pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

PT, 34 anos: o esquertejado ainda respira - e teima?

 

Da perplexidade ao ataque, passaram-se poucos dias até o impoluto Gilmar Mendes puxar a coleira da matilha que passou a farejar sem trégua.

por: Saul Leblon
Arquivo


O deputado André Vargas (PT-PR) não foi orientado por um script publicitário a erguer o braço e cerrar o punho na presença da toga que se esponja no desfrutável papel midiático de algoz do PT.

Genoíno, que o antecedeu na afirmação simbólica de identidade e protesto, ou Dirceu, que assim também se confraternizou com os militantes solidários que o aguardavam na entrada da Papuda, tampouco  obedeceram aos alertas  de ‘luzes, câmera, ação!’

Milhares de petistas e não-petistas anônimos que fizeram chegar doações a Genoíno e Delúbio – e aqueles que repetirão a solidariedade a Dirceu e João Paulo, por certo não podem ser confundidos com coadjuvantes de uma peça eleitoral.

O significado desses sinais de vitalidade enviados do metabolismo profundo não apenas do PT, da esquerda em geral,  já foram sublinhados pela argúcia de vários analistas da blogosfera.

O que eles evidenciam deixou inconformados colunistas e togas engajados em anos de desqualificação diuturna do partido, de seu legado e  valores.

Depois de tanto sangrar, o esquartejado ainda teima –e respira?

Da perplexidade ao ataque, passaram-se poucos dias até o impoluto doutor duplo habeas corpus, Gilmar Mendes,  puxar a coleira da matilha que passou a farejar operosa e incansavelmente: em algum ponto há de se achar  uma cubana das doações.

O fato é que  eles não contavam com a sobrevida da solidariedade no espinhaço ferido  da esquerda. Tudo isso já foi dito e bem dito.

Faltou dizer  que parte expressiva desta esquerda também se surpreendeu.

Surpreendeu-se  ela com o efeito demolidor de algo esquecido na prática minuciosamente monitorada pela conveniência  do exercício do poder: a espontaneidade de André Vargas.

Sem falar da solidariedade sem hesitação a Genoíno e Delúbio  –que por certo inclui doações expressivas de instituições e personalidades, a exemplo do cheque de R$ 10 mil enviado pelo ex-ministro Nelson Jobim.

Mas nada que diminua a vitalidade do que verdadeiramente incomoda e sacode: milhares de doadores anônimos não esperaram uma peça publicitária para sair em defesa de quem personifica referências inegociáveis de sua visão de vida, de mundo e de Brasil.

A criatividade inexcedível do protesto espontâneo e o efeito demonstração incomparável da prontidão solidária hibernavam na memória algo entorpecida do PT.

Há mais de uma década desafiado a ser partido de massa e governo --  a bordo das sabidas contradições que a dupla jornada encerra, o partido impôs-se, compreensivelmente, o gesso da previsibilidade e as algemas do risco zero.

Ademais dos comedimentos  da responsabilidade  de ser governo, o próprio êxito dessa trajetória  -- reiterado nas urnas—instituiu um protocolo de autopreservação: ele delega ao pensamento publicitário a última palavra (não raro a primeira também) sobre o que o partido deve falar, quando e como fazê-lo.

Cabe a pergunta: que publicitário petista orientaria um dirigente a cerrar o punho, de braço erguido, diante da toga colérica, a essa altura do jogo? E quantos bancariam uma campanha massiva de doações aos incômodos condenados do chamado ‘mensalão’?

‘E pur si muove...’

A eficácia do improvável deveria inspirar arguições no pragmatismo que planeja a campanha presidencial deste ano.

Todo cuidado é pouco  –estão aí as togas, o jornalismo isento, os mercados sedentos, os netos oportunistas e os verdes convertidos no altar do tripé.

‘Não vai ter Copa’ é o mínimo que eles ambicionam.

Mas estão aí também a democracia e o desenvolvimento brasileiro perfilados  num horizonte de encruzilhadas imunes à receita de mais do mesmo em nova embalagem e sabores reciclados.

Aquilo que cabe em um script competente, mas exatamente por isso encilhado em baixos teores de ousadia e residual  espaço à mobilização, talvez seja suficiente para vencer o conservadorismo nas urnas de outubro.

Mas o será para liderar a transição do novo pacto de desenvolvimento necessário à construção da democracia social brasileira?

A ver.

Homem humilhado por professora da PUC é advogado.

Professora debochou de homem pelo fato de vestir camiseta e bermuda em aeroporto. Marcelo Santos, advogado, escreveu um texto de desabafo

