Há algum tempo, este editor mantinha uma proximidade - sobretudo em função das contingências acadêmicas e partidárias - com um bispo anglicano ligado ao Partido dos Trabalhadores. Formado no IUPERJ, ele foi o primeiro cientista político aqui do Estado. Naqueles tempos bicudos, quando da primeira eleição de Lula à presidência do país, ele cumpriu a espinhosa missão de demover as resistências ao petista nas hostes evangélicas. A missão, hoje, seria bem mais espinhosa. Naquela época dizia-se apenas que Lula era comunista.
No bolsonarismo de hoje, o termo pode ser considerado até um elogio. Tal vocabulário, de caráter depreciador de imagem, foi ampliado sensivelmente. Solidário, sensível, homem de um grande diálogo, abriu caminho para este então jovem estudante de pós-graduação estabelecer contatos com próceres atores daquele grêmio partidário, além de particpar dos encontros daquela agremiação política. Encontros que, aliás, ocorriam com maior frequência no passado. Era um bom momento para lavar as roupas sujas. Lavar en enxaguar, para depurar as impurezas, conforme recomendava o escritor Graciliano Ramos, numa referência ao texto literário, mas que se aplica à situação.
Além dessas qualidades, sempre de bem com a vida, o pastor também tinha um grande senso de humor. Aliás, um humor mordaz, registre-se. Naqueles tempos, o PT chegava pela primeira vez à Prefeitura da Cidade do Recife e havia um secretário que tinha a alcunha de Peixe. Quando o tal secretário entrou numa fase de desgaste, a executiva estadual do partido organizou uma grande reunião para decidir sobre o seu destino, que foi seguida de um jantar. Aproveitando a deixa o professor foi sarcástico: dizem que no jantar será servido peixe frito. Não sabemos como anda a dispensa do Palácio do Planalto, tampouco o que teria sido servido ao ministro Fernando Haddad no dia de ontem. Mas, a rigor, isso não se constitui um bom parâmtro, uma vez que uma raposa política como o Dr. Arraes costumava negar os pleitos, oferecendo um cafezinho.
Lembramos deste episódio no momento em que a frigideira do PT foi colocada no fogo, apenas com dois meses do exercício do mandato. Hoje, o óleo já está no ponto. Não seria prudente, do ponto de vista das consequências políticas, que Lula fizesse alguma mudança no ministério antes de esquentar a cadeira. O desgaste seria enorme, embora já haja elementos para isso. É preciso calcular bem essa escala de desgaste político, uma vez que o PT passou a ser muito cobrado por uma tomada de decisão acerca de um determinado minitro que já deu todas as provas de que não reúne as condições para continuar no governo.
De sua cota conservadora, imposta pelas contingências de governabilidade, o tal ministro possui um perfil contumaz dos desmandos produzidos por quem não tem a minima noção sobre os parâmetros que devem nortear a sua conduta como parlamentar e homem público. Não conhece as fronteiras que devem reger a vida privada e os interesses públicos. Não sabemos qual o preço a ser pago, pois o cidadão tem uns padrinhos importantes e estratégicos para o Governo Lula.
No caso de Haddad, não se pode dizer que o mesmo queimou a largada. Lula, de fato, emite indicadores de que deseja fortalecê-lo para 2026. Falta algum tempo para aquelas eleições,mas, pelo andar da carruagem política, o óleo parece-nos que já está no ponto. De imediato, estamos cada vez mais conencidos de que a Fazenda não seria o ministério mais adequado para acomodar Fernando Haddad. Internamente, Lula sugere prestigiar o pupilo, mas sabe que a luta por sua sucessão será renhida entre os apoiadores. Já existe uma penca de "cozinheiros" - e cozinheiras, por que não? - tentando "fritar" o nosso ministro.