pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
Powered By Blogger

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Editorial: OEA aponta possíveis ações do crime organizado nas eleições municipais.



Até recentemente, um funcionário do alto escalão do Governo da Venezuela apontou que Lula fora cooptado durante o período em que esteve preso em Curitiba, tornando-se um agente da CIA. Lula não seria mais o mesmo de antes. A declaração vem no bojo das indisposições recentes entre os dois governos, depois daquelas tumultuadas eleições presidenciais que conduziram Nicolás Maduro para mais um mandato. O governo brasileiro ainda não respondeu às declarações, posteriormente atenuadas pelo próprio Nicolás Maduro, afirmando que o servidor não falava pelo governo do país. 

A mesma afirmação foi feita em relação ao presidente do Chile, Gabriel Boric, alimentando as teorias conspiratórias pelo continente. Se, em outros tempos, era preciso tomar cuidados com as declarações públicas, hoje, então, tais cuidados precisam ser redobrados. Um dos graves problemas enfrentados pela democracia brasileira neste momento é a infiltração do crime organizado na administração pública, tendo como porta de entrada as licitações, a terceirização dos serviços ou as chamadas parcerias público\privada.  

Nas últimas eleições, alguns fatos vieram à público, dimensionando a gravidade do problema. Pelas investigações conduzidas pela Polícia Federal, servidores graduados, em cargos de chefia, estariam mancomunados com chefes de facções criminosas, em padrões de relações de caráter nada republicanas. A Organização dos Estados Americanos, OEA,  uma das entidades que acompanharam o desenrolar das últimas eleições municipais, encontrou indícios de ações do crime organizado nas eleições. O governo brasileiro ainda não se posicionou sobre o assunto. 

Editorial: Marina Silva "massacrada" em audiência na Câmara dos Deputados.

Crédito da Foto: Mário Agra, Câmara dos Deputados. 


Não poderia haver um momento mais complicado para esta audiência concedida pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante sessão ocorrida no dia de ontem na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Agrário. A ministra do Governo Lula 3 foi literalmente massacrada pelos bolsonaristas e opositores presentes à sessão. Louvável que a ministra tenha atendido ao convite, de forma republicana, mesmo diante do clima hostil que enfrentou. São os ossos do ofício. Cumpriu suas obrigações com a sociedade, na condição de servidora pública. 

O governo Lula 3 passa por um momento delicado, sobretudo em algumas áreas nevrálgicas, como a economia, o meio ambiente, a saúde e a segurança pública. Nas relações exteriores, não menos. Difícil apontar aqui uma área onde o governo vai bem. Nem a base histórica de apoio ao petismo está satisfeito. Na semana passada estourou uma crise no Ministério da Igualdade Racial, depois das críticas de entidade representativa ligada às religiões de matriz africana. Marina foi convidada a apontar as medidas adotadas pelo governo em meio ao incêndio das florestas. O mesmo problema enfrentaria Nísia Trindade, Ministra da Saúde, tendo que se explicar sobre a proliferação da epidemia da dengue, com o número de mortes se ampliando pelo país afora. Há certas coisas para as quais não há explicações. 

O governo, finalmente, chegou à conclusão de que é urgente a necessidade de equilibrar as contas públicas. Numa ponta, estão previstas uma série de medidas para conter os gastos, atingindo, inclusive, os supersalários da máquina. Na outra ponta, o anúncio de que a compra de novas aeronaves oficiais, um investimentos de trilhões, é irreversível. Principalmente depois da última pane numa viagem presidencial. 

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Editorial: A "nacionalização" de João Campos.



João Campos, prefeito do Recife, reeleito ainda no primeiro turno com 78% dos votos válidos, numa das melhores performances eleitorais do país, está literalmente em todas. Esteve em Olinda, dando apoio ao candidato do PT, Vinícius Castello, amanhã estará em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, em passeata com o candidato dos socialistas locais, Júnior Matuto. Sua integração, nesta reta final de campanha, em prol de candidatos da chamada frente de esquerda não surpreende, sobretudo quando se tem como horizonte o seu futuro político no estado, o que inclui, entre as possibilidades, uma eventual candidatura ao Governo do Estado nas eleições de 2026. 

O que surpreende mesmo é a sua participação na campanha de Evandro Leitão,  em Fortaleza, que trava uma batalha das mais renhidas com o bolsonarista André Fernandes, do PL. Segundo conseguimos apurar, os caciques socialistas estão, desde já, trabalhando com o projeto de nacionalização do nome do prefeito. Consideramos um projeto prematuro, mas sabe-se lá o que se passa na cabeça dos dirigentes socialistas, sobretudo num momento de debacle e ausência de quadros competitivos no escopo do campo progressista. Os tempos mudaram desde que o seu pai, o ex-governador Eduardo Campos, cumpriu quase dois mandatos antes de se projetar nacionalmente. 

A direita e a extrema direita estão operando em céu de brigadeiro. Se o deputado federal Nikolas Ferreira foi um fenômeno de votos, partido das Alterosas, nesta última eleição municipal surgiu um Nikolas paulista, um jovem de apenas 26 anos, Lucas Pavanato, o vereador mais votado do país, ancorado numa agenda conservadora, alicerçada através das redes sociais, usando e abusando a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro. Se eles vencerem as eleições em Fortaleza e Belo Horizonte, a tropa de choque do conservadorismo de direita está consolidada. João, não se sabe se a partir de orientação do seu staff de marketing político, já cunhou um mote: Com ele, bolsonaristas não se criam! 