O homem ironizado por uma professora nas redes sociais, pelo fato de ter vestido camiseta regata e bermuda no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, disse que, ao ver sua foto circular na internet, pensou que fosse uma montagem ou “gozação” de amigos. Na publicação, o advogado mineiro Marcelo Santos era retratado ao lado da pergunta: “Rodoviária ou aeroporto?”
O comentário feito pela professora Rosa Marina Meyer, docente do Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) e diretora da Coordenação Central de Cooperação Internacional da universidade, chegou até a página do Facebook da personagem “Dilma Bolada”, na qual foram feitos quase 11.300 compartilhamentos entre quinta-feira (6) e a manhã desta segunda (10).
Para os internautas, o post da educadora foi preconceituoso. Na própria quinta-feira, ela divulgou um pedido de desculpas na web.
rosa marina meyer marcelo santos
Professora da PUC Rosa Marina Meyer (dir.) publicou foto de Marcelo Santos (esq.) debochando de seus trajes e reclamando da invasão de pobres em aeroportos. Não sabia ela que Marcelo é dono de um renomado escritório de advocacia (Edição: Pragmatismo)
“Sabedora do desconforto que posso ter criado com um post meu publicado ontem (quarta-feira) à noite, peço desculpas à pessoa retratada e a todos os que porventura tenham se sentido atingidos ou ofendidos pelo meu comentário. Absolutamente não foi essa a minha intenção.”
Na ocasião da foto, o advogado voltava de uma viagem internacional de cruzeiro que teve o Rio de Janeirocomo destino final. Ele passou o dia passeando pela cidade, quando tirou uma foto com a estátua de Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana, na Zona Sul, pouco antes de ir ao aeroporto e embarcar em um voo para Minas Gerais.
“Eu estava em uma reunião, e uma advogada que trabalha comigo veio dizer que tinha uma foto minha circulando na internet. Inicialmente, achei que fosse montagem, ‘gozação’ dos meus amigos que tinham viajado comigo. Quando percebi, fiquei indignado ao perceber que eram pessoas da [área de] educação conversando entre si. Na página da Dilma Bolada, vi que o pessoal estava todo do meu lado, contra aquela postura preconceituosa dela [professora], e vi que aquilo tomaria proporções enormes. Minha família não gostou nada disso, a noite foi muito difícil para dormir, não só em relação à minha situação, mas é decepcionante ver que pessoas ligadas à nossa educação têm essa postura em relação ao cidadão”, afirmou.
Marcelo disse que já localizou a professora e todas as pessoas que comentaram a publicação dela com falas preconceituosas. O advogado diz que, se pudesse dar um recado a ela, pediria que revisse seus conceitos.
“Como educadora, ela está dando péssimo exemplo de cidadania e profissão. Pelo que eu estou vendo, o pessoal está indignado não só pelo Marcelo [ele está falando de si na terceira pessoa], mas todo mundo se sente essa pessoa naquela situação. Ela não ofendeu o Marcelo em si, mas quem estava no aeroporto, como se fosse impossível. Ela simplesmente criticou o traje da pessoa, e sabemos que no Brasil todo mundo está sujeito a usar isso. Estou muito indignado pela situação, foi ridículo. Estamos tomando as providencias no escritório e temos os dados de todos [envolvidos na polêmica]“, apontou.

Desabafo nas redes

Em seu perfil no Facebook, Marcelo escreveu um texto de desabafo. “Boa tarde. Gostaria de agradecer as mensagens calorosas dos amigos, neste momento. Na oportunidade, informo que estava chegando de viagem de um cruzeiro internacional e tinha conhecimento do calor que estava no Rio de Janeiro, ocasião em que estava com trajes casuais. Ademais, por estar de férias, no Rio de Janeiro, não tinha por que estar usando terno e gravata apenas para usar um meio de transporte. Informo, também, que os comentários infelizes das pessoas na página do Facebook já estão sendo alvo de análise pelos meus colegas do escritório e, certamente, serão tomadas as medidas legais. É lamentável perceber que isso partiu de pessoas ligadas à educação de nosso país. Com efeito, apenas vem descortinar o preconceito existente por muitas pessoas que se julgam melhores apenas por questão de aparência.”
Uma página criada na rede social, na sexta-feira (7), ironizou a atitude da educadora. A descrição do perfil diz: “A professora da PUC-RJ que odeia viajar de avião com quem usa regata, bermuda e tem cara pobre, pois pra viajar com ela, é preciso ter glamour”.

(Publicado originalmente no site Pragmatismo Político)
Lívia Torres, G1

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Tijolaço do Jolugue: Batucada dos maracatus podem se estender até às 05:00 horas.



O Ministério Público de Pernambuco, segundo informações, teria determinado que o batuque dos maracatus podem se estender para além das 02:30 horas da madrugada, no limite máximo até as 05:00 horas. Depois da repercussão negativa, o Governo do Estado tratou de explicar que não teria dado nenhuma ordem no sentido de coibir as batidas para além das 02:30 horas da manhã. Estão ocorrendo algumas coisas curiosas com a segurança pública do Estado. Para ser otimista, apenas um ruído na comunicação. Numa hipótese mais pessimista, a ausência de um comando, fato muito grave. Foi a própria Polícia Militar que agiu para reprimir a manifestação da cultura popular. Isso ocorre quando o próprio aparato militar se arvora como intérprete da lei, numa excepcionalidade próxima ao Estado de Exceção. O que não vem faltando na segurança pública do Estado são juristas e cientistas sociais que, não raro, extrapolam as suas funções sejam em declarações infelizes ou na adoção de medidas concretas, como essa última, que reprimiu uma manifestação cultural tão importante para o Estado, como o maracatu. Conforme já informamos, cerceando a liberdade de manifestação, relembrando os idos do Estado Novo, quando os cultos de origem afro-brasileiros e os protestantes eram perseguidos pela polícia de Agamenon Magalhães. Pay attention, senhor secretário.

Charge!Paixão via Gazeta do Povo

Paixão

"Se Campos faz Nova Política, sou o papai Noel", Randolfe Rodrigues

Tijolaço do Jolugue: Sucessão familiar em Pernambuco


O Estadão, no dia de hoje, traz uma matéria sobre a sucessão em Pernambuco. A matéria evidencia o caráter familiar da sucessão do governador Eduardo Campos. Dos nomes palacianos mais cotados até o momento, todos guardam, direta ou indiretamente, algum grau de parentesco com a família do governador: Paulo Câmara, casado com uma prima em segundo grau de Renata Campos, esposa do governador; Maurício Rands, primo de Renata Campos; e Tadeu Alencar, próximo à família Campos de longas datas, desde Arraes. Com a vaga aberta para o senado, depois da desistência de Jarbas Vasconcelos, o governador poderia estar negociando esse espaço com dois outros nomes também contados para sucedê-lo: O ex-ministro Fernando Bezerra Coelho e o vice-governador João Lyra. Ontem, através de uma postagem aqui no face, Noélia Brito levantou a hipótese, através de fontes confiáveis, de que o nome de Bruno Araújo(PSDB) estaria sendo imposto como candidato ao senado pela chapa palaciana. Bancada por grãos-tucanos, uma reticência do governador a esse nome poderia representar alguns problemas nas articulações nacionais já em estado avançados entre o PSB e o PSDB. Além desses fatos, a reportagem do Estadão aponta a existência de, pelo menos, uma dezena de parentes do governador nomeados para ocuparem espaço na máquina pública estadual, numa aberrante contradição com a plataforma da "Nova Política", por ele cantada em prosas e versos.

