pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Governo Dilma e o PT perderam a batalha da comunicação. Agora, é tentar evitar o impeachment


Publicado em 24 de fevereiro de 2015 às 11:48
chavez
por Luiz Carlos Azenha
No dia em que Hugo Chávez foi derrubado, na Venezuela, em 2002, um episódio foi decisivo. Uma falsa notícia disseminada pelos meios de comunicação locais, que repercutiu em todo o mundo e deixou os próprios venezuelanos em choque. Mesmo eleitores de Chávez, aqueles que acompanhavam a crise à distância, ficaram sem ação.
A falsa notícia era de que chavistas haviam atirado contra uma manifestação de oposicionistas que estava a caminho do Palácio Miraflores. Havia imagens para comprovar. Lá estavam eles, sobre a Ponte Llaguno, disparando suas armas. As imagens viriam a ser desmentidas, mais tarde, pelo documentário A Revolução Não Será Televisionada.
Na verdade as emissoras venezuelanas haviam suprimido um dos ângulos do episódio. Por este ângulo, era possível ver que os chavistas, na verdade, eram alvo de franco atiradores e disparavam aleatoriamente. Eles não atiravam contra uma passeata, que nem havia passado por perto daquele lugar.
Porém, a falsa notícia já havia feito o estrago. Chávez salvou-se por vários motivos: apoio popular, lealdade entre os militares e um esquema que permitiu a ele comunicar-se indiretamente com a população. Além, é lógico, das besteiras feitas por Pedro Carmona, o empresário escolhido para substituí-lo, que ao assumir fechou o Parlamento!
Através da rede CNN, partidários de Chávez conseguiram superar o bloqueio informativo para dizer que o presidente não havia renunciado. Fizeram o mesmo através de meios comunitários para levar a mensagem aos morros de Caracas, onde ainda vive a grande maioria dos chavistas. Os morros desceram para diante do Palácio Miraflores para defender Chávez, que acabou reinstalado no poder.
O episódio deixou marcas profundas no chavismo. A partir de então, uma das prioridades do governo foi equilibrar o jogo no campo das comunicações. Ao contrário do que diz nossa imprensa, nunca houve censura na Venezuela.
Houve, sim, investimento em desenvolver meios através dos quais o governo pudesse falar diretamente à população. Além de um acerto de bastidores com o principal empresário do ramo, Gustavo Cisneros, que comandava então a principal emissora golpista.
O Brasil, obviamente, nunca enfrentou um episódio tão dramático. No auge do assim chamado escândalo do mensalão, com várias CPIs instaladas ao mesmo tempo, o ex-presidente Lula decidiu ir às ruas se defender. Politicamente, virou o jogo. Obteve a reeleição, mas nunca saiu da defensiva. Já são 13 anos de noticiário desequilibrado, que poupa tucanos e criminaliza petistas.
Lula optou, sempre, pela composição. O quadro econômico positivo permitiu que ele elegesse a sucessora, que se reelegeu pela menor das margens.
Hoje, além do desgaste natural de três mandatos no Planalto, o projeto petista na economia dá sinais de esgotamento e o escândalo na Petrobras detonou a boa vontade da população com aqueles que promoveram a ascensão social de milhões de brasileiros. O desgate do PT ficou óbvio nas eleições mais recentes, quando as bancadas do partido encolheram.
Como escreveu Valter Pomar, petista histórico, o governo Dilma enfrenta a “tempestade perfeita”, também por conta dos próprios caminhos que escolheu:
Implementar mesmo que parcialmente o programa dos derrotados na eleição contribui para confundir e desorganizar as forças que venceram as eleições presidenciais de 2014, facilita as operações de sabotagem implementadas pela oposição de direita e também por setores da base do governo, não ajuda a bloquear eventuais tentativas de interromper nosso mandato, além de criar um ambiente favorável aos que desejam nos derrotar nas eleições de 2016 e 2018.
É nestas circunstâncias que o governo Dilma e o PT poderiam tirar proveito, mais que nunca, de um esquema de comunicação que permitisse a eles falar diretamente à população, sem passar pelos intermediários da grande mídia corporativa.
Este esquema não existe. De maneira um tanto caricata, isso ficou demonstrado num episódio recente envolvendo o ministro da Justiça. José Eduardo Cardozo, todo pimpão, deu uma entrevista à TV Veja, crente de que estava abafando. Passaram-se alguns dias e lá estava ele, denunciado na capa da revista à qual deu a credibilidade de sua presença física! O governo Dilma continua hoje sendo o principal financiador da mídia que pretende não só derrubá-lo, mas salgar a terra por onde passaram petistas.
O partido vai enfrentar uma eleição de vida ou morte em São Paulo, em 2016, quando Fernando Haddad tentará se reeleger para dar sustentação a um eventual retorno de Lula em 2018.
Por causa da própria incompetência e mediocridade no campo das comunicações, o PT e Dilma estão perdidos diante da grande revolução que se deu nos últimos anos com o surgimento e fortalecimento das redes sociais. Mesmo a blogosfera, aos poucos, vai ficando com cheiro de naftalina. A comunicação instantânea e pessoal, especialmente via Facebook e whatsapp, equivale a um tsunami.
O governo e o PT não estão preparados para esta disputa, que pressupõe que ambos deveriam estar em um dos polos da geração de conteúdo bombardeado e contra-bombardeado nas redes sociais. Esta disputa exige competência e rapidez, que são a antítese do comportamento que vemos vindo do Planalto ou de petistas com posições de poder.
Exige uma atitude guerrilheira, como a demonstrada pelo senador Roberto Requião, armado com sua conta no twitter, um blog dinâmico e a TV 15, que transmitiu ao vivo os acontecimentos recentes no Paraná.
Enquanto isso, a oposição nada de braçada, agora que conta com alguns milhares de militantes digitais dispostos a disseminar qualquer informação para minar as bases do governo.
Recentemente, fui procurado pela minha diarista, que estava assustada: “É verdade que a Dilma vai confiscar a poupança?”.
Respondi que havia acabado de publicar um desmentido do Ministério da Fazenda. Um desmentido, aliás, chocho, que duvidava da própria veracidade dos boatos que pretendia desmentir.
Segundo a minha diarista, o boato era tema de discussão dentro do ônibus, com a maioria dos presentes desancando a presidente. Há dezenas de outros relatos a respeito no Facebook. Deixam claro que foi um boato de forte circulação via whatsapp. Que pode ter chegado a milhões de pessoas.
É esse tipo de boato, que toca diretamente a vida das pessoas — o confisco, afinal, é uma ameaça! — que vai minando aos poucos o que resta da credibilidade do governo com aqueles que ainda não foram convencidos pelo Jornal Nacional de que o mundo vai acabar por culpa de petistas. Vai criando, silenciosamente, o caldo de cultura que alimenta a campanha do impeachment.
Leiam o relato de Maria Luiza Quaresma Tonelli, no Facebook:
A diarista que presta serviços em minha casa me perguntou hoje se eu estava sabendo sobre “um negócio muito grande que vai acontecer nas ruas”. Perguntei: quando? Ela: no dia 15 de março. Então falei para ela que se trata de uma manifestação que estão organizando para tirar Dilma da presidência da república. Perguntei para ela como ficou sabendo disso e ela disse que as duas filhas e um genro receberam o “convite” pelo WhatsApp e que hoje no ônibus o assunto era esse. Disse que muitas pessoas falavam no ônibus coisas assim: “precisamos tirar Dilma de lá, ela quer acabar com a gente”. “Dilma é uma ladra”. Outros diziam: “Lula também”. Daí para pior.
Enfim, é assustador o poder e a capacidade da direita em atingir a classe trabalhadora com propaganda contra um governo que justamente beneficiou a classe trabalhadora, que majoritariamente é conservadora e despolitizada. Por isso não é capaz de pensamento crítico e cai no moralismo barato da oposição. Tem gente que diz que a massa trabalhadora não tem tempo para ficar vendo TV nem no Facebook, por isso não há perigo de ser influenciada pela extrema direita. Concordo. Mas pelo tal do WhatsApp a oposição está fazendo um trabalho e tanto. Vamos aguardar o dia 15 para ver qual será o tamanho da coisa.
A batalha da comunicação, em nossa modesta opinião, está perdida. Talvez só mesmo uma grande derrota eleitoral seja capaz de provocar o despertar dos burocratas.
PS do Viomundo: Recentemente, o prefeito Haddad deu uma entrevista à rádio Jovem Pan, que só repercutiu de fato depois de ir parar nas redes sociais! Sinal dos tempos.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

