pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 20 de junho de 2016

O xadrez político das eleições municipais de 2016, no Recife: Nas eleições do Recife poderá acontecer tudo, inclusive nada.



José Luiz Gomes

Desde as eleições municipais recifenses de 2012 que mantemos o hábito de publicarmos, aqui pelo blog e em outros espaços, nossos artigos de análise de conjuntura sobre o pleito. Outro dia ficamos espantados com o número de artigos já escritos sobre as eleições de 2016, cujas análises foram iniciados bem cedo, antes mesmo da definição de candidaturas. No calor dos debates daquelas eleições de 2012, antecipamos, num artigo que viralizou nas redes sociais, que o senhor Geraldo Júlio(PSB), ganharia aquelas eleições, o que , à época, suscitou muitas insatisfações nas hostes petistas. Gestões foram feitas, sabe-lá por quem, para a retirada do artigo, publicado no site de uma instituição federal aqui do Recife.Hoje, o Jornal Folha de Pernambuco, acaba e publicar a primeira pesquisa de intenção de voto para as eleições municipais do Recife, em 2016. 

A pesquisa foi realizada a partir de uma parceria do IPESPE e aquele jornal. O empresário e cientista político Antonio Lavareda, consultor do IPESPE, escreveu um artigo sobre o assunto. Lavareda é considerada uma autoridade nacional sobre o tema, acompanhando campanhas, dando assessoria a governos, debatendo e publicando livros e artigos sobre eleições e pesquisas eleitorais. Pesquisa é a sua especialidade. Concedeu uma longa entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, até recentemente, onde se pronunciou até mesmo sobre as eleições americanas,instigado por uma jornalista presente ao programa. Seu artigo sobre as eleições municipais do Recife, em 2016, é bastante técnico, comedido, limitando-se apenas ao essencial. 

É uma artigo sem  emoções, uma avaliação fria dos números e como eles se aplicam à realidade presente dessa eleição, que deverá ocorrer daqui a poucos meses. Candidatos competitivos são aqueles que aparecem pontuando em dois dígitos. Os demais terão muita labuta para se tornarem competitivos. No momento, aparecem como candidatos competitivos apenas o atual prefeito, Geraldo Júlio(PSB), que é candidato à reeleição, pontuando com 25% das intenções de voto. Logo em seguida aparece João Paulo(PT), cuja candidatura foi oficializada somente nesta semana, que pontua ali em 23%, rigorosamente empatado tecnicamente com o atual gestor, numa margem de erro que se situa em 3,5.Dependendo de onde se trabalhe essa margem de erro, João Paulo(PT) poderia estar até na frente. Em terceiro lugar vem o nome do tucano Daniel Coelho, com 13% as intenções de voto. O segundo pelotão, dos candidatos ainda não competitivos, é  onde aparecem, com ligeiras variações, os nomes de Priscila Krause (DEM), Sílvio Costa Filho (PRB), Edilson Silva(PSOL) e Augusto Costa(PV). Ainda de acordo com Lavareda, os percentuais de aprovação da gestão de Geraldo Júlio,no momento, indicam que ele é "vulnerável". 

Uma boa margem de segurança seria uma avaliação que, entre boa e ótima , variasse em torno de 40% e ele está abaixo disso. Um dos fatores determinantes que podem explicar essa dianteira dos candidatos Geraldo Júlio e João Paulo é o recall, ou seja, o conhecimento que os eleitores possuem deles. Ambos carregam, no entanto, altas taxas de rejeição junto ao eleitorado, o que nos permitem incluir aqui mais um fator que indica uma disputa renhida nessas eleições. Convergimos com Lavareda no tocante à influência da conjuntura política nacional e seus reflexos diretos nas eleições do Recife. 

Conforme afirmamos em artigos anteriores, talvez em nenhum outro momento da história recente das eleições municipais nas regras do jogo do período pós- redemocratização, teremos um peso nacional tão expressivo numa eleição municipal. "Coxinhas" e "mortadelas" estarão nas ruas se enfrentando  sob um clima de muita instabilidade política e, possivelmente, econômica. No mais, se naquelas eleições de 2012, muito antes da apuração das urnas, já afirmávamos que Geraldo Júlio seria o prefeito, no momento, parafraseando uma expressão utilizada pelo próprio Lavareda,numa alusão ao poeta, nas eleições do Recife poderá acontecer de tudo, inclusive nada. 

domingo, 19 de junho de 2016

Charge! Leo Villanova via Gazeta de Alagoas

Enquanto a corrupção assombra o Temer, caem as máscaras dos movimentos pró-impeachment







O impeachment da presidente do Brasil democraticamente eleita, Dilma Rousseff, foi inicialmente conduzido por grandes protestos de cidadãos que demandavam seu afastamento. Embora a mídia dominante do país glorificasse incessantemente (e incitasse) estes protestos de figurino verde-e-amarelo como um movimento orgânico de cidadania, surgiram, recentemente, evidências de que os líderes dos protestos foram secretamente pagos e financiados por partidos da oposição. Ainda assim, não há dúvidas de que milhões de brasileiros participaram nas marchas que reivindicavam a saída de Dilma, afirmando que eram motivados pela indignação com a presidente e com a corrupção de seu partido.

Mas desde o início, havia inúmeras razões para duvidar desta história e perceber que estes manifestantes, na verdade, não eram (em sua maioria) opositores da corrupção, mas simplesmente dedicados a retirar do poder o partido de centro-esquerda que ganhou quatro eleições consecutivas. Como reportado pelos meios de mídia internacionais, pesquisas mostraram que os manifestantes não eram representativos da sociedade brasileira mas, ao invés disso, eram desproporcionalmente brancos e ricos: em outras palavras, as mesmas pessoas que sempre odiaram e votaram contra o PT. Como dito pelo The Guardian, sobre o maior protesto no Rio: “a multidão era predominantemente branca, de classe média e predisposta a apoiar a oposição”. Certamente, muitos dos antigos apoiadores do PT se viraram contra Dilma – com boas razões – e o próprio PT tem estado, de fato, cheio de corrupção. Mas os protestos eram majoritariamente compostos pelos mesmos grupos que sempre se opuseram ao PT.

É esse o motivo pelo qual uma foto – de uma família rica e branca num protesto anti-Dilma seguida por sua babá de fim de semana negra, vestida com o uniforme branco que muitos ricos no Brasil fazem seus empregados usarem – se tornou viral: porque ela captura o que foram estes protestos. E enquanto esses manifestantes corretamente denunciavam os escândalos de corrupção no interior do PT – e há muitos deles – ignoravam amplamente os políticos de direita que se afogavam em escândalos muitos piores que as acusações contra Dilma.