Campos prepara sua sucessão "em família"


Nomes mais cotados para a disputa em PE têm relações de parentesco com governador

09 de fevereiro de 2014 | 2h 06





Pedro Venceslau, Isadora Peron e Angela Lacerda/Recife - O Estado de S.Paulo
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, provável candidato do PSB à Presidência, prepara sua sucessão no Estado com uma lista de opções circunscrita ao seu clã familiar e político. Os três nomes cotados por Campos para disputar o governo pernambucano em outubro têm algum grau de parentesco direto ou indireto com ele.
Primo de primeiro grau de Renata, mulher do governador, o ex-deputado Maurício Rands voltou de uma temporada na República do Chade para, segundo ele, ficar "na retaguarda" do governador. Depois de romper com o PT, ele se filiou ao PSB em outubro do ano passado, no limite do prazo legal para ser elegível. Considerado por aliados de Campos uma pessoa de sua estrita confiança, Rands representa a opção com mais experiência política da lista tríplice.
Outro nome que desponta na sucessão pernambucana é o do secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar. Além do filho dele, Tomás Alencar, ser namorado de Maria Eduarda, filha do governador, as duas famílias são próximas desde a época de Miguel Arraes - o avô de Campos e ex-governador do Estado. Mas, apesar de serem tratados no Estado como primos, a assessoria de imprensa da Secretaria da Casa Civil garante que os Alencar e os Campos não estão na mesma árvore genealógica.
A terceira opção de Campos hoje é o secretário da Fazenda, Paulo Câmara, casado com uma prima de segundo grau do governador. Seu nome não chega a ser unanimidade dentro do PSB pernambucano, mas conta com a simpatia de grande parte dos dirigentes do partido.
O vice-governador João Lyra e o ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra chegaram a ser cogitados pelo governador, mas devem ocupar outros espaços na aliança. Lyra assumirá o governo quando Campos sair para a disputa presidencial em abril e Bezerra pode disputar o Senado. A vaga foi aberta semana passada, quando o peemedebista Jarbas Vasconcelos anunciou que não tentaria a reeleição.
Segundo Bezerra, Campos está ouvindo os partidos que compõem a sua base aliada no Estado para tomar a decisão. O ex-ministro acredita que, até o carnaval, o governador tenha definido o nome do seu sucessor.
Parentes. Além dos dois secretários cotados para a disputa, Campos mantém no governo pelo menos uma dezena de parentes seus e de sua mulher. A irmã da primeira-dama, Ana Elisabeth de Andrade Lima Molina, médica da Secretaria da Saúde, por exemplo, foi alçada a um cargo de direção da pasta.
Antes de fazer campanha para que a mãe, a então deputada Ana Arraes, fosse nomeada ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), em 2011, Campos já havia patrocinado a escolha de dois parentes para ocupar espaços no Tribunal de Contas do Estado. Ele indicou como conselheiros do órgão um primo seu, João Campos, e um primo da mulher, Marcos Loreto. Outro primo do governador, Thiago Arraes Alencar Norões, foi escolhido procurador-geral do Estado no início do segundo mandato de Campos.
No Congresso, há a possibilidade de o filho de Campos ser candidato a deputado. João, de apenas 19 anos, teria a missão de representar a família em Brasília, já que Ana Arraes trocou o mandato na Câmara pela vaga no TCU.
Críticas. Segundo a deputada estadual Terezinha Nunes, do PSDB, partido que agora é aliado do governador, a escolha familiar que Campos pretende fazer para a sua sucessão põe em xeque o discurso da nova política adotado recentemente pelo governador. O deputado estadual Sérgio Leite (PT), que assumiu na semana passada a liderança da oposição na Assembleia Legislativa, também faz críticas a Campos nessa linha. "Essa é a forma de governar que ele chama de nova política?", questiona.
Para o filósofo e professor de Ética da Unicamp Roberto Romano, as decisões de Campos reproduzem uma ética herdada do seu avô. "A fama de 'esquerdista perigoso' imputada pelos militares a Miguel Arraes não corresponde às práticas que ele adotou quando foi governador de Pernambuco. Ele sabia se equilibrar muito bem entre os oligarcas do Estado, além de ter uma capacidade muito grande de passar pelas várias tendências ideológicas sem ficar preso a uma ou outra."
Em outubro passado, Campos se associou à ex-ministra Marina Silva para a sucessão presidencial. Ela poderá ser sua vice. A dupla tenta se apresentar como a terceira via da campanha presidencial, diante da tradicional polarização entre petistas e tucanos.
(Publicado originalmente no Estadão)

Tijolaço do Jolugue: Rua da Aurora: Onde se ia ouvir o Som da Rural do Roger.

