pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Lula - uma no cravo outra na ferradura
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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Editorial: UFPE tem 31 milhões de reais bloqueados pelo governo.



Notícia muito triste essa que a imprensa pernambucana está repercutindo, informando que a Universidade Federal de Pernambuco teve 31 milhões de reais bloqueados, o que significa que 6 mil estudantes de mestrado e doutorado ficarão sem receber suas bolsas de estudos, comprometendo suas pesquisas, de acordo com o reitor Alfredo Gomes. Profundamente lamentável que tenhamos chegado a este estágio de descuido com as instituições federais, atingindo órgãos de fomento, pesquisa, ensino superior de graduação e pós-graduação, além dos institutos de formação técnica. Outro dia li uma notícia  dando conta de que a Universidade Federal Rural de Pernambuco encontrava-se na mesma situação, senão ainda pior, pois não haveria recursos para manter sua estrutura em funcionamento. 

Não nos recordamos de uma crise desta mesma proporção, exceto, talvez, durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso, no bojo de uma reforma administrativa atroz, onde até papel higiênico faltou nas dependências da UFPE. Lembramos bem disso porque ainda éramos estudante da graduação. Aliás, devemos toda a nossa formação à UFPE. Fiz pós-graduação com bolsas custeadas pelo CNPq, órgão que também foi duramente atingido pelo corte de verbas. Sabemos bem o que signfica ficar sem receber essa bolsa, por vezes, único recurso com o qual o estudante conta.  

No finalzinho do governo, para atender o apetite voraz da turma do orçamento secreto, faltou dinheiro até para a merenda dos alunos nas escolas públicas. Salvo melhor juízo, o montante liberado previa algo como 36 centavos para cada aluno, o que não dava sequer, para comprar um ovo, dividido por quatro alunos, numa manobra solidária das abnegadas merendeiras. Este famigerado orçamento secreto - que se trata de uma verdadeira excrescência - infelizmente, precisou ser negociado por Lula, em razão das condições mínimas de governabilidade. Não torcemos por isso, mas é inevitável que ele enfrentará muitos problemas pela frente. Vamos aguardar as avaliações do STF, pois seus beneficiários, logicamente, o tratam como algo "inegociável".    

Editorial: A oposição bolsonarista ao futuro governo Lula.



Trata-se de uma notícia alvissareira essa movimentação das hostes bolsonaristas no sentido de organizarem uma oposição ao futuro Governo Lula. A leitura que fazemos por aqui é que, finalmente, eles começam a operar nos estritos limites impostos pela democracia representativa, o que é um bom sinal. O Ministro-Chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, tem reafirmado - embora não acreditemos muito nisso - que fará uma oposição cerrada a Lula pelos próximos quatro anos de governo. Já antecipou que não irá à posse do petista e, sempre que a oportunidade permite, faz juras de amor eterno ao chefe Jair Bolsonaro.  

O Senador Flávio Bolsonaro andou fazendo algumas considerações críticas em torno dos ajustes propostos pelo PT para administrar o teto do orçamento, diante da confusão em que se tornou este tema. De concreto mesmo, antes dos ajustes, é preciso encontrar dinheiro para o INSS, o SUS, as Universidades Públicas, além de honrar o pagamento do Auxílio Brasil, rebatizado de Bolsa-Família. O Gabinete de Transição fala num rombo de 400 bilhões. Vai demorar um pouco até que essa continha seja ajustada e possamos falar em responsabilidade fiscal dentro de parâmetros republicanos. 