Michel Zaidan Filho: Fragmentos de uma memória afetiva

 Glória
 

Tive, ontem, que cumprir um dos rituais dessa nossa breve vida, mais triste que uma pessoa pode ter: velar e sepultar o corpo de uma jovem professora de 57 anos, do departamento de História da UNICAP e da FUNESO. Na capela da Universidade jesuítica, onde o corpo foi velado em meio a uma grande comoção popular, me veio a memória uma passagem de um teólogo reformado que perguntava, indignado, porque  prosperam os ímpios enquanto os bons desaparecem? - Pergunta difícil de entender, para quem não acredita em Deus e na salvação da alma. Embora o filósofo alemão diga que nós somos  seres para a morte e a  nossa   essência seja o tempo ou a historicidade, nós nunca nos conformamos com a morte. Menos ainda daqueles a quem veneramos, cultuamos e admiramos, como o vulto pálido, esquio e pequenino, que estava naquele esquife mortuário. Parecia uma santa. Estava perto disso. Uma pessoa simples, generosa, plural, tolerante, despojada, batalhadora e totalmente dedicada aos seus (amigos, familiares, alunos e colegas). O vulto mortuário correspondia de fato à lembrança e à memória dos que a conheceram. Arrostou muitas injustiças e perseguições. Sobretudo a arrogância e a prepotência daqueles que foram ajudados por ela. Desdobrou-se em muitas para dar conta de proteger ou auxiliar os que precisavam de sua ajuda e de seu conforto. Alimentou famintos, iluminou a muitos que procuraram suas luzes, abriu portas e caminhos para vários outros. Sempre fiel e dedicada aos seus amigos, nunca esqueceu de prestigiá-los. E enfrentou com dignidade os ataques dos que não tinham um terço do seu valor, como pessoa e professora. Glória Medeiros faleceu quando se preparava para uma seleção de Doutorado, na Universidade Católica. Deixou órfão uma legião imensa daqueles que lhe queriam muito bem e lhe eram gratos. Temos que velar e preservar essa memória de dignidade e honradez  deixada pela nossa companheira.

Michel Zaidan Filho é historiador, filósofo, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e o coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Antonio Lassance: Pior que o presidencialismo de coalizão é o parlamentarismo de negócios.

  

Eduardo Cunha é o síndico do parlamentarismo de negócios. Ele comanda o "nightmare team" que amedronta o presidencialismo de coalizão brasileiro.


 
Antonio Lassance (*) PMDB Nacional / Flickr


Com sua eleição para a presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) está com o queijo e a ratoeira na mão.

Sua vitória acachapante derrotou governo e oposição.

Ambos, governo e oposição, torciam pelo menos por um segundo turno naquela eleição - nem isso veio. Cunha não apenas levou a melhor. Mostrou que é mais forte do que todos imaginavam.

O feito de Cunha é notável. Derrotou os dois principais partidos que, desde 1994, encabeçam os embates presidenciais e que presidencializaram as disputas de muitos governos estaduais e das capitais.

Cunha é, agora, o bode no meio da sala. Ele é o capitão da nau dos descontentes. É o fio-terra de uma legião de insatisfeitos famintos por um síndico do parlamentarismo de negócios

Juntando os descontentamentos mútuos, Cunha conseguiu operar milagres como o de unificar o PMDB e atrair PP e PRB, além de partidos nanicos, mas com caninos tão afiados quanto o de grandes partidos.

Seus 267 votos são mais da metade dos 513 deputados. É um "nightmare team" que amedronta o presidencialismo de coalizão brasileiro.

Passado o Carnaval e a quarta-feira de cinzas, o governo tem no máximo até o final de março para bater o martelo. Quer conviver com Cunha ou quer mandá-lo pentear macacos?

O governo vai suportar o cheiro de enxofre desse inferno ou preferirá enfrentar as dunas movediças do Congresso Nacional com emoção e correndo o risco de capotar?

A situação não tem outra descrição possível se não a do clichê de "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".

Neste momento, tudo o que Cunha quer é ser governo. Está doido para ser governo. Não suporta ficar longe do governo. Só não se ajoelha e reza pedindo para ser governo porque isso não cairia bem a quem agora é o cardeal supremo da Câmara.

A base que apoiou Cunha treme como em uma crise de abstinência. Corre atrás do primeiro que apareça como um fornecedor confiável para os seus pleitos.

E Cunha tem muitas faturas para pagar. Precisa de espaço no governo e de poder de barganha para comandar a gestão de inúmeros interesses privados. Precisa saldar seus compromissos e não dá para fazer isso só com a presidência da Câmara.

Enfim, o quadro que se configura, como nunca antes na história do país, é de que, pela primeira vez, se gestou uma grande coalizão parlamentar na Câmara não orientada pelo Executivo, mas pela própria Casa.

A Câmara organizou-se como um condomínio fechado e interessado em defender seus próprios interesses. Ela tem Eduardo Cunha e não tem medo de usá-lo.

Quando Dilma fechou as portas do governo para Cunha, anos atrás, não as fechou apenas para ele. Fechou para muitos que agiam de maneira muito similar.

