pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sábado, 22 de dezembro de 2012

Eduardo Campos: "Estarei com Dilma em 2014"

O governador de Pernambuco diz que não será candidato a presidente – e que, apesar de ser amigo de Aécio Neves, não apoiará o PSDB nas eleições

LUIZ MAKLOUF CARVALHO
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SEM ARROUBOS O governador Eduardo Campos no Porto de Suape. “Quem é amigo da Dilma, amigo do Brasil, não botará campanha na rua” (Foto:  Leo Caldas/Ed. Globo)

"Não tenho tido a oportunidade nem o tempo de falar o que vou falar aqui. Quero dizer como está minha cabeça neste instante.” Foi com essa disposição de espírito que o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB recebeu ÉPOCA num final de manhã, em entrevista que entrou pela tarde. O cenário foi a sala de reuniões contígua a seu gabinete, no subsolo do Centro de Convenções, em Olinda, de onde exerce seu segundo mandato desde que o Palácio do Campo das Princesas entrou em reforma. Pela primeira vez numa entrevista, Eduardo Campos foi taxativo em relação ao assunto do momento: sua possível candidatura à Presidência da República em 2014. “Não é a hora de adesismos baratos, nem de arroubos de oposicionismos oportunistas”, disse. “Queremos que a presidenta Dilma ganhe 2013 para que ela chegue a 2014 sem necessidade de passar pelos constrangimentos que outros tiveram de passar em busca da reeleição.”
 
ÉPOCA – Estou convencido de que o senhor é candidato a presidente da República em 2014. É?
Eduardo Campos – E aí sou eu que vou ter de lhe desconvencer (risos). Tenho um amigo que é jornalista, experiente, que outro dia me disse: “Fulano de tal é candidato, e ninguém acredita. Você diz que não é, e ninguém acredita”. O que é que posso fazer? Na minha geração, poucos tiveram a oportunidade que tive de conviver com quadros políticos que sempre fizeram o debate com profundidade, olhando objetivos estratégicos, os interesses da nação, do povo. O quadro político que tem acesso a essa formação, e que a amadurece, percebe que suas atribuições e sua responsabilidade impõem essa visão que vai muito além do eleitoral e está até acima do eleitoral.
ÉPOCA – Explique melhor.
Campos –
Nesse curto espaço de tempo, vamos decidir muita coisa no Brasil. Estamos vivendo uma crise sem precedentes lá fora. Essa crise há de gestar outro padrão de acumulação de capital. Outros valores vão surgindo. Com a importância que tem nesse concerto internacional, o Brasil fez, nos últimos anos, alguns avanços importantes. Na quadra mais recente, viveu três ciclos: o ciclo da redemocratização, o ciclo da estabilidade econômica e um ciclo do empoderamento da pauta social, uma coisa que se transformou, inclusive, em política econômica. Na brevíssima democracia que nós temos, tivemos líderes que, a seu modo, por suas virtudes e vicissitudes, interpretaram o que era um acúmulo de consenso na sociedade. Tiveram a capacidade de orquestrar frentes políticas que deram apoio e força política para viver esses ciclos.
>>Gilberto Kassab: "Teremos candidato próprio em São Paulo" 

ÉPOCA – O que é que o senhor vê neste cenário de crise?
Campos –
Que essa disputa entre estes dois blocos que surgiram no processo da redemocratização, um liderado pelo PT – onde sempre estivemos incluídos – e outro pelo PSDB, muitas vezes com posições assemelhadas em relação a determinadas coisas, fez com que o país e o povo ganhassem. Houve conquistas para a população, no ciclo comandado pelo PSDB, e houve equívocos. E houve muitas conquistas no ciclo em que estivemos sob a liderança do presidente Lula. Essas conquistas não estão inteiramente consolidadas. Se a gente eleitoralizar esse momento, se a gente não pensar o país de forma larga, a gente pode se ver como lá no Quincas Borba (romance de Machado de Assis): “Aos vencedores, as batatas”. Mas o que você não pode, num momento como este, dessa importância, é interditar o debate político.
ÉPOCA – Debate que já está colocado.
Campos –
A gente tem de compreender, a gente tem de respeitar, tem de fazer esse debate, ter a disposição de estimulá-lo. Os partidos puxam para o eleitoral, os quadros, a militância, a mídia que cobre isso, tudo puxa para o eleitoral. É natural. A gente tem de ter calma, paciência, e compreender. Agora, ninguém pode dizer o que acontecerá em 2014, nem quem está liderando esse processo, a própria presidenta Dilma. Ela tem nossa confiança, foi nossa candidata, com quem temos identidade, respeito pelos valores que ela traz para a vida pública. Ela é uma mulher que tem dignidade, tem força de pelejar com seus valores. Nem ela pode, a uma altura desta do campeonato, permitir que o debate se eleitoralize. Quem é amigo da Dilma, amigo do Brasil, não botará campanha na rua, nem da oposição nem a campanha da Dilma.