O Bolsa-Família ficaria fora desses ajustes por um período de dois anos e consiste aqui a crítica do senador Flávio Bolsonaro. O presidente Jair Bolsonaro já avisou que não pretende voltar ao seu tradicional reduto político, o Estado do Rio de Janeiro. Deverá mesmo permanecer em Brasília, para acompanhar de perto o futuro Governo Lula. Já estaria à procura de uma residência na capital federal. Nenhum problema por aqui. Sejam todos muito bem-vindos. Lula tem feitos negociações amplas, com diversos partidos e atores políticos, sobretudo aqueles dos campos mais conservadores, pois será um governo de reconciliação nacional. O "estrago" institucinal e político provocado nos últimos anos foi grande. O próprio regime democrático, hoje, encontra-se ainda sob ameaça. O PT apoiará a reeleição de Arthur  Lyra(PL-AL) para a Câmara dos Deputados e, se houver outros liberais interessados em negociar com o futuro governo, as sinalizações são positivas. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Editorial: Ah! o discurso desses políticos. Por que não confiar?



Durante o período de campanha, das bravatas em praça pública, Lula mostrava-se completamente reticente à pessoa e a tudo que estivesse associado ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lyra(PL-AL). Precisou engolir - mesmo com a garganta avariada - o indigesto orçamento secreto, possivelmente contemplará o novo aliado com alguns nacos de poder no Executivo e, ainda, levou os partidos de sua base aliada histórica a apoiar o projeto de reeleição do alagoano para a Presidência da Câmara dos Deputados.  

Em São Paulo, sobretudo nos momentos mais decisivos da campanha, o governador eleito, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, fazia juras de amor eterno ao presidente Jair Bolsonaro. Vazou nas redes sociais, mais recentemente, supostas declarações, atribuídas a ele, em contrário ao seu passado bolsonarista raiz. Existem aquelas iscas mais adequadas para se fisgar determinados espécies de peixes. As traíras, por exemplo, são mais facilmente capturadas com iscas que se movimentam e, de preferência no período da noite, quando elas estão famintas. 

Para "fisgar" o Centrão nós não diríamos que existe uma isca adequada. Existe, na realidade uma única isca, com o recheio de cargos e liberação de emendas, hoje, preferencialmente, através do orçamento secreto, para não se ter a dor de cabeça com o expediente republicano da transparência da prestação de conta. Há um ilustre representante deste grupo que anda afirmando que irá fazer oposição ao futuro Governo do PT pelos próximos quatro anos; faz juras de amor eterno ao ex-chefe; lamenta as interpretações equivocadas sobre ele. É só uma questão de tempo para ele mudar de posição. De tempo, não. Corrijo-me. De liberações de emendas e cargos na máquina. 

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


Editorial: Alexandre de Moraes determina suspensão das contas da deputada Bia Kicis


O assunto de maior repercussão no momento - depois das expectativas em torno da posse de Lula, naturalmente - é o choro do presidente Jair Bolsonaro. O futuro presidente do país terá um diálogo importante com os emissários americanos, onde devera tratar de temas caros para a sobrevivência dos regimes democráticos nesses tempos bicudos de ocorrências de retrocessos autoritários em todos os quadrantes do planeta. A "onda" agora é um modelo de democracia "iliberal",onde, de democracia mesmo só se conserva a fachada. A rigor, não há conteúdo democrático. Comparamos àqueles pães franceses enormes, de boa aparência, inflado pela adição de bromato, mas sem miolo.

Temos por aqui algumas hipóteses sobre a motivação do choro do presidente, mas a nossa condição de cristão nos recomenda respeitar este momento introspectivo do mandatário do país. Quanto à suspensão das contas da Deputada Federal Bia Kicis, do Partido Liberal, em suas redes sociais, a razão parece ser óbvia, pois no argumento que justitica tal medida estaria supostas pregações em favor de uma solução antidemocrática para o país. As redes sociais é um ambiente pantanoso, cheio de is e armadilhas e ardis, onde procuramos circular tomando todos os cuidados possíveis. Não aceitar os resultados de uma eleição limpa, num regime de democracia representativa, já pode ser interpretado como uma atitude que depõe contra suas convicções democráticas. Não entro no mérito das postagens da deputada, porque não a acompanho, mas o Ministro Alexandre de Moraes não toma medidas que não sejam amplamente amparadas em fundamentos legais.  