Editorial: Na cozinha do Planalto, uma nova minirreforma ministerial.

Crédito da Foto: Sérgio Lima. 


Difícil afirmar quem se encontra na marca do pênalti nesta nova minirreforma ministerial que está sendo costurada na cozinha do Palácio do Planalto. As especulações andam solta. Fala-se numa eventual saída do Ministro da Defesa, o pernambucano José Múcio Monteiro, como sempre afirmamos, numa situação de equilíbrio instável desde o início de sua gestão, uma vez que faz a ponte com o Governo Lula3 e os militares, mas precisa gerenciar as insatisfações na caserna. Recentemente, fez um desabafo sobre os entraves ideológicos para a aquisição de tanques israelenses, quando as tramitações burocráticas já estavam plenamente atendidas e trata-se de um pleito inegociável com a tropa. 

Sugere-se que o Palácio do Planalto não está nada satisfeito com a área de comunicação institucional, o que pode indicar mudanças nesta área nevrálgica, principalmente depois da ressaca das últimas eleições presidenciais. Haveria investimentos pesados no setor, mas a conta poderá ser administrada por outros atores. Quem também poderia deixar a direção nacional do PT para ocupar um espaço na Esplanada dos Ministérios - ainda não definido - seria a deputada federal Gleisi Hoffmann. Aqui mata-se dois coelhos - ou coelha? - de uma só cajadada. O morubixaba petista pretende antecipar as mudanças na direção da legenda. 

Fala-se também em mudanças na Casa Civil, mas por aqui o santo é forte. Tem a proteção dos orixás baianos. O PT adota uma linha omeprazol para tratar de um problema que exige um diagnóstico mais preciso. O uso generalizado deste medicamente para tratar de problemas estomacais, na realidade, pode ocultar problemas mais sérios, além de não eliminar a bactéria H. pylori, que pode agravar essas complicações. A área de comunicação institucional pode até ter seus gargalos, mas o drama do partido exige mudanças de rumo mais efetivas, que não se encerram com a troca de roupagem. 

Editorial: Disputa acirrada em Fortaleza.



Seguramente, em nenhuma outra disputa de capitais neste segundo turno o páreo está tão equilibrado quanto em Fortaleza, onde os candidatos André Fernandes, do PL, e Evandro Leitão, do PT, estão rigorosamente em empate técnico, conforme pesquisa divulgada no dia de ontem pelo Instituto Real Time Big Data. Os dirigentes do PT já estão naquela fase de arrumar os cacos, tentar limpar a casa e oxigenar as medidas daqui para frente. Fala-se em ajustes na economia para conter a sangria do déficit público; minirreforma ministerial; mudanças na comunicação institucional e, possivelmente, um daqueles grandes encontros para se discutir o que houve ou onde erramos. Um dirigente da legenda fala em excesso de otimismo. Não foi nada disso.  A tolha já foi jogada. 

O último bastião é o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, onde uma virada improvável poderia salvar a honra da legenda nessas eleições municipais. Não à toa, a legenda está carreando expressivo aporte de recursos para o candidato. Não seria por este motivo que o psolista deixaria de ser exitoso. Diante do apagão, declarações de autoridades federais estão produzindo frisson na relação entre o PSD, o Governo Federal e o staff político do candidato Ricardo Nunes, que não acredita que o temporal seja suficiente para abalar sua diferença de 22 pontos sobre o psolista, de acordo com o Datafolha

Conforme já se presumia, a direita conseguiu integrar-se ao nome de André Fernandes, enquanto o PDT mantém-se equidistante da disputa. Uma figura ilustre do partido chegou a pregar - imaginem! - o voto útil no candidato do PL. O morubixaba petista tem se mantido discreto neste segundo turno, assim como foi no primeiro. Sugere-se meditando sob a maçaranduba do tempo. Não está sendo fácil. Há uma fadiga de material generalizada, que vai desde a linha programática da legenda até às ações de governo, divorciada da maioria do eleitorado. É um momento onde setores conservadores de direita e extrema direita está dando das cartas políticas. O vereador mais bem votado no país tem 26 anos, atua fortemente nas redes sociais e foi eleito afirmando que homem é homem e mulher é mulher. O PT mordeu a isca do identitarismo e perdeu a narrativa.  

Charge! Thiago via Jornal do Commércio

 


terça-feira, 15 de outubro de 2024

Editorial: João Pessoa: A raposa derrotou o bolsonarista.



Há poucos dias do término do primeiro turno das eleições para a Prefeitura de João Pessoa, a Polícia Federal desencadeou a operação Território Livre, que investiga eventuais conluios entre gestores públicos e integrantes do crime organizado, que, se comprovadas, depõem até mesmo contra o estatuto das relações republicanas e democráticas entre o aparelho de Estado e a sociedade civil. Integrantes de facções , segundo essas investigações, poderiam estar participando da gestão do município, ao ponto de indicarem servidores para o quadro, possivelmente através da terceirização, uma espécie de portal de entrada do crime organizado na administração pública em todas as esferas, seja através de licitações fraudulentas, seja através do expediente de integrar a gestão, indicando nomes para ocuparem cargos e solicitando transferências de servidores, conforme é o que se apura no caso de João Pessoa. 

