pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Editorial: Lula não tem um prefeito para chamar de "seu".



Há, no meio político, quase que uma absoluta certeza de que o morubixaba petista tentará uma reeleição em 2026. Hoje as circunstâncias não são favoráveis, mas as forças do campo dito progressista não possuem outra opção, até mesmo por capricho do líder petista, que não estimulou a formação de nomes que pudessem sucedê-lo. Dentre os principais postulantes ao Palácio do Planalto nas eleições de 2026 - podemos aqui tratá-los de pré-candidatos, obviamente - Lula foi o único que não conseguiu fazer um prefeito para chamar de "seu", que seria Guilherme Boulos, em quem apostou todo o seu capital político. Ronaldo Caiado(UB-GO) fez de Sandro Mabel prefeito de Goiânia; Tarcísio de Freitas(PP-SP) fez de Nunes o prefeito de São Paulo; Ratinho Junior(PSD-PR) fez de Eduardo Pimentel prefeito de Curitiba. 

O ex-presidente Jair Bolsonaro(PL) também não esteve bem, mas, a rigor, ainda se encontra inelegível e arrestado com o seu partido, enredado numa divisão interna. A vitória de Evandro Leitão em Fortaleza, única capital onde o PT venceu, pode perfeitamente ser creditada ao Ministro da Educação, Camilo Santana. Em Belém, aí sim, travou-se uma batalha renhida entre bolsonaristas e petistas, onde o Planalto empreendeu todos os esforços para que a cidade não caísse nas mãos do famoso delegado Eder Mauro, bolsonarista roxo.  Lula participou das festividades do Círio de Nazaré, assim como o prefeito do Recife, João Campos, em seu processo de nacionalização, também esteve por aquelas bandas. Valeu o esforço. Igor Normando, foi eleito com o apoio do clã Barbalho. Mas Belém está longe de ser comparada a São Paulo. O Planalto acusará essa refrega na capital paulista. 

Ficamos por aqui imaginando o que se passou pela cabeça do candidato Guilherme Boulos nesta reta final de campanha do segundo turno. Ocorreu, por parte do candidato, um esforço incomensurável para reverter a situação, francamente desfavorável. Até o eleitorado do empresário Pablo Marçal ele tentou conquistar, incorporando um vocabulário novo no dicionário petista: empreendedorismo. Não haveria hipótese de o eleitor de Marçal migrar para o voto em Boulos, pelo que se constatou. 

Editorial: Raquel Lyra sai vitoriosa das eleições municipais.


Especula-se, desde algum tempo, que a governadora Raquel Lyra(PSDB-PE) poderá mudar de partido a qualquer momento. Uma das possibilidades seria ingressar no PSD, comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, partido que obteve o maior número de prefeituras nessas eleições municipais. Com o partido enfrentando dificuldades em todo o país - apesar de ter ampliado sensivelmente o número de prefeitos da legenda nessas eleições - a governadora pernambucana passou a ser um trunfo dos tucanos. Aqui ela esteve bem, ampliando o número de prefeituras tucanas no Estado, inclusive em cidades com grande proporção de eleitores, distribuídas em zonas eleitorais que são determinantes numa eleição majoritária. 

Além dos redutos eleitorais das mesorregiões do Estado, Dr. Miguel Arraes tinha uma preocupação efetiva com a Região Metropolitana do Recife, que comporta cidades estratégicas, com grandes colégios eleitorais, a exemplo de Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista. Neste segundo turno, por exemplo, travou-se uma frente de batalha pela conquista das cidades de Olinda e Paulista. A Marim dos Caetés, depois de todo o esforço de forças tradicionais da esquerda pernambucana, Mirella Almeida, do PSD, sagrou-se vitoriosa com o apoio da governadora Raquel Lyra, que se empenhou pessoalmente em sua vitória. 

Em Paulista, a despeito do franco favoritismo da candidatura de Ramos, Raquel Lyra também encharcou  a blusa, realizando carreatas com o prefeito eleito pelas ruas da cidade das Chaminés. Ramos, do PSDB, chegou a abrir uma vantagem expressiva sobre o candidato socialista, Júnior Matuto, mas, mesmo assim, a governadora não baixou a guarda. Depois de um começo difícil, as coisas vão se ajustando e a governadora está conseguindo arrumar a casa e ampliar seu capital político. Se alguém vai precisar rever seus planos para 2026, possivelmente, não será governadora tucana. Os tucanos de bico fino, que já faziam um esforço tremendo para não perder o seu passe, redobrarão os esforços para mantê-la no ninho. 

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


sábado, 26 de outubro de 2024

Editorial: A arrancada de Boulos na reta final de campanha em São Paulo.


Sempre que as forças do campo progressista conseguiram chegar ao Edifício Matarazzo, em São Paulo, isso se deu numa disputa bastante renhida, com definição nos momentos finais da contenda. Foi assim com Marta Suplicy, foi assim com Luíza Erundina. A experiência de Luíza Erundina como prefeita de São Paulo tratou-se de uma experiência emblemática, produzindo até mesmo alguns trabalhos acadêmicos, como uma dissertação de mestrado do cientista político Cláudio Gonçalves Couto, hoje professor da Fundação Getúlio Vargas. À época, Erundina foi cobrada pela militância da legenda a transformar São Paulo numa republica socialista, o que, convenhamos, não seria assim tão simples. 

