Em nossos textos, mesmo os literários, não raro fazemos algumas referências ao Diário de Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação da América Latina. Mas não ficamos sozinhos neste contexto, uma vez que o historiador Durval Muniz de Albuquerque, em seu livro a Invenção do Nordeste e Outras Artes, sugere que a circulação do jornal, em seus tempos áureos, tornou-se referência para se delimitar os limites geográficos da própria região Nordeste. O Nordeste ia até onde chegava a circulação do jornal. Em seus textos memorialistas relativos ao Ciclo da Cana-de-Açúcar, o escritor paraibano José Lins do Rego faz referência ao jornal, que ele recebia no Engenho Corredor, nas primeiras horas da manhã. Em Banguê, por exemplo, depois de voltar de uma incursão fracassada pelo eito, onde não teve condições de informar ao coronel Zé Paulino sequer quantos cabras estavam no batente por lá, o avô informa para ele: - O Diário de Pernambuco chegou. Jornal que ele lia, deitado numa rede, meditando sobre o futuro do Engenho Santa Rosa.
O sociólogo Gilberto Freyre manteve, ao longo de sua vida, uma relação efetiva e afetiva com o jornal, mesmo nos tempos em que passou uma temporada de estudos nos Estados Unidos, de onde enviava, com regularidade, seus artigos numerados, intitulado Da Outra América, textos reunidos posteriormente em livros, que deram suporte às suas ideias regionalistas. Gilberto tinha uma relação estreitíssima com o jornalismo. Desde os tempos de estudante no Colégio Americano Batista, no Recife, onde dirigia O Lábaro, um jornal estudantil. Depois dirigiu A Província e, salvo melhor juízo, também comandou o Diário de Pernambuco, num dos seus períodos mais efervescentes.
Durante o período da Ditadura do Estado Novo, o vespertino tornou-se uma tribuna contra os desmandos da Interventoria do Estado de Pernambuco, à época comandada por Agamenon Magalhaes, levando o sociólogo à prisão por duas vezes, além de ameaças e espancamento ao colega jornalista Aníbal Fernandes, quando chegava à sua residência no bairro de Boa Viagem. A Fundação Joaquim Nabuco, possivelmente em relação desses laços que unem o sociólogo ao jornal, mantém preservados em microfilmagens as edições impressas do jornal. A governadora Raquel Lyra, depois da licitação encetada e não concretizada para a preservação do prédio da Pracinha do Diário, finalmente resolveu assumir a restauração do mesmo. Em governo anterior, a licitação, embora paga e concluída, o prédio continuou sem os cuidados requeridos. Em princípio, abrigaria a sede do novo Arquivo Estadual. Hoje, não se sabe se o Governo de Raquel Lyra teria outros objetivos com o imóvel. Ratificando que a licitação paga e a restauração não entregue ocorreu em governo anterior ao de Raquel Lyra. Este senso republicano da governadora merece os nossos cumprimentos.
Por iniciativa do deputado Eduardo da Fonte, o presidente Lula assinou projeto de lei, tornando o acervo jornalístico do jornal um patrimônio cultural material do país. E, por falar em arquivo, estre jornal foi uma de nossas fontes de pesquisa para a nossa dissertação de mestrado. A senhora Leda Rivas nos facultou acesso a material importante para aquele trabalho, depois transformado em dissertação, com direito a uma entrevista, que saiu publicada numa página inteira, com direito à chamada de capa.