pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 3 de março de 2022

Tijolinho: As repercussões do "Acordo da Bahia' na quadra política pernambucana.



As caminhadas pela Av. Faria Lima, conforme afirmamos por aqui, faz muito bem para a saúde política do pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.  Como caminhar sozinho não é uma das melhores opções, ele prefere fazer essas caminhadas ao lado do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Assim, nos principais colégios eleitorais do país, o morubixaba petista tem celebrado alguns acordos políticos com o PSD de Gilberto Kassab. Um dos mais polêmicos - e que ainda deve render muitos ruídos, conforme afirmamos por aqui - é um acordo onde o PT rifa a candidatura do companheiro Jaques Wagner, abrindo espaço para a indicação do senador Otton Alencar, do PSD, concorrer ao Governo do Estado nas próximas eleições. 

Os ruídos são por conta das bases petistas, que não concordaram com o acordo de cúpula dos caciques das duas legendas. Lula, sobretudo agora, diante da reação nas pesquisas do presidente Jair Bolsonaro(PL), pretende apalpar as bochechas do enxadrista Kassab ainda no primeiro turno das próximas eleições. A princípio, as costuras estão sendo artiuladas nos principais colégios eleitorais, como afirmamos no início desta postagem. ocorre, porém, que tais negociações políticas podem ter seus reflexos na quadra política pernambucana, como, por exemplo, na escolha do nome que deve concorrer ao Senado Federal na chapa da Frente Popular. 

Em tese, depois de ter abdicado de indicar um cabeça de chapa para concorrer ao Governo, o Partido dos Trabalhadores teria primazia sobre a indicação do nome que deve concorrer ao Senado Federal. A arenga, porém, é grande na base aliada do governador Paulo Câmara(PSB-PE) em torno deste assunto. Outro dia, um político de perfil mais conservador estava observando que, caso se confirme a indicação de um nome do PT para compor a chapa, ela ficaria muito "esquerdista' e isso não seria politicamente a melhor solução. Neste cenário, cresce na bolsa de apostas o nome forte do PSD no Estado, o Deputado Federal, André de Paula, que, apadrinhado por Lula e por Kassab, torna-se um nome competitivo à indicação.   

quarta-feira, 2 de março de 2022

Editorial: Por dentro da nova pesquisa do PoderData sobre a corrida presidencial.



Instituto de pesquisa relativamente novo, ligado ao Portal Poder360, o PoderData vem realizando pesquisas importantes sobre a corrida presidencial de outubro próximo, na medida em que tem apresentado alguns fatos novos sobre as próximas eleições presidenciais. Salvo melhor juízo, foi o primeiro Instituto a observar uma reação do presidente Jair Bolsonaro(PL) nas pesquisas de intenção de voto, informação que seria confirmada logo em seguida por uma pesquisa da CNT. Agora, em pleno feriado de Momo, eles foram às ruas identificar como anda o humor dos eleitores em relação aos candidatos.  

A rigor, este último levantamento não traz grandes novidadas em relação às pesquisas anteriores - incluida aqui a do próprio Instituto PoderData - acerca do comportamento dos principais concorrentes, assim como da empacada terceira via. Talvez a maior novidades seja mesmo uma espécie de testagem do eventual candidato, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite(PSDB-RS), visto por alguns como alguém capaz de tirar a terceira via deste marasmo. Neste primeiro levantamento com o seu nome, a possibilidade de ele jogar uma injeção de ânimo na terceira via é bastante remota, pois ele crava 3%, rigorosamente, dentro do mesmo pelotão de candidaturas da terceira via que não consegue decolar, como João Doria(PSDB-SP), Simone Tebet(MDB-MS), por exemplo. Quem consegue se descolar um pouco é Ciro Gomes(PDT-CE) e o ex-juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro(Podemos). Eles empatam dentro da margem de erro.  

O que alguns analistas políticos estão observando é que o candidato do PT amarga um momento difícil, refletido nessas últimas pesquisas de intenção de voto. Para alguns, ele parece ter atingido o teto, a julgar por essas últimas pesquisas, todas, inexoravelmente, apontando uma estabilização dos seus índices, enquanto o opositor, Jair Bolsonaro(PL), esboça uma reação. No melhor momento para o candidato do Partido Liberal, a diferença estava em 9 pontos. Por essa última pesquisa, mesmo considerando a margem de erro de 2 pontos percentuais do DataPoder, a diferença que separa ambos candidatos é de 8 pontos. 

Uma pesquisa recente apontou que há um percentual expressivo de eleitores de perfil conservador entre os apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP). Faz algum sentido pela agenda do candidato e os padrões de alianças políticas e econômicas celebradas por ele. Outro dia ele mesmo teria afirmado que seria importante ampliar esse lastro com setores mais conservadores, ou seja, as caminhadas pela Farias Lima fariam bem à sua saúde política. Por outro lado, o petista sofre uma pressão muito forte de sua base de apoio mais renhida, que não suporta esses flertes com setores conservadores. Vive numa condição de equilíbrio instável. O que poderia estar determinando essa sua "estabilização" nas pesquisas, neste momento, poderia ser investigada por pesquisas qualitativas. Vamos aguardar um pouco mais. 

A mesma questão poderia estar sendo feita em relação a esta - ainda incipiente - reação do candidato Jair Bolsonaro nas últimas pesquisas de intenção de voto. Em tese, neste caso, fica mais simples entender. Uma pesquisa do IPESPE observou que melhorou o humor dos eleitores em relação à sua avaliação, assim como em relação à condução da política econômica. Soma-se a isso o arrefecimento das preocupações em relação à pandemia da Covid-19, que seria um fator importante para a tomada de decisão do eleitorado nessas próximas eleições presidenciais. Como sugeriu Guilherme Boulos(PSOL), é preciso colocar as barbas de molho.    

Os números: 

Lula 40%

Jair Bolsonaro 32%

Ciro Gomes 7%

Sérgio Moro 6%

Eduardo Leite 3%

João Doria 2%

Janones 2%


   

Editorial: Uma estratégia arriscada em tempos de polarização política.



Um bom debate para o editorial do dia de hoje,uma quaarta-feira de cinzas, poderia ser tentar responder a uma pergunta sobre quem, de fato, manda no PT. Partido orgânico, de base, com forte inserção nos movimentos sociais, o PT estabeleceu algumas regras de democracia interna para deliberar sobre as suas decisões. A democracia interna sempre constitui-se num grande diferencial do PT, fato resgistrado em estudos emblemáticos sobre o partido. Ao longo do tempo, com o processo natural de oligarquização - que envolveriam organizações partidárias e sindicais - essa característica foi se perdendo. 

Até recentemente, num acordo de cúpula com o PSD de Gilberto Kassab, Lula considerou a possibilidade de afastar o companheiro Jaques Wagner da disputa pelo Governo Baiano, abrindo espaço para o senador Otton Alencar(PSD), de bons momentos e de um excelente trabalho na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Covid-19. Otton seria um bom nome, não temos a menor dúvida sobre isso, mas a decisão parace ter provocado alguns ruídos nas bases partidárias do PT local. Já tivemos outros momentos onde esse embate entre a cúpula e as bases do partido se enfrentaram e também conhecemos o resultado ou desfecho da disputa. Afinal, ao longo dos anos, aquela agremiação partidária singular, criada na década de 80, fruto dos movimentos grevistas do ABC Paulista, mudou bastante.