Boulos, por exemplo, tratou de afugentar toda espécie de estigmas associadas à esquerda em suas falas e plataformas programática e de comunicação com o eleitor paulistano. Se submeteu até a um convite com cara de arapuca promovido pelo empresário Pablo Marçal. Uma vaselina o fez transitar, sem quaisquer constrangimentos, pelos corredores da Faria Lima. Aliás, a geografia do voto em São Paulo mostra exatamente que ele mantém algumas dificuldade principalmente junto a um eleitorado mais pobre, residente na periferia, o que demandou um grande esforço de concentração de campanha do candidato nesta reta final. 

A diferença de votos entre ele e o prefeito Ricardo Nunes já chegou a 22 pontos e hoje está reduzida a 10, segundo o Paraná Pesquisas, o que significa uma arrancada espetacular de sua campanha. Estima-se que nãos seja suficiente, porém, para ele atingir a linha de chegada em primeiro lugar. A probabilidade de o PT fazer um prefeito de capital estaria melhor em outras capitais, a exemplo de Fortaleza, onde a disputa está equilibradíssima entre Evandro Leitão e André Fernandes. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo

 


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Editorial: PT: Onde foi que eu errei? Chamem o Ricardo Antunes.



A revista Veja desta semana traz uma longa matéria de capa abordando as cartas do jogo que já está sendo jogado entre os principais atores políticos, de olho nas eleições presidenciais de 2026. A engrenagem que mói neste momento, envolve desde mudanças programáticas - com reflexos nas políticas públicas - até a luta interna pelo controle das agremiações políticas. O ex-presidente Jair Bolsonaro tem enfatizado que o candidato da direita às eleições presidenciais de 2026 é ele mesmo ou alguém do seu clã familiar, à exceção, claro, de Michelle Bolsonaro. Nos bastidores, o clã Bolsonaro trava uma batalha pelo controle da legenda do PL, onde poderia reunir melhores condições DE viabilizar tal postulação. 

A inelegibilidade, curiosamente, passou a ser tratada como um detalhe irrelevante. O PT também se movimenta, antecipando-se ao encontro de 2025, diante da necessidade de rever algumas correções de rumo desde já. Embora percebamos que aquela autocrítica necessária deveria ter outra pauta, não deixa de ser curioso o elenco de argumentos levantados pelo atual presidente nacional da legenda, apontando os pontos em que o partido precisa rever para se adequar às mudanças atuais, inclusive no mundo do trabalho. 

Como gato escaldado tem medo de água fria, as recentes falas do morubixaba petista sinalizam que essas mudanças já estão em curso desde já. Recentemente, Lula anunciou que irá liberar uma linha de crédito para os beneficiários do programa Bolsa Família abrirem um negócio próprio, o que se constitui numa revolução copernicana nas políticas públicas tradicionais da legenda. Entrincheirado em seu reduto da UNICAMP, o sociólogo Ricardo Antunes tornou-se o acadêmico brasileiro mais respeitado no que concerne às mudanças no mundo do trabalho. Embora crítico do PT desde a década de 80 - quando afirmava que o partido não era tão popular como se dizia, posto que formado por intelectuais de classe média e uma elite sindical - não custa convidá-lo para este debate da legenda. Conviver com quem pensa diferente pode ser de bom alvitre, principalmente para uma legenda que precisa realizar uma autocrítica profunda e não apontar apenas as mudança externas como o fator determinante de sua debacle. 

Editorial: O último debate.



Aguarda-se, para logo mais, na TV Globo, às 10h,  o último debate entre os postulantes às prefeituras municipais, nos pleitos que ficaram para ser definidos no segundo turno. As atenções se voltam, naturalmente, para o que ocorre na capital paulista, onde há uma disputa que antecipa a queda de braço das eleições presidenciais de 2026. De um lado, Guilherme Boulos, apoiado pelo Palácio do Planalto. Do outro, Ricardo Nunes, que conta com o apoio das forças que fazem oposição ao Governo Lula3. Contraditoriamente, estão entre essas forças um partido aquinhoado com três ministérios na Esplanada dos Ministérios, dando a dimensão da complexidade desse jogo político. 

Alguns puristas da base aliada de Lula estão sugerindo que, por ocasião da reforma ministerial que se impõe, o PT possa reavaliar esta situação. Não é tão simples. Como diria o cancioneiro, se fosse largo todo mundo cabia. Se fosse raso, ninguém se afogava. O morubixaba petista, em nome de uma temerária governabilidade, precisou entrar num arranjo nebuloso com essas forças do centro-direita do espectro político. Agora, diante do fortalecimento dessas forças  nessas eleições municipais, qual seria a sua margem de manobra?  Possivelmente ainda mais reduzidas. 

Lula investiu todo o seu capital político nas eleições em São Paulo. O PT investiu o capital financeiro que foi possível para eleger Guilherme Boulos prefeito de São Paulo. Se há alguma coisa sobre a qual o psolista não pode se queixar é da falta de apoio financeiro. Pela última pesquisa do Instituto Datafolha, ainda há 14 pontos de diferença entre ele e o prefeito Ricardo Nunes,  que concorre à reeleição. Conforme observa o jornalista Josias de Souza, Boulos teria que escalar um Everest até o próximo domingo. Lula tem evitado as aparições em público junto ao candidato nesta reta final de campanha. E o motivo não seria o recente acidente doméstico de que foi vítima, conforme especulam órgãos da grande imprensa. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Editorial: Onde o PT errou em São Paulo?



Estávamos ouvindo recentemente algumas considerações do  diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, onde ele faz algumas ponderações sobre o segundo turno dessas eleições municipais, considerando a hipótese de o PT não levar nenhuma das capitais onde disputa o segundo turno. Outra questão, esta bem anterior, ainda no primeiro turno, o CEO do Instituto - se não ele um pesquisador do órgãos, pois não temos certeza absoluta - apontava uma eventualidade de o PT ter cometido seu primeiro erro na eleição de São Paulo ao escolher Marta Suplicy como vice de Guilherme Boulos. 