O Brasil passa por um momento difícil, enfrentando uma grave crise política e institucional, ainda não completamente superada. Seria uma irresponsabilidade usar as redes sociais que não com o propósito de pregar a serenidade, o arrefecimetno dos ânimos, a solidariedade e o estrito respeito às leis e às regras do jogo democrático, que já definiu e sacramentou seus resultados. Qualquer coisa fora disso se constitue em desvios, que devem ser combatidos e é aí que entra a pena do Presidente do Superior Tribunal Eleitoral, o ministro Alexandre de Moraes.   

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Editorial: Paulo Câmara talvez volte mesmo a cuidar das "finanças".



Antes de entrar na seara política, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara(PSB-PE), era um técnico especializado em finanças, homem forte, da estrita confiança do ex-governador Eduardo Campos. Mesmo emparedado pelo seu grupo político, o ex-governador Eduardo Campos o escolheu como seu sucessor, tornando-o governador do Estado. Os acontecimentos acabaram atropelando o próprio Paulo Câmara, surpreendido com a morte prematura do seu tutor político, que o orientaria na difícil missão de gerir a máquina e se conduzir no ambiente movediço da política, repleto de tessituras, armadilhas e ardis. 

Ambos técnicos escolhidos a dedo pelo ex-governador Eduardo Campos, logo Paulo Câmara estabeleceria uma parceria com o ex-prefeito do Recife, Geraldo Júlio(PSB-PE), segundo comenta-se nos escaninhos da política, um dos grandes responsáveis por sua recondução ao Palácio do Campo das Princesas, cumprindo o seu segundo mandato. Mais recentemente, durante o tumultuado processo de escolha do candidato que concorreria ao Governo do Estado pelo PSB, nas eleições estaduais deste ano, a relação entre ambos ficaram bastante estremecidas, pois Geraldo Júlio seria o candidato "natural' dos socialistas.  

Aliás, essas eleições é um dos pontos nevrálgicos do processo de esfacelamento dos padrões de relações pessoais entre os socialistas. Eles estão sensivelmente divididos. Agora mesmo, por ocasião da composição e das sinalizações emitidas pelo Grupo de Transição do Governo Lula no sentido das prováveis indicações de ocupação de cargos na máquina, há socalistas tupiniquins apoiando nomes do Sudeste, ao invés de nomes locais, apenas para "isolar" os desafetos aqui na província. 

São nesses momentos que a gente percebe o que é mais valorizado, se os interesses pessoais ou de grupo, ou os interesses do Estado. Li agora na coluna do jornalista Cláudio Humberto que a "cota" do PSB talvez se resuma ao nome do senador Flávio Dino(PSB-MA), ex-governador do Maranhão, que deve ocupar o Ministério da Justiça, credenciando-se para uma indicação posterior ao STF. Curioso que, a princípio, Flávio Dino entraria na cota pessoa de Lula. Os dois outros nomes em disputa nas hostes socialistas seriam o de Márcio França e Paulo Câmara. Em tais circunstâncias, cogita-se que Paulo Câmara possa assumir algum cargo numa estatal, possivelmente na área de finanças, que ele entende tão bem. O governador entregará a máquina estadual à sua sucessora, Raquel Lyra, do PSDB, no estrito limite da responsabilidade fiscal, com as finanças completamente em ordem, com dinheiro em caixa para investimentos.  

Editorial: "Eleições livres, justas e críveis". Ponto final. O golpe está desarmado.



Assim que a apuração das eleições presidenciais no Brasil foram concluídas - com as urnas ainda "quentes', na expressão do jornalista Josias de Sousa, do portal UOL - o presidente norte-americano, Joe Baden, fez questão de ser o primeiro chefe de Estado a felicitar Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória. Na ocasião, reforçou sua crença no processo eleitoral brasileiro, afirmando que tais eleições foram livres, justas e críveis. Em meio à turbulência da crise política e institucional instaurada após a vitória do petista, Joe Baden tratou de enviar um emissário ao país para acertar um encontro com o futuro presidente, antes mesmo de sua posse. 