Uma outra questão, também envolvendo o PT, diz respeito a eventual retomada da estratégia do porta a porta - já empregada no passado - para ser utilizada nessas próximas eleições presidenciais. Esta notícia está sendo posta por Robson Bonin, através da coluna Radar, da revista Veja. Nos tempos de tolerância do passado,onde se era possível discutir ideias, torcer por times diferentes, ter preferênfia"A" ou "B", nenhum problema. A questão, agora, conforme alerta Bonin, são esses momentos políticos bicudos que estamos vivendo, onde as indisposições políticas são a tônica. Concordamos com o articulista. Seria um risco tremendo um petista bater a porta de um bolsonarista raiz e tentar convencê-lo a votar em Lula. O momento político vivido pelo país é mesmo muito delicado.

A ilustração acima evidencia esses momentos que estamos vivendo, onde se observa um fazendeiro atancando manifestantes, de relho em punho, numa manifestação de rua, possivelmente num desses Estados do sul, onde os movimentos de ultra-direita avançam de forma significativa - e iqualmente preocupante. 

terça-feira, 1 de março de 2022

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: Lula consegue salvar o PSB?



Com este artigo, iniciamos uma série de publicações com o objetivo de analisar as próximas eleições estaduais para o Governo do Estado de Pernambuco. Talvez não seja o melhor momento para iniciarmos esta série, por estarmos em pleno feriado de Carnaval,numa terça-feira. Mesmo sendo um feriado atípico - pelas imposições restritivas determinadas pela Covid-19 - a classe política encontra-se em seus retiros e os formadores de opinião nos seus descansos merecidos. Nada mais natural, se considerarmos os tempos bicudos que estamos enfrentando, com um cardápio tóxico de mentiras(fake news), pandemia e guerra. Oxalá possamos superar esses dias logo, logo.

A produção desse material é uma prática recorrente aqui no blog, constituindo-se numa espécie de "memória' das eleições, seja no plano municipal, estadual ou federal. O blog já possui um bom material sobre este assunto, com possibilidades, quem sabe, de um dia transformá-los em livros. Assim foi com a primeira eleição de Geraldo Júlio(PSB) para a Prefeitura da Cidade do Recife, apontando, naquele momento, muito antes do final do pleito, que ele seria o novo prefeito do Recife. O artigo, "40 tons de amarelo', rendeu alguns aborrecimentos a este blogueiro, por incomodar o então candidato que disputava aquela eleição com o socialista. 

Reunimos material para um outro livro em relação à primeira eleição de Paulo Câmara(PSB-PE) para o Governo do Estado, assim como sobre a eleição e a derrocada da ex-presidente Dilma Rousseff(PT-MG), através daquele processo de impeachment nebuloso. Mas, vamos ao que interessa. Outro dia, um analista político aqui da província, em artigo, observou que os socialistas do Estado sabem "ganhar eleições". Convém sempre deixar claro que as últimas eleições municipais do Recife descambou para um contexto pouco republicano, com golpes abaixo da linha de cintura, atingindo opositores como a Deputada Federal Marília Arraes(PT-PE), assim como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tratado como um "rato' asqueroso, em cartazes apócrifos espalhados pela cidade.   

Depois de 16 anos ocupando o Palácio do Campo das Princesas, o PSB enfrenta um profundo desgaste. Pelo andar da carruagem política para a definição do nome que disputará o Governo nas próximas eleições, o grupo está dividido; a gestão da máquina tem sofrido severas críticas; há uma revoada de lideranças políticas do interior para as hostes oposicionistas que estarão disputando o Governo nas próximas eleições. São jovens prefeitos de oposição, com penetração política em regiões importantes do Estado, como o Sertão, o Agreste a a Região Metropolitana do Recife. Eles fecham o chamado "Triângulo das Bermudas", ou seja, colégios eleitorais decisivos numa eleição. Seguem em raias próprias, mas o fato, em si, pode ser até mais complicado para o PSB. 

No primeiro levantamento realizado pelo Instituto Opinião - divulgado pelo Blog do Magno Martins - sobre as intenções de voto para o Governo do Estado, o candidato socialista, o Deputado Federal Danilo Cabral(PSB-PE), aparece na rabeira, atrás dessas jovens lideranças políticas. Uma das possibilidades levantadas pode ter sido a demora na escolha do nome do candidato da situação, enquanto os menudos já estavam gastando sola de sapato há algum tempo. Mas, por outro lado, pode não ser só isso, se considerarmos a fadiga de material da gestão socialista ao longo desses 16 anos de governo. 

Como em nenhum outro momento, eles se tornaram luladependentes. Apostam todas as fichas na liderança do petista para reverter essa tendência, hoje, desfavorável, reflexo do grande desgaste da gestão. Convém deixar claro que a hipótese de Lula reverter essa situação é apenas uma hipótese. Desconheço alguma pesquisa indicando o quanto Lula poderia transferir de votos ao candidato Danilo Cabral. Sabe-se que seu prestígio político na região é inegável, mas, por outro lado, continuamos no terreno das hipóteses. Em São Paulo, por exemplo, o IPESPE já realizou uma série de pesquisas com tais características, uma delas envolvendo o eventual candidato ao Governo do Estado, Fernando Haddad(PT-SP). O objetivo era entender o quanto Lula poderia ajudar Haddad a chegar ao Palácio dos Bandeirantes. Naquela praça, o andor precisa ser carregado por dois atores políticos: Lula e Geraldo Alckmin. Além de emprestar um verniz conservador à chapa de Lula - um dado importante para o petista manter-se competitivo - Alckmin poderia ajudar bastante o candidato Fernando Haddad, caso o PT não abdique de sua candidatura para apaziguar os ânimos com os socialistas do PSB.   

Charge1 Duke via O Tempo!

 


Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Editorial: Para onde caminha Geraldo Alckmin?



Mesmo diante de um feriado de carnaval atípico - ainda imposto pelos cuidados em relação à pandemia da Covid-19 - percebe-se uma escassez de notícias sobre o mundo da política. Poderia ser ainda pior se os foliões estivessem nas ruas, bebendo, pulando, brincando - e disseminando o vírus - nesses dias destinados aos festejos de Momo. Melhor assim, para evitarmos uma nova onde de Covid-19 logo depois dessas aglomerações. Aqui em Olinda, parece que alguns foliões resolveram ignorar o decreto do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal da Cidade, abrindo bares e colocando o bloco nas ruas. Muito trabalho para a Polícia Militar, que precisou conduzir alguns deles à delegacia por desrespeito às normas estabelecidas. O grau de insensatez ainda é muito alto entre os brasileiros. 

Estamos vivendo a fase da saturação dos cuidados. Você vai numa feira livre e observa que nem 10% dos vendedores fazem o uso da máscara. Mas, a sempre atualizada colunista da revista Veja, Clarissa Oliveira, traz algumas informações importantes sobre um possível final da novela envolvendo o destino do ex-governador Geraldo Alckmin(Sem Partido). Salvo melhor juízo, a possibilidade de ele compor uma chapa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na condição de vice, seria prego batido de ponta virada. A questão agora é sobre o partido ao qual ele irá filiar-se nas próximas semanas, já na reta final da janela partidária. 

A probabilidade maior seria o PSB,embora a relação desse partido com o PT, hoje, não seja das melhores, principalmente em praças como São Paulo e Espírito Santo. Como Lula hoje caminha de mãos dadas com Gilberto Kassab(PSD-SP) pela Av. Farias Lima, chegou a se cogitada a possibilidade de uma eventual filiação de Alckmin ao PSD. São apenas especulações, mas não se pode perder de vista que há um interesse de Lula em fechar acordos com o PSD nos principais colégios eleitorais do país. São Paulo é o maior deles, sendo decisivo na definição de uma eleição presidencial. O entusiasmo da cúpula petista com a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad(PT-SP) tem dificultado um pouco as negociações políticas.