Claramente, essas marchas não eram contra a corrupção, mas contra a democracia: conduzidas por pessoas cujas visões políticas são minoritárias e cujos políticos preferidos perdem quando as eleições determinam quem comanda o Brasil. E, como pretendido, o novo governo tenta agora impor uma agenda de austeridade e privatização que jamais seria ratificado se a população tivesse sua voz ouvida (a própria Dilma impôs medidas de austeridade depois de sua reeleição em 2014, após ter concorrido contra eles).

Depois das enormes notícias de ontem sobre o Brasil, as evidências de que estes protestos foram uma farsa são agora irrefutáveis. Um executivo do petróleo e ex-senador do partido conservador de oposição, o PSDB, Sérgio Machado, declarou em seu acordo de delação premiada que Michel Temer – presidente interino do Brasil que conspirou para remover Dilma – exigiu R$1,5 milhões em propinas para a campanha do candidato de seu partido à prefeitura de São Paulo (Temer nega a informação). Isso vem se somar a vários outros escândalos de corrupção nos quais Temer está envolvido, bem como sua inelegibilidade se candidatar a qualquer cargo (incluindo o que por ora ocupa) por 8 anos, imposta pelo TRE por conta de violações da lei sobre os gastos de campanha.

E tudo isso independentemente de como dois dos novos ministros de Temer foram forçados a renunciar depois que gravações revelaram que eles estavam conspirando para barrar a investigação na qual eram alvos, incluindo o que era seu ministro anticorrupção e outro – Romero Jucá, um de seus aliados mais próximos em Brasília – que agora foi acusado por Machado de receber milhões em subornos. Em suma, a pessoa cujas elites brasileiras – em nome da “anticorrupção” – instalaram para substituir a presidente democraticamente eleita está sufocando entre diversos e esmagadores escândalos de corrupção.

Mas os efeitos da notícia bombástica de ontem foram muito além de Temer, envolvendo inúmeros outros políticos que estiveram liderando a luta pelo impeachment contra Dilma. Talvez o mais significante seja Aécio Neves, o candidato de centro-direita do PSDB derrotado por Dilma em 2014 e quem, como Senador, é um dos líderes entre os defensores do impeachment. Machado alegou que Aécio – que também já havia estado envolvido em escândalos de corrupção – recebeu e controlou R$ 1 milhão em doações ilegais de campanha. Descrever Aécio como figura central para a visão política dos manifestantes é subestimar sua importância. Por cerca de um ano, eles popularizaram a frase “Não é minha culpa: eu votei no Aécio”; chegaram a fazer camisetas e adesivos que orgulhosamente proclamavam isso.

Evidências de corrupção generalizada entre a classe política brasileira – não só no PT mas muito além dele – continuam a surgir, agora envolvendo aqueles que antidemocraticamente tomaram o poder em nome do combate a ela. Mas desde o impeachment de Dilma, o movimento de protestos desapareceu. Por alguma razão, o pessoal do “Vem Pra Rua” não está mais nas ruas exigindo o impeachment de Temer, ou a remoção de Aécio, ou a prisão de Jucá. Porque será? Para onde eles foram?

Podemos procurar, em vão, em seu website e sua página no Facebook por qualquer denúncia, ou ainda organização de protestos, voltados para a profunda e generalizada corrupção do governo “interino” ou qualquer dos inúmeros políticos que não sejam da esquerda. Eles ainda estão promovendo o que esperam que seja uma marcha massiva no dia 31 de julho, mas que é focada no impeachment de Dilma, e não no de Temer ou de qualquer líder da oposição cuja profunda corrupção já tenha sido provada. Sua suposta indignação com a corrupção parece começar – e terminar – com a Dilma e o PT.

Neste sentido, esse movimento é de fato representativo do próprio impeachment: usou a corrupção como pretexto para os fins antidemocráticos que logrou atingir. Para além de outras questões, qualquer processo que resulte no empoderamento de alguém como Michel Temer, Romero Jucá e Aécio Neves tem muitos objetivos: a luta contra a corrupção nunca foi um deles.


Glen Greenwold, em The Intercept

Editorial: O Big Brother macabro do governo interino. Quem será o próximo a cair? Façam suas apostas!




Amanheci o dia de hoje lembrando de uma crônica do saudoso Rubem Braga, intitulada "Um pé de milho", onde ele informava que o fato mais importante daquela semana teria sido um pé de milho que havia nascido no seu quintal. Nem mesmo a notícia da possibilidade da chegada do homem à lua superaria, em importância, a presença daquele pé de milho, que o transformava num lavrador: Eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua Júlio de Castilho. Confesso que fiquei em dúvida sobre o que destacar para esta crônica política de um domingo. A calorosa recepção da presença da presidente Dilma Rousseff aqui no Recife, com direito aos poemas de Carlos Drummond de Andrade? Ou desmoronamento do edifício conspirador, com pouco mais de um mês, golpeado por sucessivas denúncias de corrupção envolvendo seus operadores?

Como publicamos aqui um esperançoso artigo do professor Michel Zaidan sobre a presença de Dilma Rousseff no Recife, em particular na UFPE, optamos por tratar desse segundo tema. O jornalista Luis Nassif, em artigo reproduzido aqui no blog, observa que a mídia fez o possível para guindar o senhor Michel Temer à condição de um estadista. Um homem elegante e até "bonito", de acordo com o insuspeito jornalista Ricardo Noblat. Começamos a desconfiar que as coisas não iam muito bem entre o governo interino e setores da mídia, depois da série de reportagens do Jornal Folha de São Paulo, com destaque para o teor das delações premiadíssimas do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, envolvendo o núcleo duro do poder, inclusive o próprio Temer, que, segundo ele, teria recebido ,irregularmente, um milhão e meio para a campanha de Gabriel Chalita, nas eleições municipais paulistas de 2012. Mas aí o Nogueira nos alertou que poderia se tratar, apenas, de um reposicionamento mercadológico do jornal dos Frias.  Sua experiência no campo jornalístico, aliado aos movimentos confusos daquele órgão de imprensa, nos convenceram. 

Michel Temer esperneou, mas sabe que não há como contestar o senhor Sérgio Machado. Tanto ele como o senador Aécio Neves(PSDB) tentaram desqualificá-lo, mas ficaram apenas nas bravatas que nem eles mesmo acreditam. Volto a afirmar que "no meio da putaria" - perdão pelo termo leitores - O Sérgio Machado fez tudo direitinho. Dizem que o oligarca Sarney teria sido grampeado por ele no leito de um hospital, onde se submetia a tratamento, numa visita de "solidariedade". Sérgio dispõe de áudios comprometedores com o presidente interino, imaginem, gravados na Base da Força Aérea, em Brasília. Com um homem deste, não há como ficar jogando para plateia aqueles adjetivos conhecidos: denúncias irresponsáveis, caluniosas, criminosas. Com Sérgio Machado isso não vai funcionar.