A manobra foi uma espécie de ducha-fria nas pretenções descabidas de alguns atores políticos no sentido de tumultuar o processo democrático no país, flertando com retrocessos autoritários. Há poucos dias, escrevemos um texto por aqui tratando desta questão, mas ainda não estava completamente convencido sobre o momento exato em que a eventualidade de um alternativa autoritária teria sido abortado. Não faz muito tempo, um general com trânsito na caserva e no poder civil emitiu algumas pistas, informamdo que tal perspectiva estava fora de cogitação, posto que as consequências seriam "terríveis". 

Teríamos até uma piada pronta a este respeito, mas não vamos mais colocar lenha na fogueira. O momento é de "desarme", de convivência pacífica, de reconstruir o país, de trilhar os caminhos dos avanços no que concerne à democracia substantiva - atendendo às demandas dos desamparados e desvalidos, que já chegam aos milhões - tudo consoante o escopo definido pelos parâmetros da democracia política. Nada fora disso. Do contrário, não teremos "manobras conjuntas".  

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


domingo, 4 de dezembro de 2022

Editorial: O ministério do Governo Lula



Diante de tantas controvérsias em torno do assunto, ninguém, com o mínimo de bom-senso, se arriscaria a fazer um prognóstico sobre os nomes que ocuparão os ministérios do futuro Governo Lula. Em princípio, serão 34 ministérios, divididos em sua base de apoio histórica, os nomes de sua cota pessoal e os nomes reservados aos seus "novos" aliados, fruto das negociações com o parlamento, visando preservar as condições mínimas de governabilidade. A fiel escudeira, Gleisi Hoffmann, pelo andar da carruagem política, poderá mesmo permanecer cuidando das tarefas partidárias, onde seria mais importante neste momento. Caiu na bolsa de apostas ministeriais, pois estava cotadíssima para assumir a Casa Civil, que poderá ser entregue ao baiano Rui Costa, que entra na cota pessoal de Lula. 

Ainda pelo andar da carruagem política, certos mesmo são os nomes de Fernando Haddad, para a pasta da Economia - o que sugere que Lula pretende prepará-lo para as eleições de 2026 - e o ex-governador do Maranhão, Flávio Dino, que deverá ocupar a pasta da Justiça ou Segurança Pública - já que existe um projeto de desmembrar essas duas pastas - cacificando-se para o seu grande objetivo, que seria uma indicação para o STF, coroando sua carreira jurídica. 

Num momento em que as Forças Armadas estavam pacificadas, o Ministério da Defesa não tinha tanta importância assim. Hoje, diante da crise institucional instaurada, tal ministério assume uma relevância singular. Lula faz gestões pessoais para que o ex-ministro do TCU, o pernambucano José Múcio Monteiro, assuma tal ministério, com delegações bem específicas neste momento de crise. Para o Meio-Ambiente, que este editor considerava favas contadas, surgem outros postulantes ao cargo, além de Marina Silva. Randolfe Rodrigues, uma peça-chave na campanha do petista, cresceu na bolsa de apostas.  

Charge! Jean Galvão via Folha de São Paulo

 


Editorial: A Torre de Babel em que se transformou o Gabinete de Transição de Lula


A Torre de Babel é um desses mitos bíblicos, narrando no livro de Gêneses. Teria sido erguida pelos descendentes de Noé, e tratava-se de uma imensa torre, que tinha como objetivo estabelecer uma comunicação com Deus. O todo-poderoso não gostou da ideia e, em razão da soberba dos homens, criou a confusão necessária para o desmoronamento do projeto. Ninguém conseguiu entender, até o momento, as razões pelas quais o Gabinete de Transição de Lula assumiu essa conformação. Como observa o jornalista e articulista da revista Veja, José Casado, é uma equipe imensa, formado por mais de 900 pessoas, hoje impossibilitados de serem acomodados, no espaço físico previsto para esta finalidade, em Brasília. São 904 pessoas, uma população maior do que uma cidade localizada no centro-oeste de Minas Gerais, Serra da Saudade.   

