pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quinta-feira, 27 de março de 2014

Começou a "degola" na Paraíba.

Começou a caça às bruxas no Governo da Paraíba. O governador Ricardo Coutinho(PSB) prepara a degola. São milhares de cargos de confiança que serão exonerados, em razão de desincompatibilização de função - alguns serão candidatos - e outros em razão de motivações políticas mesmo. Ricardo Coutinho chegou a conclusão de que alguns deles estão no Governo, mas fazem oposição. Alguns desses cargos, inclusive um secretário de Estado, são ligados ao senador Cássio Cunha Lima(PSDB), que deverá sair candidato nas próximas eleições. A disputa ao Governo do Estado nas próximas eleições promete uma disputa acirradíssima. A criatura deverá enfrentar o criador. Em 2010, ambos, Ricardo e Cássio, estavam no mesmo palanque. Agora deverão disputar assento no Palácio Redenção. Profundo conhecedor das engrenagens da política paraibana, Cássio Cunha Lima leva algumas vantagens sobre o oponente, apesar da caneta. Apesar de sua meteórica carreira política - de vereador a governador em apenas 13 anos - Ricardo Coutinho ainda tem muitas dificuldades de penetração nos chamados "grotões", dominados pela família Cunha Lima. Por enquanto, os palanques de Aécio e Eduardo estão armados naquele Estado. Dilma continua órfã.

PT também teria jogado Dirceu ao mar.

José Dirceu continua muito influente no Partido dos Trabalhadores. Tem inimigos? Sim. Dentro e fora da legenda. Inteligente, articulado, bem-informado, era natural que os tivesse. Zé foi um dos principais responsáveis - se não o maior - pela eleição do presidente Lula. Precisou aparar muitas arestas. Dentro e fora da agremiação. No partido existiam grupos radicais, absolutamente refratários ao jogo imposto pela democracia representativa. Fora do partido, o capital nutria forte resistência a um líder forjada na luta sindical, tido, à época, como um ator de inclinações socialista. Precisaram escrever até uma carta de compromisso, assumindo, entre outras coisas, que não quebrariam os "contratos". Em ambos os casos, Dirceu desempenhou um papel relevante. Assim que chegou lá, Lula o chamou para ocupar a Casa Civil, onde continuou cumprindo o papel de grande articulador do Governo Lula. Veio o escândalo do mensalão e ele foi defenestrado, indo às coxias, mas mantendo sua forte influência no Governo e na máquina partidária. Atropelado pelas circunstâncias políticas, Dirceu foi apeado da condição de um provável sucessor de Lula. Durante sua trajetória política, naturalmente, fez inimigos dentro e fora do partido. Isso vem a propósito de um artigo que anda circulando pelas redes sociais, escrito pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, comentado que integrantes da legenda teriam aproveitado o escândalo do mensalão para um "acerto de contas" com José Dirceu. Nada improvável.

Dudu é o punhal mais fundo nas costas do Lula


Sem o Lula, o Dudu seria um Alckmin.


Dudu tem quatro senadores e 23 deputados.

Se o Governo tivesse um mínimo de articulação política, o Dudu teria um efeito limitado à plateia da America’s Society, onde, efusivamente, cumprimentou o Ataulfo Merval (*).

Dudu não tem luz própria.

Tem tanto conteúdo quanto o Aécio – é do time do “qualquer um” do Fernando Henrique, que, agora, é a favor da CPI.

Dudu quer mais.

O Messi também.

Dudu é a patativa do óbvio.

Dudu fez um governo muito bom em Pernambuco.

Graças ao Lula.

A qualidade do Governo do Dudu deriva da programas governamentais estruturantes, como o porto de Suape, a refinaria Abreu e Lima, os estaleiros que produzem para a Petrobras, e as obras viárias bancadas pelo Lula e a Dilma.

A ferrovia Trans-Nordestina só não está pronta porque o Benjamin Steinbruck comprou do Príncipe da Privataria por um crédito fiscal , sentou em cima dela, e a ferrovia só anda quando ele consegue aditivos …

Sem o Lula e a Dilma, o Dudu seria um Alckmin.

Os quatro senadores do Dudu, segundo o Globo, vão votar pela CPI do Fim do Mundo – II.

É o punhal mais fundo que entrou nas costas do Lula.

Vamos ver quando o Lula explicar isso ao povo de Pernambuco.


Paulo Henrique Amorim


(*) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse. Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos,  estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance “O Brasil”.
(Publicado originalmente no Conversa Afiada)

Eduardo, o Judas Iscariotes, empenha-se pessoalmente em aprovar a CPI da Petrobrás.

