figurino que os países ricos do Atlântico Norte nos recomendam, porém nunca seguiram. Nenhum grande país se construiu seguindo cartilha semelhante. Certamente não os EUA, o país com que mais nos parecemos. Ainda bem que o candidato tem estilo conciliador para abrandar a aspereza da operação.
Dilma terá, para honrar sua mensagem e cumprir sua tarefa, de renovar sua equipe e sua prática, rompendo a camisa de força do presidencialismo de coalizão. E o Brasil terá de aprender a reorganizar instituições em vez de apenas redirecionar dinheiro. Ainda bem que a candidata tem espírito de luta, para poder aceitar pouco e enfrentar muito.
Estão em jogo nossa magia, nosso sonho e nossa tragédia. Nossa magia é a vitalidade assombrosa e anárquica do país. Nosso sonho é ver a vitalidade casada com a doçura. Nossa tragédia é a negação de instrumentos e oportunidades a milhões de compatriotas, condenados a viver vidas pequenas e humilhantes. Que em 26 de outubro o povo brasileiro, inconformado com nossa tragédia e fiel a nosso sonho, escolha o rumo audacioso da rebeldia nacional e afirme a grandeza do Brasil.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Tijolinho do Jolugue: Pesquisas ao gosto do freguês








Sinceramente, não sabemos mais o que afirmar sobre os institutos de pesquisa no Brasil, salvo que eles parecem, deliberadamente, dispostos a inflarem a candidatura do tucano Aécio Neves. Informo que até tenho um grande respeito pelas pesquisas de intenção de voto. Pelo menos, no que concerne àquilo que aprendemos na Universidade, notadamente, com o professor José Carlos Wanderley, de saudosa memória. Mas informo, de antemão, que aprendi outras coisas. Os mecanismos sobre como fraudar ou "enviesar" uma pesquisa com propósitos escusos, isso, ele não nos ensinou. A cada dia aparecem artifícios novos, numa evidência clara de que essa gente, de fato, submeteram completamente a ciência ao vil metal ou aos interesses escusos. 

Penso que esse é um assunto a ser passado a limpo depois dessas eleições. O curioso é como essa engrenagem funciona, permitindo, inclusive, no final, que esses institutos ocupem as páginas dos jornais para alardearem que "acertaram" os resultados, saindo limpos da história, sem sua credibilidade arranhada. A julgar como verdadeiras as denúncias de um escândalo que já está sendo chamado de "mensalão pernambucano", percebe-se a intricada teia de desvio de recursos públicos, financiamento de campanhas, manipulação de pesquisas com a intenção clara de interferir sobre os resultados de uma eleição. Penso que não seja necessário desenhar. 

Há um desses institutos dando uma diferença de 17 pontos pró-Aécio Neves. Os dados são tão dúbios que alguns veículos não estão levando a sério tal pesquisa. Em matéria assinada no Viomundo descobre-se, por exemplo, que o tal instituto "escolheu" os eleitores consoante critérios inusitadas. É como se eles escolhessem a "Inferno Coral" para responder algumas perguntas sobre o Santa Cruz. Ora, o universo pesquisado ou plano de amostragem é um dos aspectos mais importantes numa pesquisa de intenção de voto. Uma questão de método. Qualquer equívoco aqui pode enviesar os resultados finais. Certa vez pedi para os alunos de uma turma de Administração de Empresas realizarem uma pesquisa sobre a satisfação dos banhistas da praia de Porto de Galinha, em Ipojuca. 



Um grupo optou pelos residentes enquanto o outro grupo optou pela população circulante. Os resultados, naturalmente, foram discrepantes, assim como essa história de que Porto de Galinhas é a melhor praia do Brasil não passa de um "discurso". Sou dilmista mas devo reconhecer que o PT vive uma grande tempestade nessas eleições. A engrenagem que a direita montou está bastante azeitada. Até mesmo as pesquisas realizadas por institutos que gozam de uma certa credibilidade - os grandes - estão sob suspeita, na medida em que estão trabalhando com universos de eleitores francamente identificados com uma tendência de voto no no candidato de oposição.

domingo, 12 de outubro de 2014

Dilma: ganhar com o povo e pela esquerda e a única e melhor opção.