ÉPOCA – O senhor daria uma grande contribuição a essa tese que está defendendo agora – não eleitoralizar o debate neste momento – dizendo, com todas as letras, que apoiará a reeleição da presidente Dilma em 2014. Isso é água na fervura, acaba com a eleitoralização do debate.
Campos –
Nosso partido foi o partido que tomou a decisão de não ter um candidato que tinha ponto na pesquisa para apoiar a presidenta Dilma. E passamos todo o tempo dizendo que a candidatura natural é a candidatura da Dilma.
ÉPOCA – Então, o senhor apoiará a reeleição da presidente Dilma em 2014?
Campos –
Não há dúvida, não. Qual é a dúvida? Estamos na s base de sustentação. Não tenho duas posições. Quem defende a presidenta Dilma neste momento deseja cuidar em 2013 do Brasil. Quem pode cuidar do Brasil é Dilma. Nós temos de ajudá-la a ganhar 2013. Ganhando 2013, Dilma ganha 2014. Então a forma de ajudar Dilma é dizer: em 2014 todos nós vamos estar com Dilma. Claro. Por que não vamos estar com Dilma? Nós rompemos com Dilma? Saímos do governo de Dilma? Saímos da base dela? Você conhece algum programa criado pelo PSB constrangendo algum programa, alguma decisão da presidenta Dilma? Não existe nenhum. Agora, entendemos que é a hora de cuidar do Brasil. Temos muitas ameaças e possibilidades pela frente.
"É uma verdade que eu sou
amigo de aécio neves. mas,
Em palanque nacional, a última vez que estive com ele foi no palanque do Doutor Tancredo"
ÉPOCA – O senhor está dizendo algo como: “Oposição, tira seu cavalinho da chuva, porque em 2014 vou marchar com a presidente Dilma e com esse campo político do qual venho participando ao longo destes últimos anos”?
Campos –
As pessoas dizem: “Eduardo é amigo de Aécio Neves”. É uma verdade. Mas a aliança feita em Belo Horizonte (PSB-PSDB) foi gestada por mim? Não. Foi gestada por Fernando Pimentel, que é uma pessoa ligadíssima à presidenta, ministro dela, e por Aécio. Eles me chamaram para perguntar se o PSB toparia filiar o Márcio (Lacerda, do PSB, que venceu a eleição para prefeito). Essa é que é a história. Em palanque nacional, a última vez que estive com Aécio Neves foi no palanque de doutor Tancredo. Agora, daí a desejar que a gente não dialogue... O presidente hoje do PSDB nacional é um deputado federal (Sérgio Guerra) que foi secretário do meu avô (Miguel Arraes, exilado político e ex-governador de Pernambuco) nos dois governos dele. Convivemos com ele, foi do meu partido, é meu amigo pessoal, com quem dialogo, e nem por isso esteve no meu palanque nas últimas eleições.
ÉPOCA – Dita com as palavras do ex-ministro Roberto Amaral, seu vice-presidente no PSB, a frase seria esta: “No plano nacional, não é possível fazer uma aliança com o PSDB”.
Campos –
O PSDB está numa situação em que não defendeu nem o legado do Fernando Henrique nem propôs ainda algo que se coloque em debate na sociedade. E é isso que Fernando Henrique tem cobrado do partido, com grande lucidez. A hora é de qualificar o debate. Não vou entrar nesse debate de maneira desqualificada. Em respeito a meu partido, em respeito à presidenta e em respeito, sobretudo, ao país.
ÉPOCA – Por que o senhor quer ser presidente da República?
Campos –
Quem lhe disse isso?
ÉPOCA – O senhor quer? O senhor tem esse sonho de ser presidente da República?
Campos –
Deixa eu falar, com toda a tranquilidade: quando quis ser governador, disse às pessoas que queria ser governador. Procure neste país alguém que procurei dizendo: “Quero ser candidato a presidente da República”. Em março de 2005, disse que seria candidato a governador em 2006 (foi e ganhou, no segundo turno, com 65,36% dos votos). Agora eu não disse isso. É preciso saber que, na política, também há pessoas que pensam, sem necessariamente se colocar. E sei o que é que vou viver, esse estresse todo, as pessoas querendo, achando que devo ser, que posso ser, que vou ser, outros olhando de um jeito diferente, ou com uma desconfiança, porque as circunstâncias políticas no Brasil vão, no ciclo pós-Dilma, escolher novas lideranças que pautarão o debate político. Então tem de ter calma. Estou sereno, tranquilo. No dia em que eu vier a querer ser presidente, vou responder a essa pergunta. Mas hoje não.
ÉPOCA – Foi por isso que o seminário dos prefeitos eleitos do PSB, no final de novembro, com 600 participantes, não virou uma festa de lançamento de sua candidatura, como alguns setores esperavam?
Campos –
Se eu quisesse, tocava fogo naquilo ali. Podia pedir a um governador, a um deputado.
ÉPOCA – E por que isso não aconteceu?
Campos –
Porque a gente tem um debate político feito no partido. Nós temos responsabilidade. Calma! O país está numa situação de muita dificuldade. Se a gente não ganhar 2013, podemos botar abaixo 20 anos de construção brasileira. Se a gente importar essa crise, começar a destruir o mercado de trabalho, começar a eleitoralizar esse debate, ir para a luta fratricida e não sei mais o quê, vamos desmontar grande parte do que foi a conquista dos últimos 20 anos. É isso que está em jogo. E quem você acha que vai ser respeitado como quadro político? Quem for fazer a disputa eleitoral pela disputa
eleitoral? Ou quem pautar o que interessa à sociedade?

2014: Eduardo Campos não sabe se vai ou se fica.


Pernambuco 247 - Pode parecer estratégia, não se sabe, mas o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, parece viver intensa indecisão sobre sua especulada e aclamada (por alguns) candidatura à presidência da República em 2014.
Num dia vemos um líder partidário e administrador aprovado de um estado com palavras firmes indicando a vontade de encarar o desafio e de tentar promover mudanças. Num outro vemos um aliado importante da presidente Dilma Rousseff, que deve ser candidata à reeleição em menos de dois anos.
Vamos aos fatos recentes que deixam clara a indefinição do socialista.
Nesta sexta-feira, ao receber homenagem da Assembleia Legislativa de Roraima, Campos voltou a defender a revisão do Pacto Federativo - tema que tem incomodado a base aliada da presidente. Ele elogiou FHC e Lula, mas não perdeu a oportunidade de afirmar que a hora é de "uma nova pauta para o Brasil".
No jogo do morde e assopra, Eduardo lembrou que o País vem de dois anos de baixo crescimento, "apesar dos esforços que têm sido feitos pela presidente Dilma". Ele classificou ainda o momento como "desafiador" e adiantou ser consenso que, para ganhar 2013, é preciso acelerar os investimentos públicos e privados.
Contudo, neste sábado, exatamente um dia depois do discurso desafiador em Roraima, o governador de Pernambuco garante em entrevista à Época que não será candidato e que estará com a presidente Dilma.
"Quem defende a presidenta Dilma neste momento deseja cuidar em 2013 do Brasil. Quem pode cuidar do Brasil é Dilma. Nós temos de ajudá-la a ganhar 2013. Ganhando 2013, Dilma ganha 2014. Então a forma de ajudar Dilma é dizer: em 2014, todos nós vamos estar com Dilma. Claro. Por que não vamos estar com Dilma?", indaga Eduardo Campos.
Mais além, o líder socialista afirmou que tem "identidade" com Dilma e criticou a "antecipação" do debate eleitoral.
"Ela é uma mulher que tem dignidade, tem força de pelejar com seus valores. Nem ela pode, a uma altura desta do campeonato, permitir que o debate se eleitoralize. Quem é amigo da Dilma, amigo do Brasil, não botará campanha na rua, nem da oposição nem a campanha da Dilma".
Sobre o assédio do PSDB, para uma possível composição de chapa com o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), que também pode ser candidato, Eduardo Campos afirmou que o partido "não propôs ainda algo que possa ser colocado em debate na sociedade".