O bambolê com que o então deputado Henrique Eduardo Alves a presenteou, anos atrás, para que Dilma aprendesse a ter mais jogo de cintura, sumiu.

Dilma tentou usar um ferrolho para um tipo de política. Na verdade, foi Lula quem tentou usar um ferrolho para esse tipo de política. O ferrolho se chamava e se chama Dilma Rousseff. Da mesma maneira como Dilma tentou usar um ferrolho na Petrobrás com o nome de Graça Foster. Simples assim.

Mas as soluções simples são, em geral, contraproducentes quando os problemas, esses engenhosos senhores que dominam a Terra, resolvem encontrar atalhos.

O que aconteceu? Quando Dilma fechou as portas do Executivo para uma grande parcela de sua própria base, desagradando partidos (inclusive o próprio PT), centralizando a gestão e, sobretudo, contrariando inúmeros interesses, esses interesses resolveram, diante do ferrolho no Executivo, ir bater às portas do Congresso.

Passaram a dominar uma parte importante da agenda parlamentar. Fizeram aprovar projetos que contrariavam o Executivo, com a graciosa, mas nunca gratuita, ajuda de muitos parlamentares.

Com o Congresso mais endinheirado de toda a história do País, de agora em diante, uma parte mais relevante da agenda política nacional pode sair de dentro da Câmara, e não do Palácio do Planalto, que cada vez se parece mais com um Corpo de Bombeiros tentando apagar incêndios.

Se a paz entre o Planalto e Eduardo Cunha vier a ser selada, o preço a ser pago será, ainda assim, muito caro.

Não são apenas cargos que estão em disputa. É toda uma gama de interesses do capitalismo brasileiro que encontra agora um porto seguro para aportar e invadir as nossas praias.

Mundo, mundo, vasto mundo, como diria o poeta Drummond. Se a presidenta se chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução.


(*) Antonio Lassance é cientista político.
 
(Publicado originalmente no site Carta Maior)

Imperdível: O convite do professor Weber para que Joaquim Barbosa compareça ao ato em defesa da Petrobras.

 

publicado em 23 de fevereiro de 2015 às 11:05
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Prezado colega Joaquim Barbosa,
Você cobrou a exoneração do Ministro da Justiça por ter recebido advogados das construtoras, alegando no seu Twitter: “Reflita: vc. defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, vc. vai recorrer à Política?”
Permita-me ponderar, caro colega da UERJ, a Política com P maiúsculo, conforme você bem escreveu, é a mais nobre das atividades humanas, pois é a partir dela que se constrói uma sociedade rumo ao eldorado ou rumo ao abismo.
É conveniente deixar claro que todos nós queremos a punição de corruptos, o fim da corrupção e a repatriação dos bilhões evadidos. No entanto, esse problema da Petrobras & construtoras está indo muito além disso. Já extrapolou as decisões (aplaudidas) de um único juiz e passou a ser uma questão de Estado.
Explico: (1) Países ricos são aqueles que têm autonomia tecnológica, isto é, dominam o conhecimento que transforma a natureza em riqueza, desde os projetos de engenharia até o produto final. (2) Dentre as grandes empresas sediadas no Brasil, praticamente apenas a Petrobras & construtoras têm autonomia tecnológica. As outras grandes empresas, por serem mundiais, produzem bens aqui mas não desenvolvem a tecnologia no Brasil. (3) Quem domina a tecnologia tem o poder das decisões econômicas e a primazia dos melhores lucros.
A Petrobras é responsável por cerca de 10% dos investimentos realizados no País, cujo efeito multiplicador no crescimento da economia é exponencial. São razões de estado, portanto, que deveriam levar o governo a interceder politicamente no show de horrores que está provocando paralisação de setores produtivos da economia, desemprego e redução do PIB.
O que a Petrobras e construtoras têm de perene são as suas máquinas, equipamentos, outros bens materiais, o petróleo, trabalhadores e tecnologia, sinônimo de conhecimento, que nada têm a ver com os desvios de dinheiro provocados por meia dúzia de dirigentes ironicamente colocados em liberdade “premiada”.
Digo, por experiência própria vivenciada no poder executivo estadual, que a corrupção pode ser totalmente debelada sem prejudicar as (únicas) grandes empresas nacionais que desenvolvem tecnologia de forma autônoma.
Infelizmente, ao contrário do que se esperava, a forma seletiva de divulgação de passos inconclusos e não julgados do processo ‘lava-jato” está acarretando mais malefícios do que benefícios, até porque as tais delações (absurdamente) premiadas saíram dos bafos de bandidos confessos.
Mas isso agora é o de menos. O pior é ver os negocistas e golpistas de plantão se aproveitando de todo esse caldeirão de manchetes cientificamente encomendadas para enlamear, não os corruptos, mas a empresa Petrobras e as construtoras visando à enfraquecê-las para desnacionalizá-las.
Reflita, caro Joaquim, (i) com tantas instituições há décadas sugando bilhões de dólares da nossa economia sem qualquer reação do judiciário, ministérios públicos e imprensa; (ii) com um processo criminoso de privatizações que aniquilou empresas e inteligências brasileiras sem que houvesse um só pio desses órgãos; (iii) e o que vemos agora é a exploração malévola para destruir o que de melhor nos resta na engenharia brasileira.
Se o problema fosse realmente punir corruptos, eles não estariam em liberdade premiada. O alvo é realmente quebrar as últimas grandes empresas nacionais de engenharia; e logo a engenharia, um dos ramos do conhecimento que mais cria postos de trabalho em todas as áreas.
Isso é muito triste para um país que já tem mais de 70% do seu PIB controlado por não residentes. Será que você e o voluntarioso juiz Moro conseguem enxergar que existe algo que vai muito além dos “argumentos/métodos jurídicos” a que você se refere?
Nenhum “argumento/método jurídico” pode estar acima dos interesses da sociedade, nem pode ser usado para, por consequência, desgraçar a vida de milhares de famílias inocentes que dependem do funcionamento pleno das empresas nacionais que geram conhecimento e riquezas.
Lecionei durante 36 anos na Faculdade de Engenharia da universidade a qual você pertence, a UERJ. Sabemos o quanto é árduo a formação de engenheiros desenvolvedores de tecnologia. E o que temos visto em todo esse episódio do “petrolão” é a lubrificação dos dutos que podem, mesmo que não houvesse intenção, levar o nosso petróleo gratuitamente para alhures e destruir o que nos resta de tecnologia própria nas empresas de energia e construção civil-mecânica.
Acredite, caro Joaquim, os abutres já estão a grasnar: “entreguem tudo às empresas estrangeiras”; e, se elas tomarem conta do pedaço que nos resta, adeus à soberania e à tecnologia nacional. E isso, acredito, nem você nem o juiz Moro querem. Certo?
Seria muito bom que juristas de escol colocassem os seus saberes para impedir a alienação de riquezas e patrimônios nacionais.  Que achas da ideia? Se você puder convide o juiz Moro e apareçam em dois atos em defesa da Petrobras e Soberania Nacional: dia 24/02, terça-feira, às18h, na Associação Brasileira de Imprensa, e no dia seguinte, 25/02, quarta-feira, às 17h, no Clube de Engenharia.
O que está em jogo são os destinos soberanos do Brasil. Quebrem-se os políticos e dirigentes corruptos, mas não a grande estatal e a engenharia nacional.
Cordialmente.
Weber Figueiredo da Silva, D.Sc.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

Michel Zaidan Filho: Charada ao sabor dos interesses governistas




 Artista plástico que confeccionou a alegoria do Galo da Madrugada diz que olhos azuis foram uma charada. Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem.