Dilma: ganhar com o povo e pela esquerda é a única e melhor opção

Por Renato Rovaioutubro 12, 2014 13:19


Milhares de pessoas foram ao Largo do Arouche, em São Paulo, neste sábado (11) no Levante das Cores
Milhares de pessoas foram ao Largo do Arouche, em São Paulo, neste sábado (11) no Levante das Cores
O  cerco que se montou à reeleição de Dilma é um dos mais bem articulados desde a eleição de Collor. Depois do candidato tucano ter conseguido virar o jogo e ultrapassar Marina na reta final do primeiro turno, todo o campo conservador se uniu a ele e ainda conseguiu atrair parte da base governista, toda a mídia, todo o setor financeiro e empresarial e símbolos de um discurso popular, como Marina Silva, que acaba de declarar apoio a Aécio.
Evidente que não há apenas um motivo para isso acontecer. Aviões não caem por um único defeito ou erro. E o PT e a presidenta Dilma terão de avaliar, seja qual for o resultado, o que levou isso a acontecer com tamanha força.
Mas de qualquer forma uma coisa é clara, a inflexão de Dilma à esquerda depois de junho de 2013, sinalizando apoio à reforma política, aprovando o Marco Civil da Internet e dando declarações de que vai fazer a regulação econômica da mídia, compromisso em criminalizar a homofobia e não ter aceitado a chantagem do mercado financeiro para fazer reformas neoliberais na Previdência e na legislação trabalhista, entre outros pontos, foram fundamentais para que esse campo se fechasse contra ela.
Dilma não poderia ganhar essa eleição pela direita. Se isso viesse a acontecer o custo político para o PT e a para a sua biografia pessoal seriam muito altos. E mesmo não tendo feito uma inflexão forte à esquerda, sua campanha de hoje é muito melhor do que a de 2010, quando Dilma dialogou quase tão somente com o segmento evangélico para garantir a eleição no segundo turno. Foi o aborto que deu o tom da campanha.
Mas para ganhar com viés de esquerda, Dilma só tem uma chance. Que a militância dos movimentos sociais, dos sindicatos e de grupos progressistas e de esquerda em geral, peguem essa candidatura pela mão e façam a disputa nas ruas e nas redes como nunca aconteceu antes.
Não é algo fácil de construir, mas é possível. Ontem em várias cidades houve uma série de atos e reuniões debatendo o apoio  a Dilma e construindo eventos que serão realizados nos próximos dias. Há muita gente querendo trabalhar para impedir o retrocesso com a volta do PSDB, mas mesmo assim vai ser um duelo de titãs.
Principalmente porque a mídia tradicional está trabalhando arduamente para, com uma batelada de denúncias, fazer com que o eleitorado de Dilma tenha vergonha de fazer campanha e fique intimidado até em colar um adesivo no peito.
Mas nunca isso foi tão necessário como agora. É fato que o PT deu uma enferrujada e que boa parte dos seus líderes envelheceu e perdeu conexão com parte das novas demandas, mas ao mesmo tempo há muita gente firme em propósitos e que está disposta a entender e a caminhar com esse novo ativismo tanto do movimento social quanto cultural. E é esse povo que pode decidir a eleição a favor de Dilma.
E a galera que foi às ruas em junho com pautas de esquerda que tem a oportunidade de fazer valer sua força. Até agora, é a parte reacionária daquele movimento que está dando o tom desta eleição, mas isso pode mudar. E até a declaração de apoio de Marina a favor de Aécio pode ajudar nisso. Afinal, há muita gente decepcionada tanto com ela quanto com Eduardo Jorge, por exemplo. E que está disposta a buscar eleitores que não foram de Dilma no primeiro turno.
Quem pensa que 15 dias é pouco, não entende nada de sociedade conectada digitalmente. Neste contexto, 15 dias é uma eternidade. O que parece favoritismo de Aécio hoje, pode virar uma retumbante vitória para Dilma. Mas vai ser necessário criar esse contraponto.
De um lado, estão os que querem a mudança para uma inflexão neoliberal. Do outro, um governo que recriou a perspectiva de país do Brasil, mas que também se associou demais a setores conservadores. Mas que está sendo combatido neste momento pelo que fez de progressista e não pelos seus pecados à direita.
Não há jogo mais claro que esse. E se o PT e a campanha de Dilma não relativizarem a importância da mídia e do marketing e entregarem essa disputa na mão do campo popular, não há vitória possível.
É com milhares de eventos de ruas, de casa em casa e olho no olho, que essa eleição pode se decidir a seu favor. Cada pessoa que acredita que será um imenso retrocesso a volta ao poder do neoliberalismo tem que se tornar um ponto da campanha. E milhares de grupos têm que ser organizar nestes próximos 15 dias, para disputar um a um os votos possíveis.
Só esse enxame de marimbondos tem capacidade e capilaridade para derrotar o rinoceronte que foi construído do lado de lá. Esses marimbondos deram seus primeiros sinais durante o dia de ontem em várias cidades. Mas isso tem que se tornar o foco central da campanha e não sua periferia. É rua a rua, casa a casa, olho no olho, voto a voto.

Carta aberta ao antropólogo Roberto DaMatta.