Estamos próximos de uma CPI da Petrobrás no Congresso Nacional. A aliança velada entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o senador Aécio Neves está tornando isso possível. Ambos estão agindo em conjunto para criar embaraços para a presidente Dilma Rousseff antes das eleições de 2014. No Congresso, faltariam apenas poucas assinaturas para a convocação de uma CPI. Ontem, pessoalmente, em razão da resistência da bancada de senadores do PSB em assinar a petição, o governador Eduardo Campos teria entrado em cena para convencê-los em assinar, numa atitude que não encontramos adjetivo para classificar. Ele, que conviveu pessoalmente com a presidente, sabe de sua lisura e honestidade. Mesmo antes de assumir a presidência, na condição de ministra de Lula, Dilma já comprava brigas feias no Governo em razão de desvio de conduta de alguns companheiros de ministério. O caso dos aditivos das licitações do Ministério dos Transportes é um exemplo disso. Outo ministério com o qual Dilma jogou duro para saneá-lo, foi o Ministério do Trabalho, onde havia verdadeiras quadrilhas organizadas para lesar o erário. O "galeguinho" encontrava embevecido pelo poder. Pessoas mais próximas a Eduardo admitem que o seu sonho de chegar à Presidência da República é antigo. Antes mesmo dele tornar-se governador. Perdeu a compostura, a decência o respeito e vai perder também as eleições. Como dizia Brizola, traições são comuns na política. O eleitor até admite-as, embora rejeite peremptoriamente os traidores. Essa de empenhar-se pessoalmente para transformar Dilma num novo Jango é o fim da picada. O avô, Dr. Miguel Arraes, por quem temos o maior respeito, era um homem de princípios e convicções firmes. O neto é um homem de conveniências. No momento mais difícil que Lula enfrentou na Presidência da República, por ocasião do estouro das denúncias do suposto mensalão, Arraes foi à Brasília emprestar-lhes solidariedade e apoio. O neto tenta crucificar a presidente.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Preciso, urgentemente, informar-me sobre legislação eleitoral.

Quisera agora ter algum conhecimento sobre legislação eleitoral para pronunciar-me com mais desenvoltura sobre a interpelação da qual está sendo vítima o senador Armando Monteiro(PTB). Sua assessoria de imprensa esclarece que se tratou apenas de um outdoor com prestação de conta do mandato, motivado por uma avaliação de uma conhecida publicação nacional. Pelo andar da carruagem política, vamos ter muitas dores de cabeça pela frente. Nos encontros da Agenda 40, por exemplo, a chapa completa do PSB está sendo apresentada à população, com direito a críticas veladas à presidente Dilma Rousseff. Prefeitos ligados ao Campo das Princesas estariam fazendo suas prestações de conta ancoradas na figura do governador, que é candidato à Presidência da República. Alguém flagrou uma "batucada" onde os participantes estão todos trajados com camisas alusivas a Eduardo Campos. Realmente, preciso urgentemente melhorar meus conhecimentos sobre o assunto.

Paulo Henrique Amorim: O PT quer se livrar do José Dirceu?

publicado em 25 de março de 2014 às 21:33


PT AJUDOU A CONDENAR O DIRCEU
Por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada
Não deve parecer estranho que a nota oficial do Diretório Nacional do PT, da semana passada, tenha sido tão discreta ao defender o José Dirceu, condenado à prisão perpétua pelo Presidente Joaquim Barbosa.
Aliás, o PT jamais mencionou pelo nome os companheiros condenados.
O PT defendeu os condenados do mensalão com o constrangimento de quem é obrigado a proteger o genro chantagista.
(Ou não foi o PT que demitiu e depois readmitiu o Delúbio? Não foi o PT que tirou o Genoino da Presidência? E trata o Dirceu como se fosse chefe de ONG?)
E por que?
Porque o PT fez, como a UDN, uma interpretação moral do mensalão, ou melhor, da AP 470.
O PT ficou com vergonha de seus líderes.
O Tarso Genro, o José Eduardo Cardozo, o zé do Dantas, esses, então, só não celebraram porque seria um erro político fatal.
O PT jamais enfrentou o Supremo.
E jamais enfrentou o Supremo na arena em que o Supremo julgou a liderança petista: na arena política.
Dirceu, Genoino e João Paulo foram condenados sem prova.
E Delúbio cometeu um crime eleitoral, já prescrito, o de Caixa 2.
O PT ganhou a eleição de 2002 e dois de seus principais aliados estavam quebrados: o PTB de Roberto Jefferson, e o PL de José Alencar.
O que ia fazer o Dirceu?
Renunciar à vitória e não deixar o Lula governar?
Ele fez o que TODOS os partidos brasileiros fazem – com exceção, é claro, do imaculado PSDB: mandou o Delúbio recorrer ao Caixa 2..
O PT corria o risco de levar e não governar.
O que esteve em jogo no Supremo foi se o PT tinha o direito de governar, mesmo depois de ganhar a eleição.
Quando o Ministério Público Federal, sob a batuta do inesquecível Antonio Fernando – depois advogado de Daniel Dantas – denunciou “Ali Babá e os 40 ladrões”, para regozijo do PiG, quis dizer assim: se o Lula botar a cabeça pra fora, a gente pega o Ali Babá!
O Supremo queria, nessa ordem: a cabeça do Dirceu, Genoino, Gushiken e João Paulo.
Depois, a do Lula e da Dilma.
Foram trucidados três presidentes do PT – Gushiken, Dirceu e Genoino e um Presidente da Câmara, o João Paulo, na linha direta de sucessão do Presidente.
(Gushiken foi absolvido à beira da morte, sem ouvir a retratação do Pizolatto).
O objetivo do Supremo não era “restaurar a moralidade”!
Era decepar o PT.
E conseguiu.
Com a ajuda do PT.
Porque o PT – a “UDN de tamancas”, segundo o Darci Ribeiro – se deixou conduzir pela cantilena moralista.
E o que estava em jogo era o PODER !
Não era Ética, a Ética do Gilmar Dantas.
A nota do Diretório revela que o PT não entendeu a relevância da queda do crime de quadrilha, nos embargos infringentes.
O Joaquim Barbosa e o Ataulfo Merval de Paiva entenderam perfeitamente.
É porque sem o crime de quadrilha não tem domínio de fato.
Sem a quadrilha, o Dirceu dominava o que?
Que quadrilha?
A de São João?
A queda do crime de quadrilha desmancha a lógica de toda a condenação dos petistas.
E é por isso que a revisão criminal se torna inevitável.
O que pode permitir, eventualmente, que Dirceu reassuma o controle político do PT, formalmente, mais cedo do que se pensa.
O Barbosa entendeu a natureza do julgamento muito mais do que o PT.
Barbosa entendeu que o gesto desafiador do Dirceu – e do Genoino – , com os punhos cerrados, erguidos, atingia o estômago do processo.
Eu não fui condenado – e muito menos derrotado, diz o gesto.
E é por isso que Barbosa deixará Dirceu na masmorra enquanto for tolerável.
Até o ponto em que não contribuir para reforçar a imagem de mártir que já cobre Dirceu.
Pouco antes de ser preso, um dos condenados disse ao ansioso blogueiro:
“Eles acham que vão nos derrotar, nos abater? Eles não entendem do que somos feitos. Nós somos quadros. Nós somos de Partido. Nós vamos fazer o que fazemos até a morte. Nós não temos compulsória aos 70 anos.”
Dirceu pode estar na rua, em regime aberto, por volta de novembro.
Quem mais teme esse momento não é o Barbosa, que já terá ido embora.
É o PT.
PS do Viomundo: José Dirceu é odiado por muitos. Inclusive na esquerda. Não pelos seus muitos defeitos, mas por seus méritos. É um estrategista brilhante. É inteligente. Bem informado. Corajoso. Como me disse hoje João Vicente Goulart, o filho do Jango, ninguém chuta cachorro morto. Jango estava vivo e provavelmente se elegeria presidente em 1965. Ou ele, ou Juscelino. O resto é picaretagem historialista de… deixa pra lá. O motivo de alguns petistas desejarem o enterro de Dirceu é o medo da sombra de Dirceu. São aqueles que vivem apenas de sugar o brilho alheio. Os arrivistas. Os capachos. Alguns alcançaram inclusive o ministério de Dilma pela capacidade de dizer amém. Os amigos jornalistas que me restaram na mídia patronal dizem: “A melhor forma de f…. o PT é ouvir um petista em off. Estão sempre querendo destruir uns aos outros”.  Uma vergonha.