                        Indagado sobre o significado dos "olhos azuis" da alegoria carnavalesca, público-privada, "O Galo da Madrugada", o artista plástico responsável pela confecção da fantasia respondeu que era uma charada, um enigma carnavalesco a ser decifrado pela imaginação dos foliões. Charada de fácil decifração esta, considerando as relações mais do que promíscuas entre produtores e artistas pernambucanos com o prefeito e Governo do Estado.

                         Quando o jornalista Bruno Albertim  ocupou o cargo de Secretário de Turismo da Prefeitura do Recife, disse ele que o principal produto turístico daquela secretaria era o carnaval do Recife, já apelidado por muitos como o "maior do mundo".  Se o antigo folguedo popular  da cidade  Mauricéa é ou não o maior do mundo, uma coisa é certa: ele tornou-se uma das propagandas mais eficientes para vender o Estado e o município ao mundo.


                          A  engenhosa e cara operação simbólica para transformar os festejos momescos no "principal produto turístico" de Pernambuco é o resultado de uma sinergia de esforços e ações público-privadas, que conta naturalmente com o interesse da mídia em co-patrocinar o evento. De forma que, às vezes, se torna muito difícil distinguir o que é público do privado, o que é oficial do espontâneo, do popular. O Carnaval é um desses festejos pagãs, carregados de simbolismo (daí a estética do grotesco) que foi convenientemente domesticado pelas nossas elites em vista de seus objetivos e interesses. É uma empresa? É uma válvula de escape? É um rito pagão? Ou uma forma de angariar consenso popular através do rico patrocínio público da folia carnavalesca? - Talvez seja tudo isso e algo mais.


                        Se houve algum princípio de inversão ou transgressão simbólica na organização do carnaval, nas últimas décadas, é que se transformou de coisa marginal e suja em um megaespetáculo televisivo, por onda posam e desfilam celebridades oriundas  de uma cultura de massas barbarizada, que junta crime, violência, pornografia, futilidades e denúncias de corrupção praticadas por agentes públicos. A quem serve o carnaval, afinal de contas?

                        Ao invés de uma revolta simbólica contra os poderes dominantes, através de alegorias grotescas e demoníacas, a folia momesca tornou-se um instrumento de marketing e venda dos mais diversos apetrechos. Mais o pior negócio é o estado de  euforia, brilho, felicidade e satisfação que supõe provocar no imaginário do povo, tendente a torná-lo mais receptivo e tolerante às desgraças e descalabros do Poder Público e da própria estrutura social, quando se for a folia.

                        Como povo parcialmente socializado pela ética puritana do trabalho, o "ethos carnavalesco" nos faz diferente das sociedades de índole cristã reformada. E há muitos estrangeiros que admiram esse espírito dionisíaco e bacante, sobretudo nas mulheres. Mas não nos deixemos enganar: a saudosa maloca da música de um Adoniran Barbosa deu lugar a um arremedo televisivo de barraco de escola de samba,  povoada de atrizes mais ou menos brancas e arremediadas, loucas para convencer o distinto público da novela das oito de que vale a pena ser brasileiro, carioca, pernambucano e recifense. Afinal de contas, se não temos o melhor prefeito e governador do mundo, temos o maior bloco carnavalesco do planeta. E isso é pouco?

Michel Zaidan Filho é historiador, filósofo, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Michel Zaidan Filho: Galomaquia pernambucana






                     Os intelectuais e artistas de Pernambuco gostam de falar de animais em seus escritos. Lembro o famoso ensaio do poeta e cronista Mauro Mota sobre o homem na fala dos bichos.  Os ensaios de Gilberto Freyre sobre a permanência do cavalo na cultura pernambucana. Ou os admiráveis poemas de João Cabral de Melo Neto sobre o “cão sem plumas” ou os “galos que tecem o amanhã”.  Como em tudo, há galos e galos. Galos operários e tecelões que preparam com o seu canto um novo amanhã para os mais pobres e humildes. E o galo de “olhos azuis” (como os do ex-governador), festejado pelas elites políticas e econômicas do nosso estado.

                    Dizia o humorista Millôr Fernandes, durante o regime militar, que a coisa mais sem graça que existe é o artista oficial ou a favor. Para ele, o papel da arte era fazer a crítica aos poderes dominantes. Um artista oficial ou oficioso, com contracheque ou holerite da secretaria de Turismo ou da Cultura, seja do Estado ou da Prefeitura do Recife, convenhamos, não tem muita graça. Os políticos daqui têm o costume de utilizar os folguedos populares (e seus artistas) como vantagem comparativa para vender o Estado e seus ativos econômicos (incluindo as mulheres) aos estrangeiros que nos visitam. Até um movimento contra- cultural, que nasceu nas margens, como o Manguebeat foi aprisionado nas malhas dessa armadilha político-institucional que responde pelo nome de “pernambucaneidade” ou “Nação-Pernambuco”. Há um verdadeiro aparelho cultural responsável por essa engenhosa (e rendosa) operação simbólica: a Fundação Joaquim Nabuco, o Museu” O paço do Frevo”, o museu “O cais do sertão”, a Fundação de Cultura da cidade do Recife, várias secretárias municipais e estaduais que cuidam da cultura e do turismo, a FUNDARPE e, claro, os meios de comunicação de massa. Há também várias fundações particulares que se beneficiam enormemente da construção dessa mitologia pernambucana. É um negócio milionário, onde os artistas da terra devem ficar com as migalhas, quando recebem seus pagamentos...

                       Contudo, o mais trágico é a mudança que se opera num folguedo popular: de um rito alegórico de inversão dos poderes existentes num arremedo de cultura cívica, destinado a vender a administração municipal ou estadual ou as garrafas de cerveja de uma empresa multinacional, como a AMBEV. É o caso de se perguntar:  “Que rei sou?” , pois o reinado alegórico dos de baixo contra os de cima transformou-se num megaespectáculo televisivo para o mundo, onde as celebridades das colunas sociais eletrônicas procuram se apresentar (ou se vender). O povo mesmo fica nas arquibancadas vendo a corte passar. Triste carnaval esse do Galo oficial, que anuncia não a madrugada dos que não tem pão nem água, mas dos que se comprazem em desfilar na rua, sob o patrocínio de uma ditadura africana que pode gastar 10 milhões de reais numa Escola de Samba do Rio de Janeiro (por acaso, a vencedora do desfile desde ano).