Assegurados esse acordos espúrios, os territórios sob o controle dessas facções passam, naturalmente, a se constituírem em redutos eleitorais exclusivos dos padrinhos políticos, tolhendo os espaços democráticos, uma vez que apenas determinados atores possuem a prerrogativa de passaram suas mensagens aos eleitores. Conforme havíamos previsto por aqui, tais fatos, muito provavelmente, produziram seus reflexos no resultado do primeiro turno daquelas eleições. As pesquisas indicavam que o atual gestor, Cícero Lucena, do Progressistas, poderia ter liquidado a fatura ainda no primeiro turno, o que não ocorreu. Outra surpresa foi a ascensão do bolsonarista Marcelo Queiroga, do PL, superando Rui Carneiro, do Podemos, na reta final daquela primeiro turno. 

Feita as contas, o fato pode ter sido suficiente para provocar uma inflexão no eleitorado de Cícero Lucena. Isso bem trabalhado poderia produzir estragos ainda maiores no seu projeto de continuar à frente da edilidade municipal. No debate de ontem, dia 14, o episódio foi solenemente explorado pelo bolsonarista Marcelo Queiroga, que, no entanto, cometeu o grave equívoco de não fazer o dever de casa. Orientado por seus assessores, Cícero Lucena passou a explorar o seu desconhecimento de problemas e características específicas da cidade, como o curso de rios, número de secretarias, suas propostas para a infraestrutura da cidade. Um tranco que pode ter determinado o rumo daquelas eleições. Em breve o ex-presidente Jair Bolsonaro está vindo à cidade para ajudar na campanha do seu ex-Ministro da Saúde.  Experiente, neste primeiro debate do segundo turno, a raposa derrotou o bolsonarista. 

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Editorial: Boulos consegue apagar Nunes no debate de logo mais?



Hoje, dia 14, a partir das 22h, a Rede Bandeirantes estará levando ao ar o seu primeiro debate do segundo turno em São Paulo. Na realidade, o debate não ficará circunscrito à disputa em São Paulo, uma vez que suas afiliadas em todo o Brasil, estão organizando debates entre os concorrentes à prefeitura das capitais. Todas as pesquisas de intenções de voto realizadas até este momento mostram uma diferença substantiva entre o prefeito Ricardo Nunes, que disputa à reeleição, em relação ao candidato do PSOL, Guilherme Boulos, apoiado pelo Palácio do Planalto. Na pesquisa divulgada no dia de hoje, realizada pelo Instituto Real Time Big Data, Nunes aparece com 53% das intenções de voto, enquanto o psolista crava 39%. 

Os partidos do campo progressista morderam a isca da pauta de costumes ou do identitarismo e, hoje, um dos seus maiores gargalos diz respeito ao eleitor pobre de direita, morador das periferias, adepto da religião evangélica. Político conservador, com o apoio da direita e até da extrema-direita, Nunes consegue superar Boulos onde, em tese, seriam seus redutos tradicionais no passado. Racionalidade não combina com fé e, essas igrejas cumprem hoje a tarefa de consolidarem uma narrativa construída pela extrema direita nas periferias. Alguns desses troncos neopentecostais estão associados até ao crime organizado, numa simbiose perversa entre extrema-direita, religião e organizações criminosas. 

Nos últimos dias, depois de fortes chuvas, algumas artérias da capital paulista enfrentam o problema dos apagões produzidos pelos acidentes com árvores, o que deve ser explorado no debate de logo mais. Boulos teria argumentos para apagar Nunes no debate de logo mais? Nesta reta final de campanha, com a população sentindo na pele o drama do apagão, o tema promete ser bastante explorado. A pesquisa do instituto está registrada no TSE-SP: 00357\2024. 

Editorial: PT: Como morre um partido político?



Há alguns anos atrás, ingressamos no Programa de Mestrado e Doutorado da UFPE, com o propósito de estudar o Partido dos Trabalhadores. Compilamos um bom material bibliográfico sobre a legenda, que mantemos até hoje. São livros, teses, resoluções dos encontros, entrevistas gravadas etc. Uma delas com o morubixaba petista, quando ele se encontrava de férias na aprazível praia de Pajuçara, em Maceió. Naquela época, o partido despertava interesse nacional e internacional. Pesquisadores vinham do exterior estudar aquele fenômeno político, sobretudo em função de suas características particulares, o que o distinguia no contexto do sistema partidário nacional. 

Na primeira eleição que o partido disputou, em 1982, ainda sob o processo de redemocratização, o candidato do PT que concorria ao Governo de Pernambuco era o líder sindical maranhense, Manuel da Conceição. Uma época em que os programas de governo se confundiam com a biografia e o currículo dos candidatos, assim como ocorria com Lula,  numa relação essencialmente orgânica, que ainda pedia que o trabalhador votasse em trabalhador, em alguém igualzinho a ele. Lula aparecia barbudo, de mangas de camisa e costumava apresentar o seu dedo perdido como um reflexo de sua luta e identificação de classe. 

Logo o publicitário Duda Mendonça aconselharia ao líder petista de que essa "narrativa" não o levaria a lugar algum, muito menos ao Palácio do Planalto. Era preciso usar ternos italianos, manter a barba aparada, cuidar dos dentes e procurar o mesmo cabeleireiro do Sílvio Santos, o Sacha. O partido começa a entrar num processo que não teria mais volta, priorizando a luta pelo voto, a conquista do poder e se afastando gradativamente de suas bases e setores orgânicos, em nome de uma institucionalização, que pode ser traduzida, igualmente, de oligarquização, onde uma burocracia partidária passa a dar as cartas na legenda. 