(Publicado Originalmente no Viomundo)

Paulista, de fato, emancipou-se?




Na deácada de 40, quando se discutia a possível emancipação política de Paulista, o interventor Agamenon Magalhães - o carrasco de Getúlio Vargas no Estado - teria se questionada se o então distrito de Olinda mereceria a condição de ser chamada cidade, dada a onipresença de uma única oligarquia que controlava a cidade. Parafrasenado o escritor Gilberto Freyre, no seu "Nordeste", numa referência aos senhores de engenho de Pernambuco à época, essa oligarquia à qual se referia Agamenon, era dona das terras, das matas, do porto, do campo de aviação, das máquinas, dos rios, da Igreja, das casas, da fábrica e, não menos ainda, das melhores mulheres. Na realidade, até os nossos dias, Paulista nunca consegiu se livrar dessa herança maldita. O pandemônio que está ocorrendo na Câmara Municipal é um exemplo disso. A casa de Torres Galvão se assemelha mais a uma rinha do que propriamente o espaço por execelência do poder Legislativo Municipal. O Executivo, então, como já era previsto, realiza a política mais fisiologista possível. Os secretários utilizam os cargos para se promoverem e se prepararem para as próximas eleições. Há um deles cujo programa de governo consiste em merendar com professores, tomar café da manhã nas escolas e posar para as fotos do Facebook. Isso poder dar certo? Em 10 anos de gestão socialista, volto a repetir, não se conhece um único projeto estruturador para a área de educação, essencialmente capital para os interesses futuros do município. O resultado disso é que o nosso desempenho no IDEB é vergonhoso.

Coronelismo, enxada e voto. Os currais de Jarbas já teriam sido definidos.


Outro dia alguém comentava, aqui mesmo pelo Facebook, sobre os dilemas de nossa democracia representativa. Um arcabouço institucional moderno convivendo com práticas arcáicas, típicas de uma republiqueta colonial. Pois muito bem. Bastou o senador Jarbas Vasconcelos anunciar que seria candidato a Deputado Federal nas próximas eleições e já se sabe quais seriam os currais (ops!, digo, cidades) onde os prefeitos seriam recomendados a votarem no candidato. É nesse aspecto que fica bastante complicado invocar esse discurso de "Nova Política", num contexto onde as velhas práticas coronelistísticas de loteamento de currrais eleitorais é um contidiano que salta aos olhos. Quando Sérgio Guerra faleceu uma das primeiras preocupações era saber quem herdaria seu espólio político, um séquito de prefeitos que seguiam as suas orientações. Sua filha ainda esboçou o desejo de concorrer, mas logo desistiu ao perceber que as bases do pai já haviam sido minadas. No final de dácada de 40, Victor Nunes Leal escreveu um ensáio que permanece perene até nos nossos dias: Coronelismo, Enxada e Voto. Como sair dessa enrascada?