Bastante interessante esse debate pelas redes sociais em torno da Rural do Roger. Há um sociólogo francês - que lamentavelmente esqueço o nome no momento - cuja produção acadêmica se concentra no estudo crítico das intervenções do poder público em torno da requalificação de centros históricos que, segundo ele, seguem uma "receita de bolo" em todo o mundo, ou seja, são bastante semelhante. Primeiro retira-se os moradores locais, pintam-se as fachadas de alguns prédios e colocam-se umas bandinhas para tocar por algum tempo, quase sempre através de contratações lesivas ao interesse público.Uma outra característica é o dinheiro para o financiamento desses projetos, recursos oriundos do BID. Pouco tempo depois, salvo raríssimas exceções, esses centros voltam às suas características iniciais, afastando a população do seu convívio. Torna-se, portanto, necessário identificar os reais problemas desses centros históricos e reorientar essas intervenções, consoante necessidades específicas, analisadas caso a caso. A Rua da Aurora, por exemplo, possui algumas belezas naturais, mas o poder público nunca foi capaz de propor um uso inteligente daquele espaço público pela população recifense. Trata-se de uma rua que possui um conjunto arquitetônico magnífico, margeada pelos manguezais do Rio Capibaribe. Como pano de fundo - que nesse caso não é cueca - o Palácio do Campo das Princesas. Atravessa-se uma ponte e lá estamos no Teatro de Santa Izabel. O problema é que não se consegue fazer esse percurso sem ser molestado de alguma forma, seja pela violência urbana, seja pelo "incentivo" do poder público. Apesar de belo, é um local rigorosamente abandonado, entregue aos poucos que se aventuram às suas sinuosas curvas, onde, no passado, de acordo com os poemas de Manuel Bandeira, "se ia fumar escondido". Ontem tive a oportunidade de ouvir a proposta cultural do Roger. Parece-nos bastante interessante, porque pretende reunir a galera para, livremente, levarem suas manifestações culturais para o local, sem as "amarras" normalmente impostas pela esfera pública, que resolveu coibir o evento. Uma pena.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quando o crato voltou a ser senzala

No dia 06 de fevereiro de 2013, às 15:00h, na Rua Bárbara de Alencar, centro comercial do Crato, Francisco do Nascimento foi amarrado a um poste e assim permaneceu durante duas horas. O motivo: em surto, teria quebrado vidraças de lojas.
Francisco do Nascimento, morador do bairro São Miguel possui histórico de outros atentados, como pôr fogo no carro de um vizinho. Ele também possui diversas entradas no Hospital Psiquiátrico Santa Tereza. Segundo a sobrinha, a família não sabe mais o que fazer com Francisco do Nascimento: no hospital não há vagas e ele se torna cada vez mais violento.
Durante as duas horas em que ficou amarrado, algumas pessoas tentaram libertá-lo, ato que foi violentamente rechaçado pelos dois homens que o  prenderam. No mais, a multidão, estonteada, admirava estupidamente o espetáculo do homem que gritava, rugia e pedia por socorro. Diversas autoridades estiveram no local, a exemplo de soldados do Ronda. 
Mas há um outro histórico que pesa sobre Francisco do Nascimento: nasceu negro e pobre. E pior: necessita de acompanhamento psiquiátrico. Dessa forma, por ser negro, pobre e louco, Francisco Nascimento pôde ser amarrado, exposto a ridicularização pública e violentado em sua dignidade humana , tal qual seus ancestrais.
De minha parte, só não podia acreditar que, após tantos séculos, ainda iria presenciar um negro sendo imolado em praça pública.
Viva o Crato! Viva o Brasil! 
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(Publicado originalmente no cascadebana.tumblr.com)

Muniz Sodré: "A Escola deveria incorporar a ecologia dos saberes".