Um soco na arrogância da visão seletiva supostamente intelectual (ou, Carta Aberta ao antropólogo Roberto DaMatta)
do blog do Marcio Valley, quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Roberto DaMatta, li, ontem (08/10/2014), o seu texto “Um soco na onipotência”, onde você defende que o PT seja “defesnetrado do poder” e revela ter sentido a angústia diminuída ao ver Aécio chegar ao segundo turno dessas eleições. Na sua visão, Aécio, tendo “achado o seu papel e o seu tom”, e “com sua tranquilidade”, irá proporcionar ao Brasil a “descoberta da soma e da continuidade”.
Senti uma enorme tristeza ao término da leitura. Sempre respeitei você e seus pensamentos. O seu texto para mim significou, de fato, um soco de alto teor destrutivo, porém não na onipotência do PT, mas na imagem do antropólogo Roberto DaMatta, que nunca imaginei pudesse abdicar da inteligência para defender uma causa.
Participo pouco do Facebook, mais para divulgar meus textos. Isso porque percebo nas redes sociais uma enorme carência de discussão inteligente e racional dos problemas políticos brasileiros. Trata-se de mera gritaria irracional, com repetição de memes e de conteúdo absolutamente raso. É nessas discussões adialéticas, onde não é possível o contraponto, visto como ofensa, e cuja pretensão é somente a de fazer prevalecer a própria visão e de repelir agressivamente todo pensamento que contrarie essa ótica, que vejo comumente serem usadas essas expressões de mera injúria como “petralhas”, “tucanalhas”, “privataria”, “coxinhas” e, vejam só, “lulopetismo”, a mesma utilizada por você, um intelectual.
Nas redes sociais, busco relevar o mais possível o uso dessas palavras de ordem, fundamentalistas e estimuladoras da divisão e do acirramento, porque não sou insensível ao fato de que esse uso, em geral, surge da falta de oportunidade de acesso a uma cultura de discussões de alto nível. Entretanto, quando percebo que esse mesmo estilo, digamos, “literário” é manipulado por pessoas que deveriam ser o farol a seguir no que concerne à inteligência e à razão, dói no coração e a sensação de impotência no enfrentamento e solução dos problemas públicos cresce na alma. Discussões baratas conduzem a resultados igualmente baratos.
Como um intelectual pode se unir à grita da corrupção generalizada petista assim, de forma tão leviana? Sem o adensamento das causas? Sem uma perspectiva histórica? Sem analisar o sistema legal que proporciona tais desvios? Sem uma análise comparativa? Sem qualquer pronunciamento sobre a existência ou não das ações de combate? A corrupção inexistia no Brasil pré-PT ou nasce a partir da assunção desse partido? A malfadada governabilidade no Brasil - e seus filhos diletos, o fisiologismo e o patrimonialismo - é uma pré-condição do exercício do poder ou somente foi e será praticada pelo PT, mas não por outros partidos que eventualmente venham a conquistas o governo? Em outras palavras, é possível a qualquer partido governar sem se render aos clamores e anseios de sua inexoravelmente necessária base de apoio?
DaMatta, a tristeza que me doeu, ao ler seu texto, veio-me da constatação de que, mesmo um formador de opinião como você, com enorme capilaridade na divulgação através de organismos gigantes como “O Globo”, e que, na condição de intelectual, possui ou deveria possuir capacidade de análise crítica dos fatos presentes e de, a partir dessa capacitação, também de intuição sobre o futuro que poucos podem se arvorar de possuir, ainda assim arrisca-se em relação à própria reputação e biografia ao escrever textos supostamente analíticos, mas cujo conteúdo é exclusivamente panfletário e demonstração de exercício do mais puro e, diria mesmo, infantil “wishful thinking”. De fato, custo a crer, perdoe-me, que você acredite no que escreveu.
Sei que você sabe (ou deveria saber) que um dos primeiros atos de Fernando Henrique Cardoso (desse mesmo PSDB que você agora tão calorosamente articula em favor), assinado somente dezoito dias depois de tomar posse, através do Decreto nº 1.376/1995, foi extinguir a Comissão para Investigar a Corrupção, comissão que havia sido criada em 1993 por Itamar Franco.
Lula, no dia 1º de janeiro de 2003, primeiro dia de seu governo, a partir da antiga Corregedoria-Geral da União, assinou a MP n° 103/2003 (depois Lei n° 10.683/2003), criando a Controladoria-Geral da União e atribuindo ao seu titular a denominação de Ministro de Estado do Controle e da Transparência, o que implicou elevar o status administrativo da pasta e sinalizou aos subalternos o norte a ser orientado.
Nos oito anos de governo do PSDB, com FHC, a Polícia Federal realizou um total de 48 (quarenta e oito) operações, ou seja, uma média de seis operações por ano.
Nos doze anos de governo do PT, essa número saltou para cerca de duas mil e trezentas, o que dá uma média de mais de 190 (cento e noventa) por ano.
Ao assumir, o governo do PT encontrou cerca de cem varas federais. Agora já são mais de quinhentas.
Como você sabe, ou deveria saber, são as operações da Polícia Federal e as varas da Justiça Federal que, no âmbito federal, investigam, combatem e julgam os crimes de corrupção.
Durante o governo do PSDB, havia Geraldo Brindeiro, o “engavetador geral da república”.
Durante o governo do PT poderosos membros do governo em exercício foram investigados, denunciados pelo Procurador Geral da República (não mais um “engavetador”), julgados, condenados e presos por corrupção. Você pode não apreciar a famosa expressão do Lula, “nunca antes na história desse país”, mas, quanto a esse fato, é possível desmenti-la? Quando e em que circunstâncias isso, antes, ocorreu?
De que forma, DaMatta, esses fatos (que você facilmente encontrará em sites idôneos da internet) se coadunam com a sua afirmação de “corrupção deslavada do PT”?
DaMatta, o comum do povo, desprovido dos mesmos mecanismos de acesso à informação e ao conhecimento, pode não saber, como você sabe, que não existem administrações, privadas ou públicas, imunes à prática de ilícitos. O que diferencia uma boa administração de uma ruim é como se lida com os infratores. Há liberdade para as instituições funcionarem, investigando e eventualmente punindo, ou tudo é conduzido para debaixo do tapete por diligentes engavetadores?
Mexa no formigueiro, DaMatta, e isso aumentará o número de formigas visíveis. Você sabe disso, é o “efeito percepção”. Concluir que, porque não se viam as formigas antes, elas não existiam, é exercício da mais perfeita idiotice, desculpável somente aos ignorantes, não aos cultos.
DaMatta, todo o suposto prejuízo do mensalão (não vou entrar no mérito da existência do crime, que já foi julgado pelo STF, mas você sabe que se discute bastante se o dinheiro supostamente “desviado” não se encontra nos cofres da Globo, da Folha, do Estadão e de outros órgãos da imprensa, de forma lícita, através de contratos legítimos de publicidade), não chega a 75 (setenta e cinco) milhões de reais. Sem questionar a validade das privatizações realizadas pelo FHC, há estudiosos do assunto, idôneos, que alegam que o prejuízo com as vendas das estatais, a partir do uso das “moedas podres” e outros “incentivos”, pode ter chegado a cerca de 2 (dois) bilhões e 400 (quatrocentos) milhões de reais. Isso mesmo, entregamos o patrimônio todo e, longe de reduzirmos o déficit público, ainda acrescentamos essa montanha de dinheiro à nossa dívida pública. Porém, muita gente ficou multimilionária a partir das privatizações do PSDB.
Esse valor, DaMatta, corresponde a mais de trinta e duas vezes o valor do mensalão, em valores não atualizados (se atualizar passa fácil de cinquenta vezes). Claro, na sua percepção você não deve considerar isso corrupção, não é mesmo?
Ou, quem sabe, DaMatta, talvez você tenha algo a dizer sobre as privatizações tucanas, sobre a atuação de José Serra em conjunto com sua filha Verônica e seu genro Alexandre Burgeois, sobre Daniel Dantas e sua filha, também Verônica, sobre Ricardo Sérgio de Oliveira no Banco do Brasil (agindo “no limite da irresponsabilidade”), sobre André Lara Rezende e as operações de câmbio, a família Jeressaiti e a aquisição da Telemar, sobre o Banestado.
Só o Banestado, DaMatta, ocorrido em pleno governo FHC, causou um prejuízo de mais de 19 (dezenove) bilhões de dólares, que foram ilegalmente remetidos para os Estados Unidos.
Começo a concordar, DaMatta, que os petistas são incompetentes, pelo menos no quesito “desvio de dinheiro público”.
Enfim, retorno à indagação que fiz acima: a corrupção é uma característica do PT? Se não, onde estão os condenados por corrupção do período do PSDB no governo federal?
E Aécio, DaMatta? Está ele livre de indícios de corrupção em sua passagem pelo governo mineiro? Você bem sabe que Minas Gerais, com o PSDB, foi o berço do mensalão tucano, gerido pelo mesmo indivíduo, o publicitário Marcos Valério, cujos tentáculos se espraiaram em direção ao governdo federal do PT. Além disso, você sabe que Aécio é réu, acusado de improbidade administrativa, em ação civil pública movida pelo Ministério Público Estadual, em razão de desvio de 4 (quatro) bilhões e 300 (trezentos) milhões de reais da área da saúde em Minas, não sabe? E o aeroporto construído com dinheiro público em área desapropriada de parte da fazenda de seu tio, em Minas, ouviu falar sobre isso?
Bom, tudo isso eu relato, DaMatta, em função de sua visão estreita e seletiva sobre a corrupção do PT, olvidando-se (de forma proposital?) daquela oriunda dos quadros tucanos. Em princípio, não me parece o papel de um intelectual. Passável para uma pessoa comum, para redatores de Facebook, essa visão reducionista é, no meu entender, vergonhosa para um erudito.
Até compreendo que existam na mídia os “experts” (substitutos de segunda linha dos verdadeiros intelectuais) vendendo suas falsas expertises a soldo, uma para cada gosto, mas não acredito que seja o seu caso. Prefiro acreditar num ato menos pensado, numa torcida apaixonada, passional, talvez resultado de algum elemento pessoal por mim desconhecido, como, por exemplo, ter sido prejudicado individualmente pelo PT de alguma forma ou possuir relação estreita com alguém do PSDB. Ainda assim, não há justificativa para a edição de um panfleto tão raso, tão ao gosto da Rede Globo, da Folha e do Estadão e da revista Veja. Você, DaMatta, um intelectual cujo respeito não será por mim perdido por um deslize, infelizmente pôs-se ombro a ombro com o nível de um Reinaldo Azevedo ou de um Augusto Nunes. Tornou-se um Jabor. Se insistir nessa linha, será nivelado, torço para que isso não ocorra, a um Merval Pereira, o imortal da coletânea única.
DaMatta, retorne à sanidade intelectual. Não para infalivelmente apoiar o PT, mas para, se for o caso, rejeitá-lo pelos motivos lógicos e racionais corretos, ou seja, fundamentando sua contrariedade à linha econômica petista; ou à forma como ocorre, hoje, o enfrentamento da questão social; ou, ainda, pelas teses de relações internacionais atualmente defendidas pelo Itamaraty; ou por qualquer outra que você, livremente e como cidadão, considerar não ser adequada ao seu pensamento.
O que não dá é para alcunhar o PT de “dono espúrio de um Brasil que é de todos nós”, uma frase de efeito cujo único objetivo é o aplauso fácil. Ou de falar em “aparelhamento do Estado”, um mantra que pode ser considerado bonitinho para aqueles que ignoram as formas pelas quais se materializam os processos políticos, mas que se torna ridículo se proferido por um intelectual ciente de que o aparelhamento do Estado faz parte do processo democrático, uma vez que todo partido que chega ao poder preenche os espaços de indicação política existentes no governo justamente como meio de oferecer aos eleitores a direção política que eles escolheram através da eleição livre. Ou você, DaMatta, acha que o PSDB não “aparelhou” o governo federal, quando lá esteve, ou, atualmente, não nomeou todo e cada um dos cargos políticos de livre nomeação no Estado de São Paulo durante esses vinte anos de seu governo (algo a dizer sobre a “perpetuação no poder” em São Paulo?).
Vamos nos ater à discussão política, então. Vamos falar de economia, de saúde, de segurança pública, de educação e de quem consideramos mais apto a enfrentar esses enormes desafios. Porque, no tema corrupção, DaMatta, e estou afirmando algo que sei que você de antemão sabe, somente existem telhados de vidro.
Não desça ao nível dos tabloides. Você é maior do que eles. Ainda acredito e torço por você.
Do seu leitor, Marcio Valley.