À época, o morubixaba petista, Luiz Inácio Lula da Silva, fez gestões pessoais para, literalmente, arrancar a filha pródiga da influência de Ricardo Nunes - onde ocupava a Secretaria de Relações Internacionais - e trazê-la de volta ao PT. Sugeriu-se que, além de agregar à chapa uma expertise administrativa que faltava ao psolista, Marta Suplicy poderia angariar a simpatia do eleitorado empobrecido e periférico da metrópole, algo que não ocorreu como se supunha, se considerarmos a elitização do eleitorado que se identifica com a candidatura de Guilherme Boulos. O PT corre um sério risco de sofrer mais uma de suas refregas nas disputa de capitais. 

O argumento do representante do Paraná Pesquisas é que o PT poderia ter negociado com outras forças - inclusive da Faria Lima - a indicação de um vice na chapa de Boulos. Ficamos aqui imaginando, no contexto dessas novas acomodações movidas por essa nova correlação de forças, o que o PT prometeu a Marta Suplicy à época. Mais ainda: Numa eventual derrota, como a filha pródiga será acomodada no Planalto. 

Editorial: O PT já se prepara para a "ressaca" das eleições municipais de 2024.


Ressaca é uma coisa complicada. Exige muita água de coco, descanso e alguns cuidados suplementares para a sua recuperação. Um sal de Andrews, de vez em quando, também pode ajudar. A ressaca política, então, além de um balanço para se entender onde foram cometidos erros que possam ter afugentado o eleitorado, impõe as "acomodações de poder", oriundo da nova correlação de forças que entra no jogo. A minirreforma que está sendo preparada na cozinha do Palácio do Planalto, de certo, tenta se antecipar a essas mudanças, onde o PT sofreu uma de suas refregas mais significativas. 

Neste sentido, o encontro que a legenda pretende realizar em breve, possivelmente, será o momento de lavar as roupas sujas em casa, conforme recomenda o bom costume daqueles que preferem que seus defeitos não sejam expostos. Um campo minado, um ambiente repleto de escaramuças será o que o Planalto encontrará pela frente. Mais do que antes, terá que engolir muitos sapos, administrar, inclusive, os blefes, os acordos pontuais, nada que se possa assegurar confianças efetivas consoantes os acordos para 2026, quando esses partidos, depois da capilaridade conquistada nessas eleições municipais, almejam, naturalmente, terem seus próprios postulantes ao Palácio do Planalto. 

Se tomarmos apenas como o exemplo o PSD, de Gilberto Kassab, um dos vencedores dessas eleições, o acordo que vale para Belo Horizonte, não é o mesmo que se aplica para a sucessão na Câmara dos Deputados e, muito menos para as eleições presidenciais de 2026, quando o "bruxo" já trabalha o nome do governador Tarcísio de Freitas para o pleito. O mesmo raciocínio se aplica ao União Brasil, outro grêmio partidário que sai fortalecido dessas eleições e já vislumbra horizontes promissores para 2026, estimulando as pretensões do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que recentemente trocou umas rusgas com o governador petista da Bahia, Jerônimo Rodrigues, envolvendo a questão da segurança pública.  

Charge! Thiago via Jornal do Commércio.

 


Charge! Laerte via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Editorial: Assédio moral no Serviço Público Federal.



Até recentemente, antes mesmo do anúncio de uma nova minirreforma ministerial no Governo Lula3, circulou a notícia de que a Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, poderia deixar o cargo e vir a ser substituída pela senadora pernambucana, Teresa Leitão. A princípio, os arranjos indicavam que a manobra estava sendo urdida no sentido de  favorecer Sílvio Costa, pai o Ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho. Sílvio Costa é suplente de Teresa Leitão e bastante prestigiado pela cúpula petista. Não se sabe se era bem o que pretendia a senadora, mas estamos tratando aqui de uma mulher de partido, vocacionado a assumir missões.  

Ontem, dia 22, no entanto, surgiram maiores informações, amplamente divulgadas pela imprensa, sobre os reais motivos de um eventual afastamento da ministra, em cujo ministério que dirige pululam denúncias de assédio moral. Depois dos episódios registrados e sob investigações no Ministério da Justiça, foi comunicado que a Ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, estaria envolvida na elaboração de diretrizes sobre como se conduzir consoante tal abordagem desses problemas na máquina pública federal.  É urgente que medidas sejam adotadas, fortalecidas as instâncias que estejam diretamente relacionadas a este problema, como as comissões de ética públicas, corregedorias internas, ouvidorias e congêneres. 

Nos últimos anos, as práticas de assédio moral dentro das repartições públicas brasileiras se tornaram banalizadas. Sob a égide do bolsonarismo, em princípio, esses fatos se tornaram mais recorrentes em instituições que exerciam atividades ou políticas públicas que não se coadunavam com as diretrizes, vinculadas ao ideário da ultradireita, encampado pelo bolsonarismo: Direitos de minorias, meio ambiente, polícias federais, órgãos de segurança do Aparelho de Estado, entre outras. O mais surpreendente, como as evidências estão demonstrando, é que, por algum motivo, o governo Lula3 não conseguiu estancar essa sangria moral. 

Um fato emblemático é que denúncias existem sobre assédios morais e sexuais dentro de um órgão como o Ministério dos Direitos Humanos. A senhora Dweck terá muito trabalho pela frente. A engrenagem que alimenta essas práticas dentro das instituições públicas é algo complexo, mas não menos, pernicioso, exigindo sua extirpação radical. Nos últimos anos, consoante este momento político delicado que o país atravessa, essas práticas abjetas assumiram alguns contornos surpreendentes e preocupantes, alicerçadas naquilo que tratamos como a terceirização do assédio, quando hordas de terceirizados são manipulados para disseminarem narrativas sobre determinados indivíduos, mediante  manipulação de servidores efetivos.  