terça-feira, 25 de março de 2014

Transparência: quesito ausente no setor de energia


Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Nesse momento de ampla discussão sobre os graves problemas provocados pela atual política energética brasileira, não se pode deixar discutir o papel e a atuação do Conselho Nacional de Política Energética - CNPE, órgão de assessoramento da Presidência da República para formulação dessa política.
O CNPE foi criado pela Lei nº 9.478, em 6 de agosto de 1997, e regulamentado em 21 de junho de 2000, pelo Decreto nº 3.520. O seu Regimento Interno somente foi aprovado mais de 12 anos depois de sua criação, em 10 de novembro de 2009, através da Resolução CNPE nº 7. Além de ser presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia, integram o “conselho” (com letras minúsculas) outros 8 ministros de Estado e mais três outros membros indicados pelo poder público. Conta com apenas 1 representante da sociedade civil, e outro da Universidade. No entanto, de seus 14 assentos, as duas últimas indicações encontram-se vagas há anos, descumprindo-se a própria Resolução nº 7, do CNPE.
O CNPE é uma instância de decisão influente na promoção de recursos energéticos do país, que inclui a proteção do meio ambiente; a promoção da conservação de energia; a identificação de soluções mais adequadas para o suprimento de energia; o estabelecimento de diretrizes para programas específicos, como os de biocombustíveis, energia nuclear, carvão mineral, gás natural, energia solar, energia eólica e energia proveniente de outras (novas) fontes renováveis. Também cabendo a ele a revisão periódica da matriz energética do país.
Apesar de sua presumida importância na definição da política energética, o CNPE se comporta como um órgão “chapa branca”, simplesmente homologando decisões do executivo, utilizando os mesmos métodos criados no período ditatorial.
O debate energético e suas conclusões não podem ficar confinados a alguns ditos “especialistas”, pois suas decisões afetam toda a sociedade. E a falta de processos democráticos num setor tão importante é inaceitável, pois bloqueia os espaços institucionais necessários para que esse debate possa acontecer e se ampliar. Provavelmente, se mais “cabeças pensantes” estivessem participando das definições da atual política energética não estaríamos hoje vivenciando a desastrosa situação desse setor.
A falta de transparência do CNPE, com sua postura arrogante, não é aceita pela sociedade civil. E essa insatisfação se manifestou claramente na reunião em 17 de dezembro de 2013. A sociedade civil unida pressionou e protestou, exigindo do governo federal a democratização desse conselho.
Nesse dia, Organizações não Governamentais e Institutos lançaram uma nota ao governo e à sociedade brasileira (ver emhttp://www.ihu.unisinos.br/noticias/526791-conselho-nacional-de-politica-energetica-onde-esta-a-sociedade-civil), cobrando transparência no processo de discussão e definição de políticas do setor energético. As 41 instituições reunidas no “Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social” também protocolaram um ofício no Ministério de Minas e Energia, solicitando o preenchimento das vagas não ocupadas no CNPE e exigindo transparência nesse órgão.
Não há dúvida que para resolver problemas no setor energético brasileiro, exige-se muito mais que medidas pontuais, exige-se democratização plena e transparência no CNPE – o que só é possível com maior participação da sociedade civil em suas instâncias decisórias.

Paulista: Eterna refém das oligarquias políticas.



Em Paulista só não se fala mesmo é de políticas públicas. Dez anos de gestão socialista não foram suficientes para retirar o município das estatísticas acachapantes nos índices que medem a qualidade do ensino público. Não se poderia esperar muito de uma gestão onde os políticos são nomeados para cargos estratégicos apenas com o propósito de assegurarem suas eleições seguintes. Por vezes nos ocorre perguntar se os políticos do município - a despeito da insipiente formação de alguns - já tiveram a preocupação de consultar num dicionário o significado da expressão "espírito público". As escolas do município mais se parecem supulcros caiados. Aparentemente bem-cuidadas por fora, mas nada funciona por dentro. Nunca ouvi falar que visitar escolas públicas de surpresa, merendar com funcionários e professores, posar para as fotos do Facebook, pudessem ser traduzidos como políticas públicas ou programa de governo. O grande debate, no momento, diz respeito à postulação de políticos, com atuação no município, como concorrentes a uma vaga na Assembléia Legislativa. Um ex-prefeito irá disputar a vaga, mas a concorrência será acirrada, posto que o atual prefeito estaria inflando o nome de um dos seus secretários. Esse ex-prefeito é muito ligado ao Campo das Princesas. Vamos ver como as coisas se arranjam. O que não se arranja mesmo são as soluções para os problemas estruturais do município, historicamente marcado a ferro e fogo e vítima de políticos de ocasião.

Eduardo desdenhou da opção do PT em apoiar Armando. Não deveria.