sábado, 11 de outubro de 2014

Tijolinho do Jolugue: Marina: que samba da crioula doida!


Lembro-me agora de um ilustre representante do Partido Verde comentando que o processo de decisão de Marina Silva era bastante caótico. Agora surgem as informações de que a decisão da Rede em apoiar o nome do candidato Aécio Neves(PSDB) no segundo turno das eleições presidenciais começa a gerar insatisfações de alguns integrantes da agremiação. Possivelmente, esse dilema, se, de fato, existe, pode estar relacionado a outras questões. Não passa pela cabeça de ninguém que isso possa estar relacionado aos "conselhos" da senhora Marina Silva sobre a necessidade de o candidato assumir, por exemplo, alguns compromisso com o Movimento dos Sem-Terra. Salvo melhor juízo, o MST não assumiu nenhum compromisso com Marina e sabe que o candidato tucano não tem qualquer sensibilidade para as bandeiras do movimento. Que samba da crioula doida.
Com charge de Alberto Benett

Tijolinho do Jolugue: Campina Grande é tucana?

Ao ler um post do professor Durval Muniz, ficamos sabendo que, mais uma vez, nesse primeiro turno das eleições presidenciais, a cidade de Campina Grande deu a única vitória, numa cidade de grande porte, a um candidato tucano. Em passado recente, Dilma também perdeu naquela cidade para o então candidato José Serra. A família Cunha Lima tem uma influência enorme sobre os eleitores daquela cidade. A cidade, na realidade, é um feudo dos Cunha Lima. Cássio Cunha Lima é candidato ao Governo do Estado e, naturalmente, fez barba, cabelo e bigode na cidade, dando uma votação excepcional ao candidato Aécio Neves(PSDB). Cidades como Campina Grande e Caruaru exercem um papel importante nas eleições.São marcadas de vermelho nas pranchetas dos estrategistas de campanha. Assim como eles estão debruçados sobre a votação de Dilma Rousseff em alguns Estados, convém ficar atentos sobre o comportamento do eleitorado em cidades como Campina Grande.