As condenações e execrações públicas - uma vez que presunção de inocência, amplo direito de defesa e julgamentos atendendo ao devido processo legal foram ignorados já faz algum tempo - ocorrem nas copas, nas cantinas, nos corredores, nos ambientes de convivência, sob a complacência das chefias e servidores graduados que tinham, até por um dever de humanitário, antes de um dever de ofício,  impedir tais achincalhes. A isso, em nossa época de infância, dava-se o nome de "maloqueiragem", no seu sentido mais genuíno. Nestas últimas denúncias de supostos assédios, existem até casos de assédios raciais, uma vez que a iniciativa de expor o problema partiu de uma Ong que defende vítimas desses abusos. 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Editorial: As "quedas" de Lula.


Ainda há inúmeras especulações acerca de um acidente ocorrido recentemente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde ocorreu uma queda, quando ele tomava banho, acarretando um corte na cabeça e posterior sangramento. O presidente precisou cancelar uma viagem ao exterior, por recomendação dos médicos que o atenderam. Ao que se sabe, tudo transcorre com naturalidade, os procedimentos atinentes foram adotados e o morubixaba passa bem. Surgiram, desde então, inúmeras especulações em torno do assunto, como um possível banco utilizado pelo presidente para tomar banho, quando ele esbanja saúde, aparece em público sem qualquer dificuldade de locomoção, inclusive fazendo musculação para fortalecer os músculos das pernas, que são determinantes para a saúde física e mental. A princípio, esta queda já foi superada. 

Há, no entanto, outras torcidas por quedas com as quais o presidente precisa se preocupar. Parlamentar da oposição entrou com mais um pedido de impeachment do presidente, movido por um raciocínio muito parecido com o que ocorreu com a ex-presidente Dilma Rousseff, ou seja, as famosas pedaladas. O parlamentar acusa o presidente de ter realizado despesas fora do orçamento previamente apreciado pelo Legislativo, ao conceder dispêndio de recursos para o Programa Pé de Meia, aquela que beneficia alunos e alunas do ensino médio, com o propósito de mantê-los na rede e evitar o abandono. 

Já perdemos a conta por aqui sobre quantos pedidos de impeachment de Lula já foram protocolados pela oposição, principalmente a oposição bolsonarista, aquela quer torce pelo quanto pior melhor. As forças do campo progressistas enfrentam um momento muito difícil. A direita e a extrema-direita saem fortalecidas desta última eleição municipal, avançam no controle do parlamento, são hegemônicos nas redes sociais e possuem um batalhão de evangélicos para disseminarem suas teses junto à periferia empobrecida. Mantidas tais condições, é apenas uma questão de tempo para eles retomarem a bastilha do Palácio do Planalto. 

Editorial: Os "gargalos" do PT.



Participamos de alguns encontros formais do PT, na condição de pesquisador. Dava gosto observar a dinâmica do exercício da democracia interna da legenda, traduzida no equilíbrio de forças representado pelas suas inúmeras correntes. Um viço que o partido foi perdendo ao longo do tempo, imposto pelo processo de oligarquização, inevitável, segundo a teoria do sociólogo alemão Robert Michels. O partido se prepara para mais um desses encontros nacionais, onde deverá ser definido o nome que comandará a legenda pelos próximos anos. A atual Presidente Nacional do Partido, Gleisi Hoffmann, sugere-se, poderá vir a ocupar uma vaga de ministra na Esplanada dos Ministérios. 

Alguns nomes já estão postos, mas, hoje, aquele com maiores probabilidades de ocupar a vaga deixada por Gleisi Hoffmann é o de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, cidade da regão central de São Paulo, que esteve sob o comando da legenda durante um bom tempo, em razão de apoio da ala hegemônica, comandada pelos principais caciques do partido. É assim depois de algum tempo. Possivelmente as alas mais orgânicas do PT, que ainda resistem, não teriam sequer um nome para representá-las. Ontem, ausente aqui do blog em razão de uma crise braba de sinusite, andamos refletindo sobre os principais gargalos enfrentados pelo PT em razão da conjuntura política mundial e, em particular, a brasileira. 

A partir de hoje vamos discuti-los por aqui. Um deles, sem alguma ordem de importância,  é este processo crescente de oligarquização\burocratização, onde as principais lideranças da legenda acabam impondo suas decisões, naquilo que no passada chamávamos de centralização democrática. Nesta última eleição municipal, por exemplo, um grupo de trabalho eleitoral criado pelo partido acabou infligindo intervenções em processos locais determinados pela dinâmica de seus diretórios, como a escolha do candidato através de prévias, como se previa em João Pessoa. Deu no que deu. Antes de qualquer coisa, o partido precisa realizar um amplo processo de autocrítica, dessas que sejam suficientes para conter a autofagia. 

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


sábado, 19 de outubro de 2024

Editorial: Por que o próximo presidente do PT precisa ser um nordestino?




Acompanho, sem entender muito bem, a polêmica sobre a sucessão no Partido dos Trabalhadores, mais precisamente no que concerne à tese, defendida por um dos grupos, de que o novo presidente da legenda deve ser um nordestino. Seria algum simbolismo, por entender que o Nordeste continua, apesar das últimas refregas, o reduto eleitoral principal do partido? Este simbolismo ajudaria no processo de soerguer a legenda, combalida estruturalmente e organicamente nos últimos anos, perdendo capilaridade, inclusive, junto aos pobres da periferia por todo o país e não apenas na região? O que, afinal, existiria de alguma dificuldade da legenda que um presidente da região pudesse contornar? Impedir a erosão de sua base de sustentação política mais sólida? 