Para o sociólogo e professor emérito da UFRJ Muniz Sodré, o pluralismo e a complexidade do mundo precisam ser abordados pela escola
Por Regiany Silva e Patricia Gomes, do Porvir
Para Muniz Sodré, “o conceito de cultura ecológica preconiza o dar-se as mãos às diferenças” (Foto: divulgação)
O sociólogo Muniz Sodré é um defensor da diversidade. Em suas obras, que orbitam pelos campos da comunicação, cultura, sociologia e educação, ele exalta a necessidade do reconhecimento das diferenças e de uma aproximação afetiva delas como forma de se caminhar para a aceitação da pluralidade e se valorizar o Outro (em letra maiúscula mesmo, para evidenciar a deferência). Formado em direito, com mestrado da sociologia da informação e doutorado em letras, Sodré é tido como um dos mais importantes intelectuais brasileiros. Ao transitar pelo ambiente acadêmico e o de saberes populares, ele faz o apreço ao diverso não ficar restrito apenas a sua produção científica.
Prova disso é que Sodré, ao mesmo tempo em que é professor emérito da UFRJ e já ocupou o cargo de presidente da Biblioteca Nacional, é também mestre de capoeira e tem o título de Obá de Xangô do Opô Afonjá, conferido a “protetores” de terreiro de candomblé. Em 2012, ele publicou o livro Reinventando a educação: diversidade, colonização e redes, em que afirma: “A ideia do ‘saber único’ termina recalcando uma parte importante da realidade (…) seus efeitos são igualmente danosos no tocante à educação, porque o monismo cultural impede o pluralismo”.
Para o estudioso, a educação brasileira precisa ser reentendida, uma vez que ela foi concebida com base em saberes eurocêntricos, descartando o potencial intrínseco aos outros povos que constituem a diversidade do nosso país. Ele entende que a experiência que cada aluno traz deve ser valorizada e compreendida na formação do que chama de ecologia de saberes.
Em entrevista ao Porvir, o intelectual falou da importância de os professores, figuras que considera cruciais na formação do indivíduo, mudarem de papel. Em vez de transmissores de conhecimento, eles devem assumir a função de tradutores das diversas linguagens do mundo – que são ainda mais vastas quando se considera que o conhecimento tem múltiplas origens. Falou também de tecnologia como um espaço ao qual estamos irremediavelmente ligados pela cultura digital. E criticou o currículo adotado pelas escolas, que acabam criando seres competitivos, e não necessariamente promovem a circulação de saberes.
O senhor diz que o professor deve assumir o papel de iniciador nas linguagens do mundo. Como o professor se prepara para apresentar a seus alunos tantas linguagens, que podem ser novas inclusive para ele?
A docência como uma iniciação a linguagens supõe uma pedagogia que não se define por inculcação de conteúdos, mas pelo acolhimento da diversidade. Cada linguagem é um modo de ser do conhecimento, que envolve cognição e ética. Isto vale para qualquer campo do saber, até mesmo os mais especializados. Para tanto, o iniciador-tutor-professor, qualquer que seja o nome, precisa de uma formação diferenciada e uma reciclagem permanente. Tudo isto supõe também um status especial para o docente.
Como a lógica de diálogo com a tecnologia pode influenciar positivamente nos processos de aprendizagem?
Tecnologia é a razão ou a linguagem da técnica. A consciência do homem contemporâneo é fortemente moldada não apenas pelos objetos técnicos de que dispõe, mas principalmente por um “coração” afinado com a ambiência tecnológica. Como toda aprendizagem começa a partir da ambiência (família, meio natural etc.), o diálogo educacional incluirá necessariamente os pressupostos tecnológicos do modo de existência.
O que falta para as escolas e as famílias serem capazes de educar para o sensível e para a diversidade? Qual é a importância da aproximação com o outro e do reconhecimento da diferença na formação de cidadãos plenos?
A separação (platônica) entre paideia (a cultura do logos) e paidia (jogo, a cultura do sensível) marca ainda hoje profundamente a educação ocidental. Mas é a própria tecnologia que põe em questão a pretensa superioridade lógica dos signos, das palavras (a ideia de cultura como o sério ou o sisudo), expondo a parte importante do sensível nas elaborações culturais. O conceito de cultura ecológica preconiza o dar-se as mãos às diferenças.
O senhor costuma falar que a escolarização precisa se desprender da ideia de escola. Como fazer com o que é aprendido fora da escola também seja valorizado e convidado a entrar na sala de aula?
Eu falo de desprendimento físico, de escola entendida como centro imóvel de transmissão de conhecimento e formação humana. Escola é, na verdade, uma forma moderna (assim como a democracia e o mercado são formas) da socialização do saber. Essa forma não deveria ser monológica, nem monocultural, e sim o processo de incorporação e diálogo com todos os saberes circulantes num grupo humano qualquer. Seria essa a ecologia dos saberes.
Em suas falas, o senhor fala da necessidade da transformação de currículos e conteúdos. Quais são os conteúdos que precisam ser considerados e/ou valorizados no currículo brasileiro?
Os currículos escolares são geralmente absurdos: um sem-fim de matérias que o estudante esquece tão logo ultrapassa as barreiras de acesso ao ensino superior. Todo esse absurdo destina-se a preparar o jovem para a competição do teste. O conhecimento acaba definindo-se pela capacidade de passar no teste. Aí não se avalia realmente o saber, mas a competitividade do indivíduo, como se estivesse no mercado.
(Publicado originalmente na revista Fórum)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Tjolaço do Jolugue: A Nova Política e o achincalhe da esfera pública em Pernambuco.




A formação da chapa governista que deverá disputar o Governo do Estado em 2014 está promovendo alguns arranjos políticos curiosos. Curiosos, inusitados e reveladores. Sobretudo reveladores, como afirma o cientista político Michel Zaidan, em artigo reproduzido em nosso blog. Durante a sobremesa do "cozido", servido ao staff governista por Jarbas Vasconcelos, ficou praticamente acertado que ele seria o candidato ao senado em 2014 na chapa palaciana. Essa seria a grande prioridade do PMDB pernambucano, um mantra repetido exaustivamente pelos seus filiados mais ilustres, inclusive o pupilo Raul Henry. Num aspecto, Jarbas não pode se queixar de Eduardo Campos: a cada dia ele radicaliza seu discurso anti-petista. Noutros aspectos, entretanto, é bem possível que ele já não esteja mais disposto a ir ao Mercado da Encruzilhada, pessoalmente, para comprar os ingredientes com os quais prepara as conhecidas iguarias gastronômicas regionais e convidar o governador para sentar-se à mesa, numa manhã de domingo, para saboreá-las. O pirão parece ter azedado, embora as aparências sejam mantidas. Jarbas desistiu de disputar a renovação do seu mandato de senador peemedebista. A possível confirmação do nome de Raul Henry como vice deve-se muito mais à própria ascendência que ele goza junto ao governador Eduardo Campos, que o considera um quadro bem-preparado e de perfil afinado com a máquina estadual. O dedo do azedume, agora compreende-se, pode ter sido a formalização da entrada dos tucanos na coalizão governista estadual. Não se pode dizer que Jarbas tenha alguma aresta com os tucanos, mas, a entrada deles na aliança governista suscitou, de repente, o "assanhamento" em torno da composição da chapa. Grãos-tucanos locais passaram a argumentar a necessidade de compor a chapa, uma hipótese plausível, se considerarmos a consolidação da aliança PSB/PSDB no plano nacional. Como afirma Michel, o conjunto de forças políticas que compuseram o suporte necessário para as vitórias de Jarbas Vasconcelos no Estado estão exauridas. Político experiente, segundo dizem bom cozinheiro,  ele percebeu que os ingredientes postos iriam entornar o caldo. A convivência com um tucano de bico fino local também deve ter pesado em sua decisão, embora esses dilemas pessoais parecem ter sidos superados em nome da "Nova Política" cantada em versos e prosas pelos palacianos. Não fosse assim e o nome de Raul Jungmann não estava sendo especulado como possível candidato a senador pelas hostes governistas. Até recentemente, o vereador pós-socialista era o mais combativo opositor dos governos socialistas no plano municipal e estadual. Mesmo quando o PPS aproximou-se do PSB, ainda assim, ele reafirmou sua condição de oposicionista, segundo ele, em nome da coerência com os eleitores que o elegeram. Assim como o jornalista Sebastião Nery traçou um perfil político muito preocupante sobre a trajetória do presidente do PPS, Roberto Freire, Michel esmiuça o perfil laranja e oportunista do vereador pernambucano. Uma lástima o que está se tornando a política pernambucana com o tolhimento das vozes rigorosamente oposicionistas, cerceamento de intelectuais, perseguição aos movimentos sociais, "toque de recolher" aos maracatus  e a cooptação sistemática de políticos que se prestam a esses serviços, absurdamente servis aos governantes de turno. Um Estado com tantas referências políticas importantes submeter a Política a esses expedientes nefastos, reduzida a um simples jogo de interesses personalistas, num achincalhe inequívoco da esfera pública. Métodos e procedimentos atrasadíssimos, travestidos de "Nova Política".