Revista Oásis: Ideias para mudar o mundo: os projetos mais intrigantes de 2012

deias para mudar o mundo: os projetos mais intrigantes de 2012

: Robótica, genética e segurança foram os temas dominantes nos laboratórios de ciência em todo o mundo. A classificação “World Changing Ideas 2012” do Scientific American apresenta várias promessas para melhorar nossas vidas e o estado atual do mundo
20 de Dezembro de 2012 às 13:39

Flagrante Tumblr!!! Em 2013 estaremos mais atentos. Um Feliz Natal a tod@s que nos prestigiaram em 2012.

O mundo realmente acabou no dia de ontem... para José Dirceu.





 
Não estamos entre aqueles que ficam felizes com a desgraça alheia. A leitura da crônica política no dia de ontem, dia 21, no entanto, nos remetem à conclusão de que a torcida pela decretação imediata dos mensalistas era enorme.  Alguns chegaram às minúcias de descrever os momentos cruciais vividos pelo ex-ministro José Dirceu que, de tão abatido, não reuniu as condições de sequer alimentar o blog que mantém. Numa análise técnica do assunto, Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal, conforme já afirmamos, optou pelo julgamento de todos os recursos antes de determinar a prisão dos condenados. Gurgel e Barbosa estão assumindo posições republicanas, o mínimo que se esperava deles neste momento. Foram nomeados para cumprir suas funções públicas, embora não seja esse o raciocínio de alguns petistas que, dizem, já estão se movimentando no sentido de atingir Gurgel. Fernando Ferro, parlamentar pernambucano, seria, segundo alguns cronistas, o petista escalado para incomodá-lo.

A farsa, a pantomima e o deputado, artigo de Carlos Chagas

A FARSA, A PANTOMIMA E O DEPUTADO

Por Carlos Chagas



                                                                  Marx afirmou, Lênin repetiu: a História só se repete como farsa. Em 1966,  Castelo Branco cassou o mandato de mais três deputados, às vésperas da instalação de uma Assembléia Constituinte fajuta, convocada pelo Ato Institucional número 4.  O primeiro  marechal-presidente havia prometido ao presidente da Câmara, Adaucto Lúcio Cardoso,  que não cassaria mais parlamentares, em homenagem à nova Constituição a  ser feita. Terá sido pressionado pela linha-dura, cedeu e viu eclodir a crise. Adauto não aceitou  o gesto truculento e continuou dando a palavra aos três deputados. Por uma questão de cautela,  pediu que se transferissem para a enfermaria da casa, onde passaram a dormir e  a fazer as refeições. Seguiu-se a invasão do Congresso por tropa armada, liderada pelo coronel Meira Matos.
                                                                  Merece ser reproduzido o diálogo entre o militar  e o presidente da Câmara,  cercados por  soldados de fuzis embalados:
-         Alto! Quem vem lá?
-         O senhor, quem é?
-         Sou o poder civil, e o senhor?
-         Sou o poder militar!
-         Curvo-me diante da força e cumprimento os fuzis!

                                                                  As palavras de Adaucto, pronunciadas em meio a uma  reverência maliciosa, eram as mesmas ditas por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, em 1823, quando por ordem de D. Pedro I  os militares fecharam a primeira  Assembléia Nacional Constituinte de  nossa História.
                                                                  O episódio engrandeceu o Congresso, apesar do triste resultado. Os três deputados foram presos e perderam os mandatos.
                                                                  Agora vem a farsa. O  atual presidente da Câmara, diante da  cassação de três deputados por sentença do Supremo Tribunal Federal,  arvora-se em repetir o episódio  anterior. Quinta-feira, quando se duvidava da prisão imediata  dos deputados condenados por corrupção, o deputado  Marco Maia ofereceu-se para abrigá-los nas dependências da Câmara, insurgindo-se contra  a possível  aplicação da lei pelo ministro Joaquim Barbosa.  Em nenhum momento a situação foi  a mesma, a ditadura saiu pelo ralo, mas o representante gaúcho embaralhou as cartas e procurou confundir-se com o ilustre antecessor de 46 anos atrás.  Não conseguiu. Apenas encenou uma pantomima...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Brasil 247: Geraldo desconversa sobre candidatura de Eduardo Campos.