Tijolinho do Jolugue: E continuam as dissidências dentro do PSB

E continuam as dissidências dentro do PSB. Roberto Amaral, uma das principais lideranças do partido, afirmou recentemente que observa aspectos de coronelismo no comportamento do partido no Estado de Pernambuco. Na Paraíba, o governador Ricardo Coutinho(PSB) já definiu que irá com Dilma na campanha do segundo turno. Penso que uma das prioridades é reverter a situação de votos que ocorreu em Campina Grande, reduto político da família Cássio Cunha Lima, candidato do PSDB. Naquela cidade, Dilma perdeu no primeiro turno para Aécio Neves.Na Bahia, a direção local do partido também já afirmou que fica com Dilma, contrariando a orientação nacional da legenda.

Tijolinho do Jolugue: Escândalo da Petrobras: A urdidura da direita para derrotar o PT.

Escândalo da Petrobrás: A urdidura da direita para derrotar o PT.
O escândalo da Petrobras foi programado para estourar exatamente num momento crucial das eleições e está sendo manipulado com o propósito de prejudicar o Partido dos Trabalhadores. Talvez o adversário mais perigoso do PT nessas eleições não seja nem o Aécio, mas a Rede Globo de Televisão, que vem se constituindo numa espécie de linha-auxiliar do candidato, explorando o escândalo a conta-gotas, de forma seletiva, sempre no sentido de atingir a presidente e a base de sustentação do Governo. Em todas as eleições a direita utiliza esse mecanismo, em alguns casos, exitoso. Quem não se lembra do sequestro do empresário Abílio Diniz, quando os "sequestradores" estavam utilizando camisetas do PT, numa inequívoca manobra para prejudicar a agremiação? A coordenação de campanha de Dilma Rousseff já percebeu a armação e a denunciou. Lamentavelmente, o PT pode vir a pagar um preço muito alto por sua leniência em relação à regulação da mídia e o efetivo exercício de autoridade sobre os trabalhos da Polícia Federal. A bem da verdade, não apenas a Globo, mas a mídia golpista. Aqui em Pernambuco os grandes jornais transformaram-se em panfletos por Aécio Neves(PSDB). Não estamos negando que houve um grave equívoco de desvio de recursos públicos na estatal. A questão é que estão tentando resumir a eleição - de forma ardilosa - a esse escândalo, quando está em jogo questões bem mais sérias, como o projeto de país dos dois candidatos em disputa. E, a rigor, Dilma nunca esteve envolvida em corrupção, a despeito dos problemas do seu Governo. Já o adversário, talvez não pudesse dizer o mesmo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Paulo Rubem comandará campanha de Dilma pelas redes sociais.

O deputado federal Paulo Rubem (PDT) comandará, a partir desta sexta-feira (10), a campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) nas redes sociais, entidades ligadas à Educação e universidades em Pernambuco. Faltando 16 dias para a eleição, o foco será intensificar a divulgação da campanha de Dilma nas redes sociais e garantir no dia 26 a reeleição da presidente, que venceu as eleições do Primeiro Turno com 44% das intenções de voto em todo País.
A reunião que decidiu o novo papel de Paulo Rubem na campanha nacional foi realizada na manha desta sexta-feira com os demais integrantes da campanha Dilma, coordenada pelo senador Humberto Costa.
“Vamos fazer pelo menos cinco debates pelas redes sociais (Face to Face), vamos propor a realização de debates nas universidades com representantes das candidaturas de Aécio e Dilma – UFPE, Unicap, UFRPE entre outras instituições de ensino superior”, explicou o parlamentar pedetista. “Por fim, vamos intensificar os comícios relâmpagos na cidade do Recife”, complementou.
A estratégia para divulgar as ações dos 12 anos do Governo Lula/Dilma em Pernambuco será a distribuição de materiais específicos para Pernambuco, para as redes sociais mostrando os investimentos que o Governo Federal fez no Estado, em especial na educação superior em todo o estado, e chamando o eleitor para comparar o que foram os investimentos em Pernambuco com Lula e Dilma e o que foram os investimentos com Fernando Henrique Cardoso e Marco Maciel. “Nós temos certezas que vamos manter os votos e ampliar os votos de Dilma em Pernambuco”, explicou.
A primeira atividade de Paulo Rubem e da militância dos partidos que apoiam a reeleição de Dilma em Pernambuco será uma caminhada pelo Centro do Recife a partir das 16h, com concentração na praça 13 de Maio.  

Assessoria de Imprensa do Deputado Paulo Rubem.