Mas, o problema não é só esse. Na realidade, ninguém se entende por ali. Lula procura manter distância da miudeza e o coordenador da equipe, Geraldo Alckmin, emite indícios de ter perdido o controle da situação, posto que incapaz de administrar o ego de alguns grupos de trabalho. Comenta-se até, que já tem gente falando em língua estrangeira, para não se fazer entendido por alguns companheiros indesejáveis. A experiênfia mostra que o desfecho não poderia ser outro, apesar das supostas boas intenções de democrtizar amplamente essa discussão. 

Na prática, não funciona. Acaba por não levar a lugar algum. Isso nos fez lembrar de um episódio ocorrido aqui no Recife, quando um jovem diretor de uma instituição museológica, destinada a preservar acervo relativo ao período da abolição da escravatura no país - diante do desafio de reestruturar tal exposição - resolveu abrir um amplo debate com os grupos representivos do movimeno negro. Logo ele descobriria que o movimento negro não tem nada de tão unificado assim e as discussões assumiriam uma proporção que fugia ao controle de uma sistemaização e um consenso desejáveis.  

sábado, 3 de dezembro de 2022

Editorial: Quando o golpe foi abortado?

Crédito da foto: Plabo Porciúncula\AFP

Eis aqui uma informação que todos os brasileiros e brasileiras gostariam de saber. Para obtê-la seria necessário não apenas conhecer a dinâmica dessa relação nevrálgica entre civis e militares no país, como, igualmente, possuir informações privilegiadas sobre o comportamento de setores militares durante essa crise política e institucional que o país vem enfrentando que, embora arrefecida, ainda tende a perdurar por mais algum tempo. Se, por um lado, hoje, já é possível concluir que as possibilidades de um golpe de Estado estão sensivelmete reduzidas, por outro lado, é perfeitamente razoável supor que tal alternativa esteve entre as possibilidades possíveis, a julgar pelas "notinhas' soltadas por alguns atores.  

A fala do vice-presidente Hamilton Mourão, eleito senador pelo Rio Grande do Sul é bastante didática no sentido de se entender porque a possibilidade de uma intervenção militar teria sido abortada. O general Hamilton Mourão, como se sabe, é um desses atores privilegiados, por transitar, com desenvoltura, tanto na caserna quanto nos ambientes do poder civil. Quando começaram a eclodir as mobilizações de rua, ele fez uma fala afirmando que tais protestos estavam fora de lugar ou de tempo. Não era uma condenação às mobilizações dos bolsonaristas, mas uma advertência sobre o fato de elas ocorrerem no momento errado. Hoje ele ainda fez a ressalva de que os bolsonaristas que estão nas ruas não deveriam ser chamados de "golpistas". 

O momento certo, segundo Mourão, era antes, quando Lula ainda não era candidato. Vencida essa etapa, Lula candidato eleito, pouco coisa restava a fazer. Em suas declarações recentes, ele é afirmativo no sentido de que, uma vez eleito, Lula deve assumir o governo. Não haveria condições de uma intervenção militar e os seus reflexos para a economia e para a imagem do país no exterior seriam terríveis. As consequências seriam "terríveis", aqui bem sublinhada pelo editor. Em 1964 os militares contaram com o apoio de setores da sociedade civil brasileira e do Governo dos Estados Unidos, preocupados com um eventual avanço das ideias comunistas no seu quintal.  

O circuito golpista, então, estava completamente fechado. Desta vez a conta do golpe não fechou, e, possivelmente, o fator externo deve ter pesado bastante. O Governo dos Estados Unidos, foi um dos primeiros a reconhecer a eleição de Lula, ratificando o propósito de que não aceitaria algo fora das quatros linhas do regime democrático. Por via das dúvidas, Lula empreende todos os esforços no sentido de pacificar as Forças Armadas, já antecipando quem seriam os novos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. A escolha do ex-presidente do TCU, Múcio Monteiro, para o Ministério da Defesa caiu bem, mas o martelo ainda não foi batido, por alguma reticência do convidado.     

Editorial: Saiu a "conta" da governabilidade.