Leonardo Lucena_PE247 – O prefeito eleito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), deixou em aberto a possibilidade do presidente da legenda e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, se candidatar à Presidência da República em 2014. Afinado com o discurso do seu padrinho político, o futuro gestor disse que agora não é o momento para se discutir as próximas eleições presidenciais. Sobre a relação entre petistas e socialistas, ele acredita que será possível manter a aliança daqui a dois anos em nível estadual. Se esta parceria será mantida no plano nacional em função dos planos nacionais de Eduardo Campos, Geraldo, mais uma vez, desconversou acerca do assunto
 “A eleição 2014 deve ser discutida em 2014”, afirmou Geraldo Júlio. “O que é importante agora? Nós estamos com a presidente Dilma. Somos parceiro dela, ela é uma grande presidente, uma mulher honrada, aprovada por mais de 70% dos brasileiros e tenho certeza de que vai nos ajudar muito a melhorar a vida da população recifense, que é brasileira”, declarou em entrevista ao repórter Gerson Camarotti, da GloboNews.
A instabilidade na relação PT-PSB veio após o governador de Pernambuco, Eduardo Campos ter lançado candidaturas próprias em várias cidades onde o Partido dos Trabalhadores também tinha postulante. O saldo destas eleições é que o PSB foi a legenda que mais cresceu e governará o maior número de capitais (cinco). De todo modo, Eduardo foi acusado de “traidor” pelos petistas, já que ambas as siglas mantinham uma aliança histórica. Apesar disto, a parceria ainda é mantida em nível nacional e o PSB integra a base do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). A campanha pela Prefeitura do Recife foi marcada por agressões e provocações de ambos os lados.
“Não falaria em rompimento. Nós (PT e PSB) continuaremos sendo aliados no ponto de vista federal e estadual também”, disse Geraldo Júlio. De qualquer maneira, o PT ganhou Secretaria de Habitação na próxima gestão, que será comandada por Eduardo Granja. O petista já passou pelas secretarias municipais da Juventude e de Turismo.
Mesmo assim, os petistas continuam divididos internamente, pois a ala da corrente Construindo Um Novo Brasil (CNB), liderada pelo candidato derrotado, o senador Humberto Costa, continua intransigente em sua posição de não aderir à Frente Popular, encabeçada pelo PSB, a despeito de boa parte dos seus correligionários.
Assim como o governador Eduardo Campos, possível candidato a presidente em 2014, o prefeito eleito não responde se PSB e PT serão ou não adversários nas próximas eleições. “O ponto agora é cuidar de 2013, um ano importante para o país, um ano em que a gente precisa juntar todas as forças políticas e a da sociedade para fazer esse país crescer na casa de 3% ou 4% ao ano”, acrescentou.
Apesar do discurso alinhado com o de Eduardo Campos no sentido de deixar em aberto a consolidação da possível candidatura presidencial do governador, Geraldo Júlio disse que a gestão eficaz é a marca do seu partido. “Mais um símbolo importante para o PSB. Aqui no Recife, com muita força e determinação, aplicaremos o modelo que o PSB vem aplicando, governando com sucesso em outras cidades e em outros estados a exemplo do que vem ocorrendo em Pernambuco”, complementou. Esta posição é um dos motes propalados por Eduardo no que diz respeito ao modelo de gestão do PSB e deverá se utilizado como peça de campanha caso ele decida romper com o PT e se lançar candidato ao Palácio do Planalto em 2014.

STF: Os mensaleiros podem encomendar o peru de natal.



 

Algumas maldades são praticadas exatamente neste período do ano para infelicitar ainda mais a vida dos infelizes. Um colega professor foi comunicado de sua demissão no dia de réveillon, quando preparava a ceia com a esposa. Nuca vi tanta maldade. Certamente não foram os sentimentos cristãos que levaram o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, a determinar que as prisões dos condenados durante o julgamento do Mensalão apenas deve ocorrer após o julgamento dos recursos apresentados pela defesa. A Procuradoria Geral da República pedia a prisão imediata dos condenados. Com o prestígio nas alturas – hoje ele aparece até mesmo nas sondagens de opinião sobre candidatos à Presidência da República – a expectativa de muita gente é que Joaquim mandasse encarcerar imediatamente os condenados. Neste caso, prevaleceu o bom o senso e, sobretudo, uma avaliação meramente jurídica dos fatos. Joaquim não teria nenhum constrangimento de determinar as prisões movido por outros sentimentos, embora seja um cidadão com profunda sensibilidade. 