A novela Lula\Alckmin, assim como os folhetins mexicanos é longa. O ex-governador está abandonando o ninho tucano com um poço até aqui de mágoas. Não sem bons motivos para isso, registre-se. Mesmo em tais circunstâncias, caso viesse a candidatar-se ao Governo do Estado teria boas chances de sentar-se na cadeira de governador do Palácio Bandeirantes. Muitas analistas observam que ele, ao aceitar ser vice de Lula, estaria deixando o certo pelo duvidoso, uma vez que poderia tornar-se uma vice de burocracia, sem a envergadura política que ele ostenta. Vamos aguardar os próximos passos, mas a decisão de ser vice parece-nos favas contadas.  

  

Charge! Montanaro via Folha de São Paulo

 

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Editorial: Voto evangélico, este cobiçado objeto de desejo dos candidatos presidenciais



Não faz muito tempo, a imprensa informou que os estrategistas de campanha do candidato do Podemos à Presidência da República, Sérgio Moro, estavam definindo uma estratégia sobre como estabelecer um diálogo com os evangélicos, de olho na próxima eleição presidencial de outubro. Iriam entrar com cuidado - só no sapatinho - para não espantar o rebanho, tradicionalmente vinculado ao núcleo duro dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro(PL). Aliás, na última eleição, tal apoio foi fundamental para a eleição de Jair Bolsonaro. Num passado recente -leia-se a última eleição onde Dilma Rousseff(PT-MG) sagrou-se vitoriosa - o PT frequentava os círculos de oração e não perdia uma lição dominical.

Ao longo dos anos, foi perdendo essa capilaridade, tornando-se no dizer dos evangélicos, um "desviado". Mas, como recomenda as próprias escrituras sagradas, o bom filho pode retornar à casa e já existe bons interlocutores petistas neste meio tentando fazer de Lula um "novo convertido". Mas, por outro lado, não se tem dúvidas sobre a hegemonia do atual presidente Jair Bolsonaro entre esse eleitorado. Curiosamente, em razão das disputas políticas em Brasília, esboça-se,no meio, uma possível divisão. Setores organicamente ligados ao PP, o rebanho comandado pelos bispos RR Soares e Edir Macedo esboçam uma insatisfação com o presidente Jair Bolsonaro.

Edir Macedo, por exemplo, não teria engolido a protelação da indicação do bispo Marcelo Crivella para uma embaixada na África do Sul. Mas isso não quer dizer muita coisa, se considerarmos as afinidades de pautas entre este Governo e os segmentos evangélicos. O problema de Lula é mais complexo. Além de ter perdido terreno ao longo dos anos, ainda enfrenta as dificuldades de articular-se com tais segmentos, sem perder espaço, por exemplo, entre os grupos feministas, na agenda de costumes. Questões de gênero no currículo escolar, as polêmicas em torno do aborto, além de outros temas não menos polêmicos.

Salvo melhor juízo, em termos percentuais, os evangélicos constituem um eleitorado em torno de 20% do total de votantes. É um percentual bastante expressivo e pode fazer a diferença numa eleição, como, aliás, já fez nas eleições mencionadas acima. Eis aqui uma questão que intriga - e preocupa - o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que diz não conseguir entender como o PT perdeu esse contato. Muito simples. Ao longo dos anos, o PT passou por um processo de oligarquização e perdeu adubo orgânico, ou seja, com as bases. Salvo melhor juízo, no passado o PT tinha núcleos organizados por evangélicos, no partido, apenas para fortalecer esses vínculos.

Os Engenhos de Açúcar

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Editorial: O inusitado arranjo político do PT na Bahia.


Numa reflexão recente sobre as próximas eleições presidenciais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP) chegou a duas conclusões:a) a eleição de outubro não está ganha. b) seria necessário intensificar as caminhadas pela Av. Faria Lima, vale dizer, continuar flertando com os setores conservadores. Neste sentido, apertar as bochechas de Gilberto Kassab, Presidente Nacional do PSD, ainda no primeiro turno - com o perdão dos petistas mais radicais - seria um sonho de consumo. Habilmente, Lula tem feito o possível e o impossível para materializar tal objetivo. Depois dessa última pesquisa do IPESPE apontar que um percentual expressivo do seu eleitorado é de matriz conservadora, aí sim, é que ele se sentiria mais à vontade nessas investidas. Afinal, o petista raiz, apesar dos protestos, não mudaria o seu voto, tampouco, sozinho, garante seu assento no Palácio do Planalto. 

José Casado, articulista da revista Veja, em sua coluna, faz uma análise dos reflexos dessa aproximação entre Lula e Gilberto Kassab, tendo como referência a quadra política do Estado da Bahia. Na realidade, as articualções entre PT e PSD envolvem os maiores colégios eleitorais do país, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, que seria o quarto colégio eleitoral. Naquele Estado, o PT poderia abrir mão da candidatura do ex-governador Jacques Wagner(PT-BA) em nome do senador Otton Alencar, do PSD, que se notabilizou nacionalmente pelo brilhante - e bem humorado - trabalho durante a CPI da Covid-19. 

Rui Costa, atual governador, sairia como candidato ao Senado Federal, assumiria o governo o vice, João Leão, do PP, um partido que, apesar de integrar o Centrão, anda às turras com o presidente Jair Bolsonaro(PL), em razão, naturalmente, de alguns "mimos' não atendidos. Um arranjo de cúpula perfeito entre PT e PSD, exceto pelos danos colaterais nas bases petistas daquele Estado, por sinal muito ativas, que demonstra uma insatisfação com os arranjos entre os dois grêmios partidários. Depois de 16 anos consecutivos no poder, seria natural que a gestão petista enfrentasse uma espécie de fadiga de material, abrindo espaço político para o crescimento do Carlismo, representado ali pelo neto de Antonio Carlos Magalhães, ACM Neto, ex-prefeito da capital, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto realizadas até o momento. 

Acredita-se que, quando Lula entrar de sola na campanha, essa tendência possa ser revertida, trazendo bons ventos para o senador Otto Alencar. O neto de ACM joga pesado nessa eleição. Remove com precisão cirúrgica qualquer embaraço político que esteja sendo criado, entre os alidos, contra essa sua ideia fixa de retomar o poder naquele Estado. Naquela praça, certamente, será travada uma batalha política das mais renhidas do Brasil. Vamos ficar de olho e acompanhar os próximos passos.        

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


Editorial: As curiosidades da nova pesquisa IPESPE sobre as próximas eleições presidenciais.


Dizia nossos avós que mingau quente se come pelas beiradas para não queimarmos a língua . Num dos últimos editoriais que escrevemos, afirmamos não ter dúvida acerca de uma eventual reação do presidente Jair Bolsanaro(PL) nas pesquisas de intenção de voto. A primeira, do IPESPE, apontou uma melhoria dos seus índices de aprovação e uma melhor percepção do eleitorado sobre a condução ou os rumos da política econômica. Neste aspecto, é possível que o começo do pagamento do Auxílio Brasil tenha exercido algum reflexo sobre tal percepção. Duas pesquisas seguintes, uma do PoderData e a outra da CNT, apontavam para um eventual crescimento do candidato Jair Bolsonaro(PL), na medida em que confirmavam a diminuição dos índices de diferença que o separavam do candidato Luiz Inácio Lula da Silva(PLT-SP).

