Este editor praticamente se formou em cinema durante a pandemia da Covid-19. Fizemos inúmeros cursos sobre o tema, principalmente os organizados por instituições acadêmicas. Era uma paixão de nossa adolescência, projeto que nunca foi levado adiante em razão de inúmeras circunstâncias. Somos da época do "Cine Goteira", quando as películas eram exibidas em praças públicas, com todo mundo torcendo para que não chovesse, tema explorado em nosso primeiro romance, o Menino de Vila Operária. O cinema exercia um verdadeiro fascínio entre os meninos da vila. Já adulto, passamos a sentir uma verdadeira paixão, principalmente em relação às películas que tratavam de temas políticos. Por essa época, nossos diretores predileto eram os realistas russos Serguei Eisenstein e Dzika Vertov. Isso não mudou ao longo dos anos. Dzika Vertov, por exemplo, exerceu forte influência sobre um grupo de cineastas revolucionários franceses, que formaram o Grupo Dzika Vertov, a partir do Movimento de Maio de 1968, entre eles Jean-Luc Godard.
Durante o período da pandemia, isolado, acompanhamos, com particular interesse, um curso que tentava estabelecer um link entre cinema e marxismo, o que nos levou a estabelecer contato com outros cineastas revolucionários, inclusive o cubano Tomás Gutiérrez Alea, um dos principais expoentes do ICAIC, instituto que revolucionou o cinema latino-americano, tornando-se a verdadeira escola de cinema do continente. Importantíssimo na formação de grandes cineastas. O ICAIC foi tão revolucionário que chegou a ser dirigido por uma mulher negra, a primeira cineasta cubana, Sara Gómez, a lente da Revolução Cubana. Dialeticamente, porém, o ICAIC chegou a "censurar" dois documentaristas do instituto, que realizaram um documentário mostrando a vida degradada de cubanos na periferia do cais de Havana. O fato gerou uma grande polêmica à época, algo que se contrapunha aos ideais daquele instituto de cinema.
A censura e a posterior estigmatização dos cineastas, acusados de contra revolucionários, foi importante para refletirmos sobre até onde ia o limite daquela liberdade de expressão. Isso nos deixou bastante intrigado e, posteriormente, extravasamos essas nossas preocupações através da construção de um conto tratando do assunto. O professor do curso havia visitado Cuba e, pontualmente, externava a sua experiência naquela Ilha, apontando seus problemas, mas sempre muito otimista, enfatizando que o grande objetivo da revolução era o de assegurar a segurança alimentar da população do país. O conto ficou longo, quase um novela. Durante a pandemia, igualmente, devoramos os volumes da nova biografia de Kafka, escrita pelo filósofo alemão Reiner Stack. Um trabalho soberbo, uma pesquisa exaustiva, realizada por um grande especialista no escritor tcheco.
De imediato, a trilogia atingiu o conceito de um dos melhores trabalhos biográficos contemporâneos. Sinceramente, não sabemos o que ele apresenta de elementos novas à vida do autor de O Processo, que já não tenha sido explorado pelas biografias anteriores. Ele contesta, por exemplo, o perfil de pessoa reservada de Kafka, uma vez que ele era um bom vendedor de seguros na empresa da família. Não sei se há aqui elementos para desfazer este traço de personalidade do autor. Kafka era tão ensimesmado que até para organizar os seus trabalhos para publicação quem assumia essa tarefa era Max Brod, dada as dificuldades de interlocução de Kafka com os editores. Como o conto invoca esses elementos políticos e burocráticos, típicos do estilo kafkiano, resolvemos reunir no livro outros contos escritos com o mesmo perfil, alguns deles tratando de cinema, como um outro sobre o cineasta da Escola dos Estudos Culturais Inglesa, Ken Louch. Conforme havíamos prometido, estão aí algumas informações para satisfazer a curiosidade sobre as capas dos livros que estão expostas no blog. O livro será disponibilizado em breve no nosso perfil KDP da Amazon, mas já pode ser solicitado como pré-venda pelo Zap 81986844557. Vale a leitura.