Houve um tempo em que o partido mantinha um núcleo apenas para lidar com os evangélicos. Ao logo do tempo, como decorrência dessa burocratização interna, o hiato foi se consolidando, culminando nas refregas com este nicho eleitoral nas eleições presidenciais de 2022. Lula chegou a afirmar que não sabe como este elo foi rompido. Neste aspecto, o PT mordeu a isca da extrema-direita em disputar a narrativa da agenda de costumes ou a pauta do identitarismo, onde eles passaram a ser majoritários junto aos eleitores empobrecidos, periférico e evangélico. O caso de São Paulo é emblemático. Boulos perde nesses nichos eleitorais para o candidato Ricardo Nunes. Investe pesado nessas zonas, mas acredita-se que seja um pouco tarde. Um artigo recente do sociólogo Jessé de Souza, expõe essa questão com riqueza de análise. 

Outro aspecto diz respeito à economia da atenção, ancorada, sobretudo nas redes sociais, onde o partido sempre encontrou maiores dificuldades do que esses grupos de extrema-direita, que privilegiam as suas ações através desse expediente. A articulação é tão evidente que acredita-se que grandes redes deem uma forcinha a esses grupos através de seus algoritmos e manobras congêneres. Aqui a coisa é mais grave, uma vez que estamos tratando da destruição das instituições democráticas e da própria política. Esquemas pesados de cortes, mentiras sistemáticas e proposições exóticas podem eleger alguns atores políticos. 

Existem outros fatores que poderiam ser discutidos por aqui, como a crescente penetração do crime organizado e grupos milicianos no aparelho de Estado, fato gravíssimo, igualmente pernicioso para os interesses da res publica. O portal dessa relação promíscua já foi aberto em alguns Estados da Federação, inclusive no Nordeste, região que, tradicionalmente, sempre emprestou apoio ao Partido dos Trabalhadores. 

O livro Os Partidos Políticos, do sociólogo e cientista político Maurice Duverger, é um livro que parece não sofrer os efeitos do tempo. Escrito em 1951, continua um livro atualíssimo sobre o tema, sobretudo em razão de apresentar uma teoria sobre os partidos políticos, que mereceu poucos reparos ao longo desses anos. Quando trata da origem dos partidos políticos, por exemplo, Duverger vai nos apresentar uma distinção bem clara sobre os partidos de quadros, nascidos nos parlamentos, e os partidos de massa, que tem sua origem fora do parlamento, nas organizações sindicais e movimentos sociais. 

Os partidos de massa surgiram exatamente para representar uma demanda social que jamais foi atendida pelos partidos de quadros. Assim, esses partidos, em função da origem e identidade com determinados segmentos eleitorais vão apresentar características bem diferenciadas. Os partidos de quadros podem acabar, simplesmente, pela vontade dos seus caciques, dos seus donos, de acordo com as conveniências de ocasião. Já em relação aos partidos de massa, a situação é bem mais complexa, envolvendo inúmeros fatores, inclusive um divórcio com a sua base histórica de sustentação, que é o que sugere que esteja ocorrendo com o PT. 


Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


domingo, 13 de outubro de 2024

Editorial: Lula pode antecipar mudanças na direção do PT.


O Partido dos Trabalhadores havia criado um grupo especial de trabalho com o objetivo de definir estratégias e composições políticas visando as eleições municipais de 2024. A julgar pelos resultados obtidos, não podemos falar aqui sobre algum êxito deste grupo. Isso em números gerais, porque se formos aqui entrar nos pormenores, algumas tomadas de decisões foram determinantes para alguns fiascos pelo país afora. O morubixaba petista já antecipou que o partido precisa fazer uma espécie de autocrítica, depois da refrega em redutos tradicionais, onde o partido exercia a hegemonia há décadas, como a cidade de Araraquara. 

Hoje alguns órgãos de imprensa trazem a informação de que Lula esteja pensando em proceder mudanças na direção da agremiação um pouco antes do previsto. Na realidade, a onda de centro-direita que varre o país sugere um processo inexorável. A surra aplicada na esquerda é dessas que não cicatrizam nem com banho de sal grosso. Circunstâncias específicas e alguns equívocos do campo progressista alimentaram a vitalidade desses grupos. Já andam testando o empresário Pablo Marçal para as eleições presidenciais de 2026. 

O curioso é que um dos cotados para assumir a direção nacional da agremiação é um dos derrotados nessas eleições, Edinho Silva, que não conseguiu eleger sua indicada à prefeitura de Araraquara. Há alguns anos atrás escrevemos um artigo tratando de como morrem os partidos políticos. Talvez seja a hora de revisitá-lo.  

Editorial: A batalha pela cidade das chaminés.


Nossos três primeiros romances foram concebidos no contexto da experiência da industrialização têxtil na cidade-fábrica de Paulista. Como tal experiência tornou-se emblemática e simultânea ao que ocorria no período em todo país, os três romances, Menino de Vila Operária, vencedor do Prêmio José Lins do Rego de Literatura, em 2022, Cidade das Chaminés e Chaminés Dormentes, abordam desde o surgimento até a decadência da indústria têxtil local, configurando-se como romances do ciclo da industrialização têxtil no país. Tudo começou quando o comendador sueco Herman Theodor Lundgren adquiriu uma fábrica de sacarias, em decadência, e a transformou na Companhia de Tecidos Paulista, um colosso industrial têxtil em seu período de apogeu, atingindo a surpreendente marca de dez mil operários e operárias. 