O partido, na realidade, independentemente da geografia do postulante, precisa fazer uma autocrítica urgente e encontrar um timoneiro que devolva à legenda o protagonismo de tempos atrás, num contexto completamente diverso, o que envolve o crescimento expressivo dos grupos de extrema direita, alicerçados por expedientes onde o partido ainda patina, como as redes sociais. Divorciados da legenda, os grupos evangélicos realizam. com brilhantismo, o ofício de consolidar uma narrativa convergente com esses grupos e interesses da ultradireita. Eles jogaram a isca do "debate" sobre identitarismo e o PT mordeu-a. 

Com que argumentos, por exemplo, o Ministro da Educação, Camilo Santana, vai explicar o que ocorreu recentemente na Universidade Federal do Maranhão, onde uma cantora travesti mostrou as carnes durante um debate público. Tente convencer um evangélico raiz que se tratou de respeito à liberdade de expressão e que a dita cujo não será condenado às labaredas do inferno. Assim como quem defende tal atitude. A oposição bolsonarista está deitando e rolando sobre este assunto. Já existe uma moção de repúdio e a convocação do ministro está confirmada pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado federal Nikolas Ferreira. 

Editorial: Em breve, numa eleição presidencial perto de você.



A revista Veja desta semana traz uma matéria sobre um fenômeno político de direita que atende pelo nome de Nikolas Ferreira, um jovem de 28 anos, que objetiva transformar Belo Horizonte num reduto direitista inexpugnável. Mas, a rigor, suas ambições políticas se estendem para muito além da fronteira das Alterosas, onde começou a alicerçar sua carreira. Nessa última eleição municipal, Nikolas Ferreira se transformou no maior cabo eleitoral do PL, partido que disponibilizou um jatinho para o parlamentar se deslocar por todo o país, apoiando nomes da legenda para as prefeituras municipais. 

As demandas por seu apoio foram enormes e, a rigor, consumiu todas as suas energias, seja nos deslocamentos pelo país afora, seja na gravação de centenas de vídeos em apoio a nomes ligados à legenda. Em Belo Horizonte, seu ex-chefe de gabinete, Pablo Almeida, foi eleito o vereador mais votado do país, com 40.000 mil votos. Nikolas entrou de sola na campanha de Bruno Engler, que disputa a prefeita de Belo Horizonte pelo PL. Pelas últimas pesquisas, Engler aparece atrás de Fuad Noman(PSD), mas o páreo não está definido. Todas as tribos do campo progressista se uniram em torno de Fuad. Trava-se uma batalha campal na capital dos mineiros.  

Seu eixo de atuação está focado nas redes sociais, nas lacrações públicas, onde é praticamente imbatível. Nikolas já atua dessa forma há algum tempo, logo depois que se tornou o deputado mais votado do país, com um milhão e meio de votos. Enfrentado um momento difícil, onde a fragilidade em alguns pontos são visíveis - as redes sociais é um deles - as forças do campo progressista tentam se arregimentar para as novas batalhas que terá pela frente. Um dos nomes que surgem no horizonte como expoente desse projeto é o do prefeito reeleito de Recife, João Campos, sufragado ainda no primeiro turno com 78% dos votos do eleitor recifense. 

João é jovem, perfil de bom gesto, tocador de obras, tem penetração nas redes sociais e grandes ambições políticas. Acreditamos, no entanto, que não seja o momento ideal, conforme já enfatizamos, mas os caciques socialistas resolveram nacionalizar o seu nome, incumbindo-o de participar em apoio a várias candidaturas de esquerda, principalmente no Nordeste, como a de Evandro Leitão, em Fortaleza, e Natália Bonavides, em Natal. Ninguém tem dúvida de que João pretende seguir à risca, o mesmo projeto do seu pai, o ex-governador Eduardo Campos. Mas, como lição deixada pelo próprio pai, uma coisa de cada vez. 

Charge! Marília Marz via Folha de São Paulo.

 


sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Editorial: Nunes será reeleito com apagão e tudo.

 


O sofrimento infligido ao eleitorado paulista durante o último apagão - estima-se que milhares de pessoas ainda estejam sem energia elétrica - é de uma dimensão calculável: não será suficiente para reverter o voto do eleitor que já havia decidido votar pela reeleição do prefeito Ricardo Nunes. Na última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia de ontem, 17, Nunes até acusa o tranco, mas nada o suficiente para abalar seu favoritismo neste segundo turno. Nesta pesquisa, Nunes aparece com 51% das intenções de voto, enquanto o psolista Guilherme Boulos pontua com 33%. Nunes abre, portanto, uma diferença de 18% pontos. 

O prefeito vai gerenciando como pode esse índices favoráveis. Deixou de comparecer ao debate organizado pela Rede TV, onde optou-se por uma entrevista com o candidato Guilherme Boulos. Pelo que se informa, Lula pretende reforçar a campanha do amigo nesta reta final, onde estão previstos dois encontros até o dia 27 \10. As projeções já indicavam que Nunes venceria qualquer que fosse o adversário do segundo turno. Arrisco a dizer que o empresário Pablo Marçal, por beber na mesma fonte, daria mais trabalho. Este negócio de "fonte" é até um pouco complicado, uma vez que o maior gargalo de Boulos é exatamente junto ao eleitorado periférico de baixa renda.