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador,cientista político,professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE

O dia em que Haddad deu uma aula para Sheherazade e Marco Antonio Villa

  

Abafada pelo feriado de carnaval, a entrevista que o prefeito deu à rádio Jovem Pan, na semana passada, escancarou a falta de preparo, gafes e ironias dos entrevistadores, que criaram um ambiente propício para que Haddad confrontasse a narrativa da mídia tradicional. Confira os principais momentos
Por Redação
Na última quinta-feira (12), véspera de Carnaval, o prefeito Fernando Haddad (PT) concedeu uma entrevista à rádio Jovem Pan que, no mínimo, deixou os entrevistadores incomodados. Ofuscado por conta do feriado, o “bate-papo”, que mais pareceu um interrogatório da oposição, se transformou em um ambiente perfeito para que o petista se saísse por cima e colocasse os jornalistas – no caso, Rachel Sheherazade, Marco Antonio Villa e Joseval Peixoto – expostos ao ridículo.
Com ironias que beiravam o desrespeito e uma clara falta de conhecimento acerca dos temas tratados, Villa, Sheherazade e Peixoto ficaram um tanto quanto irritados, principalmente diante da tranquilidade que o prefeito passava ao longo das respostas. “O senhor nos convenceu de que é um bom debatedor”, disse Joseval ao final da entrevista de mais de uma hora e meia de “sangria” do prefeito.
Para ilustrar o que foi a entrevista, selecionamos cinco momentos, entre outros inúmeros, em que Haddad buscou desconstruir os ataques dos jornalistas, que acabaram se portando mais como candidatos da oposição em um debate de campanha eleitoral.
1º. Tempo até o trabalho: Barueri não é São Paulo, Sheherazade 
Logo no início da entrevista, Rachel Sheherazade comenta com Joseval Peixoto o quanto demorou para chegar ao trabalho naquela manhã. A jornalista reclamava que, por conta do trânsito, havia levado quase duas horas para chegar da sua casa em Barueri até os estúdios da Jovem Pan, na avenida Paulista.
“Aproveitando que o prefeito tá aqui: onde eu morava não tinha esse trânsito”, provocou a folclórica apresentadora do SBT, ressaltando que normalmente levava uma hora para chegar ao trabalho e que, naquela manhã, um acidente teria provocado um trânsito maior.
“Você vem de Barueri? Uma hora até aqui é razoável, não?”, respondeu prontamente o prefeito, lembrando que Barueri já é uma outra cidade e que a locomoção até a capital passa por rodovias que não são de competência da prefeitura. “Tem que mudar pra cá. Aqui se vive bem, posso garantir”, completou.
2º. Rejeição: “Você está errado” 
Logo na primeira pergunta, Villa vai à lona na tentativa de nocautear Haddad. Sem se basear em nenhum dado concreto, o jornalista, que também é historiador, afirmou que a alta taxa de rejeição do prefeito é algo inédito e questionou o que estava errado: os eleitores ou a sua gestão. Haddad respondeu: “Você”.
“Quem? Os eleitores”, disfarçou o entrevistador. “Não. Você está errado”, insistiu Haddad, brincando ainda com o fato de Villa ser historiador e não ter consultado dados das gestões anteriores. Tanto Kassab quanto Marta Suplicy, que antecederam o petista na prefeitura, apresentaram taxas de rejeição igual ou superiores à do atual prefeito com o mesmo tempo de governo.
3º. Ciclovias, sempre as ciclovias 
Ainda que aprovadas pela maior parte da população, Villa resolveu atacar as ciclovias implantadas pelo prefeito e, pelo tom da pergunta e pela maneira como conduziu esse tópico, chegou a ser ironizado pelo prefeito.
Com frases como “Tem mais gente andando no deserto do Saara do que nas ciclovias”, “prejudicou todo mundo” e “O carro está sendo tirado da vida das pessoas”, o historiador pareceu apenas reproduzir os argumentos daqueles que perderam suas vagas de estacionamento para as bikes. Haddad não perdoou e foi enfático.
“Você quer mesmo que eu responda?”, brincou o prefeito, que seguiu dando uma aula de como todas as grandes metrópoles do mundo estão se mobilizando, já há anos, para implantar o transporte individual não motorizado como modal de expressão. “O futuro do transporte público é ciclovia, isso no mundo inteiro”.
Não satisfeito, Villas seguiu com ataques e gafes, como quando, para justificar seu argumento de que a capital era muito acidentada para bicicletas, citou, de maneira infeliz, a cidade de Campos do Jordão. “E se o senhor fosse prefeito de Campos de Campos do Jordão? O senhor faria ciclovias?”, questionou, ao que Haddad respondeu de maneira simples. “Eu estou falando de megalópoles”.
4º. Matéria mentirosa serve de base para pergunta 
Depois de demonstrar irritação entre uma pergunta e outra, Villa passou a bola para Sheherazade, que foi pouco feliz ao fazer um questionamento baseado em uma matéria da Veja São Paulo. No último final de semana antes do carnaval, a revista publicou uma matéria de capa em que acusava a prefeitura de um suposto superfaturamento na construção das ciclovias.
O caso, no entanto, foi desmentido poucos dias depois pela prefeitura, mas a jornalista insistiu com a questão.
“Me desculpe ser tão sincero: mas a Veja errou e errou feio”, disse Haddad, explicando que, ao contrário do que a publicação afirmou, foram construídos 156 km de ciclovias a um custo médio de R$180 mil por quilômetro. “Está tudo planilhado e disponível para quem quiser ver”, assegurou, esclarecendo que o que a revista fez, na verdade, foi pegar uma obra de intervenção urbana na Faria Lima – que inclui uma ciclovia – somar e dividir pelo número de quilômetros.
“O senhor tem medo de uma CPI?”, insistiu Sheherazade. “Que CPI, o que! Eu não temo nada. Criei uma controladoria geral do município que já botou muito corrupto na cadeia. Eu desbaratei a maior quadrilha de corrupção da história de São Paulo: a máfia do ISS”, lembrou.
5º. A gafe do Plano Diretor: “Ah, foi o senhor?”
No final da entrevista Villa foi além e mostrou, se não for falta de conhecimento, ao menos confusão ao falar sobre o Plano Diretor.
Em um determinado momento, Haddad falava sobre sua amizade com Gabriel Chalita (PMDB) e sobre as alianças com partidos opositores, como o PSDB, que era o partido anterior de Chalita. Quando citou o que considera picuinhas de oposição, como quando o PSDB se colocou contra o Plano Diretor que a prefeitura conseguiu aprovar no ano passado, Villa escorregou e resumiu bem como foi toda a entrevista.
“Aprovou agora um Plano Diretor na Câmara. Você vai vetar?”
“Mas fui eu quem mandei para a Câmara”, afirmou o prefeito.
“Ah, foi?”, confundiu-se o jornalista.
“Aprovou em julho do ano passado”, sepultou Haddad.