Talvez este editor não seja mesmo afeito às contas, mas salta aos olhos o preço altíssimo a ser pago pelo futuro Governo Lula, no sentido de assegurar as mínimas condições de governabilidade. Isso no aspecto econômico - propriamente dito - e, sobretudo, no tocante ao meio de campo político. Sempre muito hábil, o próprio Lula começa a moldar a sua narrativa discursiva diante das contingências impostas por essa tal governabilidade. Crítico ferrenho de Arthur Lyra - Presidente da Câmara dos Deputados - passou a ter nele um "aliado", apoiando sua reeleição, mesmo contrariando companheiros históricos de sua base aliada, a exemplo do alagoano Renan Calheiros(MDB-AL), adversário do grupo político liderado por Lyra naquele Estado. Renan, momentaneamente acompanha as tratativas de Lula, mas Lyra deverá mesmo parmanecer atravessado em sua garganta, dado o quadro de animosidades entre ambos.  

Mesmo amuado, Renan deixará de ser um obstáculo que impedia o MDB de apoiar a reeleição do desafeto. Com Lyra fica mantida a excrescência do orçamento secreto, um expediente nefasto, que depõe contra as boas regras do serviço público e da própria democracia, que exige um mínimo de transparência dos seus atos. Do ponto de vista do custo político, o governo já começa a ser fatiado em seu primeiro e segundo escalões, com ministérios e estatais divididos entre os novos aliados. Para os petistas mais radciais, informamos que sempre foi assim, dada as circunstâncias de nossa conjuntura política, traduzida pomposo nome de presidencialismo de coalizão.

O apetite dessa gente é voraz e a tenndência é que eles avancem ainda mais em suas reivindicações, abocanhando mais nacos de poder e polpudas verbas. De preferência, através do famigerado orçamento secreto.  Do contrário, eles aplicam um torniquete político no Executivo, inviabilizando o Governo, podendo culminar com um processo de impeachment, como ocorreu com a ex-presidente Dilma Rousseff. Se não existe uma motivação concreta, como no caso dela, eles "inventam". No caso de Dilma Rousseff, "impeachment" aqui é usado como eufemismo para golpe parlamentar ou institucional. No primeio Governo Lula, já atuando dentro desse escopo político possível, não era incomum encontrar, na direção de órgãos federais, figuras emblemáticas do ancien régime, mantidas em seus cargos de direção. Vão se acostumando. Faz parte do jogo.    

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Editorial: Por que José Múcio está sendo cotado para o Ministério da Defesa?



Em 1986, numa vitória histórica, Dr. Miguel Arraes derrotou o "usineiro" José Múcio Monteiro, sagrando-se, novamente, governador do Estado de Pernambuco. Por aqueles idos, ser chamado de "usineiro' era quase um palavrão aqui na província, dominada por oligarquias políticas que sempre infernizaram a vida dos trabalhadores. Atuando ali no meio de campo, Arraes conseguia costurar acordos políticos com os dois lados, obtendo conquistas importantes para os trabalhaores da palha da cana. Dr. Miguel Arraes, habilmente, se equilibrava entre os interesses, sempre divergentes, entre capital e trabalho. 

Matreiramente, sua assessoria de comunicação, por outro lado, em sua peças de campanha, sempre procurava maximizar sua identidade com os setores mais fragilizados da sociedade pernambucana. As alianças políticas com setores conservadores eram sempre "ofuscadas", enfatizando-se sua identidade com o povão. Assim, passaram a ser veiculadas na propaganda de TV imagens aéreas das supostas instalações das usinas do usineiro José Múcio. De fato, José Múcio tem sua origem numa das famílias mais tradicionais do Estado, os Monteiro, que possuem, entre as suas atividades, vínculos com este setor da economia.  