Fabiana Agra: Carta aberta de uma nortista para os sulistas

publicado em 10 de outubro de 2014 às 13:34

bolsonaro
Jair Bolsonaro não foi invenção do Nordeste
CARTA ABERTA DE UMA NORTISTA PARA OS SULISTAS
por Fabiana Agra*, via França Oliveira de Medeiros, no Facebook
Meus irmãos sulistas – sim, queiram vocês ou não, somos irmãos, somos filhos de uma nação chamada Brasil, que vem sendo construída há 514 anos – como nortista de nascimento e por convicção, sinto-me obrigada a escrever para vocês após os últimos acontecimentos, em que vimos reacender a mais vil xenofobia endereçada a nós, do Norte e do Nordeste, devido os resultados do primeiro turno das Eleições 2014.
Em primeiro lugar, meus irmãos, não somos nem melhores nem piores do que vocês, somos fruto de um país continental, cheio de diferenças e de contrastes e que, por circunstâncias históricas, nós daqui de cima fomos explorados através de uma colonização vil e de uma política perversa, que retiraram o melhor de nós, que foi usufruído por vocês; sem contar que houve uma imigração planejada para os estados do Sul e Sudeste, onde vocês tiveram a oportunidade de desenvolver-se de uma forma bem mais organizada.
Sim, nós daqui de cima já passamos fome, já fomos muito ignorantes, uma massa de milhões de analfabetos, que vivia das esmolas que os governos anteriores vez por outra mandavam, governantes esses que nunca se importaram em preparar o nosso povo para conviver com as intempéries do clima e nem de diminuir o abismo social em que vivíamos.
Somente após 2002, meus irmãos, é que esse quadro começou a mudar e, hoje em dia, o Norte/Nordeste é também uma terra de amplas possibilidades: seu povo está melhorando de vida, a educação chegou através de dezenas ou até mesmo de centenas de estabelecimentos educacionais federais, obras estruturantes estão sendo erguidas e, se os bons ventos continuarem favoráveis para nós, a geração nascida neste novo século estará em pé de igualdade econômica com vocês, que tiveram a “sorte” de receber a maior fatia do bolo até bem pouco tempo atrás.
Meus amigos sulistas, sinceramente eu não entendo o porquê de tanto ódio direcionado a nós.
Eu nasci e cresci ouvindo dizer que o Brasil era a terra da gentileza, uma nação de povo amigo e hospitaleiro – quer dizer que tal máxima só se aplica para os gringos que aqui chegam para usufruírem das nossas belezas naturais, do nosso clima e, muitos deles, das nossas mulheres e crianças?
Quer dizer que vocês se consideram uma “gente diferenciada” e se acham no direito de tratarem a nós, daqui de cima, como uma “sub-raça”?
Eu gostaria muito de ter esses meus questionamentos respondidos de forma coerente.
Outra coisa: vocês estão alardeando, do Oiapoque ao Chuí, que nós, do Norte/Nordeste, não sabemos votar. Ah, é?
E o que vocês me dizem da votação esmagadora recebida por Tiririca, Bolsonaro, Feliciano, Coronel Telhada e Delegado Olim? Como vocês explicam esses votos tão conscientes e inteligentes?
Quem não sabe mesmo votar, hein? Nós daqui, votamos majoritariamente em Dilma porque somente a partir dos governos de Lula e Dilma a classe mais pobre desse imenso Brasil saiu da linha da miséria, são mais de 40 milhões de pessoas que hoje em dia tem a mesa farta, roupas compradas com o seu próprio dinheiro, e milhares de pessoas que estão tendo a oportunidade de estudar, de viajar, de trocar experiências…
Eu votei e votarei em Dilma, meus amigos sulistas, porque, entre outros avanços, o Brasil não é mais devedor do FMI – pelo contrário, nosso país agora empresta dinheiro –, e caso vocês ainda não saibam, o Brasil saiu do mapa da fome, algo que somente 35 países do mundo foram capazes de realizar.
Pois é, meus irmãos. Eu continuo sem entender o motivo de tanto ódio da parte de vocês – será o stress dessa vida caótica? Pode ser.
Então, para acabarmos de vez com essa coisa horrível, chamada “cultura do ódio”, da minha parte eu perdoo as ofensas gratuitas que recebi nos últimos dias e convido-os a nos visitar.
Venham para cá passar uns dias, garanto a vocês que serão muito bem recebidos! Venham para cá que nós daqui faremos questão de mostrar para vocês o nosso lugar, a nossa gente, a nossa gastronomia. Vocês irão perceber que o Norte/Nordeste é um lugar repleto de encantos e com um povo que sempre foi receptivo – mas que, agora, além de receber bem, também está tendo as mesmas oportunidades que vocês sempre tiveram.
Mas caso vocês não possam dar uma esticadinha até aqui, há outras formas de conhecer a nós, nortistas: basta pegarem uma das milhares de obras escritas por um de nós; vocês irão deliciar-se com os livros de Jorge Amado, Rachel de Queiros, Ariano Suassuna, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar…
E se não gostam muito de ler, que tal ouvir uma boa música daqui dessas bandas? Temos de todos os estilos, de Zé Ramalho, Raul Seixas, Alceu, Djavan, Gil, Caetano, Bethânia, Fagner, a Zeca Baleiro, Ivete, Pitty, Herbert Viana, Chico César, Elba…
Finalmente, sem querer aprofundar-me na política, creio que já justifiquei meu voto para vocês – apesar de desnecessário, faço questão.
Já vocês, meus irmãos, sintam-se à vontade para elegerem quem vocês bem entenderem, o nome disso é democracia. Infelizmente, a escolha de vocês, caso não seja a melhor, refletirá em todo o país que, até o momento, está tomando um rumo certo e confiável.
Ah, ia esquecendo de uma coisa: nós daqui temos a maior admiração pelos jumentos, animais inteligentes e que desde o início da colonização, foram companhia de todos os desbravadores dessa terra. Portanto, eu particularmente, não me sinto ofendida em ser chamada de burra, de jumenta, de maneira alguma. Fiquem à vontade.
É isso, meus amigos do Sudeste/Sul. A nossa bandeira é uma só, e o nosso pavilhão verde-e-amarelo não pode agasalhar esse tipo de ódio pela sua própria gente nem por povo nenhum do planeta! Vamos deixar de propagar essa raiva gratuita, que só faz diminuir moral e eticamente quem a espalha. Vamos sim, ajudar a construir a grande nação que merecemos! Quem se habilita?

(Publicado originalmente no site Viomundo)

Tijolinho do Jolugue: PSB joga no lixo o legado político de Dr. Arraes.



Ainda repercute bastante a decisão tomada pelo PSB pernambucano no sentido de apoiar o nome do senador Aécio Neves(PSDB) nas eleições presidenciais do segundo turno. Alguns comentários manifestam indignação, outros se dizem consternados com a atitude, enquanto outros apontam ainda o aspecto paradoxal dessa decisão, sobretudo considerandos-se o histórico do partido e as relações com recentes com os Governos Lula/Eduardo. Neste último aspecto eu não vou nem enumerar os recursos federais investidos no Estado, porque seria desnecessário e um tanto repetitivo. Ema artigo publicado no blog, escrito por Michel Zaidan Filho e, mais recentemente, em postagem do blog de política do Diário de Pernambuco, fica evidente as manobras do ex-governador Eduardo Campos no sentido de apear o PT do poder, tanto no plano estadual quanto no plano federal. Imagino mesmo que alguns atores da velha guarda da agremiação teriam percebido a manobra, mas não foram levados a sério. Eu, por exemplo, através do blog, advertia quase que diuturnamente, que havia um plano para tomar a bastilha petista no Estado, ou seja, o Palácio Antonio Farias. A raposa ficou à espreita e deu o bote no momento certo, contando com a ajuda, inclusive, dos chamados queijos do reino e alguns ingênuos. Fato consumado, assim que começaram as articulações com o objetivo de viabilizar a candidatura presidencial de Eduardo Campos - todos que se juntavam a ele repetiam o mantra de que ele precisaria afastar-se do PT. Sua aliança branca com os tucanos vem de longas datas, por vezes - imaginem - justificada em torno de um novo pacto de gestão da máquina pública. Em certo sentido, portanto, nenhuma surpresa que o PSB local tenha manifestado sua opção pela candidatura do senador Aécio Neves. A manobra de Eduardo conseguiu a proeza de causar alguns danos profundos ao PT no Estado. Erros estratégicos tornaram o partido eduardo-dependente e, com a sua morte, a agremiação vive um mal momento no Estado. A oligarquia que está em gestação no Estado parece se sentir auto-suficiente. Forma-se no Estado num núcleo duro de oposição a um futuro Governo Dilma Rousseff, caso a presidente seja reconduzida ao Planalto. Vão longe os tempos das orgias gastronômicas no Bairro de Dois Irmãos. A oligarquia está de dieta. uma dieta anti-petista. Profundamente lamentável que um partido com as tradições políticas do PSB tenha chegado a essa situação de absoluta capitulação aos interesses mais nefastos que o Dr. Arraes tanto combatia. O PT demorou muito para perceber o monstro de sete cabeças que estava se formando no Estado. Não foi por falta de aviso.