O governador Eduardo Campos teria desdenhado da decisão do PT pernambucano em apoiar a candidatura do senador Armando Monteiro(PTB) ao Governo do Estado nas eleições de 2014. Perdeu a humildade e, possivelmente, também a compostura. Esse comportamento caracteriza uma certa arrogância, a suposta certeza de que, independentemente de quem esteja do outro lado, ele fára seu sucessor no Palácio do Campo das Princesas sem maiores dificuldades. O poder fez muito mal a Eduardo Campos. Em sua primeira campanha, esquece o chefe do Executivo Estadual, o Partido dos Trabalhadores o ajudou bastante, mesmo com algumas dificuldades de representação em regiões importantes do Estado. Isso apenas para ficarmos na província. Por falar em Paulo Câmara, ele anda meio sumido. Dizem que fazendo cursinhos intensivos de oratória e jogo de câmara. O rapaz precisa aprender bastante. Não possui o mínimo traquejo. Armando Monteiro conhece esse jogo, é um candidato preparado, capaz de debater as políticas públicas do Estado. Vem "pavimentando" sua candidatura já faz algum tempo. Visita as feiras dos municípios aos domingos, como fazia o finado Dr. Arraes. Assim como Arraes, também conhece a "divisão de classe" da oligarquia pernambucana. O Planalto investirá pesado em sua candidatura. Não pode ser subestimado. João Paulo(PT) também entre fortalecido na disputa. É um político de "apelo popular" e metropolitanizado, diferentemente do que ocorre com o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho(PSB), que deverá enfrentar dificuldade até em sua terra natal, Petrolina. Outro que "não é carne nem é peixe", mas incomoda bastante é o Eduardo da Fonte(PP), que deverá juntar-se ao grupo. O menino já provou que é bom de voto. Tem luz própria.

Assim como as moscas varejeiras, Eduardo aproxima-se da banda podre do PMDB


Eduardo Campos parece mesmo disposto a juntar-se com Deus e com o Diabo na sua cruzada para derrotar a presidente Dilma Rousseff. Lembro que proemenintes urubus voando de costa da Era Lula, ao se aproximarem do "Galeguinho", foram logo anunciando que ele precisaria construir uma alternativa anti-petista. Não entendo porque o PT passou tanto tempo - num lenga-lenga danado - adiando uma decisão mais radical contra o governador. Segundo dizem, por aquela época, ainda havia a possibilidade de matar um carneiro para comemorar a volta do filho pródigo. Quando Eduardo cruzou aquela linha onde não haveria mais volta? Certamente, o PT, principalmente o pernambucano, não saberia responder. Não nos surpreende sua presença nos canapés oferecidos por figurinhas carimbadas como Geddel Vieira Lima, na companhia de Eduardo Cunha, representantes do que há de mais nefasto e fisiológico na política brasileira. Aquela banda do PMDB que Dilma convive - com as mãos no nariz - em nome de uma suposta governabilidade.

Eduardo Campos e seu surto oposicionista. Virou um Aécio de segunda.


25 de março de 2014 | 00:08 Autor: Fernando Brito
trairasonho
O leitor deve ter reparado que o candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, passou a ocupar o noticiário – mas não as manchetes – uma ou duas vezes por dia disparando contra Dilma Rousseff.
É evidente seu esforço para ocupar na mídia o espaço de seu aliado-adversário Aécio Neves como “o mais oposicionista dos oposicionistas”.
Nos últimos dois dias foi aos jornais para uma série de delírios que seriam compreensíveis em Aécio Neves, não em alguém que participou de 11 dos 12 anos de governo petista.
Sábado, estava no Estadão acusando a Presidenta de enfraquecer a Petrobras para privatizá-la, esquecendo de que ela deu a Pernambuco o maior dos investimentos da empresa, a Refinaria Abreu e Lima. E à noite foi confraternizar com Aécio Neves e Eduardo Cunha na festança de debutante da filha de Gedel Vieira Lima, outro caráter sem jaça do “blocão” peemedebista.
Domingo, responsabilizou Dilma pela desaceleração da economia.
Convenhamos, só faltou dar um pulinho na “Marcha com Deus pela Família”, não é?
Eduardo Campos parece embriagado com as atenções que recebe por ter se bandeado para a oposição.
Faz-me lembrar o que sempre dizia Brizola, numa daquelas suas frases de efeito: “a política ama a traição, mas abomina o traidor”.
Talvez seja por isso que ele não consegue sair da posição pífia que ocupa nas pesquisas  e, ao contrário de ser “puxado” por Marina, está é puxando para baixo a ex-senadora.
Campos talvez não tenha se dado conta que não é do PSDB, ainda que sirva ao PSDB.
E que, se queria abocanhar o potencial de Marina, não poderia se confundir com a tucanagem.
O resultado é que se tornou uma oposição caricata, um “novo” praticante do farisaísmo do “estava lá mas agora estou aqui” .
Marina, muito mais sabida, nunca se permitiu cenas de amor explícitas com José Serra como Campos protagoniza com Aecinho.
E a pombinha do PSB vira um pastiche de tucano, de quem, já no primeiro olhar, emana a falsidade oportunista.
Tornou-se um sub-Aécio, o que é algo como uma miniatura de sonho de grandeza.

(Publicado originalmente no site Tijolaço)

segunda-feira, 24 de março de 2014

Qual é mesmo o programa do PMDB?