A família Lundgren possuía duas fábricas na cidade. Além da Companhia de Tecidos Paulista, havia a Fábrica Aurora. Paulista nasceu como uma quase-cidade, dada a ausência mínima de institucionalização naquele torrão, na realidade, uma espécie de fazenda sob o controle estrito da oligarquia industrial, que possuía uma milícia armada para impor sua autoridade e normalizar a vida social, cultural, econômica, religiosa e política dos operários e operárias que estavam sob a sua jurisdição. Contraditoriamente, dois líderes políticos ligados à Ditadura do Estado Novo foram os responsáveis diretos por assegurar a presença do aparelho de Estado no município: Agamenon Magalhães e Torres Galvão. Não se poderia nutrir grandes expectativas em torno de uma cidade que nasce sob este signo. 

A cidade passa por uma fase onde a política era controlada por duas oligarquias familiares e, depois, na ausência de representantes dessas oligarquias, passou ao controle de grupelhos políticos sem quaisquer pudores de espírito público, que passaram a estabelecer padrões de relações temerárias entre entes públicos e privados. Ficamos sabendo que a governadora Raquel Lira esteve recentemente na cidade, em passeata, acompanhada por seu afilhado político Ramos, ligado aos tucanos. O prefeito do Recife, João Campos, segundo sugere um blog local, teria alugado uma residência na cidade para apoiar o retorno de Júnior Matuto à gestão municipal. Está em jogo uma verdadeira batalha pela cidade das chaminés. Desejamos boa sorte a ambos. 

sábado, 12 de outubro de 2024

Editorial: Terreiros de candomblé insatisfeitos com medidas do Ministério da Igualdade Racial.



Por razões compreensíveis, os Ministério dos Direitos Humanos e o Ministério da Igualdade Racial desenvolviam algumas ações conjuntas. Com o frisson produzido pelo escândalo dos supostos assédios sexuais e morais, que culminou com o afastamento do ministro Sílvio Almeida do cargo de Ministro dos Direitos Humanos, posteriormente a ministra Anielle Franco anunciou a exoneração de alguns servidores que trabalham no órgão sob a sua gestão, que possivelmente teriam vínculos com o Ministério dos Direitos Humanos, como sugeriram alguns veículos de comunicação. Os representantes dos terreiros de candomblé emitiram uma carta onde demonstram uma profunda insatisfação com a medida, cujo afastamento envolveu membros de religião de matriz africana, com grande capilaridade na área, o que poderia representar um retrocesso no que concerne às políticas públicas desenvolvidas pela pasta para a área. 

Está produzida uma crise entre os representantes dessas entidades e o ministério comandado por Anielle Franco. A carta sugere uma mesa onde essas questões sejam discutidas e mudanças substantivas sejam efetivadas na conformação de ações - e de nomes - comprometidos com esses avanços. O cenário de insatisfações de amplos setores progressistas com o Governo Lula3 está se agravando ao longo do tempo. A greve dos professores universitários deixou algumas sequelas entre este setor e o governo. Embora eles tenham encerrado a greve, as vísceras permanecem abertas, com cortes de orçamentos, o que compromete a propalada autonomia universitária. Ninguém é autônomo com torniquetes de recursos. 

Alguns analistas sugerem que, não apenas alguns ministérios em particular, mas o próprio governo mude substantivamente suas linhas de ações daqui para frente, inaugurando um Lula 3b nesta segundo quadra de governo, nos dois anos que restam. Por vezes, causa estranheza algumas atitudes tomadas pelo morubixaba petista. Diante da refrega da última eleição municipal, onde o partido foi derrotado até em redutos simbólicos, ele mesmo admite que o PT precisa ser reinventado. 

P.S.: Contexto Político: De fato, foram demitidos alguns servidores do Ministério da Igualdade Social, onde se sugeriu que tais servidores - possivelmente em cargos comissionados - teriam algum tipo de vinculação ao Ministério dos Direitos Humanos, mas desconhecemos em que termos davam-se tais vinculações, possivelmente no desenvolvimento de ações conjuntas entre os dois órgãos. Jornais com o Estado de São Paulo repercutiram essas indisposições das entidades de candomblé e o órgão federal. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Editorial: O debate da Band é segunda-feira.



O primeiro grande debate entre os candidatos que concorrem ao segundo turno dessas eleições municipais ocorre nesta segunda-feira, dia 14, transmitido pela Rede Bandeirantes e suas afiliadas por todo o país. Pioneira na realização desses debates, a TV paulista sempre incorporou mudanças que pudessem melhorar a qualidade dos encontros, não surpreendendo que, os debates do segundo turno possam trazer algumas novidades, como o banco de tempo adotado no debate da Folha\UOL. Como a disputa se dá entre dois candidatos apenas, independentemente do formato, o embate propositivo ganha uma dimensão mais substantiva. No dia ontem, saíram as primeiras pesquisas sobre este segundo turno, a partir dos levantamentos realizados pelos Institutos Paraná Pesquisas e o Datafolha

Como sempre, São Paulo atrai as atenções nacionais. Liderando com folga, Ricardo Nunes mostra-se reticente em aceitar o apoio explícito de Pablo Marçal. Por outro lado, correndo atrás dos números, Guilherme Boulos afirma que não recusaria os votos do eleitor do empresário, admitindo, inclusive, que algumas de suas propostas podem ser avaliados num futuro governo do psolista. Lula deve entrar de sola na campanha, principalmente porque vencer em São Paulo poderia representar uma redenção diante do fiasco do partido nacionalmente. 

