O ministro Alexandre de Moraes, Presidente do TSE, foi um gigante na condução do processo eleitoral brasileiro, agindo de forma equilibrada, transparente, republicana e incisiva, quando a situação assim o exigia, ou seja, quando os princípios e leis que regem o processo democrático poderiam estar sendo ameaçados ou violados. Cumpriu um papel fundamental no cargo que ocupa, ao garantir que as regras do jogo estabelecidas por uma democracia representativa fossem respeitadas, permitindo que o eleitor brasileiro pudesse fazer suas escolhas livremente, entre a civilização ou barbárie. Sem intimidações ou artifícios grostesco, fora das quatro linhas da Constituição.
Inteligente, lúcido, astuto, guiado pela Constituição Federal, nos momentos em que foi exigido, agiu rápido, permitindo o desenrrolar republicano das eleições, com a isonomia exigida. O país caminhava, a passos largos, para a destruição de seu tecido social, político, ambiental, cultural, científico. Um processo de "hungrialização", com alguns componentes tupiniquins, pois penso que aquele país já não possui tantas reservas florestais ainda preservadas como o nosso. Prevalecia o obscurantismo, a mentira, a fome, o caos, a violência, a intimidação, os métodos sórdidos, a insegurança, ambiente propício para radicalismos e a germinação de patologias políticas. Neste momento, para o próximo governo, cumpre, como uma das primeiras missões, dimencionar a capacidade instalada e o grau ou gravidade dos danos produzidos pelo bolsonarismo no tecido social\institucional da sociedade brasileira.
Ao longo dos anos - principalmente a partir das Jornadas de Junho, embora essas datas sejam sempre meras referências - o bolsonarismo construiu uma grande capilaridade na sociedade brasileira, em todos os níveis. No parlamento - inclusive no plano federal, tanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senado, Lula poderá enfrentar grandes dificuldades, a julgar pela composição das bancadas eleitas - nas instituições, na sociedade civil, no aparato de segurança, repressão e informação do Estado. O próximo presidente terá uma grande missão pela frente, promover uma grande reconciliação nacional, assim como reconstituir o tecido necrosado de instituições da máquina pública, como aquelas que cuidam dos índios, do meio ambiente, da educação, da cultura, dos quilombolas, das mulheres, dos grupos LGBT's, do ensino superior, da pesquisa. São muitas as instituições atingidas e os danos não foram poucos: Cortes de verbas, assédios morais, práticas persecutórias, esvaziamento funcional, mudanças de foco e de missões, processos de bolsonarização.
Exatamente em razão dessa capilaridade construída ao longo desses quatro anos, não se descarta a possibilidade de sabotagens e resistência ao projeto do novo governo. Algumas instituições que deveriam exercer um papel de instituições de Estado passaram por um processo de bolsonarização e precisam reaver o seu perfil republicano. Logicamente que existem aquelas mais atingidas, naturalmente suscetíveis, principalmente as vinculadas ao aparato de segurança e informação do aparelho de Estado. Outro dia este editor leu um artigo, escrito por um delegado federal, abordando este assunto e fiquei assustado com o grau indevido de ingerência e contaminação observados numa instituição específica.