É bastante interessante observar o discurso dos líderes do PMDB quando argumentam que desejam ter uma participação e maior influência no Governo Dilma. "Nos queremos implantar o nosso programa". Qual é mesmo o programa do PMDB? Um leitor minimamente informado já percebeu o enredo de falcatruas e práticas de caráter anti-republicanos que estão por trás dessas indicações políticas. O caso da Petrobrás é emblemático. O caro é indicado para "facilitar" as coisas e lesar o erário. Simples assim. É a total falência ou degenerescência do modelo de democracia representativa adotado no Brasil. Ou se corrige isso - através de uma reforma política ampla e altiva - ou estaremos condenados a conviver com esses escândalos cotidianamente, independentemente de partidos ou candidatos. É do sistema, meu filho. É do sistema.

Breno Altman: Quando a democracia comporta o linchamento midiático e jurídico.

publicado em 24 de março de 2014 às 5:09

Abominável silêncio sobre o caso José Dirceu
Por Breno Altman, na Folha, sugerido pelo autor
Um espectro ronda a vida institucional e jurídica do país, movimentando-se na calada da sociedade e do Estado. Seus contornos podem ser definidos por uma pergunta: a democracia comporta o linchamento midiático e processual como ferramenta para eliminar inimigos políticos?
A questão leva nome e sobrenome. Há mais de quatro meses o ex-ministro José Dirceu de Oliveira e Silva cumpre pena em regime fechado, mesmo tendo sido condenado ao cumprimento inicial em sistema semiaberto. O presidente do STF, com a cumplicidade do juiz encarregado da execução penal, pisoteia ou posterga decisões da própria corte.
Não importa, a esses senhores e seus aliados, que a essência da acusação contra o líder petista tenha sido esvaziada pela absolvição acerca da formação de quadrilha. Afinal, sentenciado sem provas materiais ou testemunhais, Dirceu teve sua culpa determinada por uma teoria que considerava suficiente a função que eventualmente exercera no comando de suposto bando criminoso, cuja existência não é mais reconhecida.
O grupo chefiado pelo ministro Joaquim Barbosa, no entanto, resolveu virar as costas para a soberania da instituição que preside. Sob pretexto de regalias e privilégios que jamais se comprovam, mas emergem como verdadeiros nas páginas de jornais e revistas, a José Dirceu se nega o mais comezinho dos direitos. Permanece preso de forma ilegal, dia após dia, em processo no qual a justiça se vê substituída pela vingança.
Há poucos paralelos na história posterior à redemocratização, revelando o poderio dos setores mais conservadores e autoritários quase três décadas depois de findada a ditadura dos generais. As irregularidades contra Dirceu, acima de problema humanitário, afetam pilares fundamentais do regime democrático e civilizado.
O mais triste e preocupante, porém, é a omissão do mundo político diante da barbaridade. Vozes representativas do Estado e da sociedade fazem opção pela abulia e a passividade, possivelmente, e de antemão, atemorizadas pela reação de alguns veículos de comunicação e o dano de imagem que poderiam provocar contra quem ousasse dissentir.
O protesto cresce entre cidadãos e ativistas, alcança o universo jurídico, recebe acolhida de alguns articulistas e chega a provocar certo nível de resposta nos partidos e organizações progressistas. Mas a ilegalidade, respaldada por boa parte da mídia tradicional, não é enfrentada à altura por autoridades governamentais e entidades cujo papel obrigatório na defesa dos direitos democráticos deveria impor outro comportamento.
O mutismo refugia-se em álibis como a independência entre poderes e o caráter terminal da sentença promulgada pelo STF. Como se o bem supremo a ser defendido não fosse a Constituição, mas o respeito ritualístico a uma instância na qual se formou maioria transitória a favor do arbítrio.
Outra camuflagem aparece sob a forma de abordagem unilateral ao que vem a ser liberdade de imprensa. Como se empresas jornalísticas estivessem acima das normas e do escrutínio da cidadania. Ou é aceitável que responsáveis pela coisa pública abdiquem da crítica frontal quando meios de comunicação violam conduta para destruir reputações e prerrogativas inscritas em lei?
Estes são, enfim, temas da democracia, não apenas da solidariedade a José Dirceu ou da jurisdição de petistas que lhe são leais. O silêncio sobre o caso é tão abominável quanto aquele que, no passado, franqueou decisões do STF entregando Olga Benário ao nazismo ou chancelando o golpe militar de 1964.
Breno Altman, 52, é diretor editorial do site Opera Mundi.
(Publicado originalmente no site Viomundo)

Ciro Gomes, o Bo ca do Inferno, responderá a Eduardo Campos.

Correm versões de que o governador de Pernambuco e candidato a Presidência da República, Eduardo Campos, estaria bastante preocupado com o seu "estacionamento" nas pesquisas. Não preciso repetir aqui que a sua equipe é boa, qualificada, experiente e muito bem-paga. O problema é de outra natureza e, no nosso entendimento, ele está metido num imbróglio que não tem saída, salvo, como adverte Marcos Coimbra, ocorra um tsunami capaz de ameaçar a folgada hegemonia da presidente Dilma Rousseff. Como ainda não encontrou o mote certo - e dificilmente o encontrará - ele passará a campanha atacando medidas pontuais, administrando contradições e com a "vitrine" estilhaçada, que não resiste a uma simples obervação. Esse discurso de "Nova Política" é o maior engodo da história recente do país. Como já suspeitávamos, suas "bravatas" agora serão respondidas pelo ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, um verdadeiro Gregório de Matos da política. O "Boca do Inferno" já foi escalada para a missão e aceitou de pronto. O "Galeguinho" tem dívidas com o cearense. Em 2010, quando pretendia disputar o Planalto, Ciro foi afastado do páreo pelo pernambucano.