Fernando Magalhães: O comunista envergonhado ou a tragédia da farsa.







Durante todo o período da campanha (e mesmo antes dele) discuti, com vários amigos, pelo Facebook – e, às vezes, até asperamente, à medida que não se tratava de um trabalho científico ou um artigo para revistas acadêmicas, mas de um embate político, uma luta de classes –, a respeito das várias facetas desse pleito. Declarei, desde cedo que, por uma questão de princípio (não vejo mais sentido na democracia representativa como ela se apresenta, em que somos convocados a cada quatro anos para saber quem vai nos oprimir por pais quatro), votaria nulo, o que realmente fiz. E voltaria a fazê-lo, no segundo turno, se não estivesse viajando (estarei no aeroporto de São Paulo esperando o traslado para Campos de Jordão, onde participarei do Encontro da ANPOF). E como estamos numa sociedade onde ainda predominam as liberdades individuais (evito, aqui, mencionar a palavra DEMOCRACIA, que é outra coisa), todo indivíduo tem o direito de votar no candidato que quiser. Mas, como comunista, o que me causa indignação não é aquele que vota no candidato da direita, quando sua atitude é consciente. Posso discordar, criticar, considerar o PSDB um partido de direita (aliás, foi o próprio Bresser Pereira, um dos fundadores, quem afirmou isso, ao abandonar essa legenda); posso admitir que todo aquele que defende o sistema capitalista vote em Aécio Neves, pois é um direito que lhe assiste, ou mesmo aqueles que um dia combateram nas fileiras da esquerda e, posteriormente, mudaram sua posição ao longo da história. Mas o tipo mais asqueroso, e que me causa indignação, é aquele que, dizendo-se comunista, vota na direita contrariado com as ações do partido do poder (o PT). Reconheço sua ira, e até concordo com sua revolta. Eu mesmo fui um que critiquei o governo Dilma (aliás, já o fazia desde os tempos da presidência Lula), particularmente após a vergonhosa atitude contra os manifestantes das jornadas de junho de 2013. O nosso “ato patriótico”, que criminaliza as manifestações de rua, inclusive enviando a polícia à casa de muitos manifestantes, viola todo conceito de democracia que a esquerda conhece. Mas há uma esquerda que age, em muitos casos, como a direita, e existe a direita que age como a direita em todos os casos. Então, para quem se diz comunista, ou mesmo de esquerda, há sempre um mal menor. Isso não significa apoio ou mesmo o voto nesse tipo de conduta. Há sempre a possibilidade, como já mencionei, do voto nulo. Mas aquele que se afirma e se apresenta como comunista, e mostra-se, simultaneamente, como um guardião da moral capitalista, exigindo publicamente, que o PSB apoie Aécio, não está apenas traindo sei ideal, mas compactuando com o que pior existe numa eleição, a partir do ponto de vista de quem deseja transformar a sociedade. Caminho, inclusive, percorrido pela farsante candidata do PSB que, declarando-se partidária da “Nova Política” termina por sinalizar seu apoio, no segundo turno, ao candidato da velha política, do arrocho salarial, na corrupção que se escondia com o engavetamento dos processos pelo Procurador Geral da União; que é assessorada por um liberal extremado que “detonará”, absurdamente, todas as conquistas que o atual governo, com todos os seus defeitos, ainda conseguiu conquistar, além de outras medidas como o ataque a Previdência Social e o achatamento do salário mínimo. Dessa forma, em função de um princípio democrático manterei, entre os meus contatos, aqueles que possuem uma ideologia diferente da minha, por mais que discorde. Pelo menos são honestos em suas convicções. Mas deletarei, sumariamente, da minha relação de amigos no FB, aqueles que compactuam com uma farsa em nome de uma ética que não compreende ou a entende de forma metafísica, no seu mais puro sentido kantiano. É um modo de esconder sua vergonhosa conduta aceitando o mais estreito governo neoliberal, ocultando, assim, sua face direitista e capitalista sob o pretexto de opor-se a um regime que mudou ( nesse aspecto isso é verdadeiro) seu rumo. Não sou daqueles que se encobrem com o véu da falácia divulgada pelas mais reacionárias correntes de direita e da suposta esquerda, a falsa noção de que acabou a diferença entre esquerda e direita. Concluo com um exemplo que corre nas páginas das redes sociais: a figura de uma eleitora do candidato mineiro (Ione Zukauskas) explicando porque vai votar nele: “Precisamos mudar, ou os pobres vão mandar no mundo”. ALGUÉM AINDA DUVIDA DA EXISTÊNCIA DAS IDEOLOGIAS E QUE A LUTA DE CLASSES PERMANECE EM NOSSO HORIZONTE? COMO DIZIAM MAQUIAVEL, MARX, GRAMSCI E MESMO HOBBES: QUEM QUER OS FINS QUER OS MEIOS. O RESTO É HISTÓRIA PARA A DIREITA ENGANAR OS INGÊNUOS E MAL INTENCIONADOS.

