Em dois dias de operação no Guarujá, a Polícia de São Paulo matou dez pessoas, o que pode ser classificado como mais uma chacina, desta vez com o ônus e a responsabilização poítica inevitável ao governador Tarcísio de Freitas, um potencial aspirante a candidato às eleições presidenciais de 2026. Em entrevista à Globo News, ele apresenta-se bastante à vontade, informando, inclusive, que as operações devem continuar. A operação da polícia foi desencadeada para prender um suspeito de ter matado um policial da Rota - Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar - tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, com altos índices de letalidade em suas atividades.
Esta não é a primeira chacina que ocorre - tampouco será a última, infelizmente - sempre motivada por fatores corporativos. Aqui no estado de Pernambuco - que voltou a ostentar a sua condição histórica de um dos estados mais violentos da federação - aguarda-se um novo projeto de segurança pública, possivelmente nos moldes da espertise adquirida com o Pacto pela Vida, mas com as estratégias políticas e publicitárias inevitáveis para dissociá-lo do projeto vinculado ao ex-governador Eduardo Campos.
O que estamos querendo informar é que a experiência do Pacto pela Vida - em nenhuma hipótese, muito menos ainda a política - pode ser negligenciada. Avançasmos em termos de concepção e gestão de um programa de segurança pública e esta é uma área nevrálgica, onde não se admite amadorismos. Outro dia, circunstâncialmente, nos deparamos com um texto do sociólogo José Luiz Ratton, que contribuiu com o Pacto pela Vida, tratando exatamente das características das polícias civis e militares do estado de Pernambuco. É preciso saber quem são e como pensam e agem esses policiais em seu trabalho cotidiano, ao abordarem os negros, os pobres, as mulheres. Isso é básico.
A chacina, inevitavelmente, terá um custo político a ser creditado na conta do governador paulista, muito identificado politicamente com essas corporações policiais, base de sustentação política do bolsonarismo. Salvo melhor juízo, ele determinou a retirada das câmaras que gravavam os policiais em operação, o que teria contribuído para o aumento dos índices de letalidade desde então.