PT sai da inércia e apóia o nome de Armando Monteiro ao Governo do Estado.

Faz algum tempo que não fazemos elogios ao PT, muito embora tenha um profundo respeito pelo partido. Aqui em Pernambuco, alguns petistas mais consequente admitem isso, o PT cometeu um série de equívocos. Entrou numa "ressaca" que se pensou que não mais reuniria as condições para sair dela. Aliou-se a Eduardo Campos, que manipulou o partido como bem quis, consoante seus interesses, fortaleceu sua agremiação, o PSB, e colocou o partido na condição de mendicância de uns cargos de DAS nas máquinas do Estado e do município do Recife. O partido deixou de ter estratégias próprias e passou a ser conduzido como um nau sem rumo, num claro estado de inércia e letargia, com a auto-estima lá embaixo. Curiosamente, seus líderes ainda se davam ao desplante d aceitar convites para os canapés oferecidos na residência de Dois Irmãos, num claro desrespeito à sua militância. Mesmo nessas condições adversas, encontrou forças para reconstruir uma unidade suficiente para definir uma tática eleitoral correta na atual conjuntura, unir forças com o senador Armando Monteiro(PTB), fortalecendo o palanque da reeleição de Dilma e da oposição no Estado. Com isso, Pernambuco se torna um dos principais palcos das eleições de 2014 no Brasil.

Os horrores da Casa da Morte e a sua versão olindense

Em depoimento à comissão estadual da verdade, do Rio de Janeiro, o ex-militar Paulo Malhães revela detalhes das atrocidades cometidas na chamada "Casa da Morte", em Petrópolis(Rio), um local utilizado pelos militares, durante o Regime Militar, para a prática de interrogatórios e torturas. Segundo Malhães, o principal objetivo da tortura era, além de entregar o "serviço", fazer com que os torturados passassem para o outro lado, o dos militares, tornando-se um infiltrado, assim como ocorreu com o cabo Anselmo, embora haja a suspeita de que ele sempre esteve do lado dos militares. Depois desse depoimento, o Rio de Janeiro surge como um dos locais onde mais haviam locais designados para a prática de tortura. Até bem pouco tempo, um outro militar revelou que naquele Estado, fornos de usinas de açúcar eram utilizados como crematório de presos políticos assassinados pelo regime. Um conhecido pernambucano, aqui de Olinda, possivelmente estava entre esses corpos cremados. No caso da "Casa da Morte", ainda segundo Malhães, os presos eram torturados e, quando vinham a óbito, seus dedos eram arrancados, sua arcada dentária igualmente, depois eram jogados ao mar com o abdômen dilacerado para que não emergissem à superfície. O militar conta essas atrocidades com uma frieza de detalhes que impressiona. Ontem, o Diário de Pernambuco trouxe, no contexto de uma série de reportagens sobre os 50 anos do Golpe de 64, uma matéria sobre uma versão da "Casa da Morte" olindense, conhecida como "Colônia de Férias", que deveria funcionar num antigo quartel do Exército, onde hoje está localizado uma loja do Supermercado Bompreço. Embora haja controvérsias sobre o local exato, de acordo com conversas com um cientista político muito conhecido no Estado, já falecido, o local era mesmo o quartel.