José Múcio, então arrumou as malas e foi para a capital federal. Mesmo atuando longe dos holofotes, seu nome tem sido cogitado para assumir várias funções desde então,seja em Brasília, seja aqui no Estado. Ao longo dos anos, acumulou um grande capital nos escaninhos da política, portanto, não sendo surpresa a insistência de alguns nomes da equipe de transição política de Lula para que ele possa vir a coordenar o grupo de trabalho sobre Defesa e Inteligência, que seria um possível ingresso para assumir o Ministério da Defesa. 

O martelo ainda não foi batido, mas o próprio morubixaba petista entraria nas negociações. Múcio é amigo pessoal e já foi ministro de Relações Institucionais de Lula. Depois de uma crescente politização, os quartéis estão em processo de combustão. Torna-se necessário alguém com o perfil político adequado para serenar os ânimos exaltados. Não seria improvável que José Múcio, por suas habilidades de conciliação política, pudesse cumprir bem tal papel.   

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Editorial: Fernando Haddad para ministro da Economia?



É bem possível que os ministérios do futuro Governo Lula - salvo as exceções de praxe - não mantenham a mesma denominação dos ministérios do Governo Bolsonaro. Mas, quando comentamos por aqui sobre a possibilidade de o fiel escudeiro de Lula, o professor Fernando Haddad, ser indicado para assumir o leme da condução das políticas econômicas do país, muita gente duvidou. Consideraram a eventualidade de o pupilo ser indicado para fazer uma espécie mediação entre Lula e os demais ministérios. Todos eles. Seria um espécíe de consultor privilegiado do futuro presidente, atuando como um pára-choque do petista. 

O fato concreto é que as coisas não vão muito bem neste início de governo. Não fosse suficinte a crise política e institucional instaurada - que não emite sinais de arrefecimento - há sérios problemas com a equipe de transição, que ficou muito grande e "ingovernável". Lula não se envolve com o "varejo' e há nítidas divisões entre os petistas históricos e os neosocialistas. A ausência da indicação de um nome para a área econômica não incomoda apenas o mercado, mas a própria equipe de Lula. Seria alguém com perfil para assumir as inúmeras responsabilidades da função, de imediato. 

Esperar até o início de janeiro de 2023 seria uma eternidade. As contas não fecham entra as duas equipes. Há gargalos orçamentários que saltam aos olhos. Outro dia este editor leu uma postagem de Guilherme Boulos fazendo uma análise sobre diferenças abissais entre as necessidades de recursos para determinadas áreas e o que foi "previsto" pelo Governo Bolsonaro no orçamento.  É preciso tomar muito cuidado com isso. Aqui na província há uma tentativa clara de empurrar "jabutis" para o futuro governo, ou seja, licitar, antes do final do ano, obras cujos recursos não estão assegurados. 

Há,voltando ao plano federal, processos de privatizações que precisam se abortados consoantes as diretrizes do novo governo. Lula já afirmou que seria preciso interromper as vendas de refinarias, a Petrobras não será "fatiada", assim como os Correios não mais será privatizado, o que se constitue numa boa notícia. Nesta equipe de transição, são pouquíssimos os interlocutoes que estão autorizados a falarem por Lula. Até recentemente, Lula escalou Fernando Haddad para uma reunião com agentes do capital, o que seria mais uma evidência de suas inclinações. Vamos ser sinceros. Não consideramos Fernando Haddad um bom nome para a condução das políticas econômicas, mesmo que fazendo uma tabelinha com o economista Pérsio Arida no planejamento. Entendo o cacife que ele construiu junto ao morubixaba petista, mas a sua praia é outra. Não tenhamos dúvidas de que que ele deverá dar uma enorme contribuição ao futuro governo, mas em outra área. Parece-nos, no entanto, que o que Lula pretende mesmo é prepará-lo para as eleições presidenciais de 2026. 

Charge! Adão Iturrusgarai via Folha de São Paulo

 


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

O xadrez político das eleições estaduais de 2022 em Pernambuco: A boa impressão que Raquel Lyra causou em Lula.