A cultura política do Bombril, artigo de Michel Zaidan Filho


Fui surpreendido, ontem, por um pedido de entrevista de um dos veículos do sistema JC de comunicação: a repórter queria uma avaliação sobre a decisão do senador e ex-governador do estado, filiado ao PMDB, de não mais concorrer à reeleição ao senado e sua indicação do nome de oposicionista Raul Jungmann (PPS) para integrar a chapa majoritária do PSB ao governo do estado de Pernambuco! Surpresa? - Nem tanto. 

Mas se um marciano pousasse em Pernambuco e tentasse entender a política brasileira, teria com certeza muita dificuldade. Como é possível que um político que foi, em passado recente, um duro crítico da família do atual governador indique um oposicionista de carteirinha para ser candidato à vice-governador na chapa do principal alvo de críticas, durante todos esses anos?

Pois é. Aí, nós temos de dar razão ao ex-governador (DEM) Gustavo Krause, que uma vez disse que a política entre nós é como bombril, serve para tudo, tem mil-e-uma utilidades, inclusive de a um inveterado crítico ser ao mesmo tempo parceiro político do criticado, sem muitas explicações. Mas há outras explicações que iluminam esse caso:

1) a trajetória política do próprio Jungmann. Este cidadão é um personagem a procura de um autor, que o leve a sério. Já foi arraesista, na época que tinha um aparelho instalado no edifício São Carlos, chamado "Avança Recife", tido como linha auxiliar do governo do PSB. Depois, entrou no Partido Comunista Brasileiro, compondo a ala mais radical do partido. Finalmente, tornou-se "um quadro a disposição" do PSDB, quando tornou-se assessor dos governadores cearenses do PSDB.

Foi parar no ministério do planejamento, no IBAMA e, finalmente, no Ministério da Reforma Agrária. Quando saiu do governo de FHC, continuou "à disposição" do PSDB: procurou filiar-se ao PMDB para combater a candidatura de Itamar Franco, não o aceitaram. Procurou o próprio PSDB, mas também não obteve guarida por lá. Veio cair no PPS de Roberto Freire. 

Conclusão: um quadro-laranja, ora à disposição do PSDB nacional, ora à disposição do PMDB local, comandado personalisticamente pelo ex-governador de Pernambuco. A sua indicação por este político para compor a chapa majoritária às eleições do estado se elucida pelo efeito Bombril e pela sua inesgotável servidão ao efeito laranja, no caso específico, laranja do PMDB jarbista (anti-lulista), de oposição.

2) Mas a repórter também quis saber as razões da desistência do ex-governador em se recandidatar para concorrer a mais um mandato pelo Senado Federal. Essa resposta é mais fácil: a coligação que o elegeu governador e senador por Pernambuco, acabou-se, desfêz-se como uma bolha de sabão.

O risco de mais uma derrota no currículo vitorioso do senador é muito grande. No ambiente de absoluta e total cooptação e aliciamento dos partidos "bombril" e "laranja", ser oposição é tarefa muito difícil, senão inglória. Só permanece como oposição, quem não tem como aderir à situação. Com as honrosas exceções de praxe: os partidos ideológicos, da esquerda, que não são partidos de mera competição eleitoral cujo fim é a vitória, a qualquer preço.

3) O anti-lulismo é a única coisa que une esses partidos e políticos. Todos querem a mesma coisa, mas vão deixar a briga pelo botim, para depois da sonhada derrota de Dilma Rousseff.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Tá com pena? Adote um bandido