domingo, 23 de março de 2014

A ópera, a guerra e a ressurreição da Rússia


Vinte anos após derrota e colapso da União Soviética, país retomou comando de sua economia e enorme influência internacional. Como isso foi possível?
por José Luis Fiori — publicado 21/03/2014 17:38
[Este é o blog do site Outras Palavras em CartaCapital. Aquivocê vê o site completo]
[Publicado originalmente em 30/5/2008, no Caderno Brasildo Le Monde Diplomatique]
Relembro, porque me causou uma profunda impressão. Uma montagem russa da óperaGuerra e Paz, de Serguei Prokofiev, na Bastilha. Era 1998, a União Soviética havia desaparecido, e a Rússia estava humilhada e destruída. A ópera Guerra e Pazestreou no Teatro Maly, em Leningrado, no dia 12 de junho de 1946, pouco depois da invasão e expulsão das tropas alemãs, e da vitória russa, na Segunda Guerra Mundial; e conta a história da invasão e expulsão das tropas francesas e da vitória russa, na guerra com Napoleão Bonaparte, em 1812. Na última cena, o povo e os soldados russos cantam juntos uma peroração apoteótica, proclamando a eternidade do “espírito russo”. Com força, emoção, convencimento, inesquecível.
E, de fato, depois da destruição de 1812, a Rússia se reconstruiu e se transformou numa das principais potências europeias do século XIX; e depois de 1945, a União Soviética voltou a levantar e se transformou na segunda potência militar e econômica do mundo, na segunda metade do século XX. Como já havia acontecido antes, em 1709, depois da invasão e da expulsão das tropas suecas de Carlos XII, por Pedro o Grande, quando a Rússia começa sua fantástica modernização do século XVIII. Mas em 1998, parecia impossível que isto pudesse acontecer de novo, depois da derrota soviética e da destruição liberal da economia russa. Dez anos depois, entretanto, no momento da posse do seu terceiro presidente republicano, Dmitri Medvedev, a Rússia está de novo de pé, e o “espírito russo” volta a assustar os europeus, e preocupar o mundo. O jornalFinancial Times publicou recentemente um caderno especial sobre a Rússia, onde afirma que “nem Bruxelas nem Washington estão sabendo como tratar com a Rússia, depois de Vladimir Putin, porque a Rússia está cada vez mais disposta a retomar sua posição no mundo, em particular nos países da antiga União Soviética”. (1)
Em 1991, imediatamente depois da dissolução da União Soviética, os Estados Unidos e a União Européia, se colocaram o problema, e se atribuíram a tarefa de “administrar” a desmontagem do “império russo”. Por causa de suas conseqüências econômicas, e por causa do problema geopolítico da Europa Central. Para os Estados Unidos, o objetivo fundamental era impedir o surgimento de uma “terra de ninguém” no leste europeu. Por isto lideraram a expansão imediata das fronteiras da OTAN, e a ocupação das posições militares que haviam sido abandonadas pelos soviéticos, na Europa Central. Esta ofensiva estratégica da OTAN e da União Europeia, e sua posterior intervenção militar nos Bálcãs, foi uma humilhação para os russos e provocou uma reação imediata e defensiva que começou, exatamente, pela vitória eleitoral de Vladimir Putin, em 2000, e a retomada, pelo seu governo, de uma estratégia militar agressiva, depois de 2001.
Durante suas duas administrações, o presidente Putin, manteve a opção pela economia de mercado, mas recentralizou o poder, e reconstruiu o estado e a economia russa, refazendo seu complexo militar-industrial, e nacionalizando seus recursos energéticos. A Rússia ainda detém o segundo maior arsenal atômico do mundo, e o governo Putin aprovou uma nova doutrina militar que autoriza o uso de armamento nuclear, mesmo em caso de um ataque convencional à Rússia, na hipótese de fracassarem outros meios para repelir o agressor. Além disto, o novo governo russo alertou os Estados Unidos – ainda no ano 2000 — para a possibilidade de uma corrida nuclear, caso insistissem no seu projeto de criação de um “escudo anti-balístico” na Europa Central.
O interessante, do ponto de vista da história russa, é que agora de novo, como no passado, depois de 2001, também a economia russa se recuperou e voltou a crescer a uma taxa média anual de 7%, puxada pelos preços do petróleo e das commodities, e sustentada por um boom de consumo e de investimento interno. Este crescimento – liderado pelas grandes empresas estatais do setor de energia e armamentos — multiplicou seis vezes o produto interno da Rússia, que já superou o PIB da Itália, e deve superar o PIB da França, nos próximos dois anos. Dez anos depois da sua moratória, a Rússia detém a terceira maior reserva em moeda estrangeira do mundo, depois da China e do Japão, e seus salários subiram de uma média de U$ 80 dólares por mês, no ano de 2000, para U$ 640, no ano de 2007, quando a economia russa alcançou seu nível de atividade anterior à grande crise. E neste clima de boom econômico, o novo presidente Dmitri Medvedev convocou, recentemente, os empresários russos a copiar o modelo chinês e aderir à onda global de aquisição de empresas estrangeiras, para acelerar ainda mais economia russa, e reduzir a sua dependência tecnológica.
Ou seja, quinze anos depois da derrota e do colapso da União Soviética, o estado russo retomou o comando de sua economia e de sua inserção internacional. E tudo indica, neste início do século XXI, que está recuperando sua importância estratégica, como maior estado territorial do mundo, o único com capacidade de intervenção por terra, através de suas próprias fronteiras, em todo o continente eurasiano. Por isto, é uma rematada bobagem falar da Rússia como uma potência ou uma economia emergente, quando na verdade se trata de uma velha e grande potência que está reocupando sua posição tradicional na Europa, na Ásia Central e no Oriente Médio.
Mas nenhum analista internacional consegue prever os caminhos futuros desta nova ressurreição do “espírito russo”, até porque a Rússia sempre foi mais misteriosa e imprevisível do que a União Soviética. Faz algumas semanas, Andre Klimov, líder liberal da Duma, afirmou que “seria um erro grave, neste momento, alguém pensar que possa fazer com a Rússia o que bem entenda” (2). Palavras que soam como uma advertência suave, como quem quisesse relembrar às demais potências, a mensagem final de Serguei Prokofiev, na sua grandiosa ópera Guerra e Paz : o “espírito russo é eterno”, e ressurgirá sempre de novo, e com mais força, toda vez que o seu sagrado território for invadido, ou que o povo russo for humilhado, como aconteceu várias vezes, na história, e voltou a acontecer, no final do século XX.
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1. Financial Times, Rússia, Special Report, 18 de abril de 2008, p:3
2. Idem
José Luís Fiori é professor titular de Economia Política Internacional da UFRJ, é Coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ/UFRJ, “O poder Global e a Geopolítica do Capitalismo”,www.poderglobal.net. O último livro publicado pelo autor, O Poder Global, editora Boitempo, pode ser encontrado em nossa loja virtual. O acervo de seus textos publicados no Outras Palavras, podem ser lidos aqui.