Pelo andar da carruagem política, Nunes será reconduzido ao Edifício Matarazzo, constituindo-se em mais um trunfo das hostes conservadoras, com o objetivo de credenciar-se para o embate de 2026. Nos escaninhos da política comenta-se que um dos objetivos dessa minirreforma ministerial que está sendo programada pelo Palácio do Planalto visa, entre outros aspectos, adaptar-se à nova correlação de forças que surge dessas eleições municipais, onde a oposição, mais uma vez, como já era previsto, sai mais uma vez fortalecida.   

Editorial: Operação Livre Arbítrio da Polícia Federal em João Pessoa.



São recorrentes as operações de órgãos como Ministério Público, Polícia Federal e GAECO - Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado - no estado da Paraíba. Não temos estatísticas sobre o assunto, mas não nos surpreenderia se o estado ocupasse uma posição privilegiada no contexto da atuação PF em âmbito nacional. Somente no tocante ao expediente de aliciamento ou coação violenta pelo voto, três dessas operações foram realizadas naquele estado, culminando com a prisão de funcionários graduados, com atuação na  máquina pública municipal e, agora, no Poder Legislativo da capital João Pessoa. No dia de hoje, 18, a Polícia Federal desencadeou a Operação Livre Arbítrio, cumprindo 07 mandados de buscas e apreensões, que culminou com o afastamento do cargo do presidente da Câmara de Vereadores de João Pessoa, Dinho Dowsley, do PSD, que deverá usar tornozeleira eletrônica. 

O problema da coação do voto não ocorre apenas na capital. Em diversas cidades do interior o problema foi verificado nessas eleições, o que dimensiona a gravidade do que estamos tratando por aqui, algo também observado pela Organização dos Estados Americanos, que esteve acompanhando as eleições no país. Haveria, segundo apura a PF, um conluio promíscuo entre agentes públicos com o facções do crime organizado que atuam no estado, onde os territórios são fechados nos acordos e os eleitores coagidos, por vezes violentamente, a votarem nesses candidatos ou seus prepostos, corroendo os princípios democráticos e republicanos. 

Há candidato que disputa a gestão da cidade cujos parentes estão envolvidos numa dessas operações.  O mais surpreendente é que um escândalo dessas dimensões, às vésperas de uma eleição, não é suficiente para abalar seus escores nas intenções de voto. Parece haver uma banalização dessas práticas, algo que não indigna o eleitorado. Infelizmente. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Editorial: OEA aponta possíveis ações do crime organizado nas eleições municipais.



Até recentemente, um funcionário do alto escalão do Governo da Venezuela apontou que Lula fora cooptado durante o período em que esteve preso em Curitiba, tornando-se um agente da CIA. Lula não seria mais o mesmo de antes. A declaração vem no bojo das indisposições recentes entre os dois governos, depois daquelas tumultuadas eleições presidenciais que conduziram Nicolás Maduro para mais um mandato. O governo brasileiro ainda não respondeu às declarações, posteriormente atenuadas pelo próprio Nicolás Maduro, afirmando que o servidor não falava pelo governo do país. 

A mesma afirmação foi feita em relação ao presidente do Chile, Gabriel Boric, alimentando as teorias conspiratórias pelo continente. Se, em outros tempos, era preciso tomar cuidados com as declarações públicas, hoje, então, tais cuidados precisam ser redobrados. Um dos graves problemas enfrentados pela democracia brasileira neste momento é a infiltração do crime organizado na administração pública, tendo como porta de entrada as licitações, a terceirização dos serviços ou as chamadas parcerias público\privada.  

Nas últimas eleições, alguns fatos vieram à público, dimensionando a gravidade do problema. Pelas investigações conduzidas pela Polícia Federal, servidores graduados, em cargos de chefia, estariam mancomunados com chefes de facções criminosas, em padrões de relações de caráter nada republicanas. A Organização dos Estados Americanos, OEA,  uma das entidades que acompanharam o desenrolar das últimas eleições municipais, encontrou indícios de ações do crime organizado nas eleições. O governo brasileiro ainda não se posicionou sobre o assunto. 

Editorial: Marina Silva "massacrada" em audiência na Câmara dos Deputados.

Crédito da Foto: Mário Agra, Câmara dos Deputados. 


Não poderia haver um momento mais complicado para esta audiência concedida pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante sessão ocorrida no dia de ontem na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Agrário. A ministra do Governo Lula 3 foi literalmente massacrada pelos bolsonaristas e opositores presentes à sessão. Louvável que a ministra tenha atendido ao convite, de forma republicana, mesmo diante do clima hostil que enfrentou. São os ossos do ofício. Cumpriu suas obrigações com a sociedade, na condição de servidora pública. 

O governo Lula 3 passa por um momento delicado, sobretudo em algumas áreas nevrálgicas, como a economia, o meio ambiente, a saúde e a segurança pública. Nas relações exteriores, não menos. Difícil apontar aqui uma área onde o governo vai bem. Nem a base histórica de apoio ao petismo está satisfeito. Na semana passada estourou uma crise no Ministério da Igualdade Racial, depois das críticas de entidade representativa ligada às religiões de matriz africana. Marina foi convidada a apontar as medidas adotadas pelo governo em meio ao incêndio das florestas. O mesmo problema enfrentaria Nísia Trindade, Ministra da Saúde, tendo que se explicar sobre a proliferação da epidemia da dengue, com o número de mortes se ampliando pelo país afora. Há certas coisas para as quais não há explicações. 