Carta Capital: Xavantes, invasores e o Imnpério da Lei



por Felipe Milanez

Uma das maiores operações de aplicação da lei jamais realizada na Amazônia brasileira começou no domingo 9 de dezembro. Nos últimos dias, conseguiu minar resistências locais e retomar para o patrimônio da União cerca de 50 fazendas ocupadas ilegalmente. Trata-se de uma terra indígena invadida, que é homologada pela Presidência da República e garantida por reiteradas decisões judiciais (Primeira Instância, Segunda Instância e o Supremo Tribunal Federal).
Crianças protestam pelo direito de permanecer em suas terras. Foto: Ministério Público Federal
A Justiça determinou a posse, mas faltava o cumprimento da ordem. Em campo, estava estabelecido um conflito territorial e ecológico entre um povo indígena, os xavantes (A’uwê Uptabi, em sua denominação), e a estrutura agrária que avança em busca de novas terras, formada por pequenos produtores rurais, posseiros, grandes fazendeiros, políticos profissionais, e grandes interesses econômicos do agronegócio. Em disputa estão 165 mil hectares de terra, dos quais 110 mil eram de cobertura de floresta amazônica e 20 mil de cerrado. Hoje, segundo a Funai, mais de 60% virou pasto e soja, e um terço é controlado por 22 “casas grandes” que não admitem interferências em seus negócios.
Caetano Veloso, em seu último disco, canta que “O Império da Lei” há de chegar, e em uma analogia podemos dizer que “há de chegar no coração do Mato Grosso, há de chegar lá”. O deslocamento desse império para cumprir a lei ocorre com sua força mais bruta: Forças Armadas, Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, e um aparato burocrático coordenado pela Presidência da República, que envolve, entre 12 órgãos, o Incra e a Funai. E a resistência a ele utiliza métodos amplos: pressões políticas no legislativo, executivo, judiciário, mídia. E também as cruéis: ameaças de morte, de sangue, de guerra, e racismo e intolerância. “A política é a guerra por outros meios”, disse o filósofo Michel Foucault.
Pergunte a algum xavante de Marãiwatséde sobre a recente decisão do STF, em que Joaquim Barbosa, em dezembro, confirmou decisão de Ayres Britto, de outubro, enquanto este era presidente do Supremo, em que suspendia uma liminar que impedia a retirada dos invasores. Ou sobre as manifestações na Rio+20. Ele dirá que é preciso compreender o seu retorno à região em 2004, a homologação de 1998, as denúncias internacionais de sua opressão em 1992, a Eco92 e, sem entrar em sua longa e milenar etnohistória, dos conflitos no nordeste na época da chegada dos europeus e aldeamentos em Goiás, já no século XVIII, ou nos primeiros contatos pacíficos com os colonizadores em 1960, e chegará ao mês de agosto do ano de 1966: data chave para se compreender o que ocorre hoje.
O líder Damião com a decisão do desembargador Souza Prudente, do TRF-1, de 18 de maio de 2012, que revogou decisão que suspendia a desintrusão. Foto: MPF
Quem primeiro sentiu força do poder do Estado na região do médio Araguaia não foram os fazendeiros, mas os A’uwê Uptabi. Em 1966, 233 homens e mulheres xavantes embarcaram em aviões da FAB com destino a uma missão católica 450 quilômetros ao Sul no estado do Mato Grosso. O território que ocupavam então, próximo ao recém criado Parque do Xingu (1961), havia sido deixado de fora da proteção indigenista por Jânio Quadros, que excluiu todas as áreas xavantes que constavam nos primeiros projetos apresentado pelos irmãos Villas Bôas, Darcy Ribeiro, Noel Nutels e Eduardo Galvão. A terra era objeto de cobiça de grandes fazendeiros e grileiros paulistas, liderados por Ariosto da Riva, um “colonizador” de São Paulo, e também por políticos matogrossenses. Até então “isolados”, ou tido como “arredios”, os xavantes refutavam relação com a sociedade hostil que os cercava e com o Estado. Restava a troca de violência mútua, com os índios atacando ranchos, e os “brancos” promovendo “expedições punitivas” dizimando aldeias, além de algumas trocas de alimentos e bens materiais eventualmente pacíficas.
Um gerente de Ariosto da Riva, que cuidava da área na época, reclamou que os índios estavam frequentando demasiadamente a sede para pegar facões, machados e farinhas, e estavam dando prejuízo. Com o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) decadente, envolto em escândalos de corrupção (viria a ser extinto para dar lugar a Funai no ano seguinte), veio a decisão de “limpar a área”.
A articulação para o desalojamento desta comunidade foi mobilizada no início da Ditadura. Envolveu o exército, a força aérea, o SPI, a Igreja Católica, com o padre Mário Panziera tomando a frente, políticos locais, e o financiamento da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) para o agronegócio. Nas duas semanas seguintes à transferência, cerca de dois terços dos A’uwê Uptabi que haviam sido deslocados de seu território faleceram na missão Salesiana São Marcos.
Sobre os índios caiu uma bomba química conhecida como sarampo. O número de mortos, em torno de 160, não é preciso. Entre eles estava Ru’waê. Um senhor magro, alto, forte, que exercia uma liderança influente sobre seu povo, porém não absoluta – tanto que foi voto vencido e mudou-se contrariado a sua pretensão de resistir. Entre os filhos que deixou estão Paridzané (“Damião”), e Ruwa’wé (“Rufino”).
Francisco Tsipé, guerreiro Xavante – o ancião da aldeia, carregando nas mãos um punhado da sua terra de origem. Foto: MPF
Os descendentes de Ru’waê nunca desistiram do retorno. Rufino foi o guerreiro, mantinha o grupo unido internamente, enquanto Damião o político que representava a comunidade diante dos brancos. Porém, o mesmo Estado que os havia deslocado, agia para impedir esse retorno. A terra foi para Riva e transferida ao grupo Ometto. Os índios, revoltados com o que acontecia, passaram a ocupar diferentes terras xavante, que conheciam por laços históricos. A fazenda transformou-se em Suiá Missú (referência a dois cursos d’água), o maior latifúndio do Brasil, palco de violência local e objeto de valor no mercado de terras, sendo então comercializada. Passou para as mãos da Liquigás, sucedeu-se para a italiana Agip Petroli, e aí permaneceu ao longo dos anos 1980.
Nesse período, os A’uwê Uptabi seguiram uma extenuante diáspora. Mudaram-se para o território de Sangradouro, depois Parabubue, Areões, e receberam exílio, finalmente, na terra de um grupo xavante com o qual possuem antigos relacionamentos de alianças: o grande chefe Warodi (falecido em 1988), da vizinha terra indígena Pimentel Barbosa, autorizou a construção da aldeia Belém, existente até hoje.
Nos anos 1970 e 1980, muitos territórios xavantes foram demarcados no estado do Mato Grosso – que serviram de refúgio aos de Marãiwatséde. Excluídos de seu território e enfraquecidos em razão da grande mortandade que sofreram, e ao exílio e à diáspora a que estavam submetidos, não conseguiram reunir força suficiente para recuperar a terra. No entanto, em nenhum momento deixaram de se considerar como A’uwê Uptabi de Marãiwatséde, o que chegava a causar conflitos por motivos históricos com os outros xavantes. Mas nada que impedisse uma eventual alianca contra os waradzu, ou “brancos”: Siridiwê, cacique da aldeia Ethenhiritipá, disse que se precisar ir para guerra para ajudar Paridzané a defender Marãiwatséde, seu povo está pronto. Assim como xavantes de todas as terras indígenas têm expressado solidariedade à luta de Paridzané.
Vem então o fim da Ditadura, a Constituição Federal de 1988, e a conferência Eco92, e a história da relação dos xavante com o Estado começa a mudar. É nesse período que ocorre a principal aproximação política com uma organização internacional, que veio a ser fundamental para a história da retomada: a italiana Campagna Nord Sud, que funcionou de 1989 a 1992. Liderada pelo parlamentar verde Alex Langer, a organização fiscalizava a atuação de empresas italianas no mundo. E o caso da Agip em terras xavantes foi exposto, causando grande constrangimento. A mobilização envolveu a ida de Paridzané para a Itália e matérias nos jornais italianos. A visibilidade da conferência internacional foi considerada uma esperança para o líder xavante para atrair atenção ao seu caso. Também para que pudesse ter um novo acesso às instituições do Estado, dessa vez para beneficiá-lo com os direitos adquiridos em 1988. Queria o retorno a Marãiwatsède e a demarcação da terra.
Reunião no Posto da Mata em 1992.
Em 10 de junho de 1992, durante a Eco92, o presidente da Agip Petrolli, Gabrieli Cagliari, declarou que a empresa iria devolver a terra aos xavantes. O sopro de esperança aos xavantes na Cidade Maravilhosa se transformou em um vento forte e turbulento no Mato Grosso: subsidiária brasileira rebelou-se. Renato Grillo, gerente local da fazenda Liquifarm Suia-Missu, discordou das intenções dos patrões italianos, e passou a incentivar as invasões. No dia 16 de junho, escreveu carta ao Ministro da Justiça informado que 250 posseiros haviam invadido a propriedade que estava sendo devolvida aos índios. Mas não poderiam ocupar tudo: mapas indicavam os locais destinados aos pequenos, aos médios e grande parte, pelo menos um terço no primeiro momento, tinha outro destino: o agronegócio. Em 30 de novembro a mesma empresa anunciou um leilão das terras, organizado pela Companhia Brasileira de Leilões, no Castro’s Hotel, em Goiânia, dispondo um cartaz com selo do Bamerindus. Além das terras, também foram comercializadas 14 mil cabeças de gado.
No meio da floresta, em torno no posto de gasolina ilegal que começava a aglomerar habitantes, o “Posto da Mata”, teve início um novo uso do racismo para deslegitimar o direitos dos índios, na iminência do retorno. Racismo semelhante ao perpetrado por Riva, Ometto e os militares em 1966. As fotografias da época mostram uma terra poeirenta (era o início da seca), e os longilíneos caules amazônicos com as copas espessas ao fundo. Uma gravação da Rádio Mundial FM, de 20 de junho de 1992, a partir das 3 da tarde, descreve  o encontro de posseiros e fazendeiros e o movimento de invasão deliberada.
Alguns trechos dos áudios revelam que uma das principais estratégias dos organizadores da invasão era utilizar o racismo e o ódio aos índios como uma ferramenta de união:

Primeiro, Mazinho, um político local:
- E se for colocar índio no seu ambiente natural tem que mandar pra onde tem mata virgem. Como é que vai colocar índio no meio do povo?;
Em seguida, Baú, o então prefeito de São Felix do Araguaia:
Enquanto a empresa estava intacta nos respeitamos a propriedade. Temos que respeitar a propriedade para ser respeitados;
O povo da região ficou preocupado com o retorno desses índios;
Se a população achou por bem que deve tomar conta dessas terras ao invés de dá-las para os índios, nós temos que dar esse respaldo para o povo;
É o próprio povo que está entrando e demarcando suas terras. Ainda não foi passada a escritura para os índios;
Já conversamos com o governador, que dará todo o respaldo ao povo;
Essa ojeriza do nosso povo aos xavantes é muito antiga;
O xavante é um índio arrogante;
O que já marcou o lugar primeiro o lugar é dele;
Não tem a mínima possibilidade do retorno desses xavantes. Estamos canalizando a vontade do povo;
Nós não queremos índios aqui senão vai desvalorizar toda a região;
Conversamos com o governador e ele disse que não vai mandar polícia, podem ficar tranquilos;
Filemon Gomes Costa Limoeiro, atual prefeito de São Felix do Araguaia, seguiu o discurso:

Ou nós ou eles, e preferimos ser nós;
Hoje (a terra) ia ser jogada nas mãos dos índios;
Aqueles que estão preocupados com os índios, que tem que assentar, tem um monte de país que não tem índio. Pode levar a metade;
Na Itália tem índio? Não, não tem. Leva! Leva pra lá! Carrega prá lá! Agora, não vem jogar em nós não. Para atrapalhar uma região;
Se colocar índio aqui acaba;
A gente ajuda com caminhão, eu tenho caminhão pra carregar eles pra lá. Aqui não;
Índio vem pra cá e não vai produzir nada;
Que deixe essa área aqui pro pessoal que quer trabalhar;
Xavante é de cerrado, em mata ele não entra, tem medo da onça
Trazer esses índios vai prejudicar a região toda