E, por falar em Lula, o fato de ter perdido em praças importantes de São Paulo deixou o petista bastante preocupado. O PT foi derrotado na região do ABC, inclusive em  cidades como São Bernardo, berço da legenda.  Araraquara, na região central do Estado, um bastião tido como inexpugnável pelo partido, controlado por décadas por lideranças como Edinho Silva, também caiu nas mãos da oposição.  Exceto em Belo Horizonte, onde o partido apoia Fuad Noman, do PSD, as nuvens continuam escuras para a legenda. A situação não é confortável em São Paulo, Natal e Fortaleza.  

Charge! Cláudio Mor via Folha de São Paulo.

 


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Editorial: Paulista, uma cidade em ruínas.


Não vamos entrar aqui nos pormenores para não "melindrar", este que é o verbo da moda. Ficamos sabendo a pouco sobre a confusão armada em relação ao PT na cidade de Paulista, cidade localizada na Região Metropolitana do Recife. Ali a eleição foi para o segundo turno e, neste contexto, ocorreu um rearranjo de forças forçado por tal contingência. O candidato do PSDB, Ramos, recebe o apoio da governadora Raquel Lira, como seria natural, ela que se empenhou pessoalmente em apoios a inúmeros candidatos pelo estado. Foi até exitosa neste projeto, uma  vez que o partido ampliou sensivelmente o número de prefeitos no estado. 

Num contexto onde os tucanos não foram bem em nível nacional, a governadora amplia seu capital político. Em São Paulo, por exemplo, o partido não conseguiu eleger um vereador sequer. Pela manhã, o diretório municipal do PT na  cidade, estabeleceu uma moção de apoio ao nome de Ramos. Júnior Matuto, do PSB, foi à Brasília pedir o apoio de Lula ao seu projeto de voltar a gerir a cidade. Salvo melhor juízo, o morubixaba petista gravou um vídeo em apoio ao candidato e a Executiva Nacional da legenda desautorizou o apoio do diretório municipal ao nome de Ramos, fato endossado pela Executiva Estadual do Partido. 

Cidade-Fábrica no passado, Paulista se transformou numa zona onde prevalecem os interesses de grupelhos políticos, sem qualquer viés ideológico, submetidos aos interesses comezinhos, sem o menor senso de espírito público. Questões ideológicas estão longe de estabelecerem os critérios para a formação de alianças políticas. O abandono do Cineteatro Paulo Freire, no centro da cidade, onde outrora funcionava o "Cinema da Companhia", retratado nos nossos romances, está em ruínas, assim como a praça principal e logradouros centrais. É um exemplo da ausência de cuidado dos gestores ao longo de décadas, alguns deles sem a menor credencial para se habilitarem a retornar a gerir a cidade. 

Editorial: Saiu a Paraná Pesquisas sobre a disputa em São Paulo.



Agora com o "X" liberado, as notícias chegam rapidinho. Acaba de ser divulgado um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas sobre a disputa do segundo turno em São Paulo. Pelo instituto, o candidato Ricardo Nunes, atual gestor da cidade que concorre à reeleição, aparece com 52,8% das intenções de voto, enquanto o candidato do Palácio do Planalto, Guilherme Boulos, crava 39% das intenções de voto. Apesar das arengas de sempre, envolvendo partidários de ambos os lados, contestando os resultados dessas pesquisas, é bom frisar por aqui que o instituto, na reta final da campanha, acertou com precisão os escores dos três candidatos, Guilherme Boulos, Ricardo Nunes e Pablo Marçal. 

Ainda hoje deve sair os dados do levantamento realizado pelo Instituto Datafolha, que goza do crédito da antiguidade e da longa expertise em pesquisas eleitorais. Vamos aguardar se ambos os institutos convergem sobre esses números. São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza são eleições que deverão contar com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como do capitão Bolsonaro. Segundo Valdemar da Costa Neto, depois das rinhas internas, Bolsonaro deve visitar as 22 cidades onde o PL ou aliados disputam o segundo turno. 

A participação do ex-presidente Jair Bolsonaro no pleito paulista tem sido marcada por grandes controvérsias. O capitão tem emitido sinais oblíquos em relação ao seu efetivo apoio ao candidato Ricardo Nunes, do MDB. Os problemas se arrastam desde a escolha do candidato, depois da definição do vice e durante a campanha do primeiro turno, onde Bolsonaro, literalmente, ficou indeciso sobre se deveria apoiar o nome indicado pelo partido ou o do empresário Pablo Marçal. 

Editorial: Em Fortaleza, PDT não endossa apoio ao PT.



Na eleição em segundo turno em Fortaleza, a direita deve se unir em torno do nome do deputado federal André Fernandes, que disputa a nova eleição com o representante do PT, Evandro Leitão. Ambos estão indo para o segundo turno, mas André Fernandes consegue, neste momento, unir a direita em torno do seu projeto político, pois já recebeu sinalização positivas do Capitão Wagner, do União Brasil, e do senador Eduardo Girão, do Novo. Por outro lado, Evandro Leitão, que deve contar com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu palanque nesta reta final do pleito, não deverá contar com o apoio do atual gestor da cidade, José Sarto, vinculado ao PDT. 