Michel Zaidan Filho: "IMPEACHMENT"


 


                        A  repórter do "Jornal do Comércio", em programa radiofônico, me perguntou pelo significado da palavra inglesa "impeachment". Segundo ela, esta palavra aparece com frequência nas redes sociais, associada ao rumoroso caso da PETROBRAS e a atual Presidenta da  República. Perguntou ainda a repórter sobre as consequências para o país de um processo de "Impeachment".
0 "impeachment" que traduzido para o nosso vernáculo significa "impedimento" é um instituto jurídico-político que está na Constituição Federal. Trata-se do processo de afastamento ou impedimento legal  do detentor de cargo público, no executivo, de continuar no poder, em face de crime de responsabilidade, improbidade administrativa ou contra a moralidade pública. Ou seja, o dirigente ou mandatário acusado de algum desses crimes pode ser afastado legalmente de suas funções, depois do chamado devido processo legal, que prevê a ampla defesa e o direito ao contraditório. Só quem pode abrir o processo de "impeachment" é o presidente da Câmara dos  Deputados, depois de ouvido o Conselho de Ética da Casa.

                        Dizia o ex-presidente da República, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso que o "impeachment" é como a bomba atômica.  Existe na Constituição, mas não é para ser usado. Esta firmação foi feita durante a crise do Governo Collor, em que o ex-presidente foi cogitado para ser ministro das relações exteriores. A ideia do uso desse instituto com a finalidade eminentemente dissuasória tem a ver com a possibilidade de uma crise institucional provocada por um eventual "vácuo de poder". Mas, nesse caso, o vice-presidente assumiria, automaticamente  o cargo, evitando a vacância do poder. E não o ex-governador derrotado nas últimas eleições, Aécio  Neves. Num regime presidencialista imperial, como o nosso, o afastamento de um presidente eleito democraticamente pelo povo pode ser uma coisa traumática e o regime não possui amortecedores para a absorção dessa crise, podendo levar a um golpe de Estado.

                        De todo jeito, não está na ordem dia nem na agenda política da Câmara dos Deputados essa possibilidade de se abrir um processo de impedimento contra a atual Presidenta da República. Quem o disse foi o Presidente da Casa e o chefe da oposição, Aécio Neves. Não se questiona a legitimidade da escolha popular - pela maioria dos votos, da Presidente Dilma. Há um processo aberto pela Polícia Federal e a Justiça Federal contra aqueles que desviaram ou receberam propinas indevidas, nos contratos de licitação  com grandes empreiteiras nacionais para construção de mega obras da PETROBRAS. O que se sabe é que as autoridades policiais e judiciais vêm colhendo e produzindo provas contra os implicados, resgatando e bloqueando ativos móveis e imóveis dos mesmos, e deve denunciá-los junto ao Poder Judiciário Federal.  Quanto mais autonomia e liberdade tiverem esses Poderes para fazer o seu trabalho, não há porque se voltar contra a Presidenta da República, que já conta com muita dificuldade para enfrentar os graves problemas econômicos e de infraestrutura do país. Uma segunda etapa desse processo deve alcançar os políticos e os partidos que se beneficiaram do propinoduto da PETROBRAS, entre os quais estão os falecidos Sérgio Guerra e Eduardo Campos, de Pernambuco. Depois da folia, o mundo pode se acabar....

                        Os que defendem, ou por má fé ou desinformação, um processo de "impeachment" contra a atual Presidente da República podem ser taxados de golpistas, ou seja, aqueles que não aceitam as regras do jogo democrático. Como dizia Adam Przeworski, amas a incerteza e serás um democrata. A democracia não é um jogo de carta marcada, com o resultado fixado previamente ao início da partida. É um regime de incerteza. E quem não se dispõe a jogar o jogo e aceitar seus resultados, é melhor ficar de fora. Não se pode é aceitar jogar o jogo e não gostando do resultado, alegar que houve fraude e por isso o vencedor é ilegítimo e não merece ganhar. Isto tem um nome: GOLPISMO e se opõe por inteiro ao consenso democrático das instituições políticas. Pelo visto, uns não passam de democratas de ocasião. Só são democratas quando lhe convém. Pseudo democratas ou democratas de fancaria.

                       Creio que a maioria insofismável da população brasileira que deu a vitória eleitoral a atual Presidenta da República não vá aceitar de braços cruzados esse golpe perpetrado pelos falsos democratas que andam por aí, espalhando boatos e intrigas nas redes sociais. Quem  semeia ventos, colhe tempestade!


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Michel Zaidan Filho: Política criminal ou criminosa


 
  