Já li algumas críticas ao perfil da equipe de transição montada pela futura governadora Raquel Lyra, sobretudo por manter uma característica mais "técnica' do que política, posto que formada, em sua maioria, por ex-assessores diretos da ex-prefeita de Caruaru. Alguns políticos - de muita experiência no batente - foram deixados de fora. Não tenhamos dúvidas de que nomes como Armando Monteiro, Miguel Coelho, por exemplo, poderiam dar uma grande contribuição nesta equipe. Como nome de grande espertise política, apenas a coordenadora Priscila Krause, que, aliás, vem dando conta do recado muito bem. Raquel deve saber o momento exato de contar com a contribuição dos seus apoiadores. 

A equipe de transição de Lula encontra algumas dificuldades exatamente por priorizar critérios políticos - com raras e honrosas exceções - tentando "acomodar' todos os aliados que estão "desempregados". Sobrou até para um ator pornô que, sem o menor preconceito, pouca coisa teria a contribuir para as políticas culturais do futuro governo. Causou mesmo foi um frisson desnecessário no mundo artístico, que ficou em polvorosa co tal indicação. Com uma grande espertise no acompanhamento das ações governamentais, a futura vice-governadora, Priscila Krause, como disse antes, vem cumprindo bem o seu trabalho. 

O governo do ancien regime, de natureza "socialista", vem tomando algumas medidas, ao apagar das luzes, que poderiam, com muita boa vontade, ser classificadas de esquisitas, como licitações para abastecer as despensa - nem quiseram saber sobre as preferências gastronômicas dos futuros governantes do Palácio do Campo das Princesas - criando um grupo de trabalho para "projetos estruturadores", assim como licitando obras para o futuro governo honrar as "faturas", sem uma continha de saída e de chegada sobre os recursos disponíveis.  

Desconfiada desse repique de última hora, a coordenadora da equipe de transição do futuro governo pediu todas as explicações sobre esse tal grupo de trabalho, o que acabou demovendo seus idealizadores da ideia de criá-lo. Não faria o menor sentido. O que eles precisam agora é passar todas as informações possíveis ao futuro governo, como manda as boas regras do serviço público. O governo "socialista' acabou. Quem parece interessado em aproveitar seus principais atores é a equipe de transição de Lula. E, por falar em Lula, nos escaninhos da política nacional comenta-se que ele tem um ótimo conceito da futura governadora. Isso é bom.   

Editorial: Bolsonarização X desbolsonarização.



O novo governo de coalizão petista terá um enorme trabalho pela frente no sentido de desbolsonarizar setores estratégicos da máquina pública, contaminados pelo bolsonarismo nos últimos anos. Já abordamos essa questão em alguns momentos por aqui, tornando-se desnecessário descermos às minúcias. As sanções aplicadas ao delegado Alexandre Saraiva, da PF, responsável pela maior apreensão de madeiras irregulares na região da Amazônia;  a morte do indigenista pernambucano Bruno Pereira, por seu trabalho em defesa das reservas indígenas; assim como as recentes determinações do Ministério Público Federal contra um agente público, em cargo de chefia de uma corporação policial, por supostos comportamentos indevidos durante as aleições, dão bem a dimensão dessa increnca. 

A nossa conclusão é que o estrago produzido foi grande. este editor parte do pressuposto de outras opiniões emitidas a esse respeito, inclusive por atores com um olhar privilegiado, pois o lugar de fala são as próprias instituições. A ação junto aos órgãos diretamente ligados à seguraça e inteligência do Estado será hercúlea. Agora, já no finalzinho de governo, estão sendo nomeados para cargos estratégicos - como o de conselheiros - pessoas ligadas ao ancien regime. Inclusive para a comissões de ética. Com a crescente "politização" das forças policiais e militares, o quadro vai exigir, inclusive, mudanças substantivas na formação e renovação de quadros, através de reservas compulsórias e realização de novos concursos.

Ao apagar das luzes, somos informados de promoção no estamento militar, como afirmamos antes, um dos setores mais nevrálgicos. Por vezes se trata de meras formalidades para cumprir estatutos internos, como tempo de serviço, por exemplo. Vamos dar uma de ingênuos por aqui para não atiçar o vespeiro.