Imaginando-se “livres” dos índios, planejavam construir uma “cidade” no Posto da Mata, seguindo um plano bandeirante de Ariosto da Riva. Riva estava vivo ainda na época e, segundo informa uma voz na rádio, estava feliz com a possibilidade da “cidade dos posseiros” e o “progresso”. “Vamos respeitar essa área da cidade porque depois vai dar problema”, ordenava a liderança aos posseiros que chegavam, seguro de si dos padrões urbanísticos pretendidos. Alguns mostravam restrições, perguntando se os índios não iriam voltar, e se voltassem, o que iriam fazer. Mas daí surge outro, mais durão, e diz em tom de quem se garante: “nós já temos uns caboclo bom lá do Bom Jesus já na linha de frente ali na Guanabara. Eu Acho que a gente tem que estar disposto a qualquer coisa. A terra é nossa. Disposto a qualquer coisa.”
A reunião que decidiu a ação no começo dos anos 90. Foto: Divulgaçao
Corajosamente, a antropóloga Iara Ferraz, engajada na defesa dos direitos dos índios e que assina o laudo de identificação do território para a Funai, afirma nessa mesma gravação, com voz firme, que a área está em processo de ser reconhecida. “É uma irresponsabilidade muito grande do prefeito e de todos que incentivaram a ocupação sabendo que está em curso um processo de reconhecimento de terra indígena. É uma irresponsabilidade. É um crime”, dizia ela aos posseiros.
A Funai em 1991 e 1992 mobilizou-se para demarcar Marãiwatséde, e os primeiros passos são dados nas gestões dos sertanistas Sidney Possuelo e, na sequência, Cláudio Romero, este identificado ao longo de sua vida com o povo xavante. Ao mesmo tempo, o poder político na região arma as estratégias de resistência do território que tentam conquistar. A antropóloga Iara Ferraz apresentou o laudo com agilidade, a terra é reconhecida pela Funai em 1992 e demarcada em 1995.
Em 1998 é homologada a Terra Indígena Marãiwatséde, registrada em cartório no ano seguinte, sem que nenhum xavante consiga entrar na área, ocupada e vigiada por mais invasores. À medida que a pretensão indígena ganhava cada vez mais respaldo do governo federal, a ocupação ilegal era intensificada. Na década de 2000, ano após ano, Marãiwatséde tem sido a terra indígena mais desmatada na Amazônia.
Cartaz do leilão de terras patrocinado pelo Banco Bemerindus de novembro de 1992
Liderados por Paridzané, os A’uwê Uptabi deixaram o exílio em Pimentel Barbosa e partiram, em 2004, com guerreiros, velhos, mulheres e crianças, para retomar a área. O conflito foi estabelecido com posseiros em um front marcado por um córrego, ao longo de seis meses. Três crianças faleceram nesse período. Em agosto desse ano, tendo em mãos uma decisão favorável, ainda em caráter liminar, da ministra do STF Ellen Gracie, os A’uwê Uptabi entram na primeira fazenda, Caru, e fizeram ocupações nas proximidades. Em 7 anos agindo quase que por conta própria, apenas com apoio da Funai local e pouco assistidos pela força do Estado, conseguiram retomar menos de 10% do território.
Em 2010, o Tribunal Regional Federal confirmou decisão de primeira instância, favorável aos xavantes, em ação que discutia a demarcação. O Poder Judiciário reconheceu a legalidade do procedimento administrativo de demarcação da terra indígena e, consequentemente, determinou a retirada dos ocupantes não-indígenas e a recuperação das áreas degradadas da TI Marãiwatsédé. A decisão garantiu a posse plena dos indígenas na totalidade da terra indígena – e não apenas na área da aldeia onde já estavam.
No entanto, o TRF não determinou o cumprimento da ordem. Conforme esclarece uma nota técnica da Funai: “Após receber em seu gabinete três representantes de um grupo de aproximadamente 300 mulheres do movimento, e de dois parlamentares da bancada do Estado do Mato Grosso, todos que se opõem à desintrusão, o Desembargador Federal concedeu tal ordem de suspensão. Embasado no seu entendimento de que “na atual situação de exaltação dos ânimos entre os envolvidos, a melhor solução é manter o status quo”. Um eterno “status quo” da ocupação ilegal era pedido.
Exemplo de campanhas racistas promovidas pelos invasores
No final de 2012, a questão chegou ao Supremo. Houve a definição da Corte, pelo presidente Ayres Britto e em seguida reconfirmada pelo novo, Joaquim Barbosa, determinando que fosse cumprida a sentença, confirmada pelo tribunal regional, em que o “status quo” deveria ter o sentido jurídico de manutenção da ordem jurídica, e não da ordem dos fatos opostos ao Direito, isto é, a invasão.
Nesse mesmo ano, Paridzané voltou ao Rio de Janeiro, agora para a Rio+20, e circulou tanto pelo espaço oficial da ONU, quanto pela Cúpula dos Povos. Era auxiliado pela Operação Amazônica, uma organização de apoio aos povos indígenas. Encontrou personalidades, políticos, apareceu novamente na mídia, e expos o drama e a angústia do exílio, da pressão e das ameaças. Em um dos discursos, mencionou algumas vezes a palavra morte. Terminando por dizer que queria morrer em Marãiwatséde.
O segundo semestre foi intenso. O governo preparou um plano de desintrusão, reunindo 12 órgãos e coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência. “O Estado, no caso governo federal, atuando para dar suporte para essa decisão da Justiça. É isso o que está acontecendo. Da parte do governo, da presidenta, essa é uma decisão irreversível”, afirmou Paulo Maldos, coordenador geral do grupo de trabalho em (Clique AQUI para ler).
Os mesmos atores políticos que deliberaram a invasão em 1992 reapareceram. O prefeito Filemon, os posseiros e produtores reunidos em uma associação, grandes fazendeiros, políticos, deputados, senadores. Ao contrário de advogados locais, a Associação dos Produtores Rurais de Suiá Missú (Aprosum), contratou o irmão da influente senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) – Luis Alfredo Ferezin de Abreu. A principal estratégia de defesa passou a ser a vitimização dos posseiros – uma tentativa de apresentar um “status quo” de inocência, e glorificar uma “reforma agrária” feita “pelo povo”. Em oposição às “vítimas pobres”, vinha o ataque aos índios, caracterizado por mensagens racistas e tentativas de desumanizar e desindigenizar a comunidade.
Mais campanha online contra os índios.