                                             Com a divulgação, pelos veículos de comunicação de massa, da morte de mais três detentos ou apenados no complexo prisional de Itamaracá, fica a pergunta que não quer calar: existe uma política criminal, digna desse nome, neste governo? - Aliás, a pergunta poderia se estender à política de saúde, transporte público, educação etc. Mas como a face mais visível do descalabro administrativo é a segurança pública e a política carcerária, somos obrigados a perguntar ao apadrinhado do ex-governador falecido: existe algo que possa se chamar de "política criminal" no Estado de Pernambuco?
                                             Em primeiro lugar, é possível se falar em política criminal? O que é uma política criminal? quais são os seus objetivos? A que ela se destina? -   Desde a Metafísica dos Costumes, Kant distingue a função retributiva da pena, das funções preventivas e reabilitadoras. Segundo o filósofo alemão, a função retributiva é a mais importante, pois a pena não deve ser instrumento para outro fim, e sim um fim em si mesma: restaurar o que foi danificado pelo castigo, o mal infligido à vitima. Neste ponto, Kant adota a posição taliônica: dente por dente, olho por olho. A função retributiva deve restaurar ou compensar o que foi subtraído ou atingido pelo criminoso. Baseado o pressuposto ético da liberdade, autonomia e dignidade humana, o filósofo admite a pena como um correlato à perda ou prejuízo da liberdade e da dignidade humana. Os criminalistas e juristas contemporâneos preferiram adotar as duas outras funções como mais importantes, tendendo a adotar a perspectiva utilitarista da pena e do castigo: causar menos dor e mais prazer ao maior número de pessoas possível.
                                            Em segundo lugar, há o problema do fundamento moral (ou ontológico) da pena e do castigo. Quem é o responsável ou o titular da ação criminosa? - 0 indivíduo, o Estado ou a sociedade? - Se for o indivíduo, a posição kantiana está certa. Se for possível transferir a responsabilidade penal para o Estado ou a sociedade, temos o que se chama de abolicionismo penal. Mas existe também uma posição mais frequente que é a do terrorismo penal, aquela que defende que os indivíduos já nascem maus e devem pagar pela sua natureza criminosa ou potencialmente criminosa. Os que defendem essa visão são também a favor da antecipação da maioridade penal e da pena de morte, ou do emprego de biotecnologias para consertar o caráter  originariamente criminoso das pessoas.
                                           A questão é que o modelo de sociedade adotada (seus valores, sua forma de reconhecimento social) pode ser, ele mesmo, criminógeno, ou seja, estimular e incentivar práticas criminosas. E o próprio aparelho de segurança  do Estado contribuir muito para a violência. A propósito, é possível compatibilizar  o princípio da dignidade humana com o universo carcerário, a cultura prisional ou o tratamento dispensado aos apenados pelo Estado? - Se não for possível, temos de admitir que é uma enorme hipocrisia discutir "politica criminal", talvez a palavra correta fosse "política criminosa", política de extermínio lento, silencioso e continuado dos presos, já que a função da pena seria apenas taliônica, nem prevenir nem reabilitar. Punir, punir e punir.
                                           Essas considerações, inspiradas numa leitura de uma tese de doutorado em filosofia do direito penal, vieram a tona a propósito do massacre ou genocídio que vem ocorrendo no sistema prisional de Pernambuco, com a omissão ou a concordância dos agentes públicos encarregados da custódio, do cumprimento da pena e a liberdade dos presos. As sucessivas rebeliões nos vários presídios do Estado, a superlotação carcerária, o atraso da aplicação da lei das execuções penais, a falta de pessoa,l tudo isso  leva a crer que os detentos de Pernambuco foram condenados a morte pelo Estado e só aguardam a  execução da sentença, pelas mãos dos próprios apenados ou pela tropa de choque, para qualquer fim-de-semana. Seria mais honesto, ficar com a constatação desalentadora do sociólogo-jurista Luciano de Oliveira, quando diz que os miseráveis já não têm lugar na sociedade e que podem ser eliminados sem pena e sem dó. É o que ele chama de neofascismo. A política criminal do Estado de Pernambuco é neofascista, apesar de existir - na aparência - uma secretária da (in)justiça e dos (não)direitos humanos(?). E das declarações rotineiras e sem o menor sentido do atual secretário da pasta.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Políticos e da Democracia - NEEPD/UFPE

Durval Muniz Jr.: Fernando Henrique Cardoso na Lava Jato?


 
Parece que a Guantânamo do Dr. Moro, que as batidas na mesa com raiva e com as mãos espalmadas com nove dedos (um escondido para fazer o depoente lembrar e dizer algo contra Lula, o homem de nove dedos nas mãos, sem que as gravações registre a interpelação tendenciosa do juiz) não estão surtindo o efeito esperado. Hoje mais um executivo das empreiteiras envolvidas na montagem de um cartel para realizar contratos com sobrepreço com a Petrobras, dividir entre si obras em troca de pagamento de propinas a alguns dirigentes da empresa, afirmou que o cartel foi montado na era FHC, que as propinas correm soltas desde lá, que a roubalheira começou graças a inoxidável lei elaborada por Gilmar Mendes, a época Advogado Geral da União (acreditem!), que dispensava a Petrobras de fazer licitações, quando a empresa foi dirigida pelo genro de FHC (isso não é nepotismo, nem é imoral, ele é um cara de pau ilibado, um santarrão de pau oco) e pelo memorável sr. Carlos Renó (e é a eficiente e honesta Graça Foster que não presta). E agora, o que os partidários do impeachment vão dizer, é possível fazer um impeachment regressivo e atingir o mais hipócrita dos ex-presidentes, que fez um governo onde a bandalheira campeou, encheu os bolsos de todo mundo, inclusive dos barões da mídia que hoje o protege e ataca com toda hipocrisia e farisaísmo as praticas que eles próprios estão nelas atolados há décadas (porque a Globo não explica sua empresa fantasma em paraíso fiscal e seus bilhões de reais sonegados em impostos ou que foram parar nos bolsos de Ricardo Teixeira e João Havelange?).

Durval Muniz Jr. é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.



Nota do Editor: Alguns caciques tucanos, caso de FHC e Aécio Neves, deixaram de ser mais enfáticos nessa tese de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O senador Aécio Neves chegou a afirmar que não haveria condições jurídicas ou políticas para um processo dessa natureza. Por outro lado, o senador tucano pelo Estado da Paraíba, ocupou a tribuna do Senado para fazer um discurso inflamado, pedindo o impeachment da presidente Dilma. Penso, como afirmou o jornalista Elio Gaspari, que os tucanos não sairão ilesos da Operação Lava Jato. Essa pode ser a razão do arrefecimento de ânimos. 

Renato Janine Ribeiro: Impeachment é golpe?


 


Não é. Tanto que está previsto na Constituição.
Mas impeachment não é brincadeira. No presidencialismo, os chefes do Poder Executivo têm mandato fixo. É o contrário do parlamentarismo, onde o primeiro-ministro pode ser destituído pelo Parlamento sem maiores dramas (e mesmo assim ficam lá anos a fio, às vezes muito impopulares, manipulando datas de eleição). No presidencialismo, não se pode destituir o presidente só porque seu governo se tornou impopular ou ele realiza uma má gestão. É preciso que tenha cometido um crime, um crime específico, que não é um crime contra pessoas privadas, mas contra a res publica, contra a própria essência do Estado que ele representa e chefia.
Há gente que sabe disso mas está manipulando as palavras. Um site, outro dia, dizia que por não ter aumentado o preço da gasolina um ou dois anos atrás Dilma poderia sofrer impeachment (porque teria gerado prejuízos na Petrobras, expondo a empresa a uma perda de valor). Olha, até pode ter sido uma pena isso, mas não é crime de responsabilidade. Como FHC haver terminado o governo com o orçamento sem poder ser executado, em crise séria, não era razão para impeachment.
Dilma pode sofrer impeachment? Qualquer presidente pode – se houver razões para tanto. Basicamente, se ela tiver cometido um crime contra a res publica. Se por exemplo for provado que ordenou que fossem cometidos crimes de corrupção. Agora, não adianta ficar brincando disso sem provas. Nem sequer sabemos quais políticos serão acusados na Lava a Jato. Então, brincar com isso nem sei se chega a ser golpe. É infantilidade.
E é importante lembrar. Não podemos quebrar a ordem constitucional. Custou muito caro ao Brasil chegar à democracia. Daqui a um mês, completaremos trinta anos de regime democrático. Quebrar isso só para tirar do poder quem você não gosta, e colocar lá um candidato que perdeu as eleições, significa ódio à democracia.
Em 1964, os civis que cometeram traição à Pátria, participando do golpe, pensavam que os militares fariam o trabalho sujo, tirariam de cena os civis que tinham votos, e depois dariam o poder de bandeja à UDN. Deu no que deu. As “vivandeiras”, como o ditador Castelo Branco apropriadamente chamou as lideranças udenistas, perderam a parada. É bom – como lembra Andréa Pachá – não acreditar que gasolina apaga fogo.