Fernando Magalhães é professor aposentado da UFPE.

Helder Molina: Lacaios diplomados do Estado burguês.



Intelectuais de academia, essa gente que dá aula na universidade, arrota arrogância, fede a pedantismo. Fazem discurso de esquerda, mas no fundo são liberais, corporativistas, olham apenas suas publicações, suas teses, suas viagens, suas consultorias. Com exceções, falam do governo mas vivem das tetas dele. Saco cheio! Micro física do poder, como diz Foucault. Se não tivesse responsabilidade histórica, se olhasse apenas para meu umbigo, se não tivesse generosidade, se a maioria do povo não fosse sofrer com a volta de FHC-PSDB-PRIVATIZAÇÕES-ESTADO MÍNIMO-AÉCIO, eu ia para o "quanto pior melhor". Mas esses doutos senhores e doutas senhoras não tem nada a perder, mas o povo tem. Bando de hipócritas! Pronto, desabafei! Escarrei.

Helder Molina é professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Os resultados do Datafolha e do Ibope e o golpismo midiático.

Os resultados do Datafolha e do Ibope e o golpismo midiático

Por Renato Rovaioutubro 10, 2014 10:05
Os resultados do Datafolha e do Ibope e o golpismo midiático


Não há mais a menor sombra de dúvida de que esta eleição presidencial de 2014 é a mais emocionante e cheia de alternativas desde 1989. Isso se deve não só à queda do avião que levava Eduardo Campos em Santos, como também a erros do governo e a fragilidade da oposição. O eleitorado tem muitas dúvidas sobre que caminho seguir porque seu nível de exigências hoje é maior do que lhe é oferecido. Tanto por um lado, quanto pelo outro.
Marina Silva não durou uma primavera. No final de agosto e começo de setembro já havia gente dando como favas contadas sua vitória. Ela parecia ser a encarnação dos desejos do eleitor. Alguém com história limpa, discurso baseado na esperança de uma mudança ancorado num mundo mais justo e sustentável e descolada da política tradicional. Mas na hora que ela teve de enfrentar as questões do debate real, sobre programa de governo e opções a fazer, a candidata se mostrou frágil. Em uma hora apontava para um lado, na seguinte, para o outro. E, por incrível que pareça, foi num tema polêmico e onde o outro lado é ainda maioria, a questão do casamento igualitário, que Marina perdeu seu glamour. Quando anunciou mudança de posição depois de quatro tuítes do Pastor Malafaia, viu escorrer pelos dedos boa parte do seu capital simbólico. Ali Marina começou a deixar a eleição de 2014.
O quadro começou a se indefinir no final de setembro em relação ao segundo turno e de repente Aécio a ultrapassou nas urnas de forma surpreendente. E já no dia 5 de outubro à noite virou favorito para muitos. Este blogueiro escreveu que ele deveria aparecer à frente nas primeiras pesquisas de segundo turno, mas também disse que mesmo assim Dilma mantinha ligeiro favoritismo.
E as pesquisas confirmaram a hipótese do blogueiro, mas sem a força que alguns esperavam. Havia gente que imaginava que ele apareceria com 10 pontos de frente em relação à candidata do PT. A eleição voltou a ficar indefinida. Mas a mídia que usa concessões públicas para fazer campanha quer desequilibrá-la.
Se o PT e a campanha de Dilma não enfrentarem os meios de comunicação e mirarem apenas no tucano, ele sairá vitorioso. O que a TV Globo fez ontem no Jornal Nacional e o que alguns jornais fizeram hoje, além dos portais durante todo o dia de ontem, é algo vergonhoso. Transformaram a denúncia de um bandido que está falando para tentar se livrar da cadeia em algo absolutamente crível. E vazaram um áudio de um depoimento dado em segredo de justiça que é criptografado para não prejudicar o processo.
Algo absolutamente absurdo e que demonstra como o Estado brasileiro não é aparelhado pelo PT, mas por aqueles que o governaram por 500 anos. Eles tem gente que colabora para os seus interesses em todas as áreas: na justiça, no Ministério Público, na Polícia Federal etc. E os meios de comunicação que deveriam acompanhar esses fatos com um minimo de responsabilidade, usam essas relações para influenciar na eleição.
Aécio Neves construiu um aeroporto e deu a chave do portão para o titio. A mídia, ao invés de investigar o fato, fez de tudo para lhe livrar da investigação. Aécio foi o patrocinador da candidatura de Zezé Perrela como suplente de Itamar Franco, que já se candidatou ao Senado de Minas doente, tanto que veio falecer logo depois da posse. Um helicóptero da família Perrela é apreendido com 500 quilos de cocaina e o caso é abafado num dos maiores absurdos da história da cobertura da mídia no Brasil.
A cobertura midiática desta eleição não tem sido muito diferente da de outros momentos. Mas a questão é que, como neste segundo turno o jogo está mais embolado e só há 15 dias para ver quem vai se tornar presidente da República, não há espaço para deixar a mídia jogar sozinha.
A guerra está declarada. E em momentos assim, não há opção. Ou o PT e a campanha de Dilma enfrentam as acusações e desmontam a farsa midiática ou a vaca vai para o brejo, como disse outro dia a presidenta.
O resultado das pesquisas neste momento é o de menos. Ao que consta, aliás, na segunda-feira pelos trackings a diferença de Aécio era bem maior. Ou seja, ela caiu. A onda já arrefeceu. O PT tem espaço para ganhar redutos que perdeu na capital e na grande São Paulo. E isso pode vir a ser fatal para as pretensões do tucano.
Mas para ganhar vai ter de quebrar alguns ovos. Denunciar o caráter elitista da campanha tucana, mostrar que o futuro ministro da Economia de Aécio já fala em privatizar bancos e ao mesmo tempo mostrar que a Globo e seus aliados querem voltar a fazer o que sempre fizeram com o povo, enganá-los tratando-o como um bando de trouxas.
Nas manifestações de junho, palavras de ordem contra a Globo foram tão ou mais entoadas do que contra Dilma e o PT. Ou seja, não se pode ter medo de enfrentá-la. Até porque quem declarou guerra foi ela com o Jornal Nacional de ontem.