Nas redes sociais, jovens de São Felix do Araguaia passaram a expor um sentimento muito parecido com aquele exaltado por seus pais em 1992. NO entanto, camuflados pela impessoalidade das redes sociais, se mostraram mais agressivos: “VAMOS FUDE COM ESSES FILHOS DA PUTA”, escreveu um no Facebook. “Eu entro com armas e munição”, comentou outro. A foto em discussão apresentava o dizer: “Vão mesmo deixar 500 índios preguiçosos que só dorme e come as nossas custas tomar a área de 7 mil trabalhadores?” O pequeno jornal Bbnews anunciou uma chamada: “Em pé de guerra: ONGs querem transformar o Araguaia em país indígena”.
A bandeira nacional foi queimada, e a violência passou a ser caracterizada pelo afrontamento, nas últimas semanas, às forças de segurança, ao “império da lei”. Uma rivalidade entre os irmãos Paridzané e Ruwa’wé foi acirrada. Ruwa’wé foi expulso da aldeia e a Funai foi inábil em tentar promover a paz para proteger a comunidade de pressões externas. Os invasores puseram em prática a “estratégia de Cortez”, e com dinheiro e promessa para alguns índios, trouxeram Ruwa’wé para o seu lado. De forma amarga, ele passou a se dizer contrário à terra pela qual lutou sua vida inteira. O governo do estado oferecia, mesmo sendo contrário à Constituição, uma outra terra, uma “permuta”. Ruwa’wé aceitou a oferta, uma sedutora área alagada que é o Parque Estadual do Araguaia. Um parque de conservação em troca de uma terra indígena é uma transação plausível na retórica de quem vê “terra” como “fazenda”, e “índio” como “espécie”, sendo ainda uma “espécie” possível de ser “transladada” para áreas sem qualquer sentido cultural com a sua existência.
Ameaças de morte quase foram às vias de fato com o bispo dom Pedro Casaldáliga e com o líder xavante Damião Paridzané – além também a pequenos produtores que queria retirar seus pertences e mudarem-se para um assentamento e ao prefeito de Alto Boa Vista, Wanderley Perin. Na tribuna do Senado, com um congresso bastante movimentado pelo lobby ruralista, o senador Cidinho Campos (PR), sugeriu a desumanização dos índios: “Hoje podemos dizer que, primeiramente, existem os direitos dos índios e, depois, vêm os direitos dos humanos”. A Comissão Pastoral da Terra considerou “a manifestação carregada de preconceito e ódio”. Em carta, afirmam: “Tudo isso vem trazendo um clima irrespirável e consequências graves não somente para o povo Xavante, mas para toda a sociedade. Provocam-se e acirram-se, a cada dia, ódios e chantagens vingativas e violentas.”
Na imprensa local e em sites falava-se em guerra, sangue, resistência e uma postura desafiadora e intimidadora. Realizaram bloqueios, que espalharam-se, em agrosolidariedade e agroaltruísmo, pelo estado. Uma equipe do jornal Folha de S. Paulo foi abordada em um destes bloqueios no interior do Mato Grosso, onde escutou: “gente de ONG a gente quebra”. O governo federal enviou um efetivo grande, e articulou toda a força do Estado, isolando a região, controlando a circulação. Aos poucos, a resistência foi minando. “Diarréia e dengue minam o ânimo dos moradores do Posto da Mata” anunciou um site local.
Primeiro, caíram os grandes fazendeiros. Em seguida, os médios. No último balanço da Funai, de 18 de dezembro, “41 fazendas vistoriadas desde o início da desintrusão até o fim do dia de ontem (17) e, destas, 18 estavam desocupadas.”
Com relação aos pequenos posseiros, a Funai, representando todo o grupo do governo, informa: “Até o momento, o Incra já cadastrou 183 famílias, 80 das quais se adequam ao perfil. As famílias reassentadas receberão um Contrato de Concessão de Uso da Terra, que se constitui no primeiro passo para o acesso à terra e aos créditos iniciais. Também serão integradas ao Cadastro Único do governo federal e, por meio dele, poderão acessar programas sociais como Bolsa Família, Brasil Sorridente, Brasil Carinhoso, entre outros. A partir de terça-feira (18), será realizada a mudança das primeiras cinco famílias que se cadastraram no programa de reforma agrária. Elas serão levadas ao assentamento Santa Rita, localizado em Ribeirão Cascalheira (MT).”
A primeira vez que eu estive em Marãiwatséde, no início de 2006, eu não imaginei que estava na Amazônia. Não por alguma imagem de cerrado, localizado próximo dali e presente originalmente em 10% da área. Mas pelo grande vazio. Era difícil encontrar a “mata alta”, a “mata perigosa”, a “mata fechada”, como Paridzané traduziu para mim a palavra marãiwatséde. Eu poderia estar no interior de São Paulo ou de Minas Gerais, as áreas hoje ocupadas por grandes empreendimentos do agronegócio, mas que foi toda dominada pelos extintos caiapós do sul no século XVIII e XIX (Hoje se imagina que o povo Panará, que vive no Mato Grosso, pode ser descendente de um grupo desses caiapó).
Havia uma angústia no ar. Um sentimento entre os índios de que a retomada estava prestes a acontecer, pois eles estavam dentro da terra e Paridzané descrevia as festas que já haviam realizado ali com grande alegria. Mas 17 crianças haviam morrido naquele ano – e quase todos os xavantes, em luto por perder um familiar, tinham os longos cabelos raspados. “Brígida”, como fui apresentado à mãe de Paridzané, tinha então mais de 90 anos, e contou palavras que havia dito a seu filho: “O espírito do seu pai está lá em Marãiwatséde. Quero morrer dentro da terra de Marãiwatséde.” Ela praticamente não falava, nem levanta de sua cadeira de rodas. Mesmo assim havia conseguido retornar, acompanhada do filho. Na época, Paridzané me disse: “Ela veio junto com a gente, resistiu, lutou, ficou acampada para entrar ao lado dos guerreiros. Era o sonho dela voltar. Desde que chegou, nunca quis ir para o hospital. Não quer mais sair.”
Não bastava a vontade dos índios, ou a vontade dos fazendeiros, para por fim as angústias, seja dos índios, seja dos posseiros inseguros da posse. Era preciso alguma força maior, um “império da lei” para dirimir os conflitos. E, principalmente, para reparar uma injustiça histórica. A operação de desintrusão ora em curso, representa uma nova relação do poder do Estado com os xavantes, e segundo classifica Paridzané em carta divulgada pelo Ministério Público Federal, ela é “ótima”.
“Agora a desintrusão já começou. Os anciões esperaram muito tempo para tirar os não-índios da terra. Sofreram muito. A vida inteira sofrendo, esperando tirar os fazendeiros grandes.
A lei federal, a constituição, as autoridades estão do nosso lado. As autoridades da Força Nacional, exército, polícia federal estão do nosso lado porque a presidente Dilma sabe que a terra é dos xavantes de Marãiwatsédé.
Agradecemos as autoridades e todas as entidades que nos apoiam nessa luta da verdade contra a mentira. A desintrusão é ótima.”