pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônica: Um inquérito sobre os escritores brasileiros
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Crônica: Um inquérito sobre os escritores brasileiros


 
José Luiz Gomes
 
Graciliano Ramos era muito próximo dos escritores Jorge Amado e José Lins do Rego. Também podemos incluir nesta lista a escritora Raquel de Queiroz, que, a princípio, antes de conhecê-la pessoalmente, pensou tratar-se de um homem. Onde já se viu uma mulher escrever um romance como O Quinze?, questionava Graciliano. Com o tempo, essa impressão - ou ciúme de campo - se desfez completamente e ambos se tornariam bons amigos, frequentadores do círculo literário de Maceió. Segundo Graciliano, Jorge Amado era um sujeito muito inquieto, desses que não param em lugar algum, sempre mexendo nas coisas, arrumando-as e desarrumando-as novamente, apenas para dar vazão à sua ansiedade. Quando tornou-se editor de Dom Casmurro, teve uma ideia curiosa, a de entrevistar as mulheres dos escritores, sobre suas intimidades pessoais. Essa possibilidade, naturalmente, deixou muita gente de orelha em pé, temerosos de que suas intimidades fossem, assim, reveladas por aquele jornal literário. 
 
Aqui na província pernambucana, lendo entrevistas antigas de pessoas que conviveram com poetas e escritores, descobri fatos curiosíssimos como o registro de uma esposa de um poeta conhecido que media  sua "fidelidade" pelo tamanho do nó da gravata. Caso houvesse alguma diferença - mensuradas religiosamente ao sair e ao voltar para casa - tratava-se de uma possível prova de que o poeta havia transgredido as normas do casamento. Naqueles tempos, fazer amor de gravata não constava, ainda, das fantasias das chamadas destruidoras de lares. Hoje, isso seria o de menos. Numa dessas brincadeiras, depois de um longo pernoite, o autor da entrevista esconde os sapatos do poeta, para complicar ainda mais a situação. Naquela noite, ele precisou voltar para casa com os nós da gravata em desalinho e sem os sapatos, numa situação bastante comprometedora. Só Deus sabe como ele se arranjou com a esposa ciumenta.
 
Antes mesmo que o autor de Angústia se lançasse às famosas entrevistas, aproveita para esmiuçar algumas dessas possíveis intimidades, descritas em Linhas Tortas, um dos seus livros de crônicas. “Ficaremos sabendo que José Lins do Rego toma café com leite, receia adoecer do coração e compõe os seus livros em caderninhos de papel pautado, desses que os vendeiros utilizam para fazer contas; teremos notícia da horrível pensão do major Nunes, onde Hermes Lima jogava bridge, estudava alemão com Girovate e planejava o Tobias Barreto; conheceremos os gostos de Armando Fontes, que embirra com Mussolini, admira Franco, torce no futebol e constrói os seus romances com pachorra, uma folha hoje outra daqui a dois meses. Como só ouvirão mulheres de escritores, os solteiros e os viúvos ficarão prejudicados. E como Raquel de Queiroz não tem mulher, o público ignorará  que ela fez O Quinze a lápis, deitada no soalho, de barriga para baixo.’
No final, o velho Graça, confidencia o que teria ouvido de uma dessas esposas: -Está doido? Isso é uma provocação. Se eu fosse dizer o que penso e o que sei do meu marido, não viveríamos juntos um dia. Vamos esperar que ele morra." 

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