Nesta semana, dois outros órgãos de imprensa muito identificados com o apoio aos usurpadores, Veja e O Globo, trouxeram matérias contra integrantes do governo interino, o que nos levam a conceber alguma outra possibilidade - para muito além de um simples "reposicionamento" de mercado. A revista, inclusive, tornou-se uma espécie de leitura semanal obrigatória dos "coxinhas". Creio até que ela já teria encontrado esse reposicionamento mercadológico, a julgar por sua circulação em tradicionais redutos "coxinhas" aqui do Recife. A revista capricha na tinta e trata o caso de corrupção envolvendo o ministro do governo interino, Eliseu Padilha, como uma corrupção de "quadrilha". O Globo, por sua vez, investe contra a denúncia de uma suposta propina recebida pelo Ministro da Educação, Mendonça Filho, ainda no bojo da delação premiada do senhor Sérgio Machado, envolvendo a quantia de cem mil reais. 

A grande questão que se coloca agora para o público é sobre quem será o próximo ministro a cair desse governo interino: Eliseu Padilha ou Mendonça Filho? Estamos diante de um Big Brother macabro, como disse antes, porque está em jogo o interesse público, assim como os alicerces já frágeis de nossa experiência democrática. Pouco mais de um mês e o governo interino já perdeu as condições de continuar governando. Vejam em que enrascada nos meteram, nessa aventura insensata, inconsequente, que mergulhou o país num impasse institucional de consequências imprevisíveis, apenas para atender os interesses imediatos da "banca", de uma elite insensível e de uma classe média preconceituosa.

A charge que ilustra este editorial é do músico e chargista Renato Aroeira. 







O xadrez do pacto com Temer ou com Dilma




O aprofundamento das crises política e econômica torna mais próximo o momento do pacto. Sempre é temerário apostar no bom senso político nacional.
Mas o bom senso é meramente questão de preço. Em países modernos, chega-se ao bom senso a preços módicos. No Brasil do impeachment, a um preço caro. Mas o aprofundamento da crise já se tornou o excessivamente caro. Dentro de algum tempo induzirá o país ao pacto.
A grande dúvida é sobre quem conduzirá a travessia.

1. Não há maneira de vestir Michel Temer com a aura de estadista.

Desde que teve início o processo do impeachment, os grupos de mídia empenharam-se em uma tarefa hercúlea: dentro da dramaturgia que cerca a sociedade do espetáculo, tratar de conferir ao interino Michel Temer a aura de estadista.
Embora antigo na política, o personagem Temer era quase desconhecido da opinião pública, podendo, assim, ser um livro em branco no qual jornais e seus jornalistas, de forma combinada, pudessem escrever o perfil de um grande homem.
O entusiasmo precoce provocou elogios surpreendentes, como o do blogueiro Ricardo Noblat, confirmando a máxima de San Thiago Dantas, de que “o poder é afrodisíaco”:
“Uma coisa eu jamais observara: como Temer é um senhor elegante. Quase diria bonito. A senhora dele, também”.


A roteirização da política consistia em supervalorizar positivamente os pequenos gestos de Temer e negativamente os da oposição.
Esse papel coube a  Jorge Bastos Moreno, brilhante colunista de O Globo.
Por ocasião da demissão do Ministro do Turismo Henrique Alves, velho companheiro de Temer, Moreno saudou a prontidão com que o interino defenestrou o Henriquinho (como é tratado no círculo íntimo do Palácio, ao qual pertence Moreno), cuja atuação era de conhecimento de Temer e de Moreno há décadas.
Ontem, com a fúria de um Catilina, Moreno desancou sem dó a insensibilidade de parlamentares da oposição, por ousarem manter uma conversa descontraída no ambiente austero de... uma festa junina.
Conhecidos os detalhes sórdidos da delação de Machado, esperava-se que nessa noite os políticos se recolhessem, envergonhados, mais cedo para a casa.
Pelo contrário. Foram para a festa de São João, por si só uma piada pronta, da senadora Kátia Abreu.
Entre as pérolas captadas na mesa da diretoria, presidida por Renan, destaco esta:
— Vanessa está sendo massacrada nas redes porque apareceu retocando a maquiagem com um pó da marca Shiseido — denunciou Lindbergh.
— Oxe, o pó custa R$ 260. Será possível que não posso comprar um pó de R$ 260?
— perguntou a senadora.
E Renan, que não se maquia com pó, certamente, embora mantenha a cara sempre lustrada:
— Vocês não passam de comunistas de boutique.
É compreensível a confusão de Moreno. Afinal, nos dois casos há a presença insofismável das quadrilhas.
Em poucas semanas, no entanto, Temer construiu uma imagem tão negativa que nem os melhores roteiristas de O Globo conseguirão mais vender o peixe do Temer Bom.
No mundo real, o Temer Bom é só para consumo caseiro e dos amigos. Tem duas filhas adultas admiráveis e cultiva amigos do naipe de Celso Antônio Bandeira de Mello e Antônio Mariz de Oliveira. E só. Seu passado distante atenua mas não o absolve.
O Temer Mau é o da política, aliado e influenciado por vestais da qualidade de Eduardo Cunha, Eliseu Padilha, Gedel Vieira de Lima e Moreira Franco, os quatro porquinhos e o lobo mau querendo devorar o Chapeuzinho Vermelho da democracia e a cesta do orçamento público. E também é o amigo do Henriquinho (apud Moreno), do Mendoncinha políticos que, apesar de tratados no diminutivo, são  dotados de uma voracidade pantagruélica.           
Ocorre que quem governa o país é o Temer Mau, e não o Temer elegante, quase bonito, que encantou Noblat.
A diferença entre o estilo cordato do Dr. Jekill e o perfil truculento de Mr. Hyde é de tal magnitude que, antes do impeachment, pessoas próximas a Dilma atribuíam o oportunismo do vice à má influência de Eduardo Cunha. Ou seja, um senhor de 85 anos sofrendo da síndrome da má influência.
Como o Brasil é o país da intimidade benevolente, mesmo figuras públicas referenciais fecham os olhos aos malfeitos, quando cometidos por amigos. Ainda assim, Celso Antônio Bandeira de Mello e Antônio Mariz de Oliveira devem ao país a chamada pressão positiva sobre o amigo. Não permitam que a amizade os diminua perante uma legião de admiradores.
Já os grupos de mídia decidiram promover uma cirurgia nos xipófagos que habitam a alma de Temer.
O Temer Bom passou a ser o da área econômica, que veta reajustes do Bolsa Família, planeja arrebentar as verbas da saúde e da educação, mantém as taxas de juros em patamares elevados mesmo o mercado prevendo inflação no centro da meta em 2017. Este é o Temer Bom.
Pega, separar os dois? Não pega.
O padrão Temer ficou muito exposto à opinião pública.
Consiste em trazer para o governo seus aliados, o que de pior a política brasileira gerou no período democrático, dentro de um acordo tácito. Temer e cada Ministro sabem o que ambos fizeram. Se as falcatruas se tornarem públicas, o Ministro sai e o Jorge Bastos Moreno apregoa que Temer é diferente, porque não vacila em demitir Ministros cuja presença no governo tornou-se inviável por razões alheias à vontade de Temer. É isso?
Some-se a isso a Lava Jato que prossegue a todo vapor e que já assestou sua mira na JBS – uma das grandes financiadoras dos partidos políticos e, até pouco tempo atrás, presidida por Henrique Meirelles, do suposto grupo dos homens bons de Temer.
Juntando tudo isso, chega-se ao busílis da questão: com o processo de radicalização do impeachment, a ampliação da radicalização perpetrada pelos quatro porquinhos, pelo seu passado e pelo seu presente, Temer teria condições de ser o mediador desse pacto?
É evidente que não. O Temer Bom só se sustenta com a aliança que o Temer Mau monta com as facções que dominam a Câmara. Quando o Temer Bom planeja direcionar o orçamento inteiro para o mercado (através dos juros da dívida pública), os aliados do Temer Mau não permitem.
A não ser que se acredite que as Forças Armadas irão se lançar contra as manifestações, nenhum pacto frutificará nem com o Temer Mau, nem com o Temer Bom.
Não sendo Temer, como poderia ser conduzida a transição?

2. A alternativa a Michel Temer

Posto que o interino é inviável, o que restaria? A volta da titular?
Depende.
A inabilitação de Temer cria um vácuo. Mais um pouco e todos se darão conta do jogo de perde-perde na qual o país vai afundando. E aí se terá que buscar alternativas de pacto de fato, que pacifique o país, que varra do mapa a velha política e abra espaço para o novo.
O primeiro passo é extirpar da vida nacional a mancha de um impeachment sem fundamento constitucional. É condição essencial para o restabelecimento dos postulados democráticos.
Por outro lado, não se pode tapar o sol com a peneira e imaginar que bastaria a queda do impeachment para Dilma recuperar as condições de governabilidade.
E aí tomo a liberdade de enxergar duas Dilmas, como figura pública.
A Dilma presidente queimou sua oportunidade no início de 2013, quando cedeu ao mercado e voltou a aumentar a Selic. Dali em diante, seu governo caminhou como um barco adernando. Não há a menor possibilidade de viabilizar um terceiro mandato.
A Dilma deposta, no entanto, assumiu uma dimensão pública inimaginável em Dilma pré-impeachment. Tornou-se amada pelos movimentos sociais. No auge do poder, a crista empinada era sinal de arrogância; deposta, tornou-se prova de grandeza, de coragem, de destemor.
É essa Dilma que emerge das trevas– da sessão que votou o impeachment – que poderá ser a condutora da transição. Mesmo porque é praticamente a única grande figura política não maculada pelos borrifos da Lava Jato.
É hora de deixar um pouco de lado a presença nas manifestações públicas e buscar as lideranças da sociedade civil para começar a se pensar no grande pacto.
Há dois desafios políticos e um econômico, tendo que ser administrados simultaneamente.
Os políticos são uma Constituinte para discutir a reforma política, seguida de eleições gerais.
O econômico é a pactuação de um conjunto de medidas visando blindar a economia dos solavancos da política. Com o agravamento da crise, haverá condições de empresários, trabalhadores e movimentos sociais começarem a sentar para conversar, especialmente se Dilma apresentar  um conjunto racional de propostas de transição.
Para trabalhar junto aos setores produtivos, ela terá ao seu lado duas figuras significativas das chamadas forças produtivas – Armando Monteiro e Kátia Abreu. Junto ao sistema bancário, há duas lideranças expressivas e de bom senso, Roberto Setúbal, do Itaú, e Luiz Trabucco, do Bradesco. Os movimentos sociais e sindicatos já estão com ela.
Havendo isenção na condução da transição, poderá ampliar o círculo de apoio.
Restarão as incógnitas: o Congresso pós-Eduardo Cunha, a Procuradoria Geral da República e a Lava Jato, o Senado com ou sem Renan Calheiros (obviamente, com Renan haverá maior espaço para o bom senso).

Luis Nassif, publicado originalmente no Jornal GGN 

sábado, 18 de junho de 2016

Protesto na estreia de "Aquários" foi simbólico e eterno

Saí do Brasil com presidenta afastada sob gritos contra a corrupção. Voltei com o óbvio escancarado: impeachment era um plano pra estancar a Lava Jato
por Maeve Jinkings — publicado 17/06/2016 15h29, última modificação 18/06/2016 03h40
Valery Hache / AFP
Aquarius
A equipe e o elenco de Aquarius protestam em Cannes, em 17 de maio

Estava em Nova York há alguns dias para a estreia local do filme Boi Neon quando finalmente eu e Sônia Braga conseguimos nos encontrar pra passar o dia juntas.
Naquela tarde primaveril caminhamos pelo High Line Park de ponta a ponta até que precisei entrar numa loja de departamentos pra fazer xixi, e estava em plena ação quando Sônia recebe o bendito email de nosso coprodutor francês.
Emocionada, Sônia não podia esperar pra me dar a notícia e me procurava pelas cabines colocando a cabeça embaixo das portas: “In competition! In competition!”.
Já a esperava fora do banheiro, e confesso que a primeira coisa que me veio à mente quando a avistei com o punho elevado pronunciando essas palavras foi “Disputávamos o xixi mais rápido?"
Quando finalmente notei o celular em sua mão e compreendi que se tratava da première deAquarius no Festival de Cannes, um tsunami despencou sobre mim. Comovidas, terminamos o dia no restaurante da Grand Central Station brindando diante de uma foto da equipe do filme e trocando mensagens coletivas pelo celular.
Daí em diante mergulhei numa corrente de acontecimentos e emoções do qual emerjo semanas depois em meio a registros afetivos em smartphones. E a memória em looping, fragmentada, fora da cronologia. Fazer arte tem uma aura de emergência difícil de descrever. Gosto das palavras de Wim Wenders quando diz que a força misteriosa do cinema vem do fato de que filmes sobrevivem a todos nós, o que torna tudo uma questão de vida e morte.
E diante da eternidade nada é mais importante do que buscar a alma do momento presente, falar além desse tempo/espaço para gerações futuras, quando já não estaremos aqui. Talvez isso explique a paixão que mobilizou mais de 30 pessoas, entre equipe e amigos do filme, a tirar dinheiro de seus próprios bolsos pra pagar passagem, hospedagem, comida, tudo pra estar juntos na première mundial de Aquarius. Tivemos apoio da Ancine para duas passagens aéreas, porém os gastos na Riviera Francesa vão muito além disso.
Enquanto corríamos de um lado pro outro escolhendo vestidos e smokings para o festival, assistimos perplexos a uma série de acontecimentos políticos no Brasil dignos de uma narrativa de ficção. E o roteiro parecia confuso.
Saí do Brasil com uma presidenta da República sendo afastada de seu cargo sob gritos de “chega de corrupção”. Voltei vinte dias depois com áudios vazados na imprensa escancarando o óbvio: o impeachment foi um plano pra estancar a Lava Jato e livrar políticos da cadeia. Segundo eles próprios, a presidenta deixa a investigação correr solta demais. 
Há exatamente um mês estreávamos Aquarius no maior festival de cinema do mundo, em competição, sob a sombra de um Ministério da Cultura extinto pelo governo interino. Foi uma experiência pessoal e profissional de proporções avassaladoras, mas nada me tocou tanto como assistir ao filme que fizemos e me dar conta de sua assustadora sincronicidade com o Brasil de hoje.
Tal paralelo não foi proposital. O roteiro de Kleber Mendonça é uma antena poderosa captando a sensibilidade de uma sociedade dividida que despreza sua memória em nome da manutenção de privilégios de uma minoria.
E se artistas são como radares de subjetividades, não me surpreende que hoje a cultura represente uma ameaça para certos setores da sociedade a ponto de alguns defenderem o fim do seu subsídio, ainda que isso movimente a economia e represente apenas 0,6% da renuncia fiscal pela Lei Rouanet. 
Mas a personagem de Sônia Braga em Aquarius é, acima de tudo, uma brava resistente. E se a câmera tem o poder de captar o além tempo, para mim nada faz mais sentido do que minha memória em repetição constante recordando o instante em que, sobre o tapete vermelho, levantamos um papel A4 pra dizer que vivemos um golpe.
Foi um pequeno e simbólico gesto, mas a julgar pela atual juventude nas escolas que nos ensina como se apropriar dos espaços e multiplicar vozes, certamente esse gesto é eterno.
*Maeve Jinkings, atriz de Aquarius, venceu dois candangos de Melhor Atriz no Festival de Brasília: em 2013, pelo longa Amor, Plástico e Barulho, e em 2014, pelo curta Estátua! A artista também venceu o prêmio de Melhor Atriz no BRAFFTV 2014 - Festival de Cinema Brasileiro em Toronto por Amor, Plástico e Barulho.

João Paulo está de volta ao jogo nas eleições do Recife





João Paulo Lima e Silva, ex-prefeito do Recife por dois mandatos, volta disputar uma eleição depois de alguns tropeços na disputa dos votos dos eleitores em eleições passadas. Sempre se disse - e ele deve ter consciência disso - trata-se uma jogada de alto risco. Uma possível derrota no projeto de voltar ao comando do Palácio Antonio Farias poderá representar uma aposentadoria de sua carreira política. O fator positivo é que o partido, finalmente, parece ter construído um consenso sobre o assunto, envolvendo um intenso diálogo com o ex-prefeito João da Costa, com o qual havia algumas arestas, além da necessidade das costuras internas. A única trincheira partidária que ainda esboçava uma resistência ao nome de João Paulo era o diretório municipal da agremiação, comandado por Oscar Barreto, um dos nomes que, num passado recente, foi apontado como "queijo do reino", por suas ligações com o grupo do ex-governador Eduardo Campos. 

É muito difícil predizer como a população reagirá ao PT nas próximas eleições municipais. A imagem do partido foi bastante arranhada com os ataques sucessivos da grande mídia, envolvendo seus membros na Operação Lava Jato. Embora alguns dos seus filiados estejam presos e cumprindo pena, criou-se um clima onde o PT passou a ser tratado como uma "organização criminosa" que se apropriou indevidamente do patrimônio público. Hoje os escândalos denunciados apontam a presença de atores políticos dos mais distintos quadrantes partidários, o que poderia minimizar a tendência à criminalização única do PT. O governo interino, por exemplo, perde um ministro a cada semana, envolvido em denúncias de malversação de recursos públicos. As declarações de Sérgio Machado, por exemplo, atingem o núcleo duro do governo provisório, o que leva alguns analistas a sugerirem que este governo cairá de podre. 

Nestas eleições municipais - talvez como em nenhuma outra - haverá uma forte influência da conjuntura nacional na quadra local. Os candidatos do PT tendem a pegar carona no movimento organizado que pede a volta da ex-presidente Dilma Rousseff e o "Fora, Temer". A população, sobretudo os mais jovens, parecem ter acordado do sono político que pode destruir a nossa experiência democrática. Em suas falas, a presidente Dilma Rousseff indica que vem sentido esse feeling que exala das ruas, dos movimentos sociais, das repartições públicas, da sociedade civil. O "Volta, Dilma", portanto, embute uma preocupação maior de movimentos da população brasileira em defesa do respeito às regras do jogo da democracia. A questão é saber se os candidatos do PT saberão capitalizar bem esse movimento. 

Michel Zaidan: Minha matéria é o presente, o tempo presente, a vida presente, os homens presentes.

  




Comecei o meu magistério na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com um tema: "A História como Paixão" e iniciei o meu evangelho pedagógico com um verso de Carlos Drummond de Andrade, da poesia "Mãos dadas", que trata da necessidade de o historiador falar do presente, da vida presente, dos homens presentes. Nesses tempos sombrios da pornografia política e avicultura belo-jardinense, ouvir nesta tarde (dia 16) da boca dos presentes,na ato a favor da democracia e do mandato presidencial de Dilma, a poesia como uma lufada de vento fresco, nesse começo de inverno quente e úmido do Recife. Nunca deixei a poesia, a música, o teatro e o cinema de lado, na minha sala de aula. 

Faz parte de uma pedagogia ampliada, inspirada no programa de Schiller "cartas sobre a educação estética da humanidade". Acredito muito no poder educativo da razão lúdica, da razão sensível. Vê e ouvir uma Presidenta da República declamar versos do poeta mineiro acendeu em mim as chamas da esperança de que o mundo (e as pessoas) ainda tem conserto. Que nem toda política, nem todos os políticos são pornográficos ou cacofônicos. O discurso de Dilma foi sinfônico. Um discurso sereno, calmo, afetivo, didático e paciente, sem traços de rancor ou amargura. Ela deve ter se sentido acolhida no ambiente universitário da UFPE. 

Os que estavam ali, vieram para saudá-la, confortá-la e desejar-lhe boa sorte. Dar as mãos, outra frase do poema. Caminhar de mãos dadas. Sim, vamos todos caminhar de mãos dadas. Não nos afastemos muito, disse Drummond, a realidade é tão grande, não nos afastemos muito. Nesta tarde, estivemos todos juntos, de mãos dadas, considerando a enorme realidade que é a injustiça no Brasil. Vamos lutar contra ela. Vamos lutar para que a Dilma retome o seu mandato presidencial e varrer essa corja de aproveitadores, aventureiros e golpistas.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE. 

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sexta-feira, 17 de junho de 2016

O imbróglio da relação entre o PSDB e o PSB em Jaboatão dos Guararapes.



A relação entre o PSB e o PSDB, no Recife, azedaram de vez e não há, pelo menos a curto prazo, a possibilidade de uma reaproximação. Os tucanos,antes divididos quanto à possibilidade de uma candidatura própria, hoje se envolvem diretamente em reforçar o nome do Deputado Federal Daniel Coelho em seus redutos eleitorais. O candidato, por sua vez, tem sido cada vez mais incisivo em suas críticas à gestão do prefeito Geraldo Júlio(PSB), que deverá tentar a reeleição. Antes ele atirava em Paulo Câmara para atingir Geraldo Júlio. A essa altura do campeonato - há quatro meses das eleições - seria natural que Geraldo entrasse em sua alça de mira. 

Em relação ao posicionamento dos dois partidos no que concerne  ao pleito na cidade de Jaboatão dos Guararapes, entretanto, a despeito a disposição dos atores em conversarem frequentemente sobre o tema, está difícil a construção de um consenso entre as duas legendas. As costuras estavam sendo conduzidas entre o atual gestor daquela cidade, Elias Gomes(PSDB), e o governador do Estado, Paulo Câmara(PSB). Como não havia interesse em reproduzir os contratempos do Recife para outras praças, entre os dois partidos havia a convicção de que construir o consenso de uma candidatura própria seria positivo para as duas legendas. Esse nome de consenso poderia ser o do ex-secretário do governo do Estado, Evandro Avelar, com bom trânsito entre os dois caciques políticos. A linha, entretanto, parece ter rompido nessas tecituras. Os últimos movimentos políticos indicam isso.

Embora regadas à boa gastronomia dos bares de Jaboatão, Elias Gomes (PSDB) tem mantido exaustivas negociações com Evandro Avelar, cujo nome chegou a ser cotado para assumir um cargo em SUAPE, numa espécie de manobra de Paulo Câmara(PSB) para tirá-lo do páreo. Creio que faltou acertar com Evandro antes, posto que não saiu a nomeação. Desde o início, Elias Gomes trabalha com três nomes entre os seus auxiliares. O próprio Evandro, Mirtes e Conceição. No último encontro do grupo, Conceição se disse enjoada de frutos do mar, num claro indício de que já se considera fora da disputa. O Secretário de Relações Institucionais do Governo do Estado, André Campos, em entrevista a uma rádio local, externou seu pessimismo quanto à possibilidade de construção de uma aliança entre as duas legendas. Vão mesmo para a disputa. Neste caso, a tropa de aspirantes socialista se prepara para disputar a preferência da indicação do Campo das Princesas.    

Seja muito bem-vinda ao Recife, presidente Dilma Rousseff. Voltaremos!


Charge! Aroeira via Facebook

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Charge!Aroeira via Facebook

Editorial: O perigoso e injustificável assédio aos jornalistas do Jornal Gazeta do Povo.





Ontem, discutíamos aqui pelo blog, num pequeno artigo, orientado por grandes estudiosos do assunto - até já pedi perdão pelas ausências observadas por leitores mais exigentes -as razões pelas quais uma democracia pode ruir. O artigo vem alcançando um excelente número de acessos nas redes sociais, creio, em razão do momento delicado que estamos vivendo no país, indicativo de um possível retrocesso autoritário que já se pensava definitivamente encerrado em nossa história. Naquela postagem, inclusive, deixo o link com vocês abaixo, apontávamos que, ao enfrentar os problemas das desigualdades sociais e econômicas no país, através, sobretudo das políticas redistributivas de renda, os governos da coalizão petista prestaram um grande serviço ao processo de consolidação de nossa experiência democrática. 

Mas não é só isso. O amplo programa de expansão e interiorização do ensino superior e técnico – permitindo que uma legião de jovens entre 18 e 23 anos ingressassem num curso superior – se considerarmos que o acesso à educação, de acordo com Arend Lyjpart, é um dos indicadores importantes dos regimes democráticos – eis aqui uma outra contribuição fundamental dos governos da coalizão petista à nossa democracia. Se acertou na “base”, infelizmente, os governos de coalizão petista pecaram ali por cima, no edifício das instituições que dão sustentação à democracia. Ou, ainda, naquilo que os autores chamam de "arranjos democráticos". Deixou de fazer reformas importantes, como a reforma agrária, a democratização da mídia, a reforma política e a reforma tributária. Como governo de coalizão, claro, não poderia fazer isso sem o concurso de outras forças políticas, mas, por outro lado, não empreendeu o esforço que se esperava dele. 

Quanto mais procuro entender o sono político que produziu esse “monstro”, mas fico preocupado com alguns setores da sociedade brasileira que, infelizmente, conseguem raciocinar apenas com os seus próprios interesses imediatos e que se dane o resto. Inclusive eles também, porque regimes autoritários creio que não prestam para ninguém. É uma profunda inconsequência jogar o país nessa instabilidade institucional apenas por birra e para preservar seus privilégios seculares.É um pouco complicado para mim compreender essa lógica. 

Um exemplo desses complicadores – que talvez pudessem ser evitados num clima de normalidade democrática – vem, mais uma vez, da república do Paraná. Um conhecido jornal local, a Gazeta do Povo, publicou uma série de matérias sobre os vencimentos e vantagens dos juízes locais, gerando uma enxurradas de processos contra o jornal e os jornalistas que assinaram os textos. Na realidade, as matérias, segundo o editor do matutino, expressa apenas informações que poderiam ser acessadas por qualquer cidadão comum, posto que estão disponíveis nos portais da transparência. Se essas informações que estão no portal da transparência, acessível a todos, por que preocuparam tanto os magistrados? 

O juízes não gostaram de ver seus nomes divulgados, associados a salários polpudos, acompanhado de vantagens que os levam para as alturas. O curioso disse é que são inúmeras ações, movidas pelas mais diversas varas, contingenciado os jornalistas a realizarem longas viagens pelo Estado, sob pena de serem julgados à revelia. Os juízes alegam que estão apenas cumprindo a constituição, mas enxergo nisso uma espécie de assédio à liberdade de expressão e uma tentativa de intimidação.Creio que fatos dessa natureza tendem a se tornarem frequentes daqui para frente, movidos pela lógica do endurecimento do exercício do poder político, pouco afeito às críticas e às denúncias dos seus privilégios. 

Assim que assumiu o Ministério da Educação, em meio às críticas sobre a composição de sua equipe, o ministro Mendonça Filho também andou ameaçando processar um caminhão de gente, numa atitude intempestiva, bem distante da estatura de ministro de Estado que ele deveria, pelos menos, aparentar. O pior é que, logo em seguida, uma série de medidas adotadas por aquele órgão apenas reforçaram  a tese sobre o  conjunto de forças políticas que passaram a ter influência direta sobre as ações do MEC, como, por exemplo, um indicativo de afrouxamento dos processos de avaliação dos cursos superiores mantidos por instituições privadas, o que era um pleito da poderosa associação que congrega os mega empresários da educação.  

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Por que o Brasil retrocedeu?



quarta-feira, 15 de junho de 2016

Por que o Brasil retrocedeu de uma democracia quase consolidada a um estágio de republiqueta pré-autoritária?






José Luiz Gomes

Cientista Político


Há uma grande discussão entre os teóricos da democracia - Robert Dahl, Bernard Manin, Arend Lyjpart, Adam Przeworski, Samuel Huntington -   sobre as condições políticas, econômicas e sociais que conduzem um país a tornar-se democrático, consolidar sua democracia ou retroagir ao autoritarismo. De acordo com os institutos que medem os níveis de democracia no mundo, em 2013, o Brasil caminhava celeremente para consolidar a sua democracia, obtendo a nota 2 numa escala que ia de 1 a 7. O 1 indica o melhor estágio democrático e o 7 o pior deles, ou seja, aqueles países onde a saúde dos regimes democráticos já se encontra na UTI. A economia ia relativamente bem, os direitos sociais e políticos estavam sendo assegurados, assim como as instituições que tinham como finalidade preservar esse arranjo democrático, em tese, funcionavam relativamente bem. Apenas três anos depois, entramos num profundo retrocesso político, o que nos levam há algumas indagações. 

Se os indicadores apontavam para o aprofundamento de nossa experiência democrática, porque retrocedemos? Esses indicadores aferiam, de fato, a saúde de nossa democracia? Por qual cargas d'água, em apenas 03 anos, chegamos a esse retrocesso? É preciso refletir para entender como esse "sono político" produziu esse monstro que nos ameaçam. Antes demais nada, convém frisar que o Brasil é um país atípico e que talvez os parâmetros utilizados internacionalmente para aferir certas variáveis não se apliquem bem à nossa realidade. Afinal, como dizia o historiador Sérgio Buarque de Holanda, a democracia entre nós nunca passou de um grande mal-entendido.Grosso modo falando, um dos problemas de consolidação de nossa democracia, segundo os estudiosos do assunto, está relacionado às nossas desigualdades sociais e econômicas. 

O Brasil é muito desigual e isso cria um hiato nada salutar entre a democracia política e a democracia econômica, gerador de uma eterna instabilidade, motivada pelo fato de o sistema não atender às demandas de expressivos contingentes populacionais, gerando muitas insatisfações. Por outro lado, a variável econômica parece não ser, necessariamente determinante, conforme adverte Przeworski. Um bom exemplo disso são aqueles países que possuem expressivas reservas de recursos naturais, mas que se tornam ditaduras sanguinárias. É o que os especialistas chamam de “a maldição do petróleo”. Neste caso, além das variáveis econômicas, convém observar aqui algumas variáveis "intervenientes", conforme ensinava José Carlos Wanderley, para observar seu real papel nesse processo de constituição de regimes democráticos. 

Mesmo assim, como adverte o professor José Álvaro Moisés, devemos lutar com todas as forças pela preservação do arcabouço da democracia política, pois, se a democracia política não é condição suficiente para se promover a democracia econômica, ela é, certamente, necessária. Sem ela, o quadro ainda seria mais cinzento.Um dos aspectos mais visíveis desse retrocesso político que enfrentamos é a constatação inequívoca que, ao atacar os problemas sociais, os governos da coalizão petista caminhavam para o ajustamento de nossa experiência democrática. Por outro lado, os governos da coalizão petista perderam uma oportunidade singular de aperfeiçoar ou oxigenar o sistema, promovendo uma reforma agrária, uma reforma política, uma reforma tributária, aprovando leis que contribuíssem para democratizar a mídia. Não o fez, embora tenha avançado bastante no quesito do enfrentamento das desigualdades sociais e econômicas, tirando milhões da extrema pobreza. 

Diante do cenário político que se apresenta hoje, em Brasília, no governo interino do senhor Michel Temer, o legado das políticas redistributivas de renda está profundamente comprometido. O ordenamento jurídico e constitucional, assim como os direitos trabalhistas e sociais deverão sofrer um profundo revés. O patrimônio nacional, a essa altura do campeonato, também. Uma outra observação que salta aos olhos são a razão pela qual retrocedemos, ou seja, um conjunto de interesses mesquinhos, comezinhos, patrimonialista, de grupelhos de interesses, patrocinados por uma plutocracia industrial consorciada com uma classe média preconceituosa, insatisfeita com as concessões ao andar de baixo da pirâmide social, que agem sem pejo, sem escrúpulos, com uma voracidade incomum, como advertiu aqui no blog o cientista político e professor titular da UFPE, Michel Zaidan Filho.  

P.S.: Do Realpolitik: Claro que não há um consenso entre os estudiosos brasileiros sobre o estágio de nossa democracia. Muito deles advogam a tese de que a nossa democracia,na realidade, sempre contou com alicerces muito frágeis, gerando aquilo que eles denominam de "equilíbrio instável". A própria Constituição de 1988, por exemplo, ainda guarda muito entulhos autoritários que precisariam ser removidos, lá mantidos em razão do lobby dos militares. Na galeria de autores citados acima, entre os estudiosos do tema da democracia, evidentemente, há a imperdoável omissão de alguns nomes importantes, pelo que peço desculpas aos diletos leitores. Em geral, as variáveis utilizadas por instituições como a Democracy Index para aferir a escala de democracia de um país, ao nosso ver, se aplicam a qualquer realidade observada, a despeito de nossa atipicidade. 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Michel Zaidan Filho: A tutela jurídica da educação

  

                     


Ouvi, certa vez, da boca de um alto empresário dos “serviços educacionais” em Pernambuco, que gosta de aparecer nas revistas e impressos como o mais novo bilionário brasileiro, que a Constituição Federal de 1988 dispunha sobre a chamada “tutela jurídica” de bens de interesse público, como educação, saúde, segurança pública etc., apesar do Estado não assegurar na prática a efetividade real de tal comando constitucional.

Nunca esqueci essa conversa. E essa lembrança me veio à mente por ocasião da nomeação de um obscuro deputado do DEM para “ocupar” – ainda que interinamente – o Ministério da Educação e Cultura (MEC). As palavras daquele empresário eram, na verdade, um aviso do que estava por vir: ao invés de avançarmos no Brasil com a execução cabal e definitiva da exigência constitucional do financiamento público e estável da educação, ocorreu exatamente o contrário – os grandes grupos privados do mercado de bens educacionais só prosperaram no país, amparados nas parcerias com investidores internacionais e no bom e velho fundo público nacional (BNDES). Agora – no limiar da monopolização desse rendoso mercado (com a possível compra do Mackenzie e da Estácio pelo mesmo grupo empresarial) - busca-se interferir – pasmem – na própria elaboração das diretrizes para a Educação Pública no Brasil, através de prepostos e paus mandados.

Se não fosse assim, como entender as recentes medidas tomadas pelo “ocupante interino” da Educação? – o desmonte do sistema público da Pós-graduação (CAPES), com a limitação neo-taylorista do financiamento público dos Mestrados e Doutorados (a fixação do número de bolsas); a autorização para cobrança de mensalidades escolares nas Universidades Públicas: o esvaziamento do Fórum Nacional da Educação Pública, com a demissão de vários de seus conselheiros; o acolhimento imediato de sugestões fascistas – de um ator pornô e defensor do estupro – destinado a banir do ensino público questões da contemporaneidade, como gênero, orientação sexual, sexualidade feminina e outros. A isso, some-se a extinção do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Aliás, medidas que se afinam perfeitamente com a interinidade e ilegitimidade do atual “ocupante” da própria cadeira presidencial, que denunciam o perfil de todo o ministério de “ocupação”: nepotismo, patrimonialismo, ofensiva contra os direitos e garantias individuais, redução da verba destinada à educação e a saúde, habitação popular, à cultura e às políticas de transferência de renda para os mais pobres...Enquanto a banca, a plutocracia econômica, os especuladores de títulos da dívida pública, os rentistas e agronegociantes vão se dando bem.

Nunca se viu com tanta clareza a natureza das manobras conspiratórias e golpistas que afastaram – temporariamente – a Presidente Dilma Rousseff da cadeira presidencial. Acordo – como já fartamente denunciado – precário, ilegal, ilegítimo, de curta duração, apoiado no preconceito e na revolta da classe média, na grande mídia golpista, na indecisão de certos senadores e no conjunto de interesses subpartidários, subrepublicanos que se lançaram sobre o aparelho de Estado e a administração pública, sem pudor, sem pejo, sem escrúpulos, numa voracidade inaudita, típica de aves de rapina, e na consciência (?) da interinidade.

Se a Presidente Dilma voltar ao seu legítimo e merecido cargo, será urgente e inadiável uma imensa faxina dessa súcia de aventureiros de toda espécie, e a punição exemplar de todos aqueles que tenham se locupletado dos cargos públicos, neste breve estágio de lesa-pátria e lesa-sociedade que experimentaram.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE











Editorial: As "Jornadas de Junho" estão de volta?



Às segunda-feiras, logo cedinho, costumo fazer uma visita àqueles blogs com os quais mantemos alguma identidade, como o Tijolaço, do Fernando Brito, O Cafezinho, do Miguel do Rosário, e o do Luis Nassif, com o propósito de mantermos nossa sintonia com as análise de conjuntura política. No Tijolaço, destaco o que se convencionou chamar de Operação "Mão do Gato", hoje em curso pelos operadores do golpe institucional, com o propósito de se livrarem do senhor Eduardo Cunha, um grande problema para o governo interino do senhor Michel Temer. Não apenas para Michel Temer, mas, a rigor, para dar continuidade aos projetos dos conspiradores, que precisam do crivo da Câmara dos Deputados, onde ele insiste em manter sua trincheira, com métodos bem conhecidos.  

Aliás, os "métodos" de Eduardo Cunha são bastante temidos, acumulados em décadas de uma carreira política de procedimentos nada republicanos. Michel Temer, por razões bem conhecidas, morre de medo dele. Cunha é uma espécie de homem bomba que pode comprometer ainda mais os alicerces já bastante fragilizados desse governo interino. A grande questão que se coloca para os operadores do golpe é encontrar uma "solução" Cunha, o que não é muito simples. Cunha já cumpriu seu script na engrenagem que apeou temporariamente a presidente Dilma Rousseff do poder, mas é um ator político que sabe muito, participou ativamente das urdiduras e, portanto, tornou-se perigoso. É um lixo difícil de descartar.

Mas, em meio a essa tormenta institucional, política e econômica, eis que surge uma luz no fim do túnel, representada pela multiplicidade de movimentos sociais, grupos de opinião, ONG's, típicas de sociedades socialmente avançadas, formada por jovens sem vínculos partidários, movidos por valores civilizatórios, orientados, sobretudo, pela defesa da democracia, de acordo com o jornalista Luis Nassif. O massacre cometido contra a presidente Dilma Rousseff, aliado ao desmonte imposto por esse interinato predador, podem estar na raiz dessas mobilizações. Um dos efeitos positivos desse impasse político é que a presidente Dilma Rousseff, finalmente, conseguiu um diálogo com as ruas, num momento crucial. 

Friso bem aqui "conseguiu um diálogo com as ruas", uma vez que a presidente somente agora parece entender a necessidade de reaglutinar as forças políticas que sempre a apoiaram e propor um pacto para o país, através de uma Carta aos Brasileiros - como sugere Nassif - com duas hipóteses possíveis: conciliação ou confronto, mediados por pontos muito bem negociados entre os atores, de caráter político, econômico e social. Conciliação eu penso ser muito complicado, talvez precisemos ir para o pau mesmo. Essa conciliação de classe, típica do Governo Lula, logo se mostraria ineficaz.

É neste clima político em plena ebulição que iremos enfrentar as eleições municipais de 2016 e as próximas eleições presidenciais de 2018. Essa aliança de classe impediu que o PT enfrentasse algumas questões cruciais para o país, como a reforma agrária, a democratização da mídia, a reforma política e tributária. Erros que ficaram muito caro para o partido e para o país, hoje mergulhado num terreno pantanoso de instabilidade política, erosão de direitos sociais e trabalhistas, no desmonte do patrimônio público e sob um clima de desrespeito ao ordenamento jurídico. 

Hoje parece não haver mais nenhuma dúvida de que os "coxinhas" saíram às ruas para colocar no poder uma escória política que emite sinais de que podem conduzir o país para um impasse político de consequências imprevisíveis, dada a ilegitimidade, ao agravamento da crise econômica e às denúncias de corrupção que pairam sobre eles. Vamos ficar mais atentos a essas mobilizações populares mais recentes porque podemos estar diante de um movimento que aponta, como sugere, Nassif, para a defesa da democracia política no nosso país. É um bom começo, talvez um pouco ainda precipitado para fazermos alguma analogia com as famosas "Jornadas de Junho". Mas, repito, é um começo. Afinal, estamos em junho...