Renato Janine é Filósofo e professor de Ética e Filosofia Política da USP 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Os reformadores empresariais da educação tomam conta do MEC.

 
 

Ainda é relativamente cedo para dizer para onde caminham as políticas públicas de educação no país no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff que, a rigor, ainda nem começou, envolto numa agenda profundamente negativa nesse início de mandato. Mas, os colegas já demonstram algumas preocupações com alguns nomes que estão sendo indicados para ocuparem postos-chaves naquele órgão, como o do pesquisador Manuel Palácios, que deve assumir a Secretaria de Educação Básica do MEC, responsável, entre outras coisas, pela definição dos desenhos curriculares do ensino básico. Além do próprio Cid Gomes, o INEP já tem um nome identificado com os reformadores empresariais da educação. Palácios é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. 

Aqui em Pernambuco tínhamos um termômetro bastante seguro para entender a dinâmica e o caráter das políticas públicas que seriam implementadas no setor, nas gestões municipal e estadual. Quando um governante era eleito, alguns professores do Centro de Educação da UFPE eram convidados para assumirem postos de comando na concepção e implementação dessas políticas. Dependendo do departamento de sua origem, já se sabia qual era a tendência, se mais próxima do tecnicismo do mercado ou mais identificadas com as políticas de corte mais inclusivo, voltada para o atendimento de demandas sociais. Pelos nomes convidados até agora há quem assegure que o MEC passará por uma profunda mudança, com uma tendência maior a consolidar uma leitura, digamos assim, mais empresarial da educação. 

Para alguns, essa "polarização" não ajuda muito, porque esconde uma série de sutilezas do fenômeno educacional. O próprio currículo dos cursos de pedagogia deveriam ser repensados, mediante à conclusão, por exemplo, que a ênfase demasiada nos temas envolvendo a organização política e social da sociedade, impedem que sejam trabalhados algumas questões do cotidiano de sala de aula, tais como ensinar matemática, língua portuguesa, o que, no final, segundo esses observadores, acaba por contribuir para a queda na qualidade do ensino. Há, por outro lado, uma série de contra-argumentos, bastante consubstanciados, que se contrapõem a essa tese. Passaríamos horas discutindo essa questão. Não é este o caso. Gostaríamos de informar, no entanto, que o MEC parece desejar imprimir uma nova diretriz às suas políticas, dando uma guinada mais conservadora, privilegiando os reformadores empresariais da educação.  

Logo após a posse de Cid Gomes - que não deverá ser um bom ministro da área - foi anunciado o corte de 600 milhões de verbas do órgão. Num país com profundas desigualdades de oportunidades educacionais, educação sempre foi tratada como uma área estratégica para o PT. Embora algumas linhas de ações do ministério possam ser festejadas, estamos longe de atingir o eldorado. Educação, neste país, deve ser tratada como uma política estratégica de Estado. Ou será que os gestores do MEC imaginam que já incluíram o bastante? Mais de 60% do alunos do ensino médio das escolas públicas não fecha o ciclo na idade adequada. Nas escolas privadas, esse índice não chega nem a 20%. 

Como afirmamos ontem, não sabemos mais o que é estratégico para o Partido dos Trabalhadores. Acossado pelo correlação de forças em Brasília, estratégico passou a ser salvar a própria pele e manter-se no poder.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Tijolinho do Jolugue: O significado da saída de Marcelo Neri da Secretaria de Assuntos Estratégicos.





Ainda intriga a saída do economista Marcelo Neri da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. No dia 05 de fevereiro foi anunciada a sua saída do órgão, tendo sido indicado para substitui-lo naquela secretaria, com status de ministério, o primeiro ministro do órgão, Roberto Mangabeira Unger. Poderíamos aqui escrever uma longa matéria sobre o assunto, sobretudo pelo fato de ter discutido com nossos alunos algumas teses de Marcelo Neri, um profundo conhecedor das questões relativas às desigualdades sociais no país. Talvez a nossa surpresa se dê exatamente por isso, ou seja, Marcelo Neri, em razão dos seus conhecimentos técnicos e comprometimento político, era um ator importante nas ações estratégicas do Partido dos trabalhadores. 

Antes de assumir a SAE, Marcelo já havia dirigido o IPEA, em substituição ao economista Márcio Pochmann, que deixou o órgão para candidatar-se à Prefeitura de Campinas. Logo depois, teria se submetido a um concurso do órgão, onde passou em primeiro lugar entre 340 concorrentes. Tem uma cadeira cativa de professor na Fundação Getúlio Vargas, onde ministra aulas para alunos de graduação, mestrado e doutorado, além de acompanhá-los nas orientações. Quando foram anunciados os nomes que ocupariam a Esplanada dos Ministérios no segundo governo Dilma, ele foi confirmado no órgão. Eis que, de repente, deixa a secretaria. Acossado por uma série de circunstâncias políticas desfavoráveis é difícil dizer, hoje, o que seria estratégico para o Partido dos Trabalhadores. 

Educação era uma área estratégica, mas foi entregue ao senhor Cid Gomes, atendendo, sobretudo, a um critério meramente de acomodação política. Logo em seguida, foi anunciado o corte de 600 milhões daquela órgão. A tesoura neoliberal não parou por aí e já se anuncia possíveis comprometimentos de algumas políticas sociais, assim como investidas contra os direitos dos trabalhadores. É neste contexto que, talvez, se possa entender a indisposição do Planalto com o economista Marcelo Neri, possivelmente a maior autoridade acadêmica brasileira sobre a nova classe média, até então um segmento social considerado estratégico para o PT. Como afirma o filósofo Renato Janine Ribeiro, Roberto Mangabeira Unger é um intelectual de prestígio internacional, mas sua passagem por aquela órgão careceu de criatividade.

Antes de qualquer outra coisa, a saída de Neri da SAE priva o serviço público de um excelente quadro técnico com profunda sensibilidade social, imprescindível para, até então, um Governo que se propôs a diminuir as profundas desigualdades sociais da sociedade brasileira. Cada vez fica mais difícil de entender essa guinada do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, trocando figurinhas com seus algozes, gente que não tem nenhum compromisso com essas mudanças e abandando fiéis escudeiros como Marcelo Neri.Gostaria muito de saber a quem ela vai recorrer quando esses urubus voando de costa vierem para cima da carniça, como se prenuncia. 


Charge!Aroeira via O Dia