O partido lançou uma nota onde descarta uma apoio formal, mas dá liberdade aos eleitores que sufragaram seu nome a encampar a candidatura do PT contra o candidato do PL. Pelo andar da carruagem política, o racha entre o PDT e o PT naquela praça é briga feia, dessas onde as reconciliações são difíceis. O ex-presidenciável Ciro Gomes, muito ligado a José Sarto, é um poço até aqui de mágoas em relação à companheirada. Em determinados momentos de suas entrevistas concedidas à imprensa do estado e do país, Ciro sugere ter dúvidas sobre o que seria o mal maior para a capital do estado, se cair nas mãos do PL ou do PT. 

Depois do sermão de Silas Malafaia, quem deve aparecer no estado é o ex-presidente Jair Bolsonaro. André Fernandes é um bolsonarista raiz. Uma vitória de André Fernandes, com amplas chances de chegar lá, inicia um novo ciclo na gestão da capital, destruindo um projeto de décadas do campo progressista, que começou a décadas atrás, na realidade, com o desmonte das grandes oligarquias políticas que controlavam a política no estado, algumas dessas nucleações cevadas durante o regime militar. Uma pena que divergências pontuais possam levar esse projeto coletivo ao naufrágio. 

Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Editorial: As gestões para Nunes costurar um acordo com Marçal.


Naqueles bons tempos da política - já vão longe esses tempos - Mário Covas, uma das grandes lideranças entre os primeiros tucanos - empreendeu um esforço enorme para vir ao Ceará apoiar um pleito do senador Tasso Jereissati. Questionado pela esposa, ele teria respondido que não poderia ser indelicado com o aliado, um dos poucos governadores que apoiaram o seu projeto de tornar-se presidente do país. Numa outra oportunidade, Mário Covas teria declarado que, numa disputa política, não se recusa apoios. 

Partindo desse raciocínio, lideranças políticas do campo conservador estão se mobilizando no sentido de fazer gestões no sentido de articular uma aliança entre o prefeito Ricardo Nunes e o empresário Pablo Marçal, de olho na composição dos votos no segundo turno. Não sabemos baseados em que, Marçal já andou declarando que Guilherme Boulos pode vencer as eleições de São Paulo neste segundo turno. Hoje saiu a notícia de que nada menos do que 50 mil eleitores anularam o seu voto cravando o número do PT nas urnas. 

Considerávamos que a composição entre ambos fosse uma situação contingencial, mas não é. O grupo ligado a Marçal não se sente muito à vontade com o staff de Nunes. O mais preocupante disso tudo é que o ex-coach já tem seu nome garantido na bolsa de apostas para as eleições presidenciais de 2026. 

Editorial: Conclusões sobre as últimas eleições municipais a partir do "bruxo".



Há uma profusão de análises sobre as eleições de 2024. Não surpreende neste momento, uma vez que tal eleição representou um avanço das forças de centro-direita, e até de extrema-direita na quadra política brasileira, capaz de mexer no tabuleiro central daqui para frente. Eles avançaram em termos de capilaridade política e número de votos, não deixando margem para dúvidas. Mantida essa tendência de crescimento do centro-direita no país, é uma questão de tempo - 2026 ou 2030 - para esses grupos tomarem a bastilha do Palácio do Planalto. 

Setores do campo progressistas já advogam que Lula precisará se reinventar a partir dessa segunda quadra de mandato, criando uma espécie de Lula 3b. O problema é que o morubixaba petista emite sinais de quem não estaria muito motivado para este embate, talvez preferindo a opção de tornar-se "confiável" a essa correlação de forças que se engendra neste momento. É estranho o rumo que o seu governo está tomando, em alguns casos abdicando de pautas caras ao campo progressista. Ontem tivemos a oportunidade de acompanhar uma entrevista do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, ao Folha\OUL

Como bom estrategista, não revela todos os seus planos, permitindo algum mistério ou, deliberadamente, emitindo comentários que podem confundir o adversário. Kassab aprendeu com as ostras a não abrir a boca além do limite permitido. Ocorre um fenômeno curioso com esses moluscos. Durante a maré baixa eles costumam abrir a boca. Os caranguejos aproveitam para atirar uma pedra ou uma alga nesta abertura, não permitindo que eles voltem a fechá-la, tornando-se fácil a sua captura.  Por falar demais, esses moluscos viram comida de caranguejo. Fica a lição. 

Daquilo que foi possível abstrair de sua entrevista, podemos concluir que o nome que está sendo trabalhado no momento por esses segmentos conservadores é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pois este tem maior maleabilidade política e partidária do que o capitão, que, além de inelegível, não seria um homem de partido; As rusgas públicas externadas pelo pastor Silas Malafaia podem ir além de um desabafo, indicando que há defecções na base de apoio bolsonarista; Há particularidades entre uma eleição municipal e uma eleição presidencial, mas, a rigor, a direita ampliou sua musculatura nessas eleições; O debacle do PT não representa, necessariamente, um enfraquecimento do morubixaba petista, uma liderança suprapartidária. 

Charge! Pedro Vinício via Folha de São Paulo

 


terça-feira, 8 de outubro de 2024

Editorial: Racha entre bolsonaristas.



O PL ainda comemora os resultados obtidos nesta eleição. Foi o partido que conseguiu o maior número de votos em todo o país. Atingiu a metade da meta anterior, que seria a eleição de mil prefeitos. Elegeu apenas 509. Valdemar da Costa Neto, presidente nacional da legenda, argumenta que o problema esteve relacionado à ausência de diálogo entre ele e Jair Bolsonaro, cumprindo uma determinação do STF. Sugere-se, no entanto, que o problema da ausência de diálogo não se restringiu aos caciques da legenda. O pastor Silas Malafaia, bolsonarista raiz, rasgou o verbo para questionar a ausência do capitão nas eleições em São Paulo e em Curitiba. 

