Bastante interessante esse debate pelas redes sociais em torno da Rural do Roger. Há um sociólogo francês - que lamentavelmente esqueço o nome no momento - cuja produção acadêmica se concentra no estudo crítico das intervenções do poder público em torno da requalificação de centros históricos que, segundo ele, seguem uma "receita de bolo" em todo o mundo, ou seja, são bastante semelhante. Primeiro retira-se os moradores locais, pintam-se as fachadas de alguns prédios e colocam-se umas bandinhas para tocar por algum tempo, quase sempre através de contratações lesivas ao interesse público.Uma outra característica é o dinheiro para o financiamento desses projetos, recursos oriundos do BID. Pouco tempo depois, salvo raríssimas exceções, esses centros voltam às suas características iniciais, afastando a população do seu convívio. Torna-se, portanto, necessário identificar os reais problemas desses centros históricos e reorientar essas intervenções, consoante necessidades específicas, analisadas caso a caso. A Rua da Aurora, por exemplo, possui algumas belezas naturais, mas o poder público nunca foi capaz de propor um uso inteligente daquele espaço público pela população recifense. Trata-se de uma rua que possui um conjunto arquitetônico magnífico, margeada pelos manguezais do Rio Capibaribe. Como pano de fundo - que nesse caso não é cueca - o Palácio do Campo das Princesas. Atravessa-se uma ponte e lá estamos no Teatro de Santa Izabel. O problema é que não se consegue fazer esse percurso sem ser molestado de alguma forma, seja pela violência urbana, seja pelo "incentivo" do poder público. Apesar de belo, é um local rigorosamente abandonado, entregue aos poucos que se aventuram às suas sinuosas curvas, onde, no passado, de acordo com os poemas de Manuel Bandeira, "se ia fumar escondido". Ontem tive a oportunidade de ouvir a proposta cultural do Roger. Parece-nos bastante interessante, porque pretende reunir a galera para, livremente, levarem suas manifestações culturais para o local, sem as "amarras" normalmente impostas pela esfera pública, que resolveu coibir o evento. Uma pena.
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