O governo, finalmente, chegou à conclusão de que é urgente a necessidade de equilibrar as contas públicas. Numa ponta, estão previstas uma série de medidas para conter os gastos, atingindo, inclusive, os supersalários da máquina. Na outra ponta, o anúncio de que a compra de novas aeronaves oficiais, um investimentos de trilhões, é irreversível. Principalmente depois da última pane numa viagem presidencial. 

Charge! João Montanaro via Folha de São Paulo

 


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Editorial: A "nacionalização" de João Campos.



João Campos, prefeito do Recife, reeleito ainda no primeiro turno com 78% dos votos válidos, numa das melhores performances eleitorais do país, está literalmente em todas. Esteve em Olinda, dando apoio ao candidato do PT, Vinícius Castello, amanhã estará em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, em passeata com o candidato dos socialistas locais, Júnior Matuto. Sua integração, nesta reta final de campanha, em prol de candidatos da chamada frente de esquerda não surpreende, sobretudo quando se tem como horizonte o seu futuro político no estado, o que inclui, entre as possibilidades, uma eventual candidatura ao Governo do Estado nas eleições de 2026. 

O que surpreende mesmo é a sua participação na campanha de Evandro Leitão,  em Fortaleza, que trava uma batalha das mais renhidas com o bolsonarista André Fernandes, do PL. Segundo conseguimos apurar, os caciques socialistas estão, desde já, trabalhando com o projeto de nacionalização do nome do prefeito. Consideramos um projeto prematuro, mas sabe-se lá o que se passa na cabeça dos dirigentes socialistas, sobretudo num momento de debacle e ausência de quadros competitivos no escopo do campo progressista. Os tempos mudaram desde que o seu pai, o ex-governador Eduardo Campos, cumpriu quase dois mandatos antes de se projetar nacionalmente. 

A direita e a extrema direita estão operando em céu de brigadeiro. Se o deputado federal Nikolas Ferreira foi um fenômeno de votos, partido das Alterosas, nesta última eleição municipal surgiu um Nikolas paulista, um jovem de apenas 26 anos, Lucas Pavanato, o vereador mais votado do país, ancorado numa agenda conservadora, alicerçada através das redes sociais, usando e abusando a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro. Se eles vencerem as eleições em Fortaleza e Belo Horizonte, a tropa de choque do conservadorismo de direita está consolidada. João, não se sabe se a partir de orientação do seu staff de marketing político, já cunhou um mote: Com ele, bolsonaristas não se criam! 

Editorial: Na cozinha do Planalto, uma nova minirreforma ministerial.

Crédito da Foto: Sérgio Lima. 


Difícil afirmar quem se encontra na marca do pênalti nesta nova minirreforma ministerial que está sendo costurada na cozinha do Palácio do Planalto. As especulações andam solta. Fala-se numa eventual saída do Ministro da Defesa, o pernambucano José Múcio Monteiro, como sempre afirmamos, numa situação de equilíbrio instável desde o início de sua gestão, uma vez que faz a ponte com o Governo Lula3 e os militares, mas precisa gerenciar as insatisfações na caserna. Recentemente, fez um desabafo sobre os entraves ideológicos para a aquisição de tanques israelenses, quando as tramitações burocráticas já estavam plenamente atendidas e trata-se de um pleito inegociável com a tropa. 

Sugere-se que o Palácio do Planalto não está nada satisfeito com a área de comunicação institucional, o que pode indicar mudanças nesta área nevrálgica, principalmente depois da ressaca das últimas eleições presidenciais. Haveria investimentos pesados no setor, mas a conta poderá ser administrada por outros atores. Quem também poderia deixar a direção nacional do PT para ocupar um espaço na Esplanada dos Ministérios - ainda não definido - seria a deputada federal Gleisi Hoffmann. Aqui mata-se dois coelhos - ou coelha? - de uma só cajadada. O morubixaba petista pretende antecipar as mudanças na direção da legenda. 

Fala-se também em mudanças na Casa Civil, mas por aqui o santo é forte. Tem a proteção dos orixás baianos. O PT adota uma linha omeprazol para tratar de um problema que exige um diagnóstico mais preciso. O uso generalizado deste medicamente para tratar de problemas estomacais, na realidade, pode ocultar problemas mais sérios, além de não eliminar a bactéria H. pylori, que pode agravar essas complicações. A área de comunicação institucional pode até ter seus gargalos, mas o drama do partido exige mudanças de rumo mais efetivas, que não se encerram com a troca de roupagem. 

Editorial: Disputa acirrada em Fortaleza.



Seguramente, em nenhuma outra disputa de capitais neste segundo turno o páreo está tão equilibrado quanto em Fortaleza, onde os candidatos André Fernandes, do PL, e Evandro Leitão, do PT, estão rigorosamente em empate técnico, conforme pesquisa divulgada no dia de ontem pelo Instituto Real Time Big Data. Os dirigentes do PT já estão naquela fase de arrumar os cacos, tentar limpar a casa e oxigenar as medidas daqui para frente. Fala-se em ajustes na economia para conter a sangria do déficit público; minirreforma ministerial; mudanças na comunicação institucional e, possivelmente, um daqueles grandes encontros para se discutir o que houve ou onde erramos. Um dirigente da legenda fala em excesso de otimismo. Não foi nada disso.  A tolha já foi jogada. 

