O procurador-geral da PGR, Paulo Gonet, se manteve impávido durante o julgamento dos implicados do chamado núcleo crucial da tentativa de golpe de Estado. Praticamente apenas se pronunciou quando foi solicitado pelo condutor dos trabalhos da Primeira Turma do STF, o Ministro Cristiano Zanin. Um olhar mais atento sobre o seu semblante, no entanto, pode indicar a quantas andam o seu cérebro, estabelecendo conexões entre os fatos, identificando contradições, manhas e artimanhas engendradas pelos advogados de defesa dos envolvidos. Suas intervenções foram bastante pontuais, exceto no início dos trabalhos, quando tinha que expor as conclusões da PGR.
Suas alegações finais sobre o núcleo crucial da tentativa de golpe de Estado é um bom exemplo do que estamos falando. Em 512 páginas, Gonet expõe as vísceras de mais uma tentativa de solapar as instituições democráticas no país, impondo-nos um regime de exceção de consequências sensivelmente danosas para o nosso tecido social. Como o teor dessas informações acabam chegando à imprensa de alguma forma, sabe-se por exemplo, do pedido de condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos demais envolvidos neste grupo, além da minimização dos benefícios da delação premiada concedida ao ex-Ajudante de Ordem da Presidência da República, o tenente-coronel Mauro Cid.
Se tal raciocínio prevalecer, isso pode significar um grande problema para o militar. Salvo melhor juízo, se ele for preso por mais de dois anos, poderá ter problema com a sua carreira militar, abrindo-se as condições para uma eventual expulsão das Forças Armadas. Ao longo do tempo, essa delação premiada do coronel Mauro Cid foi marcada por problemas em série, que a expuseram ao crivo da Polícia Federal e do próprio STF, depois de constatadas eventuais contradições do seu teor.

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