Há um tempo atrás se falava de bandidos
Há um tempo atrás se falava em solução
Há um tempo atrás se falava em progresso
Há um tempo atrás que eu via televisão
(Chico Science)
O cantor pernambucano Chico Science foi lembrado nesta semana por completar, no dia 2, 17 anos da sua trágica morte. Seus versos continuam tão atuais quanto quando os compôs. No entanto, nesta semana parece ter sido incrementado por uma nova figura do conservadorismo midiático brasileiro, figura que quase chega (ou já chegou, mesmo) a uma determinada ideologia que rondou a Europa em meados do século passado, e sempre visitou o nosso país.
A queridinha Rachel Sheherazade, “jornalista” do SBT, foi às telas nesta semana comentar sobre o ocorrido no bairro do Flamengo, quando um grupo de agressores denominados de “justiceiros”,prenderam um adolescente nu a um poste, depois de espancá-lo e cortarem uma de suas orelhas.
rachel sheherazade adote um bandido
Rachel Sheherazade (Reprodução / Youtube)
Seria só mais uma aparição televisiva com discurso ultra-reacionário, o qual já nos acostumamos a ouvir em rede nacional. Mas desta vez, a “jornalista” incitou explicitamente a violência, quando alegou que “a atitude dos “vingadores” é até compreensível [...] O quê que resta ao cidadão de bem que ainda por cima foi desarmado? Se defender, é claro! O contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva”. Ou seja, para os que se autodenominam “cidadãos de bem” é legítimo o uso da violência, julgado e executado por eles mesmos. São, todos estes, juízes divinos, talvez.
Para completar o discurso que sempre é lançado pela turma dos “direitos humanos para os humanos direitos” (ou de direita, mesmo) foi repetido: “E aos defensores dos direitos humanos que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido”.
Ela ainda se revolta por estar falando de um país que tem 80% dos casos de homicídios arquivados. Mas suspeito que a “jornalista” não se importe muito com estas vítimas, já que a maior incidência destas é em negros e pobres (como já tratei em artigo anterior desta coluna, intitulado de “Sobre negros, violência e salários”). Por que ela se importaria com mais um “marginalzinho” (termo utilizado em seu discurso)?
Mas na era da Internet nada se passa despercebido. Já ronda no YouTube um vídeo chamado “Justin Bieber x Marginalzinho do Poste”, o qual podemos suspeitar que a tal revolta da nossa querida “jornalista” é bastante seletiva. Enquanto que para o Justin Bieber, depois de cuspir em fã, pichar muro, agredir motorista, dentre outras coisas, a conclusão é: “os médicos dizem que é normal, é a síndrome da adolescência [...] peguem leve com o Justin, ele está só crescendo”, para o adolescente da periferia, o qual ela não sabe de nada, o açoite e o tronco são apenas formas dos homens de bem fazerem justiça.
Mas é isto, Rachel. O mundo anda muito intolerante, não pode nem defender mutilações, açoites e enforcamentos, que a esquerdalha começa a emitir sua opinião retrógrada, a qual já deveria ter sido afundada, junto ao muro de Berlim. Concordo com você, quem quer defender bandido que os adote, começando pelo grupo de homicidas que você denominou de “vingadores”.
*Eric Gil é economista do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político
(Publicado originalmente no site Pragmatismo Político)


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Tijolaço do Jolugue: Eduardo Coutinho, cabra marcado para viver


Tomamos conhecimento da morte do cineasta Eduardo Coutinho ainda na Paraíba. Afirmo, como muita tristeza, que Coutinho era uma figura carimbada de nossos debates nas aulas de Sociologia. Era o maior documentarista brasileiro da atualidade. Tive a oportunidade de ministrar essa disciplina numa faculdade situada numa região muito importante para a realização do documentário Cabra Marcado para Morrer: Vitória de Santo Antão, Zona da Mata Centro do Estado. Naquele cidade, sobrevive até hoje alguns remanescentes das Ligas Camponesas, que teve sua origem no Engenho Galiléia. Produzido na primeira metade da década de 60, o documentário de Coutinho foi interrompido durante o Golpe Militar de 64, o que contribuiu para elevar significativamente a importância dessa cidade do interior do Estado nos planos do cineasta. Na realidade o documentário, em essência, retoma a trajetória do líder componês José Pedro Teixeira, natural de Sapé, na Paraíba, brutalmente assassinado por pessoas ligadas aos interesses dos grandes latifúndios daquele Estado. Até então, as referências às Ligas Camponesas em Pernambuco diziam respeito, sobretudo, à organização sindical no campo, embora José Pedro tenha passado por Pernambuco, inclusive trabalhado no Engenho Massangana, hoje um dos equipamentos da Fundação Joaquim Nabuco. Como em Vitória de Santo Antão a organização sindical preocupava os militares - sobretudo em razão da suposta possibilidade de fomento de uma insurreição camponesa - a cidade assumiu uma importância estratégica para os militares, o que a reposicionou no contexto do documentário de Eduardo Coutinho, quando de sua retomada, 17 anos depois. Uma das cópias do documentário teria sido encontrada pelos militares na cidade, suscitando uma polêmica ainda maior. Nas sessões de tortura contra os camponeses, segundo relato, alguns desses torturadores insistiam que os camponeses revelassem os "cabras" marcados para morrer, numa avaliação profundamente equivocada, induzida pelo título do documentário. A casa de José Pedro, em Sapé(PB), por iniciativa do Governo da Paraíba, tornou-se um Memorial em homenagem às Ligas Camponesas. Para nossa satisfação, o blog vem recebendo notícias sobre as homenagens à sua esposa, ainda viva, a guerreira Elizabeth Teixeira, que passou muitos anos na clandestinidade. uma atriz importante nas tomadas do cineasta. Aliás, se pensarmos corretamente, o grande personagem de Coutinho foi o 'povo", os cabras marcados pelas injustiças sociais, pela sanha, por vezes criminosa, dos senhores da casa grande.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Tijolaço do Jolugue: Lei do batuque e recursos do Chapéu de Palha para a Odebrecht

Lei do batuque e recursos do Chapéu de Palha para a Odebrecht

Há um grande cientista social em Pernambuco que, como ele mesmo afirma, num trabalho de "evangelização" vem procurando, gradativamente, através de reflexões publicadas nos jornais e blogs de política, revelar a verdadeira face do Governo do Estado de Pernambuco. Isso, quando suas análises não são censuradas, o que ocorre com frequência. Vencidas essas etapas, ele é virulentamente atacado nos comentários dos internautas, notadamente pessoas a soldo dos governantes de turno. Fiquei tentando imaginar sua reação à leitura dos jornais do dia de hoje, que trazem duas notícias preocupantes: a primeira diz respeito à postura arbitrária e equivocada no que concerne às manifestações dos maracatus rurais, um farto típico de Estado policialesco, lembrando as nefastas medidas de décadas passadas, onde os batuques eram violentamente reprimidos. A outra questão diz respeito à possível transferência de recursos que seriam destinados ao Programa Chapéu de Palha para saldar acordos mantidos com a construtora Odebrecht, em razão da construção da Arena Pernambuco. Não preciso enfatizar aqui a importância social do programa, criado para atender aos trabalhadores rurais da palha da cana no período da entressafra. O Programa já foi a marca da sensibilidade social do Governo Arraes, um governante que sempre colocou a margem de manobra possível do Estado a favor dos mais fragilizados. O neto, definitivamente, não se espelhou no exemplo do avô. Se levarmos o debate para o plano da eficiência gerencial - tese tão propalada pela Governo - então, de acordo com alguns bons economistas, a arena tem sido um desastre. Já era previsível que o Estado iria retirar recursos das rubricas sociais para honrar os compromissos com a construtora. E ele ainda tem o desplante de afirmar que um dos seus compromissos seria trazer a "agenda das ruas" para o seu programa de governo como candidato presidencial em 2014.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Tijolaço do Jolugue: O prazo de 15 dias será prorrogado, Tereza?