O último bastião é o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, onde uma virada improvável poderia salvar a honra da legenda nessas eleições municipais. Não à toa, a legenda está carreando expressivo aporte de recursos para o candidato. Não seria por este motivo que o psolista deixaria de ser exitoso. Diante do apagão, declarações de autoridades federais estão produzindo frisson na relação entre o PSD, o Governo Federal e o staff político do candidato Ricardo Nunes, que não acredita que o temporal seja suficiente para abalar sua diferença de 22 pontos sobre o psolista, de acordo com o Datafolha

Conforme já se presumia, a direita conseguiu integrar-se ao nome de André Fernandes, enquanto o PDT mantém-se equidistante da disputa. Uma figura ilustre do partido chegou a pregar - imaginem! - o voto útil no candidato do PL. O morubixaba petista tem se mantido discreto neste segundo turno, assim como foi no primeiro. Sugere-se meditando sob a maçaranduba do tempo. Não está sendo fácil. Há uma fadiga de material generalizada, que vai desde a linha programática da legenda até às ações de governo, divorciada da maioria do eleitorado. É um momento onde setores conservadores de direita e extrema direita está dando das cartas políticas. O vereador mais bem votado no país tem 26 anos, atua fortemente nas redes sociais e foi eleito afirmando que homem é homem e mulher é mulher. O PT mordeu a isca do identitarismo e perdeu a narrativa.  

Charge! Thiago via Jornal do Commércio

 


terça-feira, 15 de outubro de 2024

Editorial: João Pessoa: A raposa derrotou o bolsonarista.



Há poucos dias do término do primeiro turno das eleições para a Prefeitura de João Pessoa, a Polícia Federal desencadeou a operação Território Livre, que investiga eventuais conluios entre gestores públicos e integrantes do crime organizado, que, se comprovadas, depõem até mesmo contra o estatuto das relações republicanas e democráticas entre o aparelho de Estado e a sociedade civil. Integrantes de facções , segundo essas investigações, poderiam estar participando da gestão do município, ao ponto de indicarem servidores para o quadro, possivelmente através da terceirização, uma espécie de portal de entrada do crime organizado na administração pública em todas as esferas, seja através de licitações fraudulentas, seja através do expediente de integrar a gestão, indicando nomes para ocuparem cargos e solicitando transferências de servidores, conforme é o que se apura no caso de João Pessoa. 

Assegurados esse acordos espúrios, os territórios sob o controle dessas facções passam, naturalmente, a se constituírem em redutos eleitorais exclusivos dos padrinhos políticos, tolhendo os espaços democráticos, uma vez que apenas determinados atores possuem a prerrogativa de passaram suas mensagens aos eleitores. Conforme havíamos previsto por aqui, tais fatos, muito provavelmente, produziram seus reflexos no resultado do primeiro turno daquelas eleições. As pesquisas indicavam que o atual gestor, Cícero Lucena, do Progressistas, poderia ter liquidado a fatura ainda no primeiro turno, o que não ocorreu. Outra surpresa foi a ascensão do bolsonarista Marcelo Queiroga, do PL, superando Rui Carneiro, do Podemos, na reta final daquela primeiro turno. 

Feita as contas, o fato pode ter sido suficiente para provocar uma inflexão no eleitorado de Cícero Lucena. Isso bem trabalhado poderia produzir estragos ainda maiores no seu projeto de continuar à frente da edilidade municipal. No debate de ontem, dia 14, o episódio foi solenemente explorado pelo bolsonarista Marcelo Queiroga, que, no entanto, cometeu o grave equívoco de não fazer o dever de casa. Orientado por seus assessores, Cícero Lucena passou a explorar o seu desconhecimento de problemas e características específicas da cidade, como o curso de rios, número de secretarias, suas propostas para a infraestrutura da cidade. Um tranco que pode ter determinado o rumo daquelas eleições. Em breve o ex-presidente Jair Bolsonaro está vindo à cidade para ajudar na campanha do seu ex-Ministro da Saúde.  Experiente, neste primeiro debate do segundo turno, a raposa derrotou o bolsonarista. 

Charge! Benett via Folha de São Paulo

 


segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Editorial: Boulos consegue apagar Nunes no debate de logo mais?



Hoje, dia 14, a partir das 22h, a Rede Bandeirantes estará levando ao ar o seu primeiro debate do segundo turno em São Paulo. Na realidade, o debate não ficará circunscrito à disputa em São Paulo, uma vez que suas afiliadas em todo o Brasil, estão organizando debates entre os concorrentes à prefeitura das capitais. Todas as pesquisas de intenções de voto realizadas até este momento mostram uma diferença substantiva entre o prefeito Ricardo Nunes, que disputa à reeleição, em relação ao candidato do PSOL, Guilherme Boulos, apoiado pelo Palácio do Planalto. Na pesquisa divulgada no dia de hoje, realizada pelo Instituto Real Time Big Data, Nunes aparece com 53% das intenções de voto, enquanto o psolista crava 39%. 

Os partidos do campo progressista morderam a isca da pauta de costumes ou do identitarismo e, hoje, um dos seus maiores gargalos diz respeito ao eleitor pobre de direita, morador das periferias, adepto da religião evangélica. Político conservador, com o apoio da direita e até da extrema-direita, Nunes consegue superar Boulos onde, em tese, seriam seus redutos tradicionais no passado. Racionalidade não combina com fé e, essas igrejas cumprem hoje a tarefa de consolidarem uma narrativa construída pela extrema direita nas periferias. Alguns desses troncos neopentecostais estão associados até ao crime organizado, numa simbiose perversa entre extrema-direita, religião e organizações criminosas. 

Nos últimos dias, depois de fortes chuvas, algumas artérias da capital paulista enfrentam o problema dos apagões produzidos pelos acidentes com árvores, o que deve ser explorado no debate de logo mais. Boulos teria argumentos para apagar Nunes no debate de logo mais? Nesta reta final de campanha, com a população sentindo na pele o drama do apagão, o tema promete ser bastante explorado. A pesquisa do instituto está registrada no TSE-SP: 00357\2024.