De fato, Bolsonaro cometeu um equívoco em seu posicionamento nas eleições paulistas. Desde o início da campanha a relação entre ele e Ricardo Nunes era de idas e vindas. O acordo com Ricardo Nunes era mais uma decisão do PL, através de Valdemar da Costa Neto, que já tinha gente sua na máquina da prefeitura. Depois veio a novela do vice, que o staff do prefeito não considerava de bom alvitre que fosse indicado um bolsonarista raiz. Bolsonaro fez valer o seu capital político e assegurou a indicação do coronel Mello. De fato, ajustadas essas questões, imaginava-se que o capitão pudesse entrar de sola na campanha de reeleição de Nunes, o que não ocorreu. 

Neste intervalo, surge o nome de Pablo Marçal, um furacão que prometia varrer Nunes da prefeitura, causando apreensão nas hostes políticas vinculadas à reeleição do prefeito. Bolsonaro relutou em engajar-se na campanha de Nunes, temendo uma eventual vitória de Pablo Marçal. É aqui que entra os questionamentos sobre a sua postura reticente, que poderia ter influído na decisão da eleição num segundo momento. Curioso que os eleitores ligados a Pablo Marçal também não perdoam a postura do capitão, sugerindo pelas redes sociais que estão dispostos a votarem em Boulos apenas por vingança.  

Editorial: Bolsonaro deve participar da campanha de segundo turno na Paraíba.



A expectativa era a de que a campanha política para a Prefeitura de João Pessoa pudesse ser encerrada ainda no primeiro turno. Desde o início, o atual gestor, Cícero Lucena(PP-PB), que conta com o apoio de setores progressistas, como o PSB do governador João Azevedo, liderou todas as pesquisas de intenção de voto. Outra surpresa foi a arrancada de Marcelo Queiroga(PL-PB), já na reta final, superando o candidato do Podemos, Rui Carneiro. Difícil dimensionar o estrago que a prisão da primeira-dama, Lauremília Lucena, teria produzido na campanha de Cícero Lucena. 

Adianto que este fato foi muitíssimo explorado durante os debates que antecederam o pleito. O caso é bastante preocupante e, no nosso entendimento, externado dias antes do pleito, não poderia deixar de produzir seus na campanha do marido, que tenta a reeleição. Ao considerarmos esses efeitos, mesmo com uma larga vantagem de votos em relação ao bolsonarista, sugere-se um equilíbrio de forças nesta reta final de campanha de segundo turno. Ex-Ministro da Saúde durante o período nevrálgico da pandemia da Covid-19, Marcelo Queiroga tem um grande prestígio junto ao capitão Bolsonaro e assegura que eles estarão juntos nesta campanha de segundo turno. Restaria, tão somente, ajustar os procedimentos de agendas, uma vez que Bolsonaro deverá assumir outros compromissos pelo país afora. 

A direção do PT local já declarou que estará marchando ao lado do prefeito Cícero Lucena. Aliás, desde o início da campanha, setores do partido defendiam esta tese. A direção nacional da legenda é que resolveu bancar uma candidatura própria, incorrendo no mesmo equívoco em Belo Horizonte, com Rogério Correia, que não conseguiu decolar. O senador Humberto Costa descartou completamente a possibilidade de o presidente Lula participar da campanha do segundo turno no estado da Paraíba. 

Editorial: As chances de Ricardo Nunes são maiores.



Pelo andar da carruagem política, o PT deve amargar mais uma grande derrota na disputa pelas capitais do país. As previsões indicam que o prefeito Ricardo Nunes deve ser reconduzido ao cargo na maior metrópoles brasileira. É curiosa essa geografia do voto na praça paulista, por vezes, levando os analistas a concluírem precipitadamente por algum desfecho. Não apenas a geografia do voto, para ser mais preciso, mas o próprios institutos podem induzir aos equívocos. Ali pelo finalzinho do período eleitoral do primeiro turno foram divulgadas uma enxurrada de pesquisas de intenção de voto indicando que o embate maior seria mesmo entre Guilherme Boulos e Pablo Marçal. Nunes estaria fora do páreo. 

A coluna do jornalista Cláudio Humberto traz uma revelação interessante sobre os acertos e erros dos institutos na capital paulista, onde observa que, mais uma vez, o Paraná Pesquisas foi o instituto que cravou os melhores escores de tendências de voto, apontando índices que viriam a ser confirmados pela apuração. Nunes leva vantagem neste segundo embate, uma vez que os eleitores de Pablo Marçal, necessariamente, teriam mais chances de endossarem o pleito de uma segunda gestão do prefeito. Há sinalizações entre ambos e, como dizem as raposas, principalmente no segundo turno, não se recusa apoio. 

Curioso que o eleitor de Guilherme Boulos é um eleitor de boa formação, residindo em zonas de classe média, com renda alta. O eleitor da periferia não encampou o seu projeto, como se previa no início da campanha, com a inserção da ex-prefeita Marta Suplicy em sua chapa, ocupando a condição de vice. Tanto isso é verdade que ele pretende focar sua campanha de segundo turno nesses redutos.  Numa eventual derrota de Guilherme Boulos qual, afinal, será o destino de sua companheira de chapa, que já esteve ocupando cargo de secretária na gestão de Nunes? 

Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


Charge! Benett via Folha de São Paulo