Já houve um período em que o PT pernambucano foi bem mais resoluto em suas decisões. Na década de 80, por exemplo, expulsou de suas fileiras o então candidato a deputado Arthur Lima Cavalcanti, acusado de abuso do poder econômico. No plano nacional, então, coerente com a sua característica de centralização, afastou sumariamente integrantes que contrariaram as posições do partido no que concerne à Constituição de 1988, hoje, admitida por alguns caciques como uma posição equivocada. Em seu processo de institucionalização, tendências radicais como a Convergência Socialista foram convidadas a deixar o partido. Hoje esse grupo se encontra no PSTU. No Estado da Paraíba - onde o partido vive uma situação muito semelhante à nossa - os processos de expulsão já foram iniciados. Quem desejar continuar no Governo de Ricardo Coutinho (PSB) terá que desligar-se da agremiação. Aqui em Pernambuco, no entanto, permanece o imbróglio. Protagonista do rumo da política pernambucana até recentemente, o partido tornou-se apenas uma peça na engrenagem do projeto político do governador Eduardo Campos, atuando num vácuo político perigoso, onde não moveu uma palha para se desvencilhar. Aceitou as migalhas, traduzidas nos DAS, nas benesses e outros penduricalhos inerentes ao poder. Não recusa um convite para as orgias gastronômicas promovidas no bairro de Dois Irmãos. Política é sobretudo diálogo, mas até isso tem um limite. A deputada Tereza Leitão precisa adotar medidas mais concretas no sentido de emparedar esse grupo que insiste em permanecer no Governo de Eduardo Campos ou na Prefeitura da Cidade do Recife. A cada dia Eduardo incorpora a condição de um adversário do projeto coletivo da agremiação, como no último encontro da aliança Rede/PSB. Do contrário, eles terão que admitir que o vermelho, assim como ocorre com o queijo do reino, é só fachada. O PT precisa retomar a sua condição de uma ator político importante no cenário pernambucano e posturas vacilantes como essa não ajudam muito.

Michel Zaidan Filho: Carnaval No-brega.



Carnaval No-brega

Em carnavais passados, a FUNDARPE - quando ainda estava sob o comando de Luciana Azevedo - resolveu promover um debate preparatório sobre a participação do Estado na promoção do carnaval do Recife. Para este evento, foram convidados vários palestrantes ora vinculados à universidade ora ao meio artístico. 

Entre estes, estava o professor Severino Vicente, que se saiu com um achado surpreendente: o carnaval do Recife era um misto de "brega" com "nobrega", ou seja, nem era só brega nem era nobre...ga. 

No carnaval seguinte, enquanto a Prefeitura entregava um cheque em branco para Lenine convidar suas musas para um show particular, Antonio Carlos Nóbrega dava uma entrevista ao caderno C do JC, afirmando a necessidade de uma transformação do carnaval, que segundo ele, estava dominado por esteriótipos e convenções tradicionais e pseudo-populares. Era preciso renovar o Carnaval.

A trajetória artística e carnavalesca de Nóbrega é emblemática do percurso que realizam vários artistas independentes, autônomos e criativos. Nóbrega abandonou a Universidade para se tornar um criador cultural inspirado em raízes eruditas, sem perder sua relação com o povo, as sugestões do imaginário e do gosto popular. Fez parte do quinteto armorial, criado pelo escritor "pernambucano" Ariano Suassuna, e depois seguiu carreira solo. 

Uma certa vez, o encontrei no Rio de Janeiro aprendendo a dançar capoeira. Estudioso e sério como era, tornou-se um artista singular no ambiente da cultural popular de raízes, fazendo uma síntese entre o erudito e o simples. Ficou famoso através de seus espetáculos, a ponto de A Folha de São Paulo lhe dedicar muitas reportagens na Folha Ilustrada. Aí veio a indústria cultural e tomou conta de nosso artista.

A partir daí, Nóbrega tornou-se uma celebridade de aldeia. Virou figurinha carimbada no carnaval do Recife e nas vinhetas de Televisão alusivas ao folguedo momesco.

Deixou de ser uma referência culta na área da criação cultural-popular e tornou-se um "garoto propaganda" do carnaval do Recife, mais um esteriótipo, um "reader make", como o Carangueijo com antenas, dos mangueboys. A estrela do artista começou a ser ofuscada por outros artistas - não tão bons como ele - mas de apelo pop e consumível pela grande massa. Foi quando se fez ouvir a voz da crítica do velho Nóbrega pedindo mudanças no carnaval do Recife.

A pergunta que resta sem uma resposta clara é: será que o carnaval do "Galo da Madrugada" mudou tanto assim que o antigo artista experimental e erudito tenha aceito se tornar " a marca" do carnaval deste ano? Ou mudou o artista, com o peso da idade e do esquecimento?

PS; Lembrar que, segundo a Prefeitura do Recife, o carnaval é o seu principal produto turístico a ser vendido aos visitantes estrangeiros. E que os artistas voluntaria ou involuntariamente se vendem ou são vendidos junto com o produto e a gestão municipal que o promove.