Assim que esta luz amarela acendeu -instigado pela coluna do jornalista Matheus Leitão, de Veja, que também levantou a lebre sobre o voto conservador em relação aos dois principais concorrentes - o cientista político pernambucano, Antonio Lavareda, aconselhou cautela no tocante a se confirmar ou não esta eventual ascendência de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. Hoje, dia 25 de fevereiro, o IPESPE, divulga os dados de uma nova pesquisa de intenção de voto, onde se observa um quadro de "normalidade', neste caso traduzido como de estabalidade dos índices dos dois concorrentes à Presidência da República, ou seja, em princípio, nada de novo no front. O candidato do PT aparece com 46% e Jair Bolsonaro, do PL, crava 26%. Num cenário mais favorável a Jair Bolsonaro, a diferença entre ambos chegou a ficar em 9 pontos percentuais. No nosso modesto entendimento, essa última pesquisa XP\IPESPE não confirma a DataPoder nem a CNT 

Por outro lado, como as pesquisas realizadas pelo IPESPE contam com a espertise e o olhar aguçado de um grande especialista no assunto, é natural que ele consiga observar algumas nuances, ler nas entrelinhas, onde os outros só enxergam os números. Nesta última pesquisa não foi diferente, tendo o cientista político observado duas características importantes: Um percentual expressivo do eleitorado "Deus, Família e Propriedade", ou seja, o eleitor conservador, está com Lula. Bolsonaro, que, em tese, teria as melhores condições de atrair este eleitorado não o está conseguindo de forma ideal ou dentro de uma perspectiva de ampliá-lo. Observa-se infidelidades (Ops!leia-se defecções) até mesmo dentro do núcleo duro dos evangélicos de orientação neopentecostais, como é o caso de setores ligados ao Partido Progressista. Não por razões ideológicas, mas por motivações fisiológicas propriamente ditas, uma vez que o presidente teria deixado de atender alguns pleitos do bispo.  

O fato de, em parte, estar sendo apoiado por um eleitorado de perfil conservador poderia, igualmente, representar uma dorzinha de cabeça para Lula, caso ele consiga chegar ao Planalto, uma vez que esse eleitorado, possivelmente, não aprovaria suas reformas ou os acenos ao petismo raiz, como, por exemplo, eventuais reestatizações ou a volta da Legislação Trabalhista, como se tem vazado para a imprensa. Lula, à medida em que afaga as bochechas de Gilberto Kassab(PSD-SP) - e passeia de mãos dadas com o futuro aliado pela Farias Lima - passou a fazer acenos à sua base de apoio mais renhida, o que não deixa de ser um problema para o seu contingente de eleitores de perfil mais conservador. As dores de cabeça podem vir antes mesmo de ele ser eleito, meu caro Antonio Lavareda.

P.S.: Contexto Político: O eleitorado evangélico, num passado recente, já foi responsável pela eleição da ex-presidente Dilma Rousseff(PT-MG) e de Jair Bolsonaro(PL) na última eleição presidencial. Como observamos no texto acima, há, de fato, uma insatisfação de determinados segmentos com o presidente Jair Bolsonaro, como, por exemplo, na não indicação do bispo Marcelo Crivella para ocupar uma embaixada na África do Sul, assim como uma queixa do PP de que setores do Governo estariam dificultando a filiação de parlamentares à legenda, profundamente identiicada com os evangélicos. Outra queixa é a condição privilegiada de interlocução com o presidente, exercida hoje pelo líder Silas Malafaia. Tudo muito pontual, nenhuma razão ideologica mais substantiva. Já o PT, que tenta reabrir os canais de diálogo com este segmento evangélico enfrenta um grande obstáculo: a tal pauta de costumes. Afinal, não se pode servir a dois senhores. Está na Bíblia, diriam os evangélicos.          

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Editorial: Lula já acusa o impacto do crescimento de Jair Bolsonaro



Depois de três pesquisas de intenção de voto apontarem uma reação do presidente Jair Bolsonaro(PL) - e uma advertência do companheiro Guilherme Boulos(PSOL) - Lula parece ter entendido que chegou o momento de começar a usar uma linguagem mais contundente para enfrentar o crescimento do bolsonarismo. Pela suas redes sociais, ele chama a atenção dos brasileiros para a necessidade de um enfrentamento mais efetivo de um governo autoritário. É preciso tomar muitos cuidados com essas estratégias que, por vezes, ou não se configuram como uma reação com resultados positivos ou podem, até mesmo, ter um efeito contrário, do tipo massa de bolo, sobretudo num pleito como o nosso, com essa intermitente polarização. 

Hoje este editor não tem mais dúvidas sobre uma reação do presidente Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. A lógica de racionalidade é clara. Um primeiro levantamento apontou uma melhoria nos seus índices de avaliação e uma melhoria na percepção do eleitorado sobre os rumos da economia. As duas pesquisas subsequentes, por seu turno, confirmaram o que já se esperava, ou seja, o crescimento da candidatura do presidente, ao diminuir a diferança que o separava do petista. Duas pesquisas de intenção de voto - realizadas depois da IPESPE - confirmaram essa tendência: a do PoderData e a da CNT.

Como mostramos aqui, o companheiro Boulos acendeu a luz amarela em torno do assunto, ao advertir sobre o perigo do impacto de um programa como o Auxilio Brasil num momento como este, onde existem 18 milhões de cidadãos e cidadãs - com título de eleitor - que receberão o benefício. É um contingente que, dada a premência da necessidade - por estarem passando fome - ficam numa situação de extrema vulnerabilidade, pouco se importando que se trate de um programa com prazo de validade determinado. 

Não deixa de ser curioso que, até bem pouco tempo, Lula estava preocupado com o fato de que o presidente Jair Bolsonaro estava derretendo muito rápido. Parou de derreter e está até crescendo nos últimos levantamentos de intenção de voto, o que implica em novos padrões de preocupações. O aliado Randolfe Rodrigues, senador pelo Amapá, desistiu do projeto de concorrer ao Governo do Amapá para assumir um posto estratégico na campanha do petista, sempre afirmando ser mais importante, neste momento, derrotar o presidente Jair Bolsonaro. Colocando mais lenha na fogueira da polarização, afirma ser uma luta da democracia contra o autoritarismo.    

Tijolinho: Raquel Lyra lidera a corrida pelo Palácio do Campo das Princesas.



Liderando as primeiras pesquisas de intenção de voto como candidata ao Governo do Estado, seria natural que batesse aquele entusiasmo entre os partidários e o staff de campanha da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), o que justifica o fato de tanto alarde em torno do assunto. Claro que muita água ainda irá rolar no rio dessas eleições até outubro, mas um dado nada desprezível neste contexto é que a prefeita mantém uma estabilidade nas pesquisas desde algum tempo. Ela desponta, como observam alguns dos seus correligionários, como uma espécie de fenômeno eleitoral. 

É mulher, tem carisma, vem ancorada numa gestão bem avaliada pela população, mesmo assim, ainda precisamos explicar como ela consegue erradiar essas energias positivas por todo o Estado de Pernambuco, tendo caído em campo - através do Movimento Levanta Pernambuco - até bem pouco tempo.Talvez algumas pesquisas qualitativas pudessem ajudar no sentido de desvendar esse "fenômeno". Uma das possibilidades é o fato de ser mulher, pois as mulheres - tanto no Executivo quando no Legislativo - estão fazendo a diferença na política pernambucana. Em torno dela gravitam, inclusive, a "danadinha" da Priscila Krause e a guerreira Marília Arraes, com quem tem uma boa interlocução. Ambas muito cotadas na bolsa de apostas eleitorais. Marília aparece muito bem como alternativa ao Senado Federal, de acordo com levantamento do Instituto Opinião, assim como existe uma verdadeira torcida para que Priscila integre uma chapa com Raquel Lyra. 

Raquel sofre uma oposição cerrada dos seus adversários políticos em Caruaru, mas nada disso consegue ofuscar o seu brilho. Raquel enfrenta algumas dificuldades pontuais, como a necessidade de tornar-se mais conhecida em redutos metropolitanos e do Sertão do Estado, mas as costuras políticas estão apenas no começo. Um outro problema são essas composições partidárias, formação de chapas proporcionais, mas isso é um problema generalizado. Já há quem esteja jogando a toalha em relação a essas federações. Até o momento, apenas uma foi formalizada, reunindo o PSDB e o Cidadania.  

Tijolinho: Miguel Coelho parte com uma boa margem do Sertão do São Francisco.


O blog do Magno Martins, a partir de pesquisas realizadas pelo Instituto Opinião, sediado em Campina Grande, está trazendo uma série de informações importantes no que concerne ao comportamento do eleitorado pernambucano, aferidas através das pesquisas de intenção de voto. Não nos ocorre de algum outro órgão de comunicação está realizando algum trabalho deste gênero aqui em Pernambuco, o que dimensiona, ainda mais, a sua importância. Os resultados estão sendo publicados paulatinamente, gerando uma grande expectativa entre os atores políticos e formadores de opinião. 

Numa dessas postagens, o blog divulga os resultados obtidos pelo prefeito de Petrolina, Miguel Coelho(DEM), e a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), que possuem bases eleitorais em regiões importantes do Estado. Miguel Coelho no Sertão do São Francisco e Raquel Lyra no Agreste. O start regional de Miguel Coelho é bem superior ao de Raquel Lyra em suas respectivas regiões. Enquanto o prefeito de Petrolina crava 70,5%, Raquel Lyra aparece com 38,2%, na região do Agreste. A capilaridade política da familia Coelho em Brasília - ou com o Governo Bolsonaro, propriamente dita - não tenham dúvidas de que facilitou bastante os caminhos da construção de uma gestão bem-sucedida do herdeiro do clã em Petrolina. 

Ancorada em bons projetos e entregando obras à população, sua gestão tornou-se uma das mais bem-avaliadas no Estado, o que explica essa performance. Raquel também tem seus interlocutores em Brasília, mas, não necessariamente com o mesmo azeite político do prefeito de Petrolina.Isso não desmeresse em nada o dinamismo e a competência do prefeito Miguel Coelho, mas, que uma ajuda dos padrinhos políticos contribui, isso sim. No contexto do Estado, a prefeita de Caruaru, lidera a corrida pelo Palácio do Campo das Princesas, com 18,4% das intenções de voto.    

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Editorial: As incríveis movimentações do enxadrista Gilberto Kassab



Parece não haver dúvidas, no meio político e entre jornalistas e analistas, sobre quem melhor se movimenta no tabuleiro da política brasileira neste momento: Gilberto Kassab, Presidente Nacional do PSD. Embora, por vezes, faça uma jogada errada aqui e ali, Kassab tornou-se um ator político decisivo para o próximo pleito presidencial e não é apenas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não vê a hora de apertar aquelas bochechas, de preferência ainda no primeiro turno das eleições de outubro. Até recentemente, Kassab mantinha um bom diálogo com o governador João Doria(PSDB_SP), que deve estar lamentando profundamente a indisposição criada entre ambos. 

Kassab se movimenta com muita habilidade no tabuleiro político, confundindo adversários, pontuando as falas de forma correta, sabendo, com maestria, identificar aquilo que pode - e até precisa - ser divulgado e os assuntos que precisam serem mantidos nas coxias, nos burburinhos, nos bastidores, nos escaninhos. Um bom exemplo é em relação ao suposto convite ao governador gaúcho, Eduardo Leite(PSDB-RG), para entrar na legenda e habilitar-se a concorrer à Presidência da República nas próximas eleições. 

Em entrevista recente, ele negou que tivesse formulado o convite,mas há quem jure de pés juntos que o convite foi formulado e nesses termos. O fato concreto é que o Eduardo Leite teria ficado estimulado com o convite, provocando uma romaria de tucanos do bico fino ao seu reduto, no sentido de dissuadi-lo da ideia de sair do ninho. Como um bom enxadrista, Kassab sabe se colocar no jogo político, numa posição que o faculta a realizar jogadas capazes de fazer a diferença no tabuleiro. Há quem diga, até, que toda essa movimetação, ao cabo e ao meio, teria como propósito único, na realidade, credenciá-lo a tornar-se o vice de Lula. Difícil saber o que se passa na cabeça do jogador Kassab.  

Há alguns anos atrás escrevemos um artigo onde falávamos sobre uma jogada de mestre do ex-governador Eduardo Campos, então candidato presidencial às eleições de 2014, quando este conseguiu fechar um acordo com o político paulista, exatamente, por entender a importância de entrar no celeiro votos que representa o Estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Portanto, não é de hoje que este político fica tão bem colocado dentro de campo, tornando-se uma peça chave para os times de situação e de oposição, seja qual for a matriz ideológica.   

Editorial: Sinal de alerta na campanha petista com a CNT confirmando PoderData.

 


Ainda é necessário esperar um pouco mais, mas o fato concreto é que duas pesquisas de intenção de voto, realizadas dentro de um pequeno intervalo de tempo entre uma e outra, emitem indicadores de uma possível reação do presidente Jair Bolsonaro(PL)na disputa das eleições presidenciais de outubro. Com ligeiras variações - que podem ser creditadas às margens de erro - algo em torno de 23% do eleitorado demonstra estar fechado com o Jair Bolsonaro(PL) desde o início desses levantamentos. Trata-se daquele eleitorado raiz, com contornos bem definidos, na maioria dos casos ligados ao estamento militar ou aos grupos evangélicos neopentecostais. 

Este é um núcleo duro, praticamente impenetrável, assim como ocorre igualmente em relação ao seu principal oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT). Cada qual no seu quadrado. Duvido que Bolsonaro tenha algun voto no MST, por exemplo. A pesquisa do PoderData, já comentada por aqui, acendeu o alerta no comitê petista, ao apontar um ainda incipiente crescimento do presidente Jair Bolsanaro. Ele havia diminuido de 14 pontos para 09 a sua diferença em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Essa pesquisa apresentava dois dados importantes que poderiam justificar esse eventual crescimento de Jair Bolsonaro, algo que já havia sido detectado por uma pesquisa anterior, realizada pelo Instituto IPESPE, comentada por aqui, ou seja, ali ele conseguia uma melhoria nos índices de aprovação, assim como havia indicadores que apontavam uma melhoria do humor dos eleitores em relação aos rumos da política econômica. Dois fatores decisivos num processo de recondução de um mandatário. Nesta eleição entraria um terceiro fator, a conduta do gestor público durante a crise sanitária provocado pela pandemia do coronavírus. 

A julgar pelo comportamento da população em relação a este assunto - que parece  estar sendo incorporado ao nosso cotidiano como algo ja endêmico, aliado à saturação dos cuidados preventivos dos cuidados, numa espécie de "fadiga' - e o que está ocorrendo em São Paulo, onde o governador João Dória(PSDB-SP) não consegue capitar os "dividendos" de melhor gestor público no trato dessa questão, talvez seja o caso de se reavaliar o seu peso nessas eleições. 

No geral, a pesquisa CNT, apenas confirma  que a pesquisa do Poderdata estava correta, ou seja, há indicadores de crescimento e, possivelmente, uma avenida de oportunidades ao presidente Jair Bolsonaro para reagir nas pesquisas de intenção de voto, indicando aquilo que todos ja sabiam: estamos apenas no começo do jogo. Como alertou o presidente do PSOL, Guilherme Boulos, com o Auxilio Brasil Bolsonaro pode provocar um tsunami nos redutos empobrecidos da periferia, um eleitorado muito identificado, a princípio, com o petismo. E vem mais coisas por aí, afinal ele está com a caneta. 

Tijolinho: "Severino Bucho-Azul" foi selecionado


Machado de Assis dizia que o conto era um dos gêneros literários mais difíceis. Quando Machado de Assis diz alguma coisa, é preciso levá-lo a sério. Machado foi bom em tudo que escreveu, inclusive no gênero conto. O conto reúne muitos elementos comuns ao romance, mas o cabra precisa ser hábil para contar a estória em poucas - mas bem traçadas - linhas, prendendo a atenção dos leitores até o desfecho final. Um conto amplicado, em alguns casos, pode se tornar um romance, porque, ali, já se encontram os elementos fundamentais para desenvolver uma boa estória. Foi o que ocorreu com o nosso primeiro romance. 

Numa linguagem concisa, prosáica, recheado de elementos telúricos, mas sempre seguindo uma lógica interna bem definida pelo gênero, produzimos alguns contos experimentais, muito mais como uma espécie de treinamento pessoal, algo que nos impusemos com uma disciplina espartana. Nessas viagens, já levamos Ray Bradbury, autor de Fahrenheit 451, ao Alto da Sé, aqui em Olinda, onde ele se mete numa tremenda confusão com bolsonaristas negacionistas. Não sabemos se todos os bolsonaristas são negacionistas, enfim. Isso, naturalmente, depois de experimentar as tradicionais tapiocas recheadas do local. Não ficamos por aqui. Depois, fomos a Paris, para conversar com Jean-Luc Godard sobre a sua fase maoísta, que ele passou a considerar ainda mais importante do que o período do Nouvelle Vague. Acabamos desembarcando em Cuba, num turismo revolucionário, mantendo um diálogo primoroso com Thomaz Gutiérres Alea, com o propósito de concluir nosso trabalho num curso de cinema e marxismo. A ficção nos leva para qualquer luga.  

Mas, foi um conto ambientado em Paulista, que fica na região metropolitana do Recife,  a nossa cidade natal, o selecionado por uma Academia de Letras para uma publicação, entre milhares de concorrentes,de todos os Estados da Federação e de diversos países, conforme observaram os organizadores. É um conto simples, mas está muito bem construído como gênero conto, uma característica que deve ter levado os jurados a escolhê-lo para publicação. O conto tem alguns elementos ficcionais, mas, de fato,  Severino Bucho-Azul existiu. Era um ex-vigia da Companhia de Tecidos Paulista, que morava nos arrabaldes da Vila Operária, num sítio cheio de araçás, ingás, mangas rosa e sapotis, onde os meninos locais exercitavam suas diablices de infância. 

Ganhou essa alcunha dos moradores locais em função de uma cirurgia no abdômen, que lhes deixou uma enorme cicatriz, segundo dizem, azul. Andava sempre de camisa, para escondê-la do público, mas curiosidade de criança é terrível, como bem sabem os leitores. Depois de muitas investidas sem sucesso, conseguimos um flagrante numa bela manhã, bem cedinho,escondido por trás dos pés de bananeira,  quando o caboclo ainda escovava os dentes no quintal. Como, nessa época, água encanada era algo raro, era comun as pessoas se dirigiram ao fundo da casa com um caneco cheio de água e uma escova de dentes. Ele se permitiu o discuido. Estava sem camisa e deu para observarmos a enorme cicatriz. Ao contrário do que se dizia, não era azul, mas verde. Corria o boato, entre os moradores da Vila Operária, que, depois de tantas maldades cometidas durante o ofício de vigia, ele passou a virar lobisomem nas noites de lua cheia, mas isso vocês poderão ler no próprio conto, que será distribuído em diversas bibliotecas e outros centros de interesse literário no país e no exterior. Melhor notícia depois de ter superado uma Covid-19.    

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Charge! Duke via O Tempo

 


Editorial: Por que João Doria não cresce?


O jornalista José Casado, colunista e articulista da revista Veja, chama a nossa atenção para um fenômeno que precisa ser decifrado pela ciência política: o desempenho, como pré-candidato presidencial, do governador paulista João Doria(PSDB-SP). O Instituto IPESPE tem realizado algumas pesquisas naquela praça e uma delas traz algumas informações sobre a avaliação do governo do tucano, cujo partido, no dia de ontem, fechou uma federação com o Cidadania. A grande questão a ser respondida - se formos capazes de decifrar o inigma, como sugere José Casado - é por que Doria não deslancha como opção presidencial da terceira via, mesmo com uma avaliação positiva de 24%, à frente de um Estado que é o maior colégio eleitoral do país, com o capital político de ter se antecipado e tomado as medidas corretas no que concerne ao enfrentamento da pandemia do Covid-19? 45% dos paulistanos aprovam sua conduta durante o período, mas apenas 5% sugerem uma inclinação para apoiá-lo numa corrida presidencial, ainda segundo a pesquisa do IPESPE. 

Como carregador de andor, ele também não vai bem, segundo a mesma pesquisa, indicando que não seria capaz de levar o eleitor a votar num candidato apoiado por ele para substitui-lo no Palácio dos Bandeirantes. O seu candidato é Rodrigo Garcia(PSDB. 43% dos paulistanos não estão dispostos a seguirem sua orientação. Como sugere o articulista da revista, trata-se de um fenômeno a ser desvendado pelo ciência política. Quem sabe as pesquisas qualitativas pudessem contribuir de forma mais efetiva para desvendar esse mistério. 

Numa das últimas pesquisas de intenção de voto realizadas pelo mesmo Instituto, entre os pré-candidatos à Presidência da República, ele chegou a empatar, dentro da margem de erro, com um novato e até então desconhecido Deputado Federal André Janones, do Avante, cuja candidatura foi lançada até recentemente, quando se sabe, desde de longas datas, que Dória não teria limites para as suas ambições políticas e a presidência do país sempre esteve nos seus planos.

Certa vez Geraldo Alckmin - um desafeto que Doria deixou pelo caminho -cunhou uma frase emblemática sobre o perfil do governador paulista ao afirmar que ele estaria introduzindo elementos do mundo corporativo para a condução dos negócios públicos e isso nao seria aconselhável. O ex-govarnador Márcio França, durante um debate com o João Doria, apontou algumas contradições do então candidato, que dita seu prumo político apenas com a conveniência que lhes convém. 

Segundo Márcio França(PSB_SP) - não é este editor que está afirmando e pode ser visto em plataformas como o YOUTUBE  - Doria teria pedido dinheiro emprestado ao BNDES, quando este banco era administrado pelo governo da coalizão petista. Naquele mesmo debate, não cansava de chamar o ex-presidente Lula de "ex-presidiário'. Até recentemente, quem são se lembra, esteve alinhado com o bolsonarismo para chegar ao governo paulista. Logo depois, Jair Bolsonaro(PL) tornou-se um dos seus maiores desafetos na política. Como bater em Bolsonaro hoje talvez não seja a melhor estratégia, já assumiu que irá para cima de Lula. Meu caro colunista, o eleitor não é bobo. 

P.S.: Contexto Político: Além das variáveis mais comuns - como o índice de avaliação do governo - segundo os próprios institutos de pesquisa puderam aferir, o comportamento do gestor público durante a pandemia da Covid-19, seria um outro fator que teria uma importância no voto do eleitor. Passado o tempo e com a pandemia "sob controle', este fator poderia estar perdendo seu poder discriminatório junto ao eleitorado, daí, talvez, se entender o porque do trunfo de Doria estar enfraquecido, embora o recado do eleitor pareça estar bastante claro: ele foi um bom gestor da crise, mas nós não o queremos como presidente. Embora ainda tenhamos um tempo longo até as eleições de outubro, convém não esquecer que algumas favas já estão sendo contadas. Por exemplo, há quem não mais acredite numa reação da chamada terceira via. É curioso esse mundo da política. Existe a informação de que alguns assessores do presidente Jair Bolsonaro(PL) estariam aconselhando-o a se vacinar. Assim, segundo esses conselheiros, ele ficaria em pé de igualdade com Lula e poderia vencer as eleições.  

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Editorial: As preocupações de Guilherme Boulos com um eventual crescimento de Jair Bolsonaro



Prudência e caldo de galinha - mesmo com pés e pescoço - não fazem mal a ninguém, já dizia este editor, em editorial aqui publicado. Dependendo do Instituto, há diferenças signficativas de métodos utilizados para aferir as intenções de voto do eleitorado neste ou naquele candidato. Todos, no entanto, são orientados por metodologias científicas que, resguardadas as margens de erro, acabam captando tendências corretas acerca do comportamento do eleitor. Tem repercutido bastante na imprensa e no meio político uma pesquisa realizada pelo PoderData, uma espécie de Instituto de Pesquisa do Portal Poder360, onde o presidente Jair Bolsonaro(PL) diminui a sua diferença para o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto até este momento. 

De acordo com o DataPoder, a diferença entre ambos - que já foi de 14 pontos, apontada, acredito, pelo próprio Instituto em pesquisa anterior - diminuiu para 9 pontos em pouco mais de uma semana. Até recentemente, O próprio Lula admitiu para interlocutores que a eleição não estava ganha, sendo necessário ampliar o diálogo com a Faria Lima, ou seja, com os setores mais conservadores do espectro político. A tentativa de trazer o PSD para a sua campanha ainda no primeiro turno das eleições pode ser entendida como uma dessas estratégias. O danado é que Gilberto Kassab, presidente da legenda, insiste numa candidatura própria do partido. Muito sensatamente, através de suas redes sociais, o Presidente Nacional do PSOL e ativista político Guilherme Boulos, manifestou uma preocupação com um eventual crescimento da candidatura do presidente Jair Bolsonaro, principalmente entre os eleitores da preriferia, notadamente em razão da distribuição do Auxílio Brasil.

Segundo Boulos - no que concordamos - receber um auxílio emergencial de R$ 400,00 para quem está com a despensa vazia e ameaçado de ser despejado pode ter um efeito signficativo junto a este eleitorado, incapaz de entender que tal situação pode ter chegado a estes níveis em decorrência de problemas de gestão da máquina pública. Até recentemente, ouvido pela reportagem da revista Veja, o cientista político pernambucano, Antonio Lavareda, aconselhou que seriam necessários aguardarmos um trimestre para se falar numa eventual tendência. Naquele momento, entretanto, uma pesquisa do próprio IPESPE apontava que a avaliação do Governo Bolsonaro estava melhorando e a percepção sobre os rumos da política  econômica igualmente. 

São pertinentes as preocupações de Guilherme Boulos, principalmente sobre um eventual avanço do bolsonarismo justamente num segmento do eleitorado tradicionalmente identificado com o petismo, localizado, sobretudo,em regiões como o Nordeste, que sempre esteve votando em Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP). A mensagem do bolsonarismo pode estar chegando aos setores periféricos do eleitorado. Não desejo aqui levantar nenhuma hipótese, mas fazer uma provocação: Se, de fato, o bolsonarismo está crescendo junto ao eleitorado da periferia, o fato de esses eleitores manterem uma identificação muito forte com grupos religiosos de orientação neopentecostal também poderia estar influenciando? Pelo que aprendemos,na UFPE, com o grande professor José Carlos Wanderley, isso seria uma espécie variável interveniente. Seria como alguém afirmar que as pessoas vivem mais porque são casadas e se colocar uma variável interveniente entre os dados - do tipo qual o quantitativo desses casados praticam exercícios físicos - e depois se descobrir que era o exercício físico que estava prolongando suas vidas e não o fato de serem casados. Era uma "brincadeira' que este editor gostava de fazer em sua fase de estudante. Bons tempos!     

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Os dois tempos de uma análise

 

Os dois tempos de uma análise
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(Imagem: “Fílis e Demofoonte”, 1870, de Edward Burne-Jones)

 

“Se algo como uma psicanálise da cultura atualmente prototípica fosse possível, se a absoluta dominação da economia não zombasse de cada tentativa de esclarecer a situação atual através da vida anímica das suas vítimas, e se os  próprios psicanalistas não tivessem feito um juramento de fidelidade a essa mesma situação há muito tempo, então tal investigação deveria ser capaz de mostrar como a normalidade própria ao nosso tempo é a doença.” Essa é uma passagem da Minima Moralia, de Theodor Adorno. Ela faz parte de um parágrafo cujo título é exatamente: “Saúde em direção à morte”.

A colocação de Adorno, muito bem desenvolvida por um de seus comentadores atuais mais astutos, Fabian Freyenhagen, acaba por lembrar algo que a psicanálise lutou para se tornar, ao menos em seus melhores momentos. A saber, a consciência clínica de que adaptar sujeitos a uma sociedade doente seria apenas uma forma mais cruel de adoecê-los. E podemos falar em “sociedade doente” não porque seria o caso de acreditar que estamos à procura de uma “sociedade saudável”, como se houvesse formas de vínculo social capazes de não produzir sofrimento. Falamos em “sociedade doente” porque seu funcionamento normal precisa da perpetuação daquilo que ela mesma considera “patológico”. Ela fortalece seus vínculos sociais, suas relações de poder, fazendo o que é “patológico” funcionar, fazendo-lhe produzir trabalho, valor, instituição social, afetos, vínculos.

Nesse sentido, a recusa de alguns setores da psicanálise em ser uma prática adaptativa, prática que visava o fortalecimento de instâncias psíquicas de adaptação social, era uma aposta complexa de dar àquilo que tira os sujeitos do mundo um corpo. Uma aposta difícil de sustentar. Pois era fácil que a “normalidade própria a nosso tempo” entrasse pela porta da ordem sexual, da imposição do tempo próprio ao mundo do trabalho como medida de uma “vida realizada”, da naturalização do princípio de autoridade, da norma familiar, entre tantos outros. Como disse Adorno em seu trecho: são muitas vezes os próprios psicanalistas que fazem um juramento de fidelidade a essa situação, como se eles fossem parte da própria doença, como se eles também partilhassem a naturalização dos limites, racionalidade e impossibilidades da vida social que nos faz sofrer.

Freud dissera uma vez que a cura analítica estava ligada à capacidade de amar e trabalhar. Em outro momento, mais inspirado, ele afirma que o objetivo de uma análise é “transformar a miséria neurótica em sofrimento comum”. Há de se ler as duas afirmações juntas, pois se separadas, a primeira se tornaria catastrófica. Amar e trabalhar a partir do que a sociedade capitalista entende por “amor” e “trabalho” é só empurrar sujeitos para formas de mutilação. Por isso, a segunda afirmação era importante. Ela lembrava que não se tratava de eliminar o sofrimento, porque não há sociedade que nos permita viver sem sofrimento, muito menos essa da qual fazemos parte. Imaginar que na sociedade que transforma todas as formas de ação em processo de valorização do valor, que faz até mesmo da intimidade e das redes de amizades novos espaços de produção de valor e de monetização, seria possível traçar vias singulares de atividade sem sofrimento, resistência e reação, eis algo que contraria até mesmo as leis da física.

Por isso, tratava-se de vincular a psicanálise a outra coisa, a saber, a transformação das formas de sofrimento. Sofrer de outra forma, sem que ele se esgote do teatro neurótico e suas formas de gozo e perpetuação. Pois há momentos em que o sofrimento psíquico se mostra como forma de revolta social, como a lembrança de que é melhor a doença à saúde que nos propõe. O que, para tanto, implica permitir a analisanda e o analisando tomar para si a enunciação de seu próprio sofrimento.

 

Um primeiro tempo, e depois outro

 

Há expressões muito concretas desse “tomar para si”. Ele funda um tempo próprio ao processo analítico. Isso a ponto de podermos dizer que boa parte do processo de análise consiste no ato do analisando e da analisanda tomar para si a enunciação de seu próprio sofrimento.

Como disse anteriormente, faz parte dos processos de individuação socializar sujeitos não apenas através da internalização de normas e de tipos ideias, mas sobretudo através da internalização dos “desvios” e das “doenças”. Sujeitos trazem para a análise, entre outros, toda uma gramática, produzida pela cultura, sobre a natureza de seus sofrimentos. Nunca se parte de algo como a “realidade bruta” do sofrimento. Não são apenas descrições orgânicas como: não consigo dormir, tenho dores contínuas no pescoço. São descrições de estados mentais, de afetos, de sentimentos de inadequação, muitas vezes descrições ouvidas em outras análises e terapias. Parte-se do que poderíamos chamar de “gramática social do sofrimento”. Parte-se de sujeitos que se julgam paralisados e em tempo contínuo de espera, que se julgam masoquistas em suas relações, que creem ter algo de excessivo com a maneira com que pensam em sexo, que creem amar de forma a destruir e perder tudo o que amam, que se sentem passando por uma depressão.

Mas quem sofre porque está paralisado e em tempo contínuo de espera crê necessariamente que não conseguirá viver caso continue a recusar o regime de tempo naturalizado pelo mundo social. Não apenas porque se ilude a respeito de sua possibilidade de adaptação, mas principalmente porque sabe que a inadaptação é paga de forma violenta pela sanção social. Há uma saber importante aqui. A defesa abstrata da singularidade, do “cada um tem seu tempo”, é fácil quando se tem defesas contra a brutalidade da expulsão de quem teima em medir o tempo a partir da escuta de seu próprio ritmo, principalmente quando esse ritmo parece ser mais lento do que o desejado por quem lhe circunda. Mas ela se torna impossível quando se está só nesse processo. Da mesma forma, quem se julga masoquista em suas relações sabe tacitamente que estará em situações sem defesa diante do tipo de “preservação de interesses” que faz parte da formação de qualquer “indivíduo”. O sintoma tem um conteúdo de verdade muito evidente. Pois ele indica uma impossibilidade que não é simples expressão da “incapacidade” de sujeitos, mas que é expressão de uma situação socialmente objetiva.

Isso faz com quem exista um tempo da análise no qual se trata não apenas de levar sujeitos a reconhecer as singularidades que atravessam suas formas de desejar, de agir e de utilizar a linguagem. Trata-se sobretudo de reconhecer e defendê-las, sendo que a segunda parte talvez seja a mais difícil. Isso passa por vários níveis. Um deles é livrando tais singularidades de suas determinações “patológicas”. Determinações essas que, muitas vezes, foram produzidas e reforçadas pelo próprio discurso psicanalítico.

Mas eis que há um segundo tempo dentro dos processos analíticos. Esse segundo tempo está misturado ao primeiro. Ele aparece como uma suspensão, mais ou menos rara. No entanto, este é um tempo decisivo e o adjetivo não está aí por acaso. As decisões nunca são feitas sob a forma do cálculo dos meios e fins, eles são feitas às nossas costas, de forma silenciosa, e paulatinamente reconhecemos que elas já ocorreram.

Esse tempo é o mais brutal. Ele é marcado pela confrontação com os pontos nos quais se vincula desejo e destruição. São os retornos às situações de maior desamparo, são os pontos de maior violência interna e externa, são os pontos de angústia a mais irredutível. Não há nada de patológico aqui, mas há algo de uma noção de drama que as sociedades contemporâneas têm dificuldade estrutural em lidar. “Acho que nunca fui desejada”, diz alguém em análise, mesmo diante dos encontros vários que lhe marcaram. O que não significa exatamente que nunca se foi desejada, mas que há algo, que há um lugar, uma pulsação interna que nunca foi desejada. E isso, bem, como sempre esteve escrito na última página, isso era o que realmente contava. Ser desejada em seu humor  destrutivo, em seu desespero sexualmente dispersivo, em sua passividade muda. Em seu ponto de confrontação com o que pode afinal nos decompor.

Esse tempo aparece em uma análise e muito rapidamente se fecha. Talvez seja ele que dê à análise sua particularidade. Se o processo de transferência permite sustentar tal tempo até ele reconfigurar o primeiro tempo, é possível que ele paulatinamente consiga inscrever no interior da vida o que até agora não tinha como se inscrever. Mas como disse, é possível. Alguém um dia falou da capacidade de tornar o negativo em ser. É uma colocação filosófica, eu sei, o que não significa que ela seja abstrata.

 

Vladimir Safatle é professor titular do departamento de filosofia e do instituto de psicologia da USP

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

Tijolinho: Anderson, enfim, decide montar o palanque de Bolsonaro no Estado


A rigor, não há nenhuma surpresa no fato de o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira(PL), decidir-se por concorrer ao Governo nas próximas eleições de outubro, montando o palanque do presidente Jair Bolsonaro(PL) aqui no Estado. Todas as vezes em que Anderson viajava à Brasília - para se encontrar com os caciques da legenda liberal - deixava muitas incertezas sobre o seu destino político. Afinal, num arranjo político formado por jovens prefeitos municipais que fazem oposição ao governo socialista, ele integra um conjunto de forças políticas que pretendem disputar o Governo do Estado nas próximas eleições. 

Em princípio, se pensou que se poderia construir uma candidatura de consenso entre eles, hipótese hoje completamente descartada, uma vez que temos, agora, três candidatos ao Governo do Estado pela oposição. Neste caso em particular, Anderson Ferreira estava junto com a prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), no Movimento Levanta Pernambuco. Raquel tinhas bons planos para ele, que poderia ajudá-la bastante em seu projeto de metropolitanização, já que se trata de uma prefeita com base política no Agreste. 

Haveria, necessariamente, a imposição de alguns ajustes na relação entre ambos, ora em razão das conveniências políticas, ora em razão da formação das federações em Brasília, que impõe regras rígidas nas alianças estaduais. A despeito de sua organicidade ao bolsonarismo, Anderson era muito cobrado pelos bolsonaristas raízes em função dessa articulação com forças políticas não necessariamente convergentes com o bolsonarismo, pelo menos no Estado, posto que o bolsonarismo, no plano nacional, já engoliu  os tucanos faz algum tempo. Enfim, os ajustes foram feitos e ele já se apresenta como provável candidato ao Governo do Estado, possivelmente tendo como candidato à vaga para Senado Federal o Ministro do Turismo Gilson Machado Neto, este um dos maiores entusistas do bolsonarismo, perfeitamente alinhavado com a direita bolsonarista. Gilson Machado havia dito que Bolsonaro teria um palanque aqui no Estado. Bolsonaro, quando em visita a Pernambuco para inaugurar trechos de obras de transposição do Rio São Francisco, acenou para uma eventual candidatura